Estudo bíblico semanal de 27 de agosto a 01 de setembro

SEGUNDA-FEIRA

Jo 1,45-51

A ALEGRIA DE DESCOBRIR-SE CONHECIDO PELO SENHOR.

“Quando estavas debaixo da figueira, te vi”

 

Ao celebrar hoje a festa do Apóstolo Bartolomeu, lemos o Evangelho do primeiro encontro de Jesus com Natanael (a quem a tradição identifica com Bartolomeu). O Evangelho nos remete à sua experiência vocacional. Em seu primeiro dia como discípulo, Natanael percorre um caminho de conhecimento progressivo do Senhor que o leva a fazer o primeiro ato de fé de todo o Evangelho de João (ver 1,50).

 

Para Natanael, o rosto de Jesus vai se desvelando progressivamente, assim:

  • Primeiro:

 

Jesus é a Plenitude das Escrituras – o testemunho de Filipe a Natanael. Não o faz usando definições abstratas, mas afirmando que n’Ele se cumpriu o que as Sagradas Escrituras hebreias (Lei e Profetas) haviam anunciado (cf.1,45b). Assim, a mensagem a Natanael é: Se queres ser fiel ao Antigo Testamento, a todo processo histórico da revelação de Deus, deves reconhecer Jesus como sua máxima realização.

  • Segundo

 

Jesus é o Filho de Deus (“Tu és”, 1,49ª).

  • Terceiro

 

Jesus é o Rei de Israel (“Tu és”, 1,49b).

 

De início, a reação de Natanael ante o testemunho de Filipe é de descrença, inclusive de preconceito: “De Nazaré pode vir coisa boa?” (1,46ª). Mas Filipe não se põe a convencê-lo com muitos argumentos e provas; não prossegue no jogo da discussão.

A verdade é que, quando há preconceitos, as palavras são inúteis. Por isso, simplesmente, o convida: “Vem e o verás” (1,46b).

O verdadeiro conhecimento de Jesus não pode vir senão do encontro com Ele. Daí que o convite de Filipe a Natanael pode soar assim: “Deixa de lado tuas ideias e teus preconceitos e confia no encontro com Jesus, depois tira tuas próprias conclusões”.

Chega para Natanael a hora decisiva. Seu encontro pessoal com Jesus é um dom e não conseguirá mais recompor-se do estupor: descobre que Jesus conhece seu coração. Jesus sabe que Natanael é um israelita em quem não há falsidade, um homem “de uma só palavra, honesto”: “Ai tens um israelita de verdade, em quem não há engano” (1,47b).

Então, ouvimos a reação: “De onde me conheces?” (1,48ª). Jesus o faz saber que conhece algumas coisas suas, estritamente pessoais: “Quando estavas debaixo da figueira, te vi” (1,48b).

 

A expressão “Eu te vi debaixo da figueira” (1,48.50), qualquer que seja a explicação do que foi visto, a verdade é que se trata de algo muito pessoal.

O fato é que Jesus o conhece e isso o une mais estreitamente a Ele. O conhecimento profundo e pessoal é a base de grandes amizades. A reação de estupor de Natanael culmina na sua confissão de fé: “Tu és o Filho de Deus, tu és o rei de Israel” (1,49).

Natanael chega mais longe que os discípulos anteriores, só o superará Tomé depois: “Meu Senhor e meu Deus” (20,41).

Ao fazê-lo cair em conta de que aquilo que disse é uma expressão de fé, Jesus Cristo acolhe Natanael como seu discípulo (“vereis coisas maiores”; 1,50) e começa, então, a vivificá-lo, como filho de Deus (reconhece que “crê”, 1,50; cf.1,12: “Aos que creem no seu nome deu poder para se tornarem filhos de Deus”).

O sentir-se conhecido e amado, abriu os olhos de Natanael.  O discipulado é uma dinâmica de vida com base no conhecimento e no amor.

 

Cultivemos a semente da Palavra de Deus no profundo do coração

 

  • Como foi meu primeiro encontro com Jesus? Descubro-me conhecido e amado por meu Jesus?

 

  • Em que se baseia minha relação com Ele?

 

  • Quais são as “coisas maiores” que Jesus promete que verá Natanael?

 

 

 

 

 

 

 

 

TERÇA-FEIRA

Mateus 23,23-26

ABANDONASTES O QUE HÁ DE MAIS IMPORTANTE NA LEI:

A Justiça, a misericórdia e a fidelidade.

 

Ao recordar hoje Santo Agostinho, comecemos nossa Lectio orando junto com ele:

 

Tarde te amei, ó beleza sempre antiga e sempre nova, tarde te amei! Tu estavas dentro de mim, porém eu estava fora, e fora de mim te buscava; com meu espírito deformado, me precipitava sobre as coisas formosas que criaste. Estavas comigo e eu não estava contigo. Retinha-me longe de Ti aquilo que não existiria se não existisse em Ti. Chamaste-me, chamaste-me e rompeste minha surdez. Brilhaste, resplandeceste e dissipaste minha cegueira. Exalaste sobre mim teu perfume e o aspirei profundamente, e agora suspiro por Ti. Provei-te, e agora tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me, e agora desejo ardentemente tua paz.

 

O texto de hoje é parte de um discurso que Jesus faz contra os fariseus e os mestres da lei. Nesta confrontação o evangelista nos apresenta 7 (sete) “ais” com os quais Jesus quer mostrar o mal agir dos fariseus e dos mestres da lei. Dois desses “ais”, o quinto e o sexto, é o que se lê no texto de hoje.

 

O quinto ‘ai’ vai contra os que insistem na observância e esquecem a misericórdia, enquanto que o sexto vai contra os que limpam as coisas por fora e as sujam por dentro. Só observa plenamente a lei de Deus aquele que vai além da letra, até a raiz e arranca dentro de si “os maus desejos” que podem levar ao assassinato, ao adultério, etc…

 

A plenitude da lei se realiza na prática do amor de Deus e na fidelidade à Sagrada Escritura. Sem dúvida os termos mais relevantes nos ‘ais’ desta passagem são a justiça, a misericórdia e a fidelidade.

 

São estes os preceitos de mais peso na lei.

 

  • A Justiça: Aqui quer contrastar com o comportamento legalista dos fariseus. Como vemos o uso deste termo aqui não nega, ou seja, não é que os fariseus deixem de lado o juízo, mas que são indiferentes aos direitos dos pobres. Assim, o uso específico no texto relaciona-se ao mau uso desse juízo, e esse mau juízo se evidência em sempre estar contra os pobres.

 

  • A misericórdia: é uma das ações divinas essenciais a favor da humanidade, e também uma atitude exigida do homem para com o outro, e que, de acordo com seu fundo veterotestamentário, é a “bondade”. É o que Deus exige que uma pessoa observe com outra.

 

  • A fé ou fidelidade: faz referência principalmente a esse depósito de confiança nas palavras e ações de Jesus, em especial nas ações milagrosas. Para o caso que nos ocupa, considerando o contexto da passagem, é fidelidade à vontade de Deus revelada na Escritura.

 

Aprofundemos com os nossos pais na fé:

 

Orígenes (cerca de 185-253), presbítero e teólogo.

 

“Purifica primeiro o interior da taça”

 

Partamos para a guerra, como Josué; tomemos de assalto à cidade mais forte deste mundo – a malícia – e destruamos as muralhas orgulhosas do pecado…

Irias procurar à tua volta o caminho que é preciso tomar, o campo de batalha que tens de escolher? Sem dúvida, vais achar que as minhas palavras são estranhas; contudo, elas são verdadeiras: limita a tua procura a ti mesmo.

Está em ti o combate que vais travar, no interior de ti o edifício de malícia que tens de minar; o teu inimigo sai do fundo do teu coração.

Não sou eu quem o diz, mas Cristo; escuta-o: “É do coração que vêm os maus pensamentos, os assassínios, os adultérios, as impurezas, os roubos, os falsos testemunhos, as palavras injuriosas”.

Percebes qual é o poder deste exército inimigo que avança contra ti a partir do fundo do teu coração?

Ei-los, os inimigos que temos de massacrar no primeiro combate, que temos de eliminar na primeira linha da batalha.

Se formos capazes de derrubar as suas muralhas e de exterminá-los até que não reste nenhum para ir contar, nenhum para recobrar o ânimo (Js 11,14), se não ficar um único para retomar vida e ressurgir nos nossos pensamentos, então Jesus dar-nos-á o grande repouso.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Quais os dois motivos para receber uma crítica severa de parte de Jesus?

 

  • Qual dos dois predomina mais em mim?

 

  • Observância e gratuidade: qual das duas prevalece em mim?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

QUARTA-FEIRA

Mateus 23,27-32

CONTINUA A DENUNCIA CONTRA OS FARISEUS:

“Sois semelhantes aos sepulcros caiados…”

 

Continua a denúncia contra os fariseus. Mais duas acusações de Jesus, com as quais termina esta série. Aliás, todo este capitulo 23 do evangelho de São Mateus, é sombrio, desolador, trágico.

 

Os dois últimos “ais” (vv.27.29) desvelam a presença da morte na classe dos dirigentes farisaicos e, assim, culmina o lamento fúnebre de Jesus que brota da rejeição que sofre ao longo de seu caminho. “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois semelhantes aos sepulcros caiados…” (v.27).

 

Assim segue Jesus fustigando o pecado da hipocrisia: parecer por fora o que não se é por dentro. Como havia condenado as árvores que só têm aparência e não dão fruto (lembrar o episódio da figueira amaldiçoada), aqui desabona as pessoas que cuidam de ter uma boa imagem ante os demais, porém, dentro estão cheios de malicia e de maldade.

 

Estas acusações não se constituíam somente em um eco dos conflitos enfrentados por Jesus, mas também os sofrimentos que estavam atravessando as comunidades cristãs primitivas. Com efeito, os fariseus não perseguiram só a Jesus, mas continuaram, de forma até mais acentuada, a perseguição contra os cristãos, na medida em que estes deixaram de ser uma seita do judaísmo e começaram a adquirir a sua própria identidade. De fato, dentro do judaísmo, havia muitas seitas e movimentos religiosos que propunham reformas e remendos às antigas instituições. Nenhuma, porém, no fundo, se atrevia a questionar a legitimidade destas, em si mesmas, como fez o cristianismo.

 

Os cristãos, ao proclamar que Jesus era o Messias enviado de Deus, punham em dúvida a validade de todas as instituições, inclusive das mais sagradas, como o templo. A pessoa e a palavra de Jesus eram uma alternativa nova e definitiva frente às antigas instituições.

 

A novidade de Jesus consistia numa valorização incondicional da vida da pessoa humana, sobretudo a sua identidade de filho muito amado de Deus, estava acima de leis e instituições. Para ele, absolutamente, ninguém tinha poder para tirar isso do outro. Pois no momento que alguém se achava neste direito, estava aberto o caminho para a crueldade. A dignidade humana se constituía como o fundamento da nova humanidade.

 

“Ai de vós escribas e fariseus que edificais os sepulcros dos profetas e adornais os monumentos dos justos” (v.29). O evangelho nos convida a que lancemos novos “ais” contra os modernos “túmulos caiados” que encobrem violência e corrupção, e que denunciemos aos que fazem monumentos à suas vítimas para encobrir a impunidade que se perpetua na história.

 

Aprofundemos com os nossos pais na fé

 

Epístola dita de Barnabé (cerca de 130)

 

Afastar-se do caminho da hipocrisia e do mal

 

Há duas vias para o ensino e para a ação: a da luz e a das trevas. A distância entre estas duas vias é grande… A via das trevas é tortuosa e semeada de maldições. É o caminho da morte e do castigo eterno. Tudo o que pode arruinar uma vida está aí: idolatria, arrogância, orgulho do poder, hipocrisia, duplicidade de coração, adultério, assassínio, roubo, vaidade, desobediência, fraude, malícia, cupidez, desprezo de Deus. Por aí vão os que perseguem as pessoas de bem, os inimigos da verdade, os que são indiferentes à viúva e ao órfão…, sem atenção ao indigente e que esmagam o oprimido. Por isso, é justo instruir-se acerca das vontades do Senhor que estão escritas e caminhar junto delas. O que assim agir será glorificado no Reino de Deus. Mas todo aquele que escolher o outro caminho morrerá com as suas obras. Eis porque há uma ressurreição e uma retribuição. A vós, portanto, dirijo um pedido: estais rodeados de pessoas a quem fazer o bem; não deixeis de fazê-lo.

 

Cultivemos a semente da palavra na profundidade do coração

 

Hoje enfrentamos a muitas instituições que, em nome das mais diversas causas, inclusive das religiosas, se dão ao direito de dominar a vida do ser humano. Toda a realidade é reduzida a uma contradição, em benefício de seus interesses econômicos, políticos e sectários. Também convém que nos avaliemos no outro aspecto que Jesus denuncia:

 

  • Somos dessas pessoas que, de palavra, se distanciam dos maus, como os fariseus de seus antepassados («nós não fizemos isso de nenhuma maneira»), porém, na realidade somos tão maus ou piores que eles, quando se nos apresenta a ocasião?

 

  • E se poderia dizer algo assim da Igreja, que denuncia, e com razão, os males da sociedade, porém que pode cair nas mesmas faltas, como a ambição, a violência ou o interesse pelo poder?

 

  • E também de cada um de nós, que nos consideramos os «bons», sempre tentados de crer-nos até como os melhores, os perfeitos, quando, na realidade, talvez sejamos, espiritualmente, mais pobres que os que temos tido por afastados ou não crentes?

 

 

 

 

 

QUINTA-FEIRA

Mateus 24,42-51

A ATITUDE ANTE A SEGUNDA VINDA DE JESUS

“Sede sóbrios e vigiai”.

 

Restam-nos três dias de leitura do Evangelho de São Mateus. E todos têm um mesmo tema: o discurso «escatológico» de Jesus, o quinto e último dos discursos que Mateus nos oferece em seu Evangelho, organizando os ditos de Jesus (cf. o que dizíamos na segunda da décima semana).

 

O discurso escatológico refere-se aos acontecimentos finais e, em mais concretamente, a atitude de vigilância que temos de ter com respeito à última vinda de Jesus.

 

Hoje, nos diz isso com duas comparações muito expressivas:

  • O ladrão que pode vir a qualquer momento, sem prévio aviso;
  • O amo que pode retornar na hora que os servos menos esperam.

 

Em ambos os casos, a falta de vigilância fará com que o ladrão e o amo não estejam preparados.

 

É de suma importância a recomendação da vigilância em nossa vida. Não é que seja iminente o fim do mundo, com a aparição gloriosa de Cristo. Nem que necessariamente nossa morte esteja próxima. Mas é que a vinda do Senhor às nossas vidas acontece cada dia e é esta vinda, descoberta com fé vigilante, a que nos faz estar preparados para a outra, a final, a definitiva.

 

Toda a vida está cheia de momentos de graça, únicos, que não se repetem. Os judeus não souberam reconhecer a chegada do enviado. E nós? Desperdiçamos ou não nossas ocasiões de encontro com o Senhor Jesus Cristo?

 

O estudante estuda desde o início do curso, todos os dias. O atleta se esforça com exercícios diários muito tempo antes de acontecer o campeonato. O camponês pensa no resultado final já a partir de semeadura e cuida diariamente de sua plantação.

 

Ainda que não sejam iminentes, nem os exames, ou o objetivo final, nem a colheita. Não é insensato, pensar no futuro. É sábio. Dia a dia se trabalha o êxito final. Dia a dia se vive o futuro e, se aproveita o tempo, tornando possível a alegria possível.

 

«Estejais em vigília»: bom apelo para a Igreja, povo peregrino, povo em marcha, que caminha para a última vinda de seu Senhor e Esposo. Bom apelo para alguns cristãos acordados, que sabem de onde vêm e pra onde vão, que não se deixam arrastar, sem mais nem menos, pela corrente do tempo e dos acontecimentos, que não se põem distraídos pelo caminho.

 

Estar vigilante não significa viver com medo, nem muito menos, com angústia, mas com sobriedade, com seriedade, os seus dias. Porque todos nós queremos ouvir, no final, as palavras de Jesus: “muito bem, servo bom e fiel, entra na alegria do teu Senhor”.

 

Onde está a raiz do problema hoje? Em contentar-nos com apenas sentir o cheiro do divino.  Não nos deixamos tocar. Não nos deixamos possuir. Não damos espaços ao Espírito Santo, para que possa agir no cotidiano de nossas vidas.

 

“Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mc 14,38). “Vigiai e orai”, diz, portanto o Senhor.

 

Não basta ouvir, não basta sentir, não pasta perceber, como acontece a todo vigilante, mas é preciso que se estabeleça “aqui e agora” o reinado de Deus, que começa dentro de nós.

 

Jesus nos pede: Para “Despertar a aurora” (Sl 108); para “Orar em toda circunstância, pelo Espírito” (Ef 6,18); Para: “Orai sem cessar” (I Ts 5,17).

 

E por quê? Porque se tem que lutar, constantemente, pela fidelidade à graça, contra as más inclinações e paixões, especialmente contra a tibieza e a sonolência espiritual (Ap 3,15s), que é tão comum no meio de nós.

 

Não uma oração desde a nossa soberba e presunção espiritual, mas desde o abismo de nossas misérias. Com efeito, já nos disse São Tiago: Reconhecei a vossa miséria, afligi-vos e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto e a vossa alegria em tristeza” (4,9).

 

Cultivemos a semente da palavra na profundidade do coração

 

O Espírito de Deus paira sobre as águas do caos deste tempo em que vivemos e quer produzir vida.

 

  • Tem Ele em você um aliado pronto e sempre agradecido? Como pode ao certo contar comigo?

 

  • Que coisas nós devemos renunciar, ou seja, deixar para trás, para começar a ser instrumento nas mãos do Espírito Santo?

 

 

 

 

 

 

SEXTA-FEIRA

Mateus 25,1-13

EM MEIO DA NOITE: SABER ESPERAR COM AS LÂMPADAS ACESAS.

“A meia noite se ouviu uma voz”

 

Vamos chegando ao final de nossa leitura do Evangelho segundo Mateus. Seguindo o ritmo do Evangelho entramos na etapa das últimas instruções de Jesus a seus discípulos, justo aquelas que são mais importantes para manter fidelidade ao seguimento.

 

O capítulo 24 de Mateus tem como tema central a vigilância: o discípulo que espera a vinda do Senhor não se lança a dormir, não deixa que a rotina o adormeça, mas está sempre atento ao que ocorre ao seu redor, com uma grande capacidade de discernimento.

 

No começo do capítulo 25, com a parábola das dez virgens, Jesus educa nesta atitude que deve ser característica de todo discípulo, de todo aquele que vive uma relação estreita, de abandono total a Jesus (expressado na imagem das “virgens”).

 

Vigiar” significa propriamente abster-se do sonho. Isto é o que precisamente se ilustra no comportamento das virgens. Podemos tirar as seguintes lições:

 

  • A pertença ao Reino de Deus não se dá por si mesma, mas pressupõe o comportamento intencional, as decisões. Assim como as virgens que se preparam ativamente para a vinda do noivo, é necessário agir sabiamente, com prudente previsão e coerência. O Reino de Deus se ganha com a sabedoria e se perde com a ignorância.

 

  • As dez virgens começam iguais, nas mesmas condições, porém logo cinco tomam vantagem às outras cinco. Jesus ensina que pessoas que começaram juntas e tiveram muitas coisas em comum podem chegar ao fim de modo distinto, segundo seu comportamento.

 

  • O ritmo da vida transcorre normal, o tempo passa e caímos na rotina. Jesus ensina a viver intensamente cada dia, não devemos esperar até o fim, tem que estar sempre preparados. Em nossa mente e em nosso coração deve estar sempre presente o Senhor e sua vontade, vivendo a vida como um “entrar” continuamente no Reino.

 

  • Só se estamos preparados, poderemos entrar no Reino dos céus, no senhorio pleno e bem-aventurado de Deus e acolhido na comunhão definitiva com ele. Quem não está preparado se encontra com uma porta fechada devido sua irresponsabilidade.

 

  • O futuro se ganha no presente. Tem que tomar a sério o tempo presente. O céu começa na terra.

 

Aprofundemos com os nossos pais na fé:

 

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja.

 

«No meio da noite»

 

As dez virgens quiseram todas elas ir ao encontro do esposo. Que significa ir ao encontro do esposo? É ir com o seu coração, é viver na espera da sua chegada. Mas ele tardava a vir e “todas adormeceram”… Que significam estas palavras: “O sono caiu sobre todas elas”?

Há um sono a que ninguém pode escapar. Lembrem-se daquelas palavras do apóstolo Paulo: “Não queremos, irmão, que ignoreis o que diz respeito aos que dormem” (1 Ts 4,12), isto é, aos que estão mortos… Elas adormeceram todas. Acreditais que a virgem prudente possa escapar à morte? Não, sejam elas prudentes ou loucas, todas devem passar pelo sono da morte… “E eis que, no meio da noite, um grito se ouviu”. Que quer isto dizer? É no momento em que ninguém pensa, em que ninguém espera… Ele virá no momento em que pensarmos menos nisso.

Porque virá ele assim? “Porque, diz ele, não vos compete conhecer o tempo ou a hora que o Pai fixou na sua autoridade” (At 1,7).

“O dia do Senhor, diz o apóstolo Paulo, virá como um ladrão em plena noite“ (1 Ts 5,3). Vigiai, pois, durante a noite para não serdes surpreendidos pelo ladrão. Pois, que o queirais ou não, o sono da morte virá… E, no entanto, isso só acontecerá quando se ouvir um grito no meio da noite.

Que grito é este, senão aquele de que o apóstolo Paulo diz: “Num instante, num piscar de olhos, ao som da última trombeta. Porque a trombeta soará e os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados” (1 Co 15,52). Após aquele grito que ressoará no meio da noite: “Eis que o esposo vem”, que acontecerá? “Todas se levantaram”.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Em que aspectos de minha vida eu vejo que me descuidei ultimamente? Que se debilitou em mim?

 

  • Que pode causar em mim – como no caso das cinco virgens insensatas – um adormecimento que leva à irresponsabilidade? (por exemplo, o uso indiscriminado da televisão).

 

  • Que decisões eu vou tomar para pôr azeite novo em minha lâmpada?

 

 

 

 

 

 

 

 

SÁBADO

Marcos 6,17-29

TESTEMUNHO DA VERDADE

“Herodes via que João era um homem justo e santo”

 

Hoje recordamos o martírio de João Batista, um homem que não teve medo da verdade e morreu por ela. Se observamos bem este texto, tomado desde o versículo 14, se nos apresenta bem no meio de um duplo movimento dos apóstolos:

  • Antes: o envio (vv.7-13)
  • Depois: o regresso (vv.30ss)

 

Jesus acaba de dar aos apóstolos as indicações acerca do que devem fazer para que a evangelização que os confia seja eficaz. No ambiente se percebe o entusiasmo com o qual eles saem a realizar sua missão; entusiasmo que será mais intenso no momento do regresso.

 

Penso que não é casual que esta passagem esteja entre estes dois movimentos; é como se quisessem nos dizer que a melhor evangelização leva em si o testemunho de uma vida límpida, capaz de entregar-se pela verdade.

 

Toda a atividade anterior de Jesus (curas, pregação, ressurreição de uma menina, etc.) havia feito que sua fama se fortalecesse e seu conhecimento na região se estendesse. Contudo, este conhecimento nem sempre coincidia com sua verdadeira identidade. Para alguns era Elias ou algum outro profeta.

 

Para outros, incluindo o próprio Herodes, Jesus era o próprio João a quem ele havia mandado decapitar, pois ainda que reconhecesse que era um “homem santo e justo” (v.20), não pode evitar a maldade de Herodíades, a esposa de seu irmão, com quem convivia ilicitamente; situação que havia sido denunciada e reprovada por João.

 

No relato se destacam, além de João, outros três personagens nos quais é bom deter-nos:

 

(1) Herodes: um rei débil, sobre quem pôde mais a influência negativa de Herodíades, para encarcerar e dar morte a João, que seu “convencimento” pessoal de que João era “um homem santo e Justo” (v.20). E como se fosse pouco, o texto agrega que Herodes “o protegia e ainda que ao ouvi-lo se inquietasse, o escutava de boa vontade” (v, 20).

 

(2) Herodíades: a mulher para quem seu único recurso contra João, que continuamente reprovava sua conduta, foi à vingança. Ela não ficou tranquila até que não “viu chegar sua oportunidade” (v.21).

 

(3) A filha de Herodíades: que manipulada por sua mãe foi à intermediária do fatal desenlace.

 

É neste contexto que ressalta com nitidez e grandeza a figura de João, mártir da verdade e do valor. Nem o cárcere nem a morte fizeram com que ele falasse menos forte ou mudasse de parecer. Foi valente e claro desde o princípio até o fim.

 

Retiremos do texto alguns traços de sua personalidade:

 

João foi um tipo destemido que disse as coisas claramente, sem matizar nem minimizar a realidade do pecado: “João dizia a Herodes: ‘Não te é permitido ter a mulher de teu irmão'” (v.18).

 

Herodes mesmo nos assinala dois traços significativos da personalidade de João: “Era um homem justo e santo” (v.20). Justiça e santidade que não se inclinaram nem se calaram por conveniência nem sequer ante a autoridade real nem a ameaça de morte.

 

Vê-se, também, que João era muito agradável ao falar, pois “Herodes escutava a João de boa vontade” (v.20). Dizia as coisas aberta e diretamente e possuía o dom de fazê-las chegar direto ao coração de seus ouvintes.

 

Que a figura de João que nos apresenta a liturgia hoje nos estimule a todos a viver como verdadeiros discípulos de Jesus fazendo que a verdade brilhe cada vez mais em nossa sociedade marcada pela mentira e o engano.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Por que Herodes temia e buscava proteger a João Batista?

 

  • Que atitude tenho ante a mentira e o engano que posso ver nas pessoas com as quais me relaciono?

 

  • Que posso fazer concretamente para que em minha família, grupo ou comunidade, a verdade seja defendida a todo custo, ainda que com a própria vida, como o fez João?

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: