Quando um beijo se torna uma oração

Nos momentos em que a vida nos deixa sem palavras ou simplesmente cansados, a oração pode ser algo tão simples como um beijo no crucifixo

Certa noite, sentei-me no sofá para tentar rezar o Terço. Mas eu estava tão exausta por ter passado o dia cuidando de meus sete filhos, que beijei o minúsculo crucifixo e desfrutei de um momento de silêncio. Estava cansada demais para uma Ave-Maria sequer. 

Meu marido entrou na sala e disse:

– Sei que você queria conversar, mas estou exausto.

Eu respondi:

– Não tem problema. Acabei de dizer a Jesus a mesma coisa.

Quando estava caindo no sono, refleti sobre um caminho familiar e arborizado que já percorri inúmeras vezes com meu marido nestes 20 anos. Noites escuras em que ficamos de mãos dadas por quilômetros sem dizer uma palavra. E depois de algumas décadas de casamento, acabei encontrando descanso em nosso estilo de comunicação discreto e muitas vezes silencioso – conversas baseadas em nada.

A força do silêncio

Quando duas pessoas se conhecem bem, elas não precisam conversar. Pelo menos nem sempre. Muitas vezes, podemos simplesmente permanecer lado a lado. Então, por que as coisas deveriam ser diferentes com meu Único e Verdadeiro Cônjuge?  

O cardeal Robert Sarah preza tanto o tempo de silêncio com Nosso Senhor, que escreveu um livro inteiro sobre isso – “A Força do Silêncio” -, no qual se refere ao barulho constante de nossa cultura como uma forma de ditadura. Ele escreve: “Através do silêncio, voltamos à nossa origem celestial, onde não há nada além de calma, paz, repouso, contemplação silenciosa e adoração do rosto radiante de Deus”.

O Papa Francisco fez recentemente um discurso sobre a oração contemplativa. Ele citou o Cura d’Ars, que disse a famosa frase de Cristo: “Eu olho para Ele, e Ele olha para mim … a oração não precisa de muitas palavras. Um olhar é o suficiente. ”  

A fé também é física

Todos esses sentimentos ecoam as observações de São João sobre a encarnação: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós”. O versículo nos lembra que Cristo veio para estar conosco em um corpo, que nossa fé é física, não apenas intelectual ou o popular “espiritual, mas não religioso”. E esse aspecto físico pode ser extremamente útil. É por isso que nós, católicos, construímos descaradamente belas igrejas cheias de vitrais e estátuas.

 É por isso que nuvens de incenso fazem cócegas em nossos sentidos quando nos ajoelhamos diante de altares de pedra enquanto somos borrifados com água benta. 

De fato, ao fazermos o sinal da cruz, oferecemos uma oração física, invocando a Santíssima Trindade. E quando a vida nos deixa sem palavras ou simplesmente cansados, a oração pode ser algo tão simples como ajoelhar-nos à sombra de nosso Amado ou olhar para um crucifixo, oferecendo um pequeno beijo.  

via Aleteia

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: