Lectio Divina da 7ª semana da Páscoa

DOMINGO, 02 de JUNHO DE 2019 – 6ª SEMANA DA PÁSCOA – ANO C

Lucas 24,46-53 (Ultimas instruções aos apóstolos; A ascensão) O relato da ascensão de Jesus no evangelho segundo são Lucas tem muitos traços em comum com o que do apresenta em Atos dos Apóstolos; contudo, os matizes e acentos diferentes são significativos. O acontecimento aparece narrado imediatamente a depois da páscoa, significando deste modo que se trata de um único mistério: a vitoria de Cristo sobre a morte coincide com sua exaltação à glória por obra do Pai (cf. v.51: «Foi levado ao céu»). Ao aparecer aos discípulos, o Ressuscitado «lhes abriu a men­te à inteligência das Escrituras», mostrando-lhes atra­vés delas que toda sua obra terrena fazia parte de um desígnio de Deus, que agora se estende diretamente aos discípulos, chamados a dar testemunho dele. De fato, a todas as nações deverá chegar o convite à conversão para o perdão dos pecados, a fim de par­ticipar no mistério pascal de Cristo (vv.47s). Jerusa­lém, para a qual tendia toda a missão de Jesus no ter­ceiro evangelho, se converte agora em ponto de partida da missão dos apóstolos: nela é onde devem esperar o dom do Espírito, que, segundo Deus havia prometido nas Escrituras (cf. Jl 3,1s; Ez 36,24-27; etc.), lhes enviará Jesus desde o Pai (cf. v.40). Uma vez lhes dada as últimas instruções, Jesus levou fora os discípulos, percorrendo o ca­minho contrário do que lhe havia levado à cidade o dia dos Ramos. Sobre o monte das Oliveiras, onde se encontra Betânia, e com um gesto sacerdotal de benção, se­para-se dos seus. Elevado ao céu, entra, para sempre, no santuário celestial (Hb 9,24). Os discípulos, pros­trados ante ele em atitude de adoração, reconhecem sua di­vindade; logo em seguida, cumprindo o mandamen­to de Jesus, voltam cheios de alegria a Jerusalém, onde frequentam, assiduamente, o templo, louvando a Deus (vv.52s): o evangelho conclui-se ali onde havia começado (1,7-10). O tempo de Cristo acaba com a es­pera do Espírito, cuja vinda abre o tempo da Igreja, preparado em meio da oração e do louvor, repleto da alegria do Ressuscitado.

 

 

Atos 1,1-11 (Em Jerusalém, Pedro justifica sua conduta) Este breve prólogo une o livro dos Atos dos Apóstolos ao evangelho segundo são Lucas, como a se­gunda parte (“discurso», v.1 ao pé da letra) de um mesmo escrito, e oferece uma síntese do quadro do ministério terreno de Jesus (vv.1-3). Trata-se de um resumo que contem preciosas indicações: Lucas quer sublinhar, de fato, que os apóstolos, eleitos no Es­pírito, são testemunhas (a) de toda a obra, ensinamento, paixão e ressurreição de Jesus, e (b) depositários das instruções particulares dadas pelo Ressuscitado antes de sua ascensão ao céu. Sua autoridade, portanto, foi querida pelo Senhor, que os pôs como fundamen­to da Igreja de todos os tempos (Ef 2,20; Ap 12,14). Jesus mostra ter um desígnio que escapa aos seus (vv.6s). O Reino de Deus do qual fala (v. 3b), não coin­cide com o reino messiânico de Israel; os tempos o mo­mentos de seu cumprimento só o Pai os conhece. Suas fronteiras são «os confins da terra» (vv.7s). Os apóstolos recebem, portanto, uma missão, porém não corresponde a eles «programá-la». Só devem estar completamente disponíveis ao Espírito prometido pelo Pai (vv.4-8). Como fez em outro tempo Abraão, também os apóstolos devem sair de sua terra, de sua segurança, de suas expectativas, e levar o Evangelho a terras distantes, sem ter medo das perseguições, fatigas e rejeições. A entrega da missão conclui a obra salvífica de Cristo na terra. Cumprindo as profecias ligadas à figura do Filho do homem apocalíptico, se eleva ao alto, ao céu (isto é, a Deus), ante os olhos dos apóstolos, testemunhos ao mesmo tempo, portanto, de sua glorificação, até que uma nuvem o tirou de sua vis­ta (cf. Dn 7,13). Lucas apresenta todo o ministério de Jesus como uma ascensão (desde Galileia a Jerusalém, e desde Jerusalém ao céu) e como um êxodo, que, agora, chega a seu cumpri­mento definitivo: na ascensão se realiza, plenamen­te, o «passar» (páscoa) ao Pai. Como anunciam dois homens «com vestes brancas», quer dizer, dois enviados celestiais, virá um dia, glorioso, sobre as nuvens (v.11). Não é preciso perscrutar, agora, com ansiedade, os sinais dos tempos, visto que se tratará de um acontecimento tão manifesto como sua partida. Terá lu­gar no tempo eleito pelo Pai (v.7) para o últi­mo êxodo, o passar da historia à eternidade, a páscoa da ordem criada por Deus, a ascensão da humanidade ao abraço trinitário.

 

Ef 1,17-23 (Triunfo e supremacia de Cristo) A Carta abre com a magna benção onde se contempla maravilhoso desígnio de Deus (“O mistério de sua vontade»: v.9), que abarca a toda a humanidade desde a eternidade (vv.13s). Após este exórdio, o louvor de Paulo se torna ação de graças e intercessão pelos cristãos de Éfeso, a fim de que lhes seja concedido «um espírito de sabedoria e revelação», ou seja, para que recebam, segundo a linguagem apo­calíptica, o dom de compreender e experimentar os mistérios de Deus. Em particular, pede para os fieis a luz espiri­tual, a fim de que vivam sabendo o que Deus tem pre­disposto para eles (v.18) e vai realizando com poder extraordinário e infalível (v.19). A ressurreição, a ascensão, a soberania de Cristo sobre todas as realidades criadas, manifestam a supe­r eminente glória de Deus, que, nele, já venceu à morte e a qualquer potencia espiritual que se oponha ao desígnio da salvação (v.21). O medo já não tem razão de ser: Cristo, elevado à direita do Pai, reina desde agora. Ele é a cabeça de toda a criação e, em particular, da Igreja, com a que forma uma unidade indissolúvel.5

 

Sl 46/47 (Iahweh é rei de Israel e do mundo) – O poder de Deus não pesa nem oprime, mas é amor e serviço. Não somos nós que servimos a Deus, mas é Ele que nos serve, pois nos dá o melhor de si a todo momento: o seu amor. E entregou seu filho Jesus Cristo para nos livrar do pecado. O poder de Deus é libertação e força, o que nos permite vencer todos os inimigos que nos afastam daquele que deve ser o nosso caminho. A verdadeira política não pode excluir Deus de seus projetos, pois sem Ele ela se torna nefasta e nociva ao crescimento do povo. Sem religião, o ser humano é incapaz de dominar os seus maiores instintos.

Senhor, quero proclamar-te único soberano de todos os povos. Que a humanidade errante e sem rumo possa reencontrar em ti a verdadeira força e o verdadeiro referencial. Sem ti não há crescimento nem progresso. Os políticos que não têm o Senhor não podem defender os interesses dos pobres, pois somente tu podes dar sentido ao nosso agir. Que todo político tenha uma religião reta, honesta e cheia de ternura e amor. Amém.

 

 

MEDITATIO: A solenidade da ascensão nos faz viver um dos muitos aspectos contraditórias da vida cristã, que a fazem tão adequada às exigências mais profundas do coração humano. Um coração dividido entre seu estar na terra e, ao mesmo tempo, ter sua casa, já, nos céus. Quando Jesus anunciou, durante a última ceia, seu próprio «êxodo» já próximo, prediz que esse acontecimento produziria tristeza em seus discípulos. Lucas, pelo contrario, descreve os apóstolos, que voltam a Jerusalém após ter visto Jesus desaparecer de seu olhar, «transbordantes de alegria». Não há aqui uma contradição? É preciso falar de dois tipos diferentes de alegria ou, pelo menos, de dois graus. Jesus disse: «Sabei que eu estou convosco todos os dias», porém também nós podemos dizer que, em certo sentido, estamos sempre com ele ali onde ele «subiu» com nossa hu­manidade, à direita do Pai, porque o batismo nos incorporou profundamente a ele. Portanto, também nós temos o céu como pátria. Nossa alegria será, em consequência, proporcional à fé com que vivemos, à certeza com que cremos que, agora, depois de que Jesus levou a cumprimento a vo­ntade do Pai, no mistério pascal, nada já é, para o homem, como antes. Deus está conosco e nós estamos com ele, sempre. A nós corresponde manter viva nossa fé, gozando pelo bem do amado: Jesus, que, agora, assumido à direita do Pai, vive para sempre na gloria. Ali, intercedendo em nosso favor, faz que cada um de nós leve a cumprimento o desígnio do Pai, para ver-nos definitiva e eternamente consu­mados no amor.

 

ORATIO: Não permitas, Senhor, que as trevas do esquecimento ofus­quem a esperança que hoje se acendeu em nossos corações: que na escuridão da noite, sua luz resplandeça mais viva. Que as tempestades da história não impeçam nossa carreira para ti, e que tua mão nos sustente. Faz de nós um povo peregrino; pobres de tudo, porém, ricos de tua promessa e fieis guardiões de teu mistério de unidade e paz. Nossa ressurreição já se iniciou, e, também, começou nossa ascensão. Que nosso desejo, como filhos agradecidos, seja deixar-nos atrair, mais e mais, a ti e ao Pai, pelo vínculo do amor.

 

CONTEMPLATIO: Maravilha-te de que o Espírito esteja ao mesmo tempo conosco e lá encima, visto que também o corpo de Cristo está no céu e conosco? O céu recebeu seu santo corpo e a terra recebeu o Santo Espírito; Cristo veio e nos trouxe o Es­pírito Santo; Cristo ascendeu e levou consigo nosso corpo. Ó tremenda e estupenda econo­mia! Ó grande Rei, grande em tudo, realmente, grande e admirável! Grande profeta, grande sacerdote, grande luz, grande em tudo. E, sem dúvida, não só é grande segundo a divindade, mas também segundo a humanidade. Do mesmo modo que é grande como Deus, Senhor e Rei por sua divindade, também é grande sacerdote e grande profeta […]. Temos, pois, no céu o penhor de nossa vida: fomos assumidos junto com Cristo. É certo que seremos arrebatados também entre as nuvens se formos encontrados dignos de ir a seu encontro entre as nuvens. O réu não vai ao encontro do juiz, mas este o faz comparecer ante ele, e não se apresenta a ele nunca, como é natural, porque não se sente tranquilo. Por isso, ca­ríssimos, oremos todos para poder estar entre os que irão ao seu encontro, ainda que seja entre os últimos (João Crisóstomo).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:  

«Cristo, tu que por amor desceste até nós, faz que nós, por amor, ascendamos até vós»

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Sei Cristo nos deu a vida eterna, é para vivê-la, anunciá-la, manifestá-la, celebrá-la como a felicidade acima de todas as felicidades, como nossa bem aventurança principal. Faz dois mil anos que Cristo falou do pão, da paz e da liberdade. Mas que trouxe à terra é mai: trouxe a vida eterna. E é a vida eterna o que nós com Ele, na Igreja, devemos continuar levando. Se não somos nós quem damos a vida eterna, ninguém o fará em nosso lugar. Isso equivale a afirmar que esta é a base de nossa vocação cristã; é distinguir de maneira infalível nossa vocação religiosa de uma vocação política, de um sistema de pensamento; é demonstrar que a nós não nos interessa em absoluto a conquista do mundo; o que nos gratifica é que cada homem possa encontrar, como nós o temos encontrado, um Deus ao qual amamos e que antes amou a cada homem. Necessitamos aprender a expressar a vida de um homem invadido de vida eterna, e isso até a nossa morte. Mas, esta vida existe para ser cantada, cantada antes, durante e depois da morte; e ao longo do caminho não se canta com uma folha de papel nas mãos: se canta com o coração. Não deveis nenhuma fidelidade ao passado enquanto passado; só deveis fidelidade ao que este os trouxe de eterno, quer dizer, de caridade (M. Delbrél, Indivisible amore. Frammenti di lettere).

 

 

 

 

SEGUNDA-FEIRA, 03 DE JUNHO DE 2019– 7ª SEMANA DA PÁSCOA

João 16,29-33 (Anúncio de pronto retorno) – O trecho começa com algumas palavras entusiastas dos discípulos de Jesus: «Agora tens falado claramente e não em linguagem figurada» (v.29). Pensam os discípulos, que as palavras do Senhor sobre sua missão são, agora, compreensíveis, porém, esquecem que Ele lhes havia dito que a nova era começaria depois da ressu­rreição e que a compreensão de suas palavras teria como mestre interior o Espírito Santo. Creem ter agora, em suas mãos, o mistério da pessoa de Jesus e possuir uma fé adulta em Deus. Jesus terá que fazer-lhes constatar que, pelo contrário, sua fé tem que ser re­forçada ainda, porque é imatura para fazer frente às provas que lhes esperam (vv.31s). São palavras que escondem uma grande amargura: o Na­zareno prediz o abandono por parte de seus amigos. Estes se escandalizarão pela sorte humilhante que sofrerá seu Mestre. Contudo, Jesus nunca está só. Vive sempre em uni­dade com o Pai. Por isso termina o colóquio com os seus pronunciando palavras cheias de esperança e de confiança: “Vos tenho dito tudo isto para que possais en­contrar a paz em vossa união comigo. No mundo encontrareis dificuldades e tereis que sofrer, porém tende ânimo; eu venci o mundo” (v.33). Jesus venceu o mundo desarmando-o com o amor. Elegeu o que tem valor aos olhos de Deus e perdura na vida, não o efêmero. E esta mensagem é o que deixa a seus discípulos como «testamento espiritual».

 

 

 

 

At 19,1-8 (Discípulo de Jesus em Efésio)– A cidade de Efésio se torna ponto de encontro de diferentes correntes do cristianismo primitivo, com as quais também se defronta Paulo. Também, estas, provêm dos discípulos, mais ou menos remotos, de João Batista, que fazem par­te de um movimento mais amplo e, para nós, ainda misterioso. As dezenas de «discípulos» têm, provavelmente, um pé no grupo do Batista e outro no de Jesus. Paulo os catequiza indicando que o próprio João havia indicado a superioridade de Jesus. Nota-se aqui a tentativa de esclarecer a relação entre o batismo de João e o de Jesus: o primeiro está ligado à penitência; o segundo, à ação do Espí­rito. O enlace, o encontro e, às vezes, o desencontro entre as diferentes correntes e movimentos deviam ser vivazes, ainda que Lucas não nos proporcione informações mais precisas. Não sabemos se foi Paulo quem os batizou, mas foi ele quem lhes impôs as mãos, renovando outro Pente­costes, como já havia acontecido em outras ocasiões, es­pecialmente com Pedro e João, em Samaria. O Espírito, ligado ao Batismo no nome de Jesus, os cumula de seus dons e falam em línguas e profetizam. Cabe a Lucas mostrar, entre outras coisas, que Paulo, ainda que não seja um dos doze, tem os mesmos pode­res. Também deseja mostrar que os «Atos de Paulo» se assemelham aos de Pedro. Além dos discípulos do Batista, Paulo vai defrontar-se, em Efésio, com a magia e o paganismo, no famoso episódio da revolta dos ourives.

 

Sl 67/68 (Gloriosa epopeia de Israel) Considerando a extensão deste Salmo, optei por escolher apenas alguns versículos que o sintetizam, mas destaco a importância de ler e meditar todo seu conteúdo. O Livro dos Salmos, em sua totalidade, aborda a psicologia humana, tratando de sentimentos profundos e, muitas vezes, distintos, como o amor e a raiva. Toda leitura nos acrescenta algo sobre nossa essência. Este Salmo é uma história das aventuras do povo de Israel, uma recordação da escravidão e do tempo em que o povo permaneceu no deserto, à espera da terra prometida por Deus. Todos somos convidados a festejar com eles e a celebrar a vinda de Jesus, que nos conduzirá ao Céu, onde não há tristezas, e sim felicidade eterna.

Senhor, sinto no meu coração o desejo de te louvar e agradecer. Mas, não quero fazê-lo sozinho, mas com os outros, compartilhando a alegria da fé e fazendo da minha família e comunidade um lugar verdadeiramente de alegria e festa. Tenho saudades das profissões, quando todos juntos vamos para a Igreja, cantando; sinto falta da festa, do mês de maio, nas celebrações festivas da comunidade. Senhor, não deixa que meu coração se feche ao teu amor, mas abre-me cada vez mais para ti, e que todos possam ser meus irmãos de canto e de festa. Não são festas mundanas que me atraem, mas as tuas festas. Quero permanecer silencioso para contemplar tua presença que passa no mundo e convida a todos a te amar. O teu nome deve triunfar sobre todo o mal e ser presença de amor e bem. Senhor, eis-me aqui, quero ser presença viva na minha comunidade, animar os grupos de oração, ser conquista; não quero ficar de braços cruzados, mas ser dinâmico e ativo, porque o desejo de ti me faz sentir a força do teu amor. Amém.

 

 

 

MEDITATIO: A solidez da relação com Deus emerge na hora da prova, quando nos encontramos sozinhos ante Deus e, sem que esperemos, se diluem os apoios humanos e as grandes ilusões. Então, é quando se manifesta onde está apoiado, de verdade, teu coração: em tuas pró­prias seguranças ou na Palavra do Senhor, no aban­dono total nele. A fé se purifica nas provas e na solidão, e nos introduz no caminho de Jesus, que afir­ma: «Eu não estou só, pois o Pai está comigo», e nos faz considerar seriamente as palavras de Jesus: «Tende ânimo, eu venci o mundo». A prova e as tribulações pertencem também a um processo de amadurecimento, pois nos fazem entrar em nós mesmos, desejar o silêncio; submergem-nos na solidão, ali onde sempre podemos descobrir nossa vocação de estar «sozinhos com o Só», de an­corar-nos naquele que nunca nos abandonará, com aquele a quem, juntos, aclamamos nos Salmos como a nossa rocha, nosso refúgio, nossa defesa, nosso baluarte, nosso consolo. Nessas horas estas palavras assumem uma verdade, uma evidência e uma força particular, e nos sentimos crescer na compreen­são do mistério da vida e de nossa íntima relação com Deus.

 

 

ORATIO: Ilumina, ó Senhor, minhas noites com a luz discreta de tua presença. Não me abandones em minhas solidões, quando tudo parece fundir-se a meu redor e quando as presenças mais familiares se tornam estranhas e são incapazes de consolar-me. Tu também sabes, meu Jesus, o terrível que é a solidão, quando até o Pai se fazia impossível de encontrar e te sentiste abandonado por Ele. Por esta terrível desolação, pela qual passaste, vem em socorro de meus desertos, não me abandones quan­do me sinto abandonado pelos outros. Tu que suaste sangue, alivia minhas feridas. Tu que ressuscitaste, faz fecunda de vida, a sensação de inutili­dade e abandono. Por tua santa agonia, por tua gloriosa luta contra o sentido da derrota, enche meus momentos terríveis, as horas e os dias de vazio, para que eu possa experimentar-Te como meu doce salvador.

 

 

CONTEMPLATIO: Em uma noite escura, com ânsias em amores inflamada ó feliz ventura! Sai sem ser notada, estando já minha casa sossegada; às escuras e segura pela secreta escala, disfarçada, ó feliz ventura! Às escuras fechada, estando já minha casa sossegada; na noite venturosa, em segredo, que ninguém me via nem eu mirava coisa alguma, sem outra luz e guia, senão a que no coração ardia. Esta me guiava, mais certo que a luz de meio dia, aonde me esperava quem eu bem sabia, num lugar onde ninguém conhecia. Ó noite que guiaste! Ó noite mais amável que a alvorada! Ó noite que juntaste Amado com amada, amada no Amado transformada! (João da Cruz, Obras completas, Madrid).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

                                 “Mas eu não estou só, porque o Pai está comigo» (Jo 16,32b)

 

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL: Quando te sintas só, deves tentar descobrir a fonte deste sentimento.                És propenso a escapar de tua solidão ou a per­manecer nela. Caso fugas dela, tua solidão não diminui realmente: o único que fazes é obrigá-la a sair de tua mente de modo provisório. Quando começas a permanecer nela, teus sentimentos não fazem mais que voltar mais fortes e vais te desli­zando à depressão. A tarefa espiritual não consiste nem em fugir da solidão nem em deixar-se inundar por ela, mas em descobrir sua fonte. Não resulta fácil de fazer, porém quando se consegue identificar de algum modo o lugar de onde brotam estes sentimentos, se perde algo de seu poder sobre ti. Esta identificação não é uma tarefa intelectual; é uma tarefa do coração. Com ele deves buscar esse lugar sem medo. Trata-se de uma busca importante, porque conduz a discernir algo de bom sobre ti mesmo. A dor de tua solidão pode ter suas raízes em tua vocação mais profunda. Poderias descobrir que tua solidão está ligada a teu chamado a viver por completo para Deus. A solidão se pode revelar então como o outro lado de teu dom único. Enquanto experimentes em teu «eu» mais íntimo a verdade, poderás descobrir que a solidão não só é tolerável, mas também fecunda. O que parecia doloroso, pode converter-se depois em um sentimento que, ainda sendo penoso, te abre o caminho para um conhecimento ainda mais profundo do amor de Deus (H. J. M Nouwen, La voce dell’amore].

 

 

 

 

 TERÇA DE 04 DE JUNHO DE 2019

TERÇA-FEIRA

João 17,1-11a

A ORAÇÃO DO BOM PASTOR (I)

“Elevando os olhos ao céu disse…”

 

Nestes últimos dias do tempo pascal lemos na liturgia da Igreja o discurso de despedida de Jesus, o qual culmina com a monumental oração – chamada “sacerdotal”- de Jesus.

 

Uma síntese do caminho

 

Com seus discursos de despedida (Jo 14-16), Jesus foi preparando pouco a pouco seus discípulos para que entendessem e para que enfrentassem a separação.

 

Sua morte e sua ressurreição marcavam um giro profundo na maneira de viver as relações com Ele, o discipulado já não consistia em estar junto com Ele, mas viver n’Ele, como enfatiza em seu discurso: “Eu em vós e vós em mim.”

 

Tudo o que Jesus tem ensinado a seus discípulos no âmbito da última ceia e ao longo do trajeto para o jardim no qual se realizará a prisão, tem sido uma expressão de seu amor, de seu real interesse pela vida pascal de seus discípulos.

 

Jesus tem expressado seu mais profundo desejo: quer que, superando a tristeza e a perturbação interior, vivam o gozo da Páscoa em que a comunhão com Ele se converte em um cântico de vitória que nada no mundo poderá tirar.

 

Jesus quer que sigam pelo caminho reto, pelas rotas da história, e eles cheguem à meta que é a perfeita união com Deus Pai e com Ele, no vínculo de amor do Espírito Santo.

 

Esta maravilhosa oração, que faz ponte entre o discurso da ceia e sua agonia nas sombras do jardim, é uma oração tão extensa quanto intensa, carregada de profundas emoções.

 

A de João 17 é uma oração em que não só se abrem os braços, mas o coração em que o olhar abarca não só os discípulos aí presentes, mas que atravessa todos os séculos da história, abraçando a todos que escutam e vivem sua Palavra em qualquer lugar e em qualquer tempo.

 

Aprofundemos com os nossos pais na fé

 

Orígenes (cerca 185-253), presbítero e teólogo

 

Comentário de S. João

 

“Ninguém lhe punha a mão em cima porque ainda não chegara a sua hora“

 

Procurar Jesus é, muitas vezes, um bem, porque procurar o Verbo, a verdade e a sabedoria, é a

mesma coisa. Mas ireis dizer que as palavras “procurar Jesus” por vezes são pronunciadas a

propósito daqueles que lhe querem mal. Por exemplo: “procuravam agarrá-lo, mas ninguém

lhe punha a mão em cima, porque ainda não chegara a sua hora ”… Ele sabe de quem se afasta

e junto de quem fica sem ser ainda encontrado, a fim de que, se o procurarem, o encontrem no

tempo favorável. O apóstolo Paulo diz aos que ainda não possuem Jesus e não o contemplam:

«Não digais no vosso coração: ‘Quem subirá ao céu?’, para fazer descer Cristo; ou então:

‘Quem descerá ao abismo?’, para fazer Cristo subir dentre os mortos. Mas que diz a Escritura?

‘Perto de ti está a palavra, na tua boca e no teu coração’» (Rm 10, 6-8).

No seu amor pelos homens, quando o Salvador diz: «Haveis de procurar-me» (Jo 8,21), faz

entrever as coisas do Reino de Deus para os que o procuram, não o procurando fora de si

próprios , dizendo: ‘Ei-lo aqui’, ou ainda, ‘ali’. O Evangelho diz-lhes: «O Reino de Deus está

dentro de vós» (Cl 17,21). Por muito tempo que guardemos a semente da verdade depositada

na nossa alma e os seus mandamentos, o Verbo não se afasta de nós. Mas, se o mal se espalha

em nós para nos corromper, Jesus diz-nos: «Eu vou-me embora: vós haveis de procurar-me e

morrereis no vosso pecado».

 

Contemplemos o rosto de Jesus nessa noite

 

O texto não nos descreve, porém temos elementos para reconstruir sua atitude nesta passagem.

 

 

QUARTA-FEIRA, 05 DE JUNHO DE 2019- 7ª SEMANA DA PÁSCOA

João 17,11b-19 (Oração de Jesus) O texto inclui a segunda parte da «Oração sacerdotal» de intercessão que Jesus, como Filho, di­rige ao Pai. Tem como objeto a proteção da comu­nidade dos discípulos, que permanecem no mundo. O texto se divide em duas partes: no começo se desenvolve o tema do contraste entre os discípulos e o mundo (vv.11b-16); em seguida se fala da santificação destes na verdade (vv.17-19). Se, por uma parte, emer­ge a oposição entre os crentes e o mundo, por outra se manifesta, com vigor, o amor do Pai, em Jesus, que ora para que os seus sejam protegidos na fé. No primeiro fragmento Jesus passa revista a vários te­mas de maneira sucessiva: a unidade dos seus (v.11b), sua proteção à exceção «do que tinha que perder-se» (v.12), a preservação do maligno e do ódio do mundo (vv.14s). No segundo fragmento, Jesus, depois de ter pedido ao Pai que defenda os seus do malig­no (v.15) e depois de ter sublinhado, em negativo, sua não pertença ao mundo (vv. 14.16), pede em positivo a santificação dos discípulos: «Faz que eles sejam com­pletamente teus por meio da verdade; tua palavra é a verdade» (v.17). Roga assim, ao Pai, ao qual tem chamado «santo» (v.11b), que faça também santos na verdade aos que lhe pertencem. Os discípulos tem a tarefa de prolongar no mundo a mesma missão de Jesus. Mas, estes, expostos ao poder do maligno, necessi­tam, para cumprir sua missão, não só a proteção do Pai, mas também a obra santificadora de Jesus.

 

 

Atos 20,28-38 (Adeus aos anciãos de Efésios) – Paulo se dirige aos responsáveis -presbíteros e bispos- da Igreja, quer dizer, aos «pastores» encarre­gados de «apascentar a Igreja de Deus». Em vez de espe­cificar o conteúdo destas funções, insiste no dever da vigilância. Perfilam-se muitos perigos no horizonte, do exterior e do interior. Perigos, sobretudo, de difusão de falsas doutrinas, obra de «lo­bos cruéis». A Igreja de Deus é uma realidade preciosa porque foi adquirida «com o sangue de seu próprio Filho», daí a grande responsabilidade dos que a pre­sidem. O pastor deve vigiar «noite e dia», «com lágri­mas», primeiro a si mesmo e depois aos outros, para preservar seu próprio rebanho dos inimigos. Paulo es­boça aqui, em poucas palavras, as grandes responsabili­dades da vida do pastor. Consciente de que está pedindo muito, e quase para tranquilizá-los, os confia «a Deus e a sua Palavra de graça, que tem força para que cresçais na fé e para fazeres partícipes da herança reservada aos consagra­dos». Pareceria mais lógico que confiasse a Palavra aos responsáveis; sem dúvida, confia os responsáveis à Palavra, porque é ela que tem a força para que cresçam na fé e para fazer-lhes partícipes da heran­ça reservada aos santos. E, para terminar, outra recordação de seu interesse pes­soal destinado aos pastores, para que se esmerem também no interesse em seu ministério. Cita uma má­xima que não se encontra nos Evangelhos, porém Paulo pôde ter recolhido de viva voz na boca dos testemunhos. Conclui aqui o ciclo da evangelização dirigida ao mundo grego. Novas fadigas e novas provas esperam agora a Paulo, que sente que entra em uma fase diferente de sua apaixonada vida de apóstolo.

 

Salmo 67/68 (Gloriosa epopeia de Israel) – (ver dia anterior)

 

 

MEDITATIO: Estamos ante um texto no qual Jesus apa­rece particularmente preocupado pelo poder do mun­do e por sua possível influência em seus discípulos. No mundo atua o maligno com seu espírito de mentira, be­licosamente contrário à verdade, que é Cristo. A po­sição dos discípulos é delicada; devem permanecer no mundo, sem serem contaminados pelo mesmo. Estarão apoiados por sua oração, por sua Palavra e por seu Espírito. Em consequência, não devem temer. E acrescenta Agostinho: Que quer dizer: “Por eles me santifico eu mesmo”, senão que eu os santifico em mim mesmo enquan­to eles são eu? De fato, fala daqueles que cons­tituem os membros de seu corpo. Tudo isto nos induz a refletir, uma vez mais, sobre o poder do mundo, ainda que também sobre sua debilidade: poder para quem se deixa seduzir, debilidade para quem se deixa guiar intimamente pela Palavra de Jesus e con­duzir por seu Espírito. É possível que nestes anos tenhamos infra valorizado o «mundo», uma palavra que tem se tornado ambígua, que indica, às vezes, o lugar da ação do Espírito e dos sinais dos tempos e, outras, o lugar onde se desenrola o eterno conflito entre o ma­ligno e Jesus. A Palavra de Jesus e seu Espírito nos ajudam a discernir os distintos rostos do mundo, a distin­guir os chamados do Espírito Santo, dos sutis enganos do maligno, as mensagens de Deus da mentira do inimigo. Isto é tanto mais seguro na medida em que a Palavra e o Espírito Santo não são assumidos e quase gestados indivi­dualmente, mas acolhidos dentro da comunidade dos discípulos, que formam a santa comunhão da Igreja.

ORATIO: Impressiona-me, Senhor, tua insistência no perigo do mundo. E percebo que hoje, também, temos necessidade deste pôr-se em guarda. E eu, o primeiro de todos. O mundo da liberdade, da igualdade de oportunidades para todos – para todas as religiões, todas as opiniões, todos os modos de vida – tem seu encanto, pois, afinal de contas, é o mundo da tolerância, da laicidade, da liberdade para todos. Porém, é, também, o mundo onde são admitidas todas as «transgressões», onde todas as modas, até as mais perversas e detestáveis, são apresentadas como normais, onde toda a imprensa tem direito à livre cir­culação. Confia-me, Senhor, Tua Palavra. Recorda-me que não sou deste mundo, que pertenço a Ti. Santifica-me em Tua verdade, assimila-me à Tua mentalidade, à Tua vida. Tu que tens orado por mim, fazei-me santo em Tua verdade, para que caminhe sempre por Teus caminhos.

 

CONTEMPLATIO: «Não pertencem ao mundo, como tampouco eu pertenço» (Jo 17,14). Esta separação dos discípulos com respeito ao mundo é realizada pela graça que os tem regenerado, enquanto que, por sua geração natural, pertencem ao mundo e, por isso, o Senhor havia dito antes: «Não pertenceis ao mundo, porque eu os elegi e os separei dele» (Jo 15,19). A graça lhes concedeu não pertencer mais ao mundo, do mesmo modo que o Senhor não faz parte dele, que os tem libertado. O Senhor não pertenceu nunca ao mundo, porque, inclusive, em sua for­ma de servo, nasceu do Espírito Santo, desse Espírito do qual renascerão os discípulos. Estes, repito, não são, já do mundo, porque renasceram do Espírito Santo (Agostinho, Comentário ao Evangelho de João, 108,1).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Eles não pertencem ao mundo, como tampouco eu perte­nço» (Jo 17,16)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL: “Estar no mundo sem ser do mundo”. Esta frase é um belo resumo do modo que fala Jesus, da vida espiritual. É uma vida na qual o Espírito de amor nos transforma por completo. Sem dúvida, é uma vida na qual tudo parece mudado. A vida espiritual pode ser vivida de tantos modos quanto há pessoas. A novidade consiste em ter-se deslocado da multidão das coisas ao Reino de Deus. Consiste em termos sido libertados das constrições do mundo e em ter encaminhado nossos corações para o único necessário. A novidade consiste no fato de que não vivemos, já, os muitos negócios, nossa relação com os outros e os acontecimentos, como causas de preocupações sem fim, mas que comecemos a considerá-los como a rica variedade dos modos, através dos quais, Deus se faz presente em meio de nós. Nossos conflitos e dores, deveres e promessas, nossas famílias e amigos, as atividades e projetos, as esperanças e inspi­rações, não se nos apresentam já como outros tantos aspectos fati­gosos de uma realidade que dificilmente logramos manter juntos, mas como modalidade de afirmação e de revelação da nova vida do Espírito que está em nós. «Tudo o mais», que antes nos ocupava e nos preocupava tanto, agora se torna em dom ou desafio que reforça ou aprofunda a nova vida que des­cobrimos (H.J.M.Nouwen, Invifo a Ia vita spirituale).

 

 

 

QUINTA-FEIRA, 05 DE JUNHO DE 2019 – 7ª SEMANA DA PÁSCOA

João 17,20-26 (Oração de Jesus) Na terceira parte de sua «Oração sacerdotal» Jesus di­lata o horizonte. Antes havia invocado ao Pai por si mesmo e pela comunidade dos discípulos. Agora sua oração se estende em favor de todos os fu­turos crentes (vv.20-26). Após uma invocação ge­ral (v.20), seguem-se duas partes bem distintas: a oração pela unidade (vv.21-23) e pela salvação (vv.24-26). Jesus, depois de ter apresentado as pessoas pelas quais pretende orar, pede ao Pai o dom da unidade na fé e no amor para todos os crentes. Esta unidade tem sua origem e está qualificada pelo “mesmo que» (=kathós), quer dizer, pela co-presença do Pai e do Filho, pela vida de união profunda entre Eles, fundamento e modelo da comunidade dos crentes. Neste ambiente vital, todos se fazem «um», na medida em que acolhem a Jesus e crêem em sua Palavra. Este alto ideal, inspirado na vida de união en­tre as pessoas divinas encerra, para a comunidade, um vigoroso chamado à fé e é sinal lumino­so da missão de Jesus. A unidade entre Jesus e a comunidade se representa assim como uma habitação: «Eu neles e tu em mim» (v.23a). Em Cristo se realiza, portanto, o aperfeiçoamento para a unidade. Em seguida, Jesus manifesta os últimos desejos, nos quais associa aos discípulos, os crentes de todas as épocas da história, e para os quais pede o cum­primento da promessa já feita aos discípulos (v.24). No pedido final, Jesus volta ao tema da glória, re­cupera o tema da missão, quer dizer, o tema de fazer conhe­cer ao Pai (vv.25s), e conclui pedindo que todos sejam admitidos na intimidade do mistério, onde existe, desde sempre, a comunhão de vida no amor entre o Pai e o Filho. A unidade com o Pai, fonte do amor, tem lugar, não obstante, no crente, por meio da presença interior do Espírito de Jesus.

 

 

At 22,30; 23,6-11 (Comparecimento diante do Sinédrio) É o segundo discurso de Paulo em sua nova con­dição de prisioneiro. Havia subido a Jerusalém para vi­sitar àquela comunidade e havia seguido, com «incau­ta» condescendência, o conselho de Tiago de subir ao templo. O descobrem e quase lhe custa à vida, se não tivesse sido sal­vo pelo tribuno romano, que lhe permite falar à multidão. Deste modo tem ocasião de contar, uma vez mais, sua conversão, re­lato ao qual se seguiu uma nova intervenção do tribuno romano ordenando aos soldados que o levassem ao quartel. Uma vez ali, Paulo declara sua cidadania roma­na. No dia seguinte levam-lhe ante o Sinedrio, onde pronuncia este habilidoso discurso. Paulo joga com as divisões entre fariseus e sadu­ceus a propósito da ressurreição dos mortos. Com isso desperta um furor teológico que faz com que a situação se complique. Os fariseus, superando a prudente posição do próprio Gamaliel, se unem com Paulo e ficam contra o adversário comum. Os romanos têm que salvar outra vez o apóstolo. A particular belicosidade dos judeus -belicosidade que se verifica nesta visita de Paulo- é um indicador da tensão nacionalista que estava crescendo no ambiente: tudo o que tinha possibilidade de ameaçar a identidade nacional era rejeitado, até o ponto de chegar à aberta rebelião contra Roma. São páginas que reproduzem o clima de exasperação nacionalista que conduzirá ao drama da des­truição da cidade. Paulo é consolado e tranquili­zado de novo sobre sua alta missão de «testemunho», não só em Jerusalém, mas no próprio coração do mundo conhecido. Foi uma vida heroica, a de Paulo, empregada, exclusivamente, a serviço do Evangelho.

 

Sl 15/16 (Iahweh, minha parte na herança) Ninguém pode ficar sem senhor. Ou seguimos o Deus vivo e verdadeiro de Abraão, Isaac, Jacó, Jesus, Maria, dos apóstolos e também de todos nós, ou continuaremos a inventar “ídolos” fugazes que nada sabem: espiritismo, fitinhas, Nova Era, duendes… Não devemos vender nossa alma à idolatria, mas ser cada vez mais fiéis ao Deus vivo e verdadeiro. Idolatria e fé não combinam.

Senhor, liberta o meu coração da sedução dos ídolos. Que eu seja um adorador em espírito e verdade e que o meu coração seja o teu verdadeiro templo santo, onde possa te adorar em todos os dias da minha vida.

 

 

MEDITATIO: «Que também eles estejam unidos a nós; des­te modo, o mundo poderá crer que Tu me enviaste» (Jo 17,21): a «prova» de que Jesus não é um charlatão, nem um dos tantos profetas, mas o enviado de Deus confiado à fraternidade entre os discípulos, que é o sinal por excelência da origem divina do cristianismo: isso é o que dizem as palavras do Senhor. Construir fraternidade é a apologética mais segura e au­torizada. As palavras do Senhor são claras e vinculam a cre­dibilidade do cristianismo à sua capacidade de promover a fraternidade. Essa capacidade se manifesta ali onde os homens põem seu empenho em viver como irmãos; ali onde se tem como essencial aceitar-se cada um como é, para tender à uni­dade;onde não se busca sobressair, impor, rivali­zar, emergir, mas ajudar-se, compreender-se, apoiar-se; onde a benevolência constitui um programa prio­ritário; onde se põem as bases para uma recupe­ração do crédito no cristianismo. Estas palavras foram e são esquecidas com muita frequência. Isso tem tido como consequência na vida espiritual, na missão, na pastoral, outros ideais são cultivados. Outra consequência tem sido o escasso caráter incisivo desses programas, ao qual o Senhor não tem garantido o valor de «sinal provatório» de sua origem divina, nem de sua mensagem.

 

ORATIO: Quão cego estou, Senhor! Tuas palavras passam por ci­ma de mim como se fossem pedras, sem deixar um sinal per­manente. A razão disso é que tenho me comprometido em mil coisas, e tenho esquecido o que tu consideras priori­tário para promover teu reino. Tenho tentado fazer muito, mas tenho esquecido de mergulhar na fraterni­dade, que é o que tu, sem dúvida, consideras como teu sinal. Tenho de reconhecer, Senhor: com frequência tua mensagem não emerge, e não o faz porque não brotam comuni­dades fraternas perfeitamente realizadas. Abre meus olhos para compreender o mistério da fraternidade, a força missionária da comunhão, capaz de vencer os temores e as resistências. Ajuda-me a crer no mi­lagre da fraternidade como ponto de partida para toda missão. Ajuda aos cristãos a redescobrir o al­cance revolucionário destas tuas palavras, para que, se comprometam neste projeto, que é, com toda segurança, o teu. Outros projetos são, provavelmente, demasiadamente humanos.

 

CONTEMPLATIO: Revestidos do hábito religioso aos olhos de todos, te­mos vindo de situações sociais diferentes, para viver juntos nossa fé e, escutar a Palavra do Senhor onipotente, e, pecadores em diferentes graus, te­mos nos reunido até formar um só coração na santa Igreja, de tal modo que se vê realizado com claridade o que disse Isaías anunciando a Igreja: “Serão vizinhos o lobo e o cordeiro» (Is 11,6). Sim, graças às entranhas da santa caridade, o lobo viverá junto ao cordeiro, porque aqueles que no mun­do eram vorazes convivem em paz com os bons e mansos. O leopardo se deita junto ao cabrito porque um homem, marcado pelas manchas de seus pecados, aceita humilhar-se junto com quem se humilha e se re­conhece pecador (Gregório Magno, Homilias sobre Eze­quiel, 11, 4,3).

 

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

Que também eles estejam unidos a nós; des­te modo,

o mundo poderá crer que tu me enviaste» (Jo 17,21).

 

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL: Jesus nos revela que fomos chamados por Deus para sermos tes­temunhos vivos de seu amor, e chegamos a sê-lo seguindo a Jesus e amando-nos uns aos outros como Ele nos ama. Que supõe tudo isto para o matrimônio, para a amizade, para a comunidade? Supõe que à fonte do amor que sustenta as relações não são os que as vivem, mas Deus, que os chama ao mesmo tempo. Amar um ao outro não significa agarrar-se ao outro para estarem seguros em um mundo hostil, mas, viver juntos de tal modo que cada um possa reconhecer-­nos como pessoas que fazem visível o amor de Deus no mundo. Não só toda paternidade e maternidade procedem de Deus, mas que também procedem dele toda amizade, toda associação em ma­trimônio e toda comunidade. Quando vivemos como se as relações humanas fossem somente de natureza humana e, portanto, su­jeitas às transformações e as mudança das normas e dos costumes, não podemos esperar outra coisa que a imensa frag­mentação e alienação que caracterizam a nossa sociedade. Porém, quando invoquemos a Deus e o reclamemos constantemente como fonte de todo amor, descobriremos o amor como um dom de Deus a seu povo (H. J. M. Nouwen, Vivere neJ/o Spirito).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SEXTA-FEIRA, 07 DE JUNHO DE 2019 – 7ª SEMANA DA PÁSCOA

João 21,15-19 (Aparição à margem do lago de Tiberíades) A passagem está toda centrada na figura de Pedro. O evangelista São João, com dois pequenos frag­mentos discursivos, especifica qual é o papel do após­tolo na comunidade eclesial: foi chamado para de­sempenhar o ministério de pastor (vv.15-17) e para dar testemunho com o martírio (vv.18s). Daí que o Senhor Jesus, antes de confiar ao apóstolo Pedro o encargo pastoral da Igreja, lhe exija uma confissão de amor. Essa é a condição in­dispensável para poder exercer uma função de guia es­piritual. E o Senhor requer o amor de Pedro três vezes (vv.15.16.17), com um ritmo crescente. A insistência de Jesus Cristo no amor deve de ser lida como condição para estabelecer a relação de intimi­dade filial que Pedro deve manter com o Senhor. Antes que em qualquer dote humano, o ministério pastoral de Pedro se baseia em uma confiada comunhão interior e não em um posto de prestígio ou de poder: uma intimidade que não pode ser apreciada com medidas humanas, mas que é reconhecida pelo Senhor, que perscruta o coração. E o Filho de Deus, que conhece bem o ânimo do apóstolo, lhe responde confiando-lhe a missão de apascentar seu rebanho: «Apascenta minhas ovelhas» (v.17c). Ao ministério pastoral segue-se depois o testemunho do martírio. Também Pedro deve afirmar seu amor a Jesus Cristo com a entrega de sua vida (cf. Jo 15,13). O texto conclui com algumas palavras do autor sobre o tema do seguimento. A missão da Igreja e de todos os seus discípulos é sempre o segui­mento a Cristo, único modelo de vida.

 

 

At 25,13b-21(Paulo comparece perante o rei Agripa) Passaram-se dois anos e Paulo segue prisioneiro. Porém, também tem chegado Festo, um magistrado muito mais honesto e solícito que o anterior. A leitura apre­senta uma das muitas vicissitudes pelas quais passa o prisioneiro Paulo, que não perde ocasião para anunciar o que, para ele, é o mais importante, inclusive ante o rei e os príncipes, por muito indignos e pouco exemplares que sejam como o incestuoso casal formado por Agripa e Berenice. O procurador Festo havia compreendido bem o núcleo da questão: o que separava os judeus de Paulo não era uma doutrina, mas um fato, melhor ainda: o testemunho sobre o fato da ressurreição de Jesus. Lucas parece um admirador do sistema jurídico ro­mano e inclusive traz à luz alguns de seus princípios retos. E manifesta a prontidão para explorar em favor do Evangelho este admirado ordenamento jurídico. Paulo poderá ir a Roma graças a sua apelação a César. Irá como prisioneiro, é verdade, porém irá a Roma. É interessante ler a continuação do relato, onde se apresenta o encontro de Paulo com o estranho casal e com o representante do Império romano: tam­bém eles estão interessados no assunto de Jesus e con­vertem a ressurreição em tema de conversa. A coragem de Paulo, que não teme expor-se, obriga a todo tipo de pessoas a pôr-se frente ao fato da ressurreição, que agora se converte no motivo fundador do novo caminho de salvação.

 

Salmo 102/103 (Deus é amor) – Por meio de um canto suave, o salmista goteja afeto e amor ao Senhor e canta suas maravilhas e seus atos de ternura para conosco. Devemos meditar este Salmo lentamente, saboreando cada palavra que nos introduz nos ministérios do coração de Deus. Quando rezamo-lo com fé, o Senhor nos fortalece e confronta. Todo o amor de Deus Pai nós podemos contemplar na pessoa de Jesus: “Mas quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor pela humanidade” (Tt 3,4) O Pai nos enviou o seu único Filho, Jesus, por puro amor a nós e para que Ele nos ensinasse o caminho da vida plena. O grande hino de ação de graças que podemos oferecer ao Pai em resposta à sua generosidade não é realizado por meio de palavras, mas sim com a própria vida. Tocam-me profundamente as palavras deste Salmo: “[O Senhor é] lento para a cólera e rico em bondade”. Ele tem pressa em nos amar, em nos perdoar. Não perca tempo, o Senhor está lhe esperando! Se você compreende melhor este Salmo, leia e medite o capítulo 15 do Evangelho de Lucas, as três grandes parábolas da misericórdia. Bendize minh’alma e não se esqueça de nenhum dos benefícios do Senhor.

Senhor, como é maravilhoso parar um pouco com as minhas atividades e pensar em quantos benefícios até hoje tenho recebido do teu amor. Deixa que minha alma, como a do salmista, se expanda, se dilate e cante “bendize minha alma ao Senhor por todos os benefícios e não esqueça nenhum”. Quero-te agradecer por me ter criado; como é bela a vida; mesmo mesclada pelo sofrimento, com decepções; com dores, vale a pena viver e agradecer com todas as batidas do meu coração, com todos os meus tons e repertório. Que tudo cante o teu louvor. Bendigo-te por minha família, pelos pais, por todas as pessoas que passaram hoje na minha vida: obrigado, Senhor. Senhor, animado pela força da fé, quero também bendizer pelas cruzes, pelos sofrimentos e por todas as pessoas que me fizeram sofrer e que me ajudaram a amadurecer na minha caminhada. Com Santa Teresinha quero te dizer “tudo é graça”; agradeço-te com a lucidez que hoje tenho, Senhor, por tudo que vier até minha morte; dá-me força para sempre dizer: muito obrigado por tudo. Amém.

 

 

MEDITATIO: O Evangelho do «discípulo amado» recupera o papel de Pedro no amor misericordioso. Só quem experimenta este amor pode apascentar o rebanho recolhido pelo Amor. Só quem responde ao amor de Cristo- amor misericordioso – pode estar em condições de ser colocado à frente de seu rebanho, pois deve ser testemunho desse amor. A página que nos ocupa é de uma enorme densidade e está impregnada pelo tema central de todo o Evange­lho de João: o amor, o amor de Deus, o amor misericordioso. Por amor, o amor misericordioso, o Pai entregou o Filho; por amor – o amor misericordioso- o Filho entregou sua vida, por amor – amor misericordioso- Cristo reuniu os seus; o amor é a lei dos discípulos, o amor misericordioso – deve mover a Pedro, e para dar tes­temunho deste amor o discípulo amado escreveu seu Evangelho. Toda a história divina e humana está movi­da por este amor, que nasce do coração de Deus, se revela no Filho, é testemunhado pelos discípulos e se pede a quem «preside no amor». Os acontecimentos huma­nos se iluminam e resolvem com esta pergunta: “Amas-me?” e com esta resposta: «Sim, te amo». A história da Igreja está baseada na pergunta que Cristo dirige a todos os seus discípulos: Amas-me?”, e na resposta: «Sim, eu te amo». Que o Espírito, que é o Amor não criado, nos permita entrar neste diálogo ilu­minador e beatificante.

 

 

ORATIO: Não sei que dizer-te, Senhor, frente a este diálogo. Nele se encontra, simplesmente, tudo. Está toda a vida, todo seu mistério, toda sua luz, todo seu sabor, todo seu signifi­cado. Todas as demais questões se convertem em sim­ples ocasiões para expressar-te meu «sim». E como poderia ser de outro modo? Tu me criaste para dizer-me que me amas e para pedir-me que te ame. Pedes-me como um mendigo, enviando-me teu Filho como servo, para que não te ame por medo ou estupor frente a tua grande­za, mas para tocar as fibras secretas de meu coração, para ferir-me com tua benevolência, para conquistar-me com a beleza de teu rosto desfigurado na cruz. Ainda que como Pedro -porém mais que ele- sinto às vezes mais de um titubeio para dizer-te que te amo (porque sou um pecador que persevera em seu pecado), apesar de tudo, agora, neste momento, como posso deixar de dizer-te que te amo? Como posso deixar de dizer-te que quisera amar-te por toda a vida? Como posso não dizer-te que quero amar todas as coisas e a todas as pessoas em ti? Como não dizer-te que prefiro perder todas as coisas desde que não venha perder a ti? Ó, meu amantííssimo Senhor, faz que não seja fogo de palha o que estou te dizendo, mas uma chama que não se apague nunca.

 

CONTEMPLATIO: Que significam estas palavras: «Amas-me?», «Apas­centa minhas ovelhas»? É como se, com elas, dissesse o Senhor: Se me amas, não penses em apascentar a ti mesmo. Apascenta, antes, as minhas ovelhas por serem minhas não como se fossem tuas; busca apascentar minha glória, não a tua; bus­ca estabelecer meu Reino, não o teu; preocupa-te de meus in­teresses, não dos teus, se não queres figurar entre os que, nestes tempos difíceis, amam a si mesmos e, por isso, caem em todos os outros pecados que desse amor a si mesmos derivam, como de seu princípio. Não nos amemos, pois, a nós mesmos, mas ao Senhor, e, ao apascentar suas ovelhas, busquemos seu interesse e não o nosso. O amor a Cristo deve crescer no que apascenta suas ovelhas, até alcançar um ardor espiri­tual que lhe faça vencer, inclusive, esse temor natural à morte, de modo que seja capaz de morrer, precisamente, porque quer viver em Cristo (Santo Agostinho).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

Amas-me?” (Jo 21,16)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL: O mistério insondável de Deus consiste que Deus é um ena­morado que quer ser amado. O que nos criou está esperan­do nossa resposta ao amor que nos deu a vida. Deus não disse só: «Tu és meu amado», mas disse ainda: “Amas-me?”, e nos proporciona inumeráveis possibilidades para res­ponder «sim». Nisso consiste a vida espiritual: na possibilidade de responder «sim» a essa verdade interior. Compreendida deste modo, a vida espiritual muda radicalmente tudo. O fato de ter nascido, crescido, ter deixado a casa paterna e buscado uma profissão, ser exaltado ou rejeitado, caminhar e repousar, orar e brincar, adoecer e ser curado, viver e morrer…, tudo pode converter-se em expressão da pergunta divina: «Amas-me?». E em qualquer momento da viagem existe sem­pre a possibilidade de responder «sim» e de responder «não». Aonde nos leva tudo isto? Ao «lugar» de onde viemos, ao «lugar» de Deus. Fomos enviados a esta terra para passar nela um breve período e para responder, através das alegrias e dores durante o tempo que temos a nossa disposição, com um grande «sim» ao amor que nos foi dado e, ao fazê-lo, voltar ao que nos enviou com esse «sim» gravado em nossos corações (H.J.M.Nouwen, Sentirsi amati).

 

 

 

SÁBADO, 08 DE JUNHO DE 2019- 7ª SEMANA DA PÁSCOA

João 15,9-17 (A verdadeira videira) – A mensagem que João Batista nos transmite sobre a importância dos apóstolos na vida da Igreja, nós podemos resumir nestes pontos: em primeiro lugar, o apóstolo compartilha a mesma missão com Jesus, que o tem como eleito e enviado. E, antes, Je­sus e seus discípulos compartilham o mesmo amor que Deus Pai lhe tem entregue. Por isso, o apóstolo, antes de tudo, deve permanecer no amor: no amor de Jesus a eles e no amor do Pai a Jesus. Permanecer no amor significa viver na comunhão perfeita, que é, ao mesmo tempo, horizontal e vertical, quer dizer, com os irmãos na fé e com Deus, fim último de nosso amor. O verdadeiro discípulo de Jesus, precisamente, porque se sente amado e compartilha, com Jesus, o amor de Deus Pai, sabe que tem que observar um mandamento, ao qual não pode sub­trair-se: o mandamento do amor. Também nós, como verdadeiros discípulos de Jesus, nos sentimos mobilizados a amar: uma mobilização que não suprime, em absoluto, a liberdade da adesão; ao contrario, a exalta. Por último, o verdadeiro discípulo de Jesus, que tem adquirido, agora, a plena consciência de ser seu amigo, se sente chamado a viver este amor «até o final», isto é, até a entrega de si mesmo. Não seria amizade verdadeira a que não estivesse disposta a alcançar, também, esta meta. Nesta se diferencia o amigo do servo.

 

 

At 1,15-17.20-26 (Substituição de Judas) – Pedro, no começo de seu ministério apostólico, se preocupa de dar a conhecer, à primitiva comunidade cris­tã, a importância que tem o proceder à recomposição do número dos apóstolos: doze. Este número, de fato, não tem só um valor simbólico, mas também, sobretudo um valor histórico.                     É absolutamente necessá­rio substituir a Judas, que havia desertado da fé e tornado incompleto aquele número.        Só assim poderá continuar, a tradição apostólica, sua tarefa, de maneira eficaz e acreditável. O candidato, para ser autêntico testemunho, deve ter compartilhado os acontecimentos históricos do ministério público de Jesus: também este detalhe é digno da má­xima atenção, a fim de testemunhar que o magno aconte­cimento da ressurreição do Senhor deve ser referido e reconduzido ao acontecimento do Jesus pré-pascal. De fato, a fé, para o cristão, se insere na historia, e a história se abre a Deus, que a visita e a salva. É digno de destaque o fato de que tudo isto termina com uma oração (cf vv.24ss) com a que os apóstolos deixam entender, claramente, que a eleição realizada não é obra sua, mas foi confiada, totalmente, à vontade e à intervenção do Senhor. Este é, tam­bém, um ótimo ensinamento para nós: sempre te­mos de ter abertas nossas decisões à vontade de Deus e inspirar nossas opções nas de Deus.

 

Salmo 112/113 (Ao Deus da glória e de amor)Este Salmo é importantíssimo para a nossa vida cotidiana, pessoal e litúrgica. É com ele que se inicia o pequeno grupo de Salmos chamado hallet, isto é, “louvai Javé” (Sl 113-118). A palavra aleluia, que expressa toda a nossa alegria ao louvar o Senhor, aparece com destaque nesses Salmos, que eram cantados durante e após a Páscoa. A palavra-chave para este momento não é “pedir”, mas sim “louvar”. Todos nós somos convidados a louvar o Senhor, mesmo que seja no silêncio de nosso coração. Jesus cantará a sua aleluia na ceia pascal e firmará com seu sangue a nova e eterna aliança indestrutível. Hoje, na nova aliança, sobe a Deus um louvor novo, que é a Eucaristia.

Senhor, quero cantar a minha aleluia silenciosamente, sem rumor, no fundo do meu coração. Às vezes não sei como expressar a minha alegria por viver e por ser teu para sempre, marcado pela força do sacramento do batismo, inserido em Cristo, videira e purificado, podado pela tua mão sábia, para que possa produzir frutos abundantes. Vejo-me às vezes como uma árvore decorativa, mas que não dá fruto. Quero, Senhor, hoje contemplar o Cristo, eterno sacerdote que celebra a nova Páscoa, que se entrega por nós e nos dá o mandamento novo do amor. Que eu possa amar cada vez mais a Eucaristia. Páscoa nova e, alimentando-me de Cristo, possa ser capaz de produzir os frutos abundantes do teu amor na tua Igreja, na comunidade, na família, onde eu estiver. Arranca de mim a esterilidade apostólica e torna-me fecundo pastoralmente, capaz de anunciar o Evangelho vivo a todos que encontro na minha vida. Que o meu coração não exclua ninguém do meu amor e do teu amor. Amém.

 

 

MEDITATIO: Nossa meditação se detém na insondável men­sagem que se desprende da página evangélica que aca­bamos de ler. É o binômio apóstol­o-amigo que atrai, sobretudo, nossa atenção. Em primeiro lugar, para compreender que o apostolado não se reduz só a uma missão, ainda que seja de origem divina, que possa resolver-se em atitudes de pura obediência formal. Todo apostolado é, antes de tudo, amor acolhido e correspondido. O apóstolo é alguém que se sente chamado a amar até o extremo; a amar mais, além de toda humana possibilidade; a amar a to­dos, sempre; a amar até a entrega total de si mesmo. Precisamente como Jesus fez com respeito a seu Pai, assim também se sente chamado a fazer o após­tolo com respeito a Deus e aos irmãos. Em segundo lugar, o apostolado tem de ser reconduzi­do a um mandamento: um mandamento divino que, como tal, uma vez acolhido não pode ser desatendido ou deixado de lado. O apóstolo se sente «mobilizado» por Al­guém cujo preceito é fonte de liberdade e de alegria. Uma liberdade que não consiste em fazer, simplesmente, o que se quer, mas em fazer o que compraz ao Amado, por amor, só por amor. E uma alegria que não se mede segundo as capacidades humanas, mas que é um dom precioso do amor que nos tem sido dado e que, ao mesmo tempo, damos aos outros. Por último, o apóstolo tem plena consciência de ter sido eleito: não é ele o sujeito principal da missão que desenvolve, mas O que lhe elegeu e enviou. Não é ele que tem que tomar a iniciativa da missão, mas O que lhe tem olhado com amor e predileção. Não é ele que tem que dar fruto, mas O que lhe tem amado e lhe tem elegido previamente.

 

ORATIO: Ó Senhor, quero ser teu amigo. Não ver meus méri­tos, mas só teu coração misericordioso. Serei teu amigo se tu não cessas de olhar-me com um amor de predileção, perdoando meu pecado. Ó Senhor, quero ser teu amigo. Sei que necessitas de colaboradores livres e alegres, e eu quero ser um deles. Liberta meu coração de todo vínculo de pecado e o faz capaz de amar como tu me tens amado, e me amas sempre. Ó Senhor, quero ser teu amigo, um de teus predi­letos, porque me tens dito e confiado tudo o que tinhas no coração; porque me tens dado tudo que teu coração pode dar; porque me tens introduzido nos segredos de teu amor ao Pai. Ó Senhor, quero ser teu amigo, pois ainda tenho que aprender muito de ti; e tu tens que confiar-me e entregar-me, ainda, muitas coisas. Poderei dizer que sou teu amigo só quando me configurares, totalmente, a ti, identificado, por completo, ao Pai.

 

CONTEMPLATIO: O dom total de nosso amor a Deus e o dom que Ele nos dá de volta, a completa e eterna união, é o estado mais elevado que podemos ascender, o grau su­perior da oração. As almas que o tem alcançado são verdadeiramente o coração da Igreja e nelas vive o amor sacerdotal de Jesus. Escondidas com Cristo, em Deus, não podem fazer outra coisa que irradiar, em outros corações, o amor divino de que estão repletas e coo­perar na perfeição de todos os homens, na união com Deus, que foi e é o grande desejo de Jesus. A história oficial não fala destas forças invisíveis, mas a fé do povo crente e o julgamento atento e vigilante da Igreja as conhecem, e nosso tempo se vê, cada vez mais, obrigado, quando chega a fal­tar tudo, a esperar a salvação última destas fontes escondidas (Edith Stein).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Tu, Senhor, que conheces os corações de todos, assinala

a quem elegestes como testemunho» (cf. At 1,24ss)

 

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Fomos chamados a ser servos, de modo que chegar a ministros é um compromisso progressivo através do qual descobrimos sempre novas fronteiras de serviço de consagração, de disponibilidade, de energia de nós mesmos. Cristo é ministro assim: “Não vim para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45). Devemos pensar muito sobre este aspecto, pois se não lhe prestamos atenção enquanto se multiplicam as dimensões exteriores à dimensão ministerial, pois agora já não se sabe que é o que não deve fazer um sacerdote. Todo o dia se descobre um novo horizonte, existe o risco de perder o sentido da interiorização da mesma. É preciso não fazer-se de ministro, mas sê-lo. Não prestar um serviço, mas servir, converter-se em servos, ser consumidos, devorados pelo serviço. Se o concílio voltou a propor com tanta solenidade a expressão sacerdócio ministerial, e recordo que ao princípio havia quem se colocava triste ao ouvir qualificar o sacerdócio como ministerial, pois parecia um “diminutio capitis”, hoje percebemos que a expressão é muito menos trivial que parecia. Ao contrário, é extremamente exigente, enquanto contido e comprometedor, para nossa fidelidade: converter-se em servos, converter-se em ministros, converter-se em sacramento do ministério de Jesus que se ofereceu e se consumiu até ao extremo. Esta identificação do sacerdócio com a dimensão ministerial não deve ser separada nunca da visão daquela graça que, através da dimensão ministerial do sacerdote é veículo de graça, é essencialmente sacramental (A. Ballestrero).

 

 

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