LECTIO DIVINA NA 2ª SEMANA DA PÁSCOA ANO 2020

LECTIO DIVINA – COMUNIDADE PAZ E BEM

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DOMINGO DA MISERICÓRDIA, 19 DE ABRIL DE 2020 – 2ª  SEMANA DA PÁSCOA

João 20,19-31 (Aparição aos discípulos) =Mt 16,14-18; Lc 24,36-49Estes dois episódios, próximos e relacionados a um mesmo tema, a fé, são eco fiel do que ocorreu no coração dos apóstolos após a mor­te de Jesus. No primeiro (vv.19-22), Jesus aparece aos onze, que, apesar do anúncio de Maria Madalena (v.18), estão ainda fechados no cená­culo por medo dos judeus. Jesus vence as barreiras: passa através das portas, ma­nifestando que sua condição é totalmente nova, ainda que não tenha desaparecido nada dos sofrimentos que padeceu na carne. A insistente referência ao lado traspassado de Jesus é própria de João, para indicar o cumprimento das profecias em Jesus (Ez 47,1; Zc 12,10.14). A tradicional saudação de paz assume, também, em seus lábios, sentido novo: do desejo passa à pre­sença. A paz, dom messiâ­nico por excelência, que inclui todo bem, é, pois, uma pessoa: é o Senhor crucificado e ressuscitado em meio dos seus (“se apresentou»: vv.14.19b.26b). Ao vê-lo, os discípulos ficam cheios de alegria e confirmados na fé. O Espírito que Jesus sopra sobre eles, principio de uma nova criação (Gn 2,7), confe­re aos apóstolos uma missão que prolonga a sua no tempo e no espaço e lhes concede o poder divino de libertar do pecado. O segundo quadro (vv.24-29) personaliza em Tomé as duvidas e o asceticismo que atribuem os sinóticos, de modo genérico, a «alguns» dos doze, e que po­dem surgir em qualquer um. Tomé viu a agonia de seu Mestre e se nega a crer agora em uma realidade que não seja concreta, tangível, quanto ao sofrimento do que foi testemunho (v.25). Jesus condescende à obstina­da pretensão do discípulo (v.27), pois é preciso que o grupo dos apóstolos se mostre firme e forte na fé para poder anunciar a ressurreição ao mundo. Precisamente a Tomé atribui a confissão de fé mais elevada e completa: «Meu Senhor e meu Deus!» (v.28). Aplica ao Ressuscitado os nomes bíblicos de Deus, Yahweh e Elohím, e o possessivo «meu» indica sua plena adesão de amor, mais que de fé, a Jesus. A visão conduz Tomé à fé, mas o Senhor declara, de modo aberto, para todos os tempos: bem-aventurados os que creram pela palavra dos testemunhos, sem pretender ver. Estes experimentarão a graça de uma fé pura que, sem dúvida, é confirmada pelo coração e o faz exultar com uma alegria inefável e radiante (1 Pe 1,8). Os vv.30s constituem a primeira conclusão do evangelho de João: trata-se de um testemunho escrito que não pretende ser exaustivo, mas só suscitar e corroborar a fé em que «Jesus é o Cristo, o Filho de Deus» (cf. Mc 1,1).

 

 

At 5,12-16 (Quadro de conjunto)– O texto apresenta o terceiro dos «compên­dios» dos Atos dos Apóstolos. Trata-se de resu­mos usados na narração de Lucas como «pontes» entre diferentes seções. Mostram como vivia a co­munidade cristã naqueles tempos e como deveria viver sempre. Neste compendio se encon­tram, de fato, sete verbos, em imperfeito, destinados a indicar uma situação habitual da comunidade: fala num lugar de encontro junto ao templo (o pórtico de Salomão), que se reúne em torno aos apósto­los e mostra possuir uma identidade bem diferente dos outros. No centro da narração aparece a presença e a ação dos apóstolos, em particular de Pedro. Estes realizam sinais e prodígios que testemunham o poder do Ressuscitado. O povo exulta; aumenta o número dos crentes; aumenta também a fé suscitada pelo poder de cura dos apóstolos, até pela som­bra de Pedro. Perfilam-se aqui os traços da Igreja, que, enquanto vai se formando, agrega sempre, pelo poder do Espírito, novos membros, sobretudo me­diante a atividade dos apóstolos.

 

Ap 1,9-11a.12-13.17-19 (Visão preparatória)– O Apocalipse é, por excelência, o livro da «re­velação» de Jesus, ainda que exija do leitor o paciente trabalho de entrar em sua linguagem carregada de símbolos. João tem esta revelação em favor dos irmãos quando estava exilado na ilha de Patmos. Na profunda experiência espiritual (v.10) vivida por ele, tem lugar, precisamente, o domingo, dia memorial da ressurreição do Senhor. Ouve, às suas costas, uma voz potente, «como de trombeta», que o ordena escrever o que via. Os elementos presentes nesta primeira experiência recordam a revelação do Sinai, mas entendida em sua plenitude, graças ao mistério pascal. De fato, João tem que voltar-se (=epistrépheil, mesmo verbo que indica a «conversão» como retorno a Deus) e, exatamente, porque se «converte», pode ver: aparece, então, ante seus olhos, um misterioso personagem, «uma espécie de figura humana» (v.13) em meio a sete candelabros de sete braços. O único candelabro de sete braços do templo de Jerusalém se transformou, pois, em mu­itos candelabros para indicar que houve uma passagem do único lugar do culto – o templo – para toda a comunidade eclesial. Em meio deles está Cristo ressuscitado, descrito com elementos tomados do Antigo Testamento que expressam a unção messiânica que chegou a seu cume. A longa túnica e o cinto de ouro (v.13) são um traço dis­tintivo sacerdotal (cf. Dn 10,5); o cabelo branco (v.14a) alude ao «ancião dos dias» de Dn 7,9. O Filho do homem é Deus mesmo. Frente a ele reage João com desconcerto próprio de quem entra em contacto com Deus, mas o personagem glorioso o tranquiliza e se revela com cinco expressões que lhe qualificam como o Ressuscitado. É «o primeiro e o último», isto é, o criador e senhor do cosmos e da historia (cf.Is 44,8;48,12); «o que vive», a saber: o que tem a vida em si mesmo, segundo uma terminologia muito usada pelo Antigo Testamento. Não só é o que vive, mas o que tem as chaves, isto é, o poder da morte e do abismo dos mortos.

 

Sl 117/118 (Liturgia para a festa das Tendas) – Trata-se de um grande cântico de vitória e ação de graças cantado na ceia pascal. Seria o salmista um rei que volta vitorioso da guerra? Alguém que superou uma grande enfermidade ou que exerce uma influência no povo e que vê realizado seu sucesso? Não importa quem seja ou o motivo que suscitou em seu coração esta oração; o que realmente importa é sempre agradar a Deus por tudo que d’Ele recebemos. Este cântico era muito familiar à oração de Jesus. Ele deve tê-lo rezado muitas vezes no silêncio da noite, no monte e, talvez, com seus discípulos para fazê-los compreender que Ele é a “porta” que os justos devem entrar e encontrar a salvação. Assim, rezemos este Salmo com mais afinco.

Senhor, quero unir-me à voz de Cristo para cantar este Salmo e manifestar-te toda a minha gratidão pelas santas vitórias que tenho conseguido na minha vida, com a tua graça. As enfermidades superadas; as lutas, as injustiças sofridas que depois se clarearam; os desentendimentos familiares e comunitários que lentamente se iluminaram com a tua graça e presença. Louvo-te, Senhor, porque Cristo é minha pedra angular sobre a qual construo o meu futuro. Não tenho medo das rejeições nem das incompreensões, sei que isto faz parte do seguimento de Cristo. É doloroso, mas tão belo ver tua Igreja perseguida, porque isto nos garante que ela é fiel, não ao mundo, mas sim à tua Palavra. Que eu possa sempre meditar este Salmo, vivendo a Páscoa não só uma vez por ano, mas todos os dias da minha vida. Amém.

MEDITATIO: «Estava morto, porém, agora vivo para sempre.» Jesus veio a compartilhar em tudo nossa condição humana e, agora também, nós temos nele a certeza de que a morte não é a última palavra pronunciada so­bre nosso destino. Esta certeza muda de modo radical a orientação de nosso coração. Nele, vivo, também nós vivemos uma vida nova. Assim, pois, é importante que todos nossos pensamentos, todas nossas ações, todos nossos encontros, estejam imbuídos da alegria e da novidade da vida ressus­citada que Jesus veio trazer-nos. A comunidade cristã é o lugar onde podemos levar a cabo e alimentar de maneira estável a experiência da vida nova, repleta de sentido e libertada da an­gustia e do medo. Sem dúvida, com excessiva frequência nos mostramos tardios e incrédulos, e nos reconhecemos facilmente na figura de Tomé, o apóstolo que queria tocar para crer. Como ele, também nós perseguimos, com frequên­cia, certezas que sejam conformes as nossas mesquinhas medidas. E o Senhor nos deixa fazer. Nos dá as provas que queremos e espera que, ante a evidencia, chegue­mos a proclamá-lo, com um ímpeto de fé e de amor que ele é nosso Senhor, nosso Deus.

 

ORATIO: Vem, fica conosco, Senhor, e ainda que encontres fechada a porta de nosso coração por temor ou por covardia, entra assim mesmo. Tua saudação de paz é bálsamo que faz desaparecer nossos medos; é dom que abre o caminho a novos horizontes. Dilata os espaços estreitos de nosso coração. Reforça nossa frágil es­perança e dá-nos olhos penetrantes para vislumbrar em tuas feridas, de amor os sinais de tua gloriosa ressurreição. Com frequência também nós nos mostramos incrédulos, necessitados de tocar e ver para poder crer e ser capazes de confiar. Faz que, iluminados pelo Espírito Santo, possamos ser contados entre os bem-aventurados que, ainda que não vendo, creram.

 

CONTEMPLATIO: Cristo apareceu aos apóstolos escondidos em uma casa e entrou com as portas fechadas. Porém Tomé, que não estava presente durante esta aparição, permaneceu incrédulo. Deseja ver, não aceita, nem lhe basta ouvir falar dela. Fecha os ouvidos e quer abrir o coração. Queima-lhe a impaciência. Tomé, homem de caráter exigente e desconfiado, põe adiante sua incredulidade, esperando gozar, assim, de uma visão. «Se ele me aparece – disse – eliminará minha incredulidade. Porei meu dedo nas cicatrizes dos cravos e abraçarei o Senhor a quem tanto amo. Re­provará também minha incredulidade, porém me cumulará com sua visão». O Senhor aparece de novo, aplaca o tormento e elimina a duvida de seu discípulo. Porém, mais que a duvida, satisfaz seu desejo. Entra com as portas fechadas. Esta incrível aparição confirma sua incrível ressurreição. Então Tomé lhe toca, desaparece sua desconfiança e, cumulado de uma fé sincera e de todo o amor que se deve ao próprio Deus, exclama: «Meu Senhor e meu Deus!». O Senhor lhe responde: «Porque me vistes, crestes. Bem-aventu­rados os que crêem sem ter me visto. Tomé anuncia a ressurreição aos que não me verão. Arrasta toda gente para crer, não no que vêem seus olhos, mas no que disse tua palavra». Estes são os novos recrutas do Senhor […]. Seguirão a Cristo sem tê-lo visto, o desejarão, crerão nele. Reconhecerão com os olhos da fé, não com os do corpo. Não porão seus dedos na ferida dos cravos, porém se unirão a sua cruz e abraçarão seus sofrimentos. Não verão o lado do Senhor, porém se unirão a seus membros através da graça (Basilio de Seleucia, Omelia sulla Pasqua).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:  

«Meu Senhor e meu Deus!» (Jo 20,28)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Encontrar a Deus! Vê, estou sem luz. Parece-me que poderia dizer frases bonitas (e entusiasmar-me com elas), mas justamente pronunciadas muito depressa, de maneira superficial. Encontro-me numa situação na qual o crer já não se me apresenta como um conhecer algo sobre Deus, como um «Credo», mas como a pedra de toque de minha fé. Se eu cresse de verdade, seguiria sendo ainda presa de insignificantes contrariedades com tanta frequência? Sentir-me-ia alarmado por projetos tão medianos? Não, então nada seria objeto de desprezo, mas tudo ficaria iluminado por este inimaginável e rico cumprimento de tudo. Em consequência, é minha fé a que tem que ser reanimada… Porém, onde se encontra sua debilidade? Creio, seguramente, que Jesus é Deus que veio entre nós e deu vida a minha vida. Creio, certamente, em Jesus, verdadeiro homem, que morreu crucificado e ressuscitou dentre os mortos: como Deus verdadeiro, «a morte já não tem poder sobre Ele». Sim, Jesus, creio que ressuscitastes. Tu, o Filho de Deus encarnado, «a fidelidade encarnada de Deus», ressuscitastes com teu corpo de homem. Creio que  venceste à morte, também a minha. Porém, creio de uma maneira vital nesta ressurreição da carne, de minha carne, como afirmo no Credo? Justamente como a viveu Jesus e como a leio nos quatro evangelhos? Não entrarei de verdade na ressurreição de Jesus mas que se digo um «sim» incondicional a minha ressurreição. Este «sim» ao meu destino pessoal é o que devo pronunciar antes que qualquer outra coisa, além de todas as falsas aparência dos sentidos, um «sim» a um «eu que continua em uma vida nova». É preciso que minha vontade se comprometa com este «sim» a minha sobrevivência gloriosa, para que meu «sim» a Cristo seja algo diferente de um simples som vocal (J. Loew, Dios incontro alí’uomo, Milán 1985).

 

 

 

 

 

 

 

SEGUNDA-FEIRA, 20 DE ABRIL DE 2020 2ª SEMANA DA PASCOA  – ANO A

João 3,1-8 (O encontro com Nicodemos) – O encontro com Nicodemos contém o primeiro discurso do ministério público do Senhor e tem uma grande importância em João. O tema fundamental é o caminho da fé. O evangelista o apresenta através de um personagem, representante do judaísmo, que, na realidade, por ser um verdadeiro israelita, crê só nos sinais-milagres e, em virtude desta débil fé, acaba sendo difícil para ele ele­var-se para acolher a revelação do amor que propõe Je­sus (v.11). Estamos frente à doutrina de Jesus sobre o mistério do «novo nascimento», sobre a fé no Filho unigênito de Deus e sobre a salvação ou a condenação do homem que recebe ou rejeita a Palavra de Jesus. A composição do texto se fixa primeiro na ambientação do colóquio (vv.1s) e, em seguida, apresenta o diálogo sobre o mistério do «novo nasci­mento» (vv.3-8).  O itinerário de fé de Nicodemos começa em sua disponibilidade, que chega inclusive a captar al­gumas verdades a partir dos sinais realizados por Jesus. Contudo, anda ainda muito longe de captar seu significado interior e o mistério da pessoa de Cristo. Jesus, com uma primeira e uma segunda revelação, desbarata a lógica humana do fariseu e o intro­duz no mistério do Reino de Deus, que está presen­te e opera em sua pessoa: «O que não nascer do alto… Se não nascer da água e do Espírito…» (vv.3.5). Trata-se de um nascimento no Espírito que só Deus pode operar no coração do homem com a fé na pessoa de Jesus (cf. Jo 1,12;Ez 36,25-27;Is 32,15;Jl 3,1s). Para entrar no Reino fazem falta duas coisas: a água, isto é, o batismo, e o Espírito, que permite fazer bro­tar a fé no crente. Nicodemos, para passar da fé débil à adulta, deve aprender a ser humil­de ante o mistério, fazer-se pequeno ante o único Mestre, que é Jesus.

 

 

At 4,23-31(Oração dos apóstolos na perseguição) – A pequena comunidade onde se refugiaram Pedro e João, diante da primeira perseguição da qual foi objeto, não reagiu preparando estratégias humanas, mas com oração. Essa oração, a mais detalhada do Novo Testa­mento, tem uma clara marca veterotestamentaria. Como em muitas orações dos profetas, aparece primeiro a invocação a Deus criador; em seguida, a recordação das maravilhas e dos benefícios e, por último, a petição. Interessa assinalar, em primeiro lugar, que o poder anunciar a Palavra com toda liberdade é que se pede , quer dizer, sem estar condicionados pelas ameaças. Não é que lhes falte valor – não têm medo da perseguição -; o que pedem é poder difundir a Palavra sem impedimentos. Temos de assinalar também, em segundo lugar, que a oração gira em torno do Salmo 2, onde se fala da cons­piração dos poderosos da terra – pagãos, como é natural – contra o rei ungido. Uma perseguição que teve lugar, em principio, contra Cristo, o Messias; Deus ri destas perseguições com sua trepidante vitoria da ressurreição. Os perseguidores são os poderosos, e entre eles há «gente de Israel» que se tornou aliada dos pagãos. A oração agrada a Deus, que a acolhe com um sinal visível, com um envio renovado do Espírito e com a audácia do anuncio.

 

Salmo 2 (O drama messiânico) – Este Salmo nos mostra o perfil de um verdadeiro rei, autoridade política que deve estar a serviço de Deus e de seu povo. Nenhuma atividade deve existir se estiver afastada do manto do Senhor, que deve estar no centro de tudo. Por isso, o político verdadeiro é “gerado por Deus”, para que o sirva e ajude na verdadeira promoção dos valores humanos e religiosos. Este Salmo é também utilizado pela Igreja com o propósito de elucidar a Cristo como verdadeiro Filho de Deus – aquele que veio para que os homens tenham vida e a tenham em plenitude.

Senhor, ilumina todos os nossos políticos para que eles possam compreender que o mandato que lhes é dado pelo povo deve ser exercido a serviço do povo, e não na busca dos próprios interesses. A política é um dom, um ministério que deve ser motivado pelo amor e pelo serviço. Dá-nos, Senhor, bons políticos que, em comunhão com os valores evangélicos, possam construir um mundo novo. Amém.

 

 

 

MEDITATIO: Frente à perseguição, os primeiros cristãos se puseram a orar. Não para serem libertados das moléstias da perseguição, mas para não deixar-se bloquear pelos obstáculos e para não perder o valor de anunciar a Pa­lavra. O resultado é a vinda do Espírito Santo, que lhes infunde energia e audácia. Para a evangelização se impõe a oração, muita oração. É que a evangelização é obra do Espírito, que toca, não só os corações dos ouvintes, mas também o coração, às vezes tíbio e vacilante, dos anunciadores. Rezo de verdade pela difusão do Evangelho? Rezo para ter a mesma parresia dos primeiros apóstolos e discípulos? Estou verdadeiramente convencido de que sem o Espírito, ressoa vazio o anuncio? Os santos oravam antes, durante e depois do anuncio para que o Espírito tivesse livre curso. Outra pergunta: «Pertenço, eu também, a esses que dedicam uma grande quantidade de tempo a confeccionar planos e projetos pastorais e “perdem” pouco tempo na oração?». Hoje deveria examinar-me sobre o tipo de oração que pratico: está mais orientada à segunda ou à primeira parte do Pai nosso? Está mais orientada às minhas necessidades e das pessoas que conheço, ou à difusão do Evangelho, ao «venha a nós teu Reino», à difusão da «Boa Noticia» no mundo? O tipo da oração que pratico expressa a qualidade evan­gélica de minhas preocupações. Há lugar nela para a difusão da Palavra? Inclusive para a difusão na qual participa meu grupo ou eu mesmo?

 

ORATIO: Devo reconhecer, Senhor, que minha oração é pouca e, por cima, muito narcisista. Falo-te de minhas coisas, de minhas preocupações, de meu próximo, do que me angustia ou do que tem relação comigo. Porém, te falo pouco do Reino… Não será porque me tenho resignado ao ocaso da fé? Não será acaso que me impressiona mais a pobreza eco­nômica que a pobreza espiritual? Não será que também eu me tenho adequado a esse modo de pensar, tão difundi­do em nossos dias, de que o importante é «fazer o bem»? Senhor, sei que isso é verdade, porém dá-me a pro­funda convicção de que também é insuficiente. De fato, se não te anuncio, quem te amará? E se não te amamos, que vale a vida? Convence-me, Senhor do pri­mado da Palavra, da necessária prioridade que tenho de outorgar a seu anuncio, do quanto devo partici­par na evangelização a partir de minha oração. Ó, Senhor, que amas a todos os homens e toda a criação, dirige a Ti e a tua Palavra minha pobre oração.

 

CONTEMPLATIO: A oração, seja pessoal ou eclesial, está pré-ordenada à ação: não deve ser considerada, em primeira instância, como fonte psicológica de força (“beber nas fontes», «aprovisionar-se» e outras fórmulas em uso), mas como ato de adoração, devido ao amor, que dá glória. Neste ato busca o homem, de maneira prioritária, responder desinteressadamente ao amor de Deus, e deste modo dá testemunho de que tem compreendido a manifestação divina do amor (Von Balthasar, Sólo el amor es digno de fe, Sígueme, Salamanca 1990).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Venha teu Reino, Senhor»

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – A Igreja foi chamada a anunciar a Boa Nova de Jesus a todos os povos e a todas as nações. Além das muitas obras de misericórdia com as quais a Igreja deve fazer visível o amor de Jesus, deve anunciar também com alegria o grande mistério da salvação de Deus, através de sua vida, do sofrimento, da morte, da ressurreição de Jesus. A história de Jesus há de ser proclamada e celebrada. Alguns a escutarão e se alegrarão, outros permanecerão indiferentes, e outros ainda se mostrarão hostis. A história de Jesus nem sempre será aceita, porém temos de contá-la. Nós, os que conhecemos essa história e tentamos vivê-la, temos a gloriosa tarefa de contá-la aos outros. Quando nossas palavras nascem de um coração cheio de amor e de gratidão, dão frutos, tanto se o vemos ou não (H.J.M. Pan para El viaje).

 

 

 

TERÇA-FEIRA, 21 DE ABRIL DE 2020

João 3,7b-15 (O encontro com Nicodemos) – O diálogo de Jesus com Nicodemos se torna aqui em um monólogo sem interrupção que o evangelista põe nos lábios de Jesus. Encontramo-nos ante palavras autênticas de Jesus e a testemunhos pós-pascais fundidos pelo autor em um só discurso. Trata-se de uma profissão de fé usada no interior da vida litúr­gica da Igreja joanina. Nela contem, em síntese, a história da salvação. O tema desenrola o que vimos no fragmento de ontem, centrado no testemunho de Cristo, Filho do homem descido do céu, o único que está em condições de revelar o amor de Deus pelos homens através de sua própria morte e ressurreição (vv.11-15). O evangelista insiste agora na importância da fé. Se esta não cresce com a revelação feita por Jesus sobre seu destino espi­ritual, como poderá ser acolhida a grande revelação rela­cionada com seu êxodo pascal? Os homens devem dar crédito a Cristo, ainda que nenhum deles tenha subido ao céu para captar os mistérios celestiais, já que só ele, que desceu do céu (v.13), está em condições de anunciar a realidade do Espírito Santo, e é a verdadeira ponte entre o homem e Deus. Só Jesus é o lugar ideal da presença de Deus. Esta revelação terá seu cumprimento na cruz, quando Jesus é exalta­do na gloria, para que «todo o que crer nele tenha a vida eterna» (v.15). A humanidade poderá compreender o escandaloso e desconcertante acontecimento da salvação por meio da cruz e curar-se de seu mal, como os judeus curaram-se no deserto das picadas das serpentes fitando a serpente de bronze (cf.Nm 21,4-9). O simbolismo da serpente de Moisés afirma a verdade de que a salvação consiste em submeter-nos a Deus e dirigir nosso olhar ao Crucificado, verdadeiro ato de fé que co­munica a vida eterna (cf.Jo 19,37).

 

At 4,32-37 (A primeira comunidade cristã)- Este é o segundo «compendio» onde Lucas apresenta o novo estilo de vida da Igreja, fruto do Espírito. Sublinha-se a comunhão de bens, descrita de um modo mais detalhado. Aparecem duas práticas de comunhão: a primeira con­siste em pôr em comum os próprios bens ou comunhão de uso. Cada um é proprietário de seus bens, porém se considera só administrador dos mesmos, pondo o fruto dos mesmos a disposição de todos. A se­gunda prática consiste na venda dos bens, segui­da da distribuição do arrecadado. Esta fazem os apóstolos depois que se deposita a seus pés a importância da venda. Estas duas práticas de co­munhão não são as únicas: os Atos dos Apóstolos apresentam outras. Paulo fala do trabalho de suas próprias mãos para prover às necessidades dos seus e dos débeis» (20,34s). O que importa a Lucas, sobretudo é mostrar que as distintas práticas de comunhão de bens estão arraigadas em uma profunda comunhão de espíritos e de corações. Do conjunto se desprende que estamos em presença da comunidade messiânica, herdeira das promessas feitas aos pais: «Não haverá nenhum pobre entre os teus, porque Yahweh te abençoará abundante­mente na terra que Yahweh teu Deus te dá em herança para que a possuas, porém só se escutas de verdade a voz de Yahweh teu Deus» (Dt 15,4s).

 

Salmo 92/93 (O poder do Deus Criador) – Este pequeno Salmo sempre foi muito importante, mas, especialmente hoje, sua leitura se faz necessária e muito nos engrandece. O ser humano está enfermo de uma doença que se espalha rapidamente: a doença do poder e do orgulho. O homem não aceita estar abaixo de Deus e tenta a cada momento ser o próprio Deus. Não há mais limites para ele, que acredita ser capaz de enfrentar e vencer a tudo. Brinca de ser eterno e crê que um dia a ciência ressuscitará todos os mortos e encontrará a vida eterna. Esquece-se que uma pequeníssima picada de mosquito pode causar uma infecção incurável. Precisamos recuperar o sentido de nossa fragilidade e pobreza, esconder-nos na nossa humanidade e proclamar a toda voz que somente Deus é eterno, soberano e grande, e que somos pobres e pequenos.

Senhor, a minha oração de hoje é breve: liberta-me do orgulho, e que eu nunca, mas nunca mesmo, pense nem por um breve instante que sou mais poderoso do que tu. Que me prostre e te adore mesmo quando a minha inteligência se rebela e se recusa a te servir; que saiba só dizer: “quero te servir”. Amém.

 

 

MEDITATIO: O texto dos Atos dos Apóstolos é um dos mais aludidos por parte da tradição espiritual da Igreja. A partir do primeiro monacato, em todos os mo­mentos de crise ou de dificuldades na vida cristã se tem feito referencia a este texto como a um modelo fun­dador e insuperável da vida da Igreja e, portanto, como a uma pedra sobre a qual é possível cons­truir formas autênticas de vida cristã. Neste texto aparecem toda a fascinação e a nostalgia da fraternidade; mais ainda: de uma Igreja fra­terna. Em um momento no qual parecem desaparecer outras perspectivas, eis aqui a possibilidade de retomar o caminho do renascimento a partir da fraternidade, a fonte inesgotável do estilo de vida cristão. A novidade cristã se expressa, sobretudo na fraternidade: através de comunidades fraternas, através de uma Igreja fraterna, através de uma mentalidade fraternal que bus­ca acima de tudo criar relações fraternas, como sinal da vinda do Reino. Que lugar ocupa a fraternidade em minhas preocupações? Que importância tem a construção da fraternidade em minha vida espiritual? É, acaso, minha espiritualidade uma espiritualidade individualista, da qual estão praticamente excluídos os irmãos?

 

ORATIO: Senhor, mostra-te bondoso comigo, que, de fato, considero pouco importante a fraternidade. Estou preo­cupado de que as coisas «funcionem» e, assim, encontro pretexto para esquecer-me de que os outros são meus irmãos, quando não os converto em meros instrumentos. Estou preocupado por minha saúde e, assim, me esqueço dos outros que também tem seus problemas, talvez muito mais graves que os meus. Estou preocupado pelo bem que devo fazer e, com frequência, não me pergunto se faço de uma forma fraterna, se faço de irmão a irmãos. Estou preocupado por levar-te aos afastados e me esqueço dos que tenho próximo. Senhor, concede-me olhos e coração fraternos. Quão afastado ando de tudo isto! Estou afastado e, a maioria das vezes, nem sequer me dou conta, pois não levo a serio a fraternidade: é pouco gratificante, não me faz brilhar, não acende minha fantasia, não me faz sentir-me um herói. Senhor, para fazer que eu queira ser, de verdade, irmão de meu próximo, deves iluminar-me, sempre, com tua palavra e teu Espírito, como fizeste nos começos de tua Igreja.

 

CONTEMPLATIO: Nosso Criador e Senhor dispõe todas as coisas de tal modo que se alguém quiser orgulhar-se do dom que tem recebido, deve humilhar-se pelas virtudes de ­que carece. O Senhor dispõe todas as coisas de tal modo que quando eleva a um mediante uma graça que tem recebido, mediante uma graça diferente o submete outro. Deus dispõe todas as coisas de tal modo que enquanto todas as coisas são de todos, em virtude de certa exigência da caridade, tudo se torna de cada um, e cada um possui no outro o que não tem recebido, de tal modo que cada um oferece como dom ao outro o que tem recebido. É o que disse Pedro: «Que cada qual ponha a serviço dos demais a graça que recebeu, como bons administradores das diversas graças de Deus» (1 Pe 4,10) (Gregorio Magno).

 

 

AÇÃO: Repete com frequencia e vive hoje a Palavra:

«Reina, Senhor, glorioso no meio de nós»

 

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – A finalidade de uma comunidade não pode ser só oferecer a seus membros um sentimento de bem estar. Seu objetivo e seu significado são bem mais fazer que todos os membros possam incitar-se uns aos outros, dia a dia, a percorrer juntos o caminho da confiança, com maturidade, com lealdade e em meio da efetividade; que possam aclarar  mal entendidos que se produzem; que possam resolver os conflitos e, sobretudo, que possam arraigar-se em Deus. E é que, e, uma comunidade, só poderemos viver bem longamente se dirigimos continuamente nosso olhar a Deus como nossa verdadeira meta e causa ultima de nossa vida (A. Grun, A onore Del cielo, come segno per La terra, Brescia).

 

 

 

 

 

QUARTA-FEIRA, 22 DE ABRIL DE 2020  

João 3,16-21 (O encontro com Nicodemus) A revelação iniciada antes continua avançando neste texto e chega até a fonte da vida: é o amor do Pai que entrega o Filho para destruir o pecado e a morte. Entrevemos aqui conca­tenadas duas categorias joaninas clássicas: o amor e o juízo. Os w.16s expressam uma idéia muito íntima para João: o caráter universal da obra salvífica de Cristo que tem sua origem na iniciativa misteriosa do amor de Deus pelos homens. O envio e a missão do Filho, fruto do amor do Pai pelo mundo, são a manifestação mais elevada de um Deus que «é amor» (cf.1 Jo 4,8-10). Esta é a eleição fundamental do homem: aceitar ou rejeitar o amor de um Pai que se revelou em Cristo. Sem dúvida, este amor não julga o mundo; e mais, o ilumina (v.17). Contudo, o amor que se revela entre os homens, os julga. Os homens, frente à proposta de salvação, devem tomar posição manifestando suas li­vres opções. Quem crê na pessoa de Jesus não é condenado, porém quem o rejeita e não crê no nome do Filho de Deus feito homem já está condenado (v.18). E a causa da condenação é uma só: a incredulidade, manter o coração fechado e surdo à Palavra de Jesus. Ao final desta revelação, à qual Jesus tem levado a Nicodemos – e, com ele, a todos os homens -, ao discípulo não lhe resta outra coisa que fazer seu o convite à conversão e a mudança radical de vida. A luz de Jesus é tão penetrante que derruba toda segurança humana e todo orgulho, até o mais escondido. Quem aceita à pessoa de Jesus e deixa lugar a um amor que o transcende encontra o que ninguém pode conseguir por si mesmo: possuir a verdadeira vida.

 

 

At 5,17-26 (Prisão e libertação miraculosa dos apóstolos) – A Palavra de Deus não pode estar aprisionada (cf. 2 Tm 2,9): este episodio constitui uma demonstração da verdade desta afirmação. A casta sacerdo­tal anda preocupada: não só pelo furor teológico que produz, aos saduceus, o ver anunciada a ressurreição, na qual não crêem, mas que a isto se acrescenta, também, a inveja que sentem, quer dizer, o temor de perder a influencia sobre o povo. Os apóstolos, encarcerados, experimentam que «o anjo do Senhor acampa em torno aos que lhe temem e os salva» (Sl 34,8). Salva-os para que possam ir ao templo e pôr-se a pregar «tudo referente a este estilo de vida». Deus protege os anunciadores do Evangelho. Quando Deus quer uma coisa, toda oposição humana resul­ta inútil e ridícula. De fato, o resto do relato está repleto de humor: Deus ri de seus adversários, segundo o Salmo 2, citado na pregação comunitária dos crentes. O grande peso de autoridade, dado que o Sinédrio está presente, esta vez, por completo, só serve para verifi­car o desdém divino: os apóstolos não estão no cárcere, ainda que tudo se encontra em ordem. Por cima, chega alguém para dizer que estão de novo ensinando ao povo. A humilhação é completa, e a confusão cresce de maneira desmesurada. De fato, quem pode resistir a Deus?

 

Salmo 33/34 (Louvor à justiça divina) – Deus é vida e amor, mas precisamos estar atentos, pois estamos cercados de situações que nos levam à morte: o mal, a violência, o ódio, as guerras. Além disso, vivemos um momento em que a vida está sendo destruída já no seu nascer, por meio do aborto. Há também uma morte que engana, pois não parece morte, mas igualmente pode matar: a injúria, o ódio, o rancor, a inimizade, a calúnia. Quem se decide a seguir o Senhor deve viver de acordo com a Palavra.

Senhor, que eu seja coerente no meu dia a dia, defenda a vida e participe de todos os atos e realizações que busquem resplandecer o amor e a justiça. A pedagogia do seu amor nunca se altera: os ricos que não partilham passarão fome e os pobres que te amam sempre serão saciados do teu amor e da tua paz. Amém.

 

 

 

 

MEDITATIO: Quem pode deter a Palavra? Deus está dispos­to a fazer prodígios em favor dos anunciadores de sua Palavra porque é palavra de vida. Porém, pensamos, às vezes: «Por que não os faz também hoje? Não são ne­cessárias também hoje as intervenções milagrosas, para fazer sair a Palavra do pequeno grupo, às vezes do gue­to, dos já não tão numerosos fieis?». Sem dúvida, será bom assinalar que o Senhor não preserva do cárcere aos anunciadores, mas que os liberta dela, com maior ou menor rapidez. A impotência da Palavra dura uma noite, em ocasiões anos, às vezes épocas, porém a Palavra avança irresistível «até os confins da terra». Aos que gemiam sob a bota do comunismo lhes parecia que havia terminado a época da fé. Naque­las regiões só restavam uns poucos velhos, os jovens pareciam irremediavelmente perdidos para a fé e o futuro se apresentava obscuro. Depois, de improviso, veio o fim do regime comunista. Já têm acontecido inumeráveis vezes ao longo da historia. Constantino chegou depois da mais violenta de todas as perseguições. Uma perseguição que parecia pôr em duvida a própria existência do cristianismo. Há tantas formas de prisão como também de libertação. O Senhor vai acompanhando o caminho de sua palavra e, de diferentes modos, se faz presente a seus anunciadores, acam­pando junto a eles e libertando-os das prisões externas e internas.

 

ORATIO: Devo convencer-me, Senhor, de que quando tu queres algo, és irresistível. Porém, não devo inquietar-me nem ter medo, nem deprimir-me, nem render-me. Quando tua Palavra parece acorrentada, quando teus anunciadores parecem encarcerados em um gueto, não posso perder a confiança em teu poder, ainda que esta seja, talvez, a tentação mais perigosa de hoje. Concede-me a certeza interior de que tu estás com teus anunciadores e os assistes; a certeza interior de que eu devo anunciar; de que me pedes o anuncio, não o êxito. E que o êxito o reservas para ti mesmo, quando queres abrir as portas dos corações, quando que­res preparar um novo público e um novo povo, quan­do decides que tua Palavra deve empreender a carreira pelo mundo, o mundo geográfico e o mundo dos corações. Concede-me, Senhor, não duvidar nunca de teu ilimitado poder, estar convencido de que devo semear sempre tua Palavra, sem «adaptá-la» demasiado, para que talvez seja melhor aceita e acolhida. Faz-me humilde, confia­nte, fiel dispensador de tua Palavra em todo momento e circunstancia, inclusive quando semeio fechado no cárcere de meu isolamento.

 

CONTEMPLATIO – As almas simples não necessitam meios complica­dos: dado que eu me encontro entre elas, uma manhã, durante minha ação de graças, o Senhor Jesus me deu um meio simples para levar a cabo minha missão. Fez-me compreender esta passagem do Cântico dos Cân­ticos: «Atrai-nos, nós correremos ao odor de teus per­fumes». Ó, Jesus, não é preciso dizer portanto: «Atraindo-­me, atrai às almas que eu amo». Esta simples palavra, «atrai-me», basta. Senhor, agora compreendo: quando uma alma se deixa cativar pelo odor embriagador de teus perfumes, não pode correr sozinha, mas que todas as almas que ama são arrastadas após ela. E isso é algo que acontece sem pressões, sem esforços. É uma consequência natural de sua atração para ti (Teresa do menino Jesus).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«O anjo do, Senhor acampa em torno aos que lhe temem e os salva» (Sl 34,8)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – A Boa Noticia se converte em má noticia quando é anunciada sem paz nem alegria. Todo o que proclama o amor de Jesus, que perdoa e cura, com um coração amargado é um falso testemunho. Jesus é o salvador do mundo. Nós, não. Nós somos chamados a dar testemunho, sempre com nossa vida e, em ocasiões, com nossas palavras, das grandes coisas que Deus fez em nosso favor. Agora bem, esse testemunho deve proceder de um coração disposto a dar sem receber nada em troca. Quanto mais confiemos no amor incondicional de Deus por nós, mais capazes seremos de anunciar o amor de Jesus sem condições internas nem externas (H.J.M. Nouwen, Pan para El viaje, PPC, Madrid).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

QUINTA-FEIRA, 23 DE ABRIL DE 2020

João 3,31-36 (Ministério de Jesus na Judéia. Ultimo testemunho de João) – Este texto recolhe em uma síntese a reflexão do evangelista, expressada com uma sucessão de ditos de Jesus muito estimados pela Igreja joanina. O tema central segue sendo a figura de Je­sus, único revelador do Pai e doador de vida eterna, através do Espírito Santo. O discípulo está convidado pela Palavra a comprovar sua própria relação com Jesus. Isto se leva a cabo à luz do exemplo do Batista, que renunciou a si mesmo e se abriu com alegria a Cristo. Cristo é «o que vem do alto» (v.31 a): pertence ao mundo divino e é superior a todos os homens. O homem, sem dúvida, ainda quando seja um grande profeta, como o Batista, «é terreno» (v.31b) e segue sendo um ser terreno e limitado. Em consequência, só Jesus po­de falar de Deus ao homem por experiência direta. Mas, inclusive ante estas palavras de vida eterna, que revela Jesus, se negam os homens a crer. Contudo, existe um «resto» que vive da fé: são os crentes que confessam «que Deus disse a verdade» (v.33). Sua fé é a que confirma que o agir de Jesus forma unidade com o Pai. Mas, Cristo não é só a revelação da Palavra de Deus: é a Palavra mesma, é «Espírito e vida» (Jo 6,63). Esta realidade profunda do ser de Jesus faz que, não só seja Ele o que recebe tudo do Pai, mas também o que transmite, por sua vez, quanto possui. É o canal através do qual se dá o Espírito Santo. Como comunica Jesus este dom? Através de sua Palavra, quando se deixa que ela penetre no interior do homem, é como se dá o Espírito de Deus de um modo superabundante. As palavras de Jesus e o Espíri­to de Deus estão em perfeita correspondência.

 

 

Atos 5,27-33 (Comparecimento diante do Sinédrio) – É o quarto discurso de Pedro, também diante do Sinédrio. Nele responde à dupla acusação de ter desobedecido à proibição de «en­sinar em nome de Jesus» e ter feito, aos notáveis do povo, responsáveis da morte de Jesus. É pre­ciso assinalar a alergia que sentem os membros do Sinédrio até «do nome desse», nome em torno ao qual se está levando a cabo o giro decisivo. As características deste breve discurso podem ser resumidas deste modo: primeiro, Pedro reafirma o dever de submeter-se a Deus antes que aos homens, pois só a quem se submete a Deus se lhe concede o Espírito (v.32). Segundo, a Jesus se lhe volta a chamar, uma vez mais, «Príncipe» (o autor, o iniciador) e «Salvador». Jesus é o novo Moisés que guia o povo para a libertação e salvação.Terceiro, a obra própria e originária deste Príncipe e Salvador consiste em «dar a Israel a ocasião de arrepender-se e de alcançar o perdão dos pecados». Trata-se de uma alusão a Jeremias: «Porei minha Lei em seu interior e sobre seus corações a escreverei, e eu serei seu Deus e eles serão meu povo» (31,33). Graças a Jesus, Príncipe e Salvador, chegaram os tempos deste dom sublime. Por último, o Espírito Santo é o que garante da autenticidade do testemunho, tanto em favor da vida nova, como da certeza e o valor que infunde e dos prodígios que realiza. A reação de raiva é preocupante: após a elimi­nação física do Nazareno, se pensa também na dos apóstolos.

 

Salmo 33/34 (Louvor à justiça divina) – Deus é vida e amor, mas precisamos estar atentos, pois estamos cercados de situações que nos levam à morte: o mal, a violência, o ódio, as guerras. Além disso, vivemos um momento em que a vida está sendo destruída já no seu nascer, por meio do aborto. Há também uma morte que engana, pois não parece morte, mas igualmente pode matar: a injúria, o ódio, o rancor, a inimizade, a calúnia. Quem se decide a seguir o Senhor deve viver de acordo com a Palavra.

Senhor, que eu seja coerente no meu dia a dia, defenda a vida e participe de todos os atos e realizações que busquem resplandecer o amor e a justiça. A pedagogia do seu amor nunca se altera: os ricos que não partilham passarão fome e os pobres que te amam sempre serão saciados do teu amor e da tua paz. Amém.

 

 

MEDITATIO: Todos os discursos de Pedro concluem com a pro­messa da remissão dos pecados para aqueles que se convertem. A obra de Jesus se apresenta aqui como a do iniciador e salvador destinado a dar a Israel a graça da conversão e remissão dos pecados. Esta nos faz pensar: por que este tema está sumindo da pregação e da consciência de muitos cristãos? Apresentar a salvação como perdão dos pecados está, pelo menos, fora de moda. Não se usa muito. Sem dúvida, para quem tem o sentido de Deus, para quem se dá conta da importância decisiva que tem de estar em comunhão com ele, para quem sente a experiência da tragédia que supõe estar longe dele, para quem leva a serio o fato de que, em defini­tivo, o que conta é estar em amizade e em comunhão com Deus, o perdão dos pecados se apresenta como fato decisivo da vida. Quem não é pecador? Quem não tem necessidade de perdão? Quem é mais «salvador” que aquele que, ao perdoar, restabelece a amizade com Deus? Apresentar a obra de Jesus como ligada ao perdão dos pecados é apresentá-la como a de alguém que restabelece a comunhão filial, amistosa, tranquilizadora, beatificante, com Deus. Esse é o inicio de qualquer outro bem messiânico. Que se pode construir sem este fundamento? Es­tar longe de Deus, sentir-nos não aceitos por Ele, sentir-­nos distantes da nossa origem e de nosso fim: se pode chamar a isso vida? Por isso Pedro anuncia Jesus como alguém que foi exaltado por Deus com o poder de oferecer o dom do restabelecimento da amizade entre o angustiado coração do homem e o ardente coração do Pai.

 

ORATIO: Dou-te graças, Senhor, por ter feito que me encontrasse hoje com esta Palavra que me recorda o dom do perdão dos pecados. Esqueço-me muito rápido das vezes que me tens perdoado, da alegria de sentir-me reconciliado por ti e contigo. Na tentativa de «atualizar» a palavra salvação para fazê-la compreensível e aceitável pelos outros, pelos irmãos que considero distraídos pelas excessivas coisas deste mundo, corro o risco de esquecer-me que a salvação, se bem que se reflete também neste mundo, consiste, fun­damentalmente, em estar e em sentir-se em comunhão con­tigo. Para nós, pecadores, isso inclui e pressupõe que tu perdoas nossos pecados. Senhor, ilumina-me para que saiba falar de tua salvação em termos compreensíveis, porém, ao mesmo tem­po, não me esqueça do núcleo insubstituível desta reali­dade que é estar unido a Ti. Faz, sobretudo, que não perca a esperança de ter-te como amigo benévolo quando, oprimido por minhas culpas, me dirija trêmulo a Ti: mostra-me, então, teu rosto benigno de salvador e dá-me teu Espírito «para o perdão dos pecados».

 

 

 

CONTEMPLATIO: O vigor da conversão é o ardor da caridade de­rramada em nossos corações com a visita do Espíri­to Santo. Está escrito deste mesmo Espírito que é Ele o perdão dos pecados. De fato, quando se digna visi­tar o coração dos justos, os purifica, com grande poder, de toda a impureza de seus pecados, porque, apenas se derrama na alma, suscita nela, de maneira inefável, o ódio aos pecados e o amor às virtudes. Faz que a alma odeie de imediato o que amava, ame ardente­mente aquilo por que sentia horror e suspire intensa­mente por um e outro, porque se recorda de ter amado -para sua condenação – o mal, e odiado o bem que ama. De fato, quem se atreverá a dizer que um homem, ainda que esteja carregado com o peso de todo tipo de peca­dos, pode perecer, se é visitado pela graça do Espírito Santo? (Gregório Magno, Comentaria ai libra pri­mero de Ias reyes, lI, 107).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:  

«Bem aventurado o homem que se refugia no Senhor» (cf. Sl 2,12c)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – De que modo trabalhamos para a reconciliação? Em primeiro lugar e, sobretudo, reivindicando para nós mesmos o fato de que Deus nos reconciliou consigo em Cristo. Porém não basta com crer isto com nossa cabeça. Devemos deixar que a verdade desta reconciliação penetre em todos os recantos de nosso ser. Até que não estejamos plena e absolutamente convencidos de que fomos reconciliados com Deus; de que estamos perdoados; de que temos recebido um coração novo, um espírito novo, olhos novos para ver e ouvidos novos para ouvir; continuaremos criando divisões entre a gente, porque esperaremos dela um poder de cura que não possui. Só quando confiemos plenamente no fato de que pertencemos a Deus e podemos encontrar em nossa relação com Deus tudo o que necessitamos para nossa mente, nosso coração, nossa alma, poderemos ser livres de verdade neste mundo e ser ministros da reconciliação. Isto é algo que não resulta fácil; muito prontamente voltamos a cair na duvida e na rejeição de nós mesmos. Necessitamos que nos recorde constantemente através da Palavra de Deus, dos sacramentos e do amor ao próximo que estamos reconciliados de verdade (H.J.M. Nouwen, Pan para El viaje, PPC, Madrid).

 

 

 

SEXTA-FEIRA, 24 DE ABRIL DE 2020          

João 6,1-15 (A multiplicação dos pães) =Mt 14,13-21; Mc 6,32-44; Lc 9,10-17 – O milagre da multiplicação dos pães intro­duz, de modo simbólico, no magno «discurso do pão da vida» e está situado no centro da atividade publica de Jesus. Trata-se de um sinal querido pelo Mestre para revelar-se a si mesmo. Sem dúvida, João apresenta o sinal como o novo milagre do maná (cf. Ex 16), feito por Jesus, novo Moisés, num novo Êxodo, e como símbolo da Eucaristia, cuja instituição na ultima ceia, à diferença dos sinóticos, não é contada. O texto revela um significado cristológico e sacramental preciso. Este sentido não é tanto o saciar a fome da multidão, mas, muito mais revelar a glória de Deus em Jesus, Palavra feita carne. O texto está dividido deste modo: a) introdução histórica (vv.1-4); b) diálogo entre Jesus e os discípulos (vv.5-10); c) descrição do sinal-milagre (vv.11-13); d) incompreensão da multidão e solidão de Jesus, que se retira a rezar no monte (vv.14s). Para João, Jesus é aquele em quem se cumpre o passa­do e se realizam todas as esperanças de Israel. De fato, o pão que o Mestre vai dar ao povo aperfeiçoa a páscoa judia –superando-a – e põe o grande milagre sob o sinal do banquete eucarístico cristão. Jesus fala em primeiro lugar ao povo que lhe segue, da no­va aliança com Deus e da vida eterna (à qual está destinada a humanidade). Em seguida, toma a ini­ciativa e chama a atenção do apóstolo Felipe sobre a di­ficuldade do momento. A solução humana não basta para saciar as necessidades do homem (v.7). É Jesus quem vai satisfazer em plenitude todas as necessidades. O alimento se multiplica em suas mãos. Todos ficam alimentados a tal ponto que, por indicação de Jesus, se recolhe o que sobrou em doze cestos «para que não se perca nada» (vv.12s). Com o sinal do pão, Jesus se apresenta como o Messias esperado que sacia a fome de seu povo sem faltar a compromissos com o projeto que o Pai traçou.

 

 

At 5,34-42 (Intervenção de Gamaliel) – Lucas apresenta sempre os fariseus sob uma luz favorável. De Gamaliel disse que é fariseu, quer dizer, um dos que, além de levar uma vida observante, crer na ressurreição. A intervenção do doutor da Lei se mostra prudente e resulta decisiva. A partir de dois exemplos de rebeliões, citados também pelo histo­riador Flavio Josefo, indica um principio de não intervenção, em nome da constante intervenção de Deus em favor de seu povo. Não se pode ir contra a agir divino mediante uma intervenção humana. Os apóstolos ficam em liberdade depois de – como Jesus – terem sido açoitados. É digna de destaque a ale­gria que sentem por terem merecido esse ultraje por amor ao Nome. Aparece aqui um eco da realização da bem-aventurança dos perseguidos: «Bem aventurados sereis quando os homens vos odiarem, quando vos ex­pulsem, os insultarem e proscrevam vosso nome como infame por causa do Filho do homem» (Lc 6,22). Porém, te­mos de assinalar também que, aqui se fala do Nome em absoluto para indicar a Jesus. Acontece que no judaísmo se em­pregava a expressão «o Nome» para dizer «Deus». Por sua vez, os Atos dos Apóstolos levam a cabo este atrevimento sem limites aos olhos dos judeus: substituir “Deus” (Uno, sim, trino, não, para o judaismo), por “Jesus”, para expressar que Deus opera em Jesus, que Deus se identifica com Ele. Mais ainda: o fato de que os apóstolos ensinem no templo de Jerusalém significa que, apesar das incompreensões e os abusos de poder das autoridades, os seguidores de Cristo ainda se encontravam fazendo parte do judaísmo, ou seja, era tidos, ainda, como uma «corrente», uma «seita» do judaísmo. Este, naquele período, se mostrava, te­ndo em conta todos os elementos, mas bem tole­rante. Até que chegou o furacão Estevão, que obrigou a situação a dar um decisivo e doloroso giro, ainda que vital.

 

Salmo 26/27 (Junto a Deus não há temor) – Deus é vida e amor, mas precisamos estar atentos, pois estamos cercados de situações que nos levam à morte: o mal, a violência, o ódio, as guerras. Além disso, vivemos um momento em que a vida está sendo destruída já no seu nascer, por meio do aborto. Há também uma morte que engana, pois não parece morte, mas igualmente pode matar: a injúria, o ódio, o rancor, a inimizade, a calúnia. Quem se decide a seguir o Senhor deve viver de acordo com a Palavra.

Senhor, que eu seja coerente no meu dia a dia, defenda a vida e participe de todos os atos e realizações que busquem resplandecer o amor e a justiça. A pedagogia do seu amor nunca se altera: os ricos que não partilham passarão fome e os pobres que te amam sempre serão saciados do teu amor e da tua paz. Amém.

 

 

MEDITATIO: A intervenção de Gamaliel resulta, ao final, favorável aos apóstolos. Seu principio de não intervenção – se não vem de Deus, não durará; e se é de Deus, é inú­til opor-se a ela – cita-se, com freqüência, como exemplo de conselho sábio e prudente. Ainda que nem sempre esteja ditado pela sabedoria, porque pode meter-se pelo meio certo desejo de viver tranquilo, de deixar correr as coisas – inclusive se poderia incorrer em fatalismo –, sem dúvida, quando está ditado por um espírito de fé no Deus que opera na historia, é, seguramente, um fato positivo. É preciso pôr em ação, ao menos em circunstancias parecidas, o critério sugerido por Gama­liel, especialmente no Ocidente, onde tudo parece de­pender de nós e onde, até nas coisas de Deus, é o principio da eficiência o que dita a lei. É ne­cessário adquirir, de novo, o sentido de Deus, que opera continuamente, que pode operar, que está presente tanto nos fenômenos grandes como nos pequenos. É necessário que sejamos mais humildes frente aos proble­mas da salvação. Neles o protagonista é Deus; nós somos só pobres e pequenos colaboradores. O que se nos pede é que não «arruinemos» os planos de Deus, que discirnamos mais, com humildade, sua ação, para apoiá-la, não para pormos acima dela.

 

ORATIO: Que presunçoso e cego sou eu, Senhor, com meus progra­mas, meus projetos, minha organização! Ocorre-me com frequência, Senhor, que tento administrar tua «empresa» de salvação como se me pertencesse e devesse obter dela a maior utilidade possível. Entregue totalmente a meu afã de eficiência, esqueço-me de perguntar-me sobre o que estás fazendo, esqueço-me de perguntar o que estás realizando. E assim, sem dar-me conta, quis que Tu entrasses em meus planos. E, assim, tuas surpresas – que são muitas! – me inquietam e me perturbam. Concede-me o espírito de sabe­doria e de discernimento para que seja capaz de encon­trar o justo caminho entre o que devo deixar-te fazer e o que a mim corresponde. Concede-me hoje, sobretudo, a humildade necessária para aceitar o que tu queres e para ajudar, de coração, teus planos, misteriosos com frequencia, porém, sempre infalíveis.

 

CONTEMPLATIO – Suplico-vos que vos estabeleçais totalmente em Deus para todos vossos assuntos, sem confiar-se de vosso poder ou saber, nem tampouco da opinião humana. Com esta con­dição, considero-vos armados contra todas as grandes adversidades espirituais e corporais que vos possam sobrevir. De fato, Deus sustenta e fortifica os humildes, especialmente àqueles que, nas coisas pequenas e baixas, viram suas debilidades como em um claro espe­lho e se deixaram vencer. Quando esses homens se sentem presa de tribulações superiores a todas às que tem conhecido, nada pode derrubá-los, porque tem a segurança, em virtude da grandeza de sua confiança em Deus, de que nada pode acontecer-lhes sem sua permissão e sem seu consentimento (Francisco Javier).

 

AÇÃO: Repete com frequencia e vive hoje a Palavra:  

«Espera no Senhor e sê forte» (Sl 26,14a)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – Uma leitura espiritual não significa só ler sobre pessoas ou coisas espirituais. É também ler espiritualmente, quer dizer, de maneira espiritual, a saber: ler com o desejo de que Deus venha mais próximo de nós. A maioria de nós lê para adquirir conhecimento ou para satisfazer sua própria curiosidade. A finalidade da leitura espiritual, sem duvida não é apoderar-se do conhecimento ou da informação, mas deixar que o Espírito de Deus reine sobre todos nós. Por muito estranho que possa parecer, a leitura espiritual significa deixar que Deus nos leia. Podemos ler com curiosidade a história de Jesus e perguntar-nos: “Aconteceu de verdade? Quem compôs esta história e como a fez?”. Porém também podemos ler a mesma história com atenção espiritual e perguntar-nos: “De que modo Deus me fala aqui e me convida a um amor mais generoso?” Podemos ler as noticias de cada dia simplesmente para ter algo de que falar em nosso trabalho. Porém podemos lê-las para fazer-nos mais conscientes da realidade do mundo, que tem necessidade das palavras e da ação salvifica de Deus. O problema não é tanto o que leiamos, mas como leiamos. A leitura espiritual é uma leitura que se faz prestando uma atenção interior ao movimento do Espírito de Deus em nossa vida exterior e interior. Esta atenção permitirá que Deus nos leia e nos explique o que verdadeiramente estamos fazendo (H. J. M Nouwen, Vivere nello Spirito, Brescia).

 

 

AUTORES: (Giorgio Zevini y Pier Giordano Cabra)

 

 

 

 

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