Estudo Bíblico Semanal de 03 a 08 de dezembro de 2018

1ª Semana do Advento – Ano C

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

 

SEGUNDA-FEIRA:

Isaias 2,1-5 – Mateus 8,5-11

UM POVO CONGREGADO QUE INAUGURA UM NOVO TEMPO

“Casa de Jacó, andando e avançando, caminhemos à luz de Yahveh”

 

Vejamos alguns aspectos destacados desta profecia isaiânica:

 

  1. Nova convocação da humanidade para pensar a historia de outro ponto de vista (v.2)

 

A profecia isaiânica:

  • Abre ante nós uma formosa paisagem: o de um monte firme que domina todo o panorama, no qual, de repente, se rios humanos que o escalam, em procissão, por todos os lados (v.2);
  • Os peregrinos não são, unicamente, os israelitas (ver o v.5), mas a humanidade inteira: “Afluirão a Ele todas a nações e acudirão povos numerosos” (vv.2c e 3a);
  • O ponto de convergência de todo este movimento é Sião, coroado pelo Templo do Senhor. Desta altura geográfica e espiritual se vê o mundo com os olhos de Deus e não com os interesses humanos egoístas.

 

  1. O canto dos peregrinos: o desejo de aprender a Palavra de Deus (v.3)

 

Inicia então a canção que anima os peregrinos no caminho: Venham, subamos…(v.3). A frase expressa o propósito da viagem, ou melhor, o sentido da irresistível atração que este monte exerce. O caminho de subida está impulsionado pelo desejo de ser educado por Deus e iniciar nova vida segundo seus critérios, escutando e vivendo sua Palavra. Isto é o que o profeta chama “seguir seus caminhos”.

 

  1. As divergências se tornam convergência no projeto comum do crescimento de todos em fraternidade (v.4)

 

Chega o momento sublime onde se vê o efeito da subida para aprender a Palavra: os rios humanos se convertem, então, em um só povo que reconcilia suas divergências. Há um duplo movimento. A atração para Deus, expressada na subida à montanha, se torna logo irradiação para o mundo. As pessoas que descem a montanha viveram uma mudança que projetam por onde quer que vão.

 

Agora se sentem ‘povo em comunhão’, que os diferencia da antiga Babel (ver Gn 11,1-9), estão unidos:

  • pela experiência de Deus, vivida na obediência à sua palavra, e não pela soberba humana, que exclui a Deus do projeto de vida;
  • pela compreensão entre si e não pela fragmentação dos que, obstinadamente, defendem seus próprios projetos;
  • pela paz e não pelas alianças para a guerra;
  • pelo crescimento de todos por igual e não pela competência que gera dominações.

 

No monte se tornam comunidade. Para eles, a historia se converte, então, num caminho à plenitude de vida, que supera as contradições históricas do extermínio entre os adversários; é o caminho de uma comunidade que trabalha, conjuntamente, para produzir os recursos que necessita para seu bem-estar.

 

Este povo, unido pela experiência da Palavra caminha, como em uma grande marcha da vida para uma nova ascensão que já não é geográfica, mas espiritual. Sob o juízo de Deus, fazem alianças entre si (v.4a), já que encontram motivos para entender-se e gerar projetos comunitários que promovem a vida e o desenvolvimento de todos (v.4bc).  A justiça de Deus gera a paz.

 

O profeta descreve com força a nova realidade da comunidade, apontando duas grandes ações (v.4bc):

  • “Espadas” se tornam “arados” e “lanças” se tornam “foices”: Isto é, se transformam os instrumentos de extermínio, de morte, em instrumentos de trabalho comunitário da terra, que geram o alimento que sustenta a vida. Os arados são úteis para os trigais e as podadeiras para as vinhas, de onde resulta o pão e o vinho, alimentos básicos para a vida e a comunhão familiar.
  • “Não se levantarão contra… Não se exercitarão na guerra”: Quer dizer, concordam em não destruir-se nunca mais entre eles mesmos, nem dar espaço aos campos de treinamento militar.

 

Este é o novo povo que desde o Antigo Testamento, começou a cantar: “Caminhemos à luz do Senhor” (v.5). Um povo que não caminha à luz dos interesses mesquinhos que estão na base de todas as confrontações, mas, à luz do projeto de Deus que é o crescimento comunitário baseado na irmandade.

 

E esta profecia se realiza em Jesus (Mateus 8,5-11)

 

A comunidade, que só é verdadeira quando se constrói sobre a base da Palavra e os projetos comuns de vida, é um dom que Deus quer fazer-nos hoje em Jesus, o Messias. Ao redor de Jesus e da sua Palavra é possível tal comunidade.

 

O texto que lemos em Mt 8,5-11, nos apresenta, a busca de Jesus pelo centurião romano, o primeiro passo firme de alguém que começa a subir o monte da e da paz. Trata-se de alguém que vem de longe, de todos os sentidos, de alguém afeito ao jogo e à guerra, ao jugo imperial dos povos aproveitando-se dos outros. O centurião é um peregrino que vem em busca da palavra de Jesus que cura. Diante de Jesus, inclusive, supera a divergência entre patrão e empregado.  Com o passo da fé peregrinou até o centro de convergência que é o Reino dos Céus, que irrompeu na pessoa e no ministério de Jesus.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

 

A PRIMEIRA REALIDADE MESSIÂNICA é a de um povo que se faz messiânico ao voltar a escutar a Palavra, para deixar-se congregar e guiar pelo projeto de Deus; um povo no qual cabem todos os povos e se reconciliam todas as diversidades; que aprende a linguagem comum da fraternidade solidariedade.

 

  • Como é minha vida comunitária na família, em minha setor, em meu bairro, em minha paróquia?

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Posso dizer que o ambiente no qual vivo meus relações é o de uma comunidade messiânica?

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  • O Advento nos prepara para a acolhida da “Palavra” que se “fez carne” em Jesus. Relendo o texto de hoje, que busco em Deus e em particular na pessoa de Jesus?

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Que sucede se todos os buscam?

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  • Em nossa sociedade há gente que morre de fome, porém, ao mesmo tempo se investe grandes somas de dinheiro em armas. Que ensina a profecia de hoje a respeito?

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  • Que ofertar, do que pessoalmente me corresponde, para que neste mundo globalizado e neoliberal o orientemos a uma comunhão das economias e a uma transformação, para o serviço social, das tecnologias, de modo que haja recursos para o crescimento de todos e ninguém morra de fome?

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TERÇA-FEIRA:

Isaias 11,1-10 – Lucas 10,21-24

A Segunda realidade messiânica: o Messias que vem

“Sairá uma rama do tronco de Jessé e um rebento de suas raízes brotará”

 

  1. A profecia: Is 11,1-10 “Sobre Ele pousará o espírito do Senhor”

 

Imagine o formoso espetáculo de uma vaca e uma onça que se tornam comadres ou do lobo e o cordeiro que, depois de longa inimizade, chegam a serem amigos?

 

A visão profética de hoje tem a ousadia de ver o mundo assim: os velhos inimigos, dos quais, alguma vez, pensamos que jamais chegariam a mudar de atitude, de repente, os vemos fazerem-se amigos, buscando uma sã e frutífera convivência. É o sonho da reconciliação, da paz definitiva, da humanidade querida por Deus. Este sonho o realiza o Messias: Sairá uma rama do tronco de Jessé (v.1).

 

No rebento, após longo tempo de aridez, pelo inverno, ou, talvez, por uma tremenda seca, como uma árvore, uma nova humanidade. No Messias, Deus retoma, desde a raiz, seu projeto sobre o mundo. Sua vinda nos devolve a esperança do fim das guerras e inaugura um novo projeto de humanidade!

Como podemos contemplar a sua vinda? Sigamos o fio da profecia de Isaias.

 

O v.9 nos dá uma pista que liga muito bem com o convite que já recebemos, anteriormente, para subir ao Monte Sião: Nada fará dano, ninguém fará mal em todo meu monte (v.9). Do monte consagrado pela presença de Deus, em comunhão com Ele, se vê como surge o mundo novo que, às vezes, não conseguimos vislumbrar. Subindo com Isaías, contemplamos extasiados este espetáculo:

  • Sobre a terra semiárida da Palestina, a paisagem cósmica e humana muda: um rebento (v.1);
  • Logo sopram os ventos dos quatro pontos cardeais; estes já não passam direto sobre a árvore, mas pousam sobre o rebento comunicando-lhe sua vitalidade (v.2);
  • Com esta força o rebento se levanta e faz justiça aos pobres da terra (vv.3-5);
  • Então, a justiça gera paz e reconciliação entre os irreconciliáveis da terra (vv.6-9);
  • Finalmente, o rebento (que é o Messias), e não só o monte Sião, se torna estandarte que responde a busca de todos os homens da terra (v.10).

Detenhamo-nos em cada um desses quadros:

 

  • Do tronco de Jessé brota um rebento (v.1)

 

A promessa de Deus vivifica a cepa da história da salvação. As origens do Messias descendente de Davi são humildes, porém, tem que ver nele a obra de Deus. A velha árvore não morreu. A seiva, que é a força da vida, é perene. Ainda que não se note, ela sempre está ai, e Deus a faz tornar a manifestar-se.

 

  • Os quatro ventos da terra pousam sobre o rebento de Davi (v.2)

 

Os ventos simbolizam o Espírito de Deus que unge o Messias. Trata-se do Espírito que fez possível a criação (Gn 1,1-2) e que suscitou líderes para Israel (Nm 11). Seu dom é quádruplo, número que se refere a uma realidade completa. É o próprio Espírito do Senhor: É Espírito de sabedoria e inteligência: dá ao Messias a capacidade de perceber a realidade como Deus a vê, com olhar de justiça e verdade; este é o primeiro que necessita um líder; É Espírito de prudência e valentia: trata-se do critério para o bom governo e do valor para empreender grandes ações, que implica sua alta responsabilidade, já que não é suficiente ver o que tem de fazer, mas, que é necessário, sobretudo, pôr-se em ação levando adiante os projetos; É Espírito de conhecimento e temor do Senhor: o líder age com uma atitude de humildade profunda ante Deus, porque é o Senhor quem, verdadeiramente, sabe e tudo pode.

  • Surge no meio do povo um líder íntegro e justo (11,3-5)

 

Quando entra em ação, o Messias se põe do lado do desprotegido, daquele a quem lhes são negados seus direitos. Seu critério de juízo não são as tagarelices. Ele, com a força de sua palavra, colocará em evidência o culpável e fará justiça, pondo em seu devido lugar os que tornam impossível a paz, os que sempre estão gerando divisão e discriminação, pois atuam segundo seus interesses. Uma vez que o alcança, se reveste, solenemente, com as insígnias reais da justiça e verdade: “Justiça será o cinto de seus rins e Verdade será o cinturão de seus ombros”.

 

  • A não violência se converte em um estilo de vida dinâmico no qual se tecem relações construtivas entre os antigos e ancestrais inimigos (11,6-9):

 

Este novo estilo de vida, que já não depende do impulso natural de vingança, ou de domínio sobre o outro, mas de uma força interna que leva a respeitar e amar, promovendo a vida, é simbolizado na reconciliação dos animais selvagens e domésticos: Os animais predadores estão dispostos a mudar de dieta para não causar dano; No meio deles, o homem, cuja vida está sempre ameaçada pelos animais selvagens, aparece como criança indefesa, onde as feras e, inclusive, a mais indomesticável, a serpente, se torna mansa e compartilha, com confiança, seus espaços como em um jogo infantil.

 

Sem mudar-se da montanha, ao fim, a profecia amplia, progressivamente, a visão, como quando se contempla a amplitude do oceano, para anunciar a reconciliação do mundo entre os animais selvagens, entre, os não menos selvagens, os homens, e, finalmente, entre os homens e Deus: Ninguém fará dano, ninguém fará mal… porque a terra estará cheia do conhecimento de Yahweh(v.9).

 

  • No centro de toda esta obra está o Messias, a “bandeira” que buscam os povos (11,10)

 

A profecia não perde de vista a pessoa do Messias, a “raiz de Jessé”. Ele aparece visível como uma “bandeira”. Em uma bela transposição de símbolos, a “raiz” aparece como “bandeira” militar, expressão do vigor e anúncio de sua vitória sobre o mal. Junto ao Messias, os povos não combatem entre si, mas se unem à única batalha que vale a pena levar unidos: a promoção da vida e a fraternidade. Também, ao final, a profecia nos faz ver como os pagãos, que buscavam a Deus no alto do monte Sião, agora o buscam, de modo real, na “raiz de Jessé”, o sucessor de Davi. A “morada gloriosa” do Messias é o ponto de encontro de todas as nações que buscam a Deus e sua justiça. Nesta “morada” há paz e descanso, pois só n’Ele encontram repouso e têm realização e plenitude todos os projetos humanos.

 

  1. A profecia se realiza em Jesus: Lc 10,21-24 (Jesus encheu-se da alegria do Espírito Santo)

 

Jesus é o Messias que realiza o que disse o profeta. Reconhecemos por um detalhe, como ensina hoje o Evangelho: “sobre Ele repousa o Espírito Santo com o dom do gozo” (10,21) e do conhecimento de Deus (10,22). Os pequenos, em sua simplicidade, se abrem ante a Palavra que transmite o “conhecimento” de “quem é o Pai” e “quem é o Filho”, a qual lhes chega pela boca dos pregadores. Na Boa Nova de Jesus se realiza o que Isaías anunciou, porém não viu, e o que os governantes da terra quiseram gozar, porém, não conseguiram.

 

  • Não morreu o tronco de Jessé

 

Jessé é o pai do rei Davi, cujo reinado se converteu na grande referência e a medida própria do que significa reinar ao modo de Deus. Em Davi brilhou força e riqueza interiores desse “tronco” que é Jessé.

O tronco de Jessé se prolongou logo nos filhos e os filhos dos filhos de Davi, quer dizer, aquela dinastia que foi anunciada pela boca do profeta Natã: “Tua casa e teu reino permanecerão para sempre diante de mim; teu trono será estabelecido para sempre” (2 Sm 7,16).

 

Este anúncio maravilhoso era como a manifestação visível da presença de Deus e de sua fidelidade inquebrantável. Apesar das infidelidades dos sucessores ao trono de Davi, Deus mostrou que Ele permanecia e que defendia seu povo. Pelo ministério dos profetas reprovava e corrigia, ainda que sempre sobre a base de uma estabilidade: há e sempre haverá um sucessor ao trono. Passe o que passe, o tronco de Jessé seguia mostrando-se forte com novos brotos, quer dizer, novos reis presidiam, em nome de Yahweh, o povo de Judá.

 

O desterro para a Babilônia, talvez o acontecimento mais triste e o ponto mais baixo de todo o Antigo Testamento, veio a ser a grande contradição de todo esse esquema. Um rei ultrajado e cativo que, morre sem deixar descendência ao trono, significava, simplesmente, que a profecia e promessa de Natã a Davi caíram no vazio. O povo sente: Deus já não está, sua palavra calou, sua aliança terminou, o tronco de Jessé ficou mutilado e seco para sempre… Com este contexto nos assomamos à profecia valente, quase inverossímil que nos apresenta Isaias hoje: “sairá um broto do tronco de Jessé, um rebento brotará de suas raízes” (Is 11,1).

 

Estas palavras muito provavelmente foram anteriores à catástrofe do desterro, mas isso não as priva do eco impressionante com que retumbaram depois dos acontecimentos do exílio. Um renovo… um broto… um rebento… Algo pequeno, quase insignificante e, sem dúvida, um anúncio de esperança, um princípio de futuro, um grito de liberdade contra as forças da morte, do desânimo e do fracasso.

 

  • O Reino revelado aos pequenos

 

Assim como alguém pode passar por cima de um tronco velho sem ver seus brotos novos, assim alguém pode passar pelo mundo sem descobrir o broto do Reino. Falando em termos gerais, que são os termos dos grandes teóricos, as grandes estratégias e os grandes comerciantes, o Reino não importa muito. Em termos gerais e numa visão ampla o Reino faz pouco e pesa pouco.

Mas há gente simples, pequena, que não tem uma vida grande, mas uma vida pequena, e por isso tem olhos para descobrir o mistério, beleza e fecundidade do pequeno. Assim nos mostra, Jesus, estes, no Evangelho de hoje. Os “sábios e entendidos” buscam a verdade naquilo que se impõe. Necessitam comprimir-se pelo poder de algo para desejar compreendê-lo. O Reino escorre por entre seus dedos e se oculta a seus olhos. O que se impõe é débil, pois não pode vencer a real fortaleza do homem: seu coração. Ademais, nessa fortaleza é onde nos encerramos para odiar aos que nos oprimem e a maldizer aos que pretendem impor-se sobre nós. Por isso o Reino não se impõe, pois o que tem que impor-se nisso mesmo demonstra que nada pode frente à muralha interior que cada um constrói em seu coração.

 

  1. A atualização na Eucaristia

 

Os simples e humildes, ao invés, aprenderam outra linguagem. Sabem distinguir os sinais de auxílio que necessitam, talvez porque tiveram que utilizá-las em seu momento. Sabem que todos passam por horas difíceis nas quais nada podemos e tudo necessitamos. Essa é a linguagem do Reino de Deus. Essa é a linguagem de Jesus. Essa é a atmosfera que irradia discreta, humilde e pura, a Eucaristia.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

 

A SEGUNDA REALIDADE MESSIÂNICA é a da pessoa do Messias. Nele tudo renasce desde a raiz e todas as realidades humanas se ordenam em função do projeto de vida, em um âmbito de irmandade, proposto por Deus. O caminho da reconciliação que devolve ao mundo sua vitalidade para crescer juntos começa com o “conhecimento do Senhor” que traz o Messias.

 

  1. Que me dizem os cinco passos da profecia de Isaías?

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Como se relacionam com o despertar, no mais profundo de mim, das esperanças muitas?

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  1. Que retrato faz a profecia da realidade que estamos vivendo a nível nacional e internacional?

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Que relações estão rotas em minha vida?

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  1. Tenho interesses por restabelecer as relações difíceis neste tempo de Advento e Natal?

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Qual o ponto de partida que propõe a profecia?

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  1. Nesta árvore do mundo que ramas têm murchado?

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Qual a boa noticia que anuncia a promessa profética e de que maneira Jesus a realiza?

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QUARTA-FEIRA:

Isaías 25,6-10a – Mateus 15-29-37

Os sinais do Messias

“Este é Yahweh em que esperávamos; regozijamos e alegramo-nos por sua salvação”

 

O monte Sião, o lugar das visões e dos amplos horizontes, onde se capta o que Deus faz e quer fazer por seu povo, no qual convergem as nações em busca do projeto “comunidade” (profecia de antes de ontem) e no qual o Messias faz brotar uma nova vida na justiça e a fraternidade (profecia de ontem), se converte hoje no cenário de um grande banquete festivo em que: Deus, apresentado como rei, reparte seus melhores dons (6-8); e a comunidade, salva, entoa um cântico de vitória ao Senhor (9-10ª).

 

A obra salvífica de Deus e a liturgia da comunidade se unem em uma nova e maravilhosa cena bíblica.

O tema: os sinais dos novos tempos que traz o Messias. Vejamos na leitura profética de hoje.

 

  1. O convite à festa (v.6)

 

Deus se apresenta com a grandeza de um rei, que em sua magnificência, durante a festa de sua entronizarão, faz gala de sua generosidade: a lista dos convidados não tem limites: “todos os povos”; e o menu é variado, abundante e da mais alta qualidade: os manjares são “frescos” e “suculentos”, os vinhos são “velhos” e “selecionados”. A citação, como já dizemos, é no monte do Senhor, ali onde o povo se fez comunidade e onde, no conhecimento do Senhor, se começou a tecer a paz. Agora se está dando um passo para diante: Deus convida a todos os homens a fazer da vida uma festa e para isso oferece seus dons em qualidade e abundancia. Deus responde às necessidades humanas e não de qualquer forma. Como o mostram os detalhes desta cena de banquete, todos ficarão satisfeitos.

 

  1. Os presentes da festa (vv.7-8)

 

É como na antigüidade: uma vez começada a festa, o anfitrião passa ante os convidados repartindo seus presentes. Assim também é Deus. As imagens da comida que não é racionada, junto com o fato de que tem em abundância para todos, contrasta com o espetáculo habitual de uma humanidade na qual passa fome e os bens se repartem de modo desigual. Deus vem ao encontro das esperanças humanas e já muito mais longe do que em um primeiro momento se poderia aguardar. Ele não só oferece bens, mas seus dons estão relacionados consigo mesmo e estes eliminam as necessidades mais profundas do homem. É tão profunda a ação de Deus que a profecia apresenta o efeito de seus dons com a repetição do verbo “aniquilará”. Será aniquilada: “o veu que cobre a todos os povos”; e “a morte definitiva”.

 

Os presentes de Deus têm um valor incalculável e são:

  • O dom de sua mesma presença e manifestação (v.7). Com a imagem de um “véu” que se tira, se quer dizer que se descubra o “rosto” de Deus de maneira que possa ser conhecido. O gesto representa um convite à amizade baseada no conhecimento e ao gozo da contemplação. Nada pode ser maior que a relação, em permanente proximidade, com Deus, fonte de todo bem.
  • O dom da vida eterna (v.8). Do “véu” de Deus se passa ao “véu” do homem. Este segundo “véu” representa o vestido de luto que cobre aos que estão fazendo duelo. Pois bem, Deus o arranca porque ao conceder-lhe a vida plena por meio da comunhão com Ele, o homem já não tem motivos para chorar: “Enxugará o Senhor Yahweh as lágrimas de todos os rostos”.

 

E não se trata de consolos passageiros, porque a morte, a primitiva maldição (Gêneses 3), a maior contradição na historia do homem, se aniquilará para sempre.

 

  1. Os cânticos da festa (25,9-10ª)

 

Uma vez feita a refeição e recebidos os dons, a comunidade festiva irrompe, efusivamente, em canções alegres. Uns e outros se convidam a cantar. Celebra-se a vitória de Deus sobre os inimigos num difícil combate, representados, simbolicamente, no povo de Moab (v.10b). Neste inimigo, real na historia de Israel, se simboliza tudo o que causa tristeza, dor e luto no povo. É sobre estas realidades que se proclama a vitória de Deus e de seu povo. A letra da primeira canção tem como tema “a salvação” e diz em poucas palavras, que quem era a esperança há sido por fim a salvação de seu povo (25,9).

 

A comunidade tem clara consciência do que é a salvação. Uma nova imagem reponta ao final da letra da canção e dá um novo colorido: a mão de Yahweh (25,10ª). Trata-se da “mão” poderosa do Deus dos exércitos (“Yahweh Sebaot”) que combate contra mil mãos na batalha. Os fatores geradores da fome, dor, morte e tristeza do povo são muitos, mas não são maiores que Deus. Curiosamente a ambivalência do sinal mostra que a mão que castiga o inimigo é também a mão terna, paterna e protetora de Deus que cuida com amor de seu povo.

 

Esta profecia se realiza em Jesus, o Messias (Mateus 15,29-37)

 

No relato da multiplicação dos pães e dos peixes, ocorrido também em um monte (v.29), Jesus preside a festa da vida que muda o destino de uma humanidade que sofre (“coxos, cegos, mudos…”,v.30), entre os quais estão os que passam fome (vv.32-37). A quantidade e a qualidade dos dons de Jesus são evidentes. Frente a esta realidade humana, Jesus dá passos concretos: cura e alivia a dor do povo;

alimenta “uma multidão muito grande” no deserto; e faz recolher as sobras da ceia para que tenha sempre comida para todos, inclusive para os que não estiveram na ceia.

 

Tanto na profecia como em sua realização em Cristo, prima o que Deus “faz” por nós. Jesus transforma a vida humana a fundo, curando as penas de cada um e formando comunidade, como um pastor que cuida e congrega seu rebanho. Quando pomos a vida sob o cuidado de Jesus fazemos possível o dom maior de toda Bíblia, profetizado por Isaías: “Consumirá à Morte definitivamente. Enxugará o Senhor Yahweh as lágrimas de todos os rostos, e tirará o opróbrio de seu povo de sobre toda a terra” (Is 25,8).  Deste modo a vinda do Senhor tem sabor de Páscoa.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

 

PRIMEIRAMENTE VIMOS A COMUNIDADE MESSIÂNICA, EM SEGUIDA SE FEZ UMA APRESENTAÇÃO DO MESSIAS E HOJE NOS COLOCAMOS FRENTE AOS SINAIS DO MESSIAS. Em anuncio profético revive nossa esperança, resgata nossos ideais mais altos, nossos desejos mais profundos: uma vida sem dor e sem lágrimas, um mundo no qual ninguém passa fome nem falta o essencial, uma humanidade que permite celebrar a festa da vida. Esta esperança começa a fazer-se concreta no compromisso: Sejamos como Ele, façamos amigos e partilhemos, de maneira que não falte o pão em nenhuma mesa!

                                                                              

 

  • Minha vida é uma continua festa?

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  • Tenho motivos para celebrar?

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  • Há lutos em minha vida?

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  • Qual é meu canto de festa?

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  • Que me que convida a viver o Senhor graças a sua vinda?

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  • Pareço-me com Senhor no compartir com os demais?

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  • Que acontece com as sobras das mesas abundantes?

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QUINTA-FEIRA

Isaías 26,1-6 – Mateus 7,21.24-27

Atitudes ante a vinda do Senhor (I): Construir nosso projeto com base no de Deus

“Confiai sempre em Yahweh, porque em Yahweh tens uma Rocha eterna”

 

Os três primeiros dias desta semana nos conduziram por meio deste itinerário: o povo messiânico, a pessoa do Messias e os sinais do Messias em meio de seu povo. Nestes três dias que vem as leituras nos conduzem por um novo itinerário que enfatiza as atitudes a tomar diante da vinda do Senhor.

 

A profecia de hoje nos introduz em uma nova série de três lições de “Advento” e nos inculca as atitudes que nos corresponde adotar frente a vinda do Senhor a nossas vidas. Todas elas estão relacionadas com a e nos exigem compromissos concretos. Só assim poderemos fazer do “Advento” o exercício da espera ativa de um Deus salvador que vem a nosso encontro.

 

O ensino de hoje é apresentado pelo profeta Isaías mediante a didática de um canto que há que se aprender. O interessante é a dinâmica interna que nos apresenta.

 

  1. Aprender a segunda canção: “Aquele dia se cantará este cântico em terra de Judá” (v.1ª)

 

Partamos desta realidade humana: o problema não é tanto o alcançar uma meta, mas conseguir que os ganhos não se desperdicem.

 

Com este propósito o profeta Isaías, depois da canção da vitória que celebrava as primeiras emoções, ensina, agora, uma segunda canção ao povo. Os assuntos de Deus, a espiritualidade, não são questões de emoções passageiras, mas de solidez de vida.

 

A primeira canção celebrava a obra salvífica de Deus e expressava a felicidade porque as coisas saíram bem, por sua parte, a segunda, trata de inculcar no povo o compromisso que lhe corresponde. Há que aprendê-la de memória e praticá-la no exercício cotidiano da fé.

 

  1. Das mãos poderosas e misericordiosas de Deus aos pés do peregrino: “Ele derrota os habitantes dos altos… a pisam os pés, pés de pobres, pisadas de débeis” (v.5-6)

 

A descrição da cidade (v.2) e o convite a abrir as portas (v.3), indica que se trata de uma canção de caminhantes que chegam a sua cidade. O profeta se inspira na cena dos peregrinos, talvez antigos exilados, deslocados de suas terras e casas, despojados de seus bens básicos, que regressam contentes a seu espaço vital. A volta não foi fácil, para conseguir tiveram que enfrentar e superar adversidades. O primeiro coro alegre – o entoado ontem – não deixa de ressoar e dá pautas à nova composição.

  • Virtualmente se traça uma espécie de eixo vertical que começa nas mãos poderosas de Deus (25,10) e culmina na terra, nos pés descalços dos humildes peregrinos -pobres e mendigos- que participam da vitória realizada por Deus (26,6);
  • Ao deslocamento horizontal do caminhante se justapõe o deslocamento vertical que expressa a ação de Deus (26,5).

 

A ação de Deus (“derrota”, “faz cair”, “abaixa”, “faz tocar”) se conjuga com a ação do homem (“a pisam os pés de pobres”).  Na medida em que caminham, com seus passos firmes os humildes vão afirmando a vitória. Porém, contra o que ou a quem é a confrontação?

 

  1. Dois projetos em conflito: a cidade do homem e a cidade de Deus

 

O canto está sendo entoado por um solista e é ele quem faz a descrição. O julgar expõe ante tudo o que capta no fundo espiritual do cenário. Para isso se vale da comparação entre duas cidades: a cidade santa (26,1-4) e a cidade rebelde (26,5-6). O cantor inverte a ordem: primeiro exalta a vitória da cidade de Deus e logo conta o fracasso da cidade pérfida. A segunda cidade vem ao chão, enquanto que a primeira tem garantida sua firmeza. Em ambas as cidades se destaca a “muralha”.

 

Na Antiguidade uma muralha dava identidade à cidade, não só externa, mas também internamente, quer dizer, por quanto, garantia a unidade e a defesa da mesma, a muralha é o símbolo do projeto de sociedade que ali se quer construir. Por isso, com a repetida referencia às muralhas, todo o canto aponta à exaltação da solidez do projeto de Deus acolhido pelos humildes, enquanto que em um segundo plano se nota a inconsistência do projeto dos orgulhosos que creem poder fazer tudo exclusivamente com seus próprios esforços.

 

  1. Características da cidade de Deus: “Temos uma cidade forte” (v.1b-4)

 

A cidade santa não é qualquer aglomerado de casas, parece mais uma construção unificada, idealizada por um único arquiteto que pensou em seus aspectos mais importantes: “para proteção, pôs muro e antemuro” (26,1b). O mais belo é que de repente se vê uma transposição metafórica que faz do coral de pedra e baluartes de defesa militar, uma imagem do próprio Deus como salvador de seu povo.

 

Num dado momento, a construção – refugio é o de menos e o que sobressai é a comunidade reunida por Deus – que se identifica com Ele e seu projeto. O canto segue: o rio humano de peregrinos chega então às portas do Templo, coração da cidade, e a procissão inicia seu rito de entrada. Nele o povo declara seus compromissos.

 

Trata-se, antes de tudo, de três atitudes que há que viver na cotidianidade (26,2b-3a):

  • Gente que guarda a fidelidade”: se trata da constancia no caminho do Senhor;
  • Gente de ânimo firme”: se trata da “força de vontade”, para manter a fidelidade;
  • Gente que conserva a paz”: trata-se dos esforços por manter o sempre difícil equilíbrio nas relações.

Põe de relevo o esforço que realiza o homem. Porém não se trata de algo que provem somente das próprias forças, mas que está baseado na confiança em Deus.

 

  1. A chave de tudo é a confiança em Deus: “Confiai em Yahweh para todo o sempre” (v.4)

 

A confiança em Deus, que é um modo de expressar a experiência da fé, o mais importante e é garantia das três características de um povo justo. Por isso se fala nestes termos: “Porque em ti confio” (v.3b). Não percamos de vista que este povo, humilde, porém reto, que redescobre seu projeto na historia à luz de sua fé, é o que logo exalta Maria em seu Magnificat (ver Lc 1,50-53).

 

A comunidade dos humildes não está só, seu fundamento é o mesmo Deus, que é “Rocha” forte e irremovível, não muda de ideia de um dia para outro, porque é sempre fiel. A firmeza do projeto de justiça e fraternidade provém da solidez de Deus. Não há melhor nem mais seguro apoio. A atitude de base está clara: a esta cidade-comunidade, onde se realiza o sonho de Deus para seu povo, só se entra mediante a prática fiel de seus ensinos e a confiança total n’Ele. Só os que estão dispostos a ser justos podem atravessar o umbral de suas portas.

 

E esta profecia se realiza em Jesus (Mt 7,21.24-27)

 

A parábola que contrapõe a casa construída sobre a rocha com a casa construída sobre a areia (Mt 7,24-27), traslada à pessoa de Jesus, o MESSIAS, a profecia isaiânica. Como ensina Jesus em Mt 7,21, não basta a oração vocal, é preciso o compromisso de viver segundo o querer de Deus (a “fidelidade”).

É no seguimento do Mestre, isto é, mediante a escuta e o pôr em prática seus ensinamentos, que se forma a nova e definitiva comunidade, o povo justo que inaugura o mundo novo. Esta é a verdadeira Rocha que sempre se sustentará.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

 

A vinda do Senhor exige atitude da fé: acolher sua Palavra e fazê-la parte de nossos projetos, pois só n’Ele nossa vida tem sentido. A motivação mais profunda de nossos esforços deve ser permanecer fieis aos projetos de Deus, fundados na fé-confiança n’ Ele. Esta confiança se concretiza em compromissos.

 

  • Qual meu projeto de vida?

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Está identificado com o projeto que Deus tem para mim e para o mundo?

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  • Que tão sólido é meu caminho com o Senhor?

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  • Sobre que se apoiam meus esforços na vida?

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Que busco com eles?

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  • Nestes dias em que a paisagem urbana se transforma com enfeites de Natal, como relaciono esta realidade com a profecia sobre a cidade dos pobres de Deus?

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Que compromissos me pede o Senhor para poder contribuir na construção de seu projeto de cidade?

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SEXTA-FEIRA

Isaías 29,17-24 – Mt 9,27-31

Atitudes ante a vinda do Senhor (II): Aprender a “ver” com os olhos da fé

“Aquele dia os surdos ouvirão palavras de um livro, e desde a treva e desde a escuridão os olhos…

 

Nestes dias o panorama urbano se transforma com os arranjos natalinos das ruas e casas; um ambiente delicioso se começa a sentir. O natal que se aproxima nos presenteia um formoso espetáculo para a vista e nos alegra o coração.

 

O profeta Isaías nos oferece uma pista para que busquemos, compreendamos e participemos em uma transformação mais profunda realizada por Deus. Para isso nos ensina a ver o mundo com os próprios olhos de Deus.

 

  • O sinal da transformação externa da natureza (v.17)

 

O profeta observa a lenta, porém irresistível transformação da natureza: “Dentro de muito pouco tempo a seiva do Líbano se converterá em horto e o vergel serão como bosques” (29,17).

A anotação “dentro de muito pouco tempo” aponta um tríplice ensino:

  • que Deus tem uma pedagogia para salvar o homem e sua historia.
  • que a demora dos tempos da espera da realização das promessas não deve matar os sonhos, mas acrescentar o desejo: vem!
  • que há que observar as etapas da ação de Deus e acompanhá-las. Notemos no texto de hoje um crescimento progressivo que o profeta observa paciente e cuidadosamente: a estepe, o horto, a seiva; isto é, uma imensa terra improdutiva se transforma pouco a pouco em uma grande explanada fértil, expressão de vida em abundancia.

Com frequência tendemos a desesperar-nos porque não vemos ainda realizados nossos sonhos. Pois bem, o profeta inculca em seu povo a certeza de Deus e o ensina a alimentar sua esperança com a observação dos sinais que há na historia, aos quais as vezes não pomos atenção.

 

  • Brota uma nova sociedade que inclui a todos e que promove a vida (vv.28-21)

 

Passando da observação da natureza ao mundo das pessoas, Isaías transpõe o milagre da criação ao ressurgimento de uma nova sociedade.

 

Nota-se como a vida se restaura em suas diversas dimensões:

 

  • Curar-se-ão as deficiências físicas e espirituais, sinalizadas na cegueira e na surdez (v.18): Se voltarmos atrás algumas páginas do livro de Isaías, veremos que em 6,9-10 (texto citado por todos os evangelhos) o Senhor havia castigado o povo por sua má vontade em seguir seus caminhos, com a incapacidade de captar a revelação divina. Nesta profecia que estamos lendo, o castigo se revoga: “Aquele dia os que estiverem surdos ouviram quando se lê a Escritura, e verão os cegos…”. Quer dizer que, nestes novos tempos, todo o povo, começando pelos mais simples, começará a entender e a pôr em prática os projetos de Deus e os critérios de vida que Deus propõe. Ou seja: todo o povo será capaz de ler, de compreender e de viver os ensinamentos da Bíblia.

 

  • Superar-se-á a pobreza (v.19): Uma vez que o povo assuma seu projeto comunitário ―no projeto de Deus― começará a superar penalidades causadas pela falta de recursos econômicos, a desigualdade social e a exclusão. A felicidade será imensa: “Os que sofrem voltarão a alegrar-se com o Senhor, os pobres gozarão com o Deus Santo de Israel”.

 

  • Restabelecer-se-á a justiça (vv.20-21): Neste novo tempo da história humana já não haverá espaço para a tirania nem abuso de poder, pois os causadores das desgraças e do desequilíbrio social serão julgados: “foram eliminados os que se desvelavam por fazer o mal, os que faziam falsas denuncias e no tribunal impediam a defesa e afundavam sem motivo o inocente”.

 

  • A dignidade, a oração e a evangelização de um povo que se fez comunidade (vv.22-24)

 

Ante o quadro espetacular da nova humanidade, apresentada nos versículos anteriores, aparece um povo que recobra o ânimo e fortalece sua fé:

 

  • Eleva a auto-estima: Sentem que podem enfrentar os demais povos, pois o opróbrio a nível espiritual (a contradição interna de não entender seu próprio Deus) e social (pobreza e a tirania) foram definitivamente superados: “Não se envergonhará Jacó, nem seu rosto empalidecerá” (v.22).

 

  • Proclama o poder do Deus da vida: Agora, ao invés, o povo se sente forte para confessar que Deus é poderoso(v.23). E Isaías tem uma prova. Como o Senhor numa ocasião lhe havia dado um filho, em sinal de seu amor e sua glória(8,3), todos os israelitas, ao ver seus filhos(v.23ª) compreenderão a obra do Deus da vida e da história. De fato, a história da salvação, desde os patriarcas (22ª) até agora, é obra das mãos de Deus. Quem aprende a olhar a vida com os olhos desta profecia saberá reconhecer, precisamente nesta história, às vezes tão obscura, a santidade de Deus, sua transcendência, o rumor discreto de seus passos em todos os aspectos de nossa cotidianidade.

 

  • Evangeliza os que duvidam do projeto de Deus: Finalmente, o profeta vai mais longe: inclusive a gente incrédula -recordemos o povo que criticava a Deus durante o caminhar pelo deserto no êxodo- ao ver tudo isto saberá tirar boas conclusões: “E por fim compreenderão os desorientados, e os que protestam aprenderão a lição” (29,24).

 

Jesus é o MESSIAS que realiza esta profecia (Mt 9,27-31)

 

Jesus realiza as palavras de Isaías quando abre os olhos aos cegos. Ele leva o homem a ver a obra de Deus na historia com os olhos da fé. Para isso, o primeiro que cura é a fé, por isso pergunta: Crês que posso fazer isso? (v.28); e em seguida agrega: “Faça-se em vós segundo vossa fé (v.29).

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

Nestes dias cantamos “Vem Senhor não tardeis!”. Mas, a que vem o Senhor? A cegueira que descrevem as leituras de hoje tem tudo a ver com a incompreensão do projeto de Deus que está na Bíblia. A “lectio divina” deve levar-nos a aprender a caminhar, aos poucos, em sintonia com Deus para que sua obra no mundo, cujo objetivo é a vida, se realize plenamente com nossa colaboração. Fazer isto é aprender a ver com os olhos da fé, para poder seguir na direção que, de fato, constrói a historia e a sociedade.

 

  • Há sinais de vida há em minha historia pessoal, em minha comunidade, em minha nação?

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  • Olhando tudo o que falta por fazer para que esta sociedade seja a que Deus e nós sonhamos, tenho a paciência do que sabe esperar e a fé do que sabe ver a fundo?

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  • Que me pede o Senhor para que se realize seu projeto?

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A partir da profecia de Isaías, de que necessitamos ser curados neste Advento para que o Natal seja realmente celebração da vida?

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SABADO

Isaías 30,19-21.23-26 – Mt 9,35-10,1.6-8

Atitudes ante a vinda do Senhor (III): BUSCAR O PERDÃO

“Será a luz da lua como a luz do sol meridiano… o dia que Yahweh pensar a ferida de seu povo”

 

Todas as profecias nos falam da transformação que Deus está operando e seguirá realizando até sua plenitude na história humana.

 

Hoje aparece na profecia de Isaías o que podemos considerar como a raiz de toda força transformadora do mundo: o perdão. O núcleo deste anúncio está nas palavras finais: Será a luz da lua como a luz do sol meridiano, e a luz do sol meridiano será sete vezes maior, com luz de sete dias, o dia em que Yahweh pensar a ferida de seu povo e curar a contusão de seu golpe(v.26).

 

Isaías compara o pecador perdoado com uma lua que irradia com a intensidade do sol e com um sol cuja luminosidade é sete vezes maior que o normal. Assim é como emerge a partir de dentro, com novas energias, o homem curado desde o fundo de sua obscuridade, por meio da experiência do perdão de Deus. Que maravilha quando o descobrimos e o experimentamos!

 

  1. A profecia: Isaias 30,19-21.23-26: “Terá piedade da voz de teu gemido…”

 

Vejamos o itinerário da profecia de hoje:

 

  • O fim do tempo das lágrimas (vv.19-21)

 

Se estamos em pecado fecham-se os horizontes; com suas decisões equivocadas, cada um atrai seus próprios males. O perdão é à base de uma nova vida, como havia profetizado Isaías: Pela conversão e calma sereis libertados, no sossego e na segurança estará vossa força (v.15). Mas o povo não levou a sério estas palavras, por isso o profeta recrimina: (30,15b). Com sua atitude, o povo lança a si as consequências de sua errada decisão, que a profecia descreve em termos de castigo e cujo dano não é distinto do que o homem provocou a si mesmo (vv.16b-17). Deus não suporta ver o homem nessa situação: Sem dúvida aguardará Yahweh para fazer-nos graça e assim se levantará para mostrar compaixão(v.18).

 

A Deus dói o sofrimento de seu povo (ver Ex 3,7). Por isso Deus se inclina, misericordiosamente, ante o homem para dar-lhe a mão. Assim o profeta volta a levantar sua voz para anunciar que o tempo do castigo vai acabar, que vem o tempo do perdão, onde o povo ressurge renovado. No perdão há duas atitudes: a de Deus e a do homem:

  • Por parte de Deus se enfatiza sua prontidão. É suficiente o clamor de seu povo que geme sob o peso de seu pecado: “Já não vão chorar mais, o Senhor se apiedará de ti ao ouvir teu clamor; apenas te ouça, te responderá” (v.19);
  • Da parte do homem se enfatiza a abertura e docilidade para dar um giro à vida, deixando-se orientar pelo apelo de Deus, “Mestre” de vida: Com teus próprios olhos verás teu Mestre e ouvirão teus ouvidos um chamado atrás de ti, que te dirá qual o caminho…” (vv.20b-21).

 

Uma imagem sugestiva aparece: Deus vai à frente e se coloca nas encruzilhadas indicando ao caminhante a rota que deve seguir (v.21b). Chama a atenção o fato de que se tire proveito da experiência negativa, porque no meio do sofrimento se aprende a descobrir um sentido, isto é, se “escuta” e se “capta” como o Senhor está presente em nosso caminhar guiando nosso projeto de vida, revelando-se a si mesmo do fundo obscuro de nossa fé.

 

Contudo, o profeta não perde o realismo, porque apesar de se ter descoberto o rosto e os caminhos de Deus, todavia há sofrimentos que acompanham o homem. Por isso disse: Ainda que o Senhor vos dê a água racionada e o pão da angústia, já não se esconderá teu Mestre (v.20ª; para esta frase seguimos a tradução de Luis Alonso Schökel).

 

  • O começo de um novo tempo de benção (vv.23-26ª)

 

O homem se encontra agora numa nova situação, sua base é a comunhão com Deus. Mas para o profeta não é suficiente dizer que se entrou numa vida nova na qual se vive segundo Deus, também é importante anunciar que ela traz de novo e de bom ao homem. Em síntese, na vivência do perdão-cura se renovam as bênçãos de Deus.

 

Isaias descreve com imagens fortes que evocam a potência da vida. Os vv.23-26 cuidadosamente observam a potência da vida desde sua menor expressão numa semente que brota, até o homem, cume da pirâmide da criação, a desenvolver todas as suas potencialidades.

 

A dinâmica da leitura, nesta parte, consiste em visualizar o processo:

  • Primeiro aparecem os campos. Sobre eles Deus faz chover e cada grão que se encontra na sementeira ávida para dar o melhor de si (30,23a). O grão se torna trigo e o trigo se torna pão de boa qualidade.
  • Logo vemos aparecer os animais sobre eles,: as ovelhas (rebanho menor) estão pastando a erva que acaba de germinar; os bois e os asnos (rebanho maior) já estão recolhidos no estábulo comendo sua forragem (30,23b-24). Também aqui se destaca a quantidade e a boa qualidade do alimento.
  • Por fim aparece o que gera vida: a água e a luz. Sobre os campos cheios de animais escrutamos um pouco mais a paisagem e vemos o alto dos montes convertendo-se em estanques de água (“águas perenes”, v.25ª), garantindo-se assim a água por muito tempo. E ainda mais acima, no cosmos, vemos a lua e o sol dilatando sua capacidade luminosa para que surja a vida e se mantenha por muito tempo (“a luz do sol sete vezes maior”, v.26ª).

Porém não se trata de uma simples descrição da natureza, mas de toda a potência de vida que traz o tempo de perdão: a transformação do homem é a transformação do mundo inteiro.

 

  • A raiz de tudo é o perdão (v.26b)

 

Encontramos uma imagem forte ao final: o tempo que caem as torres inimigas (v.25b); é curada a ferida de seu povo (v.26). O caminho de crescimento nos caminhos do Senhor é, ao mesmo tempo, um caminho onde se somam todas suas bênçãos. O perdão é uma cura que dá uma nova força de vida.

 

  1. O evangelho nos anuncia Jesus como Messias misericordioso: Mt 9,35-10,1.6-8

 

O Evangelho nos anuncia Jesus como Messias misericordioso que realiza esta obra de cura de seu povo “envergonhado e abatido como ovelhas que não tem pastor” (v.36).

 

Com a vinda de Jesus acaba o tempo das lágrimas e inicia o tempo da benção em que o povo é socorrido por bons líderes que reúnem as ovelhas perdidas da casa de Israel (v.6). Eles, em nome de Jesus e despojados de qualquer interesse próprio, proclamam a proximidade do Reino e curam os sofrimentos do povo (vv.7-8). Em Jesus e seus mensageiros a misericórdia de Deus que atende ao clamor de seu povo é patente.

 

Deus já não se esconde

 

Se há uma notícia consoladora é aquela que hoje nos oferece o profeta: Deus já não se esconde. Deixa-se sentir e atende as súplicas. Doce notícia, porque se há algo torturante é o silêncio de Deus. A luz cresce de tal modo que a lua se equipara ao sol enquanto o sol adquire o brilho perfeito. Mas essa proximidade de Deus vai nas duas direções.

 

O próprio Deus que acolhe as súplicas deixa escutar sua voz e mostra o caminho correto. Isto deve ser destacado, porque às vezes gostamos que o Senhor se faça presente para atender nossa voz, porém logo não nos interessa que esteja perto para que atendamos sua voz. Há um sinal, um ponto que marca o começo dessa proximidade; algo que não queríamos ouvir. Trata-se do dia da grande matança.

 

Não deveria ser assim. O ser humano deveria aprender a obedecer sem que tantos tivessem que morrer. A humanidade deveria sentir-se acompanhada sem necessidade de saber-se sobrevivente. Mas a obstinação humana conduziu a isso: parece que necessitamos do horror da morte para reconhecer o pecado, e necessitamos da vertigem da sobrevivência para aprender a agradecer.

 

Tempo de colheita

 

O Evangelho de hoje fala ainda dum tempo final. É a imagem clássica da colheita: o tempo da verdade. Só na colheita se sabe o que há nas sementes. E Cristo anseia um maior número de trabalhadores para a colheita. Trabalhadores que façam aparecer o tempo da verdade.

 

O texto do Evangelho, de fato, geralmente deve ser interpretado como um convite a trabalhar, e isso não é de todo certo. Não é exatamente um convite a trabalhar, mas um convite a acolher. A história amadureceu e falta gente que tire a verdade que está oculta, mas já próxima, em todo esse tempo de longo amadurecimento.

 

Um evangelizador, pois, não é só um trabalhador, nem um “bom” trabalhador. É alguém que tem luz suficiente para descobrir e fazer presente a chegada do Reino. Ver com uma profundidade impressionante que está maduro e recolhe aos celeiros de seu Senhor. Neste sentido um evangelizador não gastaa energias com palavras e contendas; mas fugindo “das discussões estéreis”(cf.1Tm 6,3-5) busca o que está maduro para Deus. No caso do Evangelho, as ovelhas da casa de Israel; em outros casos, segundo vai mostrando o Espírito Santo, de acordo com o que lemos nos Atos dos Apóstolos.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

 

Hoje estamos ante uma das expressões mais concretas da fé que falávamos ontem. Nestes dias, pensemos, não só nos presentes e cartões que esperamos dos amigos e familiares, no Natal, pensemos mais no que o Senhor nos quer dar ― o presente que melhor responde ao que está necessitando nosso coração ―, o qual nos levará a dar presentes nascidos do fundo do coração às pessoas que nos rodeiam: “De graça recebestes, de graças dai” (Mt 9,8). O maior de todos os presentes é o perdão e para isso “vem” o Senhor. Desde o mais profundo de nosso ser serão libertadas novas forças de vida que atrairão muitas bênçãos sobre os que nos rodeiam quando o Senhor “curar nossas feridas”.

 

  • Que necessito ser curado?

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Qual a causa de meu pecado?

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Quais as consequências de meu pecado?

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  • Na celebração da misericórdia, que me dá a Igreja, por meio de seus mensageiros?

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  • Por não se tratar somente de receber, que posso fazer nestes dias pelos que mais sofrem física e espiritualmente, de modo que minha vida seja uma imagem viva da proximidade misericordiosa de um Deus a quem lhe doe o sofrimento de todas as pessoas?

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