Estudo Bíblico na 8ª Semana Comum ano B 2024

ESTUDO BÍBLICO NA 8ª SEMANA COMUM ANO B 2024

Comunidade Paz e Bem

Segunda–feira

Marcos 10,17-27

A DINÂMICA DO MAIS:

 “Uma coisa te falta”

Temos diante de Jesus um homem que, seguramente, havia ouvido falar d’Ele e que não queria deixar passar a ocasião. É por isto que o vemos chegar correndo.

Este homem reconhece, em Jesus, alguém com autoridade, como já haviam expressado antes, as pessoas, e, é por isto que, estando diante de Jesus, se ajoelha. A sua inquietação é lançada ao ar imediatamente. Não busca cura. Nem para ele nem para outros. Quer uma resposta. E sua pergunta revela um grande desejo de alcançar altas metas.

  1. A pergunta soa assim: “Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna”? (v.17)
  2. “Bom Mestre…”. Com estas palavras o homem reconhece, em Jesus, não somente um mestre com todos, mas um mestre que ele qualifica como bom e no qual se pode crer.
  3. “… que farei”. Notemos que a expressão seguinte não está dita em um desses plurais vagos que, com frequência, usamos: Que devemos fazer? Nem, tampouco, em um impessoal: Que se deve fazer? Ele fala em primeira pessoa. Meu processo é meu e de ninguém mais.
  • A resposta de Jesus: “Tu conheces os mandamentos…” (v.19)

Na resposta de Jesus recorda-lhe que existem os mandamentos como meio para alcançar a vida eterna. E enumera alguns.

  • A réplica do homem: “Mestre, tudo isso tenho guardado desde a minha infância!” (v.20)

Quase sem deixar Jesus terminar, o homem lhe assegura que tudo isto tem vivido desde jovem. Nisso não há novidade para ele, porque tem sido um judeu observante da lei. Sente que pode fazer algo mais, porém, não sabe o que.

Neste momento, o texto diz que Jesus o olhou com carinho. Outras traduções dizem “o olhou e o amou”.Era um homem íntegro e estava preparado para dar um passo a mais para a perfeição. Na realidade, Jesus o captou assim.

  • E foi por isto que lhe lançou um desafio a mais: “Uma só coisa te falta” (v.21a).

É, precisamente, a frase que o homem estava esperando. É esse mais, que devia acrescentar à sua vida e que estava lhe faltando, o que queria saber. É fácil imaginar o olhar com uma expressão de interrogação que lançou a Jesus, em espera dessa coisa faltante.

Porém, algo não funcionou depois. A seguinte frase de Jesus paralisou seu desejo. “Vai, vende o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me” (v.21b). Era este um convite muito radical: (a) Vender tudo; (b) Dar aos pobres; (c) Segui-lo.

Jesus o convida a um despojamento e desprendimento total. Vender tudo o que possui. Não, precisamente, para abrir uma conta no banco, para o caso de necessitar mais tarde. O motivo de vender tudo é dar aos pobres, porém, o motivo superior é: seguir Jesus.

Dar tudo aos pobres indica desprendimento total. Os pobres, o máximo que podem fazer, é agradecer-te, porém, deles, não se pode esperar que, mais tarde, te devolvam e, menos ainda, com juros.

Porém, tudo isto não tem, senão, uma única finalidade: ”seguir Jesus”. Com coração e mãos livres podemos seguir a Jesus e fazer o que Ele nos diz. Vem à mente uma frase que encontrei em um cartaz: “Quando morremos, deixamos o que temos e levamos o que demos”.

Depois destas palavras de Jesus, o olhar daquele ‘bom’ homem nublou-se. A tristeza invadiu seu coração. A riqueza que possuía pôde mais que o convite claro, que lhe fez Jesus, e retirou-se de cena.

Jesus, ante o fato, dirigindo-se aos discípulos, diz: “Como é difícil a quem tem riquezas entrar no reino de Deus” (v.24). Já haviam constatado isso, com a atitude desse rico, ainda que bom. Como os discípulos se assombraram, Jesus lhes explicou, com um exemplo, o difícil e quase impossível que era.

A pergunta, que em seguida lhe fizeram os seus discípulos: E quem poderá salvar-se? (v.26), dá a entender como se os ricos fossem a maioria e isso não era, nem foi, em nenhuma sociedade. Talvez, poder-se-ia interpretar como riqueza, não só material, mas outro tipo de riqueza: poder, prestígio, idéias, influências, etc.

Contando com isto, sim, realmente é difícil entrar no Reino. Jesus abre o espiral da esperança com a resposta que lhes dá. “Aos homens é impossível, mas não a Deus, pois para Deus tudo é possível” (v.27).

Para cultivar a semente da Palavra na vida:

  1. Em que sentido a riqueza impede o verdadeiro seguimento de Jesus?
  2. Quais minhas riquezas, aquelas que estão me impedindo fazer um caminho atrás de Jesus, aquelas às quais estou mais apegado/a (dinheiro, poder, opiniões, ideias, modos de agir, coisas, etc.)?
  3. Que sinto que o Senhor me pede no Evangelho de hoje?

TERÇA-FEIRA

Marcos 10,28-31

DEIXAR TUDO PARA GANHAR TUDO:

 “No mundo futuro receberá a vida eterna”.

Acabava de se passar a cena do homem rico, que não havia tido a suficiente fortaleza e entusiasmo para deixar tudo e havia voltado atrás, ante o chamado de Jesus.

Os discípulos sentiam que esse não era o caso deles, porque eles, para seguir a Jesus, haviam deixado suas posses, pequenas ou grandes, não só no que se refere aos bens materiais, mas, também, laços familiares, trabalho, etc.

Pedro, ao dirigir-se a Jesus, manifesta-lhe que, contrariamente ao homem rico, eles deixaram tudo e o seguiram. Em Marcos, não aparece explícito o interesse de Pedro por saber o que receberão eles, como aparece em Mateus 19,27.

Jesus lhes assegura que, quem tem deixado tudo por Ele e para o Evangelho (casa, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou terras (trabalho), que, traduzido, soaria como o indispensável para viver bem), garante para si, o presente e o futuro. Pois, no presente receberá cem por um em casas, irmãos, irmãs, mães, pais, filhos e trabalho e, no futuro, receberá a vida eterna.

Jesus põe um ingrediente, quase como um ponto final, que é conveniente ressaltar. Todo o anterior, no presente, se receberá com perseguições. Como se isto fosse o que, popularmente, chamamos “pedra de toque”, que avalia a pureza do ouro. De fato, há ai um verdadeiro seguimento. Esta é a cruz da qual nos falava Jesus em dias anteriores. Cruz que se deve tomar, ao segui-lo. O futuro também estará assegurado ao dizer “quem deixou tudo, no mundo futuro terá vida eterna”.

Jesus termina com uma frase, que pode soar como advertência para não dormir nos louros do ”haver deixado tudo”: “Muitos dos primeiros serão últimos e muitos dos últimos, primeiros” (v.31). Como quem diz: É preciso estar atentos, pois, pode-se pensar que, por haver-se deixado tudo, somos dos primeiros, quando podemos ser dos últimos.

Ou o contrário, pensar que somos dos últimos, quando, aos olhos de Deus, somos os primeiros. Aqui conta muito o desprendimento, não tanto pelo que se possa deixar, ou se possa receber, mas pelo amor com o qual seguimos a Jesus.

Para cultivar a semente da Palavra na vida:

  1. Que significado tem hoje as promessas de Jesus a quem tem deixado tudo por Ele e pelo Evangelho?
  2. A que coisas estou mais apegado/a (casa, família, trabalho, dinheiro)?
  3. O que me está impedindo dar uma resposta a Jesus?
  4. Quando se vive um cristianismo medíocre e sem compromisso, as perseguições não existem. Qual é a qualidade do cristianismo que estou vivendo?

QUARTA-FEIRA

Marcos 10,32-45

A VERDADEIRA GRANDEZA ESTÁ NO SERVIÇO:

“O Filho do homem não veio para ser servido”

Seguimos, passo a passo, o caminho de formação de Jesus com seus discípulos, o qual coincide com a subida a Jerusalém. Chegamos à lição central que se desprende do discipulado da Cruz: o serviço aos demais, ainda que com sacrifício.

Jesus propõe àqueles que querem ser grandes, que assumam a função de servidores daqueles que querem superar e que desçam até o mais baixo grau na escala social, até se fazerem escravos. O Mestre é o modelo deste ensinamento: Ele dá sua vida para redimir a humanidade.

Aqui nos é proposto uma passagem muito válida para estes tempos em que, para algumas pessoas, o que conta é o êxito a todo custo, o sobressair-se acima dos demais e o afã na busca de postos.

O evangelista Marcos, extraordinário pedagogo da fé, continua mostrando-nos as implicações da vida nova no seguimento de Jesus, ou seja, de estar entrando no Reino de Deus. Hoje o faz colocando sobre a mesa o tema humano, humano até demais: o “poder”. Quais os critérios de ação de um discípulo a respeito?

Não percamos de vista que Jesus já indicou a direção do seguimento ao dizer: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8,34), e que implica um discernimento de espíritos para escolher, dentre as múltiplas atrações que a vida exerce sobre nós, o que está em sintonia com a opção da Cruz (8,35-38).

Depois de Pedro (ver o evangelho do domingo passado), tomam a palavra os dois irmãos, filhos de Zebedeu, Tiago e João, também chamados “filhos do trovão” (talvez pelo temperamento forte; 3,17) pertencentes ao grupo chamado no primeiro dia do evangelho (1,16-20). É de se esperar que estes discípulos, que “deixaram tudo e seguiram” a Jesus, estejam já em um alto nível de discipulado e, portanto, capazes de diferenciar-se dos demais no âmbito da liderança e do exercício da autoridade na comunidade. Mas parece que não.

Como se estivessem tratando de algo profissional, de uma carreira administrativa, os dois discípulos temperamentais pedem a Jesus os postos mais altos no Reino de Deus: Concede-nos, na tua glória, sentarmo-nos, um a tua direita e outro a tua esquerda(v.37). O pedido suscita uma reação forte, tanto da parte de Jesus (v.38) como do resto da comunidade (v.41). Também, aqui, notamos, dentro do texto, um laço que une a petição inicial com a resposta final, enquanto que, no desenvolvimento do texto, vão se desmontando os velhos hábitos, ao mesmo tempo, que se formam as atitudes que caracterizam aqueles que estão “entrando no Reino” pela via do seguimento “tomando a Cruz”.

O núcleo do texto está relacionado com o domingo passado: a conversão pascal. Por isso a esta passagem precede o 3º anúncio da Paixão e Ressurreição (v.31-34) e tem sua expressão culminante na última frase de Jesus: O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos” (v.45). Para um discípulo, o único caminho possível para exercer a autoridade é esvaziando-se a si mesmo no caminho da Cruz, dando vida com sua própria vida.

Então, à sombra da cruz, as relações de influência sobre os outros são vistas com outra lente: primeiro, a cruz põe em severa crise os interesses de fundo de cada um e, segundo, por ser um dar-se, orienta todos os melhores esforços humanos em função de um único objetivo, que é a vida que cresce e realiza seu projeto como Deus quer e num âmbito de liberdade (=o “resgate”, v.45). É confrontando-nos com o crucificado que podemos discernir se a influência que exercemos sobre os demais é subserviência que “mata” ou entrega amorosa que “vivifica”.

Relendo atento e devagar o texto, vejamos os pontos relevantes da Boa Nova de Jesus sobre o poder-serviço:

  • Jesus não rejeita, de início, as aspirações dos dois discípulos. Ele não deseja discípulos covardes, sem iniciativa e sem projeção, por isso admite que se chegue a ser “grande” e “o primeiro” (vv.40.43-44;). O problema não está no “que”, mas no “como” e “para que” (em função de que);
  • Jesus questiona a atitude egocêntrica: quando o interesse pelo êxito terreno, o prestígio e a honra pessoal é a aspiração fundamental. O individualismo vaidoso e egocêntrico, que leva uma pessoa a querer sobrepor-se aos demais, é a fonte da maior parte dos conflitos da convivência, como bem o ilustra a indignação de uns contra outros, que brota imediatamente entre os doze (v.41);
  • Jesus responde, não com uma teoria, mas sobre o fundamento de sua própria vida: Ele é o critério último do agir do discípulo. As aspirações espontâneas (ou naturais) dos discípulos (v.35-37) e os modelos de comportamento da sociedade (v.42) se confrontam com a instrução de Jesus que indica como é que devemos segui-lo (vv.38-40 e 43-45);
  • Jesus ensina, não pela coação de uma lei, mas pelo exemplo de sua própria vida. Sua autoridade não é exercida por imposição, mas pela atração do exemplo (ver “assim como” que introduz v.45);
  • Jesus reorienta o olhar dos discípulos para a radicalidade da paixão, momento cume de seu ministério e de sua revelação. Desta forma eles aprendem que a comunhão com Jesus, ou é total ou simplesmente não existe. Se ela é total, então inclui o caminho da cruz, da qual se derivam os princípios que determinam seu comportamento. Veja os vv.38.39 sobre o “cálice” e o “Batismo”;
  • Jesus revela que se, do ponto de vista externo, experimentou a cruz, como agressão do poder religioso e político que tentaram anulá-lo, do ponto de vista interno, a viveu ativamente como um serviço à vida (v.45 em relação com os vv.33-34);
  • Jesus indica a partir da palavra-chave “servir” (v.45), que o caminho do prestígio e da grandeza está no constituir-se “servidor” e “escravo” (vv.43-44). O posto mais alto é o mais baixo, só se é primeiro se, se ocupa o posto dos últimos. O discípulo é o que faz das necessidades dos demais o centro de suas preocupações. O centro não é ele mesmo, mas os outros;
  • Jesus revela o perfil do discípulo com tons que tem os termos. O “serviço” é o da mesa, que indica tudo que contribui a formação da comunidade (v.43). O “ser escravo” é um modo de enfatizar que o serviço é gratuito, não espera salário, se faz por ter um sentido profundo de pertença (v.44);
  • Jesus visualiza ainda a comunidade e assinala os destinatários do serviço. Não só os de dentro (o “vós” e o “vosso”, v.43), mas também os de fora. No serviço cristão não há fronteiras (o “de todos” do v.44, que faz eco ao “muitos” do v.45). Mas é verdade ainda que o amor ao próximo não pode ser substituído pelo serviço aos que estão longe (tentação do ser “luz na rua” e “treva em casa”);
  • Enfim, Jesus e os que lhe seguem estreitamente, vão, profeticamente, na contramão dos interesses econômicos e políticos de toda sociedade, cuja ética do poder exclui, marginaliza, mata ou nega a pessoa. No ouvido fica ressoando a frase: Entre vocês não deve ser assim (v.43).

A passagem de hoje põe de relevo que a natureza essencial da renúncia a si mesmo é o dom de si mesmo no serviço. Então, na vida cristã há carreira, porém, só pela rota e no exercício da Cruz.

3. Para cultivar a semente da Palavra na vida:

  1. Os filhos de Zebedeu manifestaram suas aspirações no seguimento de Jesus. A que aspiro na vida?
  2. Que determina meu comportamento: meus impulsos pessoais, a maneira de ser, o exemplo de Jesus? Que é “beber o cálice” e “ser batizado no batismo de Cristo”?
  3. Estou consciente de que todas as relações devem estar sustentadas pela vontade de servir?

Cumpro com meus deveres de boa vontade, por amor?

  • Limito meus serviços ou tenho como critério o “todos”, não importa que a pessoa seja feia ou atrativa, amiga ou inimiga, benéfica para meus interesses ou não?
  • Quais os elementos de uma ética do poder a partir do Evangelho de Jesus?

Como se aplica no âmbito da família, das comunidades eclesiais, da vida social, da política?


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QUINTA-FEIRA: Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo

Estudo Bíblico


SEXTA-FEIRA

Marcos 11,11-26

DOIS GESTOS SIMBOLICOS DE ORIENTAÇÃO PROFÉTICA

“Nunca, jamais ninguém coma fruto teu”

Jesus havia acabado de fazer sua “entrada em Jerusalém”. A liturgia saltou a página correspondente a essa “entrada triunfal” porque deve ser lida só no domingo de Ramos.

Entrou no Templo e, depois de havê-lo examinado todo, sendo já tarde, saiu para Betânia com os doze.

Jesus entrou no templo em um momento em que ali não passava nada. Isso é raro. A manifestação messiânica se passou em branco! É estranho.

Sem dúvida, antes de sair, Jesus percorre todo o lugar e observa todas as coisas detalhadamente. Este olhar de Jesus está cheio de significado: o que vai fazer no outro dia está bem premeditado… é o olhar de um homem que está preparando sua jogada: a expulsão dos “vendedores do templo”.

Na manhã seguinte saíram de Betânia para Jerusalém novamente.Logo sentiu fome. Vendo de longe uma figueira dirige-se em sua direção, mas não encontrou nela, senão folhas, porque não era tempo de figos. Disse à figueira: “Que ninguém jamais coma fruto de ti” (v.14). E os discípulos o ouviram.

Estranha maldição. Se Jesus tratava de saciar a fome, este gesto seria de um demente: encolerizar-se contra uma árvore, por não encontrar frutos quando, por cima, nem era tempo! Não é, pois, nesse nível material que se deve interpretar esta maldição.

Jesus quis fazer um gesto “enigmático” e Marcos sublinha: os apóstolos “ouvem”, porém não querem crer e ficarão muito surpresos no dia seguinte, ao ver que a maldição se realizou. A solução do enigma se dará mais tarde. E não será por acaso o fato de que a “purificação” do Templo esteja inserida, como “um recheio” entre as duas metades do episódio da “figueira amaldiçoada”.

Chegam a Jerusalém.Jesus entra no templo e se põe a expulsar os que vendiam e compravam. Derruba as mesas dos cambistas e os assentos dos vendedores… “E os ensinava dizendo: ‘Não está escrito: Minha casa será casa de oração para todas as nações’? Vós, porém, fizeste…” (v.17).

Jesus cita o profeta Jeremias: “Falais sempre do culto, dizendo: “Santuário de Deus, santuário de Deus, santuário de Deus”, porém oprimis o estrangeiro, o órfão e à viúva. Roubais, matais e vinde logo a pôr-se diante de mim… É este Templo um covil de bandidos?” (7,11).

É preciso reler todo o contexto dessa citação: o profeta reprova os homens de seu tempo pelo fato de participar no culto com o fim de assegurar-se… o culto do templo é falaz, pois as pessoas não se convertem.

Jesus cita também o profeta Isaías: “Trá-lo-ei ao meu monte santo e os cobrirei de alegria na minha casa de oração” (56,7). É a afirmação surpreendente de que o Templo judeu vai ser “aberto às nações pagãs”. Isto se liga ao tema missionário, habitual em São Marcos.

Jesus faz um gesto messiânico anunciado pelo profeta Zacarias: “Já não haverá mais mercadores no templo do Senhor, nesse dia” (14,21). É a purificação do lugar onde Deus está presente.

Jesus quer devolver ao Templo sua pureza primitiva, seu destino sagrado, e ressalta que este lugar está “destinado a todos”: abertura universalista. Que sentido eu tenho da oração, do sagrado, de Deus presente?

Tudo isso chegou aos ouvidos dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas. Buscavam um modo de eliminá-lo… Ao cair da tarde, saiu da cidade. Dissemos que Jesus havia preparado sua jogada. Tratava-se de um gesto essencial para Ele. Era uma provocação lúcida. Será “a partir disto” que morrerá!

Voltando de novo a Betânia,passando de madrugada, viram que a figueira secou pela raiz.

Eis aqui a chave do estranho enigma da véspera: Jesus, na verdade, não se dirigia à figueira, mas ao Templo. Porque o Templo já não respondia à espera de Deus, este suscita a “cólera de Deus” e será destruído totalmente e definitivamente (Mc 13,2).

(NOEL QUESSON)

Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Jesus amaldiçoa a figueira e o poder de sua palavra a seca no fim de um dia. A razão desse ato é a falta de fruto da planta, porém o evangelista mesmo explica: “não era tempo de figos.” Que é isso? É um acesso de ira próprio de alguém que tem desequilíbrio?
  2. E no caso do Evangelho de hoje o ensinamento se refere à esterilidade, como o mostram os fatos e, como tal, está condenada a secar e morrer. Diante dessa reflexão pergunto-me: Como anda a minha fé? Por acaso não estará como esta figueira estéril?
  3. E a minha casa interior? Está preparada para receber uma visita de Jesus a qualquer momento?

SÁBADO

Marcos 11,27-33

O ÚLTIMO EMBATE

“Com que autoridade fazes isso?”

Jesus está novamente em Jerusalém, no templo.Reações à denúncia do templo feita no dia anterior, por Jesus, são previstas.

Ainda que os dirigentes tramem sua morte (v.18), Jesus passeia sozinho pelo templo, já que no texto não se menciona seus discípulos. Enquanto os dirigentes têm medo d’Ele (v.18), a recíproca não é verdadeira: Ele não tem deles.

Aproximam-se d’Ele, agora, os três grupos que compunham o Sinédrio ou Grande Conselho, expoentes dos três poderes:

  • O religioso-político (os sumos sacerdotes e aristocracia sacerdotal);
  • O intelectual (os letrados, teólogos e juristas);
  • O econômico (os senadores e aristocracia civil).

A presença dos três grupos, o Conselho pleno, indica a gravidade da situação.

Fazem-lhe duas perguntas:

  • a primeira quer saber que tipo de autoridade se atribui para fazer o que faz;
  • a segunda quer saber quem lhe deu tal poder.

Por ocasião de sua entrada em Jerusalém Jesus foi aclamado como Messias, e a expulsão dos mercadores era fácil de interpretar como um gesto messiânico.

Os dirigentes não consideram, por um momento, se a atuação de Jesus estava justificada, se sua denúncia correspondia a um abuso real. Porém, como representantes e guardiões da instituição, afirmam ter autoridade legítima, procedente em último termo de Deus, e têm direito a saberem da boca de Jesus, que títulos ostentam que justifiquem sua atuação. Tentam levá-lo ao terreno jurídico.

 
Jesus quer desmascarar a má vontade dos dirigentes, que impede toda possibilidade de diálogo. Faz sua pergunta, ainda que preveja que não vão respondê-la (respondei-me e os direi), porque qualquer resposta os comprometeria.

Os dirigentes querem julgar sobre a procedência do messianismo de Jesus, porém não podem fazê-lo sem definir-se antes sobre a procedência do batismo de João, precursor de Jesus. Pede a eles uma opinião sobre a atividade de João Batista, que também, como Ele, não tinha credenciais jurídicas, nem sacerdotais, nem teológicas.

A pergunta que faz a eles é esta: Era coisa de Deus ou coisa humana? É a mesma que pode fazer-se sobre sua pretensão messiânica. E está claro que eles, os administradores do «covil de bandidos», não fez caso da exortação de João à emenda, à mudança de vida.


Os dirigentes se mostram inseguros, ponderando os “prós” e os “contras” de cada alternativa. Queriam dizer que o batismo de João era coisa humana, porém não se atrevem, têm medo do povo que não aceita os que contradizem uma persuasão arraigada de quem havia sido um profeta. De um lado ou de outro, veem ameaçado seu poder.


Optam por não pronunciar-se, mostrando sua má fé. Suas motivações nada têm a ver com Deus, cujo convite tem recusado na pessoa de João: buscam conservar seu poder e salvaguardar seus interesses. Para isso, o mais conveniente é manter uma postura ambígua que não os comprometa.

Com isso, sem dúvida, não poderão condenar o messianismo de Jesus nem desautorizá-lo. Terão que tolerar seu ensinamento e, mais tarde, prendê-lo por meio de traição. Jesus não responde à má fé.

Padre Juan Alarcón Cámara S.J/ www.homiletica.org

Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:

“É bem do Pai, este Filho que se lhe assemelha. Vem d’ele, este Filho que se lhe pode comparar, porque a Ele é semelhante. É igual a Ele, este Filho que realiza as mesmas obras (Jo 5,36)… Sim, o Filho cumpre as obras do Pai; por isso, nos pede que acreditemos que Ele é o Filho de Deus. Não se arroga um título que lhe não seja devido; não é nas suas próprias obras que apóia a sua reivindicação.Não! Ele testemunha que não são as suas próprias obras, mas as do Pai. Atesta, assim, que o fulgor das suas ações lhe vem do seu nascimento divino.

Mas, como é que os homens teriam podido reconhecer n’Ele o Filho de Deus, no mistério daquele corpo que ele tinha assumido, naquele homem nascido de Maria? Foi para fazer penetrar no coração dos homens a fé n’Ele próprio que o Senhor realizou todas aquelas obras: “se cumpro as obras de meu Pai, então, mesmo se não quiserem acreditar em mim, acreditem ao menos nas minhas obras!” (Jo 10,38). Se a humilde condição do seu corpo parece um obstáculo para que creiamos na sua palavra, Ele pede-nos que ao menos acreditemos nas suas obras. De fato, porque é que o mistério do seu nascimento humano nos impediria de acolher seu nascimento divino?…“se não quiserem acreditar em mim, acreditem nas minhas obras, para saberem e reconhecerem que o Pai está em mim e Eu no Pai”… Assim é a natureza que Ele possui pelo nascimento; assim é o mistério de uma fé que nos garantirá a salvação: não dividir quem é um só, não privar o filho da sua natureza e proclamar o mistério do Deus vivo, nascido do Deus vivo… “tal como o Pai que me enviou está vivo, também eu vivo pelo Pai” (Jo 6,57). “Como o Pai tem a vida em si mesmo, também Ele concedeu que o Filho também tivesse a vida em si” (Jo 5,26) (Santo Hilário; 315-367).

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

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