ESTUDO BÍBLICO NA 7 SEMANA COMUM E INÍCIO DA QUARESMA ANO 2020

COMUNIDADE PAZ E BEM

ESTUDO BÍBLICO NA 7 SEMANA COMUM E INÍCIO DA QUARESMA

 

Segunda–feira

Marcos 9,14-29

CONTEMPLAR O PODER DE JESUS.

“Eu te ordeno, sai dele!”

 

Jesus e três de seus discípulos acabam de ter uma experiência forte no monte e agora descem à planície. Apenas descem vêem os outros discípulos rodeados pela multidão.

 

A multidão se surpreende ao ver Jesus. Poderíamos pensar que no rosto de Jesus ainda havia centelha da transfiguração e, por isso, se surpreendem. Jesus se interessa pelo que acontece e pergunta: “Que discutis com eles?” (v.16).

 

Um pai que sofre a dor do filho enfermo, provavelmente epiléptico, responde: “Mestre, te trouxe meu filho que tem um espírito mudo e onde quer que se apodera dele o derruba, o faz espumar, ranger os dentes e o deixa rígido” (vv.17-18).

 

Foi uma descrição muito detalhada da situação. Não encontrando Jesus, o pai recorreu aos discípulos, porém eles “Não puderam” curá-lo (v.18).

 

Novamente Jesus ressalta a falta de fé e se sente desanimado e cansado com essa atitude. É a falta de fé dos discípulos, é a fé diminuta do pai. Jesus então manda trazer o filho. Dá-se, então, um novo encontro entre as forças do mal, que se fazem sentir.

 

Este encontro não é tão pacífico. De fato, o espírito agita violentamente o jovem até derrubá-lo. Jesus se dirige ao pai da do jovem e lhe faz uma pergunta: “Quanto tempo faz que vem lhe acontecendo isto?” (v.21).

 

Toda situação de mal tem uma história. O pai responde que isto lhe acontece desde menino e acrescenta um elemento a mais, ao dizer que esse espírito trata de eliminá-lo por todos os meios, lançando-o ora ao fogo e ora na água. O pai então, com voz suplicante acrescenta: “se algo podes, ajuda-nos, compadece-te  de nós” (v.22).

 

Ao dizer ajuda-nos, compadece-te de nós”, o pai põe de manifesto, não só sua dor, mas a de toda sua família. Jesus, então, pronuncia duas frases que, diríamos, são o núcleo do texto: “Que é isso de se podes?”  e “Tudo é possível para o que crê”.

 

O mais importante nesta cura não é o poder de Deus, mas a fé que tenhamos, nós, no poder de Deus. O pai ao dizer “se algo podes”, deixa entrever sua fé titubeante.

 

Esta frase não é nada comparável com a bela frase que disse o leproso quando lhe pediu a cura a Jesus. “Se queres, podes purificar-me” (1,40). Sei que Ele podia, mas o importante era seu querer e a ele submeter-se. Sabemos que Jesus lhe contestou: “Quero, fica purificado”.

 

No relato de hoje, ao contrário, o pai duvida. Porém, o homem, reconhece que lhe falta fé e pronuncia uma frase muito bela: “Creio, ajuda a minha pouca fé” (v.24).

 

Há quem traduza assim: “Eu creio, porém duvido”. Como se nessa frase estivesse contida toda nossa frágil experiência de fé. Quanto à fé, sempre é necessário que Deus nos dê uma mão.

 

Este homem havia sofrido muito. As muitas orações que, sem duvida, havia feito ele, somadas à tentativa falida dos discípulos, tudo isto havia debilitado sua fé. Entretanto a multidão afluia. Jesus então “conjurou ao espírito imundo dizendo-lhe: Sai e não entres mais nele! (v.25).

 

Soa raro que Jesus, a este espírito, o defina primeiro como imundo e logo como mudo e surdo. O pior que pode acontecer a uma pessoa, é ficar incomunicável, não poder expressar-se, não poder escutar o que outros dizem e se fechar em si mesma. Jesus ordena firmemente ao espírito que deixe o jovem e disse uma frase que deve ter alegrado muito ao Pai: E não entres mais nele” (v.25).

 

Pelo resto de sua vida, este jovem,  e com ele toda sua família, se veria livre deste tenebroso espírito do mal.O último show do espírito foi sacudir violentamente o jovem, que ficou como morto. Jesus, então, se aproxima, o toma pela mão, o levanta e o jovem se põe em pé. Estava totalmente curado.

 

Tudo não termina ali. Os discípulos se interrogam por que eles não puderam fazer o exorcismo. Jesus então lhes questiona, fortemente, sua vida de oração ao dizer-lhes: “Esta classe, com nada pode ser sair, senão com a oração” (v.29)

 

Para cultivar a semente da Palavra na vida:

 

  • Que quer dizer Jesus com a expressão: “Esta classe com nada pode sair, senão com a oração”
  • De que forma as situações de morte ou de pecado que tenho vivido me hão impedido a comunicação com Deus e com os demais?
  • Como é minha fé ante as coisas que peço a Deus? Que devo mudar a respeito?

 

 

 

 

TERÇA-FEIRA

Marcos 9,30-37

ESCUTAR OS ENSINAMENTOS DE JESUS

“Ia ensinando aos seus discípulos” 

 

O evangelho de hoje tem duas partes bem definidas:

  1. O segundo anúncio da paixão;
  2. A discussão sobre quem é o maior.

 

Jesus ia com seus discípulos pela Galiléia um pouco escondido, como nos diz o texto. “Ele não queria que se soubesse” (v.30).

 

Marcos nos diz que o motivo deste querer passar despercebido é o fato de que ia ensinando a seus discípulos. Estava concentrado neles. Qual era o tema dessa lição?

 

De novo o anúncio de sua paixão. Neste anúncio há três palavras chaves que descrevem um processo:

  • Será entregue;
  • O matarão;
  • Ressuscitará.

 

Ante este novo anúncio de Jesus, aos discípulos tampouco ficou muito claro, porém se abstiveram de fazer perguntas, seguramente recordaram que Pedro não havia se saído muito bem quando quis ir um pouco mais fundo. Por isto ficaram todos calados.

 

Se vê que durante o trajeto, em algum momento Jesus e os discípulos caminharam separados, porque ao chegar a Cafarnaum e entrar em casa, Jesus  perguntou-lhes de que discutiam no caminho.

 

Eles novamente calaram. Enquanto Jesus os anunciava sua paixão, morte e ressurreição, eles haviam estado discutindo, qual deles seria o maior. Seguramente haviam saído a tona alguns nomes: Acaso Pedro, João, Tiago. De todos os modos eles estavam em outra realidade.

 

Jesus então os chamou para perto dele e os clareou sobre a maneira de constituir-se nos primeiros. Como? Que absurdo Jesus diz: “Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servidor de todos (v.35).

 

É fácil pensar que os doze não entenderam nada. Aparentemente trata-se de uma perfeita contradição. Como é isso que para ser o primeiro se deve ser o último?

 

Quando se pretende ser o primeiro, simplesmente por ser o primeiro, só se pensa no poder, no domínio, no querer sobressair. Em troca, quando se pretende ser o primeiro segundo Jesus, o primeiro que se pensa é servir, passar despercebidos, e até desaparecer. Em uma palavra, ser o último.

 

Há uma palavra que radicaliza as posições. Jesus não diz que quem quiser ser o primeiro se faça entre os últimos, porque se poderia ser também o ‘primeiro entre os últimos’. Jesus disse: “Seja o último de todos (v.35). O mesmo sucede com o fazer-se servidor, não só de seus amigos ou dos de sua casa, mas de todos.

 

Por que Jesus, como gesto significativo chama a si um menino e o põe de exemplo? O menino hoje e sempre foi a parte mais frágil e vulnerável da sociedade e com frequência o vemos nos noticiários.

 

No tempo de Jesus não só era frágil e vulnerável, mas que, além disso, não era tido em conta, nem sequer como número para dizer que havia uma pessoa a mais (o mesmo sucedia com as mulheres).

 

É a esta classe de pessoas mais desprotegidas e esquecidas a quem devemos acolher, sendo conscientes de que acolhemos ao próprio Jesus, e por último, como Jesus Cristo mesmo disse, acolhemos àquele que o enviou: ao Pai.

 

Para cultivar a semente da Palavra na vida:

 

  1. Quais são as atitudes que Jesus destaca no evangelho de hoje para poder estar entre os primeiros?
  2. Alguma vez em tua vida aspiraste a postos ou a cargos superiores? Quais foram as verdadeiras motivações? (dinheiro, prestígio, segurança, serviço)
  3. Como é minha atitude de serviço? Sirvo a todos ou só a uns?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

QUARTA-FEIRA DE CINZAS

Mateus 6,1-6.16-18

SABER-NOS AMADOS PELO PAI

“Teu Pai, que vê no segredo, te recompensará”

 

Na lição anterior do Sermão da Montanha vimos como Jesus educa os discípulos para que cortem o mal pela raiz. Agora Jesus aprofunda no que deveríamos considerar como o mais alto ponto deste Sermão: na raiz da vida está Deus Pai que “vê no segredo”.

 

A relação com Ele nos dará a força para vivermos positivamente todas as demais relações. Como aconteceu na seção anterior (Mt 5,21-48), que trata das relações com os demais, a justiça – ou justa relação – com Deus deve ser “superior”, “diferente” para todo aquele que vive no âmbito do Reino. Já desde o início desta nova seção (Mt 5,1-18), que trata da relação com Deus, se sente a exigência: Cuidado de não praticar vossa justiça diante dos homens para serem vistos por eles; do contrário não tereis recompensa de vosso Pai celeste(6,1).

 

Que didática utiliza Jesus desta vez? Como na seção anterior, mais que propor normas, a proposta é fazer da vida um contínuo ato de discernimento das situações. Seguindo o fio condutor da pergunta em que se baseiam nossas relações com Deus?

 

Jesus faz uma revisão sobre as três obras de piedade que unem o coração do homem a Deus, típicas da cultura religiosa hebréia: a esmola (6,1-4); a oração (6,5-15); e o jejum (6,16-18).

 

Em cada uma faz, esquematicamente, a mesma contraposição que diferencia a prática dos fariseus e escribas e dum discípulo seu: não faças (isto ou aquilo)”, “tu, ao contrário (6,3.6a.17). Todas as contraposições acabam sempre do mesmo modo: Teu Pai que vê em segredo, te recompensará (6,4.6b.18).

 

Esta observação analítica de diversas práticas religiosas que põem uma pessoa em comunhão com Deus expõe no fundo as perguntas: De onde parte a espiritualidade? Qual sua finalidade? As comparações estabelecidas por Jesus fazem emergir atitudes corretas e incorretas; o discípulo deverá analisar a si mesmo e tomar decisões.

 

A repetição do verbo “ver” (sete vezes na passagem de hoje), concretamente o “ser visto”, a necessidade humana do reconhecimento – nos dá a pista para a abordagem do texto.

 

  1. A esmola: para que me vejam?

                                

O primeiro caso (Mt 6,1-4) é o da pessoa que ajuda outros com o fim de obter boa fama. É a caridade com “publicidade” (“trombetear em público”, 6,2), para “ganhar pontos”.

 

A motivação são os aplausos: ganhar privilégios ante as pessoas e adquirir poder. Se isso é o que busca, já recebeu o prêmio. Mas, para Jesus, o gesto deve ficar entre a pessoa e Deus. A recompensa nesse caso é a profundidade da relação com o Pai.

 

  1. A oração: para que me vejam?

                  

O segundo caso (6,5-6) nos coloca ante a situação de quem faz da oração um instrumento de promoção pessoal.

 

Para Jesus isto, assim como no caso anterior e no que vem, é uma hipocrisia, a oração perde sua finalidade que é a comunhão profunda com Deus, que nos faz entrar no âmbito de seu poder criador e transformante desde o mais profundo de nosso ser; precisamente ali onde não pode chegar os olhares dos outros.

                

A fim de indicar este espaço de intimidade, Jesus fala de “entrar no quarto” e “fechar a porta”, para enfatizar que a oração é, sobretudo, relação com o Pai, que está escondido, quer dizer, fora de nosso controle, nos “recompensará”, ampliando seu reinado em nossas vidas.

 

  1. O jejum: para que me vejam?

 

Na piedade dos fariseus, o jejum reforçava a oração: tinha valor de penitência, mas, também, quando coletivo – era um modo de pedir a Deus o Messias.

 

Por outro lado, a privação de alimento é fonte de vida em vários aspectos; assim, quando uma pessoa jejua traz mais vida a seu organismo, dando-lhe a possibilidade de repor-se. Também é um gesto de solidariedade para com quem está passando fome, que se concretiza logo no partilhar o alimento que se deixou de comer, para que outros tenham vida.

 

Agora, quando uma pessoa jejua, é difícil que não se note que está passando fome. Pior é quando isto se faz intencionalmente: através do corpo desfigurado anunciar ao mundo que está jejuando (6,16-18). Então algo tão sagrado se converte em um ato hipócrita. Jesus insiste em que o jejum deve ser feito em segredo, na intimidade com o Pai.

 

Enfim, nos três casos anteriores se faz notar uma falha na vida espiritual, ainda que dentro de um esforço espiritual. Quando uma pessoa faz as coisas para “ser visto” externamente e que está buscando confirmação, aprovação, reconhecimento; portanto, não tem entendido ou assumido que Deus Pai tem estado ai amando-lhe, e que conta com sua confirmação, aprovação e reconhecimento, em poucas palavras, que o ama desde o mais profundo de seu ser.

O caminho correto da espiritualidade parte deste estar “cara a cara” ante o Pai, de quem recebemos vida e afeto. Então projetaremos este amor aos demais e não a avidez de um reconhecimento, que no fundo, indica uma profunda carência.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Que objetivo tem a esmola, a oração e o jejum?

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Que âmbitos de relação estão implicados em cada?

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  • Uma criança em uma casa faz coisas para chamar a atenção dos adultos. De quem espera que lhe preste maior atenção?

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De onde parte a relação com Deus?

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Qual o fundamento e a primeira palavra?

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  • Que valores pretende promover este ensinamento?

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Que antivalores quer corrigir?

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QUINTA-FEIRA

Lucas 9,22-25

Entrada na quaresma (II): ASSIMILEMOS A NOVA LOGICA DO REINO

“Quem quer salvar sua vida a perderá, porém quem perder sua vida por mim a salvará”

 

Uma nova chave para o exercício quaresmal

 

Ao iniciar a quaresma Jesus nos convidou a entrar em nosso coração para retificar as motivações e intenções de nossas boas obras e orientar-nos decididamente ao Pai que está no secreto.

 

Porém, qual é o caminho a percorrer?  Uma rota quaresmal se traça hoje: Mistério e o caminho da cruz, no qual Jesus nos oferece a mais plena revelação de si mesmo e também de nós. Sem seguimento do Crucificado não há discipulado: a Cruz do Mestre é a glória do discípulo.

 

  1. Caminhar ao ritmo da Cruz Pascal

 

O caminho do discípulo no Evangelho se desenvolve ao ritmo da Cruz. Por isso o evangelho, nos apresenta três anúncios da Paixão:

  • aparece imediatamente depois da profissão de fé de Pedro (Lc 9,22);
  • após a transfiguração, quando crescia a maravilha e o entusiasmo dos discípulos pela obras que Jesus realizava, mas, talvez, também, falsas expectativas sobre ele (9,44-45).
  • após Jesus prometer aos discípulos a recompensa pelo desprendimento que lhes exigiuo seguimento (18,31-34). Neste anuncio Jesus explicita melhor detalhes de sua paixão.

 

Jesus, quem forma aos discípulos em seu seguimento, os introduz primeiro no Mistério de sua morte e revela sua verdadeira identidade. Esta é a chave do caminho. Detemo-nos no Evangelho de hoje no primeiro anuncio da Paixão (Lc 9,22-23).

 

  1. Pôr o olhar no Crucificado

 

O Filho do homem deve sofrer muito e ser reprovado e condenado a morte e ressuscitar ao terceiro dia” (9,22). Jesus se reconhece como o “Filho do homem” que há de percorrer o caminho do Servo de Yahweh; seu messianismo passa pela cruz. Isto quer dizer que sua divindade se afirma não salvando a si mesmo, mas entregando sua vida até a morte.

 

Este é o núcleo de nossa fé, que os discípulos conseguirão entender e aceitar só depois da Ressurreição. Este Filho do homem “deve sofrer muito”. Notemos que disse “deve”, ou seja, que é preciso que sofra, que seja reprovado e condenado à morte para ressuscitar. Este “deve” não significa imposição cruel, mas “lógica salvífica divina”.

 

Com isto nos disse que para Jesus seu sofrimento e sua morte eram cumprimento da vontade do Pai. Jesus morre na cruz por nós porque nos ama e ama ao Pai que quer nos salvar.

 

Jesus por amor perde a si mesmo para salvar-nos. O caminho de discipulado exige, desde o contato com as próprias cruzes, compreender o mistério da cruz. Muitas vezes frente à Cruz se sente resistência, repugnância. Porém este é o caminho da Glória.

 

Recordemos a reclamação de Jesus aos discípulos de Emaus: “Que lentos e tardos de coração para entender… que era necessário que o Cristo padecesse para entrar na glória(24,26). Mas este caminho é pascal, isto é, de morte para vida, de sofrimento para glória.

 

  1. Um caminho para ressuscitar nossas cruzes

 

“Dizia a todos: Se alguém quer vir a pôs mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz…” (9,23).

Na quaresma aprendemos uma nova visão da vida, Jesus se dirige não só a seus discípulos, mas a todos, até os confins da terra, a nós, hoje.

 

Depois de nos ter revelado sua identidade de Messias crucificado, nos revela agora nossa identidade de discípulos. É desde a identidade de discípulos (quando é bem assumida) que aprendemos a fazer pascal a cruz cotidiana.

 

Vejamos:

 

Negue-se a si mesmo

 

Negar-se a si mesmo não é mortificar nossas energias vitais ou negar os dons que temos recebido, mas deixar de considerar a nós mesmos como o centro e o valor supremo. Negar-se a si mesmo é deixar tudo aquilo que fazemos e buscamos para afirmar a nós mesmos. Portanto, é deixar de pensar em si mesmo e morrer a tudo o que não deixa crescer a verdadeira vida em mim e entorno a nós.

 

Negar-se a si mesmo é sair continuamente de si para doar a vida e viver em função dos demais. Na lógica de Jesus o único que salva é sair de si para amar e servir aos demais. Realizamos nossa vida doando-a, gastando-nos e desgastando-nos pelos outros.

 

É neste continuo descentrar-nos que Jesus atualiza em nós sua vitória sobre o mal e nós vamos sendo configurados progressivamente a ele; nosso Batismo então, recobra todo seu vigor.

 

Tome sua cruz e siga-me

 

Para o discípulo “tomar a cruz” é uma necessidade vital “pois para entrar no Reino deve passar por muitas tribulações” (At 14,22). Carregar a cruz é aceitar os próprios males; pois Jesus os assumiu primeiro e lhes deu um sentido novo, valor redentor; para chegar à plenitude da ressurreição que também nos espera, é preciso que carreguemos a cruz de cada dia com Ele; assim podemos em seus sofrimentos dar vida ao mundo.

 

E siga-me. Jesus nos convida a segui-lo carregados com a cruz, não como quem vai atrás dele, mas sentindo sua presença, por que ele há ficado, está em nós para continuar em nossa vida sua entrega de amor; nosso seguimento se torna configuração d’Ele.

 

  1. Porque o que quer salvar sua vida a perderá e o que perder sua vida por mim a salvará

 

Perder” para Jesus é doar-se, ou seja, não reservar nada para si. Se como Ele e por Ele expomos nossa vida pelos outros, a salvamos. Este é o norte de nosso projeto de vida cristão: realizamo-nos dando-nos a plenitude e a felicidade que estão ai.

 

Que nesta quaresma, aprendamos a carregar na paz e na esperança nossas cruzes cotidianas, sem perder de vista a nosso Senhor e Mestre, dando sentido a nossos sofrimentos desde a comunhão com sua Cruz.

 

Não caminhamos em um deserto árido, onde o peso é absurdo, mas em uma rota pascal na qual, dando-lhe cara a dor, nos fazemos capazes de ressuscitar gerando vida.

 

Cultivemos a semente da Palavra no coração.

 

  • Que quer dizer: “tomar a cruz e seguir a Jesus?

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Quando sei que tenho tomado a cruz, porém não tenho seguido a Jesus?

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  • Recordo algum momento onde a cruz pesou muito. Não será que era uma cruz sem Jesus?

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  • Em minha família, comunidade ou grupo ao qual pertenço, de que forma ajudo para que os demais sejam pessoas capazes de dar a vida por outros sem economizar-se?

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SEXTA-FEIRA

Mateus 9,14-15

Entrada na quaresma (III): DEIXEMO-NOS REVESTIR DO HOMEM NOVO!

“Ser-lhe-á arrebatado o noivo, então jejuarão”

 

A Palavra de Deus que a liturgia nos propõe cada dia segue iluminando e orientando eficazmente nosso caminho quaresmal, porque a Palavra é atual, viva e eficaz.

 

No itinerário quaresmal, teremos daqui em diante uma ênfase especial nos dias de quartas e sextas.

 

  1. No ambiente da misericórdia

 

Podemos entender melhor o Evangelho deste dia vendo o contexto imediato que o precede. Mateus, o publicano, foi chamado por Jesus sem pôr-lhe condições, mas envolvendo-o na gratuidade de seu amor, pois disse: “Não vim chamar a justos, mas a pecadores” (9,13).

 

O pecador começa a viver uma vida nova representada na alegria e o compartilha com Jesus em uma festa.

 

Na casa de Mateus, onde Jesus come com os pecadores, todos nós estamos convidados ao banquete das bodas, ali, sentados na mesa do Filho, somos acolhidos pela ternura misericordiosa do Pai e revestidos de seu amor.

 

  1. Da ceia ao jejum

 

Os discípulos não jejuam

 

Entremos na passagem de hoje. Em meio da festa, os discípulos de João se aproximam a Jesus para perguntar-lhe: Porque teus discípulos não jejuam?” (9,14). Quem há entrado no caminho de Jesus começa a marcar a diferença e isto escandaliza.

 

Os fariseus e os discípulos de João jejuavam com frequencia, não sempre por obrigação, mas também por própria iniciativa, dando assim mostras de uma grande piedade. Em principio a razão de ser de seu jejum é apressar a vinda do Messias.

 

A lógica é esta: se todo o povo se arrepende de seus pecados, Deus se apiedará e enviará o Messias. Então, por que os discípulos de Jesus não jejuam? Porque o Messias já está entre eles. Por isso os discípulos estão em festa e não há razões para jejuar. Os fariseus continuarão com a antiga prática porque não hão reconhecido em Jesus o Messias.

 

A resposta de Jesus é uma revelação: “Podem os amigos do noivo jejuar enquanto o noivo está com eles?(9,15). A lógica se impõe, porém os fariseus não parecem reconhecê-la.

 

A ceia de Jesus então é o começo do banquete messiânico e os discípulos foram os primeiros convidados. Em Jesus há começado já a plenitude da vida descrita nas antigas profecias (Is 25, 6-12; 55,1-2).

 

Os discípulos jejuarão:

 

Chama atenção que Jesus de repente diga uma frase desconcertante que parece contradizer a anterior: “Dias virão em que lhes será arrebatado o noivo; então jejuarão” (9,15). “Será arrebatado o noivo”. Com esta frase, Jesus faz alusão a sua morte e ascensão gloriosa.

 

Se a presença de Jesus marca o fim da antiga instituição do jejum, agora com sua ausência pela morte histórica, mas também pelo pecado, justificam a volta ao jejum.

 

A pergunta que fica então é: Terão os discípulos de Jesus que jejuar? Sim, enquanto reconheçam sua necessidade de conversão, de um voltar ao caminho do seguimento radical quando se apartarão dele. Este, então, é outro exercício fundamental da quaresma.

 

Se valentemente nos atrevemos a olhar-nos para dentro (evangelho de antes de ontem), se pomos o olhar no Crucificado para ressuscitar nossas cruzes (evangelho de ontem), o teremos que fazer desde o reconhecimento do distanciamento que temos do Evangelho (hoje).

 

  1. Do jejum ao banquete pascal

 

Jesus é o alimento, o esposo, o vestido novo, o vinho melhor reservado para o final; nele nos tem sido dado tudo o que Deus é e tudo o que nós estamos chamados a ser, com Ele terminou o jejum e iniciou o Banquete da vida, o povo de Deus, a nova humanidade.

 

Jesus é o homem novo, a vida nova, que nos foi dada gratuitamente pelo Pai; também nós desde o Batismo já participamos da Festa da Vida.

 

E agora nós, que já o possuímos porque habita Ressuscitado em nosso coração; vivemos, entre a ausência e a presença, ungidos para a presença plena, vivemos, todavia, em um certo clima de sexta-feira Santa, neste tempo com frequencia carregado de tribulações e, por isso mesmo, necessitamos do jejum; porém, caminhando seguros para a Páscoa eterna.

 

Jesus permanece vivo entre nós, porém sob o sinal da cruz. Está escondido em nossos corações esperando que lhe permitamos revestir-nos de seus sentimentos e mostrar-se vivo em nossos gestos concretos de perdão, de misericórdia e compaixão: depende de nossa docilidade a Ele.

Sua presença é particularmente visível nos pobres, nos que sofrem, nos desprezados e necessitados; em todos os crucificados que vamos encontrando cada dia.

 

Ali podemos descobrir e encontrar o “esposo que nos convida às bodas”, quando acolhemos sua presença crucificada e lhe expressamos nosso amor compartilhando com o nosso alimento, nosso tempo, nossas possibilidades, nossa alegria.

 

Este é o jejum que Deus quer, nos recorda o profeta Isaías na primeira leitura de hoje: “Romper as cadeias injustas, tirar o jugo aos oprimidos, repartir o pão com o faminto e oferecer teto aos desamparado… se não te desentendes de teus semelhantes brilhará a tua luz como o amanhecer e sararão logo tuas feridas (Is 52,1-9).

 

A vida nova que Jesus nos trouxe não é um simples remendo para nosso homem velho, é um modo de viver e de relacionar-nos; é a atitude filial para com Deus e a fraternidade com os irmãos; é o vinho novo, o Espírito novo prometido nos profetas (cf. Ez 36, 26) e infundido em nossos corações (cf. Rm 5, 3); foi-nos dado um coração novo que nos unge a viver no sentido de Jesus.

 

No Batismo fomos revestidos de Cristo e somos ungidos pelo Espírito para que façamos visível ante os outros sua glória escondida em nosso coração. Que nesta quaresma possamos revitalizar a vida nova do ressuscitado que recebemos em nosso Batismo, acolhendo a graça dos sacramentos deixando-nos revestir de seus sentimentos e atitudes, para que nossa vida de discípulos faça visível sua presença.

 

Para cultivar a semente da Palavra na vida:

 

  • Qual é aquela atitude pessoal que me identifica mais com Jesus?

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  • ‘Se não te desentendes com teus semelhantes, brilhará tua luz como o amanhecer e sararão muito rápido tuas feridas’. De que forma estou vivendo na família ou comunidade a atitude do “preocupar-nos” positivamente por quem sofre?

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  • O Senhor nos faz um convite neste tempo de quaresma a aproximar-nos com fé e humildade ao sacramento da reconciliação. Como, quando e onde o farei?

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SÁBADO

Lucas 5,27-32

Entrada à quaresma (IV): DEIXEMO-NOS ALCANÇAR PELA MISERICÓRDIA!
“Não vim chamar justos à conversão, mas a pecadores”

 

Lucas, o evangelista da misericórdia, se compraz em mostrar Jesus promovendo e recriando a vida mediante curas e exorcismos e até o perdão dos pecados, coisa que só Deus pode fazer.

 

Neste evangelho, o dom da misericórdia circula de maneira especial em meio de banquetes de Jesus com os pecadores. Ligando ao evangelho de ontem, se da ceia passamos à nova compreensão cristã do jejum, no de hoje, vemos como se dá o passo final: o caminho de conversão termina no banquete de festa (recordemos o itinerário similar do filho pródigo).

 

No evangelho de hoje depois de um milagre, precedido pelo perdão dos pecados (Lc 5,17-26), Lucas nos disse que, Jesussaiu” (5,27ª). O Mestre está novamente a caminho, segue buscando sem descanso, como Bom Pastor, às ovelhas desgarradas de Israel (Lucas 15,3-8).

 

  1. O convite

 

E viu a um pecador chamado Levi, sentado na coletoria dos impostos (5,27b).

 

Jesus que já está buscando a Levi, “o vê”. O Olhar é a expressão do coração. Ao vê-lo, Jesus o ama, se compadece, o olha com predileção.

 

Jesus nunca discrimina nem rejeita ao pecador, a única condição que lhe coloca é que se reconheça como tal. E é muito claro que Levi se reconhece pecador. Ele está “sentado”, esta atitude descreve sua situação inicial, talvez de paralisia, se o confrontamos com a passagem anterior onde um paralítico é perdoado pelo poder da palavra curadora de Jesus.

 

Não só busca a Levi, o ama e o acolhe assim como é, e também o elege, chamando-o a viver com ele e a colaborar em sua missão. “Segue-me”, é a palavra criadora que transforma o pecador em discípulo.

 

  1. A resposta

 

  • “Deixando tudo se levantou…” (5,28ª):

 

Levi responde incondicionalmente (ver 3,12-13), radical e imediatamente. Deixando tudo manifesta sua mudança interior e total entrega a Jesus.

 

  • “Levantou-se e o seguiu (5,28b):

                             

A decisão é radical e imprescindível; deixa a vida de pecado que o mantinha sentado e imóvel. No olhar e na Palavra amorosa do Mestre descobre o tesouro do campo, a perola preciosa (Mt 13,44), como diria Paulo, foi conquistado por Cristo (Fl 3,12).

  1. A festa

 

Finalmente, Levi lhe ofereceu em casa um grande banquete(5,29). Sentindo-se amado, acolhido, perdoado, eleito e conquistado por Cristo, Levi há encontrado a si mesmo, há encontrado a casa onde acolher ao Senhor e o acolhe feliz porque antes se sentiu acolhido por Ele.

 

A refeição de Jesus com os pecadores é a realização do banquete do Reino, nosso encontro com Deus, a festa comum do amor e a misericórdia de Deus que nos oferece gratuitamente seu perdão e sua intimidade; por isso, é o pré-anuncio do banquete eucarístico aonde chegamos a ser um com Deus, uma só família com Ele.

Os fariseus que estão muito longe de compreender a infinita gratuidade do amor de Deus, que vem a nosso encontro oferecendo-nos sua vida, se irritam e questionam o comportamento de Jesus e seus discípulos. Jesus lhes responde decididamente: “Não necessitam médicos os bons, mas os que estão mal. Não vim chamar a conversão aos justos, mas aos pecadores” (5,31-32).

 

Na primeira parte da resposta, Jesus está afirmando uma grande verdade: os homens estão enfermos e Deus é o médico, o único que os pode curar.

 

Jesus, que conhece a profunda ferida de nosso coração vendido ao poder do pecado, nos assegura que só por Ele, pela entrega de sua vida, Deus nos curará e nos salvará: “em suas chagas temos sido curados” (Is 53,5; Jr 17,4; Sl 103,3; Os 6,1).

 

Em nossos ouvidos fica ressoando a voz de Jesus que diz: Vim para. Esta é a ação que Jesus continua realizando conosco. Jesus segue vindo chamar à conversão, não aos que se auto justificam, mas aos que se reconhecem pecadores.

 

E Jesus demonstrou com os fatos que todos aqueles que se reconhecem pecadores ante Ele são misericordiosamente perdoados, salvos, santificados: Zaqueu, a Samaritana, a Adultera, Paulo… Agora é nossa vez. Oxalá nos deixemos alcançar por sua misericórdia!

 

A quaresma é o tempo favorável no qual podemos reconhecer nosso pecado e abrir-nos à terna compaixão de Deus que nos espera para fazer-nos participar no banquete da Vida.

 

O chamado de Deus é gratuito, mas exige de nós uma resposta, uma mudança de vida, como Levi que abandona tudo, que se entrega totalmente  e compartilha com seus amigos a misericórdia da qual foi cumulado.

 

Para cultivar a semente da Palavra na vida:

 

  • Que quis dizer Jesus ao afirmar que não veio a chamar à conversão os justos, mas os pecadores?

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  • O “segue-me” que Jesus dirige a Levi é um chamado a desprender-se de seu passado e a lançar-se adiante. Jesus também hoje me chama a desprender-me de algo. De que?

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Como farei?

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  • A participação na Eucaristia dominical me faz mais compreensivo/a e solidário/a com os demais?

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Como dou conta disso?

 

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