LECTIO DIVINA NA 16ª SEMANA COMUM ANO 2019

DOMINGO, 21 DE JULHO DE 2019– 16º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO C

Lucas 10,38-42 (Marta e Maria)  Jesus chegou a Betânia e foi recebido pelas duas irmãs, Marta e Maria (não se fala de seu irmão Lázaro). Foi Marta a primeira que «o recebeu em sua casa» (v.38). Maria ofertou-lhe a acolhida de sua escuta: «Sentada aos pés do Senhor, escutava sua palavra» (v.39). Dir-se-ia que Jesus gozou de uma acolhida completa e harmoniosa: Marta cuida do aspecto material e Maria do es­piritual; uma faz as honras da casa e a outra exalta o Mestre tomando a posição de discípula (cf At 22,3). Jesus a honra com um gesto original, porque – contraria­mente à prática dos rabinos – se entretém instruindo a uma mulher. O equilíbrio se rompe quando Marta, que anda so­brecarregada com um serviço «grande», aproxima-se de Jesus e dirige-lhe umas palavras que manifesta mal humor para com sua irmã – tem me deixado «só, na tarefa»- e uma confidência um tanto descortês com o hóspede, chegando quase à recriminá-lo: «Senhor, não te im­porta que minha irmã me deixe só na tarefa?» (v.40). Para Marta, a acolhida parece reduzir-se ao plano ma­terial.        Maria deveria dar-lhe uma mão, em vez de estar dependente das palavras que saem dos lábios do Mestre.          O próprio hóspede deveria transmitir-lhe a ordem de ir trabalhar para ele, e ele deveria ocupar-se, unicamente, de esperar a comida. Jesus, que até esse momento tem instruído a Maria, dá agora uma lição a Marta. Repreende-a com afe­to: «Marta, Marta», e faz-lhe ver que tem elegido mal, preferindo preocupar-se «com muitas coisas», em vez de preocupar-se com a única coisa que «é necessária» (vv.41ss). Elogia, ao contrário, a Maria, por ter elegido a melhor parte (v.42).

 

 

Gn 18,1-10ª (Aparição de Mambré) Abraão é modelo de hospitalidade: mostra os traços característicos da mesma: prontidão: «Enquanto os viu, correu a seu encontro desde a porta da tenda» (v.2); realiza gestos de homenagem (prostrou-se «em terra»: v.2) e de atenção ao oferecer aos hóspedes água para lavar-se e fazer com que se acomodem protegidos do sol (“sob a árvore”: vv. 4.8); considera um fa­vor o fato de poder ofertar acolhida: «Meu Senhor; por favor te rogo que não passes sem deter-te…» (v.3); considera um direito o forasteiro ser hospeda­do: «Já que haveis passado junto a vosso servo» (v.5); mostra-se solícito ao prestar serviço pessoalmente e ao implicar nisso seus familiares (“foi depressa à tenda onde estava Sara e lhe disse: “Toma em seguida…”. Logo foi correndo ao rebanho… e o deu a seu servo, que a toda pressa…»: vv.6ss). Se mostra generoso: faz preparar «três medidas de farinha» (v.6), «um bezerro tenro e cevado» (v.7), «coalhada, leite» (v.8). Ao final per­manece disponível para prestar outros serviços: «E o ofereceu. Ele ficou de pé junto a eles, sob a árvore, enquanto comiam» (v.8). O número dos hóspedes é misterioso: (são «três homens» ou um único «Senhor» (vv.2ss)? A conclusão do episódio manifestará o caráter divino da aparição. Antes de voltar a partir, o hóspede faz uma pro­messa: «Dentro de um ano voltarei a ti; então tua mulher Sara, terá um filho» (v. 10). Abraão tinha setenta­ e cinco anos quando Deus lhe dirigiu seu chamado e lhe prometeu pela primeira vez a descendência (Gn 12,4); aos noventa e nove anos lhe renovou a promessa, que cumprirá quando tiver cem (17,1.17). Deste modo Deus revela seu poder: «Existe acaso algo impossível para o Senhor?» (18,14).

 

Cl 1,24-28 (Luta de Paulo a serviço dos gentios) Paulo fala de sua missão e do modo como a desenvolve. A missão lhe foi confiada por Deus (v.25; cf At 9,15), não é uma iniciativa sua, e consiste em ser “servidor» (ministro) da Igreja, «corpo de Cristo» (v.24). O ministério tem como conteúdo «o plano se­creto» (mistério) (v.26) o plano de salvação universal que Deus quer realizar na história. No centro não se encontra uma realidade neutra, mas a pessoa de Cristo, o Messias, de quem procede a incalculável, glória que encerra este plano divino» (v.27). O plano tem uma história:     «O plano secreto que Deus manteve escondido durante séculos e gerações e que agora revelou»(v.26).A novidade, escondida nos séculos pre­cedentes, é que a obra salvífica de Cristo não deve permanecer encerrada nos confins de Israel, mas que está destinada assim mesmo aos pagãos (v.27) e alcança a todos os homens: «A fim de apresentá-los todos, perfeitos em Cristo» (v.28). Paulo desenvolve seu serviço eclesial deixando-se comprometer com ele plenamente. Põe em ação sua capaci­dade de anunciar, instruir e exortar com toda sabedoria a cada um dos destinatários « a fim de apresentá-los todos, perfeitos em Cristo » (v.28). Por isso não tem medo de fazer frente às di­ficuldades: «Me esforço e luto» (v.29), e até encontra alegria em fazê-lo por amor aos fieis: « Me alegro de padecer por vós» (v.24). A indicação da fonte e da meta de seu agir re­sulta iluminadora. O equipamento espiritual lhe vem do alto: «Pela força daquele que atua poderosa­mente em mim» (v.29). A meta é contribuir à paixão redentora de Cristo: «Pois assim vou completando em minha existência mortal, e em favor do corpo de Cristo, que é a Igreja, o que ainda falta ao total das tribulações cristãs» (v.24). Os padecimentos de Cristo são per­feitamente suficientes por si para obrar a salvação. Sem dúvida, seu anúncio e sua acolhida implicam a sua vez sofrimentos, que Paulo considera como um «complemento» da paixão.

 

Salmo 14/15 (O hóspede de Iahweh) Este Salmo é um exame de consciência. Devemos meditá-lo em nossas vidas e atitudes. Por se tratar de um texto de fácil compreensão, devemos lê-lo a todo o momento.

Senhor, que eu volte muitas vezes a este Salmo para que eu possa observar se sou digno de entrar na tua casa e estar sempre na tua presença. Amém.

 

 

 

 

MEDITATIO: Tentemos aprofundar nas principais mensagens que nos comunicam a primeira leitura e o Evangelho e tratemos de atualizá-los. Trata-se de relatos de hospi­talidade, e entre eles há diferenças e semelhanças. Uma diferença que se aprecia a simples vista é que os hós­pedes aprovam o serviço de Abraão: «Faz como tens dito» (Gn 18,5); o de Marta, sem dúvida, atrai uma repreensão. A semelhança é que em ambos os casos o hóspede não só recebe, mas que aporta também um dom: promete um filho a Abraão e Sara, e oferece sua pa­lavra em Betânia. Receber ao Senhor Jesus em nossa «casa» não significa só prestar-lhe «muitos serviços», mas também – antes que nada- deixar-lhe falar e receber o dom de sua Palavra. A hospitalidade tem que ser (oferecida também, em nome de Jesus, aos homens com quem Ele se iden­tifica: «Fui forasteiro e hospedaste-me» (Mt 25,35), «Não esqueçais a hospitalidade» (Hb 13,2). É preciso dar a oportunidade não só de dar, mas também de receber. Que ocasiões temos? As duas irmãs são consideradas como dois tipos de vida: ativa e contemplativa. Na realidade, são mais, são exemplos concretos que ilustram o terceiro e quarto tipos de terrenos da parábola do semeador. A «preocupação» e a «agitação» de Marta recordam “a semente que caiu entre espinhos», ou seja, «os que escutam a mensagem, porém logo se vêem sufocados pelas preocupações, as riquezas e os prazeres da vida, e não chegam à maturidade» (cf Lc 8,14). A «melhor parte» de Maria nos recorda, ao contrário, “a semente que caiu em terra boa», ou seja, «os que, depois de escutar a mensagem com coração nobre e generoso, conservam-na e dão fruto por sua constância» (Lc 8,15). Onde se situa nosso modo de viver, no terceiro ou no quarto tipo de terreno?

 

ORATIO: Se descobrimos em nós a atitude boa, ao atualizar os dois pontos precedentes, o da mão que dá e do ouvido que recebe, demos graças ao Pai. Peçamos perdão, sem dúvida, por possíveis faltas de generosidade ou por não ter tratado o hóspede quem deve ser acolhido com benevolente cordialidade. Como hospedamos em nós o Senhor, que se faz presente através de sua palavra, na eucaristia e nos irmãos? Das conclusões deste exame de consciência brotará uma súplica de perdão, de invocação ao Espírito Santo, «doce hóspede da alma», para que nos faça capazes de acolher, se so­mos deficientes, ou uma oração de ação de graças e de louvor, se nos assemelhamos a Abraão e a Maria.

 

CONTEMPLATIO: Elevemos o olhar a Deus para captar nele a plenitude dessa hospitalidade sobre a qual meditamos nos dois episódios que vimos e sobre os quais oramos. A hospitalidade é uma dimensão fundamental da revelação bíblica. Convida-nos a abrir o olhar e o coração ante toda pessoa: «Acolhei-vos uns aos outros, como Cristo vos acolheu» (Rm 15,7). O horizonte se alarga depois. O Pai, o Filho e o Es­pírito Santo desejam habitar em cada batizado: “Viremos a ele e faremos nele morada“ (Jo14,23). Santa Isabel da Trindade vivia na contemplação destes seus Hóspedes, os quais, afetuosamente, chamava «meus Três». Acaso a história da salvação não acabará no paraíso no terreno escatológico onde se levará a uma hospitalidade recíproca?             Os santos hospedam a Deus «Esta é a tenda de campana que Deus montou entre os homens; habitará com eles; eles se­rão seu povo e Deus mesmo estará com eles» (Ap 21,3)­ e Deus hospeda os santos: «Não vi templo algum na cidade, pois o Senhor Deus todo poderoso e o Cordeiro são seu templo» (Ap 21,22). A cidade celeste será habitada por hóspedes de toda orígem: «Apareceu uma multidão imensa, de toda nação, raça, povo e língua» (Ap 7,9). O atual fenômeno da miscigenação de distintas etnias e culturas deverá ser considerado nesta direção.

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Marta, Marta, andas inquieta e preocupada por mu­itas coisas» (Lc 10,41)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL O conceito de hospitalidade perdeu em nossa cultura muito de sua força e se emprega frequentemente em ambientes onde estaríamos mais inclinados a esperar uma piedade aguada que uma busca séria de autêntica espiritualidade cristã. Mas, se há um conceito que merece ser levado à profundidade original e a seu potencial evocador é o de hospitalidade. Trata-se, com efeito, de um dos termos bíblicos mais ricos, um conceito que está em condições de aprofundar e alargar nossa percepção a respeito das relações com os irmãos. Os relatos do Antigo e do Novo Testamento não se limitam unicamente a indicar-nos quão grave é a obrigação de acolher ao estrangeiro em nossa casa, mas nos indicam também que os convidados trazem consigo dons preciosos, uns dons que estão ansiosos de mostrar aos que os acolhem. Os três estrangeiros recebidos de maneira suntuosa por Abraão em Mambré se revelam como o Senhor e anunciam que Sara dará a luz um filho. Quando se convida os estrangeiros que podem dar medo, então revelam ao hóspede as promessas que trazem consigo. Deste modo, os relatos bíblicos ajudam a dar-nos conta de que a hospitalidade é uma virtude importante e – o que é mais – de que no marco da hospitalidade, hóspede e convidado podem revelar-se reciprocamente dádivas preciosas, entregando-se uma vida nova. Nestes últimos decênios, a psicologia tem contribuido muito para descobrir um novo modo de entender as relações interpessoais. Sem dúvida, alguns de nós têm se deixado impressionar até tal ponto pelos novos descobrimentos que têm perdido de vista a enorme riqueza contida e conservada em conceitos antigos como o da hospitalidade. Esse conceito poderia dar uma nova dimensão a nossa compreensão de uma relação benéfica e à formação de uma comunidade, novamente criativa, em um mundo que sofre de alienação e de estranhamento (H. J. Nouwen, Viaggio spirituale per l’uomo contemporáneo, Brescia).

 

 

SEGUNDA-FEIRA, 22 DE JULHO DE 2019– – 16ª SEMANA DO TEMPO COMUM (Sta Madalena)

João 20,1.11-18 (Aparição a Maria Madalena) O amor de Maria de Magdala não morre aos pés da cruz. Jesus Cristo lhe havia devolvido a vida em plenitude. E a partir daquele momento ela havia vivido para Ele (cf. Lc 8,2). Depois da hora trágica da Sexta-feira Santa, Maria Madalena permanece fiel àquela entrega absoluta, obstinadamente consa­grada à busca d’Aquele a quem ama. Nada pode apartá-la de seu objetivo: nem sequer o fato da tumba vazia. Esta mulher é figura da Igreja-esposa e de toda alma que busca a Cristo e não tem outra coisa para ofere­cer mais que as lágrimas do amor. O Senhor se deixa encon­trar por quem lhe busca deste modo. Ressuscitado e vivo, se aproxima de quem sabe permanecer na solidão junto ao mistério incompreensível (v.11a). Sem dúvida, só podemos reconhecer-lo quando nos chama pelo nome e nos faz sentir que nos conhece a fun­do. Este conhecer de amor não é para uma satisfação pessoal. É um dom que nos faz testemunhas ante os irmãos a fim de levar, a todos, o anúncio pascal (v.17ss), a alegria verdadeira, uma vida nova transfigurada pelo encontro com o Senhor.

 

 

Ct 3,1-4 (Terceiro poema) Israel, ao assumir este escrito no seu cânon dos livros inspirados, e depois, também, a Igreja, reco­nheceu não só a consagração do amor entre o homem e a mulher, mas, muito mais: a expressão simbólica do amor de Deus por seu povo. Também a alma sedenta de Deus conhece as longas noites de seu silêncio, de sua incompreensível ausência, que a purificam daquilo que dava agora por descontado, de toda satisfação redutora (v.1). Na inquietude desperta o desejo do Senhor e se torna busca apaixonada, vital (2a). É necessário perseverar nesta tensão, pedir humildemente ajuda e conselho (v.3) e, depois, ir mais além, na cons­ciência de que Deus pode orientar-nos a Ele. Então, Ele mesmo se fará presente a quem não se canse de buscá-lo na noite com coração ardente (v.4).

 

Sl 62/63 (Desejo de Deus) Muito conhecido, este Salmo é orado no primeiro domingo de cada mês e em dias de festa e solenidade. Recomendo tomá-lo como referêcia às orações em busca de santidade e encontro com Deus. Considerado o Salmo dos contemplativos, seu autor é desconhecido. Muitos atribuem-no a Davi, que o teria escrito enquanto era perseguido por seu filho Absalão. Seja quem for o autor entra em comunhão com Deus por meio do forte desejo e sofrimento. Quando diz “desde a aurora te busco”, expressa o desejo de encontrar o Senhor ainda na aurora, antes do início de qualquer atividade. A terra árida da Palestina faz que o salmista sinta necessidade d’água: metaforicamente, faz analogia com nossa alma, que, assim como a terra, também está seca, com sede. Na Bíblia, os elementos sede e fome caracterizam ausência de Deus. O próprio Jesus se apresentava constantemente com grande sede e fome de amor de Deus. “Por que me procuráveis? Não sabíeis que eu devo estar naquilo que é de meu Pai?” (Lc 2,49).

Senhor, este Salmo me encanta. Gostaria de meditá-lo dia e noite e na minha vida experimentar, como o salmista, a sede do teu amor, buscar sem cessar tua presença, esconder-me debaixo de tuas asas e permanecer sereno e tranquilo ante as tempestades da vida. Sinto-me sempre desejoso de bem, mas o mal me ataca de todos os lados. Quero fazer desta minha oração e por bem no fundo do meu coração as palavras: “o teu amor vale mais que a vida! Por isso meus lábios vos louvam”. Ser cântico de louvor corajoso no meio de tantas pessoas que não te conhecem ou não querem te reconhecer como o Deus da vida. Não quero me deixar amedrontar por nada, quero ser teu servo agora e sempre. Na minha família, trabalho, na estrada por onde for, quero ser coerente e levantar minhas mãos para ti, para te louvar e bendizer para sempre. Amém.

 

 

MEDITATIO: Como toda figura evangélica, também Maria Ma­dalena é tipo do discípulo de Cristo. Nela vemos o luminoso testemunho de quem, perseverando na busca de Deus, ainda que seja na escuridão da fé e na prova da esperança, encontra, por fim, Aquele a quem ama, ou, melhor ainda, é encontrada por Ele. De fato, Cristo, o bom pastor, é, desde sempre, o primeiro em buscar-nos e permanece esperando-nos. Es­pera que o desejo do coração se purifique, se torne ar­dente e consuma, com seu fogo, toda a escória que há em nós. Espera que nossos olhos se tornem capazes de reconhecê-lo em quem nos rodeia, e nos torna atentos à sua voz, uma voz que sempre nos chama por nosso nome. Também nós, como Maria Ma­dalena, exultaremos de alegria ante sua presença, que nunca é acessível, mas possuída ou prevista. Só quem tem conhecido a longa noite da espera e do desejo pode converter-se em testemunho crível, entre os irmãos de uma fé que não é vã.

ORATIO: Maria Madalena vieste a Cristo, fonte de misericórdia, derramando-se em lágrimas: tinhas sede ardente e foste abundantemente saciada. Foi Ele que, quando pecadora pública, te justificou; foi Ele que, em tua dor tão amarga, te consolou docemente. Eu, ardente enamorado de Deus, em minha timidez, venho a ti, que és bem-aventurada; eu, que vivo na penumbra, venho a ti, que és luminosa; eu, que sou pecador, venho a ti, que foste justificada: vendo-me, recorda-te em tua bondade do que fos­te e de quanta misericórdia necessitaste. Obtém-me a compunção das almas puras, as lágrimas da humildade, o desejo da pátria celestial. Ajuda-me, pela familiaridade de vida que tiveste e segues te­ndo ainda, com a fonte da misericórdia. Faz-me che­gar a ela, para que possa lavar meus pecados; dai-me  beber dela, para que fique saciada minha sede (Ansel­mo de Canterbury).

 

CONTEMPLATIO: Maria buscou, mesmo em vão. Sem dúvida, não se dá por vencida e acaba achando: seu esforço é coroado, ao fim, pelo êxito. Em que momentos buscamos ao Amado? Buscamos nas noites. Por que chega Deus, assim, com a­traso? Para permitir-nos abraçá-lo com mais força no momento de sua vinda. O desejo não é autêntico se o tempo consegue debilitá-lo. Demonstra possuir um amor ardente quem larga o compromisso só quando obtém a vitória. O ser que não busca o rosto do Criador permanece insensível, triste e frio. Quem deseja, com ardor, bus­car àquele que ama vive de um ardente amor; a fal­ta de seu Senhor o torna inquieto, e as alegrias que ontem encantavam seu espírito, hoje parecem odiosas. A fe­rrugem do pecado se dissolve e seu espírito, incendiado como ouro, recupera na chama, o esplendor que o tem­po havia ofuscado (Gregório Magno).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Se alguém vive em Cristo, é uma nova criatura» (2 Cor 5,17)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL «A quem buscas?» A pergunta de Jesus ressuscitado a Maria de Magdala pode surpreender, também, a nós, cada manhã e cada hora de nossa vida. És capaz de dizer a quem buscas de verdade? De fato, nem sempre está claro que buscamos a Jesus, o Senhor. Nem sempre aquele a quem queremos encontrar é aquele que quer entregar-se a nós. Maria buscava ao homem Jesus, buscava o Mestre cruci­ficado, por isso não via Jesus, o Vivente, diante dela. Mas, se temos uma ideia de Jesus à medida de nossa pequena mente humana, nossa busca acaba em um beco sem saída. Je­sus é sempre imensamente mais do que nós conse­guimos pensar e desejar. Onde e como buscar o Senhor para sair do túnel de nossos extravios e de nossos medos, para não enganar-nos, dando voltas ao redor de nós mesmos, em vez de correr direto para Ele? Só se antes temos uma verdadeira e justa valoração de nós mesmos, como cria­turas pobres, então, poderemos descobrir a presença daquele que sustenta tudo. Aquele a quem buscamos deve ser, verdadeiramente, o tudo a que anseia aderir nossa alma. Buscar a Cristo é sinal de que, em certo modo, já o temos encontrado, porém en­contrar a Cristo é um estímulo para seguir buscando-o. Esta atitude não se expõe só ao início do caminho espiri­tual, mas o acompanha até a última meta, posto que a busca do rosto do Senhor é seu dado essencial. Conhecer àquele por quem somos conhecidos: isso é o indispensável. O itinerário do conhecimento de Cristo coincide com o mesmo itinerá­rio da fé e do amor. O eu deve aprender a calar e a escutar; o coração deve aprender o caminho do exílio para afastar-se de tudo quanto o mantém apegado a seus velhos e tristes amores (A. M. Cánopi, Nel mistero della gratuità, Milán).

 

 

TERÇA-FEIRA, 23 DE JULHO DE 2019 – 16ª SEMANA DO TEMPO COMUM

Mateus 12,46-50 (Os verdadeiros parentes de Jesus) Jesus estava falando às multidões quando chegam seus familiares para falar com ele. E Jesus, ao expor a questão de quem são seus parentes, declara a condição dos novos vínculos, os quais são gerados de Deus, e não da carne e do sangue (cf. Jo 1,13): a escuta e o pôr em prática de sua Palavra. Os fariseus e os mes­tres da Lei, que não creem nele, ficam fechados na busca de um sinal e não se dão conta de que está presente a realidade muito maior que qualquer sinal (cf. Mt 12,38-42). Os discípulos, que escutam sua Palavra, abrem-se à comunhão mais profunda possível com Ele, segundo a experiência humana: a que mantemos com nossa mãe e nossos consanguíneos. Jesus mesmo é a Palavra: quem o recebe chega a ser, nele, filho do Pai. Fazer a vontade do Pai é a condição que deve cumprir o filho autêntico; como ele, que veio ao mundo não para fazer sua própria vontade, mas a do Pai, que o enviou (cf. Jo 6,38). Ao dizer isto, Jesus põe de relevo a grandeza de sua mãe, Maria, que o gerou segundo a carne, precisa­mente fazendo-se discípula, acolhendo a vontade do Pai: «Aqui está a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38).

 

 

Mq 7,14-15.18-20 (Oração pela confusão das nações; Apelo ao perdão divino)Este texto é a conclusão do livro de Miquéias, mas remonta, na realidade, segundo o pare­cer dos exegetas, ao período pós-exílico. O povo volta à terra de Canaã, mas encontra-a inóspita, muito diferente da ansiada pelos orácu­los proféticos que haviam sustentado a esperança do retorno entre os exilados. Aos repatriados restaram as zonas menos férteis e mais inacessíveis, enquanto que os povos vizinhos ocupam o melhor do território que uma vez havia pertencido a Israel. Dai o convite dirigido a Yahweh para que, como pas­tor, conduza o povo, seu rebanho, a pastos melhores, como o fez em outro tempo, quando os guiou da escravidão do Egito à liberdade da Terra prometi­da, realizando sinais maravilhosos. A nova evocação das maravilhas de Deus dos tempos do Êxodo conduz de novo ao acontecimento da aliança, que fez com que Israel conhecesse, por um lado, o amor do Senhor e, por outro, sua própria identidade de povo de Deus. Isso é exatamente o que os repatriados necessitam encontrar e experimentar de novo. A passagem conclui exaltando a misericórdia de Deus, que perdoa as culpas com facilidade (v.18), por­ que Ele mesmo tem se dado a conhecer como «lento para a ira e rico em benevolência» (Ex 34,6). O Deus do Êxodo havia se manifestado como alguém que se alegra dispensan­do dons aos homens e não busca seu castigo, mas sua conversão ao amor. Por isso o orante está seguro de que Deus lançará as culpas no fundo do mar (v.19), do mesmo modo que foram precipitados ao mar os inimigos do povo. A oração se torna explícita: Deus é fiel à aliança estipulada já nos tempos antigos com os patriarcas, e ainda declarada válida e eficaz para as gerações futuras (v.20; cf Gn 15,18).

   

Salmo 84/85 (Oração pela paz e pela justiça) Hino de louvor que brota do coração de um povo que se vê livre da opressão e do sofrimento. Atualmente, acreditamos mais na ciência e na medicina que no poder de Deus. Esquecemo-nos que foi o Senhor que criou a medicina, assim como os médicos que operam e aos quais recorremos com frequência. Com o auxílio da medicina, devemos confiar no Senhor. Deus não é inimigo da ciência; ambos caminham juntos, mas Ele é fonte única de todo saber. Do mesmo modo devem caminhar a verdade e a justiça: uma deve caminhar ao lado da outra. A verdade não existe sem que a procuremos com amor e insistência, e Deus se revela aos que incansavelmente o procuram. Mesmo em situações difíceis, na dor, sofrimento e perante a justiça, é preciso esperar que sementes da verdade brotem em nossos desertos áridos e sem vida. Todo desejo de verdade e amor encontra a sua resposta plena e total na pessoa de Cristo.

Senhor, quero assumir hoje o compromisso de buscar sempre a verdade, que está escondida em Cristo e que passa sempre através da cruz, da morte e resplandece na ressurreição. A verdade veio habitar entre nós, fez sua morada entre nós, mas nossos olhos não souberam reconhecer e a nossa inteligência se fecha à luz e ao amor. Vivemos, Senhor, num tempo de espera paciente em que a verdade, a misericórdia e a justiça devem florescer na humanidade sedenta de amor, mas que, em razão de tantos falsos profetas, percorrem caminhos obscuros que levam à morte e não à vida. Ajuda-me, Senhor, a recusar corajosamente toda cultura da morte, seja qual for: morte física, espiritual ou intelectual. Que eu busque somente defender a vida. A Virgem Maria nos ensina a abrir-nos à verdade e dizer no nosso dia a dia o sim que motiva continuamente a presença de Cristo Jesus entre nós. Somos luz no Senhor… “Outrora éreis trevas, mas agora sóis luz no Senhor. Procedei como filhos da luz. E o fruto da luz é toda espécie de bondade e de justiça e de verdade” (Ef 5,8-9).

 

 

MEDITATIO: A maravilha maior é que Deus nos considere «de sua casa», como sua família. Talvez estejamos pouco habituados a esta verdade e deixemos se perder suas implicações, como um jovem ao qual lhe parece que lhe são devidas as atenções de seus pais e, em consequência, só tem pretensões. Deus, certamente, é fiel ao seu dom de amor: oferece-nos, a todo momento, o perdão e a salvação. Mas, como é a nossa relação com Ele? Jesus disse, com toda clareza, que quem cumpre a vontade do Pai entra em comunhão com Ele. Vale a pena perguntar-se o quanto nos interessa a vontade do Pai e como ten­tamos conhecê-la. É preciso que estejamos muito atentos para não confundir a vontade de Deus com nosso ponto de vista pessoal, com nosso próprio modo de sentir. Deus nos deu a conhecer sua vontade, em primeiro lu­gar, comunicando-nos sua Palavra. Em Jesus nos disse tudo o que queria dizer. Conhecemos a Sagrada Es­critura? Como fazemos para conhecer cada vez melhor esta «carta de Deus aos homens»? Conhecer implica «fazer»: como fazemos para crescer na coerência? Examinamos nossa vida à luz da Palavra do Senhor, talvez com alguém que nos acompanhe no caminho da fé?

 

ORATIO: Quando rezo com as palavras que Jesus nos ensinou, repito: «Faça-se tua vontade». Peço que Tu, ó Deus, realizes tua vontade, que é amor, que é salvação para todos nós, porém, dou-me conta de verdade? Sem dúvida, pouco penso que esta tua vontade inter­pela também a mim, porque queres implicar-me em teu desígnio de salvação. E não como a um estranho, mas como um familiar. Confesso-te, Deus meu, a indiferença de que faço gala ante tudo isto: nem sequer me dou conta de que sou «dos de tua casa». Perdoa esta minha torpeza, tem piedade de minha mesquinhez. O maior prodígio que podes realizar, maior, inclu­sive, que os que levastes a cabo no Êxodo, é continuar chamando a minha porta e afinar as cordas de meu coração até que brote a saudade da comunhão contigo, da intimidade familiar, da amizade, que transbordam qualquer abismo interior. Então, Deus meu, não encontrarei nada mais desejável que tua vontade, exi­gente, é verdade, porém, bela. E gritarei a ti com insistência, até que me tenhas respondido: Senhor, que queres que eu faça?

 

CONTEMPLATIO:  Não devemos ser sábios e prudentes segundo a carne; devemos ser bem mais simples, humildes e puros. Nunca devemos desejar estar sobre os outros; antes, devemos ser servos e estar submetidos a toda criatura humana por amor a Deus. E sobre todos aqueles que se comportem deste modo, sempre que façam tais coisas e perseverem nelas até o final, re­pousará o Espírito do Senhor, e neles estabelecerá sua habitação e morada. E serão filhos do Pai celestial, e farão suas obras, como esposos, irmãos e mães de nosso Senhor Jesus Cristo. Somos esposos quando a alma fiel se desposa com Jesus Cristo mediante a ação do Espírito Santo. Somos irmãos quando fazemos a vontade de seu Pai, que está no céu. Somos mães quando o levamos em nosso coração e em nosso corpo por meio do amor e a pura e sincera cons­ciência, e o geramos por meio do santo agir, que deve resplandecer como exemplo para os outros. Ó, quão glorioso e santo, consolador, belo e admirável é ter semelhante Esposo! Ó quão santo, quão delicioso, agradável, humilde, pacífico, suave e amável e desejável, acima de qualquer coisa, é ter tal irmão e filho! (Francisco de Assis, Carta a todos os fieis):

 

AÇÃO: Repete com frequencia e vive hoje a Palavra:

«Aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus,

esse é meu irmão, irmã e mãe» (cf Mt 12,50)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Entre as palavras duras que têm um selo de autoridade, encontramos um episódio raras vezes recordado, porque é assim insuportável para nossa mentalidade moderna, e talvez o fora também para os espíritos antigos. Os parentes de Jesus, após inteirar-se do que estava acontecendo, chegaram para levá-lo com eles dizendo: “Está louco!”. E os escribas, vindo de Jerusalém, disseram: “Está possuído pelo demônio”. Vieram sua mãe e seus irmãos. Estes, ficando aparte, o mandaram chamar. A multidão estava sentada a seu redor. Disseram-lhe: “Ai fora estão tua mãe e teus irmãos, que querem falar contigo”. Ele respondeu: “Quem é minha mãe, quem são meus irmãos?”. Para compreender esta passagem devemos recordar que Moisés havia mandado condenar a morte aos falsos profetas, aos magos que faziam milagres. Além do mais, naqueles tempos estava admitida a responsabilidade coletiva, de sorte que os pais eram responsáveis se não denunciavam a seu filho falso profeta. Desde esses pressupostos, podemos compreender o comportamento do povo de Nazaré. É preciso tornar Jesus inócuo, impedir que se perca. E não só ele, mas também os seus, possivelmente todo o povo. Daí que os irmãos de Jesus, levando com lês a Virgem, lhe peçam que renuncie a sua loucura, ou seja, a sua missão. Jesus é abandonado por seus conterrâneos. É suspeito frente às autoridades, que vieram até sua terra para desenvolver uma investigação. Porém isso ainda não é nada. O mais duro é que os seus querem isolá-lo, fazê-lo passar por um extravagante. Jesus sofre ao ver que sua missão não é compreendida por aqueles que lhe são mais próximos, por aqueles que, durante trinta anos, hão lhe visto viver em um povo onde nada fica oculto. Então Jesus, pousando o olhar sobre aqueles que estavam em circulo a seu redor, disse: “Estes são minha mãe e meus irmãos. O que cumpre a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. Nunca se há negado a dureza destas palavras. Na realidade, equivalem àquelas outras de São João ao começo de seu evangelho: “Veio aos seus, porém os seus não a receberam. A quantos a receberam, a todos aqueles que crêm em seu nome, lhes deu poder para ser filhos de Deus”(J.Guitton, L’Evangelo nella mia vita).

 

 

 

QUARTA-FEIRA, 24 DE JULHO DE 2019- 16ª SEMANA DO TEMPO COMUM

Mateus 13,1-9 (Parábola do semeador) Neste passagem bíblica que a liturgia de hoje nos oferece temos sete parábolas que têm como objeto o mistério do Reino de Deus. Mateus situa este discurso (terceiro dos cinco) em que fixa a pregação de Jesus, após a crise originada pelo conflito que, aos poucos, tornou-se aguda entre Jesus, duma parte, e fariseus e mestres da Lei, de outra. Um conflito condensado em torno à questões da observância do sábado e da origem do poder taumaturgo de Jesus (cf Mt 12,1-14.22-32). Na primeira parábola proposta, Jesus chama a atenção para uma ima­gem bem conhecida da multidão à qual está falando, e que revela algo de sua própria pessoa em relação com a Palavra, que é Ele e que veio a anunciar. Assim como o «semeador» palestino lança a semente na terra sem se preocupar, assim também proclama Jesus a Palavra do Pai a todos, sem distinção e sem reservas. É Palavra de vida e tem sido enviado pelo Pai para que to­dos «tenham a vida em abundancia» (cf Jo 10,10). Mas, do mesmo modo que a semente corre uma sorte distinta segundo o terreno no qual cai, assim também a Palavra recebe acolhida diferente segundo a disponibilidade do coração do que a escuta: a experiência, da pregação realizada por Jesus até agora o confirma. O relato da parábola apresenta uma conclusão surpreendente, que é, a continuação, sua mensagem central: o terreno fértil produz uma colheita abundante, além de qualquer expectativa razoável. De modo semelhante ocorre com a Palavra anunciada por Jesus, que, ainda que não desperta o interesse esperado e inclusive encontra oposição, terá uma fecundidade extraordi­nária, coisa compreensível só por quem tem fé, por quem reconhece no Evangelho de Jesus a vontade do Pai e está disposto a acolhê-la e pô-la em prática (cf Mt 12,50).

 

 

 

Jr 1,1.4-10 (Vocação de Jeremias) Inicia-se a leitura das passagens tomadas do livro do profeta Jeremias. Este profeta, que era de uma família sacer­dotal que morava não longe de Jerusalém, desenvolveu seu ministério profético durante o período mais dramático da história do Reino de Judá: o que vai desde o intento reformador do rei Josias à tomada da cidade de Jerusalém, com a consequente deportação para a Babilônia (aproxi­madamente, 526-587 a. C.). Mesmo que não seja possível a reconstrução cronológica exata da vida de Jeremias, conhecemos, todavia, muito de seu trabalho interior e de sua consciência do ministério profético que lhe havia sido confiado, graças às páginas autobiográficas e introspectivas que se alternam, no livro, com os oráculos e as narrações. A vida mesma do profeta tem valor de oráculo: é palavra viva dirigida por Deus a seu povo, a fim de que se emende e volte a caminhar por suas sendas. O relato da vocação do profeta, que abre o livro e constitui o fragmento litúrgico de hoje, apresenta elementos fundamentais característicos de seu minis­tério. A Palavra do Senhor, central na experiência religiosa e profética, chega a Jeremias e o chama a uma profunda e comprometida relação com ela (vv.4-9), habilitando-o para ser servidor autorizado da mesma, além de suas próprias capacidades reconhecidas (v.6). Jeremias não deverá temer nem a dura oposição nem a luta que sustentará para anunciar a Palavra de Deus: o Senhor, que o ama desde sempre, o guarda, o elegeu (v.5), o sustentará sempre e o protegerá em sua árdua missão (vv.7ss). Trata-se de uma missão que não pode contar com o favor dos destinatários, visto que Jeremias estará obrigado a anunciar, sobretudo, ameaças e castigos (v.10cd; cf cc.2-25;46-51), após os quais será possível a reconstrução (v.10e; cf cc.30-33).

Sl 70/71 (Súplica de um ancião) O Salmo que a liturgia de hoje nos apresenta aborda um tema já muito conhecido: lamentações. Nele percebemos o abandono e a busca do salmista por alguém em quem possa confiar e desabafar. E esse alguém é o Senhor, pois somente em Deus podemos depositar nossa total confiança e confidenciar os nossos “segredos” com a certeza de que não os contará a ninguém. A Bíblia insiste, em vários momentos que aquele que encontra um amigo encontra um tesouro verdadeiro. Encontrar um tesouro não é algo corriqueiro, que acontece a todo momento. É raro. Olhando para nossas vidas, muitas são as pessoas que temos conhecido e poucos os amigos que têm sido presença em todos os momentos, especialmente nos duros e difíceis. O amigo verdadeiro se prova nas horas de dor, solidão e angústia. O salmista se dirige a Deus e suplica-lhe que na velhice não o abandone, porque desde a infância tem mostrado para Ele o seu amor e fidelidade.

Senhor, hoje, para te louvar e bendizer, recorro ao salmista, que me leva a crer no teu amor para sempre e que na minha velhice estarás comigo. “Instruíste-me, ó Deus, desde minha juventude e ainda hoje proclamo os teus prodígios. E agora, na velhice, de cabelos brancos, Deus, não me abandones, até que eu anuncie teu poder, as tuas maravilhas a todas as gerações que virão. A tua justiça, ó Deus, é alta como o céu, fizeste grandes coisas: quem é como tu, ó Deus? Fizeste-me provar muitas angústias e desventuras; tornarás a dar-me vida, me farás subir de novo dos abismos da terra. Aumentarás minha grandeza e outra vez me consolarás. Então te darei graças com a harpa, pela tua fidelidade a Deus, vou te cantar com a cítara, ó santo de Israel. Cantando os teus louvores, exultando meus lábios e a minha vida, que resgataste” (Sl 71, 17-23).

 

 

MEDITATIO: Em virtude de nossa própria experiência, sabemos a grande importância que tem a palavra: por ela tomamos consciência de sermos pessoas humanas, comunicamos o que pensamos e sentimos, recebemos a comunicação do outro, entramos em contato com o patrimônio cultural do passado, conhecemos mundos distantes do nosso… Nossa propria experiência da fé põe no centro a palavra, desde o momento mesmo em que Deus, o inefável, se fez Palavra para que nós pudéssemos entrar em relação com Ele. Aceitou os limites da palavra humana a fim de «dizer-se» e revelar-se de um modo compreensível para nós. Fez-se tão próximo à nossa experiência cotidiana que podemos acabar confundindo sua voz com o rumor das conversas confusas e agitadas ou com o estrondo de dezenas de decibéis que marca nossa «cultura» do ruído. O Senhor continua vindo ao nosso encontro, dirigindo a Palavra a cada um de nós de modo pessoal. E, inclusive, quando Deus fala à multidão, tem presente a pessoa com sua verdade individual. Todos, e cada um, somos conhecidos, ama­dos, eleitos, de modo semelhante a Jeremias. Cada um de nós é objeto de confiança, como o campo no qual o semeador espalha a semente sem reserva. A todos, e a cada um de nós, repete o convite à amizade, à familiaridade confidente com ele. Talvez prefiramos considerar tudo isso como impossível, porque intuímos que acolher a proposta de Deus é comprometedor: exige que nos deixemos transformar por essa mesma Palavra e nos convertamos em «palavra» para os outros. Deus se compromete primeiro e diz: «Não temais, eu estarei contigo». Sua presença ga­rante a abundancia do fruto.

 

 

ORATIO: Comove-me, Senhor Jesus, a tua ternura comigo, a confiança que me demonstras e com a qual me acompanhas des­de o momento em que passei a existir. Recordo as palavras do salmista: «Tu conheces o profundo de meu ser, nada meu te era desconhecido quando ias me formando no oculto e tecendo-me na terra mais profunda» (Sl 139). Obrigado, Senhor Jesus, por tanta atenção: esse é teu estilo, teu modo de agir. Ajuda-me a não esquecê-lo quando, frente a certos acontecimentos da vida, reajo denunciando tua ausência ou, inclusive, sentindo-te hostil. Tens-me em tanta estima que me chamas a colaborar contigo. Confias-me o mais precioso que te­ns, a Palavra, que está no inicio de tudo: da criação, da redenção, da santificação. Perdoa-me, rogo-te, a superficialidade com que me ponho ante teu dom e a missão que me propões. Perdoa-me as incertezas e resistências que expressam que vivo mais recolhido em mim que «capturado» em meu coração pela grande benevolência que me mostras.

 

CONTEMPLATIO: Imita à terra, ó homem, e produz também tu teus frutos para não ser inferior às coisas materiais. A terra produz frutos, porém não pode gozá-los e os produz para teu beneficio. Tu, ao contrário, podes recolher para teu próprio beneficio tudo o que vás produzindo. Se deste ao faminto, se torna teu tudo o que lhe deste; mais ainda: volta a ti incrementado. Em efeito, do mesmo modo que o trigo que cai na terra atua em beneficio daquele que o tem semeado, assim também o pão dado ao faminto reporta muitos benefícios. Que o que constitui seu fim para a agricultura seja, pois, para ti o critério da semeadura espiritual. Tu não conheces mais que uma frase: «Não tenho nada e não posso ‘dar nada, porque não tenho bens». Em efeito, és verdadeiramente pobre; e mais, estás privado de todo verdadeiro bem. És pobre de amor, pobre de humanidade, pobre de fé em Deus, pobre de esperança nas realidades eternas. Mostra-te ativo no bem. Então Deus te aprovará, te exaltarão os anjos, te proclamarão bem-aventurado todos os homens que hão existido desde a criação do mundo em diante (Basílio Magno, Homilia sobre a caridade).

 

AÇÃO: Repete com frequencia e vive hoje a Palavra:

«Tu me conheces, ó Deus, e me amas desde sempre» (cf. Jr 1,5)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL André Frossard contou-me:«Entrei numa capela por acaso, sem angústias metafísicas, sem inquietudes, sem problemas pessoais, sem desgostos amorosos: não era, eu, mais que um ateu tranqüilo, marxista, um jovem despreocupado e um pouco superficial, que tinha em seu programa naquela noite um encontro galante; saí dez minutos após, tão surpreso de encontrar-me católico, de repente, como estaria, se me houvesse descoberto girafa ou zebra à saída do zoológico; precisamente, porque sabia que ninguém acreditaria em mim, calei por mais de 30 anos, trabalhei duro para ter um nome como periodista e escritor e, assim, não ser tomado por louco quando tivesse que pagar minha dívida: contar o que me havia sucedido». Para alguns, este homem (André Frossard) é um problema; para outros, um enigma: um periodista de êxito, um dos mais conhecidos e temidos de França, que se sai com um livro onde anuncia, com uma segurança absoluta, que Deus é uma evidência, um fato, uma Pessoa encontrada de maneira inesperada pelo caminho […]. Outro, Louis Pawels, também me relata: «’A Coisa’ teve lugar no Sul da América, em um congresso: uma queda na borda de cimento de uma piscina, uma fratura, a longa espera por socorro”. E acrescenta: «Estava só, todos haviam retornado ao albergue para a refeição. Enquanto caia, senti que não estava caindo por acaso: percebi com clareza que «Alguém» me havia empurrado. E o havia feito para dizer-me «algo». Jazia sozinho sobre o cimento, fraturado. A dor era lacinante; mas, inexplicavelmente, me invadiu uma imensa e inexplicável alegria. Quando enfim veio alguém e me levaram numa maca. Meu corpo estava ferido, mas minha alma exultava. Era como se tivesse havido o nascimento de Cristo para mim naquele mesmo momento: era meu Natal em setembro. Pela primeira vez em minha vida conheci a alegria» (Vittorio Messori, Inchiesta sul cristianismo).

 

 

                    

                    

QUINTA-FEIRA, 25 DE JULHO DE 2019- 16ª SEMANA DO TEMPO COMUM

Mateus 13,10-17 (Porque Jesus fala em parábolas) No início do longo «sermão em parábolas», Mateus insere a pergunta sobre o «porque» das parábolas e da rejeição da Palavra de Jesus da parte de Israel. Isto era importante para os cristãos das primeiras comunidades, que, de um lado, se encontravam ante a necessidade de explicar e interpretar um tipo de anúncio que se havia tornado inacessível de modo imediato e, por outra, sofriam a oposição e o escândalo do povo eleito, que, em uma grande parte, não havia acolhido o Messias. A resposta parte do reconhecimento da antítese aparecida já na parábola do semeador: há quem se mostra disponível e quem, pelo contrário, oferece resistência à Palavra de Jesus Cristo. A diferente disposição interior estabelece a diferença entre o «ver» e o «ouvir»: conversão e consequente bem aventurança para uns, incompreensão e exclusão do dom para os outros. O texto profético de Is 6,9ss, no qual Deus anuncia ao profeta os obstáculos que encontrará no exercício de sua missão, da razão do que antes Jesus Cristo e depois a Igreja terão que viver. Se bem que a linguagem semítica se refere a Deus como a causa primeira dos acontecimentos, não é certamente Ele quem determina a docilidade e a dureza do coração. O homem está chamado a assumir em primeira pessoa a responsabilidade de sua própria eleição frente à Palavra que hoje se o dirige, posto que hoje é o tempo favorável para a salvação (cf. 2 Cor 6,2).

 

 

Jr 2,1-3.7-8.12-13 (As pregações mais antigas: a apostasia de Israel) A palavra que o Senhor confia a Jeremias para que a transmita tem aqui a forma de uma requisitória severa e apaixonada, na qual Yahweh põe Israel frente a suas próprias responsabilidades e o pede contas de sua infidelidade à aliança. Deus tem presente no coração e na mente o tempo do Êxodo e da estância no deserto, um tempo idílico de comunhão, no qual o povo respondia com docilidade e obediência a seu amor absoluto (v.2). Por sua parte, Deus tutelou de todos os modos possíveis a Israel, sua propriedade (v.3), e, fiel à promessa, o guiou à rica e fértil terra de Canaã (v.7a). O câmbio de atitude do povo motiva a acusação: una vez en sitio seguro, Israel abandonou seu Deus; seu pecado profanou a terra que habita e que é santa por ser de Deus (v.7b). É extraordinariamente grave que os guias do povo (sacerdotes, reis, profetas) hajam sido os primeiros a trair a aliança voltando-se aos ídolos. Toda a criação está chamada a ser testemunha de um fato tão absurdo: ainda que o povo tenha experimentado a plenitude de vida na comunhão com o Deus vivo, o abandona agora preferindo aos ídolos. É o mesmo estúpido dramatismo de quem, sedento, em vez de dirigir-se à fonte de água viva, prefere pôr-se a escavar cisternas que, rachar-se, acabam por perder a água que retinham (vv.12ss).

 

(Sl 35/36 (Prece de um justo perseguido) Às vezes aprendemos observando mais o mal do que as virtudes em nossos irmãos, pois quando contemplamos o mal, surge-nos intensamente a vontade de rejeitá-lo por inteiro e viver somente o bem. Os maus passam a vida planejando o mal. Quantos ladrões, assassinos, sequestradores passam a maior parte de seu tempo planejando o mal? Há escolas e faculdades de crimes que ensinam a como fazer o mal “cientificamente”, enquanto os santos e justos meditam dia e noite em como fazer o bem, como ajudar os pobres, como vencer a pobreza e ir ao encontro daqueles que sofrem.

Senhor, eu quero contemplar o mal do mundo, suas armadilhas, para não me tornar uma vítima dele, e quero me colocar na tua escola do bem, e assim passar pelo mundo como Jesus: “fazendo sempre o bem a todos”. Não há maior alegria do que fazer o bem e doar-se totalmente aos outros, sem reservas. Somos felizes em ver a felicidade dos outros. Creio que ninguém pode ser feliz sozinho, então liberta-me, Senhor, de todo o egoísmo e individualismo. Amém.

 

 

MEDITATIO: Não é difícil ver, se olhamos ao redor, quantas relações superficiais existem. E não só as de «conveniência», nas quais apenas se intercambiam a saudação ou duas palavras sobre o tempo ou sobre o partido de futebol, mas também em outras que são fundamentais: entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre pessoas que partilham uma mesma opção religiosa, existencial… Vemos relações sem raízes profundas, que terminam. E seria bom que nos perguntássemos por que é tão difícil embarcar em um compromisso que dure toda a vida. A Palavra do Senhor nos propõe hoje que miremos dentro de nosso coração, que o toquemos, que verifiquemos a disponibilidade que tem para fazer um esforço de ir mais além da superficialidade; também em nossa relação com o Senhor. De modo diferente, nos escapa o sentido do que vivemos, e pode acontecer que sejamos como os judeus, que, por não mostrar-se disponíveis a comprometer-se a fundo com o Senhor, rejeitavam seu amor vivificante por cultos de morte. Torna-se paradoxo, porém talvez não longe de nossa experiência, que – estando famintos de amor – não vejamos a Deus, que é amor, e não escutemos seriamente sua Palavra; que – estando desorientados pelo vazio e a falta de sentido do viver- fechemos os olhos e os ouvidos frente a quem nos dá testemunho de Deus como verdade e como vida. Toquemos nosso coração: ainda estamos no tempo de converter-nos.

 

ORATIO: É verdade, Senhor, às vezes sou precisamente um preguiçoso. O emprego de produtos de todo tipo «prontos para usar» tem me acostumado ao «tudo fácil», ao «tudo imediato», e tenho me convencido de que também nas coisas do espírito funcionam também assim. Confesso, Senhor, que tenho preferido as muitas palavras brilhantes, ainda que inconsistentes, proclamadas pelo charlatão de turno, à tuas palavras, duras de entender, mas vivificantes. Também eu tenho pensado que a fé em ti era uma bugiganga infantil que temos de conservar no sótão, metida no baú das velhas recordações… Perdoa-me, Senhor, não tenho entendido nada. Sustenta em mim o desejo de converter-me a ti: necessito de olhos lavados na fé e ouvidos que não se confundam entre tantos sons, mas que saibam distinguir tua voz. Necessito, sobretudo, Senhor, um coração disponível para acolher a verdade sobre ti e a verdade sobre mim, disposto a amar e suficientemente humilde para deixar-se amar como tu queres amá-lo. Necessito e sei que Tu estás disposto há muito tempo a dar-me tudo isto: só estás esperando meu «sim». Então poderei correr e acalmar minha sede ardente não nas «cisternas» da moda e do mercado, mas na «fonte de água viva» de tua Palavra e de teus sacramentos. E talvez, se eu vou, também outros virão comigo.

CONTEMPLATIO: Ó, se tu, Deus misericordioso e Senhor piedoso, te dignasse chamar-me à fonte para que também eu, junto com todos os que têm sede de ti, pudesse beber da água viva que mana de ti, fonte de água viva. Senhor, Tu mesmo és essa fonte eternamente desejável, na qual, continuamente, devemos beber e da qual sempre teremos sede. Dá-nos sempre, ó Cristo Senhor, esta água viva que brota para a vida eterna. Tu és tudo para nós: nossa vida, nossa luz, nossa salvação, nosso alimento, nossa bebida, nosso Deus. Rogo-te, ó Jesus nosso, que inspires nossos corações com o sopro de teu Espírito e que traspasses com teu amor nossas almas, para que cada um de nós possa dizer com toda verdade: «Faz-me conhecer àquele que ama minha alma» (cf. Ct 1,6); estou ferido, com efeito, por teu amor (Columbano, Instrucción XIII sobre Cristo fuente de vida, 2ss).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Que meus olhos vejam, e que ouçam meus ouvidos»

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL ”Voltando-se depois aos discípulos, disse-lhes a sós: ‘Ditosos os olhos que vêem o que vós vedes (Lc 10,23). Uma bem-aventurança que, sem dúvida, nem sequer aos discípulos serviu muito. E, ainda que sendo testemunhas oculares das maravilhas do Reino, companheiros de Cristo, partilhado com Ele os dias e sido comensais seus, contudo, foi escrito deles que, ao final, todos o abandonaram e o traíram. Assim vê-se o difícil que é ser coerente crer de verdade aceitar a Cristo. Uma bem-aventurança que eu, por exemplo, penso que me poderia ser atribuída com grande dificuldade. Certamente, a pergunta é só uma: Alguma vez Jesus foi seriamente crido? Quem o acolheu? «Ditosos os olhos que veem…». Não, esses olhos não eram ditosos, porque «não viam». Se ao menos fossem bem-aventurados nossos olhos! E dizer que nós vemos, que sabemos! Estamos convencidos de que não há outras respostas a estas benditas questões eternas: por que sofrer, por que morrer, como salvar-nos, que fazer para ter a vida. Estamos convencidos de que Ele é a resposta que todos buscam, a razão pela qual vale a pena lutar. Não, nossos olhos não são ditosos. Nem sequer vemos o mal mortal que nos causamos com nossas próprias mãos. Está escrito que não é com a dialética que Deus quer salvar o homem. Posso fazer o mais belo discurso religioso, mas se não tenho fé não me ajuda em nada. Mais ainda, se não tenho nem fé, nem amor, tampouco serve de nada: dado que o amor é o sinal supremo da fé, o sinal verdadeiro no qual creio (D.M. Turoldo, Anche Dios é infelice).

 

 

SEXTA-FEIRA, 26 DE JULHO DE 2019- 16ª SEMANA DO TEMPO COMUM (S Joaquim e Sta Ana)

Mateus 13,16-17 (Felizes vossos olhos porque vêem e vossos ouvidos porque ouvem) O texto evangélico de hoje nos presenteia como uma magnânima declaração de Jesus. O cumprimento das promessas é a visão: gerações de profetas e de justos construíram, degrau a degrau, uma história de confiança, de espera e de espe­rança, e foram felizes porque esta fé os situou entre os que, sem ter visto e ouvido, creram e apostaram sua vida pela Palavra da aliança. O hoje dos discípulos tem a unicidade da bem-aventurança privilegiada do ver e escutar a Vida, a Salvação em ato, a Palavra encarnada. Eles são o último elo da geração que herdou as promessas e o primeiro que deverá transmitir o testemunho do cumprimento.

 

 

Eclo 44,1.10-15 (Elogio dos pais) O bem permanece. E mais, de geração em geração, parece constituir-se um depósito fecundo, um capital precioso do qual se pode dispor sem que nun­ca se esgote. Mais ainda: o bem realizado em e por homens virtuosos tece a autêntica trama da história da sal­vação, até que chegue o tempo no qual o fruto esteja maduro. De fato, sem a colaboração do homem, Deus não intervém no tempo com sua ação poderosa e redentora. A fidelidade do Senhor se fundamenta no céu, porém se arraiga na terra, graças aos que per­manecem fieis às promessas: promessas de Deus ao homem e do homem a Deus, em virtude da graça, úni­ca garantia da aliança na criatura.

 

Sl 131/132 (Para o aniversário da trasladação da Arca) Esta é uma oração muito querida pelo povo nômade, que mantém seus pensamentos na arca da Aliança, sinal da presença viva de Deus. Por meio desse cântico, somos convidados a refletir sobre o amor de Deus por nós. Ele nos amou a ponto de entregar o seu Filho, que se fez carne, por nós. O povo de Israel reza continuamente para que a tenda de Javé nunca se afaste do caminho do povo e que os sacerdotes se vistam a caráter em festa para celebrar a presença do Senhor. Infelizmente, nem sempre conseguimos enxergar santidade na vida dos sacerdotes. Os escândalos, a frieza, a falta de amor pelo povo,etc., afastam o homem da presença de Deus. Sacerdotes saibam: em breve, será pedido a nós conta da fé das pessoas que nos foram confiadas. Sabemos como devemos comportar-nos e, por isso, somos responsáveis por toda a comunidade.

Senhor, eu quero te oferecer todos os que recebem o sacerdócio ordenado de Cristo, para que sirvam a comunidade, sejam guias do povo, santifiquem o povo, ofereçam o sacrifício da Eucaristia e deem o perdão dos pecados. Reaviva, Senhor, o coração de todos os sacerdotes para que eles sejam dignos de serem ministros do altar. Dá ao povo a sabedoria para rezar pelos sacerdotes, para compreendê-los em suas faltas e quedas, para serem mãos estendidas, e ajuda-os a viverem com fidelidade o próprio sacerdócio. Construir a casa do Senhor não é construir igrejas de pedra e tijolos, mas sim corações dispostos a receber a Palavra de Deus e serem templos vivos do Espírito Santo. A primeira igreja que deve ser construída é no nosso coração, santificá-lo e consagrá-lo como habitação da Santíssima Trindade. Chama de volta, Senhor, todos os sacerdotes que, por qualquer causa, se afastaram de ti e da Igreja. Que a sua Igreja mãe acolha, corrija, perdoe e ame para que sejam santos, porque tu és santo. Amém.

 

 

MEDITATIO: “Joaquim e Ana eram justos e estavam puros de toda mancha de pecado; levavam uma vida piedosa; portanto, ante Deus e ante os homens, uma conduta inocente, imune de calúnia e cheia de pie­dade. Mostravam-se zelosos na oração, no jejum e abstinência. Devotos à lei, formavam uma família assídua ao Templo, caridosa, incansável no trabalho e, em consequência, muito rica em bens. Dividiam em três partes o rendimento anual de suas fadigas: desti­navam a primeira parte ao Templo de Deus, aos sacer­dotes ministros do Templo; a segunda parte a dividiam entre os pobres e os indigentes; a terceira parte era para eles, para a família e para os hóspedes. Haviam regulado sua vida, deste modo, em tudo, e haviam vivido juntos, piedosamente, dedicando-se às boas obras, durante 20 anos. Não tinham filhos, pois o seio de Ana estava fechado pela esterilidade. Convinha, de fato, à mãe, àquela que foi o início dos prodígios, nascer, prodigiosamente, de um seio estéril, como a própria Maria devia trazer ao mundo, de um modo prodigioso e virginal, o Verbo, e elevar-se do escalão inferior da esterilidade ao superior do parto virginal” (S. di Ter Israel).

 

ORATIO: “Ele­varei um hino ao Senhor, meu Deus, porque me visitou (cf. Gn 21,1), e afastou de mim os ultrajes de meus ini­migos, e me deu um fruto de sua justiça (Pr 11,30) ao mesmo tempo uno e múltiplo ante Ele. Quem anunciará aos filhos de Rubén que Ana ama­menta a um filho? Sabei, sabei vós, as doze tribos de Israel, que Ana amamenta a um filho (Cântico de Ana, Protoevangelho Tiago).

 

CONTEMPLATIO: Sobre os pais da Virgem Maria pousaram a benção e a graça celestial. Estas saíram dos jus­tos e foram transmitidas através das gerações até pousar-se em Maria, a qual recebeu o mistério. O justo Joaquim e Ana, sua mulher, estavam tristes, pois não haviam tido filhos. Sem dúvida, Deus se mos­trou benévolo com eles, acolheu sua súplica e lhes deu uma filha amada e bendita. Joaquim orava ante Deus, pedindo-lhe uma prole que con­solasse sua velhice: «Senhor, que deste esperança a Abraão e depois de cem anos lhe concedeste um herdeiro da promessa, não prives minha velhice de um fruto, mas abençoa-me com a benção de Abraão; tudo é fácil, de fato, à tua vontade» (de um texto antigo da Igreja sírio-oriental).

 

AÇÃO: Repete e medita durante o dia este provérbio bíblico:

“O fruto do justo é uma árvore de vida» (Pr 11,30)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL A figura de santa Ana recorda-nos, de fato, a casa paterna de Ma­ria, Mãe de Cristo. Ali Maria veio ao mundo, trazendo em si aquele mistério extraordinário da Imaculada Conceição. Ali era rodeada do amor e solicitude dos seus pais: Joaquim e Ana. Ali “aprendia” de sua mãe, de santa Ana, como ser mãe. E, embora do ponto de vista huma­no, Maria houvesse renunciado à maternidade, o Pai celestial, aceitando a sua doação total, deu-lhe a graça da maternidade mais perfeita e mais santa. Cristo, do alto da cruz, transferiu, em certo sentido, a maternidade daquela que o gerara, dando a esta por objeto, em vez de Si, o discípulo pre­dileto e, ao mesmo tempo, fez com que ela abrangesse toda a Igreja, todos os homens. Quando, pois, como «herdeiros da promessa divina» (cf. Gl 4,28.31), nos encontramos abrangidos por esta maternidade, e quando experimentamos a sua santa profundidade e plenitude, pensamos, então, que foi, santa Ana a primeira a ensinar a Maria, sua filha como ser mãe. «Ana» significa em hebraico: “Deus fez sua graça”. Refletindo sobre este significado do nome de santa Ana, assim exclamava são João Damasceno: « Como havia de acontecer que a Virgem Maria, Mãe de Deus, nascesse de Ana, a natureza não se atreveu a preceder o germe da graça, manteve-se, porém, aquela sem o próprio fruto, para a graça produzir o seu. Devia nascer, de fato, a primogênita, da qual viria a nascer o primogênito de toda a criatura » (João Paulo II).

 

 

 

SÁBADO, 27 de julho de 2019 – 16ª SEMANA DO TEMPO COMUM ANO PAR

Mateus 13,24-30 (parábola do joio) A segunda parábola proposta por Jesus apresen­ta também uma plantação de dois semeadores. O primeiro semeia boa semente, o outro semeia semente de plantas nocivas que se mesclarão com o trigo. Jesus compara o Reino de Deus – portanto, a Igreja (que é seu inicio) e, em sentido lato, toda a humanidade – com este campo, no qual convivem o trigo e a cizânia. Se o instinto dos criados le­va a eliminar, de imediato, o joio, a lógi­ca do dono é totalmente oposta. Jesus nos apre­senta, deste modo, o coração do Pai: assim como o dono do campo deixa que cresçam juntas as plantas boas e as nocivas, que só serão separadas no tempo da ceifa para seguir uma sorte diferente, assim, Deus, tampouco, intervém para arrancar o mal que está presente na Igreja e no mundo e, em última instancia, no coração do homem. E só no momento do julgamento se fará evidente quem tem feito o bem e quem tem feito o mal. A ação do maligno, já revelada na explicação da pará­bola do semeador (cf Mt 13,19), é acolhida, aqui, no desenrolar da historia. Ao excesso de zelo de quem quisesse ver triunfar o bem e está disposto, por isso, a eliminar, violentamente em nome de Deus, tanto o mal como ao que o faz, se contrapõe à tolerância do Pai, que, longe de ser mero pacifismo ou indiferença, conhece os tempos de crescimento e o coração de cada um. Como cantava já estupefato o autor do livro da Sabedoria (11,23): «Tu tens compaixão de todos, porque tudo podes, e passas por alto os pecados dos homens para que se arrependam». À mentalidade dos «puros», que não querem entrar em contato com os «impuros», se contrapõe a do ”Deus três vezes Santo que ama ao pecador, come com ele, o abraça e celebra uma festa pelo retorno a casa” (cf Lc 15,11-24).

 

 

Jr 7,1-11 (O culto verdadeiro) A Palavra do Senhor envia Jeremias à entrada do templo, lugar santo por excelência, por ser morada de Deus. O profeta condena a hipocrisia dos que se aproximam dali querendo prestar culto a Deus, enquanto transgridem seus mandamentos. Ninguém pode considerar-se a salvo do castigo divino só por entrar no templo e oferecer sacrifícios, quando, logo em seguida, é injusto, mata, rouba, comete adultério, jura falso e mantém uma prática sincretista da fé (vv.5-10). Já é absurdo só pensar que Deus possa mostrar conivência com tais ações abomináveis. Ele vê as obras que realiza cada um. O templo é o lugar santo porque Deus está presente: quem entre nele deve viver de maneira conforme essa santidade. Porém, se alguém é mau, faz mau ao lugar mais santo, e isso não pode deixar de merecer o castigo de Deus (v.11). Soa de novo o chamado à conversão. Consiste este em melhorar a própria conduta e as próprias ações, quer dizer, em viver segundo os mandamentos de Deus: julgar segundo a justiça, estabelecer relações sociais, equitativas e respeitosas com cada um, abandonar todo compromisso com a idolatria.

 

Sl 83/84 (Canto de peregrinação) Este Salmo reaviva em nós o desejo de caminhar apressadamente para a casa do Senhor. Mas onde fica essa casa, por onde devemos começar a procurá-la? Qual é o templo vivo onde o Senhor nos espera e que anelamos não só visitar, mas entrar e permanecer eternamente? Antes de mais nada, devemos procurar o templo santo. Quem de nós não se sente atraído pelos grandes santuários presentes em todos os países, inclusive no Brasil? Quem não deseja visitar, ao menos uma vez, Aparecida, a casa de nossa Mãe Maria? Ou o santuário do Bom Jesus da Lapa, ou de São Francisco de Canindé? Mas há um santuário ainda mais belo, que é o nosso coração, local onde Jesus nos espera. Devemos cuidar de nosso corpo como se cuida de um santuário, de um castelo habitado por todo o ministério trinitário. “Não sabeis que sois o templo vivo do Espírito Santo?” Felizes os que encontram em si mesmos o Senhor. O salmista recusa-se corajosamente a habitar nas casas dos pecadores, preferindo permanecer no limiar da porta do santuário. Somente no Senhor encontramos refúgio e segurança.

Senhor, como é bela esta oração do Salmo. Quero fazê-la minha, sinto que todo o meu ser deseja estar na tua casa, pois só nela me sinto feliz e protegido diante de tantos ataques do mal que, às vezes, me rodeiam de todos os lados. Não quero nunca me comprometer com o mal, quero ser morador do teu templo santo. Só te peço uma coisa: viver todos os dias da minha vida ao teu serviço e ao serviço dos meus irmãos e irmãs, verdadeiros templos onde tu moras. Às vezes o pecado nos desfigura e nos torna um templo que não é digno de ti; restaura-nos com a tua graça, purifica-nos pelo sangue de Cristo e pela força dos sacramentos, para que possamos nos tornar templos dignos de tua presença. Afasta de nós todo pecado e dá-nos a tua graça. Que os meus olhos estejam sempre fixos no templo que é Cristo Jesus e no templo celeste ao qual caminhamos com pressa, onde só haverá a santa liturgia de louvor e de glória. Senhor, eu te peço, que eu saiba viver com confiança o meu dia, sabendo que tu me sustentas com o teu amor, que nunca o afã das coisas sufoque em mim a verdade e a honestidade. Que o meu agir seja de pobre, mas honesto; de pobre, mas reto e justo contigo, comigo mesmo e com os outros. Amém.

 

 

 

MEDITATIO: O mal é tão evidente e suas consequências nefastas nos afetam, de tal modo, que nasce em nós, de uma maneira espontânea, a rebelião. Constatar a impossibilidade de defender-nos dele nos faz gritar: não poderia Deus erradicar o mal, de uma vez por todas, eliminando o sofrimento provocado pelas enfermidades, e também pela prepotência, pelo egoísmo de tantos…? Não poderia morrer o que faz tanto dano e semeia dor, evitando a morte injusta de tantos? Estas perguntas brotam da dor e do sentido de impotência que nos faz experimentar o mal. Deus não parece responder, do mesmo modo que também não deu uma resposta imedia­ta ao grito de Jesus crucificado, mas «três dias depois» com a ressurreição. O mistério do mal nos faz refle­tir sobre a paciência de Deus, uma paciência incômoda para o que padece, vendo sofrer a seus filhos, ainda que tampouco pode diminuir o dom maior que nos tem feito: a liberdade. Por nossa parte, temos de perguntar-nos como usamos essa liberdade: se a pomos a serviço do bem ou do mal. Não é possível chegar a um compromisso, e quando chegue o momento de encontrar-nos, cara a cara, com Deus, se revelará, a todos, a opção que tenhamos tomado. Não há de servir-nos de máscara uma religiosidade que se limita a práticas exteriores, porém sem que o coração se implique nela. A pergunta que mais tem que ver conosco, então, não é tanto: «Por que existe o mal?»; mas: «Que faço para fazer crescer o bem?».

 

ORATIO: Tua paciência, Deus meu, tem algo de incompreensível. Com o coração sempre disposto a apontar a viga no olho alheio, ainda­ que incapaz de aceitar tirar a palha do meu, não te compreendo. Talvez porque sinto, e com razão, que me propões fazer o mesmo. Suplico-te, pois sei que não sou capaz de ter esta paciência. Faz, Senhor, por meio de teu Espírito, que eu com­preenda que o que conta de verdade é que o bem se difunda, cresça, vigore. Fazer o bem é mais que uma intenção piedosa: ajuda-me, Senhor, a melhorar a qualidade de minhas relações, a fazer transparentes minhas ações e sincera minha profissão de fé. Senhor, que eu te louve com minha própria vida.

 

CONTEMPLATIO:  Voltai ao Senhor, vosso Deus, de quem vos afastaste pelo mal que fizeste e não desesperes nunca do per­dão pela gravidade das culpas, pois a infinita mi­sericórdia as cancelará todas, por mais graves que sejam. O Senhor é, de fato, bom e misericordioso. Prefere a penitencia à morte do pecador. É paciente e rico em compaixão e não imita a impaciência dos homens; mais ainda, espera por muito tempo nossa conversão. Está plenamente disposto a perdoar e a arrepender-se da sentença condenatória que havia preparado para nossos pecados. Se nos arrependemos do mal que fizemos, também ele se arrependerá da decisão de castigo que havia adotado e do mal com que nos havia ameaçado. Se mudarmos de vida, também ele mudará a sentença que havia predisposto. Quando dizíamos que nos havia ameaçado com o mal, não nos referíamos, certamente, a um mal moral, mas a uma pena devida justamente a quem tem faltado. Após o Senhor nos tenha concedido sua benção e tenha perdoado nossos pecados, poderemos oferecer nossos sacrifícios a Deus (São Jerônimo).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Se alguém vive em Cristo, é uma nova criatura» (2Cor 5,17)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL A qualidade essencial para viver em comunidade é a paciência: reconhecer que nós mesmos, os outros e toda a comunidade necessitamos tempo para crescer. Nada se faz em um só dia. Para viver em comunidade é preciso saber aceitar o tempo e amá-lo como a um amigo. É terrível ver alguns jovens entusiastas que tinham como ideal compartilhar com os outros e levar uma vida comunitária, perder, em uns quantos anos, as ilusões, sentir-se feridos, tornar-se irônicos, depois de perder todo o gosto por entregar-se, e ficar encerrados em movimentos políticos ou nas ilusões da psicanálise. Isso não quer dizer que a política ou a psicanálise careçam de importância. Mas é triste que algumas pessoas se fechem porque se sentiram desiludidas ou porque não puderam aceitar seus limites. Há falsos profetas entre os que vivem em comunidade. Esses tais atraem e estimulam os entusiasmos, porém por falta de sensatez ou por orgulho levam os jovens à desilusão. O mundo comunitário está cheio de ilusões, e nem sempre é fácil distinguir o verdadeiro do falso, sentir se crescerá o bom grão ou se vencerão as más ervas. Se pensais em fundar comunidades, rodeai-vos de mulheres e de homens sensatos, que saibam discernir. Peço perdão a todos aqueles que vieram a minha comunidade ou a nossas comunidades da Arca cheios de entusiasmo e se sentiram desiludidos por nossa falta de abertura, por nossos bloqueios, por nossa falta de verdade e por nosso orgulho (J. Vanier, La comunità, luogo Del perdono e della festa, Milán 1980)..

 

 

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