33º DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO B (Estudo Bíblico)

Marcos 13,24-32

Introdução

A Igreja celebra o penúltimo domingo do ano litúrgico. Durante este ano celebramos o mistério de nossa salvação em seus diversos aspectos: a espera da vinda de Cristo na carne, seu nascimento em Belém, sua vida pública, sua paixão, morte, ressurreição e ascensão ao céu e o derramamento do Espírito Santo sobre a comunidade dos crentes.

Neste penúltimo domingo contemplamos os atos finais, a saber: a vinda de Cristo na glória e a união com Ele para sempre de todos os eleitos.

Jesus assegura que em um momento do futuro, que Ele chama “aqueles dias”, Ele mesmo virá de novo de maneira visível, e todos o verão: “Então verão o Filho do homem que vem entre nuvens com grande poder e glória” (v.26).

Quando Jesus pronunciou estas palavras os presentes estavam vendo ao Filho do homem, porém, não entre as nuvens (que na Bíblia simbolizam a esfera do divino), mas na terra e totalmente esvaziado de seu poder e glória.

E neste momento em que nós a estamos lendo esse Filho do homem está também no meio de nós, segundo sua promessa: “Eu estarei convosco todos os dias até o fim do mundo”, porém está conosco não de maneira visível, mas de maneira perceptível só à fé do homem.

Aos que O acolhem hoje por meio da fé, os concede um dom inefável, que nenhum ser humano pode pretender, que nem sequer haveria podido imaginar: “A quantos o acolherem os deu poder de fazerem-se filhos de Deus, aos que creem em seu nome” (Jo 1,12).

O segundo dos atos finais que Jesus anuncia em relação com sua vinda gloriosa se refere à sorte dos que, havendo-o acolhido, receberam a dignidade de “filhos de Deus”: “Então enviará os anjos e reunirá dos quatro ventos seus eleitos, desde o extremo da terra até o extremo do céu” (v.27).

Jesus disse claramente que, os que então se reunirão com Ele em sua glória são os que foram eleitos por Ele.  Esta união com Cristo glorioso é algo que ninguém pode merecer nem alcançar por seu próprio esforço; é puro dom que Deus concede aos que Cristo elege.

Assim fica excluída toda autossuficiência do homem. O ser humano pode dominar a terra com sua inteligência e seu esforço; porém alcançar a felicidade eterna é algo que ele não pode alcançar por suas próprias forças; tem que recebê-la como um dom gratuito e imerecido.

Todo mérito corresponde a Cristo. Ele nos mereceu a salvação por meio de sua morte na cruz. Por isso todo homem ou mulher que se salva é um “eleito” de Cristo: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi” (Jo 15,16).

Outrossim, Paulo, vendo esse destino final já realizado, diz: “Mas Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo– pela graça fostes salvos!– e com Ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos céus, em Cristo Jesus, afim de mostrar nos tempos vindouros a extraordinária riqueza de sua graça, pela sua bondade para conosco em Cristo Jesus. Pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2,4-8).

A atitude nesta terra dos “eleitos de Cristo” é a ação de graças por dom tão grande e imerecido. É a atitude dos que participam na Eucaristia dominical, que é a “ação de graças” por excelência.

            + Felipe Bacarreza Rodríguez Obispo de Santa María de Los Ángeles

  1. O texto

O evangelista que tem insistido permanentemente no “estar” com o Senhor coloca-nos, agora, frente ao futuro de nossa comunhão com o Mestre Jesus.

O texto evangélico que a liturgia nos oferece hoje está dividido em duas partes, a saber:

  • A manifestação gloriosa do Filho do Homem;
  • A parábola da figueira.
  • O contexto

Estamos no capítulo 13 de Marcos, que é conhecido como “discurso escatológico” (ou sobre o “fim”). Este discurso parte do anúncio que Jesus faz da destruição do majestoso templo de Jerusalém (vv.1-2).

Os discípulos lhe perguntam quando acontecerá isto (vv.3-4). E então Jesus começa o ensinamento aos quatro discípulos que chamou no primeiro dia, ainda que não devamos perder de vista que também se dirige a todos (“a todos o digo”, v.37).

No ensinamento Jesus vai mais além do fato da destruição do templo. Vai estendendo-se, gradualmente, até contemplar globalmente o futuro do mundo e da história.

De maneira didática, sua exposição vai alternando as referências – sempre em grandes linhas – sobre o que o futuro trará aos discípulos e o comportamento que eles devem adotar. Ao longo de seu ensinamento, Jesus tem sempre em vista seus discípulos.

Lendo o capítulo 13, vemos como Jesus vai expondo, gradualmente:

  • De maneira geral, o que sucederá ao mundo (vv.1-8);
  • De maneira particular, a seus discípulos (vv.9-13);
  • Em seguida, a Jerusalém; (vv.14-20) e,
  • Finalmente, assinala como se concluirá a história do mundo (vv.24-27).

É exatamente a última parte (vv.24-27) a que aprofundamos hoje, completada, como é próprio da didática deste Evangelho, com o comportamento que se espera que os discípulos tenham frente aos fatos apresentados (vv. 28-32).

  • Alguns pontos destacados da passagem

3.1.  Jesus e a culminação da história (vv.24-27)

Frente ao fim da história, Jesus expõe o que é relativo e inconsistente dentro dela (vv.24-25) e o que verdadeiramente permanece sólido e incontestável (vv.26-27).

Assim, o fim da história do mundo está relacionado com:

  •  A remoção de tudo o que, até o momento, parece fixo; e,
  •  A vinda do Filho do homem.
  • A remoção do que é relativo e inconsistente e parece fixo dentro dela (vv.24-25).

Jesus disse: “as forças que estão nos céus serão sacudidas”. Sobre o que a cosmologia hebreia chama-se “firmamento” a cúpula celestial que o criador modelou com suas próprias mãos e sobre o qual estabeleceu uma ordem incontestável que tem regido a história do homem, se dá uma mudança radical.

Tudo aquilo que parecia fixo chega a seu fim: o sol e a lua, além de dar luz (de dia e de noite, respectivamente), fazem possível a medida do tempo, graças a seu curso regular; as estrelas, imutavelmente ordenadas, umas com as outras, símbolo de ordem e de estabilidade no universo.

Quando estes elementos do cosmo são removidos do cenário, o homem se sente perdido (Que hora, que dia é? Como andar no deserto ou navegar no mar, sem estes pontos de referência? etc.).

É assim que a remoção de todos estes símbolos da estabilidade e da ordem humana significa que as realidades que caracterizam a história no presente não têm consistência eterna.

  • O que verdadeiramente permanece sólido e incontestável (vv.26-27)
  • Jesus disse: Então verão o Filho do homem..,” (v.26).

A última palavra sobre a história humana e sobre todos os acontecimentos é a vinda do Filho do homem na glória de Deus.

Aquele que assumiu em seu próprio corpo os sofrimentos e as adversidades da história humana, o mesmo que depois de sua ressurreição apareceu aos discípulos que havia “eleito”, se manifestará finalmente, ante os olhos do mundo inteiro em sua verdadeira dignidade.

Este é o fim da história humana: a manifestação do Senhorio de Jesus, o que venceu o mal e leva até o cume sua vitória no submetimento definitivo de tudo o que se opõe a vida.

Sabemos então que, nesta história, onde há tanta dor e morte, tantos absurdos provocados pelo mesmo homem, o final não será uma catástrofe, mas o triunfo da vida.

  • Jesus disse:Então… reunirá a seus eleitos(v. 27)

É verdade que os discípulos, no mundo, sofrem muito por serem profetas. Ante as estruturas de injustiça são perseguidos e maltratados, mas, também é verdade que, Jesus é fiel aos que o seguem.

Por isso a vida terrena dos discípulos não pode terminar de qualquer maneira: seu Senhor os busca em todo lugar em que se encontrem e os reúne.

A comunhão de vida com Jesus pode custar aos discípulos uma morte algumas vezes cruenta, mas, é exatamente esta morte que os leva à vida eterna com Jesus.

3.2. A paciência histórica dos discípulos: força de esperança (vv.28-32)

Mas, este mundo não é o jardim de paz que todos queríamos: há guerras, fome, doenças, desemprego, discriminação social, racial e sexual, marginação, violência, abusos de poder, imoralidade, etc.

Por isso, ante a realidade presente, os discípulos podem cair em duas tentações: o isolamento do mundo ou a do desespero. Dai que Jesus lhes proponha:

  •  Aprender a lição da figueira (vv.28-29)

A imagem da figueira, com suas tenras folhas, que renascem depois de um duro inverno, anuncia a chegada do verão, assim o discípulo deve estar seguro da pronta intervenção de Deus e alimentar sua esperança a partir dos pequenos sinais, de bondade e de trabalho sincero pela vida, que se multiplicam escondidos por todo o mundo.

O mundo novo começou!

(b) Confiar firmemente em sua Palavra (vv.30-31)

Os que têm as rédeas do mundo pronunciam suas palavras e estas determinam o curso da história, porém estas palavras são relativas, não tem consistência final ante a Palavra de Deus (“que não passará”) sobre o mundo (“que passará”).

A última palavra tem Deus na vinda do Filho do homem e essa palavra é a que determina em última instância a vida do discípulo.

  • Não fazer conclusões sobre o fim do mundo (v.32)

Todos os cálculos que, frequentemente escutamos sobre o dia em que vai acabar o mundo são pura fantasia humana. Só Deus Pai o sabe.

Não temos que perder tempo no que não podemos saber, mas investir todas as energias no que sabemos: orientar a história toda para a finalidade à qual foi criada.

Enfim, o que Jesus ensinou a seus discípulos durante sua vida terrena, deve pôr-se em prática, agora, no presente histórico. Porém, uma coisa é certa: o final, ou melhor, a “finalidade” do discipulado é a plena comunhão com o Senhor glorioso!

3. Releiamos o texto com um Padre da Igreja

Santo Efrén, Diatesaron 18,15-18.

 Ninguém conhece essa hora: nem os anjos, nem sequer o Filho”.

Jesus disse isto para impedir que os discípulos seguissem perguntando acerca do tempo de sua vinda.

“Não compete a vós – disse – conhecer os tempos e os momentos” (Atos 1,7).

Ele escondeu isto para que fossemos vigilantes e cada qual considere que o fato pode ocorrer em seus próprios dias.

Em efeito, se tivera sido revelado o tempo de sua vinda, seu advento perderia interesse e não motivaria a expectativa das nações e dos séculos.

Por isso, se limitou a dizer que viria, porém não determinou o tempo, e assim, eis que em todas as gerações e séculos se mantém viva a esperança de sua chegada.

De fato, apesar de que o Senhor indicou os sinais de sua vinda, ainda não se prevê seu último prazo, pois através de suas múltiplas mutações, elas já se verificaram, passaram e continuam verificando-se.

Em verdade, sua última vinda é semelhante à primeira.

Tal como o esperavam os justos e profetas, porque pensavam que ele se revelaria em seus dias, assim também os fieis desejam acolhê-lo, cada qual em seu tempo, porque Ele não indicou com claridade o dia de sua visita.

E isto é, sobretudo, para que ninguém pense que há submetido a prazos de tempo Àquele que tem o livre domínio dos ritmos e dos tempos.

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