5ª DOMINGO DA QUARESMA ANO B

João 12,20-33

  1. O texto

A estrutura do texto pode ser assim definida:

  • A lição do grão de trigo (v.24);
  • A condição para que a semente renasça em uma vigorosa planta (v.25);
  • Estar com Jesus, onde Ele está por mim (v.26);
  • Uma imensa oração comunitária que se eleva ao céu (vv.27-28);
  • Universalidade da cruz.
  • Aprofundando o texto:

(1) A lição do grão de trigo (v.24)

A imagem do grão de trigo que “morre” quando é semeado, nos ensina uma grandiosa maravilha. Assim como a semente morre para dar lugar a uma planta, sem que a planta seja distinta da semente, assim Jesus em sua morte entra para uma vida nova inédita.

Em sua ressurreição, Jesus já não volta a ser o que era em sua vida terrena, e, contudo, não deixa de ser ele mesmo. Agora em seu corpo, como a semente convertida, já, em uma planta, se manifesta a plenitude do que se começou a manifestar em sua vida terrena.

Daí que a morte não é uma perda, mas um ganho, porque só assim se expressa o verdadeiro potencial de vida que levamos dentro de nós: é o começo de uma vida nova, a vida eterna.

(2) A condição para que a semente renasça em uma vigorosa planta (v.25)

Mas para que isto seja possível é preciso que a semente saiba renunciar a si mesma.

“Quem ama sua vida a perde” (v.25ª), quer dizer, quem busca a si mesmo, e não é capaz de abrir-se, de transcender-se aos demais, não evoluirá para a realidade definitiva que já está incubada em seu próprio ser. 

E, pelo contrário, quem “segue” o caminho de Jesus, que é o caminho da doação de si mesmo, ao modo do evento da Cruz, poderá, neste mesmo Jesus, chegar à plena realização de sua existência, na vida que já não morre mais.

A morte virá inevitavelmente, disto podemos estar seguros. Porém, também é certo que, se caminharmos no projeto de Jesus, entregando a própria vida no serviço a todos, faremos do entardecer de nossas vidas, o começo da manhã da ressurreição.

(3) Estar com Jesus, onde Ele está por mim (v.26)

Só quem segue a Jesus, unido a Ele no serviço, participará de seu destino, chegando, assim, à meta, na qual receberá o reconhecimento beatificante da parte do Pai.

Preparamo-nos para este momento crucial, deixando que, desde já, a semente se abra e dê ao mundo o melhor que leva por dentro:

  • as boas iniciativas,
  • o espírito de bondade,
  • a honestidade,
  • o sentido de responsabilidade,
  • a capacidade de amar, de perdoar e de servir a todos, intensamente.

Desta forma o céu pode começar na terra, antecipando, com um realismo sereno frente às dificuldades próprias da vida, a alegria dos que, com mansidão, não se deixam abater pelos problemas e, com pureza de coração, se esforçam por fazer realidade, a paz.

(4) Uma imensa oração comunitária que se eleva ao céu (vv.27-28)

Diante da realidade de sua própria morte, Jesus ora com muita força: “Pai, glorifica o teu nome!” (v.28ª). Ele não esconde sua confusão interior, nem tampouco cai no desespero.

Com o olhar cravado no Pai, seu coração orante se abre para acolher a “Glória” que vem do Pai celestial, a qual brilhará na Cruz.

À luz desta palavra de Jesus nos unimos, hoje, com amor, em oração, a nossos defuntos. Celebramos a Eucaristia dominical com a esperança certa de que na morte se manifesta a glória do Senhor. 

Seguros de que o Pai responde a oração, como o fez com Jesus (12,28), na celebração pelos defuntos intercedemos ante Deus Pai apoiados no sacrifício redentor de Jesus, pela completa purificação de nossos irmãos e irmãs defuntos.

Porém, sem perder de vista o maravilhoso mistério da comunhão dos santos, também pedimos aos nossos mortos que intercedam por nós para que o Senhor ponha em nosso coração, nestes tempos duros, o espírito de paz e a consolação que Jesus experimentou frente à morte quando pediu ao Pai: “Pai, salva-me desta hora” (v.27).

(5) Universalidade e Cruz (vv.29-33)

Para a Páscoa chegavam à Jerusalém pessoas de todos os lugares da terra. Trata-se de uma hora na qual se conjugam universalidade e sacrifício do cordeiro: “quando eu for elevado sobre a terra, atrairei a todos para mim” (v.32).

Está chegando, pois, a seu cumprimento a apresentação que faz de Jesus o quarto evangelho: Eis é o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (Jo 1,29).

Universalidade e cruz, por um lado, configuram a glória de Jesus e a obra que o Pai lhe confiou para levar a cabo e, por outro, a contrapartida de um mundo feito de particularismos e de glórias fáceis.

A este mundo se refere à afirmação do v.31: “É agora o julgamento deste mundo”.

  •  Conclusão

O grão de trigo que morre e assim dá fruto

Porém, tudo isto não é a última palavra. Este amor total até a morte tem um sentido positivo.

O próprio Jesus nos tem apresentado uma imagem muito expressiva: “se, o grão de trigo que cai na terra, não morrer, permanecerá só; mas, se morrer, produzirá muito fruto” (v.24).

Esse é o caminho da salvação que Cristo nos tem conseguido. Como é o caminho de todas as coisas que valem a pena.

Estamos chegando à Semana Santa e à Páscoa

Contemplamos esta figura de Cristo caminhando com sua Cruz e disponhamo-nos a incorporar-nos, também nós, ao mesmo movimento de sua Páscoa: morte e vida, renúncia e novidade.

Disse-nos: “Se alguém quer servir-me, siga-me; e onde estou eu, ai também estará o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará” (v.26).

Celebrar a Páscoa supõe renunciar ao velho e abraçar com decisão o novo. A novidade de vida que Cristo nos quer comunicar. Isto supõe luta. Isto comporta, muitas vezes, dor, sacrifício, conversão de caminhos que não são pascais, que não são conformes à Aliança com Deus.

O melhor fruto da Páscoa é que nossa fé, tanto a nível pessoal como comunitário, se faça mais profunda e convencida, e que mude o estilo de nossa vida.

Quando hoje escutemos na Eucaristia o que o sacerdote diz do cálice de vinho: “este é o cálice do meu Sangue, Sangue da nova e eterna Aliança”, recordemos o que anunciava Jeremias, e o que se consumou na Cruz de Cristo.

Dessa Aliança participamos cada vez que vamos comungar. A Eucaristia é, cada vez, uma Páscoa concentrada. Cristo mesmo tem querido nela fazer-nos partícipes de toda a força salvadora de sua entrega na Cruz.

4.  Aprofundando com os padres de Igreja

Logo, exortando a seguir-se os passos de sua paixão, diz:

“Quem ama sua vida a perde”.

Isto se pode entender-se de dois modos:

Quem a ama, a perde, quer dizer, se a amas tu a perdes.

Se queres ter vida em Cristo, não temas morrer por Cristo.

Também de outro modo: Quem ama sua vida, a perde.

Não a ames se não queres perdê-la; não a ames nesta vida

para não perdê-la na outra.

Esta última interpretação parece estar mais de acordo com o

sentido evangélico, porque diz Ele a seguir: “E quem odeia sua

vida neste mundo, guardá-la-á para a vida eterna” (Jo 12,25).

A frase precedente, pois, tem que entendê-la assim:

«Quem a ama neste mundo»; esse a perde; em troca quem

a odeia, também neste mundo, a guardará para a vida eterna.

Profunda e admirável afirmação que indica de que modo tem

o homem em sua mão o amor à vida, para fazê-la perecer;

e o ódio, para que não pereça. Se a tens amado mal, então

a tens odiado; pero se a tens odiado retamente, então a tens

amado. Felizes os que a odiaram, olhando a salvação, para

não perdê-la entretidos em seu amor

(Santo Agostinho).

5.  Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

Vale a pena retomar as palavras do Concilio Vaticano II:

Alguns (cristãos) peregrinam na terra, outros, já mortos, se purificam, outros são glorificados contemplando claramente ao próprio Deus, Uno e Trino, tal qual é; mas todos, ainda em grau e formas distintas, estamos unidos em fraterna caridade e cantamos o mesmo hino de glória a nosso Deus, porque todos os que são de Cristo e têm seu Espírito crescem juntos e nele se unem entre si, formando uma só Igreja (cf. Ef 4,16)” (LG 49).

1)  Que sentido tem a morte para um discípulo de Jesus?

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2)  Quais são os ensinamentos do grão de trigo que se planta e renasce na terra?

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3)  Como se aplicam a Jesus?

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    Como se realiza em nós?

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4)  Que sentido tem orar pelos mortos?

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5)  Por que celebramos hoje a Eucaristia por eles?

AUTOR: Pe. Fidel Oñoro – sacerdote eudista

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