Escutar a voz do Bom Pastor

O trecho de João 10,22-30 situa-se durante a Festa da Dedicação em Jerusalém, quando Jesus, confrontado pelos judeus, afirma com clareza: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30). Mas, antes desse clamor de identidade, Ele já havia se apresentado como o Bom Pastor, aquele que dá a vida por suas ovelhas. Daí, o grande convite deste Evangelho de hoje: escutar a Sua voz.


1. Contexto e desafio

Na Festa da Dedicação, o povo celebrava a restauração do Templo e reafirmava sua identidade nacional. Em meio a essa multidão, Jesus faz o contraste entre o Pastor divino e os “salteadores” (Jo 10,8), que entram pelo portão roubando e destruindo. Ele não apenas reivindica uma autoridade superior, mas revela um modo de conduzir: cuidar, proteger e conhecer cada uma de suas ovelhas pelo nome (Jo 10,3).


2. A voz do Bom Pastor

Escutar a voz do Bom Pastor implica três movimentos fundamentais:

  1. Silenciar as vozes do mundo
    • Num tempo de tantas informações e críticas, precisamos aprender a calar as múltiplas vozes que competem pela nossa atenção (redes sociais, ideologias, barulho cotidiano).
    • Somente no silêncio interno é que podemos distinguir o sussurro suave de Jesus, que não grita, mas chama pelo nome (Jo 10,3).
  2. Reconhecer o caráter da voz de Cristo
    • O Bom Pastor fala com ternura e verdade: não promete atalhos enganosos nem condena sumariamente.
    • Sua palavra edifica, dá coragem e aponta caminhos de compaixão e justiça.
  3. Responder com fidelidade
    • As ovelhas conhecem o pasto e seguem o Pastor. O ouvir gera obediência: permanecemos em comunhão com Ele e não nos perdemos (Jo 10,27-28).
    • Essa fidelidade exige renúncia ao egoísmo e solidariedade com os irmãos.

3. O “eu e o Pai somos um”

Quando Jesus afirma sua união com o Pai, Ele reforça que a voz que nós ouvimos não é de um homem apenas, mas do próprio Deus. Ao ouvir o Bom Pastor, escutamos o Pai que nos ama até dar a vida por nós (Jo 10,17-18).


4. Aplicação para hoje

  • Momento de oração: reserve instantes do dia para aquietar o coração, invocar o Espírito Santo e deixar-se guiar pelas Escrituras.
  • Discernimento comunitário: na Igreja, a escuta da palavra faz-se sacramentalmente (na liturgia) e também nos momentos de partilha, onde confirmamos se aquilo que ouvimos ressoa no Corpo de Cristo.
  • Vida concreta: ao decidir por algo importante, antes de agir, pergunte-se: “Será que é a voz do Bom Pastor ou outra voz disfarçada?”

Conclusão

Neste evangelho, Jesus convida-nos a reconhecer a Sua voz em meio a tantas vozes estranhas. Aprender a escutar o Bom Pastor é descobrir não apenas um guia, mas Aquele que deu a vida por nós, aquele que nos governa com amor fiel e que nos conquista pela ternura de seu chamado. Que tenhamos olhos e ouvidos atentos para segui-Lo sempre.

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