Estudo Bíblico na 9ª Semana Comum ano A 2023

ESTUDO0 BÍBLICO NA 9ª SEMANA COMUM ANO A 20213

Comunidade Paz e Bem

SEGUNDA-FEIRA

Marcos 12,1-12

ENTREGAR OS FRUTOS RESPONSAVELMENTE.

“Mandou um criado a pedir aos trabalhadores a parte da colheita”

Novamente Jesus toma a palavra e desta vez o faz por meio de uma parábola bastante conhecida: a dos lavradores malvados. Jesus apresenta o personagem central da parábola: “Um homem” e provável-mente dono de extensões de terra.

Descreve-nos, a continuação, muito bem, a atividade deste homem que “plantou um vinhedo, preparou um lugar onde fazer o vinho e levantou uma torre para vigiá-lo”. Vemos um homem ocupado em preparar sua vinha e muito seguramente pensando já nos frutos que lhe possa dar.

Este homem devia partir; então arrenda a vinha a uns vinhateiros e se foi confiando no bom trabalho e nos frutos que daria a vinha, pois havia sido bem semeada.

Passa o tempo e o homem, calculando que já era o tempo dos frutos manda sucessivas missivas a recolher a parte que lhe corresponde. Porém a coisa não era tão fácil. Já os arrendatários, por assim dizer, haviam se apossado da vinha e por conseguinte de seus frutos.

As agressões feitas aos mensageiros enviados aumentam:

  • Ao primeiro o golpeiam e o mandam com as mãos vazias. (v. 3)                                                      
  • Ao segundo feriram na cabeça e o insultam. (v.4)                                                                
  • Ao terceiro o matam. (v.5)

As tentativas do dono da vinha por receber seus frutos são vãs. E um a um de seus servos recebem o atropelo dos lavradores malvados. Porém o homem não se rende. Ainda lhe resta outra oportunidade. Tem seu amado filho. Pensa que precisamente por ser seu filho o respeitarão e enviarão com ele a parte que lhe corresponde.

Porém não pensavam assim esses lavradores. A todo custo querem apossar-se de tudo e que ocasião mais propicia podiam encontrar? Esse era nada menos que o Filho, o herdeiro. Se o tirassem do caminho eles seriam os herdeiros. E assim o fizeram. O matarão.

A este ponto, Jesus, lança uma pergunta como querendo questionar a seus interlocutores: “E que crêem vocês que fará o dono da vinha?” (v.9).

E sem deixar espaço à resposta ele mesmo acrescenta: “Pois virá e destruirá os lavradores e entregará o vinha a outros” (v.9). É uma conclusão obvia. Se não se encontra resposta por parte deles, o farão outros que respondam melhor.

Esta parábola nos traz elementos que podemos identificar claramente confrontando com a realidade de Israel e com nossa própria realidade. Deus Pai é o dono da Vinha, que a tem preparado e a entrega nas melhores condições, assim nos apresenta João em seu evangelho: “Meu Pai é o agricultor” (15,1).

A vinha é o povo de Israel. Essa vinha Deus tem entregado a uns lavradores. Os chefes que um a um tem passado e a tem governado. Alguns responsavelmente, a outros aproveitando ‘o quarto de hora’.

Porém ainda há um personagem que diríamos central: o Filho amado enviado pelo Pai e que, desafortunadamente, não acorreu com boa sorte.

Esse Filho é Jesus, enviado pelo Pai para nossa salvação. Para receber os frutos ao seu tempo e converte-los em certeza de salvação eterna.

Cultivemos a semente da Palavra no coração

A parábola que Jesus narra apresenta os seguintes personagens. Identifique-os de acordo à realidade do povo de Deus. (Vinha, dono da vinha, criados, lavradores malvados, filho,)

  1. Que nos quer dizer Jesus a través da Parábola dos vinhateiros malvados?
  2. Em que momentos da vida podemos estar agindo como eles?
  3. Como posso fazer vida a Palavra que Deus me oferece hoje?

TERÇA-FEIRA

Marcos 12,13-17

OS CONFLITOS QUE ENFRENTA JESUS (I): A IMPARCIALIDADE DE UM CORAÇÃO CENTRADO EM DEUS

“O de César, devolve a César, e o de Deus, a Deus”

Jesus está em Jerusalém, na explanada do Templo, onde propõe seu ensinamento (Mc 11,27). Precisa-mente nesta cidade, Jesus se move no meio de um campo conflitivo, de fortes tensões entre pessoas que tentam o poder, e gente orgulhosa. 

Frente a Jesus passam diversos grupos de pressão política e religiosa. Os interesses de cada um dos grupos se vão fazendo sentir:

  • as autoridades (11,27),
  • a coalizão religiosa política dos fariseus e os herodianos (12,13),
  • os saduceus (12,18)
  • e os mestres da Lei (12,28).

No vai e vem da praça do Templo se falam também dos interesses da potencia dominadora romana, das fricções com a autoridade judia, do estado de ânimo do povo.  

O povo toma partido por alguns destes grupos ou correntes que inclusive estão dispostos a usar a violência para defender ou promover seus interesses. O ambiente conflitivo envolve a Jesus (12,13). Com uma pergunta tratam de pegá-lo (12,14b). Porém frente a todos eles Jesus se apresenta como determinado somente por Deus, ao dizer: “O de César, devolve a César, e o de Deus a Deus” (12,17). 

  1. A estima que os adversários tem de Jesus e a pergunta (12,13-15) 

Os “fariseus e herodianos” já haviam sido apresentados no começo do evangelho como os inimigos de Jesus: “Os fariseus combinaram com os herodianos contra ele para ver como eliminar-lhe” (3,6). E em uma ocasião, Jesus pediu a seus discípulos que não imitassem o comportamento deles (8,15). 

Quando se disse que estes vieram “para pegar-lhe em alguma palavra” (12,13a), sabemos que pretendem prender-lhe “para eliminar-lhe” (3,6). A intenção é violenta. Os adversários afirmam inesperadamente, porém corretamente que Jesus é “veraz”, que não olha “a condição das pessoas”, mas que ensina “com franqueza o caminho de Deus” (12,15a).

É como se lhe dissesse, em outras palavras: “Tu não estás preocupado pela aparência e poder dos homens, mas que te fixas unicamente à verdade; tu ensinas o caminho reto de Deus seja que agrade ou não aos poderosos e sem olhar as conseqüências que possa ter para ti; a vontade de Deus está acima de tua segurança, comodidade e tranquilidade”. Reconhece-se assim a imparcialidade de Jesus. 

Pela primeira vez os inimigos de Jesus dizem o contrário do que sempre tem afirmado sobre Ele (2,17.16; 3,22; 7,5; e a acusação final 14,64). Porém é claro que se trata de uma adulação, não de uma convicção, que arrasta para a armadilha. 

Jesus é colocado em meio dos poderes em conflito: Se, se pronuncia a favor do imposto de vassalagem, ganha a inimizade do povo. Se, se pronuncia contra, dá pretexto para que o acusem ante o império romano e o eliminem.     

  • Uma resposta brilhante que causa admiração (12,15-17) 

Jesus havia traçado antes uma pergunta embaraçosa (11,30), agora devolve uma similar. Porém,  diferente da anterior, Jesus suscita admiração com sua resposta: “E se maravilhavam” (12,17b). 

Jesus se comporta exatamente como o tem descrito: não trata de ganhar o favor de ninguém. E o melhor: tão pouco cai na armadilha. 

  • Percebe e desvela a hipocrisia (12,15a).
  • Pede que lhe tragam um “denário” (moeda equivalente a um dia de salário) é lhes pergunta pela identidade da figura que aparece impressa –que devia ser a do imperador Tibério- e a inscrição – que devia dizer “Tibério César, Augusto filho de deus Augusto”- (12,15b-16a).
  • Frente à resposta evidente, faz uma declaração que deixa a todos em silencio (12,16b-17a). 

Analisemos bem este procedimento:

  • Jesus eleva a pergunta a outro nível: não contrapõe a Deus com o imperador, visto que o político e o religioso tem seu próprio âmbito de competência. Em outras palavras: a fidelidade a Deus não se demonstra com a rejeição do pagamento do tributo ao imperador.
  • Jesus usa o mesmo comportamento dos que o interrogam e lhes exige coerência entre ensinamento e vida. Se eles tem a moeda e identificam nela o imperador, é porque se tem estado servindo dele, na prática vivem sob seu senhorio; portanto, se usam sua moeda cotidianamente, por que não a querem usar para o pagamento do tributo?  Se isso era um problema, por que não começaram por ai? Há uma incoerência entre a pergunta e o comportamento pessoal. 

Quando Jesus disse “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (12,17a) quer dizer:

  • Por uma parte, que a fidelidade a Deus, a quem Ele conhece e anuncia, não exclui o tributo a Cesar.            A responsabilidade com Deus não descarta a responsabilidade política cidadã. 
  • Por outra, e nisto não deve haver equívocos, precisamente porque são diferentes, o que se dá a Deus não se deve dar a César: a divindade e o poder absoluto só é de Deus e de nenhum homem nem autoridade terrena. 

As exigências de Deus superam as de César. Se bem Deus respeita o âmbito das autoridades terrenas, estas últimas se relativizam, visto que nunca devem pretender para si os atributos de Deus: “Daí a Deus o que é de Deus!”.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Que nos quis ensinar Jesus com a expressão: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” Como é possível fazer vida no mundo de hoje?

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  • A Jesus “determinou” só a Vontade de Deus. Em minha vida diária, que me impulsiona a agir?

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  • De que tipo são minhas motivações pessoais? (humanas, sociais, políticas, de fé, etc.)

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QUARTA-FEIRA

Marcos 12,18-27

OS CONFLITOS QUE ENFRENTA JESUS (II): UMA RELAÇÃO QUE TRANSCENDE A MORTE

“Não é um Deus de mortos, mas de vivos”

Na passagem de ontem se disse Dai a Deus o que é de Deus (12,17a), porém não disse o que era  que havia de dar-lhe. Isto se esclarece no texto de amanhã, porém hoje se dão as bases: Deus é um Deus dos vivos e a relação com Ele está determinada por este aspecto.

Aproximam-se uns saduceus (12,18a). Jesus tinha silenciado os fariseus e herodianos, agora são os saduceus (12,18). Do problema político passamos ao problema jurídico-religioso. Notemos que no texto anterior Jesus respondeu com delicadeza, com a força da argumentação, desta vez disse francamente: “Não estais em um erro…?” (v 24), “Estais em um grande erro” (v 27).

1. A exposição do problema (12,18-23)

Desde o principio se disse que os Saduceus se caracterizam –entre outras coisas- porque afirmam que não há ressurreição dos mortos. Sobre este fio se desenrola a historia que contam a Jesus. Trata-se de uma mulher que se casa com sete homens, os quais por cumprimento da Lei de Moisés (Dt 25,5-6) são todos irmãos. Vem então a pergunta: em caso de que haja ressurreição dos mortos, “de qual deles será mulher? (12,23).

A hipótese do matrimonio com todos –sete maridos contemporaneamente- soa ridícula, a quem, então, lhe pertence o direito? É verdade que o exemplo que põem é exagerado. Porém a finalidade desta historia é mostrar que a ressurreição dos mortos gera situações absurdas e, portanto haveria que rejeitar por não ser razoável.

  • A resposta de Jesus (12,24-27)

De novo se vê a habilidade dos adversários de Jesus: um problema jurídico complicado para quem eles vêem como um inculto profeta galileu.

A resposta de Jesus desfaz a trama dos adversários:

  • Os repreende (12,24). Em outras palavras, a pergunta está mal feita. Esta tem um pressuposto que deixa entrever a ignorância dos saduceus em matéria bíblica e de experiência de Deus.
  • Os instrui (12,25). Mostra-lhes que tem uma falsa concepção de Deus: para eles Deus é um Deus de normas legais, um Deus cujo poder parecera não poder superar os limites da vida terrena. 

Ao contrário para Jesus Deus é o Deus de Aliança:

  • É o Deus cujo poder criador traspassa os limites da morte: por isso a ressurreição não é simples prolongação do estado terreno atual, mas nova criação (“serão como anjos no céu”);
  • É o Deus das relações pessoais e não simplesmente jurídicas. A relação com Ele é determinada por sua benevolência: Ele se ocupa do homem, o guia, e cumpre suas promessas. Por isso a relação com Deus sempre está vigente; a relação de Deus com os patriarcas não terminou com a morte destes: quando Moisés escuta a voz de Deus na sarça ardente (Ex 3,6) compreende que os patriarcas estão vivos e em relação com Deus: “Eu sou o Deus de Abraão…” (12,26);
  • É o Deus para quem tudo o que faz está destinado à vida, porque Ele é o Deus dos vivos (12,27). No céu Deus não está rodeado de defuntos, mas de pessoas vivas que, tendo concluído sua historia terrena, tem recebido de seu poder criador a plenitude da vida.

O poder criador de Deus é inesgotável! Jesus não fala de uma suspensão da morte terrena nem tão pouco pretende dar detalhes sobre como é a vida futura: Porém sua resposta aos saduceus se ocupa de apresentar o fundamento da vida futura: (1) Por parte de Deus: seu amor e seu poder são sempre vigentes; (2) Por parte dos homens: a compreensão correta de Deus e sua resposta de fé em seu amor e poder.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Quem é Deus para Jesus? Quem é Deus para mim?
  2. Experimento de verdade a relação pessoal de Deus comigo? Qual minha resposta a essa relação de amor?

De que forma essa resposta tem relação com as pessoas que me rodeiam?

  • Que sinais concretos vivemos em nosso grupo, em nossa comunidade, em nossa família, que nos levem a manifestar o amor fiel de Deus?

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QUINTA-FEIRA Corpus Christi

João 6,51-58

Catequeses do Papa Francisco sobre a Eucaristia

Catequese 1.
Prezados irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje, falar-vos-ei da Eucaristia. A Eucaristia insere-se no âmago da «iniciação cristã», juntamente com o Batismo e a Confirmação, constituindo a nascente da própria vida da Igreja. Com efeito, é deste Sacramento do Amor que derivam todos os caminhos autênticos de fé, de comunhão e de testemunho.
O que vemos quando nos congregamos para celebrar a Eucaristia, a Missa, já nos faz intuir o que estamos prestes a viver. No centro do espaço destinado à celebração encontra-se o altar, que é uma mesa coberta com uma toalha, e isto faz-nos pensar num banquete. Sobre a mesa há uma cruz, a qual indica que naquele altar se oferece o sacrifício de Cristo: é Ele o alimento espiritual que ali recebemos, sob as espécies do pão e do vinho. Ao lado da mesa encontra-se o ambão, ou seja o lugar de onde se proclama a Palavra de Deus: e ele indica que ali nos reunimos para ouvir o Senhor que fala mediante as Sagradas Escrituras, e portanto o alimento que recebemos é também a sua Palavra.
Na Missa, Palavra e Pão tornam-se uma coisa só, como na Última Ceia, quando todas as palavras de Jesus, todos os sinais que Ele tinha realizado, se condensaram no gesto de partir o pão e de oferecer o cálice, antecipação do sacrifício da cruz, e naquelas palavras: «Tomai e comei, isto é o meu corpo… Tomai e bebei, isto é o meu sangue».
O gesto levado a cabo por Jesus na Última Ceia é a extrema ação de graças ao Pai pelo seu amor, pela sua misericórdia. Em grego, «ação de graças» diz-se «eucaristia». É por isso que o Sacramento se chama Eucaristia: é a suprema ação de graças ao Pai, o qual nos amou a tal ponto que nos ofereceu o seu Filho por amor. Eis por que motivo o termo Eucaristia resume todo aquele gesto, que é de Deus e ao mesmo tempo do homem, gesto de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Por conseguinte, a celebração eucarística é muito mais do que um simples banquete: é precisamente o memorial da Páscoa de Jesus, o mistério fulcral da salvação. «Memorial» não significa apenas uma recordação, uma simples lembrança, mas quer dizer que cada vez que nós celebramos este Sacramento participamos no mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo. A Eucaristia constitui o apogeu da obra de salvação de Deus: com efeito, fazendo-se pão partido para nós, o Senhor Jesus derrama sobre nós toda a sua misericórdia e todo o seu amor, a ponto de renovar o nosso coração, a nossa existência e o nosso próprio modo de nos relacionarmos com Ele e com os irmãos. É por isso que geralmente, quando nos aproximamos deste Sacramento, dizemos que «recebemos a Comunhão», que «fazemos a Comunhão»: isto significa que, no poder do Espírito Santo, a participação na mesa eucarística nos conforma com Cristo de modo singular e profundo, levando-nos a prelibar desde já a plena comunhão com o Pai, que caracterizará o banquete celestial, onde juntamente com todos os Santos teremos a felicidade de contemplar Deus face a face.
Estimados amigos, nunca daremos suficientemente graças ao Senhor pela dádiva que nos concedeu através da Eucaristia! Trata-se de um dom deveras grandioso e por isso é tão importante ir à Missa aos domingos. Ir à Missa não só para rezar, mas para receber a Comunhão, o pão que é o corpo de Jesus Cristo que nos salva, nos perdoa e nos une ao Pai. É bom fazer isto! E todos os domingos vamos à Missa, porque é precisamente o dia da Ressurreição do Senhor. É por isso que o Domingo é tão importante para nós! E com a Eucaristia sentimos esta pertença precisamente à Igreja, ao Povo de Deus, ao Corpo de Deus, a Jesus Cristo. Nunca compreenderemos todo o seu valor e toda a sua riqueza. Então, peçamos-lhe que este Sacramento possa continuar a manter viva na Igreja a sua presença e a plasmar as nossas comunidades na caridade e na comunhão, segundo o Coração do Pai. E fazemos isto durante a vida inteira, mas começamos a fazê-lo no dia da nossa primeira Comunhão. É importante que as crianças se preparem bem para a primeira Comunhão e que cada criança a faça, pois trata-se do primeiro passo desta pertença forte a Jesus Cristo, depois do Batismo e do Crisma.

Catequese 2.
Caros irmãos e irmãs, bom dia!
Na última catequese elucidei o modo como a Eucaristia nos introduz na comunhão real com Jesus e o seu mistério. Agora podemos formular algumas interrogações a propósito da relação entre a Eucaristia que celebramos e a nossa vida, como Igreja e como simples cristãos. Como vivemos a Eucaristia? Quando vamos à Missa aos domingos, como a vivemos? É apenas um momento de festa, uma tradição consolidada, uma ocasião para nos encontrarmos, para estarmos à vontade, ou então é algo mais?
Existem sinais muito concretos para compreender como vivemos tudo isto, como vivemos a Eucaristia; sinais que nos dizem se vivemos bem a Eucaristia, ou se não a vivemos muito bem. O primeiro indício é o nosso modo de ver e considerar os outros. Na Eucaristia Cristo oferece sempre de novo o dom de si que já concedeu na Cruz. Toda a sua vida é um gesto de partilha total de si mesmo por amor; por isso, Ele gostava de estar com os discípulos e com as pessoas que tinha a oportunidade de conhecer. Para Ele, isto significava partilhar os seus desejos, os seus problemas, aquilo que agitava as suas almas e vidas. Pois bem, quando participamos na Santa Missa encontramo-nos com homens e mulheres de todos os tipos: jovens, idosos e crianças; pobres e abastados; naturais do lugar e estrangeiros; acompanhados pelos familiares e pessoas sós… Mas a Eucaristia que eu celebro leva-me a senti-los todos verdadeiramente como irmãos e irmãs? Faz crescer em mim a capacidade de me alegrar com quantos rejubilam, de chorar com quem chora? Impele-me a ir ao encontro dos pobres, dos enfermos e dos marginalizados? Ajuda-me a reconhecer neles o rosto de Jesus? Todos nós vamos à Missa porque amamos Jesus e, na Eucaristia, queremos compartilhar a sua paixão e ressurreição. Mas amamos, como deseja Jesus, os irmãos e irmãs mais necessitados? Por exemplo, nestes dias vimos em Roma muitas dificuldades sociais, ou devido às chuvas, que causaram prejuízos enormes para bairros inteiros, ou devido à falta de trabalho, consequência da crise económica no mundo inteiro. Pergunto-me, e cada um de nós deve interrogar-se: eu que vou à Missa, como vivo isto? Preocupo-me em ajudar, em aproximar-me, em rezar por quantos devem enfrentar este problema? Ou então sou um pouco indiferente? Ou, talvez, preocupo-me em tagarelar: reparaste como se veste esta pessoa, ou como está vestida aquela? Às vezes é isto que se faz depois da Missa, mas não podemos comportar-nos assim! Devemos preocupar-nos com os nossos irmãos e irmãs que têm necessidade por causa de uma doença, de um problema. Hoje, far-nos-á bem pensar nos nossos irmãos e irmãs que devem enfrentar estes problemas aqui em Roma: problemas devidos à tragédia provocada pelas chuvas, questões sociais e de trabalho. Peçamos a Jesus, que recebemos na Eucaristia, que nos ajude a ajudá-los!
Um segundo indício, muito importante, é a graça de nos sentirmos perdoados e prontos para perdoar. Por vezes, alguém pergunta: «Por que deveríamos ir à igreja, visto que quem participa habitualmente na Santa Missa é pecador como os outros?». Quantas vezes ouvimos isto! Na realidade, quem celebra a Eucaristia não o faz porque se considera ou quer parecer melhor do que os outros, mas precisamente porque se reconhece sempre necessitado de ser acolhido e regenerado pela misericórdia de Deus, que se fez carne em Jesus Cristo. Se não nos sentirmos necessitados da misericórdia de Deus, se não nos sentirmos pecadores, melhor seria não irmos à Missa! Nós vamos à Missa porque somos pecadores e queremos receber o perdão de Deus, participar na redenção de Jesus e no seu perdão. Aquele «Confesso» que recitamos no início não é um «pro forma», mas um verdadeiro ato de penitência! Sou pecador e confesso-o: assim começa a Missa! Nunca devemos esquecer que a Última Ceia de Jesus teve lugar «na noite em que Ele foi entregue» (1 Cor 11, 23). Naquele pão e naquele vinho que oferecemos, e ao redor dos quais nos congregamos, renova-se de cada vez a dádiva do corpo e do sangue de Cristo, para a remissão dos nossos pecados. Temos que ir à Missa como pecadores, humildemente, e é o Senhor que nos reconcilia.
Um último indício inestimável é-nos oferecido pela relação entre a celebração eucarística e a vida das nossas comunidades cristãs. É preciso ter sempre presente que a Eucaristia não é algo que nós fazemos; não é uma nossa comemoração daquilo que Jesus disse e fez. Não! É precisamente uma ação de Cristo! Ali, é Cristo quem age, Cristo sobre o altar! É um dom de Cristo, que se torna presente e nos reúne ao redor de Si, para nos alimentar com a sua Palavra e a sua vida. Isto significa que a própria missão e identidade da Igreja derivam dali, da Eucaristia, e ali sempre adquirem forma. Uma celebração pode até ser impecável sob o ponto de vista exterior, maravilhosa, mas se não nos levar ao encontro com Jesus corre o risco de não oferecer alimento algum ao nosso coração e à nossa vida. Através da Eucaristia, ao contrário, Cristo quer entrar na nossa existência e permeá-la com a sua graça, de tal modo que em cada comunidade cristã haja coerência entre liturgia e vida.
O coração transborda de confiança e de esperança, pensando nas palavras de Jesus, citadas no Evangelho: «Quem comer a minha carne e beber o meu sangue terá a vida eterna; e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia» (Jo 6, 54). Vivamos a Eucaristia com espírito de fé, de oração, de perdão, de penitência, de júbilo comunitário, de solicitude pelos necessitados e pelas carências de numerosos irmãos e irmãs, na certeza de que o Senhor cumprirá aquilo que nos prometeu: a vida eterna. Assim seja!
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS


SEXTA-FEIRA

Marcos 12,35-37

PRIORIDADE EVANGÉLICA (II): UM CORAÇÃO QUE SE ABRE AO MISTÉRIO DO FILHO

“Como dizem os escribas que o Cristo é o filho de Davi?”

Ontem confessamos que “Deus é o único Senhor” (12,29), porém, quem é Jesus?

Desta vez Jesus não responde uma pergunta, mas toma a palavra por iniciativa própria (12,35a). Depois de todas as perguntas que outras pessoas lhe fazem, agora é Jesus quem põe o tema e espera que seus ouvintes reflitam e lhe dêem a resposta adequada.

O tema é importante. Os escribas costumavam discutir qual a origem do Messias: se vinha desta cidade ou daquela, se provinha de tal ou qual família. Jesus põe em questão a opinião generalizada de que o Messias “é filho de Davi” (12,25b): provem de Davi e pertence a sua descendência.

Para suscitar a reflexão, Jesus cita o Salmo 110,1. Afirma que Davi chama ao Messias “Senhor seu” e sobre esta premissa expõe a questão: “Como então pode (o Messias) ser filho de Davi?” (12,37).

Esta pergunta de Jesus tem como ponto de partida três pressupostos:

(1)  Que o Salmo citado provém de Davi, portanto a palavra de Davi é tomada como palavra de Deus;

(2)  Que a pessoa, à qual Davi se refere como “Senhor seu” e à qual lhe fala Deus, é o Messias;   

(3)  Que um pai não pode chamar seu filho “Senhor”, simplesmente porque o pai é superior.

A primeira vista parece que Jesus está pressionando sobre uma questão meramente teórica. Inclusive dava a impressão que Jesus não estava falando de si mesmo, pela forma impessoal de seu discurso. 

Porém, se recordamos que no começo desta seção do evangelho (o ministério de Jesus em Jerusalém: Mc 11-13) começou, precisamente, com a entrada triunfal na cidade santa, na qual mostrou que vinha como Messias (“Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o reino que vem de nosso pai Davi!”, 11,8-9) então captaremos a transcendência do tema e por que Jesus o retoma neste momento.

A pergunta de Jesus tenta corrigir um equívoco conceitual na mente de seus ouvintes: Jesus pede que se clarifique qual é a verdadeira identidade do Messias, simplesmente porque este não pode ser um filho de Davi.

De onde provém, então, Jesus?

A resposta é dada:

  • no evangelho, desde a primeira linha: “O Cristo, o Filho de Deus” (1,1).
  • na manifestação do Batismo: “Tu és meu Filho amado, em ti me comprazo” (1,11); 
  • na transfiguração: Este é meu Filho amado, escutai-o (9,7).
  • ainda na parábola dos vinhateiros homicidas: A meu filho respeitarão (12,6).
  • finalmente, na hora sublime da morte de Jesus, o tema volta ao primeiro plano: Este homem era, verdadeiramente, Filho de Deus (15,39).

Jesus é, antes de tudo, o “Filho de Deus” amado, predileto, querido por Deus Pai. É de Deus mesmo que provém sua missão e sua autoridade (11,28: “Com que autoridade fazes isto?”).

É verdade que os escribas admitem que o Messias, em última instancia, provém de Deus; porém, no caso de Jesus, mesmo sendo um descendente de Davi (Mt 1,1-17; Lc 1,32-33; Rm 1,3), sua filiação divina não se dá pelo fato de descender de Davi. Em conseqüência, Jesus é “da linhagem de Davi segundo a carne” (Rm 1,3), porém, é, ante de tudo, “Filho de Deus”.

Dai que devemos:

  • Por no centro da compreensão e da relação com Jesus, a relação estreita que Ele tem com o Pai;
  • Reconhecer e submeter-se à sua amável autoridade, e, portanto, assumir as implicações da Palavra que Jesus nos dirige como porta voz autorizado de Deus, porque seu ensinamento provém do proprio Deus; Jesus não é um profeta qualquer.

A pergunta não aparece por acaso quase ao final da vida pública de Jesus. A vivencia profunda e eficaz de todos os grandes momentos do ministério de Jesus depende da resposta à esta pergunta: de onde provem a pessoa e a missão de Jesus? Insistimos: é um tema importante.

O reconhecimento de Jesus, como verdadeiro e predileto Filho de Deus, coloca a vida do discípulo também num plano superior: a missão de Jesus, seu anuncio do Reino, o levará a fazer a experiência da Paternidade de Deus, a gozar de suas bênçãos, e também percorrer, com confiança e obediência, o caminho que conduz a Ele.

Então o amaremos com todas as nossas forças, e nossa vida começará a ter o sabor do Evangelho, cujo maior encanto é o rosto do Filho.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Que quer dizer que Jesus é “o Cristo”, “o Filho de Deus”? Que implicações tem para minha vida?
  2. Como constato, em meu caminho de seguimento de Jesus, que sua Palavra tem orientado minha vida e tem gerado em mim processos de proximidade e identificação com Ele?
  3. As pessoas com quem convivo, que traços descobrem em minha vida que dizem ser eu evangélico?

“Ó Jesus, Rei legítimo e soberano de todos os corações, sede tu o Rei de meu coração e que eu seja todo coração e amor por ti como tu és todo coração e amor por mim” (São João Eudes)


SÁBADO

Lucas 2,41-51

IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA:

Entre nós, Jesus e Maria: um só coração”

Neste sábado celebramos o Imaculado Coração de Maria.

A natureza humana em sua originalidade natural foi criada à “imagem semelhança” de Deus, porém, com o pecado, essa identidade ficou manchada, mas não destruída; foi preciso que o Filho de Deus, segunda pessoa da Trindade Santa, livremente a assumisse na Encarnação para que voltássemos a uma nova originalidade, preparada pelo Altíssimo conforme a Eternidade do Seu Querer.

O que Adão e Eva não conseguiram realizar

O que Adão e Evan não conseguiram realizar, por meio dos dons recebidos, livre arbítrio, inocência, santidade, visão espiritual, obediência, etc.; Deus o fez por meio de Seu Filho Jesus, Novo Adão, não nascido do barro, mas do Espírito Santo, no seio da Nova Eva, Maria; não tirada do homem, mas perfeitamente redimida por seu próprio Filho, para ser mãe da Nova Criação.

Falar dessa íntima-união da Imaculada com a Santíssima Trindade na Nova Criação é o mesmo que falar da união perfeita das duas naturezas, Divino-humana, sem perca alguma por parte da primeira e com elevação da segunda à Plenitude da Perfeição, conforme o propósito do Criador.

Pois, a primeira divinizou a segunda, por isso agora, já não somos apenas seres humanos, mas seres humanos perfeitamente divinizados pela Encarnação, Morte e Ressurreição do Verbo de Deus que nos livrou definitivamente do pecado e da morte.

Maria é toda de Deus e toda Vontade de Deus para nós

Pela transparência de seu ser Imaculado, Maria é, de fato, toda de Deus e toda Vontade de Deus para nós; pois, o principal atributo dos filhos redimidos é a cooperação na obra redentora até que venha a consumação de todas as coisas onde seremos um só em Deus que é bendito para sempre. 

Ninguém conheceu Jesus tão bem quanto sua Mãe, a Virgem Maria; ninguém foi mais íntima, ninguém mais amiga e conselheira e que teve mais acesso ao Filho de Deus que sua Mãe Santíssima; muito mais agora que vive na Sua intimidade por toda a eternidade.

No Evangelho de hoje vamos ao final aonde nos encontramos com um retrato lucano de Maria: “Sua mãe, porém conservava a lembrança de todos esses fatos em seu coração” (2,51). A atitude de Maria ante a primeira palavra desconcertante de seu Filho, por ocasião de seu reencontro no Templo, após tê-lo perdido por três dias, é de reflexão paciente.

Esta atitude acompanhou-a desde o momento da encarnação (1,29), do nascimento (1,19), até a entrada de Jesus na vida adulta e no ministério. Assim os anos ocultos da vida de Jesus ficaram somente escritos no coração de Maria.

Contemplando esta sua atitude, poderíamos dizer: Jesus crescia e sua Mãe também. O coração de Maria permanece então como o modelo do qual nós devemos ser como ouvintes do Evangelho.

Maria nos ensina a viver um caminho de crescimento espiritual por meio da confrontação permanente entre os sucessos da vida e da Palavra, aguardando com paciência nos momentos de ignorância e deixando que Deus conduza as coisas segundo sua pedagogia.

Cultivemos semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Que novo tipo de relação começa Maria com Jesus a partir de então?
  2. Como se projeta em nossa experiência familiar?
  3. Que pistas nos dá este texto para fazer nosso projeto de vida familiar?

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

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