LECTIO DIVIDA NA 12ª SEMANA COMUM (23 à 29 de junho 2019)

COMUNIDADE PAZ E BEM-

APOIO LECTIO DIVINA 12ª SEMANA DO TEMPO COMUM DOS DOIS CORAÇÕES

-LECTIO DIVINA – SEMANA DOS SAGRADOS CORAÇÕES DE JESUS E MARIA

 

DOMINGO, 23 DE JUNHO DE 2019- 12ª SEMANA DO TEMPO COMUM ANO C

Lucas 9,18-24 (Profissão de fé de Pedro) Neste texto, situado entre o começo da atividade missionária dos doze e a formação da Igreja, podemos distinguir três partes: a confissão de fé de Pedro (18-20); a primeira pregação da paixão de Jesus (21ss); e cinco ditos de Jesus relacionados com as condições para segui-lo (23-27). No centro da composição está a pessoa de Jesus; o marco geográfico é a solidão; o clima, a oração. No coração de todo o conjunto há uma pergunta, que Ele mesmo faz aos que o rodeiam e que brota direta e impetuosa: «Quem sou eu para ti?». Três são as respostas que, respectivamente, expressam as expectativas das pessoas, as de Pedro e a de Jesus. Completando a confissão de fé de Pedro, que o declara como o «Messias», o «Ungido de ‘Deus», Cristo se identifica com a misteriosa figura do “filho do homem», o que realiza em sua vida terrena a vocação do «Servo de Yahweh»: «Desprezado, rejeitado, pelos homens, carregado de dores e familiarizado com o sofrimento… Mas nós o tínhamos como vítima do castigo, ferido por Deus e humilhado. Mas Ele foi traspassado por causa das nossas transgressões, esmagado por causa das nossas iniquidades… Após uma vida de aflição compreenderá que não sofreu em vão. Meu servo trará a muitos a salvação carregando-se com suas culpas” (Is 53). É o Messias que sofre o Cristo crucificado, o filho do homem contemplado pelo profeta Daniel (7,13), celebrado no Apocalipse (1,7), que «virá em sua glória, e todos lhe verão” (Mt 24,30;26,59). É o homem que carrega sobre si o mal, o sofrimento e a morte que existem sobre o mundo. Cristo, de fato, se entrega ao homem, se expõe à incompreensão e ao desprezo, e se deixa matar numa “entrega total de si mesmo.

 

 

Zc 12,10ss (Libertação e renovação de Jerusalém) Este oráculo recolhido do livro de Zacarias é um anúncio de reconciliação e paz, proclamado num clima de guerra e rivalidade. Jerusalém é alvo das ofensivas de Judá e povos vizinhos, e Deus mesmo toma sua defesa: “Vou fazer de Jerusalém uma taça embriagadora para todos os povos ao redor… Nesse dia farei que Jerusalém seja para todos os povos uma pedra impossível de levantar; todos que tentem levantá-la se ferirão com ela… Farei que se espantem os cavalos e se tornem loucos os cavaleiros. Porei meus olhos em Judá e deixarei cegos todos os cavalos das nações. Então dirão os clãs de Judá: “A força dos habitantes de Jerusalém está no Senhor Todo poderoso, seu Deus”… Naquele dia destruirei todos os povos que atacarem Jerusalém…” (Zc 12,2-9). Sobre este fundo apocalíptico, surge, de improviso, uma profecia de salvação que, de modo inesperado iniciará, exatamente a partir do território inimigo de Judá: «O Senhor salvará, em primeiro lugar, as aldeias de Judá» (v.7). Tem lugar um fato novo, um dado, até agora, desconhecido por completo: uma efusão do Es­pírito, «um espírito de benevolência e de súplica» de per­dão. Todos se dirigem a um personagem misterioso, um «traspassado» (o texto se expressa em primeira pessoa: «Olharão para mim, a quem traspassaram»). O clamor do conflito se torna lamenta­ção nacional: «Farão lamentação como por um filho único e chorarão como se chora a um primogênito»... Com o evangelista João (19,34), nosso olhar se dirige ao Crucificado. Em Jesus morto na cruz se revela a identidade do «traspassado» assinalado pelo profeta; em seu lado aberto se manifesta o manancial do Espírito, difundido sobre todos os homens, do qual falam, também, as profecias de Ezequiel (Ez 37,1-14) e de Joel (v.3), e, por último, nos crentes que olham ao Crucificado, o novo povo de Deus reunido, na Igreja, aos pés da cruz.

 

Gl 3,26-29 (Advento da fé) “Ergue teus olhos ao céu e conta, se podes, as estrelas. Assim será a tua descendência” (Gn 15,5ss). Mas, é preciso chegar ao Novo Testamento, para entender de que descendência fala o texto, pois as promessas foram feitas a Abraão e sua descendência. Não se disse ‘seus descendentes’, como se fossem muitos, mas ‘sua descendência’, referindo-se a um só, quer dizer, a Cristo (Gl 3,16). E eis a pro­messa: «Mas, quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu próprio Filho, nascido de mulher, nascido sob o regime da lei, para libertar-nos da sujeição à Lei e fazer com que recebêssemos a condição de filhos adotivos de Deus. E a prova de que sois filhos é que Deus enviou a nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: ‘Abba’, quer dizer, ‘Pai’» (4,4ss). E, ainda: «Todos vós sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus» (3,26). Esta filiação se dá mediante o batismo, que nos identifica com Cristo: «Cristo vive em mim», disse Paulo (Gl 2,20). Cristo, por meio de seu batismo, volta a dar à convivência humana uma natureza que supera e está acima da nacionalidade, posição social e diferencia sexual. As diferenças não ficam anuladas; ao contrário, permanecem, incluídas e transformadas na única realidade que é Cristo (Cl 2,17): Do mesmo modo que o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, por muitos que sejam não formam mais que um corpo, assim também, Cristo. Porque todos nós, judeus ou não judeus, escravos ou livres, temos recebido um mesmo Espírito no batismo, a fim de formar um só corpo» (1 Cor 12,12ss). Há um caminho para a verdade sobre nós, um caminho de unificação, que cada indivíduo está chamado a realizar em Cristo. É a superação de nossa própria individualidade como objeto absoluto do bem, a superação do conflito que, inevitavelmente, se produz no homem ferido em sua capacidade de compreender e de amar, em virtude da confrontação das diferenças. Esta superação só poderá produzir-se quando cada um souber adorar e respeitar no outro, como em si mesmo, esse mistério que habita no homem: «Cristo em nós» (Cl 1,27), que nos faz dizer: «Cristo é tudo em todos» (Cl 3,11) e «todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3,28).

 

Sl 62/63 (Desejo de Deus) Salmo é rezado todo primeiro domingo de cada mês e em dias de festa e solenidades. Recomendo torná-lo ponto referencial para as orações em busca de santidade e do encontro com Deus. Considerado o Salmo dos contemplativos, seu autor é desconhecido. Muitos atribuem sua autoria a Davi, que o teria escrito enquanto era perseguido por seu filho Absalão. Seja quem for o salmista entra em comunhão com Deus pelo forte desejo e sofrimento. Quando diz “desde a aurora te busco”, expressa o desejo de encontrar o Senhor ainda na aurora, antes do início de qualquer atividade. A terra árida da Palestina faz com que relembre a necessidade de água: metaforicamente, faz analogia com nossa alma, que, assim como a terra, também está seca, com sede. Na Bíblia, os elementos sede e fome caracterizam a ausência de Deus. O próprio Jesus se apresentava constantemente com grande sede e fome de amor de Deus. “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo estar naquilo que é de meu Pai?” (Lc 2,49).

Senhor, este Salmo me encanta. Gostaria de meditá-lo dia e noite e, como o salmista, experimentar na minha vida a sede do teu amor e buscar sem cessar tua presença, esconder-me debaixo das tuas asas e permanecer sereno e tranquilo diante das tempestades da vida. Sinto-me sempre desejoso de bem, mas o mal me ataca por todos os lados. Quero fazer dele minha oração e colocar bem no fundo do coração as palavras: “teu amor vale mais do que a vida! Por isso meus lábios vos louvam”. Ser cântico de louvor corajoso no meio de tantas pessoas que não te conhecem ou não querem te reconhecer como o Deus da vida. Não quero me deixar amedrontar por nada, quero ser teu servo agora e sempre. Na minha família, no meu trabalho, na estrada por onde for, quero ser coerente e levantar minhas mãos para ti, para te louvar e bendizer para sempre. Amém.

MEDITATIO: “O amor é forte como a morte”. Forte como a morte, que entra na vida como a grande estranha, o grande inimigo, umbral inevitável além da qual ninguém sabe o que há. A pregação cristã se insere, exatamente, nesta zona fronteiriça, dentro da grande pergunta do homem. A pergunta de Jesus: “Quem sou eu para ti?”, pronunciada no momento mais dramático de sua vida, quando sabe bem o que vai passar, me pede que lhe re­conheça como alguém que está morrendo por mim, que me está dando sua vida. «Quem sou eu para ti?». Res­ponder a esta pergunta significa responder à pergun­ta decisiva: «Para quem vivo?» Existe acaso um amor maior que este, o amor de quem dá sua vida por outro? Vida e morte se enfrentam nesta dialética do amor. Ali onde a morte se experimenta como di­visão que nos separa daqueles a quem amamos, como dor de separação, nesta «ausência do ama­do» -poderíamos dizer – entra Cristo. Condescendente e presente, exatamente, ali, nesse ponto extremo onde o homem se encontra inexoravelmente afastado, sepa­rado, dividido, ali onde se interrompem as funções vitais. Ele, que é a Vida, morre com o homem… comigo. É a declaração de Deus à humani­dade: «Amo-te até morrer». Esta é a via da Encarnação, a que Cristo elegeu para fazer-se «parceiro» do homem. Ele quis submergir-se por completo (batismo) em todo o abismo de negatividade e de negação, de divisão e de contradição, de pecado e de de­sespero que experimenta o homem, em si mesmo, como morte, como incapacidade de comunicação e de relação verdadeira com o outro. Cristo desposou este meu sofrimento, esta minha morte. Nesta união, na qual não me entrega outra coisa, que ele mesmo e seu próprio ser, entrega-me sua verdadeira vida e, portanto, a minha, que é participação em sua comunhão com o Pai e o Espírito Santo. O Ressuscitado anuncia, com poder, que a vida é o primeiro, o autêntico dado da humanidade: «Deus criou tudo para a vida». O Crucificado ressuscitado proclama que seu amor é mais forte que a morte do homem. Quem pertence a Cristo experimenta, com certeza, sua morte, sua dor e seu sofrimento, sem descontos, porém, tudo se converte em uma passagem (páscoa) à vida que Deus dá, «porque o amor é mais forte que a morte” (Ct 8,6).

 

ORATIO: “E quem sou eu para ti, pois me mandas que te ame, e se não o faço te irritas contra mim e me ameaças com grandes misérias? Porém, já não é muitíssima miséria, simplesmente, o não amar-te? Diz-me, pois, Senhor, por tua misericórdia, quem és Tu para mim. Diz a minha alma: «Eu sou tua saúde». E diz-me de modo que te ouça; abre-me os ouvidos do coração e diz-me: «Eu sou tua saúde». E corra eu atrás dessa voz até alcançar-te. Não esconda de mim teu rosto” (Santo Agostinho).

 

CONTEMPLATIO: Cristo, nossa vida, desceu para levar nossa morte e matá-la…; com potente voz nos chamou para que voltássemos a Ele no se­creto santuário daquele ventre virginal, no qual Ele se desposou com a humana criatura, carne mortal, mas não para sempre mortal; e daí como esposo que sai de seu tálamo, se encheu de exultação, ansioso por per­correr seu caminho (Sl 18,6). Porque não retardou, mas correu, clamando com os ditos, com os fatos, com sua morte, com sua vida, com sua descida e sua ascen­são, que nos voltemos a Ele. E logo desapareceu de nossa vista para que o buscássemos em nosso coração e ali o encontrássemos. Foi-se, mas aqui está. Não quis ficar longo tempo conosco, mas não nos deixou (Santo Agostinho, Confissões).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra: «Quem sou eu para ti?»

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Em 1917, sendo Edith Stein assistente de Edmund Husserl, chega a Friburgo uma notícia dolorosa. Adolf Reinach, assistente também de Husserl, havia morrido no campo de batalha. A dor que sentiu Edith foi grande. Pensou na mulher de Reinach. Edith tinha medo de voltar a vê-la. Seu ânimo estava decomposto: Reinach, que com Husserl constituía o fulcro do círculo de Gotinga, já não vivia. Através de sua bondade, havia podido lançar um olhar sobre aquele mundo que parecia sem saída. A recordação não a ajudava. Que poderia dizer à sua mulher, presa, em desespero? Edith não podia crer numa vida eterna. A atitude resignada da viúva a surpreendeu como um raio de luz que provinha daquele reino escondido. A viúva não se encontrava abatida pela dor. Apesar do luto, estava cheia de uma esperança que a consolava e a dava paz. Frente a esta experiência, se tornaram insignificantes os argumentos racionais de Edith Stein. Não foi o conhecimento claro e distinto, mas o contato com a essência da verdade o que transformou a Edith Stein. A fé brilhou para ela no mistério da cruz. Teve que percorrer, todavia, um largo caminho antes que conseguisse extrair todas as consequências desta experiência. A uma pensadora como Edith Stein não era fácil cortar todas as raízes e atrever-se a dar o salto à nova vida. Mas o impacto foi tão forte que ainda pouco antes de sua morte, falava nestes termos de sua experiência ao padre Hirschmann, jesuíta: “Foi meu primeiro encontro com a cruz e com a força divina que ela comunica a quem a leva. Vi pela primeira vez, tangível e ante mim, à Igreja, na cidade a dor do Redentor, em sua vitória sobre a punção da morte. Foi este o momento no qual se fez insignificante minha incredulidade e brilhou a luz de Cristo, Cristo no mistério da cruz” (Edith Stein, A mística da cruz).

 

 

 

SEGUNDA-FEIRA, 24 DE JUNHO,  Natividade de João Batista- ESTUDO BÍBLICO

24 DE JUNHO DE 2016- 12ª SEMANA DO TEMPO COMUM ANO PAR

Lucas 1,57-66.80 (Nascimento; Circuncisão e vida oculta de João Batista) Texto se preocupa em contar, no início, a infância de João Batista junto à infância de Jesus: um paralelismo literaria­mente belo e rico do ponto de vista teológico. «Quanto a Isabel, completou-se o tempo para o parto» (v.57) deu a luz a João: este nascimento é prelúdio do nascimento de Jesus. Um menino que anuncia a presença de outro menino. Um nome, o de João, que é prelúdio de outro nome: o de Jesus. Uma presença absolutamente relacionada à de outro. Um acontecimento extraordinário (a maternidade de Isabel) que prepara outro (a maternidade virginal de Maria). Uma missão que deixa sentir antecipadamente o gosto da de Jesus. Não vem ao caso contrapor, de uma maneira drástica, a missão de João Batista à de Jesus, como se a primeira se caracterizasse totalmente, e de maneira exclusiva, pela penitência, enquanto que, a segunda, pela alegria messiânica. Trata-se na verdade de uma única missão em dois tempos, segundo o projeto salvífico de Deus: dois tempos de uma única história, que se desenrola seguindo ritmos alter­nados, ainda que sincronizados.

 

 

Is 49,1-6 (Segundo canto do servo) Entre os «cantos do servo de Yahweh», o que acabamos de ler muito manifesta o sentido e a natureza da missão que se confiou a este, desde o dia em que foi concebido no seio de sua mãe: uma circunstância que corresponde bem a São João Batista. O servo de YAHWEH recebe do Senhor um nome, um chamado, uma revelação. Foi reservado a ele um trato especial, em consideração à missão – igualmente especial – que lhe espera. A ele se revela essa glória que ele deverá fazer resplandecer ante os que es­cutarão sua palavra. A missão do servo de YAHWEH conhecerá, também, as dificuldades e as asperezas da crise, justamente como acontecerá a João Batista. O verdadeiro profeta, sem dúvida, só espera de Deus sua recompensa, e confia na «defesa» que só Deus po­de assegurar-lhe. Por último, surpreende nesta leitura a abertura universalista da missão do servo de YAHWEH: será «luz das nações para que minha salvação chegue até os confins da terra» (v.6).

 

At 13,22-26 (Pregação de Paulo diante dos judeus) Em seu discurso da sinagoga de Antioquia, o apóstolo São Paulo faz uma referência explícita à figura e à missão de João Batista, o qual é sinal da grande importância que a gigantesca imagem deste profeta tinha no seio da primitiva comunidade cristã. Neste texto sobressaem duas grandes figuras: Davi e João Batista. Dois profetas que prepararam a vinda do Messias de modos distintos e em tempos diferentes. Ao profeta Davi foi entregue uma promessa, enquanto que João devia pregar um batismo de penitência. Ambos olhavam ao futuro Messias, ambos eram testemunhos daquele devia vir e ser reconhecido como Messias. O que surpreende nesta página é a claridade com a qual João Batista identifica a Jesus e, em consequên­cia, define a si mesmo. Esta é a primeira e insubstituível tarefa de todo autêntico profeta.

 

Sl 138/139 (Homenagem ao Deus onisciente) Agradecer a Deus e louvar são dois verbos que soam suaves aos ouvidos de Deus. Eles expressam e manifestam o que há no interior do ser humano, que é constantemente enriquecido pela força do Senhor e salvo de tantos perigos por sua mão bondosa. O salmista não agradece somente por sua vida, mas por todo o seu povo. O coração de quem reza e realmente conhece a Deus não é egocêntrico, mas pensa no bem comum. Os seus olhos são purificados: se vê o mal, é para amaldiçoá-los; se vê os maldosos, é para interceder a fim de que se convertam e renunciem aos ídolos e falsos deuses. Devemos lutar diariamente para que não sejamos contaminados pelo mal que está ao nosso redor. Peçamos a Deus a mesma proteção do salmista, que se sente seguro quando também atravessa grandes perigos. Com o Senhor nenhum mal poderá nos atingir.

Senhor Jesus Cristo, sei que tudo fazes por mim, basta crer no teu amor e fidelidade. Por que às vezes sou tão “cabeça dura”, orgulhoso, e acredito que a salvação vem do poder, do dinheiro dos fortes, dos amigos importantes? Por que me esqueço da tua fidelidade e misericórdia? Senhor, não permitas que me afaste de Ti, mesmo que caminhe nos perigos, que seja circundado por idólatras; que eu nunca Te abandone. E se, porventura, Te abandonar, coloca no meu caminho profetas corajosos que me encorajem e me façam voltar ao reto caminho. Que grave no meu coração tuas palavras: “O Senhor fará tudo por mim” e que nunca me esqueça de Ti, da tua providência. Se cheguei até hoje, é porque teu amor nunca me faltou, e sei que nunca me faltará. Amém.

 

MEDITATIO: Sabemos que a missão de João Batista foi, sobretudo, preparar o caminho a Jesus. Daí a importância de meditar sobre o dever de preparar a vinda de Jesus, tanto nas almas como na história. É este um dever que incumbe a cada verdadeiro crente. Pre­parar é mais que anunciar. É preciso pôr a serviço de Jesus e de seu projeto salvífico, não só as palavras, mas toda a vida. Desta perspectiva podemos cap­tar o sentido da presença de João Batista no início da história evangélica: com seu comporta­mento penitencial, João quis fazer compreender a seus contemporâneos que havia chegado o tempo da grande decisão; a saber, a de estar do lado de Jesus ou contra ele. Com o batismo de penitência, João queria fazer compreender que havia chegado o tempo de mudar de rota, de inverter o sentido da marcha, precisa e exclusivamente por causa da iminente chegada do Messias-Salvador. Com sua pregação, João Batista queria sacudir a preguiça e a inércia de muita gen­te de seu tempo que, de outro modo, nem sequer se teria dado conta da presença de uma novidade descon­certante, como foi a de Jesus. Mas, foi, sobretudo, com sua «paixão» que João Batista preparou seus contemporâneos para receber Jesus: exatamente para dizer-nos, também, que não há pre­paração autêntica para a acolhida de Jesus se esta não passa através da entrega de nós mesmos, atra­vés da Páscoa.

 

ORATIO: Ó Deus de nossos pais, Tu nos chamas a ser «voz»: concede-nos reconhecer tua Palavra, a única Palavra de vida eterna, para que só anunciemos esta Verdade aos irmãos. Ó Deus de nossos pais, Tu nos chamas a ser «o amigo do Esposo»: faz-me solícito a preparar os corações dos homens, para que estejam bem dispostos a acolhê-lo. Ó Deus de nossos pais, Tu nos chamas a assinalar o Cordeiro de Deus aos homens: faz que nunca me ponha acima dele, mas que Ele cresça e eu diminua.

 

CONTEMPLATIO: Grita, ó Batista, ainda hoje, no meio de nós, como naquele tempo no deserto. Grita, ainda, entre nós, com voz mais alta: nós gritaremos, se tu gritas, calaremos se tu te calas. Rogamos-te que soltes nossa língua incapaz de falar, como naquele tempo soltaste, ao nascer, a de teu pai Zacarias (cf. Lc 1,64). Conjuramos-te, ó Senhor, que nos dês voz para proclamar tua glória, como deste a ele ao nascer, para dizer, publicamente, teu nome. (Sofrônio de Jerusalém).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Serás chamado profeta do Altíssimo, pois irás à frentedo Senhor para preparar seu caminho»

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL O primeiro testemunho qualificado da luz de Cristo foi João Batista. Em sua figura captamos a essência de toda missão e testemunho. Por isso ocupa uma posição tão importante no prólogo e emerge com sua missão antes inclusive de que a Palavra apareça na carne. É testemunho com as vestes de precursor. Isso significa, sobretudo, que ele é o final e a conclusão da antiga aliança e que é o primeiro a cruzar, vindo da antiga, o umbral da nova. Neste sentido, é a consumação da antiga aliança, cuja missão se esgota aludindo a Cristo. Por outra parte, João é o primeiro a dar testemunho real da mesma luz, porque sua missão está claramente do outro lado do umbral e é uma missão neotestamentária. A tarefa veterotestamentária confiada por Deus a Moisés ou a um profeta era sempre limitada e circunscrita no interior da justiça. Esta tarefa era confiada e podia ser executada de tal modo que mandato e execução se corresponderiam com precisão. A tarefa veterotestamentária confiada a João contém a exigência ilimitada de testemunhar a luz em geral. É confiada com amor e, por mais dura que possa ser, com alegria, porque é confiada no interior da missão do Filho (A. Von Speryr, Il Verbo si fa carne, Milan)

ANEXOS:

São João Paulo II (Homilia em Kiev, 24/6/01)

«O seu nome é João»

«O Senhor chamou-me desde o seio materno, pronunciou o meu nome desde as entranhas de minha mãe» (Is 49,1).

Celebramos hoje o nascimento de Joâo Batista…

Hoje podemos fazer nossa esta exclamação.

Deus conheceu-nos e amou-nos antes mesmo que os nossos olhos
pudessem contemplar as maravilhas da criação.

Ao nascer, cada homem recebe um nome humano.

Mas, ainda antes disso, ele possui um nome divino: o nome pelo qual Deus Pai o conhece e o ama desde sempre e para sempre.

É assim para todos, sem exclusão.

Nenhum homem é anônimo para Deus!

Todos possuem igual valor aos seus olhos: todos são diferentes, mas todos iguais, todos chamados a ser filhos no Filho.
«João é o seu nome» (Lc 1,63).

Zacarias confirma o nome do seu filho perante os parentes maravilhados, escrevendo-o numa tabuinha.

O próprio Deus, por intermédio do seu anjo,tinha indicado este nome, que em hebreu significa «Deus é favorável».

Deus é favorável ao homem: quer que ele viva, quer sua salvação.

Deus é favorável ao seu povo: quer fazer dele uma bênção para todas as nações da terra.

Deus é favorável à humanidade: guia o seu caminho para a terra onde reinam a paz e a justiça.

Tudo isto está inscrito nesse nome: João!

 

 

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TERÇA-FEIRA, 25 DE JUNHO DE 2019- 12ª SEMANA DO TEMPO COMUM –ANO PAR

Mateus 7,6.12-14 (Não profanar as coisas santas; A regra de  ouro; Os dois caminhos) Falamos aqui de alguns ditos do Senhor reunidos pelo evangelista no magno «sermão da montanha». O texto litúrgico omite os versículos relativos às «coisas boas» que os homens trocam entre si e que o Pai celestial concede a quem as pedem. O primeiro tem a ver com o uso do nome «santo»: o sentido desta expressão não está claro, ainda que possamos subentender com ela a Palavra evangélica e, em último lugar, a Eucaristia. Parece que se esboça aqui o que será definido como «a disciplina do arcano». Consiste esta em não revelar os santos mistérios aos estranhos e, menos ainda, à pessoas indignas. «Se fechamos nossas portas antes de celebrarmos os mistérios e excluímos os não iniciados, é porque há ainda muitos que estão pouco preparados para participar nestes sacramentos», afirma João Crisóstomo. Com o termo «cães» se designava, de modo depreciativo, os pagãos tidos como idólatras (cf Mt 15,26ss) e apenas se atenua a palavra («cachorrinhos»). Os que mantinham conduta contrária a Lei eram comparados a porcos, considerados animais impuros. Segundo Jerônimo, «alguns querem ver nos cães, os que, após haver crido em Cristo, voltam ao vômito de seus pecados; e nos porcos os que, não crendo, seguem revolvendo-se em seus vícios e na lama da incredulidade”. Assim, não convém confiar, de imediato, a tais homens, a pérola do Evangelho, “por medo que a pisoteiem e voltando-se contra nós tentem destroçar-nos”. Ante à bondade divina, os homens são «maus»; sem dúvida, são capazes de dar pão e peixe. Mas, (que «pão» e que «peixe» não nos dará o Pai com o dom de seu Filho? Estas «coisas boas» são «cer­tamente, antes de tudo, os bens superiores, o Reino e a justiça de Deus. Lc 11,13 diz “dará o Espírito Santo” aos que o peçam. O Espírito é o dom por excelência, sempre conforme a vontade de Deus e, se concede, sempre, aos que o pedem: espírito de vida e regeneração, inteligência das Escrituras, discernimento espiritual, carismas vários na comuni­dade. Mas, há muitas outras coisas que podem ser “boas” no marco e da perspectiva do Reino e de sua justiça: uma boa saúde e o pão de cada dia, assim como, a paz e a tranquilidade favorável ao bom trabalho. Devemos abster-nos, pois, de uma excessiva timidez, de um orgulho espiritualista, de um estoicismo cristão, ou como se queira dizer, que venha a deter a espontaneidade natural da oração dos filhos ao Pai» (G. Miegge). O v.12 constitui a «regra de ouro» do agir cristão. A encontramos, ainda que formulada de modo negativo, em Tb 4,15 e não falta, tampouco, nas antigas tradições espirituais. Temos de assinalar ainda a insistência no fazer, que se repete mais vezes neste último capítulo do sermão da montanha. Por último, estão as duas portas e os correspondentes caminhos aos que dão acesso. A doutrina dos dois caminhos estava já no Antigo Testamento (Dt 30,15-20) e foi recuperada na primeira catequese cristã. A imagem da porta e do caminho remete ao próprio Cristo (Mt 22,16), que atribui, a si mesmo, esta dupla realidade (Jo 10,7;14,6), e aos Atos dos apóstolos, onde aparece com frequência.

 

 

 

2 Rs 19,9b-11.14-21.31-35ª.36(Carta de Senaquerib a Ezequias; Intervenção de Isaias) A narração bíblica prossegue falando da massiva imigração de cinco estirpes estrangeiras e idolátricas (os famosos «cinco maridos» de Jo 4,18) em terras dos samaritanos, imigração que provocou um autêntico sincretismo: «Essas nações adoravam a Iahweh e prestavam culto a seus ídolos, e seus descendentes seguem fazendo o mesmo até o dia de hoje» (2 Rs 17,41). A Judá aguardava um destino que não era diferente. Reinava, ali, o piedoso rei javista: Ezequias (716-687). Este buscou salvar Jerusalém entrando em uma relação de vassalagem com a Assíria (2 Rs 18,13ss). Apesar disso, a reação anti assíria com o apoio egípcio, era viva. O texto que hoje nos oferece a liturgia nos apresenta a carta do rei da Assíria, Senaquerib (704-681), na qual ameaça Ezequias de pôr-se contra ele. Ao mesmo tempo, Isaias, em um extenso canto que inclui o oráculo divino (vv.21-34, reduzidos no mesmo texto litúrgico), anuncia a derrota do exército de Senaquerib, por obra do próprio Senhor, dizimado, provavelmente, pela peste.

 

 

Salmo 47/48, 2-4.9d-11 (Sião, a montanha de Deus) Onde e como podemos contemplar o Senhor? No templo santo, que é sua casa e morada preferida. Perdemos o referencial do templo como lugar de morada de Deus, mas, em todos os povos e em todos os tempos, a mais bela arte sempre foi à religiosa, na qual os artistas de todas as épocas transmitiram a sua capacidade contemplativa. Assim, quem de nós não fica extasiado diante das igrejas cujas artes são insuperáveis? É o momento de bendizer ao Senhor pela tua “casa” e fazer com que os templos sejam o símbolo mais belo da expressão artística do ser humano.

Senhor, se todas as igrejas e templos são belos, não há dúvida de que o único templo que é digno de ti é o coração humano, onde tu poder ser amado, não friamente, mas com o calor do amor e do afeto. Quero aprender a contemplar-te nas pessoas, seja quem for, mas concedendo uma atenção especial aos mais pobres e excluídos – que são teus preferidos e amados. Amém.

 

 

 

MEDITATIO: As «pérolas», segundo João Crisóstomo, são «os mis­térios da verdade», ou seja, a totalidade do patrimônio revelado. Em consequência, deixarei aparecer que con­sideração eu tenho à Palavra divina. O texto litúrgico omite os vv.7-11, relacionados com a eficácia da oração. Os lemos diretamente na Bíblia, a fim de convertê-los em objeto de meditação. A Glosa medieval explicita o trinômio «pedir, buscar e chamar», dizendo que «nós pedimos com a oração, buscamos com a retidão da vida e chamamos por meio da perseverança».        O texto nos convida, de outro lado, a perguntar-nos se somos capazes de dar coisas boas aos irmãos, coisas que se convertem, assim, na medida de nossas ações. Por último, tomo consciência se vou pelo caminho estreito que é Cristo ou se tento fazer o percurso cômodo e grati­ficador ao preço de compromissos e mediocridade.

 

 

 

ORATIO: Clementíssimo Senhor, faz-me entrar pela porta da salvação e na vida da glória, após ter percorrido o caminho estreito da justiça e da penitência. Ensina-me a evitar as sugestões dos enganadores e concede-me a simplicidade e a inocência dos homens espirituais. Que meu coração lance suas raízes, não na terra, mas no céu, de modo que seja encontrado fiél nos frutos das boas obras, mais que só na folhagem das palavras. Concede-me cumprir a vontade do Pai celestial e traduzir em obras as palavras que escuto de ti, de sorte que, arraigado em ti, não tenha tentação que me separe de ti. Amém (Landulfo de Sajonia).

 

CONTEMPLATIO: O caminho largo é o apego aos bens do mundo, os quais os homens desejam ardentemente. Estreito é o que se percorre ao preço de fatigosas renúncias. Observa, também, como insistem os indivíduos que marcham pelos dois caminhos: são muitos os que caminham pelo caminho largo, enquanto que só poucos encontram o estreito. Não é preciso ir buscar o caminho largo, nem resulta difícil encontrá-lo: apresenta-se este, espontaneamente, a nós, porque é o caminho dos que se equivocam; o estreito, ao contrário, nem todos o encontram, e os que dele falam nem sempre entram nele de imediato. Muitos, de fato, ainda que tenham encontrado o caminho da verdade, voltam atrás do meio do caminho, presos pelas seduções do mundo (Jerônimo, Comentário ao evangelho de Mateus).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

«Quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedem!» (Mt 7,11)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL – O caminho dos seguidores é estreito. Resulta fácil não adverti-lo, resulta fácil falseá-lo, resulta fácil perdê-lo, inclusive quando alguém já está em marcha por ele. É difícil encontrá-lo. O caminho é realmente estreito e o abismo ameaça por ambas as partes: ser chamado ao extraordinário, fazê-lo e, sem dúvida, não ver nem saber que se faz…, é um caminho estreito. Dar testemunho da verdade de Jesus, confessá-la e, sem dúvida, amar ao inimigo desta verdade, inimigo seu e nosso, com o amor incondicional de Jesus Cristo…, é um caminho estreito. Crer na promessa de Jesus Cristo de que os seguidores possuirão a terra e, sem dúvida, sair indefesos ao encontro do inimigo, sofrer a injustiça antes que cometê-la…, é um caminho estreito. Ver e reconhecer ao outro homem em sua debilidade, em sua injustiça, e nunca julgá-lo, sentir-se obrigado a comunicar-lhe a mensagem e, sem dúvida; não lançar as pérolas aos porcos…, é um caminho estreito. É um caminho insuportável. Em qualquer instante podemos cair. Enquanto reconheço este caminho como o que me é ordenado seguir, e o sigo com medo a mim mesmo, este caminho me resulta efetivamente impossível. Porém se vejo a Jesus Cristo precedendo-me passo a passo, se só olho a ele e lhe sigo passo a passo, me sinto protegido. Se me fixo no perigoso do que faço, se olho ao caminho em vez daquele que me precede, meu pé começa a vacilar. Porque Ele mesmo é o caminho. É o caminho apertado, a porta estreita. Só interessa encontrar a Ele (Dietrich Bonhoffer, El precio de la gracia).

 

 

 

QUARTA-FEIRA, 26 DE JUNHO DE 2019- 12ª SEMANA DO TEMPO COMUM ANO PAR

Mateus 7,15-20 (Os falsos profetas) Jesus põe seus discípulos em guarda contra os “falsos profetas” e lhes indica o critério da verdade da conduta cristã. Consiste este nos “frutos” que se esteja em condições de produzir. Mateus denunciará, de maneira repetida, no discurso escatológico do Senhor, a insídia que constituem os falsos profetas (Mt 24,11.24). O ensinamento da Didaqué não difere deste (11,4-8). A imagem da árvore e, em particular, da árvore da Videira, tem aqui a função de indicar o povo de Deus e era uma imagem bastante familiar aos ouvintes de Jesus (cf Is 5,1ss; Jr 2,21; Mt 15,13; Jo 15,1-8). Pelo fruto se reconhece a árvore, do mesmo modo que, também a árvore produz frutos conforme a sua natureza: pode tratar-se de uma árvore boa ou de uma árvore enfer­ma, viciada.

 

 

2Rs 22,8-13;23,1-3 (Descoberta do livro da lei; Consulta à profetisa Hulda; Leitura solene da Lei) A Ezequias, curado milagrosamente por Isaías (2 Re 1,11; cf Is 36-38), sucedeu o longo reinado de Manassés (687-642), durante o qual a apostasia chegou até o ponto de se perder as pegadas do livro da aliança (2 Rs 23,2.21): provavelmente trata-se da seção legislativa do Deuteronômio, onde se reivindicava um só Deus e um só templo. O «ímpio Manassés», comparável a Acab por sua ferocidade, segundo a tradição, fez cortar em dois, o profeta Isaías. Depois dele veio Josias (640-609), tataraneto de Ezequias, sob cujo governo foi encontrado o livro da Lei, e isto foi recebido como um sinal de reprovação pela conduta infiel do povo de Deus, de cuja parte a profetisa Hulda anunciava um indefectível castigo (2 Rs 22,14-20). Isso impulsionou o rei a fazer a leitura da Lei e a renovar a Aliança, como aconteceu no Sinai (Ex 24,7ss) e em Siquém (Js 24,25-27), e também a convocar uma celebração solene da páscoa. Por outra parte, Josias continuou esperando a desejada reforma, aproveitando, assim, uma menor pressão assíria (2 Rs 23,4-30).

 

Salmo 118/119, 33-37.40 (Elogio da lei divina) Esta é uma oração sem fim. Provavelmente é obra não só de uma pessoa, mas de várias, que elogiam por meio de muitos artifícios literários a Palavra de Deus, a lei do Senhor, como fundamento de todo o agir humano. É um Salmo belíssimo que deve ser “saboreado” lentamente, um versículo por dia. Assim, teremos por mais de meio ano assegurado a nossa meditação. Deus se comunica conosco não para nos oprimir ou dominar, mas para ensinar-nos os caminhos mais fáceis da felicidade. Felizes os que vivem a Palavra de Deus e a ensina aos outros. Medite dia a dia este Salmo e sua vida, sem dúvida, será diferente, sendo fortalecida não por palavras humanas, mas pela Palavra de Deus.

Senhor, não quero fugir de tua Palavra nem desprezá-la. Quero amá-la como Lâmpada para os meus pés e luz no meu caminho. “Lâmpada para meus passos é tua palavra e luz no meu caminho. Jurei, e o confirmo guardar tuas justas normas. Meu sofrimento passa dos limites, Senhor, dá-me vida segundo tua palavra. Senhor, aceita as ofertas dos meus lábios, ensina-me tuas normas. Minha vida está sempre em perigo, mas não esqueço a tua lei. Os ímpios me armaram laços, mas não me desviei de teus preceitos. Minha herança para sempre são teus testemunhos, são esses a alegria do meu coração. Inclinei meu coração a cumprir teus estatutos, desde agora e para sempre”. Amém.

MEDITATIO: Jerônimo nos faz cair em conta de que Jesus nos convida a não deter-nos na “folhagem” da árvore e a tomar como critério de valorização da conduta humana os “frutos» que produz. Posso deter-me na meditação sobre os frutos que acompanham a vida do cristão. Encontro-os nas cartas paulinas (Gl 5,22; Rm 14,17; Ef 5,9) e os disponho seguindo a tríplice referência com a qual a Escritura apresenta o ser humano: o coração, lábios e mão. É em torno destes três pólos que gravitam tudo que é vivenciado pelo homem (sentimentos, pensamentos, palavras e ações). O coração constitui o centro profundo de nosso ser; a boca preside a comunicação, e a mão, verdadeira prolongação da consciência, preside a ação. Realizo um caminho introspectivo, detendo-me a meditar nestes centros de gravidade: coração: caridade, magnanimidade, fidelidade, justiça; boca: alegria, mansidão, verdade, benevolência; e mão: paz, bon­dade, domínio de si mesmo, “dedo da destra de Deus».

 

 

ORATIO: Senhor, eu sou um sarmento enxertado em ti, árvore da verdadeira vida. De ti me chega à seiva da Palavra e da Eucaristia. Só em ti posso dar frutos para a vida eterna. Concede-me aceitar as podas que o Pai opera em mim, para que possa frutificar mais.

 

 

CONTEMPLATIO: Ademais, ao dizer, o Senhor, que poucos são os que o encontram, uma vez mais afirma a inércia dos comuns, a respeito do que ensinou a seus ouvintes a seguir, não as comodidades dos que são maioria, mas os trabalhos dos poucos. Pois a maioria – nos diz– não só não andam por esse caminho, mas também não querem andar, o que é suma loucura. Mas, não se deve olhar a maioria nem de­ixar-se impressionar por seu número, mas imitar aos poucos e, protegendo-nos bem, por todas as partes, empreen­der, assim, decididamente, a marcha. Porque, além de ser caminho estreito, há muitos que querem impedir-nos para que não entremos por ele. Por isso acrescenta o Senhor: Cuidado com os falsos profetas! Porque virão a vós vestidos com pele de ovelhas, porém..”. “Eis aqui, ao lado dos cães e porcos, esta outra linhagem de armadilha e insídia, ainda mais perigosa, pois se uns atacam franca e abertamente, estes o fazem entre sombras” (João Crisóstomo). “Toda árvore boa dá frutos bons, enquanto que a árvore má dá maus frutos». Estas palavras nós podemos aplicá-las a todos aqueles homens que falam e se comportam de um modo, e logo fazem de outro totalmente distinto. Porém, em particular, se referem aos hereges, que cuidam da continência, castidade e jejum, mas, em seu interior, tem uma alma en­ferma que os leva a enganar aos corações simples dos irmãos. Pelos frutos de sua alma, com os quais arrastam os simples à ruína, são comparados com os lobos vorazes […]. Esta é a verdade: enquanto a árvore boa não dê fru­tos maus dá a entender que persevera na prática da bondade; por sua parte, a árvore má continua dando os frutos do pecado até que não se converte à penitência. De fato, ninguém que continue sendo o que foi pode começar a ser o que ainda não é. (São Jerônimo)

 

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

“Por seus frutos os conhecereis» (Mt 7,20)

 

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Deu-se a separação entre o mundo e a comunidade. A Palavra de Jesus está agora na comunidade, julgando e separando, a qual deve dar-se, de modo sempre novo, em meio aos discípulos de Jesus. Estes não devem pensar que podem fugir do mundo e permanecer sem perigo algum no pequeno grupo que se encontra no caminho apertado. Surgirão falsos profetas, aumentando a confusão e a solidão. “Junto a nós se encontra alguém que aparentemente é um membro da comunidade, um profeta, um pregador; sua aparência, sua palavra, suas obras, são as de um cristão, porém interiormente são motivos obscuros os que lhe hão impulsionado para nós; interiormente é um lobo rapaz, sua palavra é mentira e sua obra engano. Sabe guardar muito bem seu segredo, porém na sombra segue sua obra tenebrosa. Encontra-se entre nós não impulsionado pela fé em Jesus Cristo, mas porque o diabo lhe há conduzido até a comunidade. Busca, talvez, poder, influência, dinheiro, a glória que tira de suas próprias ideias e profecias. Busca o mundo, não ao Senhor. Dissimula sombrias intenções sob uma veste de cristianismo, sabe que os cristãos formam um povo crédulo. Conta com não ser desmascarado em seu hábito inocente. Porque sabe que aos cristãos lhes está proibido julgar, coisa que está disposto a recordar-lhes quando necessário. Efetivamente, ninguém pode ver no coração do outro. Assim desvia a muitos do bom caminho. Talvez ele mesmo não saiba nada de tudo isto; talvez o demônio, que lhe impulsiona, lhe impede ver com claridade sua própria situação”. Tal declaração de Jesus poderia inspirar aos seus um grande terror. Quem conhece o outro? Quem sabe se por traz da aparência cristã não se oculta a mentira, não espreita a sedução? Uma desconfiança profunda, uma vigilância suspeitosa, um espírito angustiado de crítica poderiam introduzir-se na Igreja. Esta palavra de Jesus poderia incitar-lhes a julgar sem amor a todo caído no pecado. Mas Jesus liberta os seus desta desconfiança que destruiria a comunidade. Disse: “a árvore má dá frutos maus”. A seu tempo se dará a conhecer por si mesmo. Não necessitamos ver no coração de ninguém. O que devemos fazer é esperar até que a arvore dê seus frutos. Quando chegar o tempo, distinguireis as árvores por seus frutos. E o fruto não pode fazer-se esperar muito. O que se trata aqui não é da diferença entre a Palavra e a obra, mas entre a aparência e a realidade. Jesus nos disse que um homem não pode viver muito tempo de aparências. Chega o momento de dar os frutos, chega o tempo da diferenciação. Cedo ou tarde se revelará o que realmente é. Pouco importa que a árvore não queira dar frutos. O fruto vem por si mesmo. Quando chegar o momento de distinguir uma árvore da outra, o tempo dos frutos revelará tudo. Quando chegar o momento da decisão entre o mundo e a Igreja, o que pode ocorrer qualquer dia, não só nas grandes decisões, mas também nas decisões ínfimas, vulgares, então se revelará o que é mau e o que é bom. Nesse instante subsistirá a realidade, na aparência (Dietrich Bonhoffer).

 

QUINTA-FEIRA, 27 DE JUNHO DE 2019- 12ª SEMANA DO TEMPO COMUM ANO PAR

Mateus 7,21-29 (Os verdadeiros discípulos; Espanto da multidão) A conclusão do “sermão da montanha” inclui um pôr em guarda contra a presunção de salvar-se em virtude da invocação do nome divino, sem que esta invocação vá acompanhada de um comportamento coerente, ou em virtude de ações carismáticas que não vão acompanhadas pela caridade, ainda quando possam ser sinais da própria fé, como nos ensina Mc 16,17. “Profetizar, realizar milagres e expulsar demônios”, sustenta Jerônimo, “não revela em ocasiões os méritos de quem realiza tais ações: é a invocação do nome de Cristo o que faz possível semelhantes acontecimentos, que são concedidos para condenação daqueles que invocam a Cristo em benefícios de quantos são testemunhos seus. Os que realizam milagres, ainda que desprezem aos homens, honram, não obstante, a Deus, em cujo nome realiza os prodígios”. A alternativa frente à qual se nos põe está contida entre os termos “dizer” e “fazer”. É preciso assinalar, a seguir, que Cristo se põe a si mesmo como referência (me dirão…; estas minhas palavras...) no juízo final (cf.Mt 25). Também resulta indicativo o sublinhado do muitos: “Muitos me dirão…”. No texto original se lê um “então eu declararei” que é uma clara alusão ao “dia do Senhor”, ao dia do juízo. O fato de que Cristo declare não conhecer (como na parábola das virgens néscias: Mt 25,12) a tais “obreiros de iniquidades” (cf. Mt 13,41;24,12, onde se repete o mesmo termo) recorda a fórmula judia de excomunhão pronunciada pelo mestre, fórmula que comportava a suspensão temporal do discípulo. O sermão da montanha volta a propor o grande esquema das bênçãos e das maldições frente às quais se colocava o povo da aliança (Lv 26; Dt 28) e termina com a expressão “sua ruína foi grande”, que estabelece um contraste singular com as palavras do começo: “Felizes…” Temos de assinalar ainda o simbolismo escondido nos termos “rocha” (Cristo) e “casa” (Igreja). Por último, Cristo apresenta uma dupla escuta: a superficial e não comprometida e a ativa, assim como o diferente desenlace de uma e outra. Não sem razão o Senhor nos põe em guarda no Evangelho de Lucas, dizendo: “Prestai atenção a como escutais” (Lc 8,18). Também Tiago em sua Carta (1,22-25) sobre a dupla escuta. “Portanto, o homem não teme de palavra às nubladas supertições, porque não se pode entender de maneira diferente a chuva quando se usa como símbolo de um mal; não teme os falatórios dos homens que suponho em analogia com os ventos, ou bem o rio desta vida que discorre, por assim dizer, sobre a terra com os estímulos carnais. Quem se deixa conduzir pelo curso favorável destas três eventualidades se vê arrolado pela inversão do curso. Ao contrário, não teme nada da chuva nem do vento quem construiu sua casa sobre a rocha, ou seja, quem não só escuta, mas que põe em prática a Palavra do Senhor. E quem a escuta e não a põe em prática se arrisca a tudo isso; em efeito, carece de um fundamento firme; ao escutar e não praticar constrói sua queda” (Santo Agostinho).

 

 

2 Re 24,8-17 (Introdução ao reinado de Joaquim; A primeira deportação) À ameaça da Assíria (que tanto se havia apoiado no Egito para conter o expansionismo babilônico) veio depois o da Babilônia. Uma vez caída Nínive (612), Nabucodonosor se converteu em rei da Babilônia (605) e se apoderou do frágil reino de Jeconias. Conquistou Jerusalém na primavera do ano 598 e procedeu a uma primeira deportação na qual se viu implicado o profeta Daniel. Em substituição de Jeconias, um inepto para as armas, foi nomeado Sedecias (598-587) como rei de Judá. Nesta situação se desenvolveu o trabalho do profeta Jeremias (Jr 22,13-17). O autor sagrado relaciona sempre os dramas de seu povo com a infidelidade ao Senhor (v.9, que recorda os funestos acontecimentos acontecidos sob Joaquim, pai de Jeconias, narrados ao começo do capitulo 24).

 

Sl 78/79, 1-5.8-9 (Lamentação nacional) Salmo de súplica ante a tragédia vivida por Israel: exílio, derrota de uma batalha, abandono de Deus, crescimento do ateísmo, etc. O salmista está cansado de sofrer e ser constantemente indagado: onde está teu Deus? É comum ao homem, quando seu pedido não é atendido, acusar a Deus de impotente. No entanto, é preciso ter uma visão diferente do Senhor: Ele nos dá o que necessitamos para nossa salvação e para a realização de seus projetos. O salmista sente-se triste ao contemplar a cidade destruída, o povo disperso e a guerra que está às portas. Mas neste momento reassume a fé e confia no Senhor. O salmista reafirma com coragem, destemido diante de Deus: “nós somos o teu povo, vem em nosso socorro!” Se o nosso olhar pudesse percorrer rapidamente todos os cantos do mundo, ficaria simplesmente abismado em ver as centenas de guerras que, todos os dias, se desencadeiam pela maldade humana, ficaríamos sem palavras em ver quantas barbaridades se cometem por dia, quanto mal existe na humanidade… E então escutaríamos alguém que, já tendo perdido a fé, zomba de nós, dizendo-nos: “onde está teu Deus?” E nossa resposta seria o silêncio, que nos levantaria em juízo contra nós mesmos.

Senhor, é triste o que vemos, mas cremos que o bem é maior e que a vitória definitiva será do amor e do bem. Senhor, dá-nos coragem para não nos abater ao peso do nosso desânimo e da nossa fraqueza. Quero, Senhor, aprender a ti agradecer diante dos sofrimentos, e mesmo que na hora não entenda o porquê, sei que um pai nunca pode desejar o mal ao filho, por isso nós somos teus filhos e tudo que vem de tuas mãos é bom. “Se recebemos de Deus o bem, por que também não receber o mal?” Ajuda-nos a entender esta lógica que foge da minha compreensão. Amém.

 

 

MEDITATIO: “Se alguém vive a Palavra de Deus, se converte em filho de Deus” (Jerônimo) e como tal será reconhecido a sua entrada no Reino. Jesus censura aos quantos “ensinam bem e vivem mal” (Glosa), aos quantos reconhecem seu senhorio, porém não cumprem suas leis, a quantos esquecem que “ a santidade só é perfeita em quem cumpre com as obras o que ensina com a palavra” (Jerônimo). Cristo, com a intenção de resumir sua mensagem, nos apresenta a parábola da casa e dos dois terrenos sobre os quais foi construída. Santo Atanásio escreve que a rocha é o próprio Cristo; a casa construída sobre ele é o edifício de nossa fé; os ventos que a agitam são as forças do mal; as águas representam o conjunto das tentações que ameaçam com arrolar a vida dos justos. Não tenho mais que perguntar-me, na meditação sobre que fundamento eu estou construindo meu edifício espiritual: “O dia do Senhor manifestará a obra de cada um, porque esse dia virá com fogo, e o fogo porá a prova a obra de cada um. Aquele cujo edifício resista receberá o prêmio” (1 Cor 3,13-14).

 

ORATIO: Senhor, eu estarei entre aqueles a quem afastarás de ti sem remissão no dia do juízo? Quantas vezes tenho invocado teu nome! Quantas obras estrondosas eu tenho realizado em teu nome! Sem dúvida, a solidez de meu edifício espiritual não tem estado à altura. A superficialidade, a incoerência e a inconstância me impedem construir uma casa digna em tua morada estável.

 

CONTEMPLATIO: Certo, insuportáveis são o inferno e o castigo que ali se padece. Sem dúvida, ainda quando me ponhas mil infernos diante, nada me dirás comparável com a perda daquela glória bem-aventurada, com a desgraça de ser aborrecido de Cristo, de ter que ouvir de sua boca: Não te conheço; de que nos acuse de que lhe vimos faminto e não lhe demos de comer. Certo, mais valera que mil raios nos abrasassem que ver que aquele manso rosto nos rejeita e que aqueles olhos serenos não podem suportar o olhar-nos. Porque se, quando eu era seu inimigo e lhe aborrecia e lhe rejeitava, de tal modo me amou que não perdoou a si mesmo e que se entregou à morte por mim, com que olhos eu poderei olhar-lhe se depois de todos esses benefícios, quando lhe vi faminto, não lhe dei um pedaço de pão? Mas considerai ainda aqui sua mansidão, pois não faz a enumeração de seus benefícios nem nos lança na cara que, depois de tantos recebidos, lhe temos desprezado. Não nos disse o Senhor: Eu sou o que te tirei do não ser ao ser, eu te inspirei a alma, eu te constitui sobre todas as coisas da natureza. Por ti fiz a terra e o céu, o mar o ar e tudo quanto existe, e tu me desprezaste e me tiveste em menos que o diabo. E sem dúvida, nem ainda assim te abandonei, mas que, depois de tudo isso, eu inventei mil invenções de amor e quis fazer-me escravo e fui esbofeteado e cuspido e crucificado, e morri com a mais afrontosa das mortes. E por ti intercedo também no céu, e te fiz graça do Espírito Santo, e te concedi por minha dignidade meu próprio Reino e quis ser tua cabeça; teu esposo, e tua veste, e tua casa, e tua raiz, teu alimento, e tua bebida, e teu pastor, e teu rei, e teu irmão, e teu herdeiro, e teu coherdeiro, e te tirei das trevas ao poder da luz (João Crisóstomo).

 

AÇÃO: Repete com frequência e vive hoje a Palavra:

                         “O homem sensato edifica sua casa sobre a rocha” (cf. Mt 7,24)

 

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Porém a separação provocada pelo chamado de Jesus ao seguimento é ainda mais profunda. Após a separação do mundo e da Igreja, dos cristãos falsos e verdadeiros, a separação se situa agora em meio do grupo dos discípulos que confessam sua fé. Paulo afirma: “Ninguém pode dizer “Jesus é Senhor” senão por influxo do Espírito Santo” (1 Cor 12,3). Com a própria razão, com as próprias forças, com a própria decisão, ninguém pode entregar sua vida a Jesus nem chamar-lhe seu Senhor. Porém aqui se tem em conta a possibilidade de que alguém chame a Jesus seu Senhor sem o Espírito Santo, quer dizer sem ter escutado o chamado de Jesus. Isto resulta tanto mais incompreensível quanto que naquela época não significava vantagem terrena chamar a Jesus seu Senhor; ao contrário, se tratava de uma confissão que implicava um grande perigo. “Nem todo o que me diz: “Senhor, Senhor entrará no Reino dos Céus…”. Dizer “Senhor, Senhor” é a confissão de fé da comunidade. Porém nem todo o que pronuncia esta confissão entrará no Reino dos Céus. A separação se produzirá em meio da Igreja que confessa sua fé. Esta confissão não confere nenhum direito sobre Jesus. Ninguém poderá apelar nunca a sua confissão. O fato de que sejamos membros da Igreja da confissão verdadeira não constitui um direito ante Deus. Não nos salvamos por esta confissão. Jesus revela aqui a seus discípulos a possibilidade de uma fé demoníaca, que lhe invoca, que realiza fatos milagrosos, idênticos às obras dos verdadeiros discípulos de Jesus, até o ponto de não poder distingui-los, atos de amor, milagres, talvez inclusive a própria santificação, uma fé que, sem dúvida, nega a Jesus e se nega a seguir-lhe. É o mesmo que disse Paulo no cap. 13 da primeira carta aos coríntios sobre a possibilidade de anunciar, de profetizar, de conhecer tudo, de ter inclusive uma fé capaz de trasladar as montanhas… porém sem amor, quer dizer, sem Cristo, sem o Espírito Santo (Dietrich Bonhoffer, El precio de la gracia. El seguimiento, Sígueme, Salamanca 1999).

 

 

SEXTA-FEIRA, 28 de JUNHO DE 2019 ESTUDO BÍBLICO FESTA DO CORAÇÃO DE JUSUS

O Sagrado Coração de Jesus Lucas 15,1-7

 

A solenidade que celebramos hoje nos atrai, particularmente, para a contemplação: Deus vem ao nosso encontro com a palavra “amor”, como primeira realidade que define seu relacionamento conosco.

Não um amor abstrato, mas um amor muito concreto na pessoa de Jesus: seu peito traspassado pela lança na Cruz (ver Jo 19,34) é a última de uma infinidade de imagens eloquentes que Ele quer convidar-nos a viver.

O simbolismo do “coração”, referindo-se a Deus, designa o amor em sua própria fonte: a interioridade divina.     O coração de Jesus é linguagem viva deste amor, a visibilidade do interior de onde viemos, declaração do interesse que Deus tem por nossa vida e convite para mergulhar nesse mesmo amor.

Por isso, para evitar mal-entendidos, deve ficar claro que não celebramos um aspecto ou um órgão de Jesus, mas a totalidade de sua pessoa e o núcleo do seu ser, que é o amor: “Em Jesus Deus mesmo nos ama com um coração de homem” (Pe. Paul Milcent).

As leituras bíblicas desta solenidade têm como tema o amor de Deus pela humanidade. O amor de Deus, que vem ao nosso encontro na pessoa de Jesus, está bem apresentado nas deslumbrantes parábolas de misericórdia de Lucas 15.

Continuamos o caminho para Jerusalém. Estamos no capitulo 15 de Lucas, núcleo da Boa Nova de Jesus e da revelação dos surpreendentes sentimentos de Deus.

Escutamos o Mestre pronunciar a parábola da ovelha perdida (4-7). Os primeiros três versículos do capítulo nos apresentam o contexto, como necessária chave de leitura que leva Jesus a pronunciar estas belas lições sobre a misericórdia de Deus (15,1-3).

A finalidade da passagem de hoje é aprofundar no tema do Amor de Deus, demonstrado no ministério salvífico de Jesus, com os excluídos e os pobres, particularmente com um grupo de excluídos que está em todos os níveis sociais: os “pecadores”.

1. O contexto

Antes de entrar no texto é preciso olhar atrás. Recordemos alguns momentos chaves do Evangelho:

• A partir do momento que Jesus chama Simão Pedro, põe a reluzir sua prática de misericórdia com os pecadores. Disse Pedro: “Afasta-te de mim, Senhor, sou um homem pecador” (5,8b); Jesus responde: “Não temas” e demonstrou a sua confiança nele entregando-lhe uma missão (5,10).
• A partir de então vemos que a constante de Jesus é a acolhida do pecador, até o ponto de chegar a fazê-los seus discípulos. É o caso: de Levi (5,27-28), da pecadora arrependida (7,36-50) e de Zaqueu (19,1-10). Aos pecadores Jesus chama à conversão, perdoa-lhes os pecados e os faz crescer mediante o seguimento (ver 8,1-2). Tudo isto não é mais que a realização do “ano da graça do Senhor”, cujo cumprimento proclamou desde seu discurso inaugural na sinagoga de Nazaré.
• Porém, como se nota desde o primeiro dia, esta mensagem não foi bem recebida por todos. Os gestos de perdão que Jesus fazia geraram desconfiança da parte dos fariseus e escribas desde o começo do ministério na Galileia. Na cena da cura-perdão do paralítico se escutou a primeira crítica: “Quem é este, que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão só Deus?” (5,21).
• Contudo, Jesus não se deixou deter pela crítica e seguiu adiante, até o ponto de que um dos comportamentos habituais de Jesus mais recordados no Evangelho seja o de suas refeições com pecadores. Nesses momentos novos comentários azedos se escutarão: “Por que comeis com publicanos e pecadores?” (5,30), “Ai tens a um comilão e um beberrão, amigo de publicanos e pecadores” (7,34b); “Foi hospedar-se na casa de um homem pecador” (19,7).
• Em resposta aos seus críticos, Jesus se remete, com uma grande contundência, ao sentido de sua missão: “Não vim chamar justos a conversão, mas pecadores” (5,32). Esta frase segue sendo válida para o resto do Evangelho, inclusive até fazê-la núcleo da missão apostólica: “pregar em seu nome (Cristo) a conversão para o perdão dos pecados a todas as nações” (24,47).

Com esta ambientação chegamos ao capítulo 15 de Lucas. Aproximemo-nos primeiro do contexto (15,1-3) e, logo, à dinâmica e ao conteúdo das parábolas (15,4-7).

2. O texto

Lucas 15,1-7

3. Aprofundando o texto

• A situação que motiva a parábola (15,1-3)

 

Vale a pena que nos detenhamos um pouco na introdução do capítulo. Seu esquema (que é similar ao de 5,29-32) nos dá três informações:

1. O fato: “Todos os publicanos e os pecadores se aproximavam a Ele…” (15,1)

Soa exagerado, mas assim afirma Lucas: “todos”. De fato é um modo de enfatizar uma bela realidade constatada no ministério de Jesus. Mas não se tratava de fatos pontuais, mas de uma constante, como se pode ver na forma verbal que descreve uma ação continua: “buscavam”.  Estes que buscavam Jesus são taxados de “pecadores”: pela atitude contrária à Lei, com reincidências e publicamente assumidos, se puseram fora do âmbito da Aliança. Certamente eram reprovados.

Fala-se, também, de um grupo particular deles: os “publicanos”. Os publicanos (cobradores de impostos para Roma) eram mal vistos por três razões que estavam na mentalidade das pessoas:

• Por exercer um ofício que, pelo contínuo contacto com os gentios, os fazia religiosamente impuros;
• Pelo estar a serviço do império eram alvo de ataques por parte dos nacionalistas do povo;
• Por haver se tornado modelo de corrupção administrativa e abuso de poder (o caso de Zaqueu).

Devemos recordar que no Evangelho de Lucas, os publicanos:

• Estavam na lista das pessoas chamadas publicamente à conversão por João Batista (ver 3,12);
• Logo se tornam modelo de resposta ao chamado ao arrependimento, como, por exemplo, Jesus cita a resposta positiva deles à pregação de João: “os publicanos reconheceram a justiça de Deus, fazendo-se batizar com o batismo de João” (7,9), isso para não falar da generosidade, digna de imitação, dos publicanos Levi e Zaqueu, frente ao chamado de Jesus;
• Mostram uma alta qualidade espiritual, inclusive superior à dos fariseus: quando Jesus trata sobre o tema da oração, em uma de suas catequeses, um publicano, e não o fariseu, será modelo do orante segundo os novos critérios do Reino (ver 18,10-13).

 

Se os publicanos e pecadores chegam a um nível tão alto de vida espiritual (aspecto que os fariseus não observam) é porque “ouviam” a Jesus, o que é sinal de conversão.

Se recordarmos a conclusão do Evangelho do domingo passado, entenderemos melhor: “O que tenha ouvidos para ouvir, que ouça” o chamado às exigências do discipulado (14,35). Que os publicanos e pecadores “sigam” e “ouçam” a Jesus, significa que levaram a sério a lição sobre o discipulado.

1. A crítica: “E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: ‘Este acolhe a…’ ” (15,2)

Os fariseus e escribas partem para a briga uma vez mais – depois de 5,21.30; 6,7; 11,53 – para pôr a julgamento o que Jesus faz. Isso se disse expressamente: “murmuram” contra ele. A murmuração é a crítica carregada de aversão por um comportamento que não se admite.

Assim aparece, por exemplo, na polêmica que fazem a Pedro por sua abertura aos gentios: “Entraste em casa de incircuncisos e comeste com eles” (Atos 11,3). Os fariseus e escribas se mostram incomodados com Jesus e manifestam seu prejulgamento contra os pecadores e marginalizados. Sua atitude contra Jesus se percebe na maneira lacônica de referir-se a ele, o chamam “Este”.

Dois verbos descrevem o comportamento reprovado: “Acolher” e “Comer (junto com)”. As duas ações se complementam ampliando seu significado. Jesus é apresentado como o anfitrião de uma refeição festiva na qual recebe e atende, com simpatia, a seus ilustres hóspedes.

Mas, não se trata de formalismo: a “acolhida”, na linguagem do Novo Testamento, se refere, também, ao oferecimento de assistência que uma pessoa requer. Acolher é “dar a mão” (Rm 16,2; Fl 2,29). Isto é o que parece acontecer no interior das cenas de amizade que oferece Jesus. Os fariseus, ao contrário, são aqueles que criticam, repreendem e dizem o que se deve fazer, porém, não dão a mão ao pecador.

Há um pensamento rabínico tardio que parece recolher o princípio fariseu: “não permitas a um homem juntar-se com o malvado, nem sequer conduzi-lo à Lei” (Ex.18,1). Isto explica a atitude dos fariseus. Mas Jesus não pensa assim.

Se Ele, nas refeições, se aproxima de pessoas consideradas de baixa moral ou de ocupações de baixa categoria – gente com a qual um judeu respeitável não teria que se relacionar – é que está pondo em prática seu ensino sobre o Reino: Deus visitou seu povo e com este estabeleceu uma incrível proximidade (ver 1,68; 7,16; 17,21); sua presença é poder que transforma a vida inteira.

1. c) A resposta de Jesus: “Então lhes disse esta parábola” (15,3)

Jesus responde em parábolas, fiel ao princípio segundo o qual “os mistérios do Reino de Deus” se dão a conhecer “aos demais, só em parábolas” (8,10). As parábolas do Evangelho estão construídas de tal modo que subvertem nosso habitual modo de pensar e levam a pensar com a lógica do Deus do Reino.

O narrador Lucas anuncia uma parábola e, ao final, resultam em três. Ao lê-las consideremos que:

• Todas convergem para o mesmo ponto: a alegria de alguém que recupera o que havia perdido;
• As duas primeiras parábolas revelam, claramente, que esta alegria é um reflexo da alegria que Deus sente ao recuperar o que havia perdido: aquilo que lhe era próprio e de grande valor para Ele;
• A terceira parábola supera as duas primeiras: sem perder de vista o tema da alegria de Deus (representada no pai misericordioso) descreve, amplamente: a situação de uma pessoa perdida (o irmão menor) e também a atitude de quem, aparentemente, não se perdeu (o irmão maior); este último não é capaz de compartilhar a alegria do pai pelo regresso do filho (e irmão) perdido.

 

As parábolas da misericórdia explicam o porquê do comportamento de Jesus e convidam os fariseus (e aos leitores) a unir-se à prática de Jesus.

(2) Celebrando o regresso de uma pessoa muito valiosa: a parábola da ovelha perdida (15, 4-7)

A parábola se detém na história de um pastor: parábola da ovelha perdida (15,4-7)

“Quem de vós?”. O olhar se põe na pessoa e no que normalmente este faria em uma situação similar aplicando a solução lógica.  Portanto, não se trata tanto da história de uma ovelha, mas, antes, de um pastor que transborda de felicidade depois de encontrar sua ovelha perdida. Distinguimos duas partes:

1. A parábola propriamente dita:

Na parábola notamos que a dinâmica dos verbos permite distinguir momentos bem marcados: Ter (cem ovelhas); Perder (uma delas); Deixar (as 99 no deserto); Buscar (a ovelha perdida); Encontrar (-la); Pô-la (sobre os ombros), Convocar (amigos e vizinhos) e dizer (-lhes). Destaquemos a ideia central de cada ação:

• Ter: o pastor possui um rebanho de cem ovelhas, quantidade normal para um pequeno fazendeiro;

 

• Perder: a imagem é a de um pastor que ao final do dia se põe a contar as ovelhas de seu rebanho e descobre que o número está incompleto.

 

• Deixar: as noventa e nove no deserto. Acentua-se aqui a loucura da ação do pastor, que se esquece da elementar precaução, deixando o rebanho desprotegido em pleno deserto (onde podem perder-se todas) enquanto se precipita na busca da ovelha perdida. Porém, ao narrador lhe parece normal que isso se faça: “Quem de vós não faria isto?”, disse Jesus ao começar a parábola. Claro que é provável que as ovelhas tenham ficado sob a responsabilidade de um zelador (ver Jo 10,3). O destaque de uma entre noventa e nove não significa que esta ovelha seja mais importante que as outras, trata-se, sobretudo, de uma formulação paradoxal que põe de relevo a alegria de encontrar o que se perdera;

 

• Buscar: a busca não pára até que alcance o alvo: “até que…”. Não há repouso. O zelo é total;

 

• Encontrar: a alegria do encontro se manifesta na convocação dos amigos. Este é um traço do amor de Deus, porém o essencial é o que vem: a alegria que provém da nova situação no Reino de Deus;

 

• Pôr: sobre os ombros. O pastor regressa com ar triunfante. O trato da ovelha encontrada é de terna solicitude, a ternura do pastor, que carrega a ovelha (tema amado pela iconografia), assistindo-a em sua delicada situação, nos recorda Is 40,11: Como pastor pastoreia seu rebanho: leva nos braços os cordeirinhos, no seio os leva, e trata com cuidado as paridas. Ela é preciosa, delicada, de muito valor;

 

• “Convocar”: o pastor organiza uma reunião festiva, está cheio de alegria pelo êxito de sua busca. Uma alegria destas não se vive só, mas se compartilha com os amigos.

 

1. A aplicação da parábola

 

Aplicando a parábola à ação de Deus, podemos reconhecer no zelo do Pastor a realização da profecia de Ezequiel: “Como um pastor vela por seu rebanho quando se encontra em meio de suas ovelhas dispersas, assim eu velarei por minhas ovelhas” (34,12); e também o anúncio da missão do Messias: “Eu suscitarei para ir a frente um só pastor que as apascentará…” (34,23-24).

Mas a insistência de Jesus está na descrição da alegria de Deus pelo pecador que se converte (15,7). O motivo da festa do céu é a conversão de um só pecador (um que ouviu o chamado de Jesus, 5,32). Em contraste com o pensamento fariseu, Jesus convida a descobrir que a felicidade de Deus é, precisamente, o contrário: sua salvação. Jesus fala de “mais alegria”: o céu multiplica a alegria. Alguém se sente muito contente quando se reconcilia com Deus, mas a alegria que Deus sente por este mesmo acontecido é muito maior. Não quer dizer que Deus não esteja contente com os que estão salvos, os “noventa e nove justos que não necessitam de conversão”, mas sua alegria pelo pecador que se deixou encontrar pelo amor misericordioso é superior.

4. Conclusão

Esta solenidade do Coração de Jesus pretende incentivar um caminho de conversão em nossa maneira de ver a Deus em nós: não é o Deus duro e rígido como pregavam os fariseus, mas o Deus amor, o Pai de Jesus Cristo, que está sempre apreensivo em busca de seus pequenos. É o Deus: que se comove até as lágrimas; que faz festa porque nos encontra; para o qual somos valiosos e importantes.

Corresponde, agora, a nós, apropriar-nos da sensibilidade de Deus e amar com seu mesmo amor: fazê-lo o coração de nosso coração.

São João Eudes, proclamado pelos papas Pio X e Pio XI como o “Pai, Doutor e Apóstolo do culto litúrgico aos Sagrado Corações de Jesus e Maria” criou, promoveu e sistematizou a teologia desta festa desde 1672, na França, antes que se popularizasse a partir das revelações de Santa Margarida Maria Alacoque. Ele dizia: “O coração admirável de Jesus é uma fogueira de amor a seu Pai, a sua Mãe, a sua Igreja e a cada um de nós”.

Através do culto ao sagrado coração de Jesus, nós abraçamos, portanto, a pessoa inteira de Jesus e somos guiados à compreensão do Evangelho e de sua obra redentora: “Tirareis água com alegria das fontes da salvação” (Is 12,3).

Hoje, contemplando Jesus, maravilhamo-nos do quanto engloba, o seu amor, as nossas vidas: o seu amor está na raiz da nossa existência e nesse amor seremos consumados. Relendo o Salmo diremos: “Todos ali nascemos” (87,4). Adoremo-lo e demos-lhe graças!

5. Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

• Qual é o anúncio de que nos faz o “coração” de Jesus?
• Que imagem tem de Deus, tanto os fariseus, como Jesus?
• Minha experiência de Deus está marcada pelo amor?
• Quais são os sinais do amor de Jesus em minha vida?
• Que implicações tem para minha relação com os demais?

 

 

SÁBADO, 29 DE JUNHO DE 2019- 12ª SEMANA DO TEMPO COMUM ANO PAR

Lc 2,41-51 IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA