ESTUDO BÍBLICO NA 31 SEMANA COMUM ANO A 2020

ESTUDO BÍBLICO NA 31ª SEMANA COMUM ANO A 2020

                           Comunidade Católica Paz e Bem

 

BAIXAR EM PDF: ESTUDO BÍBLICO NA 31ª SEMANA COMUM ANO A 2020

 

SEGUNDA FIÉIS DIFUNTOS – EVANGELHO – Jo 6,51-58

AMBIENTE

O trecho que nos é proposto neste domingo como Evangelho situa-nos na sinagoga de Cafarnaum (cf. Jo 6,59) e no contexto do discurso sobre o “pão da vida”. Ao longo desse discurso, Jesus afirmou repetidamente que era “o pão que desceu do céu para dar vida ao mundo”; aqui, no entanto, vai ainda mais além: convida os seus interlocutores a comer a sua carne e a beber o seu sangue.
As palavras de Jesus parecem conter uma referência clara à Eucaristia. Alguns biblistas pensam que esta parte do discurso é uma reflexão da primitiva comunidade cristã, que reintrepretou a primeira parte do discurso, explicitando-a a partir da celebração eucarística posterior; outros pensam que João reelaborou uma série de materiais que estariam, inicialmente, incluídos no relato da última ceia e que foram deslocados para aqui por conveniências teológicas (na sua versão da última ceia, João preferiu dar relevo à lavagem dos pés; contudo, não quis a omitir o discurso eucarístico de Jesus, um dado tão importante para a tradição cristã. Sendo assim, transladou-o para outro lugar; e o lugar mais indicado para o situar pareceu-lhe ser, precisamente, na continuação do discurso sobre o “pão descido do céu para dar vida ao mundo”). Em qualquer caso, esta parte do discurso (cf. Jo 6,51-58) não deve ter sido feita na sinagoga de Cafarnaum… Ela só faz sentido após a instituição da Eucaristia, na última ceia.
O discurso sobre o “pão da vida” (cf. Jo 6,22-58) ficou, portanto, no esquema de João, com o seguinte enquadramento lógico: os homens buscam o pão material; Jesus traz-lhes o “pão do céu que dá vida ao mundo”; e o pão eucarístico realiza, de forma plena, a missão de Jesus no sentido de dar vida ao homem.

 

MENSAGEM

Depois de se apresentar como “o pão vivo que desceu do céu” para dar aos homens a vida definitiva (vers. 51a), Jesus identifica esse “pão” com a sua “carne” (vers. 51b). A palavra “carne” (em grego: “sarx”) designa a realidade física do homem, na sua condição débil, transitória e caduca. Ora, foi precisamente na “carne” de Jesus – isto é, no seu corpo físico – que se manifestou, em gestos concretos, a sua doação e o seu amor até ao extremo. Na realidade física de Jesus, Deus tornou-Se presente e visível no meio dos homens, mostrou a sua vontade de comunicar com os homens e manifestou-lhes o seu amor. É esta “carne” (isto é, a sua vida física, o “lugar” onde Deus se manifesta aos homens e lhes mostra o seu amor) que Jesus vai dar a “comer” para que o mundo tenha vida.
Os judeus não entendem as palavras de Jesus (vers. 51). Quando Jesus Se apresentou como “pão vivo descido do céu para dar a vida ao mundo”, eles entenderam que Jesus pretendia ser uma espécie de “mestre de sabedoria” que trazia aos homens palavras de Deus (também isso, eles tinham dificuldade em aceitar; mas, pelo menos, entendiam aonde Ele queria chegar)… Mas agora Jesus fala em “comer” a sua carne. O que significam as suas palavras? São palavras difíceis de entender, se não nos colocarmos numa perspectiva eucarística; e, por isso, os judeus não as entendem… Para a comunidade de João, contudo, as palavras de Jesus são claras, pois são entendidas tendo em conta a celebração e o significado da Eucaristia.
Na sequência, Jesus reitera a sua afirmação, desta vez com mais desenvolvimentos: E
le não só vai dar a comer a sua carne, mas também a beber o seu sangue; e quem os aceitar, recebe vida definitiva (vers. 53-54). A referência ao sangue coloca-nos no contexto da paixão e da morte. Dizer que Jesus é carne significa que Ele Se tornou pessoa como nós, assumiu a nossa condição de debilidade, aceitando passar, até, pela experiência da morte. Dizer que o pão que Ele há-de dar é a sua “carne para a vida do mundo” significa que Jesus fez da sua vida um dom, uma “entrega” por amor aos homens; e que o momento mais alto dessa vida feita “dom” e “entrega” é a morte na cruz. Na cruz, manifestou-se, através da “carne” de Jesus – isto é, através da sua realidade física – o seu amor, o seu dom, a sua entrega… Ora, é essa realidade que se manifestou na cruz – realidade de amor, de doação, de entrega – que os discípulos são convidados a comer e a beber. Comer e beber significam, neste contexto, “aderir”, “acolher”, interiorizar”, “assimilar”.
A questão é, portanto, esta: Jesus não está a falar da sua carne física e do seu sangue físico… Está a pedir, simplesmente, que os seus discípulos acolham e assimilem essa vida de amor, de dom, de entrega, que Ele mostrou na sua pessoa (isto é, nos seus gestos, no seu amor, na sua doação aos homens) e que teve a sua expressão mais radical na cruz, quando Jesus, por amor, ofereceu totalmente a sua vida, até à última gota de sangue. Quem “acolher” e “assimilar” esta vida e aceitar viver da mesma forma – no amor e no dom total da vida, até à morte – terá vida plena e definitiva.
A Eucaristia actualiza esta realidade na comunidade cristã e na vida dos crentes. Esse mesmo Jesus que amou até às últimas consequências, que pôs a sua vida ao serviço dos homens, que Se deu na cruz, oferece-Se como alimento aos seus. O discípulo que participa da Eucaristia, isto é, que “come” e que “bebe” a “carne” e o “sangue” de Jesus, assimila esta proposta e compromete-se a viver e a dar a vida como Ele (vers. 55).
Um dos efeitos de comer a carne e beber o sangue de Jesus é ficar em união íntima, em comunhão de vida com Jesus. O discípulo que interioriza a proposta de Jesus identifica-se com Ele e torna-se um com Ele (vers. 56). O cristão é, antes de mais, alguém que recebe vida de Jesus e vive em união com Ele.
Outro efeito de comer a carne e beber o sangue de Jesus é comprometer-se com o mesmo projecto de Jesus. Jesus Cristo foi enviado pelo Pai ao mundo para dar vida ao mundo e o seu plano consiste em concretizar esse projecto; o cristão assimila esse mesmo projecto e dedica toda a sua existência a concretizá-lo no meio dos homens (vers. 57).
É neste caminho que se chega a essa vida plena e definitiva que Jesus veio propor aos homens. Do comer a carne e beber o sangue de Jesus nascerá uma nova humanidade de gente livre, que venceu a morte e que vive para sempre (vers. 58).
O discurso que João põe na boca de Jesus não se dirige aos judeus (pois os judeus não eram capazes de entender as palavras de Jesus), mas dirige-se aos discípulos. O seu objectivo é explicar o programa de Jesus, pedir aos discípulos que assimilem esse programa e o testemunhem no meio dos homens. A Eucaristia cristã (comer a carne e beber o sangue) é, assim, uma forma privilegiada de “actualizar” na vida dos crentes a vida e o amor de Jesus, de estar em comunhão com Jesus, de “assimilar” o projecto de Jesus e de o concretizar no mundo.

ACTUALIZAÇÃO

  • A liturgia da comemoração dos Fiéis Defuntos assegura-nos que Deus tem um projecto de vida definitiva para oferecer aos homens: o caminho que percorremos nesta terra não termina no fracasso e na morte, mas no encontro com a vida verdadeira e eterna. Ora, o Evangelho que hoje nos é proposto confirma e garante esse ensinamento fundamental: cumprindo o seu projecto de salvação, Deus enviou Jesus ao mundo (Jesus apresenta-Se como “o pão que desceu do céu”) para que os homens pudessem chegar à vida eterna. A liturgia deste dia convida-nos, antes de mais, a contemplar o amor de Deus por nós, a constatar a sua incrível preocupação com a nossa felicidade e com a nossa realização plena, a descobrir que não estamos perdidos e abandonados face à nossa fragilidade, debilidade e finitude. Esta constatação deve levar-nos a encarar, com serenidade e confiança, a nossa caminhada pela terra, com a certeza de que nos espera, para lá do horizonte deste mundo imperfeito, a vida verdadeira e definitiva.
  • Como é que chegamos a adquirir essa vida verdadeira e definitiva? O Evangelho deste domingo afirma, categoricamente, que quem aceita comer a carne e beber o sangue de Jesus viverá eternamente. Ora, comer a carne e beber o sangue de Jesus é, antes de mais, acolher, assimilar e interiorizar essa proposta de vida que Jesus nos fez (com a sua Palavra, com o seu exemplo, com os seus gestos, com o seu amor); é, como Jesus, colocar a própria vida ao serviço dos projectos de Deus e fazer da própria existência um dom de amor aos irmãos. Este programa de vida não é, como é notório para qualquer um de nós, demasiado apreciado numa cultura como a nossa, fortemente marcada pelo egoísmo, pelo individualismo e pela auto-suficiência. Que não restem, contudo, dúvidas: só encontraremos essa vida plena e eterna a que aspiramos, seguindo Jesus, assimilando os seus valores, fazendo da nossa vida um serviço a Deus e aos irmãos com quem nos cruzamos nos caminhos do mundo. Se aceitarmos conduzir a vida de acordo com esses parâmetros, o horizonte final da nossa caminhada por esta terra não é a morte, mas a vida eterna.
  • A Eucaristia é um momento privilegiado de encontro com esse Cristo que Se faz “dom” e que vem ao nosso encontro para nos oferecer a vida plena e definitiva. Participar no encontro eucarístico, comer a carne e beber o sangue de Jesus é encontrar-se, hoje, com esse Cristo que veio ao encontro dos homens e que tornou presente na sua “carne” (na sua pessoa física) uma vida feita amor, partilha, entrega, até ao dom total de Si mesmo na cruz (“sangue”). Para nós, os crentes, a Eucaristia – mais do que um rito que cumprimos por obrigação ou por tradição – tem de ser um momento privilegiado de encontro e de compromisso com Jesus e com essa vida nova e eterna que Ele continuamente nos oferece.
  • Sentar-se à mesa da Eucaristia é identificar-se com Jesus, aceitar viver em união com Ele. Na Eucaristia, o alimento servido é o próprio Cristo. Por isso, é a própria vida de Cristo que passa a circular nos crentes. Quem acolhe essa vida que Jesus oferece torna-se um com Ele. Comer cada domingo (ou cada dia) à mesa com Jesus desse alimento que Ele próprio dá e que é a sua pessoa, leva os crentes a uma comunhão total de vida com Jesus e a fazer parte da família do próprio Jesus. Convém termos consciência desta realidade: celebrar a Eucaristia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

TERÇA-FEIRA

Lucas 14,15-24

As lições da mesa (II).

Sai pelos caminhos e trilhas e insisti-lhes até que entrem e se encha a casa”

 

Assim como “na mesa se conhece o cavalheiro”, igualmente na mesa se conhece um verdadeiro discípulo de Jesus. Isto é o que vimos nas últimas passagens do Evangelho de Lucas que temos lido.

Hoje aprendemos uma quarta lição de Jesus relacionada com o mundo dos banquetes (14,15-24). O assunto não está somente em fazer a lista, mas também o que os convidados respondem.

O texto começa assim: um dos comensais que escutou a lição que vimos ontem coloca o seu olhar no banquete definitivo do céu e exclama: “Felizes os que poderem comer a refeição no Reino de Deus!” (v.15). E ele tem toda razão, é uma felicidade, porém, esta felicidade é uma ocasião que muitos deixam perder-se.

 

Jesus aprofunda nesta realidade com a ajuda de uma parábola. Trata-se de um grande banquete. O texto diz “grande ceia” e “muitos convidados” (v.16). Além do mais, na preparação se toma um considerável período de tempo.

O drama está em que o anfitrião deve fazer três tentativas para conseguir encher sua casa, para que todos aproveitem a ceia:

  • Na primeira tentativa nos inteiramos que os convidados dão preferência as suas próprias ocupações: questões de negócios (campo e bois) ou da vida privada (matrimônio). Trata-se de pessoas ricas que têm satisfeitas suas próprias necessidades;
  • Na segunda tentativa se chama os “pobres e estropiados, cegos e coxos”. Mas ainda há espaço;
  • E numa terceira tentativa, manda chamar a todas as pessoas que estiverem “nos caminhos e trilhas”.

 

Os três momentos do chamado dos comensais nos descrevem três círculos concêntricos que vão do centro até a periferia. Em cada chamado – entendemos que se trata do chamado a aceitar o caminho do Evangelho – o círculo vai se abrindo mais, de maneira que a mesa vai se estendendo até abarcar aos mais pobres (miseráveis) e os gentios.

 

Assim se ilustra o campo de ação do ministério de Jesus e da evangelização que realizarão os apóstolos mediante ações contínuas que os levarão a chegar cada vez mais dentro da realidade dos abandonados da sociedade e dos afastados.

Vale anotar que no texto não se diz propriamente “chamar” para o segundo e terceiro momento, mas “fazer entrar”. Isto é significativo porque provavelmente se trata de pessoas que são bem conscientes de sua indignidade (a uma ceia se chega limpo e bem vestido).

 

É preciso observar bem o texto, para que não justifiquemos com ele conversações “forçadas” (como aconteceu em algum momento da história). A felicidade da salvação se pode perder ao fazer caso omisso do chamado de Deus pela boca de seus servidores.

E é tal a perda, que na parábola, Jesus alude a um belo costume que se tinha com os que não podiam ir a uma festa, isto é, se mandava a casa algo da comida (Ne 8,10-12); pois bem, deles agora se diz: nenhum daqueles convidados provará minha ceia” (14,24).

Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:

 

  • Quando descubro que o Senhor está me “chamando”, que desculpa eu dou para não responder-lhe?
  • Até qual âmbito de nossa sociedade, devemos chegar com nossa ação evangelizadora?
  • A salvação está representada na parábola como um banquete, por que esta comparação?

Por que o Evangelho de Lucas a tem enfatizando tanto?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

QUARTA-FEIRA

Lucas 14,25-33:

O discipulado tEM uM cUsto.

“O que não renuncia a todos seus bens não pode ser meu discípulo”

 

Nossa leitura do evangelho de Lucas, ao ritmo da liturgia da Igreja, nos vai levando cada vez mais fundo neste caminho de configuração com Jesus de Nazaré, a propósito de que “todo o que estiver bem formado, será como seu mestre” (6,40) e de que a “maturidade” do ouvinte da Palavra se constata em sua capacidade de “dar fruto com perseverança” (8,15).

 

O itinerário lucano nos leva hoje a dar um novo passo na formação do discípulo, mediante a assimilação de um conjunto de ensinos bem exigentes que encontramos entre 14,25 e 17,10 (compreende seis lições no total, porém por razões de ordem litúrgica só veremos cinco).

 

O fio condutor de todos estes ensinos é a conversão do discípulo que se dá segundo o modelo do coração misericordioso do Pai. O primeiro passo no discipulado é a resposta ao chamado. Neste vemos conexão com o texto de ontem. A lição: dar “sim” a Jesus implica estar de acordo com suas exigências.

Notemos no texto os dois ensinos fundamentais na boca de Jesus: (a) A vocação tem exigências concretas (Lc 14,25-27); (b) Se tais são as exigências, então há que adotar uma atitude que corresponda a elas (14,28-33).

 

Jesus nos disse que para “poder ser discípulos” seus as exigências são duas:

  • A primeira exigência nos apresenta que quando uma pessoa tem um encontro vivo com Jesus, os grandes amores da vida se retraça: o papai, a mamãe, a esposa, os filhos, os irmãos e as irmãs, a própria vida (v.26); logo se agrega que também a atitude vale para os bens (v.33).
  • A segunda exigência nos assinala que a nova maneira de amar se aprende em uma grande identificação com o crucificado (v.27).

 

Como entender isto? Devemos ter o cuidado de não mal interpretar as palavras do Senhor como se disesse para descuidar ou esquecer a família.

O que Jesus propõe é uma inversão no ponto de vista na abordagem das relações. Isto quer dizer, que não se trata de amar a Jesus com o amor com que se querem os grandes amores que estão em nosso coração (os inesquecíveis papai e mamãe, a esposa, os filhos, etc.).

É como quando, para educar uma criança no amor a Deus, lhe perguntamos primeiro quem é a pessoa que mais gosta no mundo, e ele responde naturalmente que é sua mãe e seu pai, para logo dizer que maior deve ser o amor a Deus.

Para o novo discípulo Jesus ensina o caminho inverso: amá-los com o amor de Jesus, que é um amor total, purificado, melhor dizendo: amá-los desde a cruz, onde a entrega não tem limites e salva ao ser amado.

Não é entregar-se a Jesus com a paixão com que se quer à pessoa mais amada deste planeta, mas entregar-se à pessoa amada com a paixão de Jesus.

Por isso é necessária uma tomada de distância: aquele que começa sério uma vida de discipulado redefine suas relações colocando no centro de tudo Jesus.

Logo, desde o Senhor, tece uma relação de maior entrega, fidelidade, responsabilidade com as pessoas que amamos. Em outras palavras, as relações se cristificam e, portanto se curam e se potencializam. Jesus não é um amor ao lado dos outros, é o centro de todos eles.

Este caminho não é fácil, de fato é uma verdadeira conversão (giro na vida). Por isso, no caminho do discipulado é preciso pensar, refletir, discernir antes de comprometer-se. Esta é a lição das duas parábolas do construtor da torre e do rei que vai à guerra (Lc 14,28-33).

 

Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:

 

  • Quanto às exigências para ser discípulo de Jesus: Que se deixa e que se toma?
  • Como se relacionam estas duas?
  • A comunidade de Lucas parece estar preocupada ante algumas deserções na comunidade: Como ilustram as duas parábolas. O que há que fazer?

 

 

 

 

 

 

 

Quinta-feira

Lucas 15,1-10

Compartilhar a misericórdia e a alegria de Jesus

“Haverá mais alegria por um só pecador que se converta”

 

Os fariseus e os rabinos não entendem por que Jesus se reúne com tanta frequência, em cenas festivas, com gente que tem conduta digna de reprovação.

Jesus responde com as três formosas parábolas da misericórdia que lemos em Lc 15:

  • Da ovelha perdida (vv. 4.7);
  • Da moeda perdida (vv. 8-10);
  • Do filho perdido (vv. 11-32).

 

As três parábolas têm um esquema similar: Algo ou alguém se perde; O proprietário ou o pai fazem gestos insólitos na recuperação do perdido; Convida aos demais a partilhar a alegria, a entrar na festa e a imitar o comportamento misericordioso.

 

Temos, então, uma profunda lição que explana a palavra de Jesus em 6,36: “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso”. A liturgia de hoje nos propõe que nos detenhamos nas duas primeiras parábolas, a da ovelha e a da moeda perdida.

 

Segundo a maneira de pensar dos animadores da experiência religiosa de Israel dessa época, o comportamento de Jesus não encaixa em seus esquemas, visto que é o pecador que tem que arrepender-se e voltar a Deus, não que Deus tenha que ir buscá-lo. Igualmente lhes soa estranho que Jesus faça festa aos que se convertem, em lugar de repreendê-los e submetê-los disciplinarmente.

 

O comportamento do pastor que busca a ovelha tem muito de insólito: deixa as noventa e nove ovelhas no deserto, quer dizer, que as deixa em situação de risco, com tal de resgatar uma só.

 

Ou seja, Ele aposta tudo pela recuperação da ovelha perdida. A lógica comum seria: “não importa que se perca uma, afinal, ficam noventa e nove”. Porém a lógica do pastor é outra: volta no caminho em busca da ovelha que, provavelmente por sua fraqueza, não foi capaz de caminhar ao ritmo das outras.

 

O comportamento da mulher não é menos estranho. As casas normalmente têm uma só sala, de maneira que quando vão todos dormir, toda a casa é dormitório.

Por que, por uma só moeda, levantar-se para acender a luz, levantar toda a família e sacudir todas os lençóis a essa hora? Por uma só moeda?

Se lhe ficam nove o normal seria dizer: “Que se perca uma só, ou espero até amanhã, afinal tenho a maior parte segura”.  Porém a lógica desta dona de casa é outra.

 

Pois assim é Jesus. Com essa lógica e com esse zelo vive seu ministério: trazer de novo para casa os irmãos que se perderam e necessitam de apoio e assistência. Jesus se joga todo por eles, porque para Ele cada pessoa tem um alto valor, muito mais se torna parte de toda esta humanidade caída.

 

São João Eudes resumia esta atitude de Jesus com a frase: “uma vida vale mais que mil mundos”. E no final das parábolas há uma grande festa: o pastor reúne seus companheiros pastores e a mulher reúne suas amigas e vizinhas (a essa hora da noite!) para celebrar.

 

Assim é a “alegria do céu”, que é a alegria de Deus que goza intensamente com a vida de seus filhos que, da mão de Jesus, dando um giro à sua vida vão redescobrindo o caminho que conduz à plenitude.

Também nisto um discípulo está chamado a ser como seu Mestre. Por isso Jesus e o Pai hoje dizem: “Alegrai-vos comigo”.

 

Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:

 

  • Há alguém de minha família/ comunidade que está precisando dessa busca que fala o Evangelho?
  • Valorizo cada pessoa, uma por uma, como Deus faz?
  • Alegro-me continuamente no Senhor, celebrando os pequenos passos que as pessoas que me rodeiam vão dando em seu caminhar?

 

 

 

 

 

 

 

SEXTA-FEIRA

Lucas 16,1-8:

O discípulo é um bom administrador

“Os filhos deste mundo são mais astutos com sua gente que os filhos da luz”

 

Um bom discípulo deve ser também um bom administrador, esta é a lição de hoje.

 

No perfil que no Evangelho se traça de um discípulo de Jesus, um traço importante de seu novo estilo de vida no seguimento de Jesus é sua capacidade de administrar os bens da terra.

 

Destes bens, em primeiro lugar tomou distância (Lc 5,11;12,15.33;14,33), porém agora, desde o desprendimento e o coração puro que o caracteriza (comentário de Lc 11,41), tem uma nova administração do dinheiro e dos bens da terra que passam por suas mãos.

 

Na parábola do “administrador astuto” (16,1-7), nos encontramos com a história de um “ecônomo” negligente (não desonesto, mas incompetente para fazer produzir os bens de seu patrão), que é removido do cargo por seu chefe.

 

Ante a eventualidade, ele reflete astutamente e se arranja para assegurar a vida quando ficar desempregado.

 

Enquanto fecha as contas, beneficia-se das amizades propondo a dois devedores respectivos descontos sobre suas dívidas (ou talvez sobre os lucros): ao primeiro desconta cinquenta por cento sobre a dívida do azeite e ao segundo vinte por cento sobre a dívida do grão de trigo.

 

No v.8, nos surpreende a reação de Jesus ante a parábola. Jesus felicita a este homem por seu comportamento: O Senhor elogiou ao administrador injusto porque havia agido astutamente.

Por que o felicita Jesus? Por que o põe de modelo?

 

  • Porque tirou proveito do breve período de tempo que lhe restava, em função de seu futuro. Foi previdente: não administrou para o presente, mas para o futuro.

 

  • Porque o ecônomo, ao final, supõe reagir e demonstrar que sabia administrar, já que encontrou saída para sua emergência. O administrador mudou de conduta ante o chamado iminente que deixaria sua vida na ruína.

 

  • Porque supôs discernir: Descartou duas opções razoáveis, porém que ele não poderia levar (ver ensino de Lc 14,28-32) e; Escolheu uma opção, com dupla gestão, relacionada com a solidariedade que gerava o perdão da dívida. Este gesto tinha sua lógica: era maior o prejuízo causado com a má administração dos bens de seu patrão que o registro de uma pequena perda (para o patrão ou ao melhor para ele mesmo) em dois negócios. O administrador astuto supõe ver um valor maior.

 

Em poucas palavras, Jesus o felicita porque é genioso, porque é recursivo. Note-se que, mesmo parecendo absurdo, o comportamento do ecônomo está direcionado por valores: o perdão, a ajuda ao pobre, à solidariedade.

Não é que o fim justifique os meios, mas que supõe gerenciar seu “quarto de hora” de maneira brilhante, pondo os recursos que lhe restavam a serviço de uma vida decente; e, todavia mais, como disse Jesus, levando o ensino mais longe, na aplicação da parábola: “para que o recebam nas eternas moradas” (16,9).

 

É preciso saber viver. Não está bem desperdiçar a prata (cf. Lc 15,13) nem o tempo (que tem um valor incalculável), não somos patrões autônomos, mas servidores e, portanto administradores inteligentes dos bens que estão ao nosso cargo. Não devemos retirá-lo do próximo, mas empregá-los em seu favor.

Eles devem levar-nos a gerar boas relações baseadas na solidariedade, relações que começam na terra, porém apontam para uma relação de comunhão mais profunda, a comunhão com Deus na eternidade.

 

Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:

 

  • Em que consiste a “astúcia” do administrador que foi felicitado por Jesus?
  • Como é nossa relação com os bens que temos? Para que os empregamos?
  • Que critérios devem determinar nossa relação com os bens?

Que significado tem Deus, o próximo e nosso futuro?

 

 

 

SÁBADO

Lucas 16,9-15:

POR O DINHEIRO A FAVOR DO PRÓXIMO

 “Nenhum criado pode servir a dois senhores… Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”

 

No Evangelho de hoje Jesus faz a aplicação da parábola do “administrador astuto” que lemos ontem (Lc 16,1-8; o que desde a lógica do patrão era um “administrador incompetente”).

 

Jesus tira as consequências práticas tanto para seus discípulos (“Eu vos digo”;16,9ª) como para os fariseus (“E lhes disse”;16,15ª).

Aos primeiros lhes dá três ensinamentos positivos e aos segundos faz uma denúncia profética. O núcleo do ensino é o como alcançar a comunhão com Deus (“as moradas eternas”, “o muito”, “o verdadeiro”, “o vosso”), e o da denúncia é o fato de “dar-se por justos”.

 

O ensinamento para os discípulos: “fazer amigos” (16,9-11)

 

Jesus diz: “Fazei-vos amigos com o dinheiro injusto (16,9ª).

O qualificativo “injusto” para o dinheiro não quer dizer que por si só o dinheiro seja mal, mas que, com ele, se cometem muitas injustiças; vale dizer que Jesus deixa entender que o dinheiro, em última instância, não é de alguém (“alheio” disse o v.12).

Ainda assim a frase soa estranha, mas a compreendemos melhor se olharmos a passagem seguinte na qual se conta que o rico não fez, em vida, amizade com o mendigo Lázaro e após não foi recebido no céu (16,19-31).

Jesus havia anunciado na segunda parte da frase: “para que quando chegue a faltar, vos recebam nas moradas eternas” (16,19b).

 

Desta maneira Jesus convida a fazer uso correto do dinheiro. Um discípulo de Jesus vai se distinguir pelo exercício da “Fidelidade” (16,10-12; note a repetição três vezes do termo) que nos faz dignos de receber o bem maior, que nos pertence e que permanece definitivamente, que é a comunhão com todos nossos irmãos na eternidade de Deus.

Ali onde já não há ambiguidades nem brechas, onde crescemos: não em nossas fortunas, mas em desenvolvimento de todas as potencialidades de nosso ser.

 

A advertência para os fariseus “amigos do dinheiro” (16,14-15)

 

Por sua parte os fariseus, que crêem terem ganhado o céu e assim se apresentam ao povo (“se dão por justos”), ridicularizam as palavras de Jesus. Porém a Palavra de Jesus os faz aparecerem nus ante Deus: “Deus conhece vossos corações”.

Ante Deus não podem acomodar-se pensando que já receberam o prêmio de Deus e prova disso é a “benção” da riqueza; não, eles devem partilhar (é o esforço de que fala o v.16 deste capítulo).

Além do mais, o apego ao dinheiro se converte em uma forma de idolatria que nega sua confissão de fé no único Senhor. É Deus que declara quem é justo e por qual caminho se alcança justiça (vv.17.29-31).

 

O maior valor é o serviço a Deus e seu projeto (16,13)

 

Ao longo de toda a passagem –por meio de alusões- se fala da relação com Deus, no v.13 é explícita e é o eixo de toda esta passagem: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”.

O coração deve pertencer a Deus, Ele deve ser o Senhor ao qual amamos e para o qual orientamos nossa vida. Só a partir de nossa entrega completa a Ele, é possível estabelecer uma relação com os bens terrenos “justos” e capazes de assegurar o futuro.

Quem reconhece a Deus como Senhor, O reconhece também como Senhor dos bens materiais e sabe que não é patrão absoluto deles, mas apenas um administrador e que esta administração deve exercer com fidelidade e confiabilidade.

Ao contrário, quem “serve” ao dinheiro, o faz seu deus, se apega a ele, espera dele a realização da vida, dai que não pode empregar livremente em função de outras pessoas, e ao final se leva uma tremenda frustração.

Entendemos melhor agora por que o ser “amigo do dinheiro” põe em risco o senhorio de Deus na própria vida.

Portanto não pode haver meios termos: só a atitude do verdadeiro discípulo, para que o dinheiro – com relação a si mesmo – é o mínimo, alheio, relativo, e – com relação aos demais – o põe ao serviço da geração de comunhão e não de brechas, é a atitude correta porque submete tudo ao senhorio e ao projeto de Deus.

 

Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:

 

  • Sinto-me apegado ao dinheiro? Que lugar ocupa o dinheiro dentro de minha escala de valores? Que faço com ele?
  • Que atitudes me pede o Evangelho de hoje com relação a meus bens? Que deve caracterizar minha relação com o dinheiro?
  • Que é “o verdadeiro”, segundo Jesus? Que importância tem para mim Deus, o próximo e o futuro?

 

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: