ESTUDO BÍBLICO NA 12ª SEMANA COMUM ANO C 2022

ESTUDO BÍBLICO NA 12ª SEMANA COMUM ANO C 2022

Comunidade Paz e Bem

SEGUNDA-FEIRA

Mateus 7,1-5:

O JUIZO FEITO SEM AMOR ANTE AS FALTAS DOS OUTROS

“Não julgueis para que não sejais julgados”

O ensinamento de Jesus no Sermão da Montanha tem nos levado a examinar os valores do Reino que inspiram o comportamento de um discípulo do Senhor em suas relações com os demais (Mt 5,21-48).

Visto que antes de tudo se trata de refletir com “boas obras” (5,16) o rosto amoroso do Pai celeste em uma vida de filhos, o ensinamento versou logo em como cultivar a relação com o Pai (6,1-18).

Da relação com os irmãos e com Deus, a aprendizagem da justiça do Reino, se passou à relação com os bens da terra (6,19-34). Desta forma já se tem abordado os pontos essenciais para uma vida de discipulado.

Sem dúvida, ficam ainda por examinar três critérios do comportamento cristão na vida cotidiana. Estes são:

(1) o juízo (7,1-4);

(2) o discernimento (7,6);  

(3) a oração (7,7-11).

Estes terminam com o anúncio de uma regra geral (7,12).

Examinemos o primeiro ponto: o juízo (7,1-4).

A relação com o próximo significa também relação com suas falhas. Nossa tendência –habitualmente- é insistir nas faltas dos demais e condenar com dureza. É fácil criticar o outro e chamar a atenção sobre suas debilidades. Jesus mostra quando equivocados estamos quando fazemos isto.

Quando se fala de outra pessoa eventualmente se percebe pouco amor, malícia e inclusive alegria porque à outra pessoa lhe foi mal. Com quanta presunção e soberba se julgam os erros dos outros, sejam pequenos ou grandes, reais ou suposições. Isto pode suceder tanto ao nível de nosso pensamento, como também em meio de conversas.

Jesus disse: “Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgueis sereis julgados (ou seja: Deus vos julgará)” (7,1-2). Aqui se recorda como nossos juízos sobre os outros não ficam sem efeito: com a condenação dos outros, condenamos a nós mesmos. Deus está atrás, na defesa do agredido com nossas conversas: “Deus os julgará”. O que façamos com os outros, fazemos com Deus; desta forma indicamos a maneira como queremos ser tratados por Ele.

Jesus disse: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia (5,7); “Perdoa-nos nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores” (6,12). Portanto, não podemos esperar a bondade, a compreensão, o perdão e a misericórdia de Deus, se rejeitamos nosso próximo com juízos sem amor, sem consideração, nem compreensão.

Não devemos fechar os olhos frente aos erros ou debilidades dos outros, o que se pede é que os valorizemos objetivamente, quer dizer, sem comprazer-nos nele, com liberdade interior, com misericórdia, sabendo que também nós necessitamos da compreensão do próximo e de Deus.

É verdade que os defeitos dos demais são muitos mais evidentes e fastidiosos que os nossos. Podemos ser muito sensíveis no que nos toca e bem mais frios com relação aos outros. Com a imagem da “viga e o cisco”, Jesus nos chama a atenção sobre o perigo de julgar os outros de forma temerária, ou seja, um juízo baseado em enganos e meias verdades.

Para um juízo segundo o coração de Deus se requer:

(a) Não deixar-se guiar pela impressão do momento;

(b) Não precipitar-se para criticar e corrigir;

(c) Olhar-nos primeiro;

(d) Descobrir nossas faltas sem diminuí-las, sem desculpas;

(e) Então, de modo ponderado, chamar a atenção ao outro e ajudar-lhe em seu crescimento pessoal;

(f) Esta correção fraterna não esquecerá o ensinamento de Mt 18,15-17;

(g) Fazer sentir ao outro que o que se disse é porque lhe quer muito.

O ensinamento sobre a objetividade nos juízos, inspirada na imagem da palha e a viga, nos faz cair em conta que não é correto diminuir nossas falhas e agigantar as dos outros, e bem empreender o serviço da correção fraterna pelo caminho justo. Nunca há que falar dos erros dos demais por simples diversão ou por desejo de armar escândalo. Recordemos: Ante tudo a misericórdia!

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Quem gosta que o julguem com dureza e admitiria que suas falhas proclamem-se aos quatro

ventos? Que tem que ver Deus com nosso comportamento ante os defeitos dos outros?

  • Que defeitos de meu ambiente sinto forte desejo que sejam corrigidos? Que coisas me põem particularmente nervoso?
  • Quais são minhas falhas pessoais das quais pouco me recordo e nem levo em conta?

TERÇA-FEIRA

Mateus 7,6.12-14

CRITÉRIOS DE DISCERNIMENTO (I): QUANDO A ELEIÇÃO LEVA A FORTES RENUNCIAS.

 “Que estreita a entrada e que apertado o caminho que leva à vida!”

Depois de apresentar-nos um principio de vida que regula a ação do discípulo (Mt 7,6), e de saltar os vv.7-11 e ler a síntese do v.12, a passagem da liturgia de hoje nos coloca frente à primeira parte da conclusão do Sermão da Montanha (Mt 7,13-14).

  1. Ensinamentos: (vv. 6.12)
  •  A prudência

O v.6 trata sobre a prudênciaque deve caracterizar um discípulo de Jesus. Visto que as comunidades eram perseguidas, era necessário ser cautelosos quanto ao que se dizia fora delas, porque tudo se convertia em motivo de ataque. Esse é o sentido do “não dar aos cães o que é santo, nem lanceis vossas perolas aos porcos,…” (7,6).

Para os judeus o “cão” e “porco” eram animais impuros e utilizavam estas cruéis expressões para referir-se às pessoas que não pertenciam ao povo de Deus. Para o mundo cristão, e em coerência com Mateus (5,8) parece designar uma pessoa não-convertida. 

Pois bem, há acontecimentos, mistérios, eventos, que são próprios da comunidade e que não são entendidos por uma pessoa de fora. Contar aos não-convertidos sucessos internos da comunidade pode significar expô-la ao desprestigio ou à insensatez de quem aproveita qualquer coisa para criticar.

Não esqueçamos que esse tipo de pessoas é capaz de praticar injustiças com o próximo quando estão em jogo seus interesses pessoais.

  •  A reciprocidade

O v.12 apresenta a chamada “regra de ouro”:Tudo quanto queirais que os homens vos façam, fazei também vós a eles; porque esta é a Lei e os Profetas”. Trata-se do principio da reciprocidade: que cada um busque o interesse do outro como se fosse seu próprio interesse.

Este princípio sintetiza todo o ensino do Sermão da Montanha sobre a Justiça do Reino: Jesus dá um espírito novo à antiga doutrina. O Antigo Testamento se faz realidade na Palavra e na práxis de Jesus e da comunidade de seus seguidores.

  • Criterios de discernimento: (vv.13-14)

O Sermão da Montanha não somente dá ensinamentos. Ao final também dá critérios de discernimento para que verifiquemos se temos entrado, realmente, em seu espírito e sua ação. A grande seção de Mt 7,13-27 se refere a estes critérios:

  • Quando a opção se faz “difícil” ou não (Mt 7,13-14);
  • Quando dão “frutos” ou não (Mt 7,15-20);
  • Quando as palavras são postas em “pratica” ou não (Mt 7,21-27).
  • O primeiro critério de discernimento: a eleição da via difícil

A liturgia nos convida a deter-nos no primeiro critério de discernimento: quando a opção supõe dolorosas renuncias (7,13-14).

Toda conclusão recorda o objetivo que se pretende. Recordemos o objetivo do ensinamento do Sermão da Montanha: “entrar no Reino” (5,3.10.20) e que o correto é entrar pela “porta  estreita” (7,13). Se queremos entrar na vida, não podemos deixar-nos levar pelos critérios de ação da massa, mas devemos seguir uma via fatigosa.

Em todo o Sermão da montanha Jesus descreve o caminho que conduz à vida, à vida eterna, que se alcança com a entrada no Reino de Deus. Mas, deixa claro que este caminho não é largo e cômodo, mas fatigante e estreito; é certo que o enfrentaremos com dificuldade. Jesus acrescenta que este caminho, a maior parte das pessoas, não o toma: “e poucos são os que o encontram” (7,14).

Mas, a eleição que se faz é decisiva. Estão em jogo: a vida ou a ruína eterna. Quem quer entrar na vida eterna terá que assumir as dolorosas renuncias que implica – sabendo que quando se elege algo também se deixa de lado algo – e, por outro lado, não deixar-se convencer pelo resto das pessoas.

Para um discípulo de Jesus o comportamento da massa não é critério de ação. Um discípulo sempre caminha na conta-mão.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Sei guardar “os segredos de casa”? Tendo a contar confidencias da vida de comunidade a pessoas externas? Qual seria as conseqüências?
  2. Ponho meus interesses acima dos demais?Oriento-me segundo a vontade do Pai como único critério válido de ação?
  3. Estou disposto a aplicar, de maneira coerente, este critério a meu projeto de vida?


QUARTA-FEIRA

Mateus 7,15-20

Critérios de discernimento (II): O AUTÊNTICO DAR FRUTOS 

Não só deixar-nos atrair “Toda árvore boa dá bons frutos”

pela “massa” (evangelho de ontem) pode desviar-nos do reto caminho, mas, também, a obra dos falsos profetas (evangelho de hoje).

Já Paulo havia descrito o comportamento dos falsos profetas no ambiente cristão: “Esses tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, e sim a seu próprio ventre, e, por meio de suaves palavras e lisonjas, seduzem os corações dos humildes” (Rm 16,18).

E no discurso de Mileto havia dito aos presbíteros: “Sei que depois de minha partida, se introduzirão entre vós lobos cruéis que não perdoarão o rebanho; e também entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para arrastar os discípulos atrás de si. Portanto vigiai” (At 20,29-30).

Desde as origens até hoje, não tem sido fácil, aos discípulos, se orientar em meio a todos os ensinos, opiniões, explicações da Escritura, interpretações do presente e do futuro que escutamos. Muitas palavras podem ser inteligentes e bem ditas, mas nem sempre verdadeiras.

Os falsos profetas pregam com a palavra, mas nunca com a coerência de vida; dai vem um critério de discernimento. Jesus não nos convida a discutir ou fiscalizar as palavras, mas, nos remete às obras.

Diz duas vezes: “Por seus frutos os conhecereis” (7,16.20). Isto não é novidade. João Batista já havia pregado: “Dai fruto digno de conversão” (3,8). E, inclusive, havia advertido: “Toda árvore que não dá bom fruto será cortada e lançada ao fogo” (3,10).

Jesus repete hoje esta última frase, mas em tempo presente: “Toda árvore que não dá bom fruto, é cortada e lançada ao fogo” (7,19).

O bom fruto (recordemos em 5,16: as “boas obras”) é o atuar segundo a justiça do Reino, que corresponde à vontade de Deus (ver textos anteriores). Este não pode ser substituído por nenhuma palavra e é o ponto de referência. Quando disto nos descuidamos, vem a ruína (7,19).

A comparação do falso profeta com um lobo disfarçado de ovelha (7,15), mostra até que ponto uma pessoa pode pregar sem estar convertido a ela.

A aparência é boa, mas por dentro segue o homem velho: o cobiçoso e ladrão que submete tudo o que aparece no caminho, a seus interesses pessoais; na verdade, continua sento uma pessoa “selvagem” que não conheceu a educação do Reino.

Por isso as obras seguirão sendo o ponto de referência no discernimento do falso profeta: não importa tudo o que diga, o que conta é o que, afinal, faça. E já sabemos qual é o atuar que se espera.

Todo o Sermão da Montanha ensina qual é o modo de ser justo. Com base neste critério se deve fazer uma avaliação dos frutos de cada árvore, e só a conformidade com o ensinamento de Jesus (os valores do Reino) indica se são corretos ou não.

A consideração das obras deve dissipar a névoa das palavras.

Aprofundemos com os nossos pais na fé:

Santa Teresa d’Ávila (1515-1582), carmelita descalça, doutora da Igreja Castelo interior, 5ª moradas

«Pelos frutos os reconhecereis»

Como é fácil reconhecer aqueles que têm deveras o amor do próximo e os que não o têm com esta perfeição!

Se entendêsseis o que nos importa esta virtude, não faríeis outro estudo.

Quando vejo algumas pessoas muito diligentes em entender a oração que têm e muito encapotadas quando estão nela (que parece não ousam bulir, nem menear o pensamento, para que não se lhes vá um pouquinho do gosto e devoção que tiveram), faz-me ver quão pouco entendem do caminho por onde se alcança a união.

E pensam que ali está todo o negócio. Mas não…; obras quer o Senhor.

E se vês uma pessoa enferma a quem podes dar algum alívio, não se te dê nada de perder essa devoção compadecendo-te dela; e se tem alguma dor, te doa a ti também; e, se for necessário, jejua,para que ela coma. Não tanto por ela, mas porque sabes que teu Senhor quer isso.

Esta é a verdadeira união com Sua vontade.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. A comunidade de fé, à qual pertenço, tem vivido conflitos doutrinais, divisões ou

desvios em matéria de fé e costumes, por parte de falsos líderes?

  • Qual o critério para discernir o falso profeta?
  • Como sei se estou vivendo a Justiça do Reino e entrando assim no Reino dos Céus?
  • Que “frutos” de vida nova estão esperando de mim e que ainda não são vistos?


QUINTA-FEIRA – solenidade da natividade de S. João Batista

Lucas 1,57-66.80

“Digo-vos que dentre os nascidos de mulher

não há ninguém maior do que João” (7,28).

Ante o menino recém nascido, a expressão dos pais de família não deveria ser outra que a do Salmo 139,14:   “Te dou graças por tantas maravilhas!”.

Se olharmos, atentamente, o texto de hoje, que narra as circunstancias do nascimento de João Batista, notaremos que na boca de todos os personagens há expressões de alegria e de louvor.

O nascimento de João nos convida a descobrir as atitudes com que deveríamos receber a vinda ao mundo das novas criaturas. É verdade que a vinda de João é, em primeiro lugar, um acontecimento próprio dele.

João, nos evangelhos acumula muitos títulos, o suficiente para merecer nossa atenção em um festejo de seu nascimento. O próprio Jesus teceu sobre ele elogios tais como: “ele era a lâmpada que ardia e iluminava” (Jo 5,35); “não surgiu entre os nascidos de mulher um maior que João” (Mt 11,11).

Porém, já desde seu nascimento o menino era rodeado de elogios. Estes elogios partiram:

  • da felicitação à mãe (se subtende o pai) pois “o Senhor lhe havia feito grande misericórdia” (Lc 1,58);
  • do cântico gozoso do pai; e dos comentários positivos da vizinhança.

Todos eles nos convidam a pôr-nos ante ao mistério do menino que nasce.

Por isso, vale a pena reler o evangelho de hoje, observando as relações familiares, particularmente do ponto de vista dos pais e, também, os outros adultos que rodeiam a família, para que vejamos as atitudes evangélicas com que se recebe um filho.

Sugerimos começar lendo o texto por conta própria anotando o que faz cada um dos personagens:

  • a mãe;
  • o pai;
  • os familiares;
  • os vizinhos;
  • e o grande protagonista: Deus.

Logo veremos como tudo converge para as “boas vindas” que se dá ao filho. Nas linhas que seguem vamos nos deter neste último enfoque.

Um filho desejado e esperado com amor

Para os pais de João, a vinda do menino foi uma surpresa total. Mesmo que o tenham desejado, ardentemente durante toda sua vida, o filho chegou no momento menos esperado: quando já eram anciãos: “Eu sou velho e minha mulher de idade avançada” disse Zacarias em Lucas 1,18.

Com razão, a primeira reação do pai foi não dar crédito às palavras do anjo, naquele dia, no Templo (1,20). Ainda que fosse claro que o queria, o estupor vivido naquela cena da anunciação nos mostra que naquele dia Zacarias compreendeu que seu filho era desejado, em primeiro lugar, por Deus.

Porém, o maravilhoso é isto: ainda que inesperado, o menino que havia sido toda uma vida desejado, provêm de onde saem os desejos mais profundos: a oração.

O dom da vida de João foi acolhido num ambiente de oração:

  • O pai recebe a noticia em oração: “teu pedido foi escutado” (1,13);
  • Ao longo da gravidez, a mãe não fez outra coisa senão orar bendizendo a Deus pelo amor que lhe teve: “Isto é o que tem feito por mim o Senhor…” (1,25); e

A festa passa do coração da mãe à toda a família e vizinhos tão logo nasce o menino. Nesta festa familiar todos reconhecem no menino um sinal da presença de Deus(“enchem- se de temor”,1,5) e reconhecem que: “a mão do Senhor estava com ele” (1,66; 1,58). 

Na realidade, a festa já havia começado há três meses. Durante sua gravidez, tanto a mãe como o menino, ainda no ventre, tiveram a graça de viver uma forte experiência de Deus.

Novos sinais confirmaram a decisão de receber o menino: o encontro com Maria atraiu a efusão do Espírito sobre mãe e filho, em sua entranhável comunhão. Então o menino dançou de alegria e a mãe cantou as bênçãos da obra de Deus na maternidade e na fé da “Mãe de meu Senhor” (1,41-45).

Nesse momento, Maria – a primeira a festejar – havia ido ver o sinal que lhe havia dado o anjo (ver 1,36). Maria comprovou no nascimento de João que “nenhuma coisa é impossível para Deus” (1,37). No caso da vida de Zacarias e Isabel, acontece como a Abraão e Sara, que também eram anciãos e com uma vida de casal triste, pela incapacidade de gerar.

Como conta o livro do Gênesis, a concepção, gestação e nascimento do filho, lhes abriu os olhos ante a grandeza de Deus, quando as circunstancias pareciam adversas: “Acaso existe algo de tão maravilhoso para Yahweh?” (Gn 18,14). 

O riso de Sara se repete em todas as mães e pais: não um riso irônico, de desconfiança pelas palavras “impossíveis” de Deus, mas porque, no filho, Deus entra na família para trazer uma imensa felicidade.

O filho é sinal da presença do Deus da vida. A paternidade-maternidade é uma profunda experiência de Deus. Uma mãe e um pai deveriam dizer de seus filhos: “Deus me tem dado uma grande alegria”.

Um filho que renova sua família

A noticia de uma gravidez sempre causa alguma surpresa. A vida do casal começa a mudar. Mas o que não se pode perder de vista, desde o começo, é que, seja esperado ou indesejado, todo filho é uma maravilha de Deus e é querido por Deus, se bem que dependa, também, da decisão livre de seus pais.

A vinda de João introduz mudanças na vida da anciã e do solitário casal. Para Isabel foi a plenitude de sua feminilidade: a fecundidade. Não seria mais tida como estéril, mas como uma mulher profundamente amada e considerada por Deus: “O Senhor lhe tinha feito grande misericórdia” (1,58).

A vida do sacerdote do Templo, Zacarias, chegou, também, à plenitude de sua vocação quando, invadido pelo Espírito Santo, começou a profetizar, contemplando, com grande alcance, o horizonte do evangelho que estava por vir (1,67). Mas, isto foi provocado pelo nascimento de seu filho João: ”E a boca imediatamente se lhe abriu, a língua desatou-se e falava, bendizendo a Deus” (1,64). 

A verdadeira palavra vem do silêncio, como foi com Zacarias: a vinda inesperada do filho “desejado” o fez passar por todas as fases da comunicação profunda e autêntica: palavra-silêncio-palavra.

Enquanto o filho estava em gestação, também Zacarias acolhia e fazia crescer dentro de si, durante nove meses de mudez, a nova obra que Deus estava realizando nele, até que chegou, também, a ele, o parto de uma palavra amadurecida no coração, a saber: cumprimento (1,63); e profecia (1,67-79).

Zacarias aprende de novo a falar; suas palavras, daí em diante, serão as de Deus. Não é assim que deveria gestar-se uma fluida e transparente comunicação em cada comunidade, em cada família?

Todos estes detalhes de valorização do casal, de reconhecimento e plenitude da feminilidade, de realização pessoal do pai, de novos níveis de comunicação autêntica e profunda, são o resultado da acolhida amorosa do filho e expressão patente da obra da Palavra de Deus na família.

Um filho é grande luz para a família e fonte de esperança para a humanidade

O que ocorre a João é apenas prelúdio do que está para ocorrer com a vinda de Jesus. O mistério deste menino está iluminado e, de seu lado, também iluminará, pelo mistério do menino divino. Por isso, no texto se destacam dois movimentos:

  • um dentro da casa (familiares e vizinhos); e
  • outro fora, na região, “em toda a montanha da Judéia” (1,65).

O movimento dentro da casa se dá em torno ao nome do menino, sempre motivo de discernimento e acordo em todo casal; trata-se de uma decisão que afetará, para sempre, a vida do menino.

Segundo os costumes orientais, o nome identifica a missão ou origem do recém-nascido. Do ponto de vista do evangelho, o nome identifica a toda nova ovelha do rebanho e constitui um projeto ao qual corresponde a vocação do que o leva (ver Jo 10,3).  Pergunta-se a Zacarias o nome e este escreve na tabuinha: “João é seu nome” (1,63).

Vale a pena destacar:

  • Que a mãe e o pai estão em completo acordo a respeito. A mãe corrige os familiares: “Não; tem de chamar-se João” (1,60). Sinal de comunhão do casal;
    • Que este nome significa “Deus fez misericórdia”, o qual é a síntese da historia de seus pais, mas também o maravilhoso programa de vida de João: a grande dignidade que lhe concedeu Jesus;
    • Que o nome vem do mesmo Deus (1,13). No nome há uma missão: Deus tem um sonho para cada um dos seus, e para isso, concede os dons, talentos e graças para cumprir o melhor possível sua tarefa, por menor que seja, de colaborar com seu serviço, seu “grão de areia”, à humanidade.

Finalmente, em toda a região, onde o nascimento de João se torna evangelho, a pergunta sempre é a mesma: “Que será deste menino?

O menino se converteu em lugar da experiência de Deus, porque o povo não via somente um menino, mas que “a mão do Senhor estava com ele” (1,66). De fato, desde seu nascimento “o Profeta do Altíssimo” vai adiante do Senhor para preparar seus caminhos (1,76).

Se com ele é suscitada tanta admiração, como será quando nascer o salvador? O nascimento do menino aplaina os difíceis caminhos do conhecimento do salvador.

O povo contempla no recém-nascido uma missão e uma mensagem: “Que será deste menino?. Não haverá que fazer-se a mesma pergunta cada vez que nasce um menino e se toma a frágil e maravilhosa criatura nos braços?

Então teremos que saber olhar longe e comprometer-nos e fazer tudo o que esteja ao nosso alcance para que seu crescimento, amadurecimento, situação no mundo e realização plena sejam possíveis (ver 1,80)

Zacarias, diante de seu filho recém nascido e junto a sua mãe emocionada e tão amplamente felicitada, contempla horizontes novos de esperança, no gozo do Espírito Santo. No menino se contempla um futuro repleto de promessas. Na vida de cada menino se deve descobrir um anúncio daquele menino que nos traz a vida plena.

Nenhuma outra palavra pode exaltar tanto um nascimento como esta: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimido seu povo, suscitando-nos uma força de salvação… E a ti, menino, te chamarão Profeta do Altíssimo, porque irás adiante do Senhor a preparar seus caminhos, anunciando a seu povo a salvação, o perdão de seus pecados… Pela entranhável misericórdia de nosso Deus, nos visitará o sol que nasce do alto, para iluminar os que vivem na treva e na sombra da morte, para guiar nossos passos, pelo caminho da paz” (1,68-69.76-79)

O menino “surpresa” de Isabel e Zacarias, o menino “surpresa” de Sara e Abraão, e por que não, todos os meninos que vêm – esperados ou de improviso – a este mundo, são fonte de alegria e esperança. A grandeza de sua pequenez é um anuncio da passagem e da vinda de Deus entre nós.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Quais foram as circunstancias que rodearam o nascimento de João Batista? Que diziam seus parentes e conhecidos? Como reagiram seus pais?
  2. No diálogo com meu esposo/a recordo qual nossa reação no dia do nascimento de cada um de nossos filhos. Como é nossa relação hoje com eles? A presença deles é motivo contínuo para louvar e agradecer a Deus?
  3. Como estamos ajudando e acompanhando nossos filhos para que cresçam,amadureçam e se estejam corretamente no mundo como Deus quer de cada um?
  4. Como podemos como família ajudar a que nossos vizinhos sejam cada dia mais conscientes de sua responsabilidade de ser bons pais e educadores e ao mesmo tempo os filhos respondam com empenho a sua preocupação por eles?
  5. ‘A verdadeira palavra sempre vem do silêncio’. Assim ocorreu a Zacarias. Que espaços de silêncio e oração favorecemos em nossa família para o encontro com o Senhor?

De uma homilía de San Juan Crisóstomo:

Deixemos falar João Batista: “Diz, João, Como, ainda encerrado na obscura morada do seio materno, podes ver e ouvir? Como contemplas as coisas divinas?…”

Ele responde: “Vejo, pois o Sol que está no seio virginal me ilumina e faz ver. Meus ouvidos ouvem, pois estou nascendo para ser a voz daquele que é o Verbo por excelência. Pois considero o Filho único de Deus envolto em carne. Exulto porque vejo o Criador do universo apropriar-se da natureza humana… Sou o precursor de seu Advento e venho, de certo modo, ao encontro de vós, para testemunhar”.

Pe. Fidel Oñoro, cjm

ANEXOS:

São João Paulo II (Homilia em Kiev, 24/6/01)

«O seu nome é João»

«O Senhor chamou-me desde o seio materno, pronunciou o meu nome desde as entranhas de minha mãe» (Is 49,1).

Celebramos hoje o nascimento de Joâo Batista…

Hoje podemos fazer nossa esta exclamação.

Deus conheceu-nos e amou-nos antes mesmo que os nossos olhos
pudessem contemplar as maravilhas da criação.

Ao nascer, cada homem recebe um nome humano.

Mas, ainda antes disso, ele possui um nome divino: o nome pelo qual Deus Pai o conhece e o ama desde sempre e para sempre.

É assim para todos, sem exclusão.

Nenhum homem é anônimo para Deus!

Todos possuem igual valor aos seus olhos: todos são diferentes, mas todos iguais, todos chamados a ser filhos no Filho.
«João é o seu nome» (Lc 1,63).

Zacarias confirma o nome do seu filho perante os parentes maravilhados, escrevendo-o numa tabuinha.

O próprio Deus, por intermédio do seu anjo,tinha indicado este nome, que em hebreu significa «Deus é favorável».

Deus é favorável ao homem: quer que ele viva, quer sua salvação.

Deus é favorável ao seu povo: quer fazer dele uma bênção para todas as nações da terra.

Deus é favorável à humanidade: guia o seu caminho para a terra onde reinam a paz e a justiça.

Tudo isto está inscrito nesse nome: João!


SEXTA-FEIRA – solenidade Sagrado Coração de Jesus

Lc 15,3-7

A Igreja celebra a Festa do Sagrado Coração de Jesus na sexta-feira da semana seguinte à Festa de Corpus Christi. O coração é mostrado na Escritura como símbolo do amor de Deus. No Calvário o soldado abriu o lado de Cristo com a lança (cf. João 19,34). Diz a Liturgia que “aberto o seu Coração divino, foi derramado sobre nós torrentes de graças e de misericórdia”. Jesus é a Encarnação viva do Amor de Deus, e seu Coração é o símbolo desse Amor. Por isso, encerrando uma conjunto de grandes Festas (Páscoa, Ascensão, Pentecostes, Santíssima Trindade, Corpus Christi), a liturgia nos leva a contemplar o Coração de Jesus. [Consagre-se ao Coração de Jesus]

Este sagrado Coração é a imagem do amor de Jesus por cada um de nós. É a expressão daquilo que São Paulo disse: ”Eu vivi na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim (Gálatas 2,20). É o convite a que cada um de nós retribua a Jesus este amor, vivendo segundo a Sua vontade e trabalhando com a Igreja pela salvação das almas.

Muitos Santos veneraram o Coração de Jesus. Santo Agostinho disse: “Vosso Coração, Jesus, foi ferido, para que na ferida visível contemplássemos a ferida invisível de vosso grande amor”. São João Eudes, grande propagador desta devoção no século XVII, escreveu o primeiro ofício litúrgico em honra do Coração de Jesus, cuja festa se celebrou pela primeira vez na França, em 20 de outubro de 1672.

Jesus revelou o desejo da Festa ao seu Sagrado Coração à religiosa Santa Margarida Maria Alacoque, na França, mostrando-lhe o “Coração que tanto amou os homens e é por parte de muitos desprezado”. S. Margarida teve como diretor espiritual o padre jesuíta S. Cláudio de la Colombière, canonizado por João Paulo II, e que se incumbiu de progagar a grande Festa.

O Papa Pio XII afirmou que tudo o que S. Margarida declarou “estava de acordo com a nossa fé católica”. Este foi um grande sinal a mais da misericórdia e da graça para as necessidades da Igreja, especialmente num tempo em que grassava a heresia do jansenismo (do bispo francês Jansen) que ensinava uma religião triste e ameaçadora.
O Papa Clemente XIII aprovou a Missa em honra do Coração de Jesus e Pio X, dia 23 de agosto de 1856, estendeu a Festa para toda a Igreja a ser celebrada na sexta-feira da semana subseqüente à festa de Corpus Christi. O papa Leão XIII consagrou o mundo ao Sagrado Coração de Jesus. Paulo VI disse certa vez que ela é garantia de crescimento na vida cristã e garantia da salvação eterna.
Entre as Promessas que Jesus fez à Santa Margarida está a das Nove Primeiras Sextas Feiras do mês: aos fiéis que fizerem a Comunhão em nove primeiras sextas-feiras de cada mês, seguidas e sem interrupção, prometeu o Coração de Jesus a graça da perseverança final, o que significa que a pessoa nunca deixará a fé católica e buscará a sua santificação. São as chamadas Comunhões reparadoras a Jesus pela ofensa que tantas vezes seu Sagrado Coração é tão ofendido pelos homens.

Pio XII disse: “Nada proíbe que adoremos o Coração Sacratíssimo de Jesus Cristo, enquanto é participante e símbolo natural e sumamente expressivo daquele amor inexaurível em que, ainda hoje, o Divino Redentor arde para com os homens”.

Essas são as Promessas que Jesus fez:

“No extremo da misericórdia do meu Coração onipotente, concederei a todos aqueles que comungarem nas primeiras sextas feiras de cada mês, durante nove meses consecutivos a graça do arrependimento final. Eles não morrerão sem a minha graça e sem receber os SS. sacramentos. O meu coração naquela hora extrema ser-lhe-á seguro abrigo”.

As outras promessas do Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque:

1 – Conceder-lhe-ei todas as graças necessárias ao seu estado.
2 – Porei a paz em suas famílias.
3 – Consolá-los-ei nas suas aflições.
4 – Serei seu refúgio na vida e especialmente na hora da morte.
5 – Derramarei copiosas bênçãos sobre suas empresas.
6 – Os pecadores encontrarão no meu Coração a fonte, oceano infinito de misericórdia.
7 – Os tíbios se tornarão fervorosos.
8 – Os fervorosos alcançarão rapidamente grande perfeição.
9 – Abençoarei os lugares onde estiver exposta e venerada a imagem do meu Coração.
10 – Darei aos sacerdotes a força de comover os corações mais endurecidos.
11 – O nome daqueles que propagarem esta devoção ficará escrito no meu Coração e de lá nunca será apagado.


SÁBADO – Imaculado Coração de Maria, Memória

Lc 2,41-51

A memória litúrgica do Imaculado Coração de Maria é comemorada no sábado seguinte à solenidade do Sagrado Coração de Jesus, celebrada na segunda sexta-feira depois da solenidade de Corpus Christi. No entanto, a devoção ao Imaculado Coração de Maria remonta aos inícios da Igreja, pois tem suas raízes mais profundas nas Sagradas Escrituras. Nelas, encontramos referências ao Imaculado Coração no Evangelho segundo São Lucas, o “pintor” da Santíssima Virgem: “Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração” (Lc 2,19). “Em seguida, desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração” (Lc 2,51).
Em 1805, o Papa Pio VII concedeu a autorização para a celebração da festa às dioceses e às congregações religiosas que lhe pediam. No ano de 1855, o Papa Pio IX aprovou a Missa e o Ofício próprios do Imaculado Coração de Maria. Durante a Segunda Guerra Mundial, em 8 de dezembro de 1942, na Solenidade da Imaculada Conceição, o Papa Pio XII consagrou a Igreja e todo o gênero humano ao Coração Imaculado de Maria e, três anos depois, estendeu a festa do Imaculado Coração de Maria para toda a Igreja Católica.
A partir das aparições de Nossa Senhora, em Fátima, a devoção ao Imaculado Coração de Maria ganha ainda mais força, especialmente na devoção particular dos fiéis, como aconteceu com a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.

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