LECTIO DIVINA NA 6ª SEMANA DA PÁSCOA ANO 2019

BAIXAR ARQUIVO EM PDF APOIO LECTIO DIVINA 6ª SEMANA DA PÁSCOA ANO 2019

DOMINGO, 26 DE MAIO DE 2019 – 6ª SEMANA DA PÁSCOA – ANO C

João 14,23-29 (A despedida) Jesus, na véspera de sua partida, consola seus discípulos com a promessa que voltará a se manifestar aos que o amam (v.21b), isto é, aos que guardam suas palavras. O amor a Jesus é caridade ati­va, arraigada na fé de que ele é o Enviado do Pai, vindo a terra para revelá-lo e anunciar tudo o que tem ouvido (v.24b;15,15). O que, crendo, dispõe seus dias na obediência à Palavra, torna-se morada de Deus (v.23) e conhece por graça, ou seja, no Espírito,­ a comunhão com o Pai e o Filho. Para os discípulos a hora é grave, mas não devem temer ficar órfãos. O Pai enviará o Espírito como guia no caminho do último tempo. De fato, a obra da salvação está total­mente realizada com a “paixão-morte-ressurreição” de Jesus Cristo. Sem dúvida, é preciso que cada um de nós entre nela e se deixe salvar. Essa é a tarefa do Espírito Santo: abrir os corações dos homens à com­preensão do mistério divino e movê-los à conver­são. Por obra do Espírito Santo, Cristo segue sen­do atual a cada homem que nasce. Por obra do Espírito Santo a Sagrada Escritura é Palavra viva, dirigida ao coração de cada um. O Espírito Santo tem a missão de «recordar» e «explicar» tudo quanto Jesus disse e fez em sua vida terrena. Essa recordação e essa explicação não levam, sem dúvida, muito longe no tempo e no espaço, porém proporcio­nam uma visão profunda sobre o presente, porque é no presente onde Jesus, o Emanuel, está conosco. Ele mesmo o afirmou quando acrescentou um dom à promessa do Espírito Santo: “Vos deixo a paz, vos dou minha própria paz». Mas, a paz é ele mesmo. Por isso é diferente da que o mundo pode oferecer: é uma pessoa, é vida eterna, é amor. Voltemos, assim, ao principio: Jesus Cristo habita no coração do homem para fazer-lhe capaz de amar; o homem, amando, se abre, cada vez mais, a Deus. E se torna cooperador da salvação, irradiação de paz e profecia do céu, com Ele.

 

 

At 15,1-2.22-29 (Controvérsia em Antioquia; A carta apostólica) A difusão do Evangelho entre os pagãos põe, quase que de imediato, a Igreja nascente ante o grave problema de sua relação com a lei de Moisés: que va­lor segue tendo a Torá, com todas suas prescrições cultuais, após Cristo? Isto leva a Igreja a sentir a necessidade de ver algumas questões fundamentais para sua própria sobrevivência e sua missão evangelizadora. Com a assembleia de Jerusalém, tem lugar o primeiro concilio «ecumênico»: um evento de importância central, paradigmático para a Igreja de todos os tempos. De seu êxito dependiam a comunhão interna da mensagem cristã e sua difusão. É, de fato, o desejo de comunhão inter­na na verdade, o que impulsiona a comunidade de Antioquia, onde surgiu o problema, a enviar Barnabé e Paulo, a Jerusalém, para consultar aos “após­tolos e demais responsáveis”(v.2). A Igreja-mãe os recebe e discute, animadamente, o problema (vv.4-7a).A intervenção de Pedro, o informe de Barnabé e Paulo, que testemunham as maravilhas realizadas, por Deus, entre os pagãos e, por último, a palavra autorizada de Tiago, responsável da Igreja de Jerusalém, ajudam a discernir os caminhos do Espírito (v.28). Sob sua guia, chegam a um acordo pleno “os apóstolos e demais responsáveis, de acordo com o resto da comunidade, decidiram: vv.22-25), dado a conhecer num docu­mento oficial onde afirmam que não se pode impor as observâncias judias ao povo pagão. Em certo sentido, como Jesus recolheu todos os preceitos no único mandamento do amor, agora as dis­tintas prescrições de ordem cultual foram «superadas», no que corresponde à letra, para fazer emergir o essencial, ou seja, a necessidade do caminho de conversão, a morte ao pecado. Se ainda subsistem algumas normas não é tanto por seu valor em si, quanto por favorecer a serena convivência eclesial entre judeu-cristãos e pagãos convertidos. A historia não procede só por princípios abstratos, mas que requer discernimento, que é a sabedoria de esperar o momento oportuno para propor mudanças, de modo que sirvam para o crescimento e não sejam causa de divisões mais graves.

 

Ap 21 (A Jerusalém Messiânica) Com a visão da Jerusalém celeste o Apocalipse chega ao fim. Em claro contraste com a visão precedente de cidade do mal, Babilônia a prostituta, e com o cas­tigo a que é submetida (cc.17s), descreve, João, agora, a esplêndida realidade que «descia do céu», quer dizer, como dom divino: a Jerusalém, a esposa do Corde­iro, a cidade santa. Nela se manifesta a própria beleza de Deus e o fulgor irradiante que emana dela é semelhante ao seu (v.11;d.4,3). A perfeição da cidade está descrita com imagens tomadas dos profetas (Ez 40,2;Is 54,11s;60,1-22;Zc 14;etc.) e incrustradas numa síntese nova e mais elevada. Três elementos simbólicos recordam sua edificação: muralha, portas e pilares. A muralha indica delimitação, caráter compacto, segurança, mas, não clausura. De fato, a cada lado, para cada um dos pontos cardiais, se abrem 3 portas (cf.Ez 48,30-35), pelas quais entram, na cidade, todos os povos da terra, chegando a constituir o único povo de Deus, ao qual se entrega a revelação. De outro lado, nas portas estão escritos os nomes das 12 tribos e são guardadas por 12 anjos mediadores da lei antiga. Os pilares das muralhas são os apóstolos de Cristo crucificado e ressuscitado, sobre cujo testemunho se edifica a Igreja (Ef 2,19s). Mas, na cidade falta o lugar santo por excelência, o templo, que fazia da Jerusalém terrena “cidade santa». Esta aparente falta constitui sua maior «plenitude»: o Todo-poderoso e o Cordeiro são o Templo. O encontro com Deus não se dá já num lugar particular com exclusão dos demais. O encontro com Deus na Jerusalém celestial é uma realidade nupcial, uma comunhão de vida: Deus e o Cordeiro serão tudo em todos (1Cor 15,28), a presença gloriosa de Deus (shekhînah) e do Cristo ressuscitado é a luz que envolve tudo e na qual todos submergem.

 

Sl 66/67 (Prece coletiva após a colheita anual) Mesmo pequeno, este Salmo tem muita beleza. Como um frasco de bom perfume, aberto, espalha a essência em toda a casa. Com agradecimento, súplica, pedidos e, em especial, louvor, a alma se expande e bendiz o Senhor, proclamando sua bondade. Sta Teresinha disse: “sou uma criança e como tal posso dizer o que penso.” Assim como ela, ao rezarmos, devemos ser como crianças e não deixar que medos ou preocupações atrapalhem nossa oração. “É sua face que procuro, mostra-me tua face, Senhor, isto me basta.” Este desejo de ver a face de Deus nos faz perceber que não podemos permitir que o desânimo esteja em nós. Assim como este Salmo, que é animado pelo desejo da glória de Deus, somente fiquemos satisfeitos quando virmos Deus em nós. Que por meio do Espírito Santo – dom que o Pai ofereceu à humanidade – possamos compreender a presença do amor divino em cada um de nós.

Senhor, como o salmista, quero te dizer sem medo de nada que me abençoe e faça-me brilhar sobre a tua face. A tua luz é grande e, como diz São João da Cruz, cega-nos sem nos fazer perder a visão. Contemplar é permanecer com os olhos, o coração e todo o nosso ser fixos no teu amor. Quero beber do teu amor numa atitude de escuta e discipulado, quero ser teu para sempre, que nada me afaste de ti. Senhor, quero aprender a louvar-te, agradecer-te em todas as circunstâncias da vida, mesmo quando o peso da cruz parece maior do que eu. Não quero arrastá-la, mas carrega-la e como um dia imprimiste o teu rosto no véu da Verônica, imprima hoje e sempre a tua face no meu coração e na minha vida. Que todos os povos te louvem e agradeçam sem cessar. Que todas as vezes que me faltar palavras, eu possa te louvar milhões de vezes com o meu coração, como uma criança que conhece poucas palavras. Amém.

MEDITATIO: A nós, sempre inquietos e inseguros, inclusive quando levantamos a voz para fazer-nos valer, dá hoje Jesus sua paz, diferente da que dá o mundo, talvez diferente da que queremos. Certamente, mais pre­ciosa para o tempo e para a eternidade. Do mesmo modo que na última ceia entregou seu coração e todos os tesouros encerrados nele aos seus discípulos, assim faz conosco hoje, oferecendo-nos a chave de sua paz e deixando-nos entrever seu desenlace. A chave da paz é o amor, adesão concreta a sua Palavra, que faz de nós, morada de Deus. E o desenlace é, já, desde ago­ra, a alegria. Simples e árduo programa! Sem dúvida, está ao nosso alcance, porque nos entregou o Es­pírito Santo, memória vivente de Jesus, lâmpada para os passos de nosso caminho e vigor na fatiga do com­promisso cristão. Se abrirmos a porta do coração à paz do Senhor, na maioria das vezes se produz, a principio, uma agitação em nosso mundo interior: críamos que os outros já não nos aborreceriam ou molestariam mais; pensávamos que o Espírito nos havia cumulado de tudo; e, sem dúvida… Sua paz é um dinamismo de amor, não uma quietude estática: se lhe abrimos a porta do coração, poderão entrar nele todos os irmãos, com todas suas perguntas impertinentes. Pensávamos que ao menos nos sentiríamos ricos por dentro para dar e, sem dúvida, seguimos igual: pobres. É então quando o “Pai dos pobres», o Espírito Santo, se torna Paráclito em nós e nos ensina, antes que nada, a escutar aos outros, sem preconceitos e sem presunções (porque somos pobres); a recordar a Palavra de Jesus, que se torna em nós luz que indica o caminho da paz aos irmãos. É um pouco do que aconteceu, faz dois mil anos no concilio de Jerusalém… Trata-se de uma obra contínua, pois a paz de Jesus, ofere­cida ao coração de cada discípulo, deve propagar-se pelo mundo: a ele está destinada, de fato, uma meta de alegria e gloria celestial que é dom de Deus. Mas a nós tem dado a tarefa de prepará-la desde agora.

 

ORATIO: Em ti, e só em ti, Senhor, encontra repouso nosso coração inquieto e perturbado. Tu és a verdadeira paz que o mundo e suas vaidades não podem oferecer. Tu és a pedra preciosa, prenda da herança futura, que ninguém jamais poderá tirar-nos. Concede-nos o desejo ardente de estar à escuta de toda palavra tua, para estar sempre dispostos a realizar o que tu nos confies, sem contar com nossas forças, mas com o poder de teu Espírito, que habita em nós. Seus gemidos inefáveis nos abrem a uma incessante oração por cada homem que sofre longe de teu rosto. Que sua caridade nos conceda uma real solicitude, para que não passe nenhum pobre a nosso lado sem encontrar consolo e descanso.

 

CONTEMPLATIO: «Quando vier o Espírito, vos explicará tudo» (Jo14,26), também as coisas futuras. Queridos filhos: não se trata aqui de como se resolverá esta ou aquela guerra, ou se crescerá bem o grão. Não, filhos meus, não se trata disso. Aquele «tudo» se refere a todas as coisas necessárias para uma vida divina e para um secreto conhecimento da verdade e da maldade da natureza. Segui a Deus e caminhai pelo santo e reto caminho, coisa que algumas pessoas não fazem: quando Deus as quer dentro, saem, e quando as quer fora, entram; tudo ao contrário. Isto é «tudo», tudo o que nos é necessá­rio interior e exteriormente, conhecer, de modo profundo e íntimo, puro e claramente, nossos defeitos, a ani­quilação de nós mesmos, grandes desaprovações pois estamos longe da verdade e nos apegamos de modo perigoso às coisas pequenas. O Espírito nos ensina a mergulhar numa profunda humildade e conseguir uma total submissão à Deus e a todas as criaturas. É esta uma ciência na qual estão encerradas todas as ciências necessárias para a verdadeira santidade. Esta seria a verdadeira santidade, sem comentários, não de palavra ou aparência, mas real e profunda. Podemos dispor-nos de tal modo que se nos conceda de verdade o Espírito Santo. Que Deus nos ajude. Amém (João Taulero)

 

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Deixo-vos a paz, minha própria paz vos dou» (Jo 14,27)

 

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Sem o Espírito Santo, ou seja, se o Espírito Santo não nos plasma interiormente e, se nós não recurremos a Ele de modo habitual, praticamente, pode ocorrer que caminhemos no passo de Jesus Cristo, mas não com seu coração. O Espírito nos faz conformes, no íntimo, ao Evangelho de Cristo e nos faz capazes de anunciá-lo com a vida. O vento do Senhor, o Espírito Santo, sopra sobre nós e deve imprimir a nossos atos certo dinamismo que lhe é próprio, um estímulo ao qual nossa vontade não permanece estranha, mas a transcende. Deus nos dará seu Espírito na medida em que acolhamos a Palavra ali onde a ouçamos. Deveria haver em nós uma só realidade, uma só verdade, um Espírito onipotente que se apoderasse de toda nossa vida, para operar nela, segundo as circunstâncias, com espírito de caridade, espírito de paciência, espírito de mansidão, sendo um único Espírito, o Espírito de Deus. Todos os nossos atos deveriam ser continuação de uma mesma encarnação. Seria preciso que entregássemos todas nossas ações ao Espírito que há em nós, de tal modo que se possa reconhecer seu rosto em cada uma delas. O Espírito não pede mais que isto. Não veio a nós para descansar e, sim, fatigar-se insaciável no obrar; só uma coisa o pode barrar: o fato de que, com nossa má vontade, não o permitamos, ou melhor, não o outorguemos a suficiente confiança e não estejamos convencidos até o fundo de que Ele tem uma só coisa a fazer: obrar. Se o deixássemos fazer, o Espírito se mostraria absolutamente incansável e se serviria de todo. Um fogo inflamado o consome todo. Se fôssemos gente de fé, poderíamos confiar ao Espírito todas as ações de nossa jornada, sejam quais sejam, as transformaria em vida (M. Delbrél, Indivisibile amore. Frammentidi lettere).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

SEGUNDA-FEIRA, 27 DE MAIO DE 2019 – 6ª SEMANA DA PASCOA

João 15,26-16,4a (A despedida) Jesus, após ter advertido aos seus, do ódio e perseguições do mundo, pretende, agora, tranquilizá-los dizendo que seu fiel testemunho nas duras provas que sofrerão dos tribunais do mundo, será apoiado pelo testemu­nho do Espírito da verdade, que ele mesmo lhes enviará do Pai. Mais ainda, as contradições serão o lugar onde se manifestará com poder a ação do Espírito que falará por eles. Qual é o contexto do testemunho do Espírito? O ódio do mundo. É neste clima de oposição que os discípulos terão que dar testemunho de Cristo. Ele, sem dúvida, uma vez glorificado, enviará o Paráclito, em unidade com o Pai. O Espírito «dará testemunho» em seu favor (15,26). A este testemunho interior do Paráclito se acrescenta o exterior dos discípulos (v.27), banco de prova para a fé cristã: «Vos expulsarão da sinagoga. Mais ainda, chegará um momento, no qual vos tirarão a vida pensando que dão culto a Deus» (16,2). Estas predições do Mestre, realizadas com acentos de denso sofrimento, revelam a verdade dos acontecimentos que viverão, em breve, os discípulos. Sublinha para que estes, depois, durante as provas, possam recordar-se do que lhes disse o Mestre e não tenham que sucumbir, assim, ao escândalo, e continuem confiando nele (v.4). Os inimigos da Igreja podem pensar que estão do lado do justo e têm também a Deus de seu lado; porém, como não viram a verdade da luz do Pai, refletida na pessoa de Jesus, não conhecem o verdadeiro rosto do Pai.

 

 

At 16,11-15 (Chegada a Filipos) Estamos na Europa, em Macedônia, a pátria de Fi­lipos, pai de Alexandre Magno. Sem dúvida, para Paulo, provavelmente se tratava de uma das tantas cidades de língua e cultura grega do imen­so Império romano. A comunidade judia devia ser, aqui, bem mais reduzida, se é verdade que não havia sinagoga e as reuniões se celebravam junto ao rio. Ao que parece, prevalece o público feminino, entre o qual destaca-se uma rica comerciante de púrpura, cujo nome também se cita: Lidia. Lidia é o paralelo feminino de Cornélio, e «ado­rava ao verdadeiro Deus»: isso significa que era uma pagã que havia se aproximado do judaísmo e se con­vertido em «prosélita». Ao contrario do que havia ocorrido em Antioquia de Psidia, onde algumas mulheres haviam participado na revolta contra os missionários, Lidia se sente atraí­da de imediato pela mensagem cristã. De fato, “o Senhor lhe abriu o coração para que aceitasse as palavras de Paulo». Precisamente como havia feito o Ressuscitado com os discípulos, quando lhes abriu a mente (Lc 24,25): é sempre o Senhor quem acompanha os seus testemunhos e torna eficaz sua Palavra, quando e onde crê oportuno. Mais tarde, se desencadeará a fantasia dos apócrifos sobre este episodio, tecendo uma historia de aventuras e acontecimentos fantasiosos que teriam, como pro­tagonistas, Paulo e Lidia.

 

Sl 149 (Hino triunfal) Desde os primórdios, deveria ser cantado em todas as celebrações litúrgicas. Sempre quando a comunidade está reunida, há a certeza da presença de Deus, pois “onde dois ou três estão reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles”. O mandato de Jesus nos recorda que devemos responder à violência com a paz. São os mártires que fazem a beleza da Igreja, pois nunca usaram a força bruta para se defender, mas só a força do amor. Profetas, apóstolos, mártires, como não se lembrar de Edith Stein, Maximiliano Kolbe, Dom Romero, nos ensinam o verdadeiro cristianismo, que é o amor. Há também os mártires “brancos”, que não deram o próprio sangue, literalmente falando, mas sofreram martírio quando foram proibidos de seguir sua religião e adorar o Senhor. Sobre eles, o Evangelho nos fala que bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão saciados. Cantemos este Salmo com os justos perseguidos, mas vitoriosos. Com os pobres, com os que sofrem, de uma forma ou outra. Que ninguém carregue só a sua cruz. Queremos ser bons cirineus para ajuda-los na oração e na solidariedade.

Senhor, quero te louvar hoje com as bem-aventuranças de Lucas, que colocam em contraste os felizes do mundo com os felizes que vivem teu amor. “Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus! Felizes vós que agora passais fome, porque sereis saciados! Felizes vós que agora estais chorando, porque haveis de rir! Felizes sereis quando os homens vos odiarem, expulsarem, insultarem e amaldiçoarem vosso nome por causa do Filho do Homem. Alegrai-vos, nesse dia e exultai, porque será grande a vossa recompensa no céu, pois era assim que os seus antepassados tratavam os profetas. Mas, ai de vós, ricos, porque já tendes vossa consolação! Ai de vós que agora estais fartos, porque passareis fome! Ai de vós que agora estais rindo, porque ficareis de luto e chorareis! Ai de vós quando todos falarem bem de vós, pois assim era que seus antepassados tratavam os falsos profetas” (Lc 6,20-26).

 

 

MEDITATIO: A vida cristã é, ao mesmo tempo, templo de tentação e testemunho, templo de luta e colaboração na obra do Espírito destinada a dar testemunho do Ressuscitado. Assim como o Ressuscitado foi ao Pai em meio da incompreensão humana, assim também, os discípulos serão incompreendidos, expulsos dos lugares importantes e, inclusive, lhes tirarão a vida. Insinua-se, aqui, uma visão «heroica» da vida cristã, visão na qual o cristão tem de ser testemunho no sentido mais pleno, o de mártir. A realidade de Cristo resulta tão decisiva para a humanidade e, ao mesmo tempo, tão diferente do modo comum de pensar, que quem se põe da parte de Cristo será, inevi­tavelmente, marginalizado e, inclusive, suprimido. Isso foi o que aconteceu no século XX com o elevadíssimo núme­ro de mártires. É o que está acontecendo e, presumida­mente, acontecerá no próximo século com a marginalização prática de quem, em meio do sincretismo geral ou do fundamentalismo que ressurge, se põem da parte de Cristo, armado com o  poder do Consolador. Também, hoje, os discípulos eleitos para ser guardiões e testemunhos da realidade divina de Cristo, estão ad­vertidos da incompreensão e hostilidade com que serão perseguidos pelo mundo. E o fará umas vezes em nome do progresso, outras da emancipação e da modernização, da libertação dos tabus, das batalhas da civilização, dos direitos humanos e de todas as motivações que nestes anos manejarão, em não raras ocasiões, também para fazer esquecer o passado cristão e impor novos modelos de vida.

 

ORATIO: Anuncia-se, Senhor, tempos duros. A rejeição de tua memória está se afirmando em algumas partes de nosso mundo ocidental, como se teu nome houvesse sido a causa de um momento obscuro da historia da humanidade. Faz, Senhor, que não nos es­candalizemos, mas que saibamos resistir, todos unidos, com a força e o consolo de teu Espírito. Faz, sobretudo que não tenhamos que julgar a quem nos marginalizam, porque, em ocasiões, consideram «que dão culto a Deus» ou, ao menos, à causa da humanidade, com frequência, de boa fé. Faz-nos conscientes de que, também nós, os cristãos, temos sido, às vezes, ao longo da historia, intolerantes e perseguidores de outros irmãos, crendo dar culto a Deus. Ajuda-nos a ser humildes, a não cair no vitimismo, a dar testemunho de ti com firmeza e orgulho, ainda que, sem pretender, nem aplausos, nem medalhas, nem salvo condutos, nem reconhecimentos, nem desejo de revanche. Faz que aprendamos a ter confiança só na força de teu Espírito, para dar testemunho de ti…

CONTEMPLATIO: “O arco dos fortes foi quebrado, os fracos, se cingem de força» (1 Sm 2,4). Com justiça, a graça do Espírito Santo recebe o nome de vigor, já que os eleitos, ao recebê-la, tornam-se fortes contra todas as adversidades deste mundo. “Quem, senão os apóstolos, hão de considerar-se débeis? De fato, está escrito que, no momento em que foi preso o Senhor, todos, abandonando-lhe, fugiram. Porém, apenas os revestiu o vigor, é uma maravilha ver como os fez fortes. O Espírito, com um estrondo imprevisto, desceu sobre eles e transformou sua debilidade na potencia de uma maravilhosa caridade. O vigor do Espírito venceu o temor, superou os terrores, as ameaças e as torturas, e aos que revestiu, descendo sobre eles, os adornou com as insígnias de uma audácia maravilhosa para o combate espiritual; até tal ponto que, em meio dos açoites, torturas e outros ultrajes, não só não temeram, mas exultaram (Gregorio Magno, Comentaria a I Reyes, 1,97)..

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«O Espírito da verdade dará testemunho sobre mim» (Jo 15,26)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Cai hoje o número de cristãos? Se tens a impressão de que o cristianismo está diminuindo, em nossos dias, seu papel de guia espiritual; se tens a impressão de que o povo busca o significado do ser ou não ser, da vida e da morte, do amar e ser amado, do ser jovem e do envelhecer, do dar e do receber, do ferir e do ser ferido, e não espera nenhuma resposta dos testemunhas de Jesus Cristo, começa a perguntar-te, então, até que ponto estes testemunhas deveriam chamar-se mesmo de cristãos. O testemunho cristão é um testemunho incisivo, porque professa que o Senhor voltará para fazer novas todas as coisas. A vida cristã chama a mudanças radicais, pois o cristão assume uma distância crítica com respeito ao mundo e, apesar de todas as contradições, continua dizendo que é possível um novo modo de ser humano e uma nova paz. Esta distância crítica é um aspecto essencial da verdadeira oração (H.J.M.Nouwen).

 

 

 

TERÇA-FEIRA, 28 DE MAIO DE 2019 6ª SEMANA DA PÁSCOA

João 14,6-14 (A despedida) Se a primeira leitura nos tem falado de Tiago, esta fala de um diálogo entre Filipe e Jesus, precedido de uma auto revelação que Jesus ofere­ce a Tomé. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (v.6): deste modo, através do apóstolo Tomé, Jesus in­dica a todos nós o caminho que devemos percorrer para alcançar a comunhão com o Pai. Jesus é o Úni­co mediador entre o Pai e nós, e o é desde sempre e para sempre. Também a Filipe lhe fala Jesus do Pai: este é o ponto de conexão entre as duas partes do fragmento evangélico. Jesus confirma que, já desde agora e através de sua pessoa, podemos conhecer a Deus; e mais, podemos vê-lo, e deste modo crer na plena comunhão que une a Jesus com Deus Pai. E não só isto, mas que suas palavras nos revelam a comunhão que une Jesus com o Pai e nossa relação filial com o Pai. Escutar e acolher a Palavra de Deus que chega a nós por meio do Evangelho significa aplainar o caminho que nos conduz ao Pai. Além de suas palavras, também as obras de Jesus, das quais conservamos uma viva recordação nos relatos evangélicos, acolhidas na fé, constituem outros tantos caminhos que se abrem ante nós, para compreender a verdadeira identidade de Jesus, sua relação com o Pai e nossa relação com ambos.

 

 

1 Cor 15,1-8 (O fato da ressurreição) O vocabulário empregado por Paulo no início desta página deixa entrever a importância fundamental da tradição nos começos da comunidade cris­tã: «Eu vos transmiti, em primeiro lugar, o que, por sua vez, recebi». Através da tradição apostólica chegam a nós as notícias relativas ao acontecimento histórico-salvífi­co da Páscoa do Senhor; podemos remontar-nos aos cristãos das orige­ns e inserir-nos no fluxo salvífico daquela graça. Encontramos aqui também uma antiga profi­ssão de fé que, com muita probabilidade, se refere aos primeiros momentos da vida dos cristãos: «Que Cristo morreu por nossos pecados segundo as Escrituras; que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia segundo as Escritu­ras; que apareceu a Pedro e logo aos Doze» (vv.3-5). E, se é verdade que a tradição apostólica nos transmite a mensagem que salva, também é verdade que nossa profissão de fé atualiza essa mensagem e a faz eficaz para a salvação. O apóstolo dos gentios se preocupa também de ci­tar os primeiros grandes testemunhos do Senhor ressuscitado: Pedro, em primeiro lugar, e, a seguir, Tiago e to­dos os demais apóstolos; ao final se encontra o mesmo Paulo, último entre todos, ainda que seja um legado impor­tante desta mesma tradição.

 

Sl 18/19 (Yahweh, sol de justiça) Quais os princípios que nos orientam? Se eles forem pecaminosos, toda a nossa vida será injusta; mas se eles forem justos, o nosso agir será reto. Os Salmos nos convidam a ter nossas vidas coerentes com a Palavra. A doçura da Palavra de Deus sacia o nosso coração. Que a nossa boca não fale mentira, que o nosso falar seja reto e honesto.

Senhor, preserva-me do orgulho de ser santo e melhor que os outros. Que eu sempre tenha no coração a humildade. Se faço o bem, é por ti; se fujo do mal, é pela tua bondade. Nada sem ti podemos fazer. Contemplar e fazer o bem são os maiores desejos que temos dentro de nós. O bem está presente em todas as pessoas, portanto dá-me olho para enxergá-lo e coração para amá-lo. Amém.

 

 

 

MEDITATIO: Os dois apóstolos, cuja festa celebramos hoje, nos recordam dois aspectos fundamentais de nossa ex­periência de fé. Por um lado Tiago nos conduz ao caráter fundamental da tradição apostólica. Esta é importante e fundamental, não tanto porque esteja ligada a algumas pessoas, mas por ser de origem divina, dado que foi estabelecida pelo próprio Jesus. Também o objeto da tradição apostólica faz a esta última pre­ciosa e indubitável: estou aludindo, sobretudo à me­mória da paixão e morte, ressurreição e aparições do Jesus ressuscitado aos Doze. Dai que a tradição seja, ao mesmo tempo, apostólica e pascal: nela se in­sere nossa fé, ainda que nos separem vinte séculos de história. O apóstolo Filipe sugere outra pista para a nossa meditação: ele deseja ver o rosto do Pai, e Jesus lhe respon­de que os traços daquele rosto estão já presentes nele. Nossa busca do rosto de Deus, que em ocasiões se torna ansiosa e dolorosa, nunca deveria apartar-se da pista que nos oferecem as recor­dações evangélicas. Só uma assídua e metódica frequentação dos Evangelhos pode oferecer um conheci­mento suficiente e libertador da personalidade de Je­sus de Nazaré, de seu mistério profundo e seu projeto salvífico. E deste modo, através desta pista, podemos entrever os traços deste rosto paterno, que toda a humanidade, de modo mais ou menos explicito, tende e deseja.

ORATIO: Mostra-nos, Senhor, teu rosto e estaremos salvos! Senhor, queremos acolher, através de teu rosto, que é um rosto paterno, materno, misericordioso, a salvação que brota de teu coração. Concede-nos, ó Deus, sermos ca­pazes de captar, através de teu rosto, a ternura de teu coração. Teu rosto busco, Senhor, mostra-me teu rosto. Ainda que em minha vida tenha buscado a outros, em vez de ti, ainda que tenha desejado a outros, em vez de ti, ó Deus, hoje quero reconhecer-te como meu único bem, como meu único desejo, como minha única meta. Tua glória, ó Deus, brilha no rosto de Cristo. O de Jesus é um rosto humano, como o meu e como o de muitos irmãos e irmãs na fé. Concede-me, ó Deus, reconhecer tua presença na imagem tua que tens estampado no rosto de meus irmãos e irmãs: os que caminham junto a mim, os que habitam próximo de mim, os que sofrem neste vale de lágrimas.

 

CONTEMPLATIO: «Queremos ver Jesus» (Jo 12,21). Este pedido feito ao apóstolo Filipe por alguns gregos que haviam vindo a Jerusalém à peregrinação pascal, tem ressoado também, espiritualmente, em nossos ouvidos… Como aqueles peregrinos de dois mil anos atrás, os homens de nosso tempo, talvez, nem sempre conscientemente, pedem aos crentes de hoje não só «falar» de Cristo, mas, de certo modo, que os levem a «ver». E não é porventura missão da Igreja refletir a luz de Cristo em cada época da história e fazer res­plandecer, também seu rosto, ante as gerações do novo milênio? Nosso testemunho seria enormemente de­ficiente se nós não fossemos os primeiros contem­pladores de seu rosto… Ao final do jubileu, uma vez que empreendemos o ritmo ordinário, levando no ânimo as ricas experiências vividas durante este perío­do singular, o olhar fica, mais que nunca, fixo no rosto do Senhor (João Paulo II, Novo millennio ineun­te, n. 16).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Senhor, mostra-nos o Pai; isso nos basta» (Jo 14,8)

 

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Chegou a hora. E o primeiro gesto que salta daquele fatal golpe de gong, em um rito que aparece predisposto, é pegar uma bacia. O que deve fazer quem sabe que dentro de pouco tempo morrerá?       Se ama a alguém e tem algo para deixar-lhe, deve ditar seu testamento. Nós pedimos trazer papel e pluma. Cristo foi pegar uma bacia, uma toalha e derramou em um recipiente. Aqui começa o testamento, aqui faz secar o último pé, poderia terminar também… Os tem dado exemplo… Se tivesse que escolher uma relíquia da paixão, escolheria entre os flagelos e as lanças aquela bacia redonda de água suja. Dar a volta ao mundo com esse recipiente debaixo do braço, olhar só os calcanhares da gente e ante cada pé cingir-lhe a toalha, agachar-me, não levantar os olhos, mas além da panturrilha, para não distinguir os amigos dos inimigos. Lavar os pés ao ateu, ao viciado em cocaína, ao traficante de armas, ao assassino do menino no carnaval, ao exportador de prostituta no beco sem saída, ao suicida, em silêncio: até que tenham compreendido. A mim não se tem dado já levantar-me para transformar-me a mim mesmo em pão e em vinho, para suar sangue, para desafiar os espinhos e os cravos. Minha paixão, minha imitação de Jesus a ponto de morrer, pode ficar-se nisto (L. Santucci, Uma vita di Cristo).

 

 

 

QUARTA-FEIRA, 29 DE MAIO DE 2019 6ª SEMANA DA PÁSCOA INICIO DA NOVENA DE PENTECOSTES                                                              

João 16,12-15 (A vinda do paráclito) O texto inclui a quinta promessa da missão do Espírito, mestre e guia para a plenitude da verdade. Após uma introdução ao tema (v.12), o trecho, de valor teológico, desenvolve-se em três passagens paralelas, que conclui, cada uma, com a mesma fórmula «Ele vos revelará»: vv.13.14.15) e com uma progressão temática doutrinal sobre as três pessoas divinas: o Espírito, Cristo, o Pai. Jesus queria revelar aos seus muitas outras coisas, mas agora não podem entendê-las. Terão que receber o Espírito. Ele será a ajuda dos discípulos e os introduzirá «na verdade completa» (v.13), isto é, inaugurará um período novo do conhe­cimento da Palavra de Jesus. Sua instrução se desenvolverá no íntimo do coração de cada discípulo, e com ela conhecerão os segredos da verdade de Cristo e poderão fazer-lhes entrar neles. A tarefa do Espírito será semelhante à de Jesus, ainda que dirigida ao passado e ao futuro. Do mesmo modo que o Filho, em sua vida terrena, não fez nada sem o consenso e a unidade do Pai, assim o Espírito, no tempo da Igreja pós-pas­cal, atuará em perfeita dependência de Jesus e “dirá, unicamente, o que tem ouvido» (v.13c). Guiará na com­preensão interior da Palavra de Jesus; mais ainda: de Je­sus mesmo, «e vos anunciará as coisas futuras» (v.13d), quer dizer, os fará ver a realidade de Deus e dos homens, como o Pai e o Filho a vêem; os fará conhecer, de modo verdadeiro, os acontecimentos do mundo e da historia, desde a ótica da novidade iniciada pela morte e ressurreição de Cristo, sempre nova e criativa, interiormente.

 

 

At 17,15.22-18,1 (Paulo em Atenas) – Trata-se do famoso discurso no Areópago (provavelmente o conselho da cidade) de Atenas. É o primeiro encontro, não tanto com o paganismo, que já havia tido lugar em outras partes, mas com a cultura pagã, com os representantes da elite cultural do tempo; estóicos e epícuros. Estamos ante um discurso bem preparado, hábil; um exemplo de inculturação que, sem dúvida, não fere em nada a originalidade da men­sagem cristã. Apesar de Paulo usar elementos da cultura dos ouvintes, citando, inclusive, poetas gregos, do mesmo modo que citava as Escrituras ao dirigir-se aos judeus, não faz discurso de filósofo, mas de profeta. Anuncia um homem ressuscitado dos mortos, que permite vencer a ignorância na qual caíram durante séculos nações inteiras: a ido­latria. Paulo se alinha com os maiores filósofos e poe­tas que a criticaram, mas disse o que não podiam dizer jamais, nem os filósofos nem os poetas: é possível che­gar à verdade por um homem, acreditado por Deus com a ressurreição de entre os mortos; um homem que será o juiz final, o critério do bem e do mal. Ante um anuncio tão pouco «racional», o au­ditório, como sempre, se divide. Muitos se vão, outros aderem ao anúncio. Muito se tem discutido se o discurso, quer dizer, a tentativa de inculturação, teve êxito ou fracassou. Do mesmo modo que se tem discutido se, depois desta tentativa, mudou, Paulo, sua modalidade de anuncio. Sem dúvida, parece que a intenção de Lucas foi dar o exemplo de um modo de anuncio do kerygma aos pagãos cultos. Os resultados são os esperados, pois a Palavra de Deus divide os co­rações e as mentes. Contudo, até na brilhante e superficial Atenas nasce uma comunidade cristã: isso é o importante para Lucas. É preciso recorrer a todas as modalidades de anuncio para pregar Cristo.

 

Salmo 148 (Louvor cósmico)É uma bela e harmoniosa sinfonia que canta as maravilhas do Senhor. São chamados a cantar 23 criaturas diferentes, resultando em um belíssimo coral. Porém, o que o Senhor mais deseja é que o ser humano cante a vida, a alegria, o amor. Santo Agostinho recorda que “se não canta a voz, cante o coração”. E quem canta reza duas vezes! A oração não acontece somente quando assumimos uma atitude recolhida e rezamos “fórmulas” prontas, sejam elas de nossa autoria ou de outros. Rezamos sempre que entramos em sintonia com a vontade do Senhor, e todo o universo é chamado a assumir a sua missão de louvor cósmico. O nosso mal é divorciar a vida da oração e a oração da vida. Precisamos fazer uma síntese de tudo o que existe e foi criado por Cristo e em Cristo. A Deus sejam dados glória, honra e louvor. Criaturas do céu, da terra e do mar são chamados a manifestar a sua alegria pela própria existência.

Senhor, quero te apresentar a voz de todos os povos, de todas as raças; ninguém pode faltar no grande coral que canta os seus louvores. Mesmo os que não te conhecem te louvam sem saber. Tudo é teu porque tu o criaste. Perdoa-nos, Senhor, se às vezes na nossa vida entra a nota desentoada do pecado que destrói a beleza do universo e da conveniência. Por que não nos amamos? É a pergunta que trago no meu coração e que, como espinho, fere a minha carne e o meu espírito. Dá-nos olhos para ver a necessidade dos irmãos, coloca na nossa boca palavras que consolem e confortem, ajuda-nos a não fechar o coração diante dos necessitados que encontramos em nosso caminho. Todos nós concordamos que a ti, Senhor, seja dado louvores e ação de graças. Rompes as barreiras do egoísmo e fazes que a nossa voz seja um hino de louvor ao teu amor. O nosso único sinal comprovando que somos cristãos é o amor. “Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35).

 

 

 MEDITATIO: O Espírito prometido permitirá, aos discípulos, compreender as coisas de Deus, tal como foram reveladas por Jesus. O Espírito fará a exegese das palavras do Senhor, para que possam caminhar através da his­toria com a «mente de Deus», com seu modo de ver e de julgar, de sentir e de operar. Também expressa a diferença do discípulo e da Igreja com respeito ao mundo. O sentido das coisas, da historia, dos acontecimen­tos, está reservado aos que têm o Espírito. Mas, é preciso que o Espírito possa falar. A tradição tem falado da necessidade de dispor de um co­ração «purificado» para compreender as coisas de Deus, tal como são sugeridas pelo Espírito. O Oriente cristão tem meditado largamente sobre a bem-aventurança: «Bem-aventurados os puros de coração, porque ve­rão a Deus». A visão de Deus e de suas coisas, a com­preensão das palavras de Jesus, sua atualização às distintas situações em diferentes momentos da historia pessoal ou geral, estão reservadas àqueles que deixam falar o Espírito, em um coração purifi­cado, progressivamente libertado dos apegos e condi­cionamentos mundanos. As épocas mais criativas para a fé foram as épocas nas quais se nos obrigava à libertação interior, à oração, à santidade. É nos santos onde as palavras do Senhor se reali­zam ao máximo. É a eles que é dada a compreen­são profunda das coisas de Deus, bem como, uma com­preensão particular do momento histórico. Ver a realidade, segundo Deus, é algo distinto ao conhecimento necessário típico da razão: é deixar que o Es­pírito fale em um coração despojado das coisas de­masiado terrenas.

 

ORATIO: Ajuda-me, Senhor, a libertar-me das demasiadas coisas que me impedem compreender «a verdade completa», compreender tua Palavra no hoje, o que dizes para mim hoje, o que devo fazer aqui e agora, sobretudo como devo ver minha vida e os acontecimentos que têm que ver com meus irmãos, na situação em que me encontro. Purifica meu coração para que meu olho interior possa ver teus caminhos, para que meu ouvido interior possa ouvir tua vontade, para que meu instinto esteja orientado para ti. As propostas que me fazem são múltiplas. A comunicação me inunda de mensagens multiformes e contraditórias. Com freqüência não sei para onde orientar-me. Concede-me um coração desprendido e va­zio para deixar-me falar a ti; concede-me um coração humilde para escutar a voz de tua Igreja, que me orienta. Sobretudo, faz que não esteja condicionado de tal modo pelas indicações do mundo, que siga tuas indicações, a sua luz. Devo julgar as soluções do mundo à luz que vem de ti, se quero ser luz do mundo. Umas vezes mediante o processo de um delicado discernimento; outras, com a obrigada nitidez. Purifica-me e ilumina-me, Senhor.

 

CONTEMPLATIO: Não espereis escutar de nós as verdades que o Senhor não quis dizer a seus discípulos, por não estar ainda em condições de compreendê-las. Aplicai-vos, melhor, em progredir na caridade, que desce a vossos corações por meio do Espírito Santo que vos foi dado. Graças ao fervor de vossa caridade e ao amor que alimentais pelas coisas da alma, podereis experimentar, interiormente, aquela luz, aquela voz espiritual, que os homens atados à carne são incapazes de tolerar; e que não se apresentam com sinais que os olhos do corpo podem ver, nem se fazem ouvir com sons que os ouvidos podem ouvir. Não se pode amar, certamente, o que nos é de todo desconhecido. Porém amando o que conhecemos em parte, por efeito deste mesmo amor, se chega a conhecê-lo cada vez melhor, cada vez de modo mais profundo (Santo Agostinho, Comentaria ao evangelho de João.96,4).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra: 

«Tudo o que vos dê a conhecer receberá de mim» (Jo 16,14)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL: Faz vários anos, tive a oportunidade de encontrar a madre Teresa de Calcutá. Eu tinha naquele momento muitos problemas e decidi aproveitar esta ocasião para pedir um conselho à madre Te­resa. Apenas nos sentamos, comecei a mostrar-lhe todos meus proble­mas e dificuldades, tentando convencê-la do complicados que eram. Quando, após ter lhe exposto elaboradas explicações du­rante uns dez minutos, me calei, e madre Teresa me olhou tran­quilamente e disse: «Bem, se dedicas uma hora, cada dia, a ado­rar ao teu Senhor e não fazes nunca o que sabes que é injusto… tudo irá bem». Ao ouvi estas palavras me dei conta, de improviso, de que havia ferido meu ego dilatado, um ego composto de complicada autocomiseração, e me havia mostrado, muito mais além de mim mesmo, o lugar da verdadeira cura. Na realidade, fiquei tão chocada com sua resposta que não senti nenhum desejo ou necessidade de continuar. Ao refletir sobre este breve encontro, ainda que decisivo, dou-me conta de que eu lhe havia exposto uma pergunta pelo baixo e ela me havia dado uma resposta pelo alto. De início, sua resposta não parecia adequada com respeito a minha pergunta, porém, de­pois, comecei a compreender que sua resposta vinha desde o lugar de Deus e não desde o lugar de minhas lamentações. A maioria das vezes reagimos a perguntas pelo baixo com respostas pelo baixo. O resultado é que cada vez há mais perguntas e, com frequência, respostas cada vez mais confusas. A resposta da Teresa foi como uma luz em minha obscuridade. Conheci de improviso, a verdade sobre mim mesmo (H.J.M. Nouwen, Vive­re nelo Spirito, Brescia).

 

 

 

QUINTA-FEIRA, 30 DE MAIO DE 2019 6ª SEMANA DA PÁSCOA                                                                                              

João 16,16-20 (Anúncio de pronto retorno) Jesus consola os seus da tristeza por sua partida. Assegura-lhes que essa tristeza durará pouco: «Dentro de pouco deixareis de ver-me, porém dentro de outro pouco voltareis a ver-me» (v.16). Que significam estas enigmáticas afirmações de Jesus? Refere-se aos dois tempos, aos quais Jesus está a ponto de dar cumprimento. O primeiro se refere à sua vida terrena, que está a ponto de acabar; o segundo, por sua vez, se refere à sua vida gloriosa, inaugurada na ressurreição. Seu retorno posterior não se limita às aparições pascais, mas se prolonga no coração dos crentes mediante sua presença neles. As palavras do Mestre não são compreendidas pelos discípulos, que expõem varias perguntas (vv.17-19).  Jesus, que os conhece por dentro e os acontecimentos que lhes esperam, tenta remover, a partir das perguntas que expõem sua tristeza, infundindo-lhes confiança nele com uma nova revelação: «Vossa tristeza se converterá em gozo» (v.20). A comunidade terá que enfrentar a todo um cume de provas. Em especial quando for arrebatado o Esposo. Com sua morte, experimentará o pranto, a aflição e o desconcerto, enquanto que o mundo se sentirá alegre, pensando que extirpou o mal. Estes momentos serão, para a comunidade, momentos de duvida, obscuridade e silêncio de Deus. Porém, a historia tomará sua revanche e, quando isto chegar, a comunidade dos discípulos experimentará o gozo. Jesus não fala de seus sofrimentos, e tinha moti­vos para isso, mas pensa nos seus mais que nele, como o bom pastor em seu rebanho.

 

 

At 18,1-8 (Fundação da Igreja de Corinto) Trata-se de um trecho que nos ofere­ce úteis indicações para entender a vida cotidiana de Paulo e dos primeiros evangelizadores. Indica-nos Paulo tinha um oficio, um trabalho manual, e o exercia enquanto se dedicava à Palavra entre os atenienses, coisa pouco conveniente para um homem culto, porém, comum entre os rabinos, que encontravam no trabalho oca­siões de encontro e, portanto, de ensinamento. Paulo se hospeda e trabalha com um casal de judeus expul­sos de Roma pelo decreto de Claudio. Informação útil para se conhecer a data deste período: o decreto imperial remonta aos anos 49-50. A chegada de ajudantes permitiu a Paulo dedicar-se de modo exclusivo à pregação. Lucas tem o cuidado de dizer que Paulo parte sempre dos judeus: só após a enésima rejeição, desta vez, bem mais violenta, declara que se dirigirá «em diante» aos pagãos. Já o havia dito em Antioquia de Pisidia (13,46s), e o dirá do mesmo modo mais adiante. Nota-se a preocupação do autor por explicar os motivos da passagem aos pa­gãos. Mas aqui há só espinhos, porque, frente à oposição judia, se converte, nada menos que o chefe da sinagoga com toda a família. E começa uma abun­dante colheita, também entre os pagãos. Uma observação: não há sintomas de uma mudança de «estratégia evangélica», como se, após o escasso êxito em Atenas, Paulo tivesse decidido não mudar nada em sua pregação, nem quanto ao conteúdo, nem quanto à linguagem. A passagem de Atenas a Corinto está aqui apresentada, mais como uma opção ulterior em favor dos pagãos, que como uma mudança de método, como se Paulo estivesse retraçando sua estratégia missionária.

 

Salmo 97/98 (O juiz da terra) – Os hinos de louvor à grandeza de Deus são um tema recorrente nos Salmos. Com sua leitura, somos convidados a unir ao canto à sua glória e beleza. Deus se faz presente em todos os detalhes, basta olhar ao nosso redor: Ele está nas flores, nos frutos, no soprar do vento e dentro de cada um de nós. Devemos seguir o exemplo dos santos, que souberam reconhecer a presença do Senhor no dia a dia, como São Francisco, que cantava a grandeza e a misericórdia de Deus nas flores e no canto dos pássaros, e São João da Cruz, que glorificava com rara beleza e força poética a beleza da criação como neste Cântico Espiritual:Ó bosques e espessura, Plantados pela mão do meu Amado! Ó prado de verduras, De flores esmaltado, Dizei-me se por vós Ele tem passado!”. Assim também somos chamados a despertar do sono e entrar plenamente em comunhão com o Senhor, que está sempre entre nós. Deus fala hoje como ontem e falará como amanhã, cabe a cada um saber ouvir a sua voz e reconhecer o seu rosto encoberto por trás dos acontecimentos e das criaturas.

Senhor, nós somos festivos. Qualquer coisa entra em nossa vida e nos faz dançar de alegria. O nosso povo é festivo… tudo é ocasião para cantar e dançar: festa de aniversário, celebrações litúrgicas, encontros. O sabor da festa está conosco, por isso queremos ser ainda mais festivos para ti, sabendo que tu estás presente entre nós e andas conosco pelos caminhos da vida. Tu és vida, a vida merece ser celebrada e cantada. Deixe que meu coração cante em todas as circunstâncias, mas que não cante sozinho, que se uma a todos os meus irmãos de comunidade, de caminhada. Com o canto o caminho se faz mais breve e mais doce, com o canto somos todos animados. Que animemos uns aos outros, como fazia o povo de Israel. Amém.

 

 

MEDITATIO: O tempo da Igreja é o tempo no qual o discípulo se encontra preso entre o do mundo e o de Cristo. O gozo do mundo está ligado a valores efêmeros, como um saber posto ao serviço de interesses materiais; de uma carreira social, científica; da fama; da rentabilidade econômica de nossas opções. Com estas coisas, geralmente, gozam o mundo. O gozo de Jesus vem do ser seus discípulos, do saber que Ele está sempre próximo, que gastar a vida por Ele e os irmãos é uma vantagem e uma grande honra; que o único necessário é não perdê-lo, sentir sua proximidade, seguros de caminhar para sua posse. Nosso coração se encontra entre estes dois gozos: o primeiro é imediato, fugaz: o segundo é paciente, mas, sem dúvida, não decep­ciona. Às vezes os dois se enlaçam; outras, se opõem. O coração do discípulo deve estar orientado sem­pre para o «ainda não», para o decisivo «dentro de outro pouco voltareis a ver-me», quando o gozo, tão querido e crido, se tornará felicidade plena.

 

ORATIO: Dou-te graças, Senhor, por tuas visitas que me enchem de alegria. Dou-te graças por tuas ausências que me fazem desejar tua alegria. Bendito sejas, agora e sempre, porque sabes como governar meu coração e atraí-lo a ti. Permite-me pedir-te, hoje, que não me deixes só por demais, a mercê dos gozos deste mundo, para que não fique conquistado por eles. Que não me deixes, tampouco, só nas provas que o mundo me impõe, para que não desespere. Sei que deveria estar sempre alegre, «em todo tem­po», que sempre deveria bendizer-te e dar-te graças. Sei que um discípulo teu não deveria estar nunca triste. Porém, tu, socorre-me quando este mundo me pareça de­masiado doce, para que não me embriague, e também quando me pareça demasiado amargo, para que não me esmague.

 

CONTEMPLATIO: A promessa do Senhor, «dentro de outro pouco voltareis a ver-me», se dirige a toda a Igreja. O Senhor não tardará em cumprir sua promessa: um pouco mais e o veremos, lá em cima, onde já não teremos nenhuma necessidade de dirigir-lhe nenhuma oração, de expor-lhe nenhuma prece, porque já não nos restará nada que desejar, nada escondido que queiramos conhecer. Este breve intervalo de tempo nos parece longo porque, ainda deve transcorrer, porém quando tenha acabado nos daremos conta do breve que foi. Que nossa alegria, portanto, seja muito diferente da que experimenta o mundo. Que, tampouco, durante o trabalhoso parto deste nosso desejo, permaneça nossa tristeza completamente sem alegria, porque, como disse o Apóstolo, devemos mos­trar-nos «alegres na esperança, pacientes na tribulação» (Santo Agostinho, Comentário ao evangelho de João).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Vossa tristeza se converterá em gozo» (Jo 16,20b)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL: A alegria é essencial na vida espiritual. Se pensamos ou dize­mos qualquer coisa de Deus e não o fazemos com alegria, nossos pensamentos e nossas ações serão estéreis. Podemos ser in­felizes por muitas causas, porém podemos encontrar ainda alegria, porque esta procede de saber que Deus nos ama. Estamos inclinados a pensar que quando estamos tristes não podemos estar contentes, porém na vida de uma pessoa que põe a Deus no centro po­dem coexistir a dor e a alegria. Não resulta fácil de compreender, porém quando pensamos em alguma de nossas experiências mais profundas, como assistir ao nascimento de uma criança ou a morte de um amigo, com frequência formam parte da mesma experiência uma grande dor e uma grande alegria, e descobrimos frequentemente a alegria em meio da dor. Recordo os momentos mais dolorosos de minha vida como momen­tos nos quais tenho chegado a ser consciente de uma realidade espiritual muito maior que eu, e que me permitia viver minha dor com es­perança. Inclusive me atrevo a dizer: «Minha dor foi o lugar no qual encontrei minha alegria». A alegria não é qualquer coisa que simples­mente nos acontece. Devemos eleger a alegria e seguir elegendo-a cada dia. Trata-se de uma eleição baseada no conhecimento de que pertencemos a Deus e temos encontrado em Deus nosso refugio e nossa salvação, e que nada, nem sequer a morte, nos pode arrebatar (H.J.M Nouwen, Vivere nello Spirito, Brescia)

 

 

 

SEXTA-FEIRA, 31 DE MAIO DE 2019 – 6ª SEMANA DA PÁSCOA

VISITAÇÃO DE NOSSA SENHORA

 

 

 

SÁBADO, 01 DE JUN HO DE 2019 – 6ª SEMANA DA PÁSCOA                                                                                              

João 16,23b-28 (Anúncio de pronto retorno) O texto sublinha o tema da oração. A no­va era predita pelo Senhor, aos seus, consistirá na compreensão da relação recíproca que há entre o Pai e o Filho e na manifestação de Jesus com o Dom da oração eficaz, pois Ele é o único caminho para a oração dirigida a Deus. Os discípulos não estavam acos­tumados a orar no nome de Jesus (v.24). Agora, sem dúvida, por meio do Espírito, enviado pelo Pai, foi inaugurado um tempo novo, no qual se pode dirigir, ao Pai, no nome de Jesus, porque seu Senhor, em virtude de seu passar ao Pai, converteu-se no verdadeiro mediador entre Deus e o homem. Em consequência, Jesus, prosseguindo o diálogo com seus discípulos, realiza uma constatação sobre o passado e, a seguir, projeta um olhar ao futuro. No que se refere ao passado, o qual abarca toda sua vida terrena, afirma que serviu-se de palavras e imagens que encerravam um significado profundo, que eles não compreendiam com frequência. Pelo que se refere ao futuro, do acontecimento da páscoa em dian­te, suas palavras deixarão de ter véus e chegarão ao fun­do de seus corações (v.25). De fato, com a vinda do Espírito depois da páscoa se inicia a nova era na qual Jesus falará abertamente e todos poderão com­preender a verdade sobre o Pai e o que ele pretende fazer conhecer aos homens. Na oração é onde os discípulos conhecerão a ín­tima relação que existe entre Jesus e o Pai, e a destes com eles. A seguir serão escutados, porque existirá um entendimento perfeito no amor e na fé com Cristo, com o qual serão quase uma só coisa. Mais ainda, serão escutados porque são amados pelo mes­mo Pai por causa de sua fé no mistério da encarnação do Filho (vv.26s). A Palavra de Jesus é uma pala­vra de vida que merece ser guardada no coração.

 

 

 

At 18,23-28 (Volta a Antioquia e partida para a terceira viagem) Paulo começa a viajar de novo desde Antioquia, que tem se convertido no ponto de partida e de referencia para a missão aos pagãos, como era Jerusalém para os judeus cristãos. Sem dúvida, a atenção se dirige, agora, a Éfeso, outra cidade importante, onde haviam se detido Priscila e Áquila (nota-se a precedência outorgada à mulher). E aqui, na ausência de Paulo, conhecem Apolo, um notável pregador, teólogo e missionário, que ensina exatamente o que se re­feria a Jesus, ainda que de maneira incompleta, dado que só conhecia o batismo de João. Frente a estas afirmações devemos confessar que conhecemos pouco sobre a situação das co­munidades primitivas; sobre as vias de comunicação da fé, sobre a geografia da sua difusão, sobre as correntes de pensamento ou sobre os grupos ligados aos distintos personagens. Apolo, que vem do Egito, aonde já tem chegado a Boa Noticia, foi conver­tido pelos discípulos de João que conheceram a Jesus? A vida das primeiras Igrejas devia ser muito viva, e o que se apresenta nos Atos é só uma pequena parte, uma mostra, da grande em­presa da evangelização, ainda que uma parte autoriza­da – certamente – por estar centrada nas duas colunas: Pedro e Paulo; contudo, deve andar distante de oferecer um quadro completo da situação. Ao mesmo tempo, em que tinham lugar os acontecimentos narrados em Atos, um grande número de missionários, aptos e entusiastas, como Apolo, percorriam o mundo. Também é digna de destacar a tarefa dos leigos, que se permitem «corrigir» a muitas personalidades, dando uma contribuição de não pouco peso e solidez do novo «caminho do Senhor» na Grécia, graças à cultura e à dialética de um Apolo «posto ali». Toda a Igreja participa na empresa da evangelização, cada um com seus limites, ainda que com o apoio e contribuição fraterna de todos. É verdadeiramente mara­vilhosa esta Igreja fraterna, que parece ter no alto de suas preocupações a difusão do Evangelho em to­dos os âmbitos

 

Salmo 46/47 (Iahweh é rei de Israel e do mundo) O poder de Deus não pesa nem oprime, mas é amor e serviço. Não somos nós que servimos a Deus, mas é Ele que nos serve, pois nos dá o melhor de si a todo momento: o seu amor. E entregou seu filho Jesus Cristo para nos livrar do pecado. O poder de Deus é libertação e força, o que nos permite vencer todos os inimigos que nos afastam daquele que deve ser o nosso caminho. A verdadeira política não pode excluir Deus de seus projetos, pois sem Ele ela se torna nefasta e nociva ao crescimento do povo. Sem religião, o ser humano é incapaz de dominar os seus maiores instintos.

Senhor, quero proclamar-te único soberano de todos os povos. Que a humanidade errante e sem rumo possa reencontrar em ti a verdadeira força e o verdadeiro referencial. Sem ti não há crescimento nem progresso. Os políticos que não têm o Senhor não podem defender os interesses dos pobres, pois somente tu podes dar sentido ao nosso agir. Que todo político tenha uma religião reta, honesta e cheia de ternura e amor. Amém.

 

 

MEDITATIO: A comunhão dos discípulos com Jesus e com sua missão lhes garante que o Pai escutará sua oração como escuta a do Filho. Do mesmo modo que as obras e as palavras de Jesus não são suas, senão do Pai, tampouco as obras e as palavras dos discípulos são  suas, mas de Jesus, presente dentro deles: a onipotência de Jesus é a onipotência dos discípulos. A grande mensagem contida nesta página de João me provoca: por que obtenho tão pouco? Por que sou tão pouco eficaz? Por que minha alegria é tão raramente plena? E ainda: por que o mistério da união do Filho com o Pai me atrai só de uma maneira débil? Por que sin­to tão poucas vezes a onipotência de Deus em minha ação? E se estas perguntas estiveram ligadas? Não estarão por casualidade meus olhos demasiado voltados à realidade deste mundo e demasiado pouco ao mistério de Deus, ao amor do Pai ao Filho e do Filho aos discípulos? O olhar ao mundo, ainda que necessário, não me aju­da, certamente, a salvá-lo; a não ser que o olhe com os olhos e o coração do Pai, que deu o Filho para a salvação do mundo e quer implicar-me nesta aventura decisiva, pois é uma aventura que tem que ver com a eternidade. O olho de Deus me ajudaria a ver as necessidades, com frequência ocultas, das pessoas, a encontrar o remédio «divino» e, não só humano, que devemos oferecer-lhes, a alegria plena que temos de apresentar, o amor que o resgata todo.  E se meu problema fundamental for a débil contemplação?

 

ORATIO: Pedir em teu nome, ó meu amantíssimo Salvador, não só pronunciar teu nome, mas fazer minha, tua causa, persegui-la com teu coração, ver o mundo com teus olhos, compreender tua alegria, querer entregar-me como te entregaste! Quão longe estou de tudo isto! Por isso fico, em ocasiões, decepcionado em minha oração; por isso, perco o ânimo em meu compromisso com teu serviço; por isso, ante a escassez de resultados, me vem a tentação de abandonar. Senhor, olha com piedade minhas volubilidades ao servir-te, vem ao encontro de minhas ilusórias esperanças de gratificações para sustentar-me. Forma em mim um coração semelhante ao teu. Dai-me o impulso desinteressado de teu amor. Ata-me continuamente com o amor de Pai, para que possa amar a meus irmãos, como Ele os ama, como tu os amas, como eu quisera amá-los. E os amarei se vens em minha ajuda. Vem, Senhor!

 

CONTEMPLATIO: «Pedi e recebereis, para que vossa alegria seja completa» (Jo 16,24). Esta alegria plena não é a dos sentidos carnais, senão a alegria espiritual; e quando for tão grande que nada possa acrescentar-se a ela, será, evidentemente, completa. Assim, pois, qualquer coisa que peçamos e que tenha como fim a consecução desta alegria plena, é, precisamente, o que devemos pedir no nome de Cristo, se compreendemos de maneira justa o sen­tido da graça divina e se o objeto de nossas orações é a verdadeira felicidade na vida eterna. Qualquer outra coisa que peçamos não tem valor algum, não porque seja inexistente por completo, mas porque, frente a um bem tão grande como a vida eterna, qualquer outra coisa que possamos desejar fora dela é menos que nada (Santo Agostinho).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra: 

                         «Pedi e recebereis, para que vossa alegria seja completa» (Jo 16,24)

 

PARA UMA LEITURA ESPIRITUAL: No clima de secularização em que vivemos, os líderes cristãos se sentem cada vez menos necessários e cada vez mais margi­nados. Muitos começam a perguntar-se se não terá chegado o momento de abandonar o sacerdócio; com frequência respondem que «sim» e vão buscar outra ocupação e unem seus esforços aos de seus contemporâneos para contribuir de modo eficaz a melhorar o mundo. Contudo, não temos de esquecer que existe outra situação completamente distinta.     Por baixo das grandes conquistas de nosso tempo se esconde uma forte impressão de desesperança. Se, por um lado, a eficiência e o controle são as grandes aspirações de nossa sociedade, por outro há milhões de pessoas que, neste mundo orientado ao êxito, têm o coração oprimido pela solidão, a falta de amizade e solidariedade, as relações rotas, o cansaço, a depressão e um profundo sentido de inutilidade. É aqui onde se faz evidente a necessidade de uma nova liderança cristã. O verdadeiro líder do futuro será aquele que se atreve a reivindicar sua própria estranheza no mundo contemporâneo como uma vocação divina que lhe faz expressar uma profunda solidariedade com a angústia que se esconde sob o esplendor do êxito e lhe faz levar a luz de Jesus (H. J.M Nouwen, Nel nome di Gesù, Brescia).

 

 

 

 

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: