ESTUDO BÍBLICO SEMANAL DE 01 A 06 DE ABRIL DE 2019

ESTUDO BÍBLICO da 4ª Semana da Quaresma

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

SEGUNDA-FEIRA

João 4,43-54

NOSSO ITINERÁRIO DO FÉ.

 “Vede que teu filho vive”

 

Ontem, com o relato do cego de nascença, no evangelho de São João, culminam as três primeiras semanas de Quaresma. Neste tempo, a Palavra de Deus, particularmente, nos evangelhos de Mateus e Lucas, nos tem convidado, com força, a confrontar nossas atitudes de discípulos com o coração do Pai e com as atitudes concretas de Jesus, o Filho amado. Desta maneira, temos tido a oportunidade de retomar, com maior profundidade e coerência, nosso caminhar cristão e voltar, com todo o coração, àquelas atitudes de vida que constituem a essência de nosso discipulado.

 

Nas duas semanas que vêm, nós nos encontraremos no caminho do Senhor para a Páscoa, guiados pelo Evangelho de São João. Os textos destes dias nos levarão até o umbral da Paixão do Senhor. Vai nos introduzir neste caminho um sinal realizado por Jesus na Galiléia (Jo 4,43-54). De fato, vemos aqui, Jesus em viagem, da Judéia à Galiléia, no momento preciso em que, havendo passado por Samaria, onde muitos haviam crido nele, prossegue seu caminho para Galiléia. Ao chegar “os galileus lhe fizeram uma boa acolhida, porque tinham visto tudo o que havia realizado em Jerusalém” (v.45).

 

  1. Os sinais e a fé

 

“Voltou, pois, a Caná da Galiléia, onde havia convertido água em vinho” (v.46). João, antes de narrar o segundo sinal de Jesus, nos coloca em relação com o primeiro, realizado em Caná, ali onde seus discípulos creram nele (2,11). Com este detalhe, o relato nos introduz no ambiente da fé. Para João, os sinais têm a finalidade de provocar a fé (ver 20,31) ao contrário dos outros evangelistas, para quem, com freqüência, a fé precede sempre aos “milagres” (ver, por exemplo, Mt 15,28). No evangelho de João, vendo os sinais que Jesus faz e o que Deus realiza nas pessoas através dele, os presentes são convidados a crer em Jesus (9,37-38), pois os sinais manifestam sua glória (2,11).

  1. O processo de amadurecimento na fé

 

Estando em Caná, um funcionário do rei, ao inteirar-se que Jesus está ali, “foi até ele e o rogava que descesse para curar sua filha, porque estava a morrer” (4,47).

 

  • Fé no poder que Jesus tem para curar: “Foi até ele” (4,47). Este homem tem fé no poder que Jesus tem de curar e confia nele: “… e rogava que descesse para curar a seu filho…” (4,47). É evidente que, para este funcionário real, era indispensável a presença de Jesus para que seu filho pudesse ser curado; nos confirma isso, uma outra expressão que dirá mais adiante: “Senhor, vem, antes que meu filho morra” (4,49). A primeira resposta que Jesus lhe dá é: “Se não vêem sinais e prodígios não crêem” (4,48). Não é uma reprovação, mas um convite a dar um passo maior na fé, ou seja, a abrir-se ao Mistério de Jesus. De fato, a reação do funcionário nos indica que ele não a tomou como reprovação, mas lhe motivou a insistir, com mais fé, em sua súplica ao Mestre: “desce antes que meu filho morra” (4,49).
  • Fé na Palavra de Jesus: Jesus lhe disse: “Vai-te, que teu filho vive” (v.50). Notemos que Jesus não lhe disse “teu filho viverá”, como que fazendo uma promessa, mas: “teu filho vive”, ou seja, como uma realidade. Jesus pronunciou a palavra criadora que cura, tendo ido muito mais além do que o homem pedia: curou à distância o seu filho. Não foi preciso sua presença para realizar o sinal, bastou o poder de sua Palavra. A palavra de Jesus tem o poder de dar a vida, Jesus é o Senhor da vida, o Deus da vida, não só da vida física, mas, sobretudo da vida que não passa, a vida eterna, a vida divina (ver 6, 27.35). “Acreditou o homem na Palavra de Jesus” e se pôs a caminho (v.50). Acreditou na Palavra de Jesus! Não insistiu na necessidade de sua presença. Não foi Jesus quem desceu até Cafarnaum, mas o Pai do menino que, apoiado unicamente na Palavra, entrou no mistério de Jesus.
  • Fé na Pessoa de Jesus: entrada no mistério. E quando os servos vieram a seu encontro para informar-lhe que seu filho se encontrava vivo, não se detêm na alegria da cura, mas pergunta “a hora em que o menino havia sido curado” (4,52). Isto lhe dá a oportunidade de comprovar a relação entre o momento em que Jesus havia pronunciado a Palavra “Teu filho vive” e o efeito produzido no menino.

 

O relato culmina dizendo que “O pai comprovou então que era a mesma hora em que Jesus havia dito: “teu filho vive” e acreditou ele e toda sua família” (v.53). Jesus, com sua Palavra, o fez passar da morte para a vida. Agora sim, o milagre se converteu em “sinal revelador”, e o funcionário passou da fé no poder de Jesus para curar pelo o poder de sua Palavra à fé na Pessoa mesma de Jesus que é capaz de dar “vida em abundância” (10,10). O funcionário real não só acreditou, ele entrou com toda sua família na aceitação do mistério escondido em Jesus, dando um passo significativo de amadurecimento na fé.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Qual o processo de amadurecimento na fé que se sucedeu no pai do menino curado?
  • Minha fé em Deus depende dos milagres e graças que recebo? Que processo posso iniciar de amadurecimento da minha fé?
  • Não seria interessante abrir um espaço em nossa família e em nossa comunidade para falar sobre o processo de fé que estamos fazendo?

TERÇA-FEIRA

João 5,1-16

DEIXAR QUE ACONTEÇA EM NÓS A SALVAÇÃO DE JESUS

 “Queres ficar curado?”

 

Em seu Evangelho, São João continua apresentando os sinais de Jesus para fortalecer nossa fé no mistério do Filho de Deus que entregou a sua vida para nos comunicar a vida do Pai (20,31).

 

O texto de hoje começa com uma situação bem precisa: uma festa em Jerusalém; e nos situa concretamente na piscina que ali se encontrava à qual davam o nome de Betesda, que quer dizer “casa da misericórdia”, e aonde colocavam uma grande quantidade de enfermos (5,1-3).

 

Estava também ali um homem que levava trinta e oito anos enfermo (5,5).

 

  1. As atitudes de Jesus despertam a vida

 

Jesus, vendo-o estendido e sabendo que levava já muito tempo lhe disse: “Queres ficar curado? (5,6c). O evangelista repara nisto: Jesus estava “vendo-o” (5,6ª), quer dizer, fixando-se nele, interessando-se por sua situação. Dirigindo-se a ele com amor.

 

Poderia dizer-se que o olhar de Jesus o tira do anonimato em meio da “multidão de enfermos, cegos, coxos, paralíticos” (5,3). Ele não só o vê, como também sabe de sua situação: “e sabendo que levava já muito tempo” (5,6b).

 

Tanto este como os outros Evangelhos nos dizem que o conhecer a fundo às situações das pessoas era algo muito próprio de Jesus (Jo 1,48;2,25; Lc 11,17; Mt 16,8 e outros). A partir desta proximidade de Jesus, descrita pelo evangelista, captamos melhor a força da pergunta: “Queres ficar curado?”.

 

Jesus provoca no enfermo a confissão de sua situação de impotência, de impossibilidade, de desesperança: “Senhor, não tenho ninguém” (5,7). Este reconhecimento simples e humilde ante um interlocutor que ainda não conhece, abre o coração deste enfermo para acolher a salvação.

 

  1. A palavra de Jesus é transformadora

 

Vejamos, agora, a intervenção salvífica de Jesus: “Disse-lhe: levanta-te toma tua maca e anda” (5,8). A palavra de Jesus é transformadora.

 

Notemos que há três imperativos, três palavras criadoras que geram a transformação:

(1) “Levanta-te”, quer dizer, estás curado!

(2) “Toma tua maca”, ou seja, és livre, podes cuidar-te por ti mesmo.

(3) “Anda”, quer dizer, põe-te a caminho, começa a viver.

 

Então se constata a transformação: “E no mesmo instante o homem ficou curado, tomou sua maca e pôs-se a andar” (5,9) A Palavra de Jesus o transforma!

 

Mas adiante vemos que a única coisa que o enfermo recorda é, precisamente, a palavra que Jesus pronunciou sobre ele: “o que me curou me disse: toma tua maca e anda” (5,11). Ele não sabe quem é Jesus, porém recorda claramente sua Palavra criadora.

 

Em todo o texto João sublinha, fortemente, esta transformação, repetindo várias vezes, seja na boca dos judeus: “disseram ao que havia sido curado” (5,10), seja na boca do mesmo enfermo: “ele respondeu: o que me curou…” (11), seja na boca do mesmo Jesus: “fostes curado” (14).

 

  1. Na casa do Pai se reconhece a Jesus

 

“Mais tarde, Jesus o encontra no templo e lhe diz: ‘vê, estás curado, não peques mais para que não te suceda algo pior’” (5,14).

 

Este segundo encontro é, também, iniciativa de Jesus, porém o lugar já não é a piscina, mas o Templo, “a casa de meu Pai” (2,6). É ai onde Jesus se deixa reconhecer e onde o orienta para que tome uma decisão: “Não peques mais!”. Quer dizer, “agora que estás curado, vive sem pecado!”. Nascestes de novo, vive como homem novo (ver Jo 3,9).

 

Após o encontro com Jesus no templo, agora vemos este homem tomar a primeira iniciativa. Supera a paralisia em todos os sentidos. Sua resposta não é uma palavra, mas uma ação que indica testemunho (5,15). Mas, este anúncio de Jesus trará, também, terríveis consequências para o bom Mestre: “Por isso os judeus perseguiam Jesus, porque fazia estas coisas em dia de sábado” (5,16).

 

Um sinal, que, para quem tem o coração aberto, é provocação da fé e manifestação da ação salvadora de Deus, mas, para os que se encerram em sua incredulidade, é motivo de ódio e perseguição. Ainda que faltem muitos capítulos para chegar lá, já se sente as notas graves da melodia da Paixão de Jesus.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Por que podemos dizer que a Palavra de Jesus é transformadora?
  • De que forma concreta acerco-me das pessoas necessitadas? Interesso-me por ajudá-las?
  • Durante esta quaresma, como tem sido meu caminho de conversão? Sinto em meu coração este compromisso como algo estável, ou nem me recordo a que me comprometi ao iniciar?

 

QUARTA-FEIRA

João 5,17-30

SE ACOLHEMOS A JESUS PASSAMOS DA MORTE PARA A VIDA.

“Porque, como o Pai tem vida em si mesmo, assim, também, ele deu, ao Filho, ter vida em si mesmo”

 

João continua a revelar o mistério do Filho para que, escutando sua Palavra e aderindo a Ele, tenhamos a vida (3,16). O Evangelho de hoje parte de uma perseguição que os judeus desencadearam contra Jesus, “porque Jesus fazia estas coisas em dia de sábado” (5,16); (ver final do relato de ontem).

 

  1. Por que os judeus perseguem a Jesus?

 

O nosso texto de hoje deixa expostos os motivos pelos quais os judeus perseguiam a Jesus:

  • A violação da norma estabelecida para os dias de sábado parecia haver se tornado habitual para Jesus: “fazia estas coisas” (5,16); e
  • A isto se acrescenta um argumento ainda mais grave: “E o chamar a Deus seu Pai, fazendo-se igual a Ele”. Esta atitude é intolerável para os judeus, até ao ponto de quererem eliminá-lo: “Por isso tratavam com maior empenho de matá-lo.” (5,18)

 

  1. Jesus responde com uma gratuita e amorosa revelação de seu mistério

 

A primeira resposta que Jesus dá é esta: “Meu Pai trabalha sempre e eu também trabalho” (5,17).

Com esta expressão Jesus direciona a discussão sobre a lei para um nível mais profundo: sua relação íntima com o Pai, sua identificação com Ele.

 

“Meu Pai trabalha e eu também trabalho” é uma dupla afirmação: (a) da filiação divina de Jesus; e (b) de que o Pai é quem atua através dele.

 

Com estas palavras Jesus está revelando sua dependência absoluta do Pai. Jesus se coloca ao lado de Deus, junto com Ele, se atribui o agir do Pai, reconhecendo nele a única fonte de seu ser e de seu agir.

 

A reação de Jesus ante a hostilidade dos judeus será sempre a mesma: não os enfrenta, mas dá profundidade maior ao assunto; não se defende, mas se coloca ao nível deles. “Inclina-se” e trata de explicar calmamente, revelando-lhes a relação íntima que vive com o Pai (ver 5, 19-23).

 

Da profunda relação de Jesus com o Pai deriva que: (a) “Não pode haver nada por sua conta” (5,19ª); (b) Não faz outra coisa “mas o que ele vê fazer o Pai” (5,19b); (c) O Pai se deixa conhecer plenamente pelo Filho: “O Pai quer o Filho e o mostra tudo…” (5,20ª).

 

Portanto, a obra de Jesus no sábado não é mais que o reflexo do incansável compromisso da criação. Jesus é espelho do amor fiel do Pai.

  1. Quem acolhe a Jesus tem a vida

 

Agora, veja: Quais são as obras próprias do Pai, que Jesus reflete em seu ministério? O Evangelho os resume em dois: (a) Ressuscitar os mortos, ou seja, dar vida em plenitude (ver 5,21.25-26.28-29); e (b) Exercer o juízo, ou melhor, fazer justiça no mundo (5,22.27.29). O Pai deu a Jesus seus mesmos poderes, o que Ele mesmo faz. Ele é Deus comunicando-nos sua vida.

 

A mesma vida do Pai

 

E chegamos, assim, ao núcleo de nosso texto de hoje, aonde Jesus, com a autoridade que lhe vem de sua identidade com o Pai, declara, abertamente, que quem o acolhe e quem crer nele, acolhe ao Pai e passa da morte para a vida: “Em verdade, em verdade o digo: o que escuta minha Palavra e crer naquele que me enviou tem a vida eterna” (5,24)

 

Quem escuta e adere a Jesus tem a vida, a mesma vida do Pai que é a vida eterna, divina. Quando escutamos a Palavra de Jesus e acolhemos seu mistério, ainda que, reconhecendo que este nos ultrapassa, somos admitidos na comunhão com Deus e “passamos da morte para a vida”.

 

O juízo é dado por nós

 

O julgamento de Jesus é o mesmo do Pai, que no fundo é também nosso, porque, o juízo, o fazemos nós mesmos, quando acolhemos ou rejeitamos Jesus (5,26-29).

 

Em 5,24: “Em verdade, em verdade os digo, quem escuta minha Palavra e crer naquele que me enviou, tem vida eterna e não incorre em juízo”, que nos diz que a condição para viver, plenamente, é a acolhida existencial que damos à Palavra de Jesus. Palavra eterna, onde o Pai se dá plenamente (3,16) para que tenhamos a vida de filhos, sua mesma vida (1 Jo 3,1).

 

Desta maneira, João nos está introduzindo no caminho Pascal: passar da morte à vida, acolhendo, com todo o nosso ser, a Palavra de Jesus, o mistério de sua Pessoa e tudo o que para nós implica entrar nele. Caminhemos para a Páscoa, abrindo todo nosso ser para receber a abundância da Vida.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Em que pontos concretos notamos no ministério de Jesus que o que faz é reflexo do que faz o Pai?
  • Escuta da Palavra e comunhão de vida com Jesus nos faz passar da morte à vida. Que efeitos pascais tem isto produzido em minha vida nestes dias da Quaresma?
  • A relação estreita entre o Pai e o Filho fica só entre eles? Que me oferece Jesus nesta Páscoa? Como alcançar seus dons?

QUINTA-FEIRA

João 5,31-47

ACOLHENDO JESUS RECEBEMOS A VIDA DO PAI.

 “O Pai que me enviou é o que dá testemunho de mim”

 

No Evangelho de ontem, que nos apresentou a primeira parte do discurso de Jesus sobre “a obra do Filho”, Jesus nos doou a Revelação de si mesmo, identificando sua obra com a obra de Deus: “o que vê fazer o Pai: isso faz, igualmente, o Filho.” (5,19)

 

Nesta primeira parte de seu ensino (5,19-30), Jesus vinha falando quase sempre em terceira pessoa. Ao contrário, agora, na segunda parte a qual lemos hoje (5,31-47), notamos como o “Eu” de Jesus aparece em todo o texto (19 vezes).

 

E frente ao “Eu” de Jesus está, quase sempre, o “vocês”, referindo-se aos ouvintes que se opõem a Ele (11 vezes). Esta disposição da à nossa passagem de hoje um caráter de enfrentamento aberto. Desta maneira, segue o texto de hoje apontando nosso olhar para a Paixão que se aproxima.

 

Neste contexto, Jesus apresenta alguns testemunhos que fundamentam a validez de seu “testemunho” (5,1). De maneira que a repulsa de Jesus resulta grave, já que é a repulsa do mesmo Deus que seus inimigos professam como seu Deus.

 

O autêntico testemunho em favor de Jesus é o Pai.

 

Primeiro de tudo, Jesus quer deixar claro, que seu testemunho é válido, porque não pode estar separado do “Outro”, que é o testemunho do Pai: “Outro é o que dá testemunho de mim” (5,32ª). Sendo Jesus o “enviado”, não atua nunca por sua conta (5,19), mas está sempre determinado pela vontade do Pai (5,30).

 

Portanto, é incontestável que o testemunho de Jesus seja, ao mesmo tempo, testemunho do Pai; trata-se de um único testemunho que contém a voz unânime das duas pessoas. Isto era, precisamente, o que a lei judaica requeria para dar validez a um testemunho (ver 8,18; 10,38).

 

  1. Outros testemunhos:

 

Jesus cita outros testemunhos, porque o testemunho do Pai pode expressar-se de diferentes maneiras.

 

  • João Batista

O primeiro é João Batista, que sempre apresentou Jesus como: a luz, o Messias, o Profeta, o mais forte, o que existia antes que Ele (ver 1,7-8.15.19.32.34) Jesus faz notar que João não era a luz, mas “a lâmpada”.           Não obstante, os judeus se deixaram atrair pela lâmpada “por um instante” (5,35), mais que acolher a Jesus que era a luz (5,35).

 

  • As “obras” encomendadas pelo Pai

 

Porém, Jesus tem um testemunho maior que o de João Batista. Estas são as obras que realiza em nome do Pai: “Porque as obras que o Pai me encomendou, as obras que eu realizo, dão testemunho de mim” (5,36).

O evangelista dirige, de maneira especial, a sua atenção para estas obras, que tem caráter de “sinal revelador” (ver 8,18;10,38;14,10-11).

As obras de Jesus atestam que Ele é o enviado do Pai (5,36). Jesus, o enviado do Pai, é o testemunho por excelência do seu amor. Negar-se a crer nele é negar-se ao amor de Deus: “não tendes em vós o amor de Deus” (5,42).

 

  • As Sagradas Escrituras

 

As Escrituras são o último testemunho apresentado por Jesus para que creiamos nele: “…vocês investigam as Escrituras, porque creem ter nelas vida eterna; elas dão testemunho de mim e vocês não querem vir a mim para ter vida”(5,39-40).

 

Sem o conhecimento do mistério de Deus que só Jesus pode dar-nos, o estudo das Escrituras se torna estéril. E, vice-versa, o conhecimento das Escrituras é para levar ao conhecimento de Jesus: “Se acreditassem em Moisés, acreditariam em mim, porque ele escreveu de mim” (5,46).

 

Todos os testemunhos apresentados por Jesus fazem referência à obra salvífica do Pai, porém seus interlocutores são incapazes de acolhê-los: “porque não ouvem nunca a sua voz e não veem o seu rosto” (5,37).

Pelo contrário, temos a vida do Pai quando acolhemos o mistério de Jesus e lhe permitimos prolongar em nós sua comunhão com Ele, sua obediência filial e sua entrega aos irmãos.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo de nosso coração

 

  • Neste ponto da Quaresma, como estamos vivendo a comunhão com Jesus e o Pai?
  • Em que se baseia Jesus para afirmar que seu testemunho é válido?
  • Em que se nota que em minha vida está agindo Jesus? Estou lhe dando o espaço suficiente para agir em todas as áreas da minha vida?

   

 

 

 

SEXTA-FEIRA

João 7,1-2.10.25-30

QUEM NÃO ACEITA JESUS NÃO CONHECE A DEUS

 “Eu o conheço porque venho dele e Ele é o que me enviou”

 

Ao aproximar-nos do final da Quaresma, o Evangelho de João está querendo nos introduzir, pouco a pouco, na paixão de Jesus, ao colocar-nos em contato com os sentimentos de ódio e repulsa de seus opositores e com as ameaças de morte, às quais, constantemente, é submetido.

 

No Evangelho de hoje vemos Jesus sendo perseguido para a morte pelos judeus, “não pode andar livremente pela Judéia” (7,1) Sobe, então, tardiamente, em peregrinação a Jerusalém: “Somente depois de seus irmãos subiram à festa, então Ele também subiu, não manifestando-se, mas às escondidas” (7,2)

 

  1. Jesus, um sinal de contradição

 

Na cena narrada nos versículos 25 a 30 do capítulo 7 de São João, vemos claramente que o tema central é: Quem é Jesus? Quanto à resposta, a posição do povo e das autoridades é diferente. É importante notar que, os que fazem comentários não são opositores de Jesus, mas, parecem ser pessoas que hão reconhecido em Jesus um homem de bem (7,12).

 

Ao verem como Jesus ensina livremente no Templo, não lhe dizem nada, mas se perguntam: “Haverão admitido, as autoridades, a verdade sobre seus ensinamentos? A pergunta que está latente em suas inquietações é: ‘Não será ele o Cristo?’ ” (7,26). Porém, esta hipótese encontra, logo em seguida, uma objeção: segundo uma das expectativas judias, o Messias teria que ser de origem desconhecida; e é por isto que eles desclassificam logo a Jesus como sendo o Messias: “Porém, este sabemos de onde é! Galileia!” (7,27).

 

  1. Jesus responde às objeções indicando o Pai

 

“Gritou Jesus, enquanto ensinava no Templo…” (7,28).

O Templo é o lugar onde Jesus se deixa reconhecer pelo enfermo que havia sido curado por Ele (5,14). O lugar – o Templo – e o tom de voz com que Jesus se expressa nos demonstram que o que está para dizer tem uma importância especial: “Conhecem a mim e sabem de onde sou” (7,28).

Jesus retoma com um timbre de ironia ao ponto exato que está pondo em dúvida seu reconhecimento como Messias: “Vocês me conhecem e sabem de onde sou”, repete, para suscitar novamente o interrogante e preparar a acolhida da sua afirmação.

 

  1. Jesus é o enviado do Pai

 

“Eu não venho por minha conta, o que me enviou é verdadeiro, mas vocês não o conhecem” (7,28).     É verdade que Jesus procede da Galileia, não obstante, “não veio por sua conta”. Saiu de outro lugar. Jesus, em última instância, provém do Pai: “O que me enviou é verdadeiro” (7,18).

 

Jesus se apresenta como alguém que vem de Deus, que está junto a Deus (ver 1,1-2). É Deus mesmo quem o enviou, é seu representante, vem daquele que é “verdadeiro”, quer dizer, do Deus em quem os judeus dizem crer, “porém não o conhecem” (7,28). Neste sentido, a origem de Jesus é desconhecida por eles, porque não “conhecem” a Deus.

 

Estas palavras devem ter sido muito duras para os judeus, sobretudo para as autoridades que se gloriavam do privilégio de, não só de conhecer a Deus, mas também de possuí-lo com exclusividade.

E não o conhecem porque não hão reconhecido a Jesus: “Se conhecessem a mim, conheceriam também a meu Pai” (8,19). Jesus conclui, afirmando, com maior força ainda: “Eu o conheço porque venho dele e Ele é quem me há enviado” (7,29).

 

“Eu o conheço”, quer dizer, eu sei por excelência quem é e como é Deus. Como foi dito na última linha do prólogo do Evangelho: “A Deus ninguém viu jamais: o Filho único, que está no seio do Pai, ele o há revelado” (1,18; ver 1,1-2).

Jesus enquanto “enviado” do Pai não faz mais do que responder a vontade de Deus. Na contraposição que vemos entre as afirmações “vocês não o conhecem” e “eu o conheço” (7,28), Jesus nos deixa perceber que sua missão no mundo é dar-nos a conhecer o Pai, mostrar-nos o rosto de Deus e participarmos de sua vida.

 

Durante o caminho Quaresmal, que já temos percorrido na escuta diária do Mestre e na contemplação de suas atitudes, temos tido a oportunidade de ver e sentir, não somente, o rosto do Pai, mas, também, seu coração. Chegados a este ponto, já poderíamos estar bem contagiados de seus sentimentos, de seu amor e de sua vida.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Em que sentido a vida de Jesus foi um sinal de contradição?
  • Em que nos damos conta que nossa vida também é sinal de contradição para quem não vive de acordo com a verdade?
  • Como me empenhar em aproximar-se, cada vez mais, da Palavra de Deus para conhecer a Jesus e abrir-nos mais a Ele?

 

 

 

SÁBADO

João 7,40-53

A PALAVRA DE DEUS DESCONCERTA E ENFRAQUECE OS PODERES HUMANOS

“Jamais um homem falou como fala esse homem”

 

Ao apresentar-nos as discussões sobre a origem e a identidade de Jesus, João nos sinaliza, convidando a tomar partido por Ele, a verificar a radicalidade de nossa opção por Ele, a entrar, decididamente, em seu ministério, que se desvela, plenamente, em sua Paixão e em sua morte gloriosa.

 

No Evangelho de hoje, vemos como Jesus, depois de prometer a água viva (7,37-38), suas palavras geram novamente discussão e divisão entre seus ouvintes.

 

  1. Que dizem as pessoas, quem é Jesus?

 

Alguns pensam que Jesus é, realmente, um profeta semelhante a Moisés (v.40; ver Dt 18,15.18: Jo 6,14). Outros afirmam, francamente, que Jesus é o Cristo (v.41). Mas, outros discordam, partindo de outros sinais: o Messias não podia vir da Galileia, mas de Belém (v.42; ver Mq 5,1).

 

No fundo, trata-se do traço que a personalidade e o mistério de Jesus imprime em todas as pessoas de todos os tempos. Certamente, Jesus é uma Pessoa de “contraste”, as pessoas que o escutam se sentem atraídas por Ele, porém, ao mesmo tempo se escandalizam dele. Até os guardas se sentem incapazes de prendê-lo: “porém, ninguém lhe pôs as mãos” (v.44).

 

Quando os guardas voltam aos sumos sacerdotes sem trazer Jesus consigo, recebem uma repreensão, porém eles respondem: “Jamais um homem falou como fala esse homem” (46). A Palavra de Jesus os havia impactado fortemente!

 

Esta afirmação dos guardas nos surpreende porque, geralmente, uma polícia não costuma opinar sobre a culpa da pessoa que tem o dever de prender.

 

Porém, eles não se atreveram a prender Jesus, por causa da força que sentiram em sua Palavra. O poder que eles tinham para prendê-lo havia sido mais fraco que a força da Palavra de Jesus.

 

  1. A força desconcertante da palavra Jesus

 

Desde os primeiros versículos do texto, vemos como a Palavra de Jesus tem uma importância especial (v.40). Logo torna a fazer-se referência a ela, quando Nicodemos recorda aos fariseus que, segundo a lei, não podem condenar Jesus “sem antes havê-lo ouvido e saber o que faz” (v.51).

 

Quando Nicodemos defende Jesus, referindo-se à lei, para convencer aos fariseus, os convida a ouvir Jesus. Este ouvir não é, para João, um simples exercício físico, mas Nicodemos está exortando-os a ouvir a Palavra de Jesus, essa escuta que pode facilitar-lhes a compreensão e a acolhida (ver 10,16).

 

Os fariseus deveriam primeiro escutar Jesus e saber bem o que Ele faz, quer dizer, devem “conhecer a obra”, os sinais que realiza em nome de Deus.

 

Somente escutando a Palavra de Jesus, quer dizer, acolhendo-a, poderiam pronunciar um juízo correto sobre Ele. Oxalá seja este um reflexo da experiência pessoal que Nicodemos houvera tido com Jesus (ver 3,1-11).

 

De outro lado, os fariseus, que só criam na força da Lei (v.45), em lugar de abrirem-se, com fé, ante Jesus, insultam aos guardas (v.49) e tratam, com ironia, a Nicodemos (v.52).

 

O texto conclui, deixando claro, o que suscitara a polêmica pela Palavra de Jesus: “E voltaram cada um à sua casa” (7,53).

 

Escutar a fundo a Palavra de Jesus colocar-se, radicalmente, do seu lado e seguir seu caminho, até a morte, é uma meta que os discípulos de Jesus têm, diariamente, porque Jesus segue sendo um Mestre de contrastes: sua Palavra, sua cruz, sua paixão e sua morte, escandalizam e até podem criar divisão.

 

A Quaresma é tempo propício para decisões radicais.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Por que podemos afirmar que a Palavra de Deus tem uma força desconcertante?
  • Na vida pessoal, na família ou na comunidade, que experiência temos tido da força e do poder da Palavra

de Jesus?

  • Dediquemos um espaço de tempo para partilhar em família ou no seu trabalho, ou em comunidade uma passagem da Palavra de Deus. Comente.

 

 

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: