25º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO B ( Estudo Bíblico)
Marcos 9,30-37
Introdução
O Evangelho deste domingo nos apresenta outra vez Jesus novamente caminhando a sós com os Doze: “Tendo partido dali, caminhava através da Galileia, mas não queria que ninguém soubesse, pois ensinava aos seus discípulos…” (vv.30-31ª).
Esta circunstância e o fato de ser, agora, já, a segunda vez que ensina aos seus discípulos sobre o mesmo tema, revela a importância de seu ensinamento que se resume assim:
“O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens e eles o matarão e, uma vez morto, depois de três dias, ele ressuscitará” (vv.31b).
São três as ações:
- O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens;
- eles o matarão;
- Ele ressuscitará.
Porém, o acento recai sobre a terceira ação: “Ressuscitará”. Este é, precisamente, o ponto que tornou incompreensível suas palavras: “Os discípulos não entendiam o que dizia e temiam perguntá-lo” (v.32).
Eles criam, certamente, que Jesus ia ressuscitar, porém “no último dia”. O problema é que Jesus havia dito claramente: “Depois de três dias”.
Se houvessem perguntado, haveriam incorrido na mesma sorte que Marta, a irmã de Lázaro que sofreu uma repreensão de Jesus.
Com efeito, quando Jesus disse: “Teu irmão ressuscitará” (Jo 11,23), ela sabia que Jesus se referia à ressurreição de seu irmão já! Porém temeu enfrentar este tema e o dissimulou: “Já sei que ressuscitará na ressurreição, no último dia” (Jo 11,23ss).
Por isso Jesus a enfrenta: “Eu sou a ressurreição” (Jo 11,25), e pergunta-lhe: “Crês nisto?” (v.26).Ela responde-lhe: “Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus que vem ao mundo” (Jo 11,27). Porém responde assim porque teme aprofundar. Na realidade, continua sem crer.
Com efeito, quando Jesus ordena que seja retirada a pedra do sepulcro, ela insinua a imprudência dessa ordem: “Senhor, já cheira mal; é o quarto dia” (Jo 11,39). Então Jesus a repreende: “Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?” (Jo 11,40).
É que ela não cria. Isto é o que ocorre aos apóstolos: não creem e por isso temem pedir uma explicação.
A fé verdadeira não teme à razão; a fé procura entender e pede explicação. Os apóstolos, ao contrário, queriam entender primeiro e depois crer. Porém, este caminho não tem saída. Não entendiam; e temem perguntar, pois temem entrar em discordância.
A segunda parte do Evangelho nos revela qual era mesmo a preocupação dos Doze: “Pelo caminho haviam discutido entre si quem era o maior” (v.34).
Não havia acordo sobre este ponto, como ocorre com frequência entre os homens. Por isso para estabelecer as hierarquias humanas é preciso competir e submeter-se a concursos. Estes concursos estabelecem grandezas relativas, que vigoram só entre os homens, hierarquias baseadas no poder.
A hierarquia que Jesus vai agora estabelecer é a verdadeira, é a que vale ante Deus: “Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servidor de todos” (v.35).
Ser o primeiro ante o mundo e ser servido por todos requer muito esforço, pois todos disputam este lugar. Em troca, ser o último e o servidor de todos ninguém o disputa. Este posto está disponível, porém, ninguém o deseja.
E, sem dúvida, o que ocupa este posto é o maior em absoluto. Este é o posto que ocupou a Virgem Maria; que disputam os santos. É o posto que Jesus reservou para si: “Tomou a condição de escravo” (Fl 2,7).
Com um gesto expressivo Jesus quer demonstrar até que ponto Ele se fez o último: “Tomando uma criança a pôs no meio deles” (v.36). E se identificou com esta: “O que recebe a uma criança como esta, a mim recebe” (v.37). Equivale dizer: Este é o posto que tomei; este é o posto que devem tomar meus discípulos.
+ Felipe Bacarreza Rodríguez, Obispo Auxiliar de Concepción
- Estudando o texto com Pe Fidel Oñoro
O Evangelho de hoje tem duas partes bem definidas:
- O segundo anúncio da paixão (vv.30-32)
- A discussão sobre quem é o maior (vv.33-37)
(1) O segundo anúncio da paixão (vv.30-32)
Jesus ia com seus discípulos pela Galileia um pouco incógnito, como nos disse o texto. “Ele não queria que soubessem” (v.30).
Marcos nos disse que o motivo deste querer passar despercebido é o fato de que ia ensinando seus discípulos. Estava concentrado neles.
Qual era o tema dessa lição? Novamente o anúncio de sua paixão.
Neste anúncio há três palavras chaves que descrevem um processo:
- Entregue;
- Matarão;
- Ressuscitará.
Ante este novo anúncio de Jesus aos discípulos tampouco lhes ficou muito claro, porém se abstiveram de fazer-lhe perguntas.
Seguramente recordaram que Pedro não havia ido muito bem quando quis ir um pouco mais a fundo. Por isto ficaram todos calados.
(2) A discussão sobre quem é o maior (vv.33-37)
Vê-se que durante o trajeto, em algum momento Jesus e os discípulos caminharam separados, porque ao chegar a Cafarnaum e entrar em casa, Jesus lhes perguntou de que discutiam no caminho. Eles novamente calaram.
Enquanto Jesus lhes anunciava sua paixão, morte e ressurreição, eles haviam discutido, qual deles seria o maior.
Seguramente haviam saído alguns nomes: Acaso Pedro, João, Tiago? De todo modo eles estavam em outra história.
Jesus estabelece a verdadeira hierarquia
Jesus então os chamou e lhes esclareceu a maneira de constituírem-se nos primeiros. Como? Que absurdo! Jesus disse: “Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servidor de todos” (v.35).
É fácil pensar que os doze não entenderam nada. Aparentemente se trata de uma perfeita contradição. Como é isso que para ser o primeiro se deve ser o último?
Quando se pretende ser o primeiro simplesmente por ser o primeiro, só se pensa no poder, o domínio, no querer sobressair.
Ao contrário, quando se pretende ser o primeiro segundo Jesus, o primeiro que se pensa é servir, passar despercebidos, e até desaparecer. Em uma palavra ser o último.
Há uma palavra que radicaliza as posições. Jesus não disse que quem quer ser o primeiro se ponha entre os últimos, porque poderia ser o ‘primeiro entre os últimos’.
Jesus disse: “Seja o último de todos”. O mesmo acontece ao fazer-se servidor, não só dos amigos e dos de sua casa, mas de todos.
Uma criança como exemplo
Por que Jesus, como gesto significativo chama a si uma criança e a põe como exemplo? A criança hoje e sempre tem sido a parte mais frágil e vulnerável da sociedade e com freqüência o vemos nos noticiários.
No tempo de Jesus não só era frágil e vulnerável, mas que, não era tida em conta, nem sequer como número para dizer que havia uma pessoa a mais (o mesmo acontecia com as mulheres).
É a esta classe de pessoas mais desprotegidas e esquecidas a quem devemos acolher sendo conscientes de que acolhemos o mesmo Jesus, e finalmente, como Jesus mesmo disse, acolhemos Àquele que o enviou: ao Pai.
Para cultivar a semente da Palavra na vida:
- Quais são as atitudes que Jesus assinala no Evangelho de hoje para poder estar entre os primeiros?
- Alguma vez em tua vida tens aspirado a postos ou cargos superiores?
- Quais hão sido as verdadeiras motivações (dinheiro, prestígio, segurança, serviço)?
- Como é minha atitude de serviço?
- Sirvo a todos ou só a alguns?
ANEXO
Santa Teresa do Menino Jesus (1873-1897), carmelita, doutora da Igreja.
“Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e o servo de todos”. Jesus!… Como é grande a vossa humildade, ó divino Rei da Glória, quando vos submeteis assim aos vossos sacerdotes, sem fazer qualquer distinção entre os que vos amam e os que são, pobres deles, mornos ou frios no vosso serviço. Quando eles chamam, Vós desceis dos céus; eles podem adiantar ou atrasar a hora do santo sacrifício: Vós estais sempre pronto. Ó meu Bem-Amado, sob o véu da branca hóstia, como me apareceis manso e humilde de coração! (Mt 11,29). Para me ensinar a humildade, não podeis abaixar-Vos mais; por isso, para responder ao vosso amor, eu quero ser capaz de desejar que as minhas irmãs me ponham sempre no último lugar e convencer-me de que esse lugar me pertence… Eu sei, meu Deus, que derrubais a alma dos orgulhosos, mas aos que se humilham dais uma eternidade de glória; quero assim pôr-me na última fila, partilhar as Vossas humilhações a fim de “tomar parte convosco” (Jo 13,8) no reino dos Céus. Mas, Senhor, conheceis bem minha fraqueza: cada manhã tomo a decisão de viver a humildade e, à noite, reconheço que cometi ainda muitas faltas por orgulho. Ante isto sinto-me tentada a desanimar, mas sei que o desânimo é também orgulho. Por isso eu quero, ó meu Deus, fundar a minha esperança só em Vós; uma vez que tudo podeis, dignai-Vos fazer nascer na minha alma a virtude que eu desejo.Para obter essa graça da vossa infinita misericórdia, repetir-vos-ei muitas vezes: “Ó Jesus, manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao Vosso!