ENQUANTO FAÇO O CAFÉ: O jovem rico.

Mateus 19,16-22

Se queres ser perfeito…”

Depois de ler em Mateus 19 a novidade do Reino no mundo dos casais e no mundo das crianças, hoje nos encontramos no mundo de um jovem. Mateus é o único em detalhar que se trata de um jovem, deixando entender que se encontra na idade das decisões fundamentais que afetam o resto da vida.

A pergunta do jovem rico (v.16) não tem nada de superficial. Pelo contrário, ele faz a pergunta mais importante que pode fazer um ser humano: Que tenho que fazer para alcançar a plenitude da vida?  Quer dizer, o jovem indaga por um caminho de realização, que em termos da relação com Deus chamamos “salvação”, ou de outra forma –como aqui- “entrar na vida” (v.17b).

Jesus lhe responde inicialmente com duas respostas sutis:

  • “Por que me perguntas acerca do bom? Um só é o Bom” (v.17a) – Não se trata de “fazer algo bom”, mas de “encontrar ao que é bom”. A salvação não está em um “fazer” específico, mas em uma pessoa (se entende aqui que o “bom” é Deus);
  • “Se queres entrar na vida” (v.17b) – É verdade que devemos pensar na “vida eterna”, mas Jesus lhe faz entender que essa vida não está desconectada das opções que se tomem nesta “vida”.

Logo propõe dois caminhos para realizar o propósito traçado:

  • “Guardar os mandamentos” (v.17). O caminho da sintonia com a vontade de Deus manifestada nos mandamentos do Decálogo (Mateus agrega o “amarás a teu próximo como a ti mesmo”);
  • “Se queres ser perfeito… vem e segue-me” (v.21). O caminho do seguimento de sua própria pessoa, que é uma forma concreta de entrar em sintonia com a vontade de Deus e de fazê-lo, como bem relata Mateus, de maneira “perfeita”. O caminho do seguimento de Jesus se põe no mesmo nível de gravidade e exigência dos dois mandamentos.

Quando o jovem lhe assegura que já está no primeiro caminho e pergunta “Que mais me falta?” (19,20), Jesus o convida a empreender o segundo caminho. Este caminho tem como ponto de partida um giro fundamental na vida, com dois movimentos:

  • Um movimento de ida: “Anda”. Em seu “ir” se desprende de todas suas posses de modo irrevogável (“dar aos pobres” indica que nunca as vai recuperar, eles necessitam e gastam imediatamente);
  •  Um movimento de vinda: “Vem”. Já desprendido de tudo, abandona-se completamente em Jesus e põe seus passos em cada uma de suas pegadas no seguimento.

Toda a última parte está introduzida pela frase: “Se queres ser perfeito” (v.21). A proposta de “perfeição” consiste na vivencia do mistério pascal, trata-se de um “morrer” (movimento de ida) para “viver” com Ele (movimento de vinda). Este convite à perfeição nos remete ao capítulo cinco deste evangelho, o sermão da montanha: perfeito é Deus (5,48), cada um vive sua perfeição se encarna as bem-aventuranças e as traduz nas obras pelas quais brilha um filho de Deus Pai (5,16).

Todo discípulo de Jesus leva, em sua existência, a marca profunda deste giro pascal e compreende que só com Jesus, cume da historia da Lei e os Profetas (5,17-19), pode-se entrar na plenitude da vida. O discipulado é a realização deste caminho de salvação. Jesus disse ao jovem “se queres”. Ao final o jovem não quis e saiu triste. Esse é o risco da liberdade.

Aprofundemos com os nossos pais na fé:

São Gregório Magno (540-604 ), Papa e doutor da Igreja

«Terás um tesouro nos céus»

Que ninguém diga, ao ver algumas pessoas deixarem grandes bens: como eu quereria imitar aqueles que se desprendem assim do mundo, mas eu não tenho nada para deixar. Deixais muito, meus irmãos, quando renunciais aos desejos terrestres. Nossos bens exteriores, mesmo sendo pequenos, são suficientes aos olhos do Senhor. Ele olha o coração e não a fortuna.

Não pesa o valor do sacrifício, mas a intenção daquele que oferece… O Reino de Deus não tem preço e, no entanto, custa exatamente o que tu tens… A Pedro e a André custou o abandono duma barca e umas redes; à viúva, duas pequenas moedas; a outro, um copo de água fresca (Mt l0, 42). O Reino de Deus, como disse, custa o que tens. Vede, então, irmão, o que há de mais fácil a adquirir e de mais precioso a possuir? Mas talvez nem tenhas um copo de água fresca a oferecer ao pobre que dela necessita. Mesmo neste caso, a Palavra de Deus pacifica-nos … «Paz na terra aos homens de boa vontade» (Lc 2,14)… Ainda que exteriormente não tenha nada para te oferecer, ó meu Deus, em mim mesmo encontro o

que colocarei sobre o altar para teu louvor. Tu comprazes-te com as ofertas do coração.

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