ESTUDO BÍBLICO NA 3ª SEMANA DA QUARESMA ANO C 2022
ESTUDO BÍBLICO NA 3ª SEMANA DA QUARESMA ANO C 2022
Comunidade Católica Paz e Bem
Segunda–feira
Lucas 4,24-30
RESISTÊNCIAS DE CORAÇÃO PARA A CONVERSÃO
“Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria”
Ao iniciar esta terceira semana de quaresma, a Palavra nos introduz, delicadamente, no mistério Pascal que, de alguma forma, esteve sempre presente durante sua vida e, em particular, durante sua missão.
O evangelho de hoje nos situa no começo da pregação de Jesus na Galiléia e, particularmente, em Nazaré. Jesus prega nas sinagogas com a força do Espírito Santo.
Quem o escuta recebe a salvação prometida pelos profetas: “Esta escritura que acabam de ouvir se cumpriu hoje” (4,21) e todos se admiram das palavras de “graça” que saem de sua boca (4,22).
Mas, à admiração, segue-se, imediatamente, o escândalo. Desde o início até o final de sua vida Jesus será ocasião de escândalo para seus contemporâneos: “Não é este o filho de José?” (4,22).
A simplicidade, a humildade e a pobreza de Jesus “que não fazendo alarde de sua categoria de Deus, se esvaziou de si mesmo e assumiu a condição de escravo” (Fl 2,6), colocando-se entre os últimos, é motivo de escândalo para seus vizinhos e conterrâneos.
Eles creem conhecer tudo de Jesus, porque conhecem sua família humilde de Nazaré, enquanto que Jesus conhece seus pensamentos e desmascara sua realidade: “seguramente vão me dizer o refrão: médico cura-te a ti mesmo. Tudo o que temos ouvido que tens feito em Cafarnaum, faz também aqui em tua terra” (4,23).
Os vizinhos e conterrâneos de Jesus, em lugar de converter-se com “as palavras de graça que saem de sua boca” (4,22), se negam a crer n’Ele e pretendem que faça, para eles, os mesmos milagres que fez em Cafarnaum.
O conhecimento que crêem ter de Jesus e a pretensão de vê-lo realizar milagres não lhes permite crer n’Ele. E Jesus, vendo sua incredulidade, lhes diz com autoridade: “nenhum profeta é bem acolhido em sua terra”.
A rejeição que é dada a Jesus é a mesma que foi dada aos profetas. Elias e Eliseu não puderam fazer milagres em Israel, só em Sarepta de Sidón e na Síria (25-27) onde encontraram corações abertos para acolher a palavra de Deus (ver 1 Rs 17,7.16; 2 Rs 5,1.14).
Enquanto Jesus está cheio do Espírito Santo, em sua pregação, seus vizinhos e conterrâneos estão cheios de raiva e querem matá-lo (4,28-29). “Porém, Jesus, passando no meio deles, saiu” (4,30).
Lucas deixa entrever algo extraordinário que não permite aos nazarenos acabar com Jesus: o Mestre se sai das mãos deles, passa pelo meio da raiva e da rejeição de seu povo, não se deixa atrapalhar, nem afetar, sai livre de suas mãos. Nesta incrível liberdade de Jesus se pré-anuncia sua ressurreição, sua vitória sobre as garras da morte.
Encaminhando-nos, já, para o final da quaresma, o Evangelho de hoje questiona, fortemente, nossa fé e a autenticidade de nossa conversão. Haverá algo que a este ponto, está nos impedindo uma verdadeira conversão?
Cultivemos a semente da Palavra no coração.
- Que significa dizer que Jesus prega com a força do Espírito Santo?
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- De que forma concreta eu estou aproximando-me, diariamente, da Palavra de Deus e, que efeitos de mudança constato em mim?
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- Como manifestamos que cremos em Jesus, não só a nível individual, mas como família e também como comunidade?
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Não será que nossa fé se reduz a uns curtos momentos, diários ou semanais, que depois não tem que ver, em nada, com a nossa vida?
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TERÇA-FEIRA
Mateus 18,21-35
NOSSA converSÃO: Perdoar de coraÇÃO.
“Não devias tu, também, compadecer-te de teu companheiro, como eu me compadeci de ti?”
Em nosso itinerário quaresmal, a Palavra de Deus nos convidou a verificar nosso processo de conversão. Continuamos na escuta do Mestre e na docilidade a seu Espírito, permitindo que Ele possa infundir-nos esse espírito novo que nos faz pessoas renovadas, verdadeiros discípulos. O Evangelho deste dia iniciado no discurso de Jesus sobre as relações fraternas próprias da comunidade dos discípulos (Mt 18), nos coloca ante um ensinamento de Jesus sobre a necessidade de perdão.
Nosso texto tem duas partes:
1. O Diálogo de Pedro com Jesus: o “perdão” dá identidade à comunidade
Pedro toma a iniciativa e se aproxima de Jesus para perguntar-lhe: “Senhor, quantas vezes tenho que perdoar as ofensas que me faça meu irmão? Até sete vezes?” (18,21). A pergunta de Pedro nos deixa ver que ele havia compreendido muito bem que a comunidade de Jesus se constrói no perdão recíproco. É deste modo que somos identificados como filhos do Pai celestial (ver 5,43-45 e 6,14-15). Na pergunta, Pedro pôs um limite: “Até sete vezes?”. A resposta de Jesus, por sua parte, abre o perdão do discípulo para um horizonte ilimitado: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (18,22). Portanto, o perdão do discípulo não tem limites, assim como tampouco tem limites o perdão e a misericórdia do Pai para nós. Para aprofundar este ensinamento, Jesus introduz, em seguida, a parábola do “Servo sem entranhas”.
2. A Parábola do servo sem entranhas
A parábola está construída a partir do contraste entre a misericórdia de um rei que perdoa a um de seus servos, uma dívida incalculável (18,23-27) e a crueldade e dureza desse mesmo servo, que não perdoa seu companheiro que lhe deve uma pequena soma de dinheiro (18,28-30).
(a) A magnitude do coração do Pai: Ao rei, que chama os servos a ajustar as contas, é apresentado um que lhe devia dez mil talentos (18,24). Dez mil talentos são uma soma tão desproporcional, que, talvez, somente o rei poderia possuí-la e que, talvez, o servo não teria conseguido pagar durante toda sua vida. Ante o servo que lhe suplica, o rei rei se deixa tocar o coração. Não pensa na grande soma de dinheiro que tem a perder, não persiste em fazer-lhe cumprir de acordo com a justiça, mas, cheio de compaixão e misericórdia, perdoa-lhe tudo e o deixa ir, livre. A magnitude de seu coração superou, imensamente, aquela dívida que superava, já, toda medida. Com estes traços desproporcionais, Jesus nos mostra como é o coração do Pai, sua infinita ternura e compaixão para conosco. Os “dez mil talentos”, soma incalculável, aludem à grandeza do que Deus tem feito e segue fazendo por nós.
(b) A dureza de nosso coração: Ao sair,“aquele servo encontrou um de seus companheiros que lhe devia cem denários” (18,28a). Cem denários representam uma soma mínima, em comparação com a dívida que lhe havia sido perdoada. Vem, então, o momento cruel, o servo maltrata física e moralmente seu companheiro. Ante a súplica do companheiro, que usou exatamente as mesmas palavras que pouco antes, havia expressado a seu senhor (18,29; ver 26), foi cruel(18,30). Notamos uma desproporção imensa entre a misericórdia que havia recebido e a dureza de seu coração. A história põe na balança a dissipação do perdão recebido (do Pai, dos outros) e a estreiteza e dureza de nosso coração, que é incapaz de perdoar. Mas as coisas não ficam assim. Quando o rei soube do comportamento do servo, o chama de novo e encara sua maldade: (18,32b-33).
(c) O coração do Pai, medida de nosso perdão: O perdão que recebemos de Deus, nos indica a medida do perdão que devemos dar aos irmãos. Este é o sentido da resposta de Jesus a Pedro: “Até setenta vezes sete” (18,22). Em outras palavras: o que Deus faz comigo é o princípio do quanto devo fazer pelo irmão; a misericórdia, que o Pai derrama sobre nós, sem medida, acolhida em nosso coração, deve derramar-se, gratuitamente, para os outros, como gratuitamente nos foi dada.
3. O perdão uma necessidade vital e recíproca
Retomando o contexto amplo no qual se encontra esta parábola, compreendemos agora que o perdão é o que torna possível a vida comunitária. Estamos juntos, não porque não nos equivocamos e não nos ofendamos, mas porque perdoamos e somos perdoados. Nossas limitações e defeitos, em lugar de afastar-nos e dividir-nos, podem fortalecer a comunhão e a unidade, quando o perdão se converte em uma atitude permanente em nossa vida. Por isso, o perdão é uma necessidade vital de nossa convivência diária. Porém, temos que observar a última frase desta passagem: o perdão que Jesus pede é um perdão que vem do “coração” (18,35). Neste “coração”, quer dizer, no mais profundo de mim mesmo, deve permanecer, não o rancor pela pequena ofensa que recebo do irmão, mas o amor infinito e incondicional do Pai. Pode-se dizer que não perdoar é matar em meu irmão o amor do Pai.
Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração
- Que diferença encontro entre a atitude do amo e a do servo, segundo nos apresenta o texto?
- Minha atitude de perdão para os demais é sempre generosa? Que posso melhorar a respeito?
- Como tenho agradecido o perdão que alguma vez tenho recebido de alguém?
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QUARTA-FEIRA
Mateus 5,17-19
APRENDER A FAZER, EM JESUS, A VONTADE DE DEUS.
“Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento”
Quem faz a experiência das “bem-aventuranças” é um homem novo no Reino, perpassado pela pessoa de Jesus. Tem um novo coração. Começa a centrar-se todo nele. Mas, a vivência da radical novidade do Reino pode levar a pensar que “a Lei e os Profetas” ficam abolidos (Mt 5,17ª). Isto não é exatamente assim, pois, como disse Jesus: “Não vim revogá-los, mas dar-lhe cumprimento” (5,17b).
A frase “a Lei e os Profetas” é uma forma de designar, tecnicamente, a Bíblia Hebréia (para nós é grande parte do Antigo Testamento), isto é, abarca toda a primeira parte da revelação de Deus:
- A “Lei”: é o critério de vida por excelência para o povo que fez Aliança com Yahweh;
- Os “Profetas”: enquanto defensores da Aliança foram intérpretes da Lei.
Quando Jesus disse que veio para “dar cumprimento” a “Lei e os Profetas”, está afirmando que, n’Ele, visível está, tudo o que a Lei e os Profetas tentaram dizer. O que Deus desejou revelar a seu povo tem seu ponto culminante na pessoa de Jesus. Por isso, digamos assim, entre o Antigo e o Novo Testamento não tem contradição, mas uma linha contínua, sempre ascendente.
É preciso, então, olhar todas as palavras e atos de Jesus no evangelho, pois foi ai onde deu cumprimento ao querer de Deus. Já a primeira ação de Jesus, no Evangelho de Mateus foi programática quando, a beira do Jordão, disse a João: “pois assim nos convém cumprir toda justiça” (3,15).
As palavras e os atos de Jesus aprofundam no modo como se dá “cumprimento” a “Lei e os Profetas”:
- Da parte de Deus, mantém firme sua Palavra e nos oferece um caminho para que esta se realize plenamente (“que tudo seja realizado”: 5,18);
- Da parte do homem, a Palavra de Deus alcança seu cumprimento nele, na medida em que a leve à prática e sejam ensinadas (“observar e ensinar”: 5,19).
Deus é o primeiro que põe em prática a Lei, em seu Filho Jesus. A “justiça” primeira é a de Deus. E esta justiça – segundo o evangelho de Mateus – se chama Jesus. Por isso não se falará, explicitamente, do “ensinamento de Jesus” (só até 7,24), mas do “cumprimento da Lei”, simplesmente porque esta ordem de idéias é a mesma.
Deus: A Palavra se faz realidade
A lei quer que “aconteça” tudo. E esse tudo Jesus realiza em sua própria vida. Assim, oferece a quem quer que lhe siga, a possibilidade de aprender, n’Ele, a fazer a vontade de Deus. O evangelho, aos poucos, irá mostrar de que modo o “cumprimento” está na vida de Jesus. A síntese do que quer a ‘Lei e os Profetas’, enfim, será o amor misericordioso. Deste modo, a “Lei” segue imutável, porém, por outro lado, não se expressa plenamente. Isso só vai acontecer na interpretação que lhe dá Jesus.
Assim, porque Jesus deu sua máxima expressão a todo o valor que têm “A Lei e os Profetas”, todos temos a possibilidade de viver a Palavra de Deus em seu seguimento e, assim, esta manterá sua vigência até o fim do mundo (“céu e terra passarão antes de que passe…”).
O discípulo: A Palavra se faz vida
Deus cumpre sua Palavra, porém, os discípulos também têm que cumpri-la, isto é, passar da teoria à prática. Todos os mandamentos, inclusive os menores, são obrigatórios, já que o homem só se faz “justo” na vivência do querer de Deus. Mas o discípulo não está ansioso por detalhes, pois vive a Lei em vida inspirada na nova “justiça” que ensina Jesus, uma “justiça” que vem do estar imerso na experiência do “Reino” (bemaventuranças). Para enfatizar, Jesus apresenta a mesma ideia, em negativo e positivo: “O que pratique …” “o que observe”; e “Será o menor no Reino…”-“será grande…”.
Jesus havia de “pôr em prática”, porém, também “ensinar”. Jesus aplica a mesma lógica do compromisso com a Palavra ao compromisso com a correta educação, que consiste no aprendizado do evangelho, que é cumprimento perfeito “da Lei e os profetas”. O discípulo que põe em prática a Palavra, já é, por si, um bom mestre, e com a mais eficaz das didáticas: o testemunho. Mas, não pode esquecer que diante dele vai Jesus. Ao dizer que veio “dar cumprimento”, que belo! Ele mesmo faz o que ensina! Estar na escola de Jesus é aprender sua vida.
Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração
- Um cristão pode permitir que desvalorizem o Antigo Testamento? Que argumentos tem?
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- Em contrapartida, que aconteceria se lêssemos o Antigo Testamento sem chegar ao NoQue tipo de espiritualidade viveríamos?
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Que é dar “cumprimento” a “Lei e os Profetas”?
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- A “lectio divina” tem como finalidade ajudar-me a passar da teoria do texto à prática da Palavra de Deus em nossa vida. Como a estou fazendo? Estou ensinando-a a outras pessoas?
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QUINTA-FEIRA
Lucas 11,14-23
Estás com Jesus para seres libertados do mal
“O que não está comigo, está contra mim, o que não recolhe comigo, espalha”
A Palavra de Deus que vem iluminando e orientando nosso caminho quaresmal, nos tem mostrado, nas parábolas e discursos de Jesus, os diferentes matizes do amor cristão, com uma particular acentuação na reconciliação, no perdão e na misericórdia, como experiências fundamentais de nossa identidade de filhos de Deus.
A vivência do amor à maneira de Jesus é o selo que distingue seus discípulos.
O Evangelho de hoje tem como contexto anterior o ensinamento de Jesus sobre a oração segundo a versão de Lucas.
Na oração pedimos ao Pai o pão de cada dia (11,3), o pão é o dom ‘do amigo que já está descansando’ para dar ‘ao amigo que vem de viagem’ (11,6-7), é o símbolo da “coisa boa” que um pai – por mau que seja – nunca nega a seu filhinho (11,11-12).
E na oração, que sempre é escutada (11,10), obtemos o dom do Espírito Santo (11,13), que é o dom maior do Pai com o qual também nós podemos vencer ao maligno. E isto porque a luta de Jesus, no deserto, continua em nós, seus discípulos (11,4).
- Jesus liberta do mal com o dedo de Deus
Em nosso texto (=Mt 12,22-30 e Mc 3,22-27), vemos Jesus que, depois de expulsar um demônio, é acusado, por seus opositores, de fazê-lo com o poder de beelzebu, o príncipe dos demônios (11,14-16).
“Porém ele, conhecendo seus pensamentos” (11,17) explica quão contraditória e ilógica é sua acusação: “Se, pois Satanás está dividido contra si mesmo, como vai subsistir seu reino?…” (11,18). “Porém se pelo dedo de Deus expulso, eu, os demônios, é que chegou a…”(11,20).
Na vitória sobre o mal, Jesus revela seu mistério e dá um sinal inequívoco da chegada do Reino. “Pelo dedo de Deus” (11,20).
A imagem expressa, na Bíblia, a realidade do poder de Deus atuando em meio do povo (Dt 9,10; Ex 7,18;8,15); “Pelo dedo de Deus”, quer dizer, com a força de Deus, com seu Espírito, Jesus liberta da escravidão do pecado e reconstrói em cada pessoa o rosto do filho para o qual foi chamado.
O gesto que Jesus realiza é pascal. O que Deus fez no passado, libertando o povo da escravidão, realiza agora em Jesus. Assim afirma sem rodeios:“chegou a vós o Reino de Deus”.
- Quem conhece Jesus, sente a necessidade de optar por Ele.
Esta apresentação do Jesus pascal, vencedor do maligno, nos orienta, em seguida, em uma direção prática, para o discipulado: Quem reconhece em Jesus a chegada do Reino de Deus, não pode deixar de segui-lo. Conhecê-lo, é acolhê-lo e optar por Ele: “O que não está comigo, está contra mim, o que não recolhe comigo, espalha” (11,23).
Portanto, quem está com Jesus recolhe frutos de vida: recupera a filiação perdida, entra no coração do Pai e ama aos irmãos com seus mesmos sentimentos. Estar com Jesus leva-nos a ter seu Espírito.
Quem não está com ele, espalha (11,23b), quer dizer, perde sua vida, fica indefeso em mãos do inimigo. Ao contrário, com Jesus “o mais forte” (11,22), que derrotou, definitivamente, ao maligno, é possível vencer as insídias do mal e serem os filhos amados do Pai (ver 11,2.13).
Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração
- Que quer dizer que Jesus liberta do mal com o dedo de Deus?
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- Em que momentos de minha vida tenho constatado que estou com Deus?
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- Em que momentos ou situações tenho constatado o contrário?
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- Que implicação “pascal” tem o ser discípulo?
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De onde vem à vitória sobre o mal? Como fazer para obtê-la?
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SEXTA-FEIRA – ANUNCIAÇÃO DO SENHOR
Hoje nós recordamos o fato bíblico narrado no evangelho de São Lucas: a Anunciação do Senhor. Na liturgia, esta solenidade festiva interrompe o tom penitencial e austero da Quaresma.
É natural que a Igreja introduza no seu calendário um dia para nos lembrar, de modo específico, o anúncio da encarnação de Jesus Cristo no seio de Maria. A encarnação do Verbo eterno de Deus.
Aquela oração tradicional, muito difundida em todo o orbe católico, resume a narrativa bíblica da revelação divina a Maria e a sua resposta com a decisão de submeter-se ao querer de Deus. É a oração do “Ângelus”: o Anjo do Senhor anunciou a Maria e ela concebeu do Espírito Santo.
Em centenas de cidades do Brasil há até hoje o costume de se rezar o “Anjo do Senhor” nos alto falantes na torre das Igrejas ou mesmo nas rádios onde se faz ainda uma reflexão diária.
A Anunciação marcou o início da Redenção de Jesus. O momento sublime em que Deus fez acontecer na História a sua graça de salvação, a intervenção maior do seu projeto de amor por nós. E Maria foi chamada a ser parceira no diálogo com Deus sobre a história da salvação. Diálogo que começara com a criação de Adão e Eva no jardim do Éden e, com Maria, chegou ao ponto máximo e decisivo. Por outro lado, Maria se fez uma perfeita oferenda da humanidade toda quando em seu seio puríssimo o Espírito Santo de Deus gerou a carne humana do seu Verbo.
Na pessoa de Maria, nos foi dado conhecer o lado humano do mistério divino da Encarnação. Por isso se fala que Maria é o rosto materno de Deus. Estamos nos albores do 3º milênio da história cristã e é bom lembrar que o seu início foi a gravidez da Virgem. Gravidez que aconteceu diretamente pela “força do Altíssimo” (Lc 1,35).
São Paulo, nas suas cartas, escreve que ao se encarnar, Jesus aceitou nossa condição humana com toda a sua miséria. Mas Jesus Cristo não se identifica com a realidade humana pecadora; ele a supera e transcende. Ele pré existia na glória eterna do mistério de Deus. O Verbo que se fez carne no tempo da história existia desde toda a eternidade.
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Quando Maria se tornou ciente, no mais profundo do seu íntimo, do projeto divino da Encarnação foi envolvida por ele. O Evangelho de Lucas nos conta isso na forma de uma aparição de um mensageiro de Deus, o anjo Gabriel. Solicitada a participar, Maria deu sua adesão total: “Eis a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra”. E aí se tornou a nova Eva, ou a representante de toda a humanidade.
Lucas faz a catequese de uma revelação divina que explica o mistério de Jesus. Trata-se do fundamento da fé nele. Como aconteceu a sua concepção, qual a origem humana dele e qual a origem sobrenatural. O “sim” de Maria ajustando sua vida ao projeto de Deus é parte integrante dessa explicação teológico-catequética de Lucas. Ela nos deu um exemplo maravilhoso de disponibilidade a Deus. Sem a sua adesão de fé, sem o seu “faça-se em mim”, não teríamos Jesus.
A voz do anjo, que pode simbolizar aqui a revelação divina, saúda Maria com a expressão: “cheia de graça!” Graça na Bíblia significa aquilo que Deus é. Deus é a graça que se comunica. É a identidade mais profunda do seu ser. Se Maria é a “cheia dessa graça” ela é totalmente possuída por Deus por ter acolhido a oferta dele: Jesus.
Mas, segundo o texto, Maria perturbou-se com a saudação. O que significa isto? Segundo os estudiosos significa a preocupação interior da humilde Maria de Nazaré não entendendo todo o alcance daquele anúncio para a sua vida. A vontade de Deus parecia lhe trazer problemas. Foi tranquilizada a simplesmente aceitar o mistério do Salvador como o Filho do Altíssimo, pois o próprio Espírito de Deus a cobriria com seu poder. Dela nasceria um filho que não era só dela e não teria um pai carnal, mas seria o Filho do Altíssimo. Ela devia dar-lhe o nome de Jesus porque ele seria o Messias esperado como descendente de Davi. Jesus o salvador-messias, esperado por todos e também por ela, estava chegando a todos por meio dela. Ela não precisava temer nada, pois agradara a Deus e Ele a fizera cheia da sua graça.
Esta narrativa bíblica da Anunciação deve ser lida, meditada, rezada muitas e muitas vezes. Ela é a porta de entrada para a vida com o Senhor Jesus. Queremos repetir o sim obediente e confiante de Maria e com a sua ajuda viver a nossa fé em tantas e tantas situações que nos deixam temerosos, preocupados e perplexos. Por um “sim” tão curto e simples é possível entrar em cheio no mistério da graça salvadora de Cristo, vivendo as realidades da família, do trabalho e da vida em sociedade iluminando-as sempre com a oração.
SÁBADO
Lucas 18,9-14
A humildade: Ambiente de nossa transformação interior
“Porque todo o que se exalta, será humilhado; e o que se humilha, será exaltado.”
Neste tempo de quaresma a Palavra de Deus tem sido, para nós, um espelho no qual temos podido olhar, com nitidez, as vibrações do coração de Deus e as de nosso próprio coração, em uma confrontação constante de nossa relação com Deus e de nossa relação com os irmãos.
Desta maneira, temos tido a oportunidade de assimilar os sentimentos de Jesus, o homem novo, o Filho amado, o verdadeiro irmão, em nosso exercício quaresmal do amor: a oração e a misericórdia.
1. Qual espírito anima nossa oração?
No Evangelho de hoje, a parábola do fariseu e do publicano, nos convida a discernir o verdadeiro espírito que anima nossa oração.
Esta parábola tem uns destinatários muito precisos: “alguns que se tinham por justos e desprezavam aos demais” (Lc 18,9).Com esta parábola Lucas ajuda a desmascarar esse “fariseu” que pode assediar, continuamente, a vida de um discípulo de Jesus.
Vejamos como o faz:
“Dois homens subiram ao templo a orar: um fariseu, outro publicano” (18,10). Os dois personagens representam duas maneiras de está ante Deus e ante os irmãos, duas maneiras de orar, que estão em aberta oposição.
A oração do fariseu
O fariseu parecia mais concentrado em seu próprio eu(ver 18,11). O centro de sua oração é ele mesmo, sua autossuficiência, sua vanglória. Dá graças, não para louvar a Deus, mas para louvar a si mesmo, condenando e desprezando aos demais.
Com Deus é autossuficiente, com os outros é acusador. Acredita-se justo porque cumpre as leis, porém está muito longe do amor de Deus e dos irmãos, como já havia dito Jesus neste mesmo evangelho de Lucas (ver 11,42).
A oração do publicano
“O publicano ao contrário, mantendo-se a distância, não se atrevia nem a alçar os olhos ao céu, mas que se golpeava o peito…” (18,13). Sua atitude externa revela o reconhecimento humilde de seu pecado, de sua própria indignidade ante Deus e um profundo arrependimento.
Dizendo “Ó Deus! Tem compaixão de mim, que sou pecador” (18,13), o publicano demonstra que o centro de sua oração é o Deus da misericórdia que purifica do pecado (Sl 51,3). Assim, como faz o orante do Salmo “miserere”, sua oração humilde e confiante, brota do mais profundo de seu coração.
2. Quem confia, humildemente, em Deus, é justificado:
Depois desta forte contraposição a parábola de Jesus chega onde queria chegar: “digo-lhes que este chegou a sua casa justificado e, aquele, não” (18,14).
O que justifica uma pessoa diante de Deus não são suas próprias obras, mas a abertura, a confiança e a acolhida da salvação que o Pai oferece, gratuitamente, em seu Filho Jesus Cristo: “Pelas entranhas de misericórdia de nosso Deus, que farão que nos visite uma Luz da altura, a fim de iluminar os que habitam em trevas…” (1,78-79ª).
Na última frase, Jesus explica por que um é justificado e o outro não: “Porque o que se exalta será humilhado, o que se humilha será exaltado” (18,14). Também, neste evangelho, Jesus havia ensinado que a humildade de coração é a atitude de fundo de nossa fé e de nossa relação com Deus.
Só os pequenos, os puros de coração, podem entrar no Reino dos céus, porque Deus “esconde estas coisas aos sábios e as revela aos simples” (Lc 10,1-2). Este mesmo caminho de humildade o tem percorrido Jesus para levar-nos ao Pai. Sua máxima expressão é a humildade do crucificado.
Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração
- Em que se assemelha e se distingue a atitude do fariseu e do publicano?
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- Quais atitudes do fariseu e do publicano encontro em minha vida na relação com Deus?
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Como fazer para melhorar?
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- Comparo-me, frequentemente, com os demais para poder justificar minha maneira de agir?
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Que me pede Jesus a respeito?
Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM