Estudo Bíblico na 17ª Semana do Tempo Comum ano B 2021

ESTUDO BÍBLICO NA 17ª SEMANA COMUM ANO B 2021

Comunidade Paz e Bem

SEGUNDA-FEIRA

Mateus 13,16-17

 DITOSOS OS OLHOS QUE VÊEM E OS OUVIDOS QUE OUVEM:

“Muitos profetas e justos desejaram ver…, e não viram, ouvir…, e não ouviram.»

Todo o que foi dito nos versículos anteriores explica esta frase final: Ditosos vossos olhos, porque vêem, e vossos ouvidos, porque ouvem! Pois os asseguro que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, porém não o viram, e ouvir o que vós ouvis, porém não o ouviram” (vv.16-17).


Mas, afinal de contas, ver e ouvir o que? Ver a Deus encarnado, na pessoa de seu Filho, e ouvir a novidade de seus ensinamentos.

A novidade dos ensinamentos das parábolas de Jesus:

O povo fica impressionado com a maneira que Jesus tem de ensinar. “Um novo ensinamento! Dado com autoridade! Diferente da dos escribas!” (Mc 7,28).

Jesus tinha uma capacidade muito grande de encontrar imagens bem simples para comparar as coisas de Deus com as coisas da vida que o seu povo conhecia, e experimentava, em sua luta diária para buscar sobreviver. Isto supõe duas coisas:

  • Estar por dentro das coisas da vida da gente;
  • Estar por dentro das coisas de Deus, do Reino de Deus.

Em algumas parábolas acontecem coisas que não costumam ocorrer na vida.

Por exemplo, onde se viu:

  • Um pastor de 100 ovelhas que abandona as 99 para encontrar a única que se perdeu? (Lc 15,4);
  • Um pai que acolhe, com uma festa, o filho que gastou muito mal todos os seus bens, sem dizer-lhe uma palavra de reprovação? (Lc 15,20-24);
  • Um samaritano ser melhor que um levita e um sacerdote? (Lc 10,29-37).

A parábola: (a) Induz-nos a pensar sobre o que quer nos dizer; (b) Leva-nos a entrar na história desde a nossa própria experiência de vida; e (c) Faz com que nossa experiência nos leve a descobrir que Deus está presente no cotidiano de nossa vida tão passageira, tão frágil e tão efêmera.

A parábola é uma forma participativa de ensinar, de educar. Não nos dá tudo pronto em um minuto. Não faz saber, leva a descobrir.

A parábola muda o olhar, faz com que a pessoa seja contemplativa, observadora da realidade. Aqui está à novidade do ensinamento das parábolas de Jesus, distinta do ensinamento dos doutores que ensinavam que Deus se manifestava só na observância da Lei.

Para Jesus, o Reino não é fruto de observância. O Reino não é fruto de qualquer outra coisa. O Reino é. O Reino está presente no meio de nós (cf. Lc 17,21). Porém, os ouvintes nem sempre o percebem.

Por isso: “Felizes os vossos olhos porque vêem…”

“Quando tudo está pacificado, a alma volta à sua essência e a todas as suas faculdades; reconhece-se como imagem real d’Aquele de quem saiu. Os olhos que mergulham até esse nível podem, realmente, ser chamados bem-aventurados, pois vêem. Descobre-se, então, a maravilha das maravilhas, o que há de mais puro, de mais seguro…“ (Jean Tauler, Sermão 53)

E mais: «Muitos profetas e justos desejaram ver o que vós estais vendo…»

Aprofundemos com os nossos pais na fé

“Logo nos primeiros tempos da Igreja, antes do parto da Virgem,

 houve santos que desejaram a vinda de Cristo na sua encarnação.

E no tempo em que estamos, a partir da Ascensão, a mesma Igreja

conta com outros santos que desejam a manifestação de Cristo para julgar os vivos e os mortos.

Este desejo da Igreja não cessou nem por um momento, desde o início até o fim dos tempos, exceto durante o tempo que o Senhor esteve

neste mundo em companhia dos discípulos.

De modo que, adequadamente, se compreende que é todo o Corpo

de Cristo, gemendo nesta vida, que canta no salmo: «A minha alma suspira pela vossa salvação: espero na vossa palavra» (Sl 118,81).

Sua palavra é a promessa; e a esperança permite esperar, com paciência, o que os crentes ainda não vêem”

(Santo Agostinho).

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

Jesus disse: “Eis que a vós foi dado a conhecer os mistérios do Reino dos Céus”.

  1. Quando leio os Evangelhos, sou como os que não entendem nada ou como

aquele a quem foi dado a conhecer o Reino?

  • Qual é a parábola de Jesus com a qual mais me identifico?  Por quê?
  • Que me pede o Senhor em relação ao Evangelho de hoje?

TERÇA-FEIRA

Mt 13,36-43

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NÃO O JUÍZO, MAS A PEDAGOGIA DA CONVERSÃO

“Explica-nos a parábola do joio do campo”

A passagem, na qual Jesus explica a parábola do trigo e do joio, nos permite, nesta ocasião, colorir, mesmo que brevemente, seu contexto. Com esta parábola Jesus (e a comunidade de Mateus) estava dando uma resposta ao movimento fariseu de segregação. 

Segundo os fariseus, somente os “puros” (ritualmente falando) poderiam constituir a comunidade da aliança com Deus. Jesus, ao contrário, como já temos visto, misturava-se com pecadores e admitia, em sua companhia, os publicanos.

O tema da “paciência de Deus” volta a aparecer neste contexto.

Os fariseus não empregavam pedagogias para acompanhar os processos de volta a casa “das ovelhas perdidas da casa de Israel” (10,6), simplesmente se faziam acenos de categorias de pessoas e se anunciava o castigo vidouro para quem perseverara na pérfida conduta.

Porém, a aceitação da evangelização é a paciência.

A explicação da parábola, de todas maneiras recorda que há um juizo de Deus. O faz de maneira total que deveria provocar no ouvinte uma atitude mais vigilante e cuidadosa no cumprimento da Palavra.

Porém é claro que a finalidade não é infundir terrorismo espiritual. Ao julgamento de Deus deve corresponder uma Igreja que não negocia os princípios do evangelho e que mantém o anuncio, ainda nas ocasiões nas quais não encontre a esperada resposta.

Sem dúvida, é mais importante a pedagogia da paciência que trabalha a fundo as realidades negativas que se opõem ao evangelho.

Para isso, o primeiro passo não pode ser o julgamento (“a arrancamos?), mas o respeito, não a intransigência, mas a misericórdia de quem sabe acercar-se com a prontidão de Jesus (assim o leproso, o centurião, os gadarenos, levi… não foram inicialmente dignos dele.

E não esqueçamos que, de todas as maneiras, o terreno é d’Ele.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

Gragório Palamas (1296-1359), monge, bispo e teólogo ortodoxo

“Então os justos resplandecerão no Reino de seu Pai”

Há uma ceifa para as espigas de trigo materiais e uma outra para as espigas dotadas de razão, quer dizer, para o género humano.. Esta efectua-se entre os infiéis e reune na fé os que acolhem o anúncio do Evangelho. Os trabalhadores desta ceifa são os apóstolos de Cristo, depois os seus sucessores, depois, ao longo do tempo, os doutores da Igreja. Cristo diz a seu respeito estas palavras: “O ceifeiro recebe o seu salário; recolhe o fruto para a vida eterna” (Jo 4, 36)… Mas há ainda outra ceifa: é a passagem desta vida para a vida futura que, para cada um de nós, se faz pela morte. Os trabalhadores dessa ceifa não são os apóstolos mas os anjos. Têm maior responsabilidade do que os apóstolos, porque fazem a triagem que se segue à ceifa e separam os bons dos maus, tal como se faz com o joio e a boa semente. Nós somos desde já “o povo escolhido de Deus, a geração santa” (1 Pe 2, 9), a Igreja do Deus vivo, escolhidos entre os ímpios e os infiéis. Possamos nós ser separados do joio deste mundo tal como no mundo que há-de vir e congregados à multidão dos que estão salvos em Cristo, nosso Senhor, que é bendito pelos séculos.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Qual minha atitude ante algumas situações de pecado que são evidentes na sociedade na qual vivo?

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  • Que é isso da pedagogia da paciência?

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  • Como se prega hoje o julgamento de Deus?

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O tema nos diz algo?

QUARTA-FEIRA

Mateus 13,44-46

O REINO COMO O MAIOR VALOR DA VIDA DO DISCÍPULO

“Pela alegria que dá, vai, vende tudo o que tem e compra…”

A parábola do tesouro escondido e da pérola preciosa pode situar-se muito bem no contexto do convite de Jesus para deixar tudo e segui-lo.

É uma proposta bastante forte dentro da opção cristã, mas vale a pena, porque, no fundo, o deixar tudo é adquirir um estado de liberdade necessário para o discípulo que deseja trabalhar no seguimento constante de Jesus.

É também um convite para quem optou por Jesus, que seja coerente com a escolha feita, e viva seu desprendimento com alegria, já que tomar o caminho do Senhor traz consigo a aquisição de uma grande riqueza que não é negociável e que, tampouco se desvaloriza.

Ao ter o Senhor como pérola e único tesouro, temos a certeza de que não há nenhuma outra aquisição mais vantajosa e rentável do que a liberdade de Deus no concreto da vida do homem.

Com o Reino dos céus acontece o mesmo que na parábola: uma vez que tenha sido descoberto em todo seu valor, temos que tomar posse, fazê-lo nosso, e nenhum preço é alto demais para sua aquisição.

Peçamos ao Senhor Jesus para que possamos seguir vendo a Ele como o mais precioso tesouro de nossas vidas, e que, ao pensar nessa riqueza que possuímos, não por compra, mas como um dom, ela nos leve a uma ação de graças constante pelo dom maravilhoso de tão alto valor para o benefício de nosso coração.

Acompanha-nos, Jesus, no seguimento meditativo e reflexivo da tua palavra, dom que nos ofereces para o nosso crescimento, dom que nunca terminaremos de apreciar todo o valor que possui.

Que nossa caminhada para Ti se consolide graças às lições que nos deste ao longo deste mês de Julho, e que esta forma misteriosa que tens de alcançar nossas vidas nos transforme interiormente e floresça em alegria. Amém.

Aprofundemos com os nossos pais na fé:

São Tomás de Aquino (1225-1274), teólogo dominicano, doutor da Igreja

“O reino de Deus é semelhante a um tesouro”

É lógico que o fim de todos os nossos desejos, isto é, a vida eterna, venha indicada, no Credo, no termo de tudo o que nos é dado acreditar, com estas palavras: “Na vida eterna. Amém”.

Na vida eterna, dá-se a união do homem com Deus, o louvor perfeito e a saciedade perfeita de todos os nossos desejos, porque cada bemaventurado possuirá, então, ainda mais do que desejava e esperava. Nesta vida, ninguém pode saciar totalmente o seu desejo; jamais coisa alguma criada poderá saciar o desejo do homem. Só Deus sacia, e fá-lo infinitamente.

É por isso que não temos descanso senão em Deus, como diz santo Agostinho: “Fizeste-nos para Ti, e o nosso coração anda inquieto até que não descanse em Ti”.

Visto que, na pátria, os santos possuirão a Deus perfeitamente, é evidente que não só seu desejo será saciado, como também transbordará de glória.

É por isso que o Senhor diz: “Entra na alegria do teu Senhor” (Mt 25,21).

E santo Agostinho diz a este propósito: “Não é toda a alegria a que entrará naqueles que se alegram, mas todos os que se alegram entrarão inteiramente na alegria”. Diz-se no salmo: “Quero contemplar-Te no santuário, para ver o teu poder e a tua glória”(62,3), e noutro: “Ele satisfará os anseios do teu coração” (36,4).

Porque, se desejarmos as delícias, é lá que encontraremos o deleite supremo e perfeito, porque este consistirá no soberano bem que é o próprio Deus “Delícias eternas à vossa direita” (Sl 15,11).

Cultivemos a semente da palavra na profundidade do coração

  1. Qual é o ensinamento das parábolas do tesouro e da pérola?
  2. É, verdadeiramente, Jesus, o maior tesouro da minha vida? Que faz Ele a mim?
  3. Que me pede o Senhor deixar, para que minha vida seja submersa,

completamente, na maravilhosa experiência do Reino?

QUINTA-FEIRA

Jo 11,19-27

HISTÓRIA DE SANTA MARTA IRMÃ DE LÁZARO

Origens

Marta é contemporânea de Jesus. Ela é mencionada treze vezes nos Evangelhos. Era irmã de Lázaro, grande amigo de Jesus e de Maria, aquela que se sentava aos pés do Mestre para ouvi-lo. A família de Marta vivia no vilarejo de Betânia, a três quilômetros de Jerusalém. A casa e Marta era um verdadeiro local de descanso para Jesus e seus discípulos. Convivendo com o Mestre, ouvindo-o e servindo-o, Marta conheceu o Reino dos céus. Ela presenciou a ressurreição de seu irmão Lázaro, operada por Jesus, quatro dias após sua morte.

Repreendida carinhosamente por Jesus

Certa vez Jesus se hospedou na casa de Marta, em Betânia. Para agradar e bem receber Jesus e seus discípulos, Marta mergulhou nos afazeres domésticos, sem perceber, talvez, que Jesus gostaria de ter sua presença, ao lado da irmã Maria, como ouvinte atenta e carinhosa, da mensagem do Reino dos Céus. Tal comportamento lhe rendeu uma repreensão carinhosa de Jesus, que, afinal, tornou-se grande ensinamento para todos nós: o de que as coisas espirituais, a palavra do Senhor, são mais importantes que as materiais. Vejamos na passagem abaixo:

“Estando Jesus em viagem, entrou numa aldeia, onde uma mulher, chamada Marta, o recebeu em sua casa. Tinha ela uma irmã por nome Maria, que se assentou aos pés do Senhor para ouvi-lo falar. Marta, toda preocupada na lida da casa, veio a Jesus e disse: Senhor, não te importas que minha irmã me deixe só a servir? Dize-lhe que me ajude. Respondeu-lhe o Senhor: Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolheu a boa parte, que lhe não será tirada”. (Lucas 10, 38-42)

Padroeira

Apesar da chamada de atenção recebida de Jesus, o serviço que Marta prestava era importante e necessário. E jesus, em momento algum, questiona tal importância. Ele quer apenas colocar as coisas nos seus devidos lugares e valores. Assim, pela preocupação de Santa Marta com a alimentação, a acolhida e o bem estar de Jesus e de seus discípulos, Santa Marta se tornou a Padroeira dos anfitriões, hoteleiros, nutricionistas, cozinheiros e nutrólogos.

Coragem de expressar seus sentimentos a Jesus

No episódio da doença, morte e ressurreição de Lázaro, seu irmão, Marta sofre. Ela manda chamar Jesus e Jesus aparentemente não atende. Seu irmão morre e é sepultado. Fica quatro dias no túmulo e, só então, Jesus chega. Marta corre até ele, ajoelha-se aos pés do Mestre e diz: “Senhor, se tivesses estado aqui, o meu irmão não teria morrido. Jo 11,21 . Este desabafo mostra a confiança e a intimidade que marta tinha com o Senhor. E a frase que ela diz em seguida, mostra toda a sua fé incondicional em Jesus: “Mas mesmo agora, eu sei que tudo o que pedires a Deus, Deus dará”. Trata-se de uma das passagens mais emocionantes do Novo Testamento em que, no final, Jesus ressuscita Lázaro e muitos passam a crer nele.

A confissão de Marta

Em todo o episódio da ressurreição de Lázaro, marta tem a oportunidade de fazer uma bela profissão de fé em Jesus. O capítulo 11 do Evangelho de São João conta essa história em detalhes. Destacamos aqui a confissão de Marta. Ela afirma que Jesus é o Cristo, o Enviado de Deus, que devia vir ao mundo:

“Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá. Crês nisto? Respondeu Marta: Sim, Senhor. Eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que devia vir ao mundo. João 11, 25-27.

Culto a Santa Marta 

Os primeiros a realizarem uma festa dentro da liturgia da Igreja dedicada a santa Marta foram os franciscanos, no ano 1262. Para tal celebração, escolheram o dia 29 de julho. A festa se difundiu e os cristãos passaram a celebrar Santa Marta já como Padroeira dos Anfitriões, Hospedeiros, Cozinheiros, Nutricionistas e Nutrólogos. Mais tarde a Igreja confirmou oficialmente a celebração na mesma data.

Oração a Santa Marta

“Santa Marta, santa minha, acolhe-me a vossa proteção, pois entrego-me ao vosso amparo, e em prova de meu afeto por Vós, ofereço esta luz, que acenderei todas terças-feiras durante esta novena.

Pela felicidade que tiveste em hospedar em vossa casa o Divino Salvador do Mundo, consolai-me nas minhas penas. Intercedei hoje e sempre por mim e minha família, para que tenhamos o auxílio de Deus Todo Poderoso, nas dificuldades de nossa vida.

Suplico-vos que tenhais misericórdia infinita para comigo, concedendo-me a graça que hoje vos peço de todo coração. (Faz-se o pedido). Rogo-vos que me façais vencer os obstáculos da vida, como vós vencestes o dragão que tendes debaixo de vossos pés. Amém Jesus.”

SEXTA-FEIRA

Mt 13,54-58

Uma escola de oração e vida na casa de Marta e Maria
“Uma só coisa é necessária”

O entretenimento e o repouso que nos inspira um Jesus que tem tempo para compartilhar com suas amigas, detendo-se em sua casa em meio da viagem, sugere uma nova atmosfera oracional para a Lectio de hoje. Momentos como este são importantes.

A Maria lhe parecia mentira que o Mestre estivesse ali em sua casa, tão próximo dela e falando só para ela. Agora podia escutar em silencio suas palavras de vida eterna. A vemos bem recolhida aos pés do Mestre, como costumavam fazer os discípulos nos tempos bíblicos.

Marta, a vemos no fundo. Passa de um lado para outro, bem atarefada. Os “muitos afazeres” (10,40) de que fala o evangelho são as tarefas domésticas, as quais se multiplicam quando há visita: limpeza, comida, ambientação, quarto de hospedes, etc.

São muitas coisas ao mesmo tempo para atender, sobretudo a comida. Nesse ir e vir nota-se que Marta está tensa, preocupada em agradar a Jesus. Até que se dirige a Jesus (para que ouça Maria): “Senhor, não te importa que minha irmã…” (10,40).

A estima que Jesus sente também por Marta suporia que não lhe agradasse vê-la carregar, sozinha, todo o trabalho da casa. O “não te importa?” tem tom de ironia. Então Jesus a responde com uma frase carregada de sentido e que abre grandes horizontes: “Marta, Marta,…” (10,41-42).

Por que Jesus chama a atenção de Marta? É claro que não é pelo serviço, já que ele mesmo fala da importância do serviço (22,27).

Na descrição de Marta foi dito que ela estava “atarefada por muitos afazeres” (10,40): corria de um lado para outro, fazia muitas pequenas coisas com o tempo bastante fragmentado. O problema é que em toda a agitação, a ocupação se tornou ansiedade, perdeu a paz. 

O que Jesus desaprova não é a atividade de Marta, mas seu ativismo. No ativismo se perde de vista a meta, é difícil manter a concentração, se desgastam as motivações e acabamos fazendo as tarefas mal.

Esta vida frenética – que também ocorre em alguns apostolados – é uma das características de nosso tempo, queremos fazer muitas coisas ao mesmo tempo: estudar e trabalhar, estar na casa e estar fora, falar por telefone e ver televisão, e assim muitas mais. 

Ocupar-nos dos ofícios com o coração ansioso indica que perdemos o norte, que perdemos de vista o que era essencial, que terminamos escravos do trabalho. Isto prejudica tanto a qualidade de vida como a qualidade do serviço. Para resolver isto, Jesus nos disse que o melhor modo de ser Marta é ser Maria.

Quem cultiva o bom hábito da reflexão, do cultivo da vida interior na serenidade da oração e em atenta escuta da Palavra, logra a capacidade de ver tudo desde o ponto de vista da eternidade, purifica suas ações, capta as prioridades. Com Maria se aprende a inteligente calma que ajuda a fazer tudo bem e inclusive a fazer mais do que o esperado.

Mas não se pode separar as duas, pois são irmãs. A escuta contemplativa deve levar ao compromisso e a atividade deve partir da escuta atenta do querer do Senhor.

Como disse o Cardeal Martini: “Para servir no Reino tem que servir primeiro ao Rei”. Senão faremos muitas coisas que consideramos “serviço” ao Senhor, porém, era isso o que Ele queria que fizéssemos? 

Enfim, o melhor e mais seguro é ter as mãos de Marta, porém, o coração de Maria.

É preciso encontrar tempo – e tempo de qualidade – para a escuta do Mestre, para reencontrar-nos com nosso centro, para considerar os motivos do que fazemos, para estar em contato com nosso ser profundo e com Deus que habita dentro de nós.

As palavras do Mestre serão nossa guia na viagem interior. Ainda que haja muitas coisas “urgentes” para fazer, isto é o verdadeiramente “necessário”.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Como me vêem os demais? Que espaço de meu tempo dedico a dialogar com Jesus, a escutá-lo? Poderia dedicar ainda más?
  2. Com as pessoas que convivo, que momentos dedico para estar como Maria aos pés de Jesus? Será que lhe dedicamos pouquíssimo tempo enquanto que para nossos afazeres dedicamos todo o dia ou quase todo o dia? Em que podemos melhorar?
  3.  “Uma só coisa é necessária”, disse Jesus a Marta. Qual é? E para mim que é o único necessário: o trabalho, o dinheiro, a saúde, minha família, Deus…? Será que o Senhor me pede que mude minha escala de valores? Como o farei?

SÁBADO

Mateus 14,1-12

O PREÇO DE SER PROFETA

“Sua cabeça foi trazida em uma bandeja e entregue à moça.”

Ante a pessoa de Jesus sempre se toma alguma posição.

No texto de ontem vimos à reação das pessoas familiarizadas com Jesus desde pequeno, hoje vemos a reação de alguém que nem sequer o havia visto, alguém, por assim dizer, estranho a Jesus: o rei Herodes, rei (com título de Tetrarca) da região onde Jesus está evangelizando.

Com o rei Herodes como protagonista temos hoje o segundo quadro da galeria das experiências de fé.

Porém, de novo temos a negação da fé: um homem que não compreende a identidade de Jesus (disse: “Esse é João Batista, ele ressuscitou…”), que tira conclusões rápidas sobre Jesus (“… por isso atuam nele forças milagrosas”). Para Herodes a pessoa de Jesus é o fantasma de sua vítima.

No texto de hoje podemos ler a partir de três ângulos:

  • A evangelização chega ao rei:

O Evangelho não só chega aos ambientes populares, mas ressoa também no palácio do rei (“Inteirou o rei Herodes da fama de Jesus”).Eis a evangelização que toca as estruturas de poder, os centros de decisão. Também aqui, encontramos resistências para que o nome de Jesus seja aceito de maneira que todos se descubram amados, perdoados e salvos. O Evangelho chega ali onde podem incubar-se atitudes de submeter o outro para gerar um homem novo, não mais centrado em si mesmo, mas no serviço (ver Mt 20,25-26).

(2) A falsa idéia que o rei faz de Jesus:

As “forças milagrosas” de Jesus têm sua explicação, segundo Herodes, numa eventual ressurreição de João Batista e não na novidade do Reino, da qual ele havia sido o precursor e o último de seus profetas (ver 11,13). O rei não é capaz de dar um passo adiante no itinerário histórico-salvífico de Jesus. A atitude de Herodes ante Jesus vai muito com o sentir popular que se verá adiante, quando Jesus pergunta que é o que o povo pensa dele (ver Mt 16,13-14).

(3) O pecado do rei:

Quando Herodes ouve falar de Jesus o que vem em sua consciência é a história de seu pecado (“o que aconteceu é que…”,v.3): o assassinato de João, vítima de sua exortação para mudar sua vida de pecado (14,4), de seu medo à impopularidade (14,5) e de sua estupidez como governante (14,7.9). O relato do martírio de João Batista, na realidade, faz um juízo do rei, pondo-se assim de relevo para nós leitores, como é um modo de pensar e atuar incompatível com o Evangelho.

Aprofundemos com os padres e doutores da Igreja:

A morte de João Batista

“Dá-me aqui, num prato, a cabeça de João Batista”.

E Deus permitiu-o, não lançou o raio do alto dos céus para devorar aquele rosto insolente; não ordenou à terra que se abrisse e engolisse os convivas daquele horroroso banquete.

Deus dava assim a mais bela coroa ao justo e deixava uma magnífica consolação aos que, no futuro, viessem a serem vítimas de semelhantes injustiças.

Escutemo-lo, pois, todos nós que, apesar da nossa vida honesta, temos de suportar os malvados…

O maior dos filhos nascidos de mulher (Lc 7,28) foi levado à morte pelo pedido de uma jovem impudica, de uma mulher perdida; e isso por ter defendido as leis divinas.

Que estas considerações nos façam suportar com coragem os nossos próprios sofrimentos…

Mas repara no tom moderado do evangelista que, na medida do possível, procura circunstâncias atenuantes para este crime.

A propósito de Herodes, ele nota que agiu “por causa do seu juramento e dos convivas” e que “ficou entristecido”; a propósito da jovem, nota que tinha sido “induzida pela mãe”…

Também nós, não odiemos os malvados, não critiquemos as faltas do próximo, escondamo-las tão discretamente quanto possível; acolhamos a caridade na nossa alma.

Pois acerca desta mulher impudica e sanguinária, o evangelista falou com toda a moderação possível… Tu, porém, não hesitas em tratar o teu próximo com malvadeza…

Toda a diferença está na maneira de agir dos santos: ele chora pelos pecadores, em vez de os amaldiçoarem. Façamos como eles; choremos por Herodíades e pelos que a imitam.

Porque vemos hoje muitos banquetes do gênero do de Herodes; não se condena à morte o Precursor, mas destroem-se os membros de Cristo…

 (São João Crisóstomo, doutor da Igreja, 345-407)

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Que cobertura tem minha ação evangelizadora? Preocupo-me em levar a Palavra até os centros

 de decisão que existem hoje?

  • Que é que Jesus quer transformar ali? Quem era Jesus para Herodes? Quem é Jesus para mim?

Que me ensina a história do martírio de João Batista?

  • Qual é meu pecado que me pode levar a fazer a outros, “vítimas” de meus erros?

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