LECTIO DIVINA NA 13ª SEMANA COMUM
__LECTIO DIVINA NA 13ª SEMANA COMUM ANO 2020
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SEGUNDA-FEIRA, 29 DE JUNHO DE 2020-
Mateus 8,18-22 (Exigência da vocação apostólica) A passagem do Evangelho de hoje se abre com a ordem de Jesus de “que partissem à outra margem”. Sem dúvida, a execução da ordem está interrompida por dois episódios que faltam no Evangelho de Marcos e que estão colocados em outro lugar no evangelho de Lucas. Ambos ilustram as condições requeridas para seguir a Jesus, as exigências da fé. A possibilidade do seguimento deve assumir o sofrimento, as adversidades e a paixão como passo obrigatório. A frase “as raposas têm suas tocas e os pássaros do céu ninhos, porém o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” está constituída segundo o uso oriental de fazer seguir uma imagem negativa a duas positivas: o termo “Filho do homem”, que tampouco tem um significado unívoco, indica aqui a precariedade de Jesus, seu carecer de casa e de raízes, de referência e de refúgio. A contraposição entre Jesus e os “mortos” expressa de maneira adequada à ruptura que “o que vive” insere na trama da experiência do homem. Aquele que é a “Vida” indica o “Caminho”. Não ter onde reclinar a cabeça (para dormir ou para morrer) é a condição para restituir sua verdade à vida.
Amós 2,6-10.13-16 (Judá; Israel) Com o mais típico procedimento da sabedoria, ou seja, por sucessão numérica progressiva do três e o quatro, que serve para indicar a medida transbordante do delito, aparece solenemente em Amós o “julgamento contra a nação” de Israel. Um procedimento que teve grande acolhida na literatura profética posterior. Aqui, a denúncia do pecado lhe segue a recordação dos benefícios divinos e, por último, a ameaça do castigo. O pecado constitui a alteração das relações de justiça e de respeito entre os homens, à substituição das pessoas por coisas, a opressão do pobre, a perda da dignidade nas relações. A profecia não pode deixar de recordar tudo que Deus havia garantido a Israel, dando-lhe este último as costas. Agora chama Deus a atenção sobre a vaidade do fechamento de Israel; ninguém poderá resistir por seus próprios méritos se, se subtraiu a relação com Deus, uma relação que se afiançará no dia estabelecido. O pedido de perdão pela infidelidade do povo atravessa a denúncia do salmo conexo, que se encerra aludindo à feliz relação entre Deus (que mostra a salvação) e o homem que honra a Deus (seguindo pelo caminho reto).
Salmo 49/50, 16-23 (Para o culto em espírito) Este Salmo tem o sabor de um exame de consciência violento, daqueles que nos obriga a parar e a olhar dentro de nós para vermos se ali existe o bem ou o mal. Deus sabe elogiar o homem quando ele faz o bem, mas também sabe condená-lo quando faz o mal. Deus sabe elogiar o homem quando ele faz o bem, mas também sabe condená-lo quando faz o mal. O mesmo fazem os seus profetas. Deus nos mostra o mal para que possamos nos converter e tomar resoluções novas de uma vida santa. Deus não critica os louvores que lhe são oferecidos, exceto quando a nossa atitude de louvá-lo não condiz com a nossa vida cheia de pecados. De que serve sermos religiosos, frequentarmos a Igreja, se negamos tudo isso diariamente com as nossas atitudes?
Ó Senhor, dá-me a coerência de vida. Que eu te ofereça sacrifícios e que seja atento aos teus preceitos, mas nunca permita que a minha vida renegue a minha fé. Dá-me força de ser fiel, e que a minha felicidade seja a melhor pregação e a melhor evangelização. Palavras nada servem se não forem comprovadas e consagradas pelos atos. Amém.
MEDITATIO: Profeta é quem deixa um novo espaço para a Palavra de Deus, quem permite que Deus possa voltar a falar, fazer-se ouvir ainda, chegar a ser de novo significativo. Esta palavra, que é palavra de liberdade e de amor, é também, por necessidade, uma palavra exigente. Posto que o homem esquece os benefícios de Deus, sua libertação, os cuidados que lhe tem dispensado, e prefere celebrar o ódio, a injustiça, o abuso. Ante a declaração “Eu vos tirei do Egito”, os homens oscilam entre dois excessos: “Antes estávamos melhor”, ou bem: “Sempre fomos livres”. A infidelidade à liberdade recebida como dom se parece muito à facilidade (quase à maneira “simplória”) com que se pensa a possibilidade da fidelidade. Seguir a nosso Mestre por onde Ele vá, como pretendia o mestre da Lei, significa alcançar arduamente o que se requer para o Reino de Deus. Mas, esse empenho, oferecido de maneira gratuita e assumido de maneira responsável, é a liberdade da fé, a gratuidade da obediência, a ressurreição através da cruz.
ORATIO: Ó Deus, que libertaste a teu povo e lhe deste o gosto da liberdade, és eterno porque nunca nos falta teu amor fiel. No Espírito de teu Filho unigênito, Jesus, que nasceu, viveu e morreu por nós, sancionas tua fidelidade não só para todos os tempos e todos os homens, mas tomaste também sobre ti o compromisso de tua indefectível companhia no trabalho de nossa resposta, fazendo leve nossa carga. Ó Senhor, tua graça nos surpreende, e unida à resposta obediente de teu servo Jesus, que, no Espírito, foi outorgada a todo cristão: ambas, unidas, iluminam a escuridão de nossa infidelidade, convertem as angústias de nossa insensibilidade e nos põe após os passos do Ressuscitado, com o justo desprendimento de tudo aquilo que há podido distrair-nos de seu seguimento.
CONTEMPLATIO: Senhor meu Deus, ensina meu coração onde e como buscar-te, e onde e como encontrar-te. Senhor, se tu não estás aqui, onde te buscarei ausente? E se estás em todas as partes, por que nunca te vejo presente? […]. Olha, Senhor meu Deus, escuta-nos, ilumina-nos, mostra-te a nós. Volta a dar-te a nós para que estejamos bem: sem ti estamos mal. Tem piedade de nossas fadigas, de nossos esforços para contigo: sem ti não valemos nada. Ensina-me a buscar-te e mostra-te quando te busco: não posso buscar-te se não me ensinas, nem encontrar-te se tu não te mostras. Que eu te busque desejando-te e te deseje buscando-te, que te encontre amando-te e te ame encontrando-te (Anselmo de Canterbury).
AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:
“O Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8,20b)
PARA A LEITURA ESPIRITUAL Como o homem poderia chegar a dar-se conta do mal e como poderia chegar a tomar a sério, com toda sua gravidade, seu pecado e o dos demais, por muito claro que possa estar ente seus olhos? […]. A resposta está na cruz. O peso do pecado, a atrocidade da corrupção humana, a profundidade do abismo em que vai a precipitar-se o homem que faz o mal, podem medir-se pelo fato de que o amor de Deus há podido e querido responder ao pecado, superá-lo e eliminá-lo, e salvar assim ao homem, só entregando-se a si mesmo em Jesus Cristo, sacrificando-se para executar o juízo sobre o homem fazendo-se julgar em seu lugar e deixando que morra em sua pessoa o homem velho do pecado. Só quando se tem compreendido isto, quer dizer, quando se tem compreendido que Deus nos reconciliou consigo a preço de si mesmo, na pessoa do Filho, só então deixa de haver lugar para a confortável ligeireza que quisera ver nossa maldade limitada por nossa bondade (K. Barth, Dogmatica ecclesiale, Belonia 1980).
TERÇA-FEIRA, 30 DE JUNHO DE 2020-
Mateus 8,23-27 (A tempestade acalmada) A Igreja é uma barca em meio da tempestade enquanto Jesus dorme. A experiência do abandono do Senhor – da Igreja que abandona seu Jesus e de Jesus que abandona sua Igreja – marca até o fundo esta página evangélica. Rogar ao Senhor, aproximar-se dele e despertá-lo (“Desperta, Senhor; por que dormes?», cf Sl 44,24) e implorar-lhe: «Senhor; salva-nos, que estamos perecendo», significa: (a) voltar a encontrar a nós mesmos, como crentes, como fieis, como discípulos, e (b) encontrar a Jesus, como Senhor e como Cristo. A tempestade da paixão, o triunfo da morte, dissipam-se ante a presença de quem recompõe, com autoridade, a ordem da graça. De modo diferente aos paralelos de Marcos e de Lucas, sem dúvida, aqui Jesus reprova, aos discípulos, a pouca fé antes de acalmar as ondas. O senhorio de Jesus e a fé dos discípulos se reclamam reciprocamente, ainda que não possa haver, entre eles, uma perfeita reciprocidade. O fato de que Jesus durma indica, ao mesmo tempo, o drama da morte do Filho do homem, que é um desafio para a fé da Igreja, e a serena confiança no Pai por parte daquele que «se fez obediente até a morte e morte de cruz» (Fl 2,8).
Amós 3,1-8;4,11-12 (Eleição e castigo; A vocação profética é irresistível) A aliança entre o Senhor e Israel, que é «saída» e «libertação» do Egito, não pode ser motivo de fuga de seu compromisso para o povo de Israel, que não pode sentir-se com direito a excessos, assegurados por um Deus indiferente ou cúmplice. O Deus de Israel se preocupa com seu povo e o liberta para que se torne semelhante a Ele, a fim de que o imite e o siga. É Pai, não suplente; é protetor, não cúmplice. As sete perguntas retóricas do texto levam a entender a necessidade que tem Deus de falar e o profeta de profetizar. O que se sobressai é, sem dúvida, a verdade da relação de aliança entre o Senhor e seu povo. Este está sujeito à eleição, e não Deus. Deus é fiel a si mesmo, corresponde a si mesmo e, elegendo a Israel, o compromete a assumir uma responsabilidade superior. Por tudo isso, o encontro com seu próprio Senhor é, para Israel, tanto para o antigo como para o novo, sempre maravilhoso e sempre terrível, ao mesmo tempo perturbador e apaixonante.
Salmo 5 (Oração da manhã) Deus é o Pai dos pobres e dos justos. Diante dele toda a maldade está sempre desmascarada. Somente os que vivem a justiça e praticam a verdade permanecerão de pé diante do Senhor. Não há nada mais emocionante do que deixar-se iluminar pela Palavra de Deus e, por meio dela, orientar-se em todos os momentos. Com ela, entraremos e estaremos sempre na casa de Deus, que é o nosso refúgio e proteção.
Senhor, ajuda-me a fugir de toda a maldade. Dá-me a graça de viver na tua presença e na tua casa. Que eu nunca me afaste de ti e que, cheio de amor, possa me prostrar diante de ti, permanecendo em adoração da tua vontade mesmo quando ela se manifesta de maneira difícil em minha vida. Amém.
MEDITATIO: As esplêndidas perguntas com que está tecida a passagem tomada do livro de Amós conduzem, idealmente desde a sabedoria à profecia, desde a observação atenta da realidade natural à irrupção de uma palavra e de uma ação que expressam seu sentido e verdade. Ao final, a profecia, a necessidade de profetizar, aparece como uma nova evidencia, como uma impelente necessidade para Israel: «Fala o Senhor: quem não profetizará?». A Palavra de Deus e a do homem, a do Senhor do céu e da terra e a do pastor-profeta, chegam de imediato a um acordo: o mesmo acordo que se tornou acessível a cada homem em Jesus. O novo Israel, a Igreja gerada também pelo Espírito de Cristo, não pode dormir, não pode morrer; Está confusa e desconcertada pelo silencio profundo desde o que seu Senhor faz subir sua Palavra autorizada e seu gesto resolutório. A fé que falta à Igreja é a confiança em seu Senhor, a mesma confiança que o sono de Jesus anuncia dramática e serenamente.
ORATIO: Ó Senhor, tu foste capaz de dormir, foste capaz de morrer. Ensina-nos a descobrir em tua obediência o segredo de nossa liberdade, em tua morte o segredo de nossa vida, em teu sono o mistério de nossa vigilância. Ó Espírito do Ressuscitado, ajuda-nos a prestar ouvido à voz da profecia que se eleva desde os lugares mais inesperados da terra, desde o mar, desde o céu; estes lugares repetem inconscientes as notas mais profundas de tua indefectível solicitude. Ó Pai de todos nós, concede-nos uma palavra firme nas incertezas e um olhar clarividente entre as ondas, a fim de que a autoridade de teu Filho possa fazer-se presente no Espírito, que visita e anima sempre a tua Igreja.
CONTEMPLATIO: Portanto, também o sono de Cristo é sinal de algum mistério. Os navegantes são as almas que passam este mundo em um madeiro. Também a aquela embarcação figurava à Igreja. Cada um, de fato, é templo de Deus e cada um navega em seu coração. Se seus pensamentos são retos, não naufragará. Ouviste uma afronta, eis ai o vento. Ficaste irritado, eis ai a agitação. Soprando o vento e encrespando-se a agitação, se acha em perigo a embarcação, periga teu coração, flutua teu coração. Ouvida a afronta, desejas vingar-te. Vingaste e, cedendo à injuria alheia, naufragaste. Qual é a causa? Porque dorme em ti Cristo. Que significa: dorme em ti Cristo? Esqueceste-te de Cristo. Desperta, pois, a Cristo, recorda-te dele, esteja desperto em ti: pensa nele (Santo Agostinho, Sermão 63).
AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:
«Fala o Senhor: quem não profetizará?» (Am 3,8b)
PARA A LEITURA ESPIRITUAL Consideremos a insônia […]. A insônia se caracteriza pela consciência de que esta situação não acabará nunca, isto é, que não existe nenhum meio para sair da vigilância à que estamos obrigados. Vigilância sem objetivo […]. Contudo, é preciso que nos perguntemos se a consciência se deixa definir pela vigilância, se a consciência não é, melhor dizendo, a possibilidade de subtrair-nos à vigilância; se o sentido próprio da consciência nãoo consiste, talvez, em ser uma vigilância posta ao abrigo de uma possibilidade de dormir; se o particular modo de ser do eu não consiste no poder de sair da situação da vigilância impessoal. A consciência participa já, com efeito, na vigilância. Sem dúvida, o que a caracteriza de modo particular é o fato de reservar-se sempre a possibilidade de retirar-se «atrás», para dormir. A consciência é o poder de dormir. Nesta fuga plena consiste, em certo sentido, a paradoxal mesma da consciência (E. Lévinas, El tiempo y el otro).
QUARTA-FEIRA, 01 DE JULHO DE 2020-
Mateus 8,28-34 (Os endemoninhados gadarenos) A impossibilidade de chegar a Deus por causa da oposição por parte das forças do mal encontram em Jesus um “novo caminho”. A imagem dos “sepulcros”, a força de Jesus a respeito dos demônios e sua “debilidade”, quase dócil a respeito dos homens, convertem esta cena em claro reflexo de uma meditação sobre a paixão, com todos os claros-escuros do poder de Cristo Senhor, assim como da dura e espantosa rejeição por parte dos homens. Singularmente eficaz é a reação de rejeição da multidão, de “toda a cidade”, que o afasta de seu próprio território. A expressão “antes do tempo” expressa de maneira adequada esta relação entre a cena e a paixão (o tempo do cumprimento), quando Jesus – ainda que expulso fora do território da cidade Santa – vencerá sobre a força negativa da morte, sobre a dispersão da Igreja, e conseguirá abrir o passo para “passar por aquele caminho”. Ele é o Senhor, a quem “foi dado todo o poder na terra” (Mt 28,18), ainda que apareça como tal só no mistério insondável da cruz.
Amós 5,14-15.21-24 (Admoestações) O texto de hoje põe em primeiro plano a tensão entre justiça e culto. A aliança entre Deus e seu povo requer uma resposta adequada e responsável por parte de Israel. “Buscai o bem e não o mal”: este imperativo de justiça, destinado a viver em companhia do Senhor, não é em absoluto contraditório com respeito aos atos de culto, aos holocaustos, às oferendas. Agora bem, dado que são estes por excelência os âmbitos da celebração da relação com Deus, não podem deixar de ter em modo algum, relação com sua verdade. Mais ainda, se transformam de imediato em mentira e em hipocrisia, e o faz muito mais que qualquer outro dos atos do homem, que são por si sempre ambíguos. O culto, precisamente por sua falta de ambiguidade estrutural está submetido a um risco muito maior. Detestar, não aceitar, apartar o culto oferecido por Israel, é o único meio de que dispõe o Senhor para voltar a levar Israel à correlação originária entre culto e justiça, entre sacrifício e misericórdia, não a sua contraposição.
Sl 49/50, 7-13.16-17.23 (Para o culto em espírito) Este Salmo tem o sabor de um exame de consciência violento, daqueles que nos obriga a parar e a olhar dentro de nós para vermos se ali existe o bem ou o mal. Deus sabe elogiar o homem quando ele faz o bem, mas também sabe condená-lo quando faz o mal. Deus sabe elogiar o homem quando ele faz o bem, mas também sabe condená-lo quando faz o mal. O mesmo fazem os seus profetas. Deus nos mostra o mal para que possamos nos converter e tomar resoluções novas de uma vida santa. Deus não critica os louvores que lhe são oferecidos, exceto quando a nossa atitude de louvá-lo não condiz com a nossa vida cheia de pecados. De que serve sermos religiosos, frequentarmos a Igreja, se negamos tudo isso diariamente com as nossas atitudes?
Senhor, dá-me a coerência de vida. Que eu te ofereça sacrifícios e seja atento aos teus preceitos, mas nunca permita que minha vida renegue minha fé. Dá-me a força de ser fiel e que minha felicidade seja a melhor pregação e evangelização. Palavras nada servem se não são comprovadas e consagradas pelos atos. Amém.
MEDITATIO: A escuta da Palavra de seu Senhor guia o homem para “buscar o bem e não o mal”. A obra do homem responde à Palavra de Deus. Agora bem, tais correspondências se tornam arriscadas quando estão inscritas na ação do homem. O ato de culto, a festa, o holocausto, o sacrifício, o dom, se tornam então detestáveis e merecem a rejeição. Quando perdem a correspondência com Deus e se convertem em auto segurança para o homem, até as melhores expressões da religião perdem sua alma. O discorrer o direito e a justiça como água e “como rio inesgotável” constitui a figura da libertação do homem à qual se refere os atos do culto. O cristão tem seu novo culto “no Senhor Jesus”, em seu corpo e em seu sangue, no sacrifício puro de seu cumprimento da vontade do Pai, que os homens não compreendem e rejeitam.
ORATIO: Senhor, tu que livraste o homem endemoninhado do pecado realizando a perfeita obediência através da qual conhecemos o bem e o mal, guia-nos pelos caminhos da justiça, prossegue mostrando-nos a verdadeira misericórdia e livra-nos da hipocrisia. Ó Pai, se temos sido capazes de virar as costas às tuas palavras, se temos nos agitado inutilmente com o estrondo de nossos cantos, se temos chegado a rejeitar teu Filho distante de nosso território, perdoa nossa culpa e dirigi-nos tua Palavra de verdade. Envia teu Espírito para que ilumine nossa oração, inspire nosso agradecimento e nosso culto, a fim de que sejam capazes de converter-se em “cume e fonte” de uma vida de justiça e paz inspirada por ti.
CONTEMPLATIO: O Senhor Jesus, por ter-se feito carne, abriu nossa carne à esperança. Porque tomou o que já conhecíamos nesta terra, onde tanto abunda: o nascer e o morrer. Abundava isso: o nascer e o morrer; o ressuscitar e viver eternamente não havia aqui. Encontrou aqui torpes mercadorias terrestres, e trouxe consigo os peregrinos gêneros celestes. Agora, se o morrer te causa espanto ama a ressurreição. Fez de sua tribulação socorro para ti, pois tua saúde não valia nada. Aprendamos, portanto, irmãos, a conhecer e amar essa saúde, que não é deste mundo, quer dizer, a saúde eterna, e vivamos neste mundo como peregrinos (Santo Agostinho).
AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:
“Buscai o bem e não o mal, para que vivais” (Am 5,14ª)
PARA A LEITURA ESPIRITUAL A questão de saber que é o cristianismo e quem é Cristo para nós hoje me preocupa constantemente. O tempo em que se podia dizer tudo aos homens, por meio de palavras teológicas ou piedosas, passou, e mesmo o tempo da espiritualidade e da consciência, quer dizer, o tempo da religião em geral. Vivemos uma época totalmente irreligiosa; os homens, tal como são, simplesmente já não podem seguir sendo religiosos; inclusive os que se declaram honestamente religiosos não praticam em modo algum sua religião; por conseguinte, é provável que entendam o término em um sentido completamente diferente. Se a religião é só uma veste do cristianismo – e esta veste há assumido também aspectos muito distintos em diferentes tempos – que será um cristianismo não religioso? Que significado tem o culto e a oração na irreligiosidade? Adquire talvez uma nova importância neste ponto à disciplina do arcano ou, bem, a distinção entre penúltimo e último? Devemos restabelecer uma disciplina do arcano que proteja da profanação os mistérios da fé cristã. (Dietrich Bonhoeffer, Resistenza e resa, Cinisello B. 1988)
QUINTA-FEIRA, 02 DE JULHO DE 2020-
Mateus 9,1-8 (Cura de um paralitico) A admiração da multidão, que dá glória a Deus por ter “dado tal poder aos homens”, encerra de maneira significativa este episódio da cura do paralitico. Nele, a ação de Jesus tem que ser vista de modo radical com o pecado e com a cura do homem e nesta dimensão se encontra a Igreja a si mesma. Agora bem, a tensão entre a autoridade de Jesus e a reação dos homens segue sendo muito aguda: como ao longo do Evangelho, a incompreensão e a rejeição se tornam tanto mais profundas e obtusas quanto maior se apresenta a divergência entre Jesus e os investidos de “autoridade”. A acusação de blasfêmia, que começa a filtra-se explicitamente nas reações dos mestres da Lei, antecipa o juízo inapelável que levará Jesus à cruz. A reconciliação e o perdão, no choque entre o poder do pecado e a vida recuperada em sua plenitude, são, ao mesmo tempo, glória de Deus e pedra de tropeço para o homem.
Amós 7,10-17 (Conflito com Amasias. Amós expulso de Betel) A persuasão de ter a Deus de sua parte comporta imediatamente, no caso de Israel, uma grande dificuldade para tomar a sério as palavras do profeta. O choque, entre o sacerdote Amasias e o profeta Amós, que alcança com grande probabilidade à dura experiência histórica de Amós, documenta também, não obstante, a redução da função profética de Amós no “dossiê” que Amasias apresenta a Jeroboão: o profeta aparece nele como alguém que “atenta” contra a casa real e a instalação do povo em sua própria terra. Não dedica sequer uma palavra ao verdadeiro fundamento das ameaças, ou a denúncia do pecado e à exigência da conversão. Frente a esta ação de ilegitimidade e de intento de proscrição, responde Amós com o testemunho de uma identidade transformada e querida por Deus. De vaqueiro e cultivador de figueiras, quis Deus torná-lo em profeta, quer dizer, que da voz a sua Palavra. Por isso o tomou e lhe “fez deixar o rebanho” para que profetizasse do mesmo modo que havia feito com Davi, “detrás das ovelhas” (2 Sm 7,8). A identidade do profeta deriva, portanto, do senhorio absoluto de Deus, de seu poder; que tem transformado sua vida e imposto uma tarefa. O que o sacerdote havia referido ao rei como cargos contra o profeta o repete este como “castigo de Deus” e afirmação do senhorio de Deus.
Salmo 18/19,8-11 (Iahweh, sol de justiça) Quais os princípios que nos orientam? Se eles forem pecaminosos, toda a nossa vida será injusta; mas se eles forem justos, o nosso agir será reto. Os Salmos nos convidam a ter nossas vidas coerentes com a Palavra. A doçura da Palavra de Deus sacia o nosso coração. Que a nossa boca não fale mentira, que o nosso falar seja reto e honesto.
Senhor, preserva-me do orgulho de ser santo e melhor que os outros. Que eu sempre tenha no coração a humildade. Se faço o bem, é por ti; se fujo do mal, é pela tua bondade. Nada sem ti podemos fazer. Contemplar e fazer o bem são os maiores desejos que temos dentro de nós. O bem está presente em todas as pessoas, portanto dá-me olho para enxergá-lo e coração para amá-lo. Amém.
MEDITATIO: A palavra do juízo e a palavra de reconciliação e de perdão soam hoje de uma maneira surpreendentemente dissonante. Contudo, existe uma incontestável continuidade entre a terrível profecia de Amós sobre Jeroboão e o que disse Jesus ao paralitico. Na leitura do livro de Amós se intercambiam duras palavras o sacerdote, o rei e o profeta. Agora bem, detrás dessas palavras se vislumbram o duro caminho pelo qual se pode filtrar a Palavra de Deus. A reconciliação de Deus com seu povo está assegurada por uma Palavra que, como uma espada de duplo fio, divide e purifica. Em Jesus, sacerdote, profeta e rei, realiza-se a reconciliação de Israel, uma reconciliação que se estende a todos os homens. O perdão do pecado, realizado de uma maneira plástica pelo levantamento do paralitico, expressa o poder do Filho do homem na terra, que inaugura uma nova criatura, um novo povo, novos céus e uma nova terra.
ORATIO: Talvez, Senhor, tua Palavra seja muito forte, muito pura, para que nosso coração possa resistir frente a ela. Talvez, oh! Jesus, teu amor pelo homem seja muito grande para que possamos fazer-nos verdadeiramente capazes dele. Talvez, oh! Pai, tua misericórdia siga parecendo-nos só debilidade e teu juízo se apresente a nossos olhos como demasiado duro. Oh! Deus, envia teu Espírito para que assista a nossa escuta, afim de que sejamos capazes de dar-nos conta da responsabilidade que temos em teu juízo e de nossa fragilidade em teu perdão: assim encontraremos sempre as palavras com as quais te dar graças e louvar-te pelas bênçãos que continuamente nos reservas.
CONTEMPLATIO: Minha alma bendiz ao Senhor. Diz à tua alma: ainda estás nesta vida, ainda levas sobre ti uma carne frágil e um corpo corruptível que a traz para o solo; ainda que, pese à integridade da remissão, recebeste o remédio da oração… No entanto curam bem tuas debilidades: Perdoa-nos nossas dívidas. Dize, pois, a tua alma, vale humilde, não colina erguida; dize a tua alma: Bendize minha alma, ao Senhor Jesus Cristo e não queira esquecer nenhum de seus favores. Que favores? Di-los, enumera-os e agradece-os. Ele perdoa todos os teus pecados. Isto aconteceu no Sacramento do Batismo. E agora? Ele cura todas tuas enfermidades. Isto agora o reconheço. (Santo Agostinho).
AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:
“Animo, filho, teus pecados estão perdoados” (Mt 9,2b)
PARA A LEITURA ESPIRITUAL O tempo de Deus não é o nosso. Tu não podes contar a Deus os anos e os dias; Deus é fiel. Posso perceber os sinais deste dia como sentinelas postos durante a noite anseiam os sinais da aurora […]. Esta graça tem um preço muito elevado, não é uma graça barata. Requer esvaziamentos e abandonos, requer que respondamos de modo franco à pergunta que emergiu na cultura mais recente: “Não serei talvez, pelo fato de ser, um assassino?” Ou seja, se me isolo em meu eu, convertendo meu próprio ser no bem absoluto e no centro de tudo, não suscito, assim, o ressentimento do outro, que se põe ante mim como inimigo? Pensai no que disse frei Cristóbal a Lorenzo ante o leito tosco de Don Rodrigo, que morre no leprosário: Talvez a salvação deste homem e a tua dependam agora de ti, de um sentimento teu de perdão, de compaixão… de amor. Compreendeis? Amar ao que lhe havia arruinado a vida (I.Mancini,Ter follie, Milán).
SÁBADO, 04 DE JULHO DE 2020
Mateus 9,14-17(Discussão dobre o jejum) Também neste texto Mateus trata a relação de Jesus com o pecado e a reconciliação. No centro, como no texto precedente, se encontra o ato da refeição, não já considerado como âmbito de relação, mas enquanto tal, enquanto possível ato de renúncia, de sacrifício e tristeza. Na realidade, o eixo do Evangelho de hoje é a relação entre o novo e o velho, que havia caracterizado já ao Evangelho de Mateus no extenso “sermão do monte”. O jejum não enquadra com a presença do esposo no meio da comunidade. Jesus é o esposo, o ressuscitado, presente no meio da Igreja “até o fim do mundo”. O jejum experimenta, assim, para o cristão, graças também a estas expressões, grande transformação: de expressão de luto se converte em manifestação da expectativa confiada pelo retorno do Senhor. O cristianismo celebra realmente a morte do próprio Senhor ressuscitado cada vez que come e bebe o pão e o vinho: não é o jejum, mas a refeição o que permite e simboliza a memória da cruz, vitória sobre o pecado e dom de salvação.
Amós 9,11-15 (Perspectivas de restauração e de fecundidade paradisíaca) O livro se encerra com estes versículos carregados de esperança e promessas, muito diferentes do tom áspero e severo do resto do livro. Deus agracia, perdoa e resgata a Israel; prepara um dia que será de plena reconciliação, de verdadeira paz, de profunda harmonia. A restauração de Israel assume assim traços indubitavelmente messiânicos, com imagens do mundo agrícola, de arraigo na terra e de permanente residência nela. Comer e beber em paz na própria terra: esta é a imagem do futuro reconciliado de Israel; a ideia do retorno e da impossibilidade de qualquer “desarraigo” ulterior reafirmam ao final a graça, a fidelidade e a misericórdia infinita de Deus.
Sl 84/85 (Oração pela paz e pela justiça) Hino de louvor que brota do coração de um povo que se vê livre da opressão e do sofrimento. Atualmente, acreditamos mais na ciência e na medicina que no poder de Deus. Esquecemo-nos que foi o Senhor que criou a medicina, assim como os médicos que operam e aos quais recorremos com frequência. Com o auxílio da medicina, devemos confiar no Senhor. Deus não é inimigo da ciência; ambos caminham juntos, mas Ele é fonte única de todo saber. Do mesmo modo devem caminhar a verdade e a justiça: uma deve caminhar ao lado da outra. A verdade não existe sem que a procuremos com amor e insistência, e Deus se revela aos que incansavelmente o procuram. Mesmo em situações difíceis, na dor, sofrimento e perante a justiça, é preciso esperar que sementes da verdade brotem em nossos desertos áridos e sem vida. Todo desejo de verdade e amor encontra a sua resposta plena e total na pessoa de Cristo.
Senhor, quero assumir hoje o compromisso de buscar sempre a verdade, que está escondida em Cristo e que passa sempre através da cruz, da morte e resplandece na ressurreição. A verdade veio habitar entre nós, fez sua morada entre nós, mas nossos olhos não souberam reconhecer e a nossa inteligência se fecha à luz e ao amor. Vivemos, Senhor, num tempo de espera paciente em que a verdade, a misericórdia e a justiça devem florescer na humanidade sedenta de amor, mas que, em razão de tantos falsos profetas, percorrem caminhos obscuros que levam à morte e não à vida. Ajuda-me, Senhor, a recusar corajosamente toda cultura da morte, seja qual for: morte física, espiritual ou intelectual. Que eu busque somente defender a vida. A Virgem Maria nos ensina a abrir-nos à verdade e dizer no nosso dia a dia o sim que motiva continuamente a presença de Cristo Jesus entre nós. Somos luz no Senhor… “Outrora éreis trevas, mas agora sóis luz no Senhor. Procedei como filhos da luz. E o fruto da luz é toda espécie de bondade e de justiça e de verdade” (Ef 5,8-9).
MEDITATIO: A restauração de Israel e as bodas de Cristo com a Igreja estão intimamente relacionadas com a Eucaristia, como contexto no qual é proclamada a leitura. A expectativa de Israel se cumpre no mistério pascal do Filho de Deus. O jejum, como tensão para o banquete do final dos tempos, já é plenamente possível, já foi autorizado, ainda que só como memória da morte do Senhor. O crucificado ressuscitou, porém o Ressuscitado segue sendo o Crucificado, com suas chagas. O âmbito para um jejum cristão já não é o da expectativa de um acontecimento absolutamente novo: esse acontecimento já está dentro da história. O jejum cristão orienta à vigilância, à paciência, à reserva histórica, ao “ainda não” daquele “já” que foi afirmado, de uma vez por todas, na cruz de Cristo.
ORATIO: Ó Senhor, ensina-nos o jejum festivo, mostra-nos a alegria do luto, guia-nos à vida através da morte. Ó Deus, se com a paixão de teu Filho assumiste todo nosso sofrimento, se na ressurreição de Jesus resgataste todo nosso morrer, conduz cada um de teus filhos ao encontro com o Esposo, que está sempre presente em tua Igreja, templo de seu Espírito e esposa daquele que é ontem, hoje e sempre. Pedimos-te sem descanso: “Vem sempre, Senhor!”
CONTEMPLATIO: Os discípulos de João tinham um bom mestre. Um mestre que havia sido o precursor destinado a preparar os caminhos do Senhor, agora bem, posto que, ignoravam o mistério da encarnação do Senhor, não podiam saber a razão de que não fosse oportuno que os apóstolos jejuassem. O jejum é, certamente, um uso devoto, porém não pode servir ao homem para sua salvação sem o conhecimento da verdade, isto é, sem a fé no nome de Cristo. Por isso jejuavam os discípulos de João e os fariseus não só com o corpo, mas com o ânimo, ignorando o pão celeste que havia vindo para alimentar os corações dos crentes (Cromacio de Aquileya, Comentario a Mateo, 46,1).
AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:
“Podem estar tristes os amigos do noivo enquanto ele está com eles?” (Mt 9,15)
PARA A LEITURA ESPIRITUAL Vem de noite, porém em nosso coração sempre é noite: portanto, vem sempre, Senhor. Vem no silêncio, pois nós já não sabemos que dizer-te: portanto, vem sempre, Senhor. Vem na solidão, porém cada um de nós se encontra cada vez mais sozinho: portanto, vem sempre, Senhor. Vem, filho da paz, pois nós ignoramos que é a paz: portanto, vem sempre, Senhor. Vem libertar-nos, pois nós seguimos sendo cada vez mais escravos: portanto, vem sempre, Senhor. Vem consolar-nos, pois nós estamos cada vez mais tristes: portanto, vem sempre, Senhor. Vem buscar-nos, pois nós andamos cada vez mais perdidos: portanto, vem sempre, Senhor. Vem, já que nos amas ninguém está em comunhão com seu irmão se antes não está contigo, Senhor. Todos nós estamos distantes, perdidos, não sabemos quem somos, nem o que queremos: vem, Senhor. Vem sempre, Senhor. (D. M. Turoldo, “Lungo i fiume…”. I Salmi, Cinisello B).