ENQUANTO FAÇO O CAFÉ: Somos chamados a dar frutos a todo tempo
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Marcos 11,11-26
“Nunca, jamais ninguém coma fruto teu”
Jesus havia acabado de fazer sua “entrada em Jerusalém”. A liturgia saltou a página correspondente a essa “entrada triunfal” porque deve ser lida só no domingo de Ramos.Entrou no Templo e, depois de havê-lo examinado todo, sendo já tarde, saiu para Betânia com os doze.Jesus entrou no templo em um momento em que ali não passava nada. Isso é raro. A manifestação messiânica se passou em branco! É estranho.
Sem dúvida, antes de sair, Jesus percorre todo o lugar e observa todas as coisas detalhadamente. Este olhar de Jesus está cheio de significado: o que vai fazer no outro dia está bem premeditado… é o olhar de um homem que está preparando sua jogada: a expulsão dos “vendedores do templo”.
Na manhã seguinte saíram de Betânia para Jerusalém novamente.Logo sentiu fome. Vendo de longe uma figueira dirige-se em sua direção, mas não encontrou nela, senão folhas, porque não era tempo de figos. Disse à figueira: “Que ninguém jamais coma fruto de ti” (v.14). E os discípulos o ouviram.
Estranha maldição. Se Jesus tratava de saciar a fome, este gesto seria de um demente: encolerizar-se contra uma árvore, por não encontrar frutos quando, por cima, nem era tempo! Não é, pois, nesse nível material que se deve interpretar esta maldição.
Jesus quis fazer um gesto “enigmático” e Marcos sublinha: os apóstolos “ouvem”, porém não querem crer e ficarão muito surpresos no dia seguinte, ao ver que a maldição se realizou. A solução do enigma se dará mais tarde. E não será por acaso o fato de que a “purificação” do Templo esteja inserida, como “um recheio” entre as duas metades do episódio da “figueira amaldiçoada”.
Chegam a Jerusalém.Jesus entra no templo e se põe a expulsar os que vendiam e compravam. Derruba as mesas dos cambistas e os assentos dos vendedores… “E os ensinava dizendo: ‘Não está escrito: Minha casa será casa de oração para todas as nações’? Vós, porém, fizeste…” (v.17).
Jesus cita o profeta Jeremias: “Falais sempre do culto, dizendo: “Santuário de Deus, santuário de Deus, santuário de Deus”, porém oprimis o estrangeiro, o órfão e à viúva. Roubais, matais e vinde logo a pôr-se diante de mim… É este Templo um covil de bandidos?” (7,11).
É preciso reler todo o contexto dessa citação: o profeta reprova os homens de seu tempo pelo fato de participar no culto com o fim de assegurar-se… o culto do templo é falaz, pois as pessoas não se convertem. Jesus cita também o profeta Isaías: “Trá-lo-ei ao meu monte santo e os cobrirei de alegria na minha casa de oração” (56,7). É a afirmação surpreendente de que o Templo judeu vai ser “aberto às nações pagãs”. Isto se liga ao tema missionário, habitual em São Marcos.
Jesus faz um gesto messiânico anunciado pelo profeta Zacarias: “Já não haverá mais mercadores no templo do Senhor, nesse dia” (14,21). É a purificação do lugar onde Deus está presente. Jesus quer devolver ao Templo sua pureza primitiva, seu destino sagrado, e ressalta que este lugar está “destinado a todos”: abertura universalista. Que sentido eu tenho da oração, do sagrado, de Deus presente?
Tudo isso chegou aos ouvidos dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas. Buscavam um modo de eliminá-lo… Ao cair da tarde, saiu da cidade. Dissemos que Jesus havia preparado sua jogada. Tratava-se de um gesto essencial para Ele. Era uma provocação lúcida. Será “a partir disto” que morrerá! Voltando de novo a Betânia,passando de madrugada, viram que a figueira secou pela raiz.
Eis aqui a chave do estranho enigma da véspera: Jesus, na verdade, não se dirigia à figueira, mas ao Templo. Porque o Templo já não respondia à espera de Deus, este suscita a “cólera de Deus” e será destruído totalmente e definitivamente (Mc 13,2).