LECTIO DIVINA NA 11ª SEMANA COMUM ANO 2020

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LECTIO DIVINA – COMUNIDADE PAZ E BEM

11ª Semana do Tempo Comum ano 2020

 

 

SEGUNDA-FEIRA, 15 DE JUNHO DE 2020- 11ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO A

Mateus 5,38-42 (A nova justiça é superior à antiga) – A quinta antítese consiste na assim chamada, «Lei do talião» (Ex 21,24;Lv14,19ss;Dt 19,21), atestada em  toda a Antiguidade (cf. Código de Hammurabi, séc XVIII aC.). Baseia-se, esta lei, no princípio da retribuição e na exigência da reparação, pondo um freio, com isso, à retorção (cf.Gn 4,23ss). “O Senhor, ao abolir esta reciprocidade, corta pela raiz, o pecado. Na Lei está a pena; no Evangelho, a graça. Ali se castiga a culpa; aqui, ao contrário, se destrói­ a própria fonte do pecado» (Jerônimo). Por isso nos ensina Jesus, a sermos tolerantes, a não opormos, com espírito de vingança e intolerância, a quem nos põe em uma situação de prova, sabendo que, desse modo, se corta a espiral da violência e da prepotência. E isso inclusive quando anda por meio a integridade de nossa própria pessoa e de nossos próprios bens, começando pelo tempo. A referência ao manto serve para indicar a roupa com que o povo se protegia da intempérie e se cobria nas horas de descanso. Os mil passos era a distância que se permitia percorrer em dia de sábado. Paulo recolhe também o ensinamento de Cristo: «A ninguém pagueis o mal com o mal […] Não te deixes vencer pelo mal, mas, vence o mal com o bem» (Rm 12,17.21). «Isto é o mais excelente destes preceitos», co­menta João Crisóstomo, «que enquanto nos persuadem que suportemos o mal, ao mesmo tempo ensinam, a quem ofende ao amor, mediante a virtude e a sabedoria», vendo nosso comportamento desprendido e tolerante. «Cristo quer que seus discípulos sejam como o sal, que conserva a si mesmo e mantém, também, os outros elementos com os quais se mescla

 

 

1 Re 21,1-16 (Nabot recusa-se a ceder sua vinha; Acab e Jezabel; Assassino de Nabot) – O rei Acab não só confia mais nos manejos po­líticos que na proteção divina (c. 20), como também mancha com um duplo e grave crime, por instigação de sua mulher, Jezabel, ávida de estender as posses da casa real. O furto e o homicídio perpetrados covardemente a Nabot, o camponês israelita atacado em sua própria terra, indicam a degradação moral da monarquia, apesar da montagem que parece conferir legalidade ao operado pelo rei: proclamação do jejum e convocação da comunidade, como se costumava fazer em estado de catástrofe nacional. A maldição do rei, não em menor medida que a de Deus, implicava a lapidação (Ex 22, 27; Lv 24,16) sem­pre que fosse confirmada por duas testemunhas (Nm 35,30;Dt 17,6), que aqui resultam falsos.

Sl 5,2-7 (Oração da manhã) – Deus é o Pai dos pobres e dos justos. Diante dele toda a maldade está sempre desmascarada. Somente os que vivem a justiça e praticam a verdade permanecerão de pé diante do Senhor. Não há nada mais emocionante do que deixar-se iluminar pela Palavra de Deus e, por meio dela, orientar-se em todos os momentos. Com ela, entraremos e estaremos sempre na casa de Deus, que é o nosso refúgio e proteção.

Senhor, ajuda-me a fugir de toda a maldade. Dá-me a graça de viver na tua presença e na tua casa. Que eu nunca me afaste de ti e que, cheio de amor, possa me prostrar diante de ti, permanecendo em adoração da tua vontade mesmo quando ela se manifesta de maneira difícil em minha vida. Amém.

 

 

MEDITATIO: O antigo preceito «olho por olho, dente por dente» já colocava um o limite à propagação da vingança: Agora, Cristo pede um comportamento que extirpe pela raiz. Trata-se do princípio da não violência, que neutraliza a «reação em cadeia» destinada a provocar um mal cada vez maior. Pergunto sobre a prática da tolerância, que a Bíblia registra como um dos frutos do Espírito (Gl 5,22), e, portanto, da magnanimidade, que nos recorda que «Deus ama a quem dá com alegria» (II Cor 9,7).

 

ORATIO: Que difícil é para mim Senhor, saber perder na vida. Que zeloso sou de meu tempo, de minhas coisas, de minha saúde, de minhas ideias, como se fosse seu dono absoluto e pudesse dispor deles segundo meu talento. Sou incapaz de ceder, de condescender, de adaptar-me ao jeito do outro. Estou sempre na defensiva e tutelo meus direitos (reais ou presunçosos) com a ilusão de ter sempre razão, de não cometer nunca erros, de conseguir impor-me sempre. Porém, tu me pedes que eu viva desarmado, que aprenda a lidar com a impotência, com a precariedade, com o fracasso, com a perda. Pede-me que, aprenda a lidar com a cruz. Faz-me compreender, Senhor, que «encontra o melhor de si quem decide perder» (B. Hãring).

 

CONTEMPLATIO: A história de Nabot aconteceu faz muitos séculos e, sem dúvida, segue se repetindo todos os dias. De fato, todos os dias os ricos seguem cobiçando os bens dos outros, sempre estão insatisfeitos com o que já possuem. Acab não nasceu uma só vez. Segue renascendo, continuamente, e não desaparece nunca do mundo. Para um Acab que morre, nascem mil. Tampouco Nabot é o único pobre que foi assassinado. Cada dia aparece um Nabot apedrejado, um pobre aniquilado. Até onde, ricos, vos deixareis levar por vosso louco egoísmo? Quereis possuir, vós, todo o planeta? Os bens do mundo pertencem a todos: quem vos autoriza a monopolizar para vós o direito de propriedade? A natureza nada sabe de ricos; ela nos faz a todos pobres. Quando saímos do ventre materno es­tamos despidos, não temos nada. E quando descemos à cova é impossível que possamos levar a ela nossas propriedades. Sobre o esquife do rico há o mesmo montão de terra que sobre o esquife do pobre. Aquele bloco de terra, que antes não bastava para a cobiça do rico, agora é inclusive demasiado para abrigar seu corpo. Todos nascemos iguais, todos morremos iguais. Vê e cava no cemitério. Só esqueletos verás. E te desafio a distinguir os ricos dos pobres. Em ocasiões, é certo, são envoltos os corpos dos ricos com luxuosas vestes. Mas isso em nada ajuda os mortos: unicamente compraz os vivos. Vistam-te como te vistam, quando morres perdes a beleza externa sem adquirir a interior. Não só isso; jogas também uma má passagem a teus herdeiros. Estes, primeiro, pleitearão entre eles; depois, uma vez com as devidas partes, se são seguros, conservarão com ânsias e preocupações tua herança, enquanto que, se são dissipadores a dilapidarão em pouco tempo. Essa será tua culpa póstuma: induzir a teus herdeiros a repetir os pecados que te condenaram. (Ambrosio de Milão)

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

                              “Não voltes às costas ao que te pede emprestado” (Mt 5,42)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – O triunfo sobre o outro só se consegue fazendo  com que seu mal termine morrendo, fazendo com que não encontre o que busca, quer dizer, a oposição, e com isto um novo mal com que possa inflamar-se ainda mais. O mal se debilita se, em vez de encontrar oposição, resistência, é suportado e sofrido voluntariamente. O mal encontra aqui um adversário para o qual não está preparado. Naturalmente, isto se dá onde tem desaparecido o último resto de resistência, onde é plena a renúncia a vingar o mal com o mal. Neste caso, o mal não pode conseguir seu fim de criar um novo mal e fica só. O sofrimento desaparece quando é sobrelevado. O mal morre quando deixamos que venha sobre nós sem oferecer-lhe resistência. A desonra e o opróbrio se revelam como pecado quando o que segue a Cristo não cai no mesmo defeito, mas que os suporta sem atacar. O abuso do poder fica condenado quando não encontra outro poder que se lhe oponha. A pretensão injusta de conseguir minha túnica se vê comprometida quando eu entrego também o manto; o abuso de minha servidão fica visível quando não ponho limites. A disposição a dar tudo o que me peçam mostra que Jesus me basta e só quero seguí-lo. Na renúncia voluntária a defender-se, se confirma e proclama a vinculação incondicional do seguidor a Jesus, a liberdade e ausência de ataduras com respeito ao próprio “eu”. Só na exclusividade desta vinculação pode ser superado o mal (Dietrich Bonhoeffer, El precio de La gracia).

 

 

TERÇA-FEIRA, 16 DE JUNHO DE 2020- 11ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO A

Mateus 5,43-48 (A nova justiça é superior à antiga)– A sexta antítese remete ao mandato principal: o amor ao próximo (Lv 19,18). Cristo fala também, do ódio aos inimigos -expressão que não apa­rece na Bíblia, ainda que seja nos últimos textos do ju­daísmo: em Qumrán se mandava odiar a todos os filhos das trevas – para estender, também a eles, o amor e a oração. E isto, a imitação do Pai celestial, de quem todos os homens, devem reconhecer-se como irmãos. Deste modo se converterão em imitadores do Pai, imitando sua perfeição e, portanto, sua santidade (cf.Lv 19,2). A passagem paralela de Lc 6,36 nos diz em que consiste a natureza da perfeição divina: na misericórdia. Também aqui é preciso transbordar a medida (cf Mt 5,20), que, desta vez, faz referência aos tristemente famosos publicanos, os cobradores das taxas impostas pelos romanos (Mt 18,17;21,32), e aos pagãos, ligados também eles, a um código que, apesar de tudo mostra-se absolutamente formal e interessado. Sabemos deste modo que no mundo oriental a saudação comporta muito mais que um simples intercâmbio de cumprimentos; é considerado como intercâmbio de paz. Mateus recupera (cf.5,12) o termo «recompensa» ou mérito, que aparece mais vezes no capítulo seguinte (6.1.2.5.16), onde se afirma que o Pai nos premiará abertamente (cf. variante de 6,4). Como é evidente, o comportamento moral não vai ligado a uma visão retribuitiva: faço o bem cada dia para ter um prêmio por isso. Mais ainda, esta visão está desmentida pelo fato de que o verbo está no presente (que recompensa mereceis?). O comportamento do cristão não é outra coisa que a livre resposta a um dom da graça, e nessa resposta está incluído já o «prêmio»: o dom da salvação.

 

 

1 Reis 21,17-29 (Elias fulmina a condenação divina) – Elias tem junto a Acab, por encargo do Senhor, o mesmo papel de Natã com Davi. Deus, através dos profetas, aponta injustiça e defende o oprimido. A ordem decaída tem que ser reparada e, Jezabel será a primeira a pagar as consequências. Por mais rígido que possa ser o princípio da retribuição admite atenuantes, em virtude do arrependimento do culpável e da misericórdia divina. Contudo, isso não é obstáculo para que, seguindo a lógica do Antigo Testamento, se imponha, de todos os modos, a reparação (cf. 2 Re 9ss). O primeiro livro dos Reis dedica os dois últimos capítulos para ilustrar as novas e desventuradas empresas bélicas de Acab, apesar da opinião contrária do profeta Miquéias, assim como a sórdida morte do desventurado soberano, cujas chagas foram lambidas pelos cães.

 

Sl 50/51(Miserere)– Este Salmo é um capítulo do livro de nossa história. Todos nós, assim como aconteceu a Davi, passamos por três fases em nossa vida, dominadas por sentimentos contrários: bondade, pecado e conversão. A história de Davi é belíssima: quando jovem era puro e bom. Deus, então, pousou sobre ele seu olhar, escolhendo-o como rei e profeta. Mas o pecado e o poder o depravaram e, apaixonado, mandou matar Urias, o hitita, a fim de roubar-lhe a mulher. Deus suscitou o profeta Natã para abrir-lhe os olhos, mostrando o pecado cometido. Arrependido, Davi se converte e escreve esse belo Salmo, cheio de emoção, esperança e confiança. Quando nos arrependemos de nossos erros, Deus nos lava, purifica e dá um coração novo e puro. Ele nos convida a cantar cantos de festa e alegria. Este Salmo deve ser lido muitas vezes e considerado como um projeto de vida para todos nós. Ele ajudará a abrir nosso coração à conversão, conscientizando-nos de nosso pecado, não pelo desespero ou do medo, mas pela confiança de que nosso Deus é misericordioso. Em nosso coração, teremos a certeza de que Ele não quer sacrifícios inúteis, vazios, mas sim aqueles carregados de amor. Quando os laços do pecado nos agridem e tentam nos afastar da misericórdia do Senhor, devemos novamente meditar este Salmo. Assim, venceremos o medo e nos lançaremos na misericórdia do amor. Por que temer o amor de Deus? Por que temer confessar o nosso pecado? Por que a vergonha dos erros cometidos, se não podemos voltar atrás? A pedagogia do pecado é que nos ensina a pecar mais.

Senhor, confesso e reconheço que sou pecador. Minha natureza é maldosa e pecaminosa, por isso necessito de tua graça e do teu amor para superar o mal que está em mim. Sinto na minha carne as mesmas tentações que Davi sentia. A tentação de querer ser maior que os outros, de buscar o poder como forma de auto afirmação e fazer do poder um meio nem sempre lícito para dominar e espezinhar os outros. O poder me corrompe e me faz acreditar que tenho regalias e que me é lícito fazer o que quero. A tentação da carne, da sensualidade e da sexualidade, nem sempre orientada, é forte e não é canalizada para fazer o bem, mas sim instrumento de prazer e de condescendência aos instintos que tentam dominar e me levar para longe do projeto de amor. A tentação me faz querer tudo: coisas e pessoas. No entanto, Senhor, percebo que dentro de mim há algo de bom, um desejo de infinito, uma luta para vencer o mal e a vontade para fazer o bem. Quero entrar no meu coração para escutar tua Palavra, colocar-me a teus pés na atitude de discípulo. Envia-me profetas corajosos como Natã, que me aponte meu pecado para que eu possa me converter. Todos necessitamos de conversão, do mais santo ao mais pecador, do grande ao menor. Senhor, é o que te peço, afasta de mim meu pecado para que evite outros pecados. E faz que ensine, com a minha experiência e as quedas, o caminho certo, e que outros não cometam os mesmos erros meus. Amém.

 

 

MEDITATIO: Estes preceitos deverão ser julgados «com a inteligência dos santos» e não «com nossa estupidez»: afirma Jerônimo. Vale para todo o sermão da montanha, com maior razão se aplica o mandamento do amor. Um amor superior, poderíamos dizer. Pois «se amar aos amigos é coisa de todos, amar aos inimi­gos é coisa só dos cristãos» (Tertuliano). «Jesus teria vivido e morrido em vão», sustenta Gandhi, «se não houvéssemos aprendido dele a regular nossas vidas pela lei eterna do amor». Ele nos quer perfeitos no amor (uma perfeição moral, não metafísica, portanto) que devemos praticar com Deus e com o próximo, ainda que seja inimigo nosso ou nos persiga, tal como nos ensinou Jesus quando perdoou aos que o estavam crucificando. Por isso pôde Paulo dizer: «Não precisamos vos escrever sobre o amor fraterno; pois aprendestes, pessoalmente, de Deus a amar-vos mutuamente» (1Ts 4,9). Pergunto-me em que medida se manifesta, em meu amor, o amor de Deus. Realizo atos de amor para um inimigo meu, depositando em seu coração o bál­samo de minha oração?

 

ORATIO: Senhor Jesus Cristo, dulcíssimo mestre de humildade e de paciência, concede a mim, que sou o último de teus servos, arraigar-me na humildade, considerar-me infe­rior aos outros e merecedor de desprezo. Concede-me suportar, com paciência, as aflições físicas e as difi­culdades materiais; que esteja disposto a afrontar males ainda maiores e que seja capaz de sair ao encontro de quem me pede ajuda, seja para o corpo ou para a alma. Concede-me amar com o coração, os lábios e as obras não só aos amigos e aos inimigos, mas tam­bém a todos os que me perseguem, fazer-lhes o bem e rezar por eles. Deste modo, por tua graça, poderei ser incluído entre teus filhos e figurar entre os eleitos. Senhor Jesus Cristo, enquanto que aos antigos lhes prometeste bens materiais, a nós nos asseguras bens eternos para que superabunde nossa justiça. Concede-me irradiar, em tua presença e na dos outros, a luz da Palavra e das obras, assim como não abolir, mas cumprir de maneira superabundante, tua Lei. Guarda-me da ira e de ofender ao próximo, de modo que seja agradável diante de ti a oferenda do coração, dos lábios e das boas obras. Concede-me, ó Deus clementíssimo, fugir da concupiscência, do mal olhar, e evitar todo juramento. E que, ao abster-me de injuriar ao próximo, não tenha que provocar teus castigos, mas que sempre possa comprazer-te em tudo (Landulfo de Sajonia).

 

CONTEMPLATIO: Amai a vossos inimigos… Eis aqui como põe, o Senhor, o coroamento de todos os bens! Porque, se nos ensina, não só a sofrer pacientemente uma bofetada, mas a voltar à outra face; não só a soltar o manto, mas a entregar a túnica; não só a andar a milha a que nos forçam, mas outra mais por nossa conta, tudo isso é porque quer que recebas, como a coisa mais fácil, algo muito superior a tudo isso. E que há – me dizes -­ superior a isso? – Que a quem todos esses desaforos cometa conosco não lhe tenhamos nem por inimigo. E ainda algo mais que isso. Porque não diz: Não lhe aborrecerás, mas lhe amarás. Nem diz: Não lhe faças dano, mas faze-lhe bem. Mas, se atentamente examinamos as palavras do Senhor, ainda descobriremos algo mais elevado que todo o dito. Porque não nos mandou simplesmente amar a quem nos aborrece, mas também rogar por eles. Olhai por quantos escalões tem ido subindo e como tem terminado por colocar-nos na cúpula da virtude! Contemos-lhes de baixo para cima. O primeiro escalão é que não façamos, por nossa conta, mal a ninguém. O segundo é que, se a nós foi feito mal, não devolvamos mal com mal. O terceiro, não fazer a quem nos tenha prejudicado o mesmo que a nós for feito. O quarto, se oferecer a si mes­mo para sofrer. O quinto, dar mais do que o ofensor pede de nós. O sexto, não aborrecer a quem tudo isso faz. O sétimo, lhe amar. O oitavo, lhe fazer benefícios. O nono, rogar a Deus por ele. Eis aqui uma elevada filosófica! Dai também o esplêndido prêmio que se lhe promete. Como o preceito é tão grande e pede uma alma tão generosa e um esforço tão levantado, também o galardão é tal como a nenhum de seus anteriores mandatos o propôs o Senhor. Pois, aqui já não fala de possuir a terra, como se promete aos mansos; não de alcançar consolo e misericórdia, como aos que choram e aos misericordiosos; nem sequer se nos fala do Reino dos Céus, mas de algo mais sublime que tudo isso e que bem pode fazer-nos estremecer, nos é prometido ser semelhantes a Deus, quanto cabe que o sejam os homens: A fim diz, de que sejais semelhantes a vosso Pai, que está nos céus (João Crisóstomo).

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Sede perfeitos no amor, como vosso Pai celeste» (cf Mt 5,48)

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Para amar aos que nos amam, para saudar aos que nos saúdam, não temos necessidade de crer em nenhuma religião. Não temos necessidade de pôr a Deus no meio. É algo que todos fazem. É “humano”. Porque o amor aos inimigos é tão “pouco humano”, porque supera a medida do homem “normal”, por isso, mostra, como nenhuma outra exigência do Novo Testamento, que aqui temos diante não algo humano, mas, em um sentido mais profundo, algo divino. Trata-se de algo que se encontra nas restantes antíteses [do sermão da montanha], porém aqui – na antítese do amor ao inimigo – podemos captar do melhor modo possível: a soberania de Deus, o Reino de Deus. Não é que com o amor aos inimigos consigamos realizar o Reino de Deus. Em efeito, com nossas forças não somos capazes de amar ao inimigo. É um “presente” da soberania de Deus, antes de qualquer iniciativa nossa, que nos liberta e nos faz capazes de amar ao inimigo. Agora bem, se a soberania de Deus nos liberta para que amemos ao inimigo, para que lhe amemos de verdade, com tudo o que isto significa e comporta, então resulta verdadeiramente claro que a soberania de Deus há irrompido em efeito entre nós, então resulta claro o que significa de verdade a soberania de Deus, então resulta claro que comporta sermos filhos e filhas daquele a quem chamamos, e é, nosso Pai celestial e nossa Mãe celestial. Amai a vossos inimigos, julgai-vos o todo pelo todo, amai com coração indiviso, tratai-vos com amor criativo (H.J.Venetz, Il discorso della montagna, Brescia 1990).

 

 

QUARTA-FEIRA,17 DE JUNHO DE 2020- 11ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO A

Mateus 6,1-6.16-18 (A esmola, a Oração e Jejum em segredo)– O princípio do “segredo” (a interiorização; vv.4.6.18), do mesmo modo que o princípio do “ir além”(a elevação; 5,20.47), recebe am­pla aplicação na prática religiosa, resumi­da, tradicionalmente, na oração, no jejum e na esmola (Tb 12,8ss). Contrapõe-se, aqui, a conduta cristã à farisaica (vv.2.5.16), onde as boas obras não são mantidas secretas (Mt 5,14), mas suscitam nos homens o reconhecimento do senhorio divino. Diz São Jerôni­mo: “Quem toca a trombeta quando dá esmola é um hipócrita; quem, ao jejuar, desfigura tristemente seu rosto para poder mostrar, assim, que tem o ventre vazio é, também, hipócrita; quem reza nas sina­gogas ou nas esquinas das praças, para que os homens lhe vejam, é um hipócrita. De tudo isto se deduz que, são hipócritas, todos aqueles que fazem para ser glorificados pelos homens”. O valor da esmola (Eclo 3,29;29, 12; Tb 4,9-11) podia ficar comprometido pela ostentação com a qual se fazia pública. O mesmo vale para a oração ostentada com frequência «nas esquinas das praças». E quanto ao jejum, é conhecida a tomada de posição dos profetas (Is 58,5-7), compartilhada por Jesus Cristo. A Lei prescrevia o jejum no grande dia da purifi­cação (el yôm kippur: Lv 16,29ss), que se celebrava no começo do ano segundo o calendário judeu. Neste dia estava proibido até lavar-se. Daí o convite do Senhor a evitar os sinais externos de uma prática que, para os israelitas devotos, se voltava a propor duas vezes por semana (Lc 18,12). Quem jejua deve assumir o mesmo semblante alegre dos dias de fes­ta, quando se unge a cabeça com perfume. A oração inclui, por último, interioridade e segredo, bem expressados pelo lugar onde deve ser realizada: ao pé da letra, na «dispensa», onde se colocava as provisões para que estivessem seguras, em lugar sem janelas e porta com fechadura.

2 Reis 2,1.6-14 (Elias é arrebatado ao céu e Eliseu lhe sucede) – Depois de ter falado dos sucessores ime­diatos de Acab e dos últimos acontecimentos de Elias, o segundo livro dos Reis passa a ilustrar o «ciclo de Eliseu», cuja vocação foi antecipada em 1 Re 19,19-21. Eliseu, em um sentido não diferente ao de Elias, estará revestido de um considerável papel político (2 Re 3,11ss; 6,8ss; 8,7ss; 9,1ss; 13,14ss) e se revelará como o maior do Antigo Testamento (2 Re 2,14-7,20 e 13,20ss recolhem uma dezena de ações milagrosas, inclusive depois de morto). Isso explica a importância de uma investidura profética que Eliseu parece pagar ao preço de uma obstinada fidelidade ao mestre. Isso lhe situa em primeira linha entre os «filhos de profetas» (ler também os vv. 3-5, omitidos pela liturgia como se fossem pleonásticos). Segundo a lei da primogenitura! (cf Dt 21,17), Eliseu reivindica dois terços do espírito de Elias, que lhe são concedidos a preço de sua clarividência (“Se me vires ao ser arrebatado da tua presença, isso te será concedido»: v. 10). A troca de suas próprias vestes pelo manto de Elias expressa a investidura que teve lugar e a aquisição das faculdades a ela ligadas. Por isso peregri­na Eliseu até o Jordão, deixando para trás a todos os outros «filhos de profetas». A recordação do Jordão, cujas águas Elias havia dividido com o manto dobrado a modo de bastão, remete à experiência do Êxodo, ligada às figuras de Moisés (Ex 14,21) e de Josué (Js 3,13). E quanto ao rapto de Elias, não diferente do de Enoc (Gn 5,24), expressa o beneplácito divino para sua pessoa, porém, sobretudo, referente a uma missão futura. Em todo caso, Elias desapareceu da vista de Eliseu enquanto uma chama de fogo (“um carro de fogo com cavalos de fogo») se interpôs entre ambos profetas.

 

Sl 30/31,20-20-21.24-25 (Súplica na provação) – Jesus conheceu esse Salmo e o rezou no alto da cruz, quando estava prestes a morrer. Não devemos nunca nos esquecer disso, pois hoje são as mesmas palavras que elevamos ao Senhor! Trata-se de um Salmo bastante longo e ponto referencial de toda a nossa história. Nele aparecem muitas referências a várias etapas da vida: momentos de alegria, tristeza, abandono de todos e solidão… Mas mesmo enfrentando todas essas situações, sabemos que Deus virá em nossa ajuda e socorro.

Senhor, não só no momento da morte quero entregar a minha vida nas tuas mãos, mas em cada instante quero ser nas tuas mãos como o barro dócil nas mãos do oleiro. Forma-me, Senhor, ajuda-me e mostra o caminho que devo seguir. Que em cada circunstância da vida eu seja dócil e nunca me rebele contra a tua vontade, mesmo quando ela me parecer dura e incompreensível.

 

 

MEDITATIO: “Quem pode considerar-se cristão, sem estas três coisas: esmola, oração e jejum?» (Tertuliano). O jejum aplaina o caminho ao paraíso, perdido por causa da «fome orgulhosa» de nossos primeiros pais. A esmola, por sua vez, «faz que o jejum não termine em aflição da carne, mas em purificação da alma» (Leão Magno). Dai se segue que é «bem-aventurado quem jejua para alimentar ao pobre» (Orígenes). O jejum e a esmola deverão estar inspirados e sustentados pela oração, que nos permite agir com retidão de coração e «ante Deus». São Bernardo se perguntava se «era mais ímpio o que pratica a impiedade ou quem simula a santidade». Examinar-me-ei sobre como vivo esta tríplice modalidade de toda autêntica experiência religiosa. Aceito o convite de Cristo a espargir o coração com a unção do Espírito Santo, para que dê fragrância, não só ao jejum, mas também à esmola e à oração.

 

ORATIO: Senhor, tu desmascaras a insídia farisaica que torna espúria e ilusória minha prática espiritual. Tu queres que ganhe em interioridade e profundidade e exiges que o único ponto de referência seja o Pai, que vê no segredo e cuja recompensa é a única que devo esperar. Senhor Jesus Cristo, tu nos deste exemplo de humildade em todas tuas ações e nos ensinaste a afastar-nos da vanglória. Defende-me, interior e exteriormente, das insídias da soberba, de modo que não dê nenhum amparo ao inimigo de minha alma. Que não busque na prática da esmola, da oração e do jejum, nem em nenhuma boa obra, a glorificação dos homens e o favor do mundo, mas que opere com pureza de coração, para a glória de Deus e a edificação do próximo, e não busque nunca a inútil glória terrena. Ao não buscar a recompensa aqui embaixo, poderei obter a verdadeira, recompensa no mundo futuro e não serei vítima, em absoluto, das penas eternas (Ludovico de Sajonia).

 

CONTEMPLATIO: Se a porta está aberta aos descarados, através dela irrompem para dentro as coisas externas em torrentes e molestam a nossa interioridade. Todas as coisas situadas no tempo e no espaço se introduzem atra­vés da porta, quer dizer, através do sentido exterior, nossos pensamentos e com a confusão das distintas imaginações nos molestam enquanto oramos. Em consequência, é preciso fechar a porta, isto é, resistir ao sentido exterior, a fim de que a oração procedente do espírito se eleve ao Pai, porque esta se desenvolve no profundo do coração, quando oramos ao Pai no segredo. «E teu Pai, que vê no segredo, te recompensará.» O ensinamento [do Senhor] devia terminar com uma conclusão como esta. De fato, [Cristo] não nos exorta a orar, mas como devemos orar; e, antes, não que façamos esmola, mas que nos fala da intenção com a qual devemos fazê-la. De fato, ordena purificar o coração, e só o purifica o único e sincero anseio da vida eterna com um amor único e puro da sabedoria (Agostinho, O sermão do Senhor no monte, 2, 3, 11).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«E teu Pai, que vê no segredo, te recompensará» (Mt 6,4)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Esta justiça melhor dos discípulos não deve ser um fim em si mesmo.       É preciso que isto se manifeste, é preciso que o extraordinário se produza. Mas… cuidado de não fazê-lo para que seja visto. É verdade que o caráter visível do seguimento tem um fundamento necessário: o chamado de Cristo, porém, nunca é um fim em si mesmo; porque então se perderia de vista o mesmo seguimento, interviria um instante de repouso, se interrompesse o seguimento seria totalmente impossível continuá-lo a partir do mesmo lugar onde nos temos definido a descansar, vendo-nos obrigados a iniciar de novo desde o princípio. Teríamos que ter em conta de que já não seguimos a Cristo. Portanto, é preciso que algo se faça visível, porém de forma paradoxal: cuidai de fazê-lo para ser vistos pelos homens. “Brilhe vossa luz ante os homens…” (5,16), porém tende em conta o caráter oculto. Os cc. 5 e 6 chocam violentamente entre si.        O visível deve ser ao mesmo tempo, oculto. Sem dúvida, quem pode viver fazendo o extraordinário em segredo? Atuando de tal forma que a mão esquerda não saiba o que faz a direita? Que amor é que não conhece a si mesmo, o que pode permanecer oculto a si mesmo até o último dia? É claro: por ser um amor oculto, não pode ser uma virtude visível, um hábito do homem. Isto significa: cuidai de não confundir o verdadeiro amor com uma virtude amável. Com uma “qualidade” humana. No verdadeiro sentido da palavra, é o amor que se esquece de si mesmo. Porém, neste amor esquecido de si mesmo, é preciso que o homem velho morra com todas suas virtudes e qualidades. No amor esquecido de si mesmo, vinculado só a Cristo, do discípulo, morre o velho Adão. Na frase “que tua mão esquerda não saiba o que faz a direita” se anuncia a morte do homem velho (Dietrich Bonheffer, El precio de la gracia).

 

 

 

 

QUINTA-FEIRA, 18 DE JUNHO DE 2020- 11ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO A

Mateus 6,7-15

 

 

SEXTA-FEIRA, 19 DE JUNHO DE 2020 – 11ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO A

Mateus 11,25-30 (O evangelho revelado aos simples. O Pai e o Filho; Jesus é mestre com fardo leve) =Lc 10,21-22 Este texto de hoje pertence à seção narrativa e apresenta a rejeição que encontrará o Reino entre os homens, segundo a vontade e o desígnio divinos. O texto se articula em três partes: vv.25ss: é o hino de benção e louvor que Jesus dirige ao Pai pelo desígnio de salvação eleito, que consiste em revelar «aos simples» os mistérios do Reino e em escondê-los «aos sábios e entendidos», quer dizer, aos fariseus e aos escribas. O motivo pro­fundo desta eleição é porque assim lhe pareceu bem (a eudokía, a complacência). Dito de outra forma, por sua liberdade para amar e eleger; v.27: é a revelação da relação ínti­ma entre o Pai e o Filho. Esta relação apre­senta-se como um «conhecimento», entendido, não só como intelectual, mas como total intimidade de vida, com as seguintes características: exclusivo (“ninguém… senão…»), recíproco, permanente e idêntico. Na hora de revelar-se, o Pai e o Filho ostentam a mesma condição divina, reciprocamente íntimos um ao outro e inacessíveis para todos os demais. O Pai e o Filho são iguais em dignidade. É a revelação da clara consciência que tem Jesus de ser semelhante ao Pai; vv.28-30: Jesus se apresenta como o «simples e manso de coração», os mesmos ter­mos empregados para definir e qualificar os pobres. Jesus assume esta identidade e se oferece como mestre de sabedoria e con­solo. Convida aos fatigados e encurvados pelas penas e as angústias da vida a encontrar-se com Ele, que as aliviará. A presença do vocábulo «coração», preci­samente neste dia de festa, oferece uma clara mensagem evangélica: no coração de Jesus reside a plenitude não só da humanidade, mas também da divindade.

 

 

Dt 7,6-11 (A eleição e o favor divino) – O livro do Deuteronômio consta de três partes e na primeira está dois discursos de Moisés. O texto desta leitura pertence ao segundo discurso, um relato histórico que se fixa nos acontecimentos do Horeb, o Decálogo e o código legal deuteronomista. A passagem tem como tema central a eleição do povo de Israel e a predileção de Deus, livre, gratuita e amo­rosa, por estes. As palavras iniciais do texto (v.6) revelam a eleição, a consagração e a santidade do povo. E, imediatamente, destaca a motivação pro­funda deste privilégio: o amor livre e gratuito de Deus. O povo foi eleito e, consequentemente, foi santificado; foi consagrado ao Senhor para que seja sua propriedade. Não se trata de uma qualidade intrínseca que possua em si mesmo, mas de uma condição particular de sua existência que deriva da eleição de Deus, quer dizer, da decisão de Deus de separá-lo e consagrá-lo a seu serviço. Esta eleição foi ratificada pela aliança. A teologia da eleição é um tema próprio do Deuteronômio e da revelação veterotestamentaria: Israel é, essencialmente, o povo de Deus, o povo separado, o povo consagrado a Deus; é o povo da aliança. Em seguida texto descreve as consequências que implica a revelação do amor gratuito de Deus: pertencer a Deus requer conduta digna, obriga a ser conscientes da própria pequenez e tomar consciência da eleição, e exige reconhecer a Deus como o único e verdadeiro Senhor, a quem se deve dar culto autêntico, observando os mandamentos, e corresponder, fielmen­te, a seu amor. Ao povo, ante o amor gratuito de Deus, lhe toca responder com admiração e entusiasmo, com gra­tidão laboriosa e fiel lealdade.

 

1 Jo 4,7-16 (À fonte da caridade) – O tema central da carta é a comunhão com Deus. O autor desenvolve-a seguindo um movi­mento em espiral. Ele parte de uma convicção: os crentes participam da vida divina. Em seguida indica aos destinatários as condições para con­segui-la e, ainda, os critérios para reconhecê-la. A caridade, considerada, anteriormente em seu aspecto moral e cristológico, agora é vista, especificamente, em sua vertente divina e teológica: «Deus é amor» (vv.8.16). Deus é «ágape». Não é uma teoria sobre Deus nem uma definição filosófica ou metafísica de sua natureza; é uma descrição operativa e salvadora. Deus ama a Israel e lhe manifesta seu amor elegendo-o; a nós manifestou de modo supremo seu amor através de seu Filho e do Espírito Santo, dois dons imensos. O envio do Filho e do Espírito a nós, marca a total e absoluta autodoação de Deus, a suprema revelação: Deus nos manifesta o amor, a caridade, o ágape. O Filho, de seu lado, manifesta o amor fazendo-se vítima sacrificial de expiação por nossos pecados. Deus, sendo amor e doando-se através do Filho e do Espírito Santo, nos comunica a capacidade de amar com seu mesmo amor.

 

Salmo 102/103 (Deus é amor) – Por meio de um canto suave, o salmista goteja afeto e amor ao Senhor e canta suas maravilhas e seus atos de ternura para conosco. Devemos meditar este Salmo lentamente, saboreando cada palavra que nos introduz nos ministérios do coração de Deus. Quando rezamo-lo com fé, o Senhor nos fortalece e confronta. Todo o amor de Deus Pai nós podemos contemplar na pessoa de Jesus: “Mas quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor pela humanidade” (Tt 3,4) O Pai nos enviou o seu único Filho, Jesus, por puro amor a nós e para que Ele nos ensinasse o caminho da vida plena. O grande hino de ação de graças que podemos oferecer ao Pai em resposta à sua generosidade não é realizado por meio de palavras, mas sim com a própria vida. Tocam-me profundamente as palavras deste Salmo: “[O Senhor é] lento para a cólera e rico em bondade”. Ele tem pressa em nos amar, em nos perdoar. Não perca tempo, o Senhor está lhe esperando!b Se você compreende melhor este Salmo, leia e medite o capítulo 15 do Evangelho de Lucas, as três grandes parábolas da misericórdia.

Senhor, como é maravilhoso parar um pouco com minhas atividades e pensar em quantos benefícios até hoje recebi do teu amor. Deixa que minha alma, como a do salmista, se expanda, se dilate e cante “bendize minha alma ao Senhor por todos os benefícios e não esqueça nenhum”. Quero-te agradecer por me ter criado; como é bela a vida; mesmo mesclada pelo sofrimento, com decepções; com dores, vale a pena viver e agradecer com todas as batidas do meu coração, com todos os meus tons e repertório. Que tudo cante o teu louvor. Bendigo-te por minha família, pelos pais, por todas as pessoas que passaram hoje na minha vida: obrigado, Senhor. Senhor, animado pela força da fé, te quero também bendizer pelas cruzes, pelos sofrimentos e por todas as pessoas que me fizeram sofrer e que me ajudaram a amadurecer na minha caminhada. Com Santa Teresinha quero te dizer “tudo é graça”; agradeço-te com a lucidez que hoje tenho, Senhor, por tudo o que vier até a minha morte; dá-me a força para sempre dizer: muito obrigado por tudo. Amém.

 

 

MEDITATIO: Nas três leituras está presente o tema do amor. Deus elege Israel e o consagra como povo de sua he­rança porque o ama. Envia seu Filho unigênito e doa o Espírito Santo, porque é amor; ama-nos profundamente e, através do envio do Filho e do dom do Espírito, se manifesta como amor, caridade, ágape. No evangelho revela os mistérios do Reino aos pequenos, não aos sábios e entendidos, porque os ama. Jesus renova os ânimos de quem recorre a Ele porque é manso e humilde de coração, porque é amável e ama. O centro e o vértice da festa litúrgica do Coração de Jesus estão no culto ao amor salvífico por nós; nele se encontra a raiz de todas as graças, de todos os favores, de todas as bondades que, continuamente, recebemos. Sobretudo, o dom da vida divina, ou seja, da filiação divina através do batismo, aperfeiçoada na confirmação, nutrida na eucaristia, recobrada no perdão e vertida, abundantemente, em todos os sacra­mentos que derivam da paixão e morte de Cristo, o ato supremo de amor, já que «ninguém tem maior amor que quem dá a vida por seus amigos» (Jo 15,13).

 

ORATIO: E tanto amaste o mundo, Pai santo, que ao cum­prir-se a plenitude dos tempos nos enviaste, como sal­vador, teu único Filho, o qual se encarnou por obra do Espírito Santo, nasceu de Maria, a Virgem e assim par­tilhou em tudo nossa condição humana, menos no pe­cado; anunciou a salvação aos pobres, a libertação aos oprimidos, e aos aflitos o consolo. Para cum­prir teus desígnios, entregou à morte e, re­ssuscitando, destruiu-a e nos deu nova vida. E para que não vivamos já para nós, mas para Ele, que por nós morreu e ressuscitou, enviou, Pai, o Espírito Santo como primícias para os crentes, a fim de santifi­car todas as coisas, levando a plenitude sua obra no mundo (oração eucarística IV).

 

CONTEMPLATIO: “Assim, pois, o Coração de nosso Salvador, de certo modo, reflete a imagem da divina Pessoa do Verbo e é imagem também de suas duas naturezas: a humana e a divina; e podemos considerar não só o símbolo, mas também, em certo modo, a síntese de todo o mis­tério de nossa Redenção. Logo, quando adoramos o Coração de Jesus, nele e por ele adoramos tanto o amor incriado do Verbo divino como seu amor hu­mano, com todos seus demais afetos e virtudes, pois, por um amor e pelo outro, nosso Redentor moveu-se a imolar-se por nós e por toda a Igreja, sua Esposa, segundo o apóstolo: Cristo amou a sua Igreja e se entregou a si mesmo por ela, para santificá-la, purificando-a com o batismo de água pela Palavra de vida, a fim de fazê-la comparecer ante si cheia de glória, sem mancha nem ruga nem coisa semelhante, mas sendo santa e imaculada (Ef 5,25-27). Cristo amou a Igreja e a segue amando inten­samente (1 Jo 2,1) com esse amor que lhe move a fazer­-se nosso advogado para proporcionar-nos a graça e a misericórdia do Pai, sempre vivo, para interceder por nós (Hb 7,25). A oração que brota de seu ines­gotável amor, dirigida ao Pai, não sofre interrupção alguma” (Pio XII, encíclica Haurietis aquas sobre el culto aI Sagrado Corazón de Jesus, III, 6).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração» (Mt 11,29)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Ó Senhor Jesus, fazendo-te homem nos mostraste o imenso amor d’Aquele que te enviou, teu Pai celestial! Através de teu coração humano vislumbramos, tenuamente, o amor divino com o qual somos amados e com o qual nos amas, porque Tu e o Pai sois um. É tão difícil para mim crer plenamente no amor que surge de teu coração… Eu sou inseguro, indeciso e de­salentado. Enquanto em palavra digo que creio plena e in­condicionalmente em teu amor, sigo buscando afeto, apoio, aceitação e elogios, esperando, dos mortais, aquilo que só Tu me podes dar. Eu ouço, clara, tua voz: «Vinde a mim todos vós que estais fatigados e encurvados e eu vos aliviarei… eu que sou manso e humilde de coração» (Mt 11,28ss); sem dúvida, corro em outras direções, como se eu não confiasse em ti e, de alguma maneira, me sentira mais seguro em companhia de pessoas que têm o coração dividido e, com frequência, confuso. Ó meu Senhor, por que desejo, com ânsia, receber os afagos e os cum­primentos das pessoas, inclusive quando a experiência me ensina o limitado e condicionado que é o amor que vem do coração humano? São tantos que me demonstraram o seu amor e o seu carinho, tantos os que me dirigiram palavras con­soladoras e estimulantes, tantos os que foram tão amáveis e me manifestaram seu perdão…, mas ninguém, verdadeiramente, tocou o fundo, esse lugar recôndito onde residem meus temores e esperanças. Só tu conheces aquele lugar, Senhor. Teu coração está tão desejoso de amar-me, tão inflamado de fervor, que me reaviva. Queres dar-me um teto, um sentido de perte­nça, um lugar para viver, um abrigo onde resguardar-me e um refúgio onde me sinta seguro. Confio em ti, Senhor, guia-me nos momentos de dúvida e desengano (H.J.M. Nouwen, De cuore a cuore. Preghiere al Sacro Cuore di Gesu, Brescia).

 

 

 

SÁBADO, 20 DE JUNHO DE 2020 – 11ª SEMANA DO TEMPO COMUM – ANO A

Lucas 2,41-51 (Jesus entre os doutores) – O texto que a liturgia de hoje nos oferece apresenta-nos o relato da perda e do encontro do menino Jesus, no templo é uma cena de vida familiar. O contexto está representado por duas breves descrições da vida de Nazaré: a viagem anual a Jerusalém para a Páscoa (cf. Dt 16,16) e o retorno à casa da família de Jesus, onde ele permanece submisso a seus pais como um filho qualquer. O significado teológico do episódio, sem dúvida, é messiânico e o gesto de Jesus é profético. Jesus afirma conhecer bem sua missão e anuncia a sua separação futura de seus pais. Quando a mãe o encontra no templo o interpela: «Teu pai e eu te procurávamos angustiados» (v.48); e Jesus responde com convicção: «por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?» (v.49). Ao dizer «teu pai», Maria entendia referir-se a José; porém, quando Jesus disse «meu Pai» está referindo-se a Deus. Há um contraste claro e significativo nisto, porque Jesus transcende a seus pais. Jesus reivindica o primado da pertença ao Senhor e a prioridade da própria vocação. Entretanto, imediatamente depois, Jesus regressa a Nazaré e permanece submisso e obediente aos seus. A obediência dos filhos aos pais é um dever e floresce onde existe um clima de crescimento e maduração da pessoa, onde se reconhece o primado de Deus e da própria vocação. Os filhos, pois, não pertencem aos pais, mas a Deus e a seu projeto vocacional, valores mais importantes que a família mesma. Por isto, Jesus abandona seu lar para cumprir a vontade do Pai, para ocupar-se das coisas de Deus.

 

 

Is 61,9-11 (Vocação de um profeta; Ação de graças) – A Comunidade acaba de retornar do exílio da Babilônia e encontra-se de novo na cidade de Jerusalém. O profeta Isaias tenta unificar um povo dividido pela idolatria (cf.57,3-13; 65,8-11) e que, por ocasião do desterro, se aproveitou para se apoderar dos bens dos seus irmãos (cf.58,3-10). A promessa de restauração não foi cumprida, o templo e as muralhas continuam sem reedificar-se e o desespero toma conta de todas as pessoas. Nesta grave situação, a voz do profeta Isaias quer ser um raio de esperança… É o consolador de todos os corações desgarrados e sem esperança. Profere um oráculo de salvação prometendo uma mudança de situação: a cidade abatida será reconstruída (v.4), a terra produzirá seus frutos sendo cultivada por gente forasteira (v.5). Assim Israel pode dedicar-se ao serviço de Deus, já que todo o povo eleito será um povo sacerdotal. Diante deste oráculo de salvação, a comunidade explode em um hino de agradecimento (vv.10-11). O Senhor é a origem e deve ser também a meta de toda alegria humana.

 

1 Sm 2,1.4-8 (Cântico de Ana)Ana consagra o menino Samuel a Deus em seu Santuário. Aí crescerá e viverá, dormindo, inclusive, perto da Arca de Deus. E Ana prorrompe em um cântico de vitória e de louvor ao Senhor. Deus, o Deus grande e misericordioso, se pôs de seu lado e se dignou retirar a maldição de sua serva. Agora pode já responder a seus escarnecedores, pois é Deus quem a protege e quem a ajuda. Deus, o dono de tudo, é quem, conforme seus desígnios, ergueu a sua serva e livrou-a da morte. Dando-lhe um filho apagou sua maldição para sempre.

Oxalá e sempre estejamos dispostos a louvar a Deus por seus benefícios; e que o façamos, não só com nossos lábios, mas com um coração puro e agradecido e com uma vida cheia, sempre, de boas obras, conforme os mandatos, ensinamentos e exemplos do Senhor.

 

 

MEDITATIO: O coração representa todo o interior do homem, mas, principalmente seu amor. Por isso, quando honramos o Coração de Maria não queremos recordar algum mistério, ação ou qualidade e, nem mesmo a pessoa digníssima da Virgem, mas a fonte e a origem da santidade de tudo isso: seu amor e caridade. Pois esse amor santificou todas as suas ações, as faculdades de seu espírito, sua vida exterior e interior, com suas virtudes e perfeições. O amor a fez digna de ser mãe de Jesus e de todos os membros de Cristo e fonte inesgotável de graças. Vós, todos os sedentos, vinde correndo beber desta fonte. Por que vacilais? Temeis, acaso, rebaixar a bondade de vosso Redentor quando vos dirigis ao Coração de sua mãe? Maria nada tem nada é e nada pode, senão por Jesus, por Ele e para Ele. É Jesus que é o tudo, pode tudo e faz tudo nela. E Jesus, não somente vive e permanece, continuamente, no Coração de Maria, mas Ele mesmo é o Coração de seu Coração. Por isso, achegar-se ao Coração de Maria é encontrar-se com Jesus; honrar o Coração de Maria é honrar a Jesus; invocar o Coração de Maria é invocar a Jesus. Este coração admirável é o exemplo e o modelo de nossos corações; e a perfeição cristã consiste em chegar a ser imagem viva do Coração santo de Maria. Além do mais, assim como o Pai eterno concedeu, a Maria, primeiro conceber o seu Filho em seu Coração e, depois, em seu seio virginal, assim também, deu-lhe o poder de formá-lo no coração dos filhos de Adão. Por isso, ela colabora na obra de nossa salvação, usando com amor incrível este poder especial. E como ela levou e levará, eternamente, seu Filho Jesus em seu Coração, levou também e levará sempre com ele todos os membros da divina Cabeça como filhos muitos queridos. E como frutos de seu coração maternal que ela apresenta como oblação contínua, à divina majestade (São João Eudes).

 

ORATIO: Bendita és tu, ó Santíssima Virgem Maria, e digna de todo o louvor, pois geraste Jesus Cristo em teu Coração pela fé e pelo amor. Não há louvor digno de ti, Virgem Imaculada e santa, porque tu levaste em tuas benditas entranhas aquele que nem os céus podem conter. És tu a incomparável filha do Senhor, porque, graças a ti, nós entramos em comunhão com o fruto da vida e, em ti, Ele, Jesus Cristo, Nosso Senhor e Salvador, se alegrou de maneira única. Não desprezeis as orações que te dirigimos em nossas necessidades, mas livra-nos de todo perigo, santa Mãe de Deus. Proclama, minha alma, as grandezas desta mãe incomparável, porque o Poderoso fez nela grandes coisas, as quais jamais se ouviu falar e jamais se ouvirá em tempo algum. Bendita és tu, entre todas as mulheres, e bendito o fruto de teu ventre!

 

CONTEMPLATIO: Um testemunho da devoção particular de santo Agostinho pela Mãe de Deus, e que se refere a seu Coração, está contido nas seguintes palavras de seu livro sobre a santa virgindade: a divina maternidade de nada haveria servido a Maria, se ela não tivesse levado Cristo, de forma mais profunda, em seu coração que em seu ventre. É este um dos mais belos elogios que se pode fazer em honra ao Coração da Rainha do céu, pois Santo Agostinho o exalta acima das entranhas benditas da Mãe de Deus. E, com toda razão, porque esta Virgem incomparável concebeu o Filho de Deus em seu Coração virginal antes de concebê-lo em suas entranhas; se O concebeu em seu seio, é por haver-se feito digna dele, ao concebê-lo primeiro em seu coração; em suas entranhas só O levou por um período de nove meses, porém em seu Coração O leva desde o primeiro instante de sua vida e por toda eternidade; leva-O mais digna e santamente em seu Coração que em sua carne, já que este coração é um céu vivente no qual o Rei do universo recebe maior amor e glória que nos céus celestiais; a Mãe do Salvador O levou em seu seio quando era passível e mortal e nas debilidades de sua infância, mas O levará eternamente em seu coração, em seu estado glorioso, impassível e imortal. Por isso Santo Agostinho tem toda razão quando diz que Maria levou Jesus, de forma mais feliz e excelente, em seu Coração que em sua carne. (São João Eudes)

 

ACTIO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

“Coração amantíssimo de Maria, a ti toda honra e toda glória”

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL  

 

Minha alma, por que te abandonas ao profundo sono? Por que, no pesado sono, tão fundo ressonas?

Não te move à aflição dessa Mãe toda em pranto, que a morte tão cruel do Filho chora tanto?

E cujas entranhas sofre e se consome de dor, ao ver, ali presente, as chagas que ele padece?

A qualquer parte que olha, vê Jesus, apresentando aos teus olhos cheios de sangue.

Olha como está prostrado diante da Face do Pai, Todo o suor de sangue do seu corpo se esvai.

Olha a multidão se comporta como Ele ladrão fosse, pisam-no e amarram as mãos presas ao pescoço.

Olha, diante de Anás, como um cruel soldado o esbofeteia forte, com punho bem cerrado.

Vê como diante de Caifás, em humildes meneios, aguenta mil opróbrios, socos e escarros feios.

Não afasta o rosto ao que bate, e do perverso que arranca tua barba com golpes violentos.

Olha com que chicote o carrasco sombrio dilacera do Senhor a meiga carne a sangue frio.

Olha como lhe rasgou a sagrada cabeça os espinhos, e o sangue corre pela face pura e bela.

Pois não vês que seu corpo, grosseiramente ferido mal susterá ao ombro o desumano peso?

Vê como os carrascos pregaram no lenho as inocentes mãos atravessadas por cravos.

Olha como na Cruz o algoz cruel prega os inocentes pés o cravo atravessa.

Eis o Senhor, grosseiramente dilacerado pendurado no tronco, pagando com seu Divino Sangue

o antigo crime! (Pecado Original cometido pelos primeiros pais)

Vê: quão grande e funesta ferida transpassa o peito, aberto donde corre mistura de sangue e água.

Se o não sabes, a Mãe dolorosa reclama para si, as chagas que vê suportar o Filho que ama. Pois quanto

sofreu aquele corpo inocente em reparação, tanto suporta o Coração compassivo da Mãe, em expiação.

Ergue-te, pois e, embora irritado com os injustos judeus procura o Coração da Mãe de Deus.

Um e outro deixaram sinais bem marcados do caminho claro e certo feito para todos nós.

Ele aos rastros tingiu com seu sangue tais sendas, Ela o solo regou com lágrimas tremendas

A boa Mãe procura, talvez chorando se consolar, se as vezes triste e piedosa as lágrimas se entregar.

Mas se tanta dor não admite consolação é porque a cruel morte levou a vida de sua vida,

Ao menos chorarás lastimando a injúria, Injúria, que causou a morte violenta.

Mas onde te levou Mãe, o tormento dessa dor? Que região te guardou a prantear tal morte?

Acaso as montanhas ouvirão Teus lamentos? Onde está a terra podre dos ossos humanos?

Acaso está nas trevas a árvore da Cruz, Onde o Teu Jesus foi pregado por Amor? (…)

 

(São José de Anchieta, Poema à Virgem escrito nas areias da praia em Ubatuba, São Paulo, Brasil)

 

 

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