ESTUDO BÍBLICO NA 19ª SEMANA COMUM ANO C 2022

ESTUDO BÍBLICO NA 19ª SEMANA COMUM ANO C 2022

Comunidade Católica Paz e Bem

SEGUNDA-FEIRA

Mateus 17,22-27

Os filhos são livres

“Pega-o e entrega-o, por mim e por ti”

O texto de hoje começa com o segundo anúncio que Jesus faz de sua paixão, morte e ressurreição. Frente ao anúncio, os discípulos “se entristeceram muito” (17,23b).

Desta forma, o Evangelho coloca em primeiro plano a divergência entre o caminho do Filho do Homem que vem propor Jesus e a atitude negativa dos discípulos. Aos discípulos é difícil “conectar-se” com o caminho de Jesus.

Com este pano de fundo Mateus nos apresenta uma cena esplêndida na qual se destaca a liberdade de Jesus e se faz um bonito gesto de comunhão entre o Mestre e o discípulo.

Uma catequese sobre a liberdade de Jesus

O contexto é a cobrança do imposto que todos os israelitas maiores de 20 anos pagam, anualmente, para a manutenção do templo (para entender melhor ver Ex 30,1-10 e Ne 10,33-34).

Estamos diante de uma pergunta, à qual Pedro responde, apressadamente, que seu mestre paga o imposto (v.25). Quando chega em casa Jesus se antecipa e começa a falar-lhe do tema.

Tem alguma importância que Jesus pague, ou não, os impostos mencionados? O fato de Jesus pagar o imposto do templo levaria a supor sua aceitação da instituição cultual vigente e suscitaria a questão sobre onde está a novidade do Reino.

No diálogo com Pedro, Jesus aborda:

  • A pergunta que Jesus faz a Pedro (“os reis da terra, de quem cobram tributos ou impostos, de seus filhos ou dos estranhos?”; 17,25), está baseada no comportamento habitual e conhecido dos reis da terra, que eram ímpios com seus súbitos, e os confronta com o comportamento de Deus, que é amoroso e generoso com seus filhos. Este é um primeiro ponto que deve ficar claro: em Deus não há submetimento, mas relação amorosa.
  • Quando Pedro responde, Jesus mesmo diz: “Portanto, livres estão os filhos” (17,26).  Aparece o tema da liberdade. A liberdade constitui o vértice da pregação de todo o Novo Testamento (Gl 5,1: “Para sermos livres, Cristo nos libertou”). Segundo essa passagem, a relação com Deus é como um viver em casa com Ele, ou seja, em uma ampla margem de liberdade (por exemplo: não paga aluguel na própria casa). Daí que Jesus não se considere obrigado a pagar o imposto.
  • Aqui vemos aparecer uma visão com relação ao Templo de Israel. A comunidade cristã tem uma nova relação com Deus que se estabelece, não por meio do Templo, mas da pessoa de Jesus.

Um belo gesto de comunhão entre o Mestre e o discípulo

No milagre do peixe, dentro do qual se encontra a quantidade exata da taxa do imposto de duas pessoas, se manifesta a preciosa comunhão que o Mestre está tecendo com seu discípulo: “paga-o por ti e por mim” (17,27b).

Esta moeda aparece como sinal do profundo afeto que os une, da unidade para a qual aponta sua relação. Por outro lado ao decidir fazer o pagamento do imposto Jesus argumenta: “para que não sirvamos de escândalo” (17,27a). Jesus é livre e, como vimos, a liberdade do discípulo se apoia em sua relação com Jesus.  Porém, não é uma liberdade sem limites.

A frase sobre o escândalo poderia também ler-se positivamente: se bem que, por dentro, é completamente livre, por fora ele se permite assumir compromissos, isto é, sem perder seu espírito crítico com a sociedade, nem domesticar suas opiniões; é assim que um discípulo não deve deixar de comprometer-se com o que contribui para o bem comum.

A fé tem uma dimensão social que poderíamos chamar política, no bom sentido do termo: construtora da sociedade.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Tenho consciência de que sou “filho de um Rei” e, portanto livre? Como se manifesta minha liberdade

em Cristo?

  • Que relação há entre o anúncio da Paixão e o relato do pagamento do imposto? Por que é importante

a comunhão com Jesus em todos os aspectos?

  • Que formas de compromisso sou chamado a assumir com minha sociedade, sem perder a liberdade

de coração?

TERÇA-FEIRA

Mateus 18,1-5.10.12-14

PRESENÇA DO CÉU AMIGA

 “Seus anjos veem continuamente o rosto de meu Pai”.

No Evangelho de Mateus 18,10, Jesus evoca a convicção bíblica de que Deus cuida de seus pequeninos desprotegidos e vulneráveis ante a maldade humana. Para isso retoma com seu colorido a imagem da corte celestial : “Seus anjos veem continuamente o rosto de meu Pai”.

A ideia é que os “pequenos”, quer dizer, aqueles que por sua fragilidade podem ser facilmente excluídos, menosprezados ou escandalizados, contam com o respaldo de Deus. Quem se converte em ameaça para os “pequenos” terá que ver-se com Deus.

Mais ainda, estes “protegidos” do Pai, é a imagem do Filho por excelência, que é Jesus: “Ao que receber um pequeno como este em meu nome, a mim recebe. Porém…” (18,5-6); tudo mostra a gravidade que é a afronta contra o “pequeno” e ao mesmo tempo –com o verbo “receber”- ensina de que maneira cada um deve fazer-se “anjo” de Deus para eles.

Isto tem, todavia outra implicação: se o “pequeno” é o que aparece “custodiado” por Deus, não compreenderemos o que significa ser protegidos por Deus, se não nos fazemos “pequenos”.

A frase “Se não mudais e vos fazeis como crianças não entrareis no Reino dos céus” (18,4) faz supor que não pode captar em profundidade o que significa a “presença angelical” em sua vida quem não se coloca no lugar do pequeno que confia em Deus e se deixa guiar por Ele.

O caminho pascal pelo qual Jesus custodia nossos passos é o da conversão. E a conversão não é possível sem a docilidade de criança que –como esponja- aprende o que lhe oferece.

Este é o ponto de partida de todo crescimento espiritual. Santo Agostinho preferiu chamá-la “humildade” e a comparou a uma árvore que só é capaz de crescer se tem raízes profundas.

As raízes profundas do que cresce nos caminhos do Senhor, fazendo o percorrido desde a infância até a velhice, é esta capacidade de abandono humilde e confiante em Deus. Assim como as raízes profundas de uma criança é a confiança em sua mãe e em seu pai, assim também com o Deus da vida.

A confiança na providência de um Deus Pai e a docilidade a seu ensinamento que nos faz amadurecer nos dão a força para superar todas as dificuldades da vida e chegar vitoriosos à meta.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja 

«Também é da vontade de vosso Pai do Céu que não se perca um só destes pequeninos»

Vinde, Senhor Jesus, procurai vosso servo; procurai vossa cansada ovelha; vinde, pastor […].

Enquanto demorais nas montanhas, eis que vossa ovelha erra, perdida; deixai as outras noventa e nove que tendes e vinde procurar aquela que se perdeu.

Vinde, sem que ninguém Vos ajude, sem Vos fazerdes anunciar; sou eu quem Vos espera.

Não tragais chicote, trazei amor; vinde com a doçura do vosso espírito.

Não hesiteis em deixar nas montanhas as noventa e nove ovelhas que possuís; aos altos

cumes onde as deixastes, não terão os lobos acesso […]

Vinde até mim, que me perdi do rebanho das alturas, porque também aí me havíeis posto,

mas os lobos da noite fizeram que abandonasse os vossos prados.

Procurai-me, Senhor, pois na minha prece procuro-Vos.

Procurai-me, encontrai-me, perdoai-me, levai-me!

Aquele a quem procurais Vós podereis encontrá-lo, aquele que encontrais, dignai-Vos perdoá-lo, e este a quem perdoais, ponde-o aos vossos ombros.

Nunca tal fardo de amor Vos pesará, pois que sem vos afadigardes sois o portador da justiça.

Vinde pois, Senhor, porque se é verdade que eu erro, «Não esquecerei as vossas palavras»

(Sl 118,16), e conservo a esperança do remédio.

Vinde, Senhor, só Vós podereis chamar a vossa ovelha perdida, e às outras que deixais não causareis mal algum; elas alegrar-se-ão por ver regressar o pecador.

Vinde, haverá salvação na Terra e alegria nos céus (Lc 15,7).

Não envieis servos nem mercenários, vinde Vós, em pessoa, procurar a vossa ovelha.

Perdoai-me nesta carne que com Adão caiu.

Reconhecei em mim, neste gesto, não o filho de Eva, mas de Maria, virgem pura, pela graça, sem mácula de pecado; depois levai-me até vossa cruz, que é a salvação dos homens perdidos, o único repouso dos homens cansados, a única vida de todos quantos morrem.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Quando a Bíblia fala dos anjos os coloca no contexto dinâmico do caminhar pascal da vida. Deixo-me guiar por Deus nos caminhos da vida?
  2. Que respaldo Deus me oferece e aonde me quer conduzir?
  3. Que implica para um discípulo de Jesus que cada dia vai aprendendo o que é ser “filho” de Deus e, portanto “pequeno” chamado ao crescimento de cada dia?

QUARTA-FEIRA

João 12,24-26 São Lourenço, diácono e mártir

DAR VIDA COM A FORÇA DA CRUZ

“Se o grão de trigo não cai na terra e morre…”

Hoje celebramos outro mártir dos primórdios da Igreja. Em Lourenço, diácono martirizado em Roma no ano 258 d.C, assado em uma fogueira – segundo uma piedosa lenda – no tempo do imperador Valeriano, encontramos um exemplo concreto da vivência do Evangelho: um homem livre ante a sociedade de seu tempo.

De fato, os testemunhos de sua perseguição narram que quando autoridades imperiais o pressionaram para que entregasse os supostos tesouros da Igreja que estariam sob sua responsabilidade, são Lourenço estendeu a mão para um grupo de pobres e mendigos que estavam próximo a ele e disse: “Eis aqui os tesouros da Igreja”.

O testemunho de Lourenço nos motiva, e, a Palavra de Deus, hoje no Evangelho de João, nos oferece razões para que demos o passo valente de Jesus ao tomar a cruz, isto é, de dar a vida com generosidade e amor.

As palavras de Jesus nos dão a chave interpretativa do mistério da paixão em três frases contundentes. Começa com uma comparação, daí se extrai a aplicação para a vida e finalmente se indica que tudo isso se vive junto com Jesus.

1. Plantar o grão de trigo (12,24)

Se nós somos dos que pensam que é absurdo perder algo na vida, nos vem bem à comparação do grão de trigo: “se morre dá muito fruto”.

Segundo esta lógica para ganhar há que perder. Por certo, ninguém disse que a morte da semente, ao plantá-la no frio e escuro da terra, para que logo brote a árvore, seja um absurdo.

Jesus ensina que a morte é um passo “necessário” e que de nenhuma maneira é um absurdo se a olhamos não desde o ângulo da perda, mas do ganhar.  O que há de mirar é a vida que brota e que se faz visível em seu máximo esplendor.

2. Dar a vida para ganhar a vida (12,25)

A absurda realidade do grão de trigo que, para dar vida à árvore, morre para si mesma, enquanto semente constata-se na vida de um discípulo de Jesus.

O seguimento de Jesus exige renúncias para optar pelo caminho da vida. Isto se compreende melhor dentro do horizonte indiscutível de todo o Evangelho que é a Cruz.

O reconhecimento, o aplauso do mundo, as imagens de felicidade as quais nos apresentam os meios de comunicação e as canções de moda, tem sua gratificação, “seus desejos”, porém na realidade dão em nada porque não dão a vida em plenitude.

A verdadeira realização está no sair de si mesmo (como o grão de trigo quando renasce dentro da terra). Não é vivendo para si mesmo que alcança a vida, mas seguindo o caminho de serviço de Jesus.

3. Estar com Jesus onde Ele está por mim (12,26)

Todo o anterior se faz possível no marco de uma relação profunda com Jesus e uma relação de “serviço” a Ele nos irmãos. Como disse Jesus, esta relação tem um pressuposto, o “seguimento”, e tem uma consequência, “o Pai o honrará”, quer dizer, o reconhecerá como seu filho na glória.

Neste versículo aparece a idéia central de toda esta experiência de Jesus: sou chamado a estar com Jesus ali onde Ele está por mim, ou seja, na cruz, envoltos nessa única vivência de amor na entrega aos demais para que todos tenham vida.

Aí está o sentido, o valor e a verdadeira realização de nossa vida.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Que passos importantes na vida –que supõem renuncias importantes- tenho que dar?
  2. Que dizem as canções de moda e a iconografia dos meios de comunicação sobre o onde está a realização
  3. da pessoa?

Onde está a verdadeira realização de uma pessoa segundo Jesus?

  • Qual o “lugar” espiritual e social onde quero estar servindo a Jesus?

QUINTA-FEIRA

Mateus 18,21-19,1 Santa Clara, virgem, Memória

UMA ESCOLA DE PAIS SOBRE O PERDÃO.

Perdoar de coração a seu irmão”

Façamos hoje uma Escola de Pais, releitura desde a perspectiva familiar, a partir do Evangelho do dia. Para ilustrar o ensinamento sobre o perdão “setenta vezes sete” ao irmão que nos ofende, Jesus contou a parábola do servo que não teve compaixão do seu companheiro. Esta parábola fala da relação patrão-empregado e também companheiros de trabalho. Hoje poderíamos ler mudando os personagens pelo esposo e a esposa.

Recriemos o momento central da parábola

Uma pessoa disse a outra: “Paga o que deves!” (18,28ª). Um denário corresponde à paga de um dia de trabalho. Por isso pode acontecer que ter que pagar cem denários pareça uma cifra bastante alta, ao menos para quem recebe um salário mínimo: se trata de cem dias de trabalho!

Agora, aquele que está esperando que lhe paguem esse dinheiro, porque está necessitado, só pode irritar-se se o devedor se nega a dar-lhe de volta o que generosamente foi dado em empréstimo.Como acontece com o servo da parábola, quando se nota que o outro está se fazendo de louco, dá vontade de estrangulá-lo. Há hora que a paciência se acaba, parece que já não vale a pena seguir esperando e então pomos nos lábios as palavras da parábola: “É hora de que me pagues o que me deves”.

Um caso familiar

Uma senhora dizia bastante irritada com seu marido: “Já são vinte anos que estou esperando que mudes!”. Logo, com profunda dor, lhe acrescenta: “Pelo que vejo não te interessas verdadeiramente por mim, não tens iniciativas, nunca tens tempo para os de tua própria casa, é mais importante teu trabalho, teus amigos ou quem sabe que mais terás pela rua”.

Pode acontecer que uma esposa que já chegou a este extremo, se sinta tão ferida com o marido que tempo atrás amava com tanta intensidade comece a sair do coração. O amor começa a mudar em raiva e em ressentimento. É possível que o coração desta esposa, de repente, vá se tornando duro e pense inclusive em por fim a esta situação – Oh! triste situação!- com a ruptura de seu matrimonio. Precisamente isto é o que faz um dos servos da parábola quando toma a decisão de mandar ao cárcere seu velho amigo que lhe devia cem denários. Aqueles cem denários se tornaram uma dívida insolvente. Como no caso daquele casal, chega o momento da ofuscação em que não se ver caminhos de solução ao problema, então tomam atitudes arrogantes e passa ao plano jurídico, deixando de lado a misericórdia. Como quem disse: “Tu me deves, me pagas e pronto!”.

E pode acontecer que se nesse momento o outro tenta recapacitar-se, dá as costas, seja porque o que quer fazer, todavia é muito pouco ou porque chegou demasiado tarde (“para que, se quando necessitei não apareceste”) ou simplesmente porque já perdeu toda credibilidade. Porém um cônjuge sem misericórdia, que não é capaz de inclinar-se ante a debilidade de seu par, tão pouco será capaz de captar –vendo além da ferida do próprio ressentimento- as boas intenções de seu par, mas que se instalará no ponto de que “tem direito”.

Por que perdoar?

No caso dos servos da parábola valeria a pena perguntar-se: Por que aquele servo afetado teria que sentir por dentro uma grande compaixão por seu companheiro?  A razão é: porque Ele é consciente de que foi perdoado pelo único Senhor (18,27). Nenhum de nós é perfeito, todos temos nossas debilidades, e com relação a nosso lado fraco, muito provavelmente mais de uma vez outros tiveram misericórdia conosco.

Segundo a parábola, aquele servo que exigiu seus direitos ao outro servo, havia recebido da mão de seu patrão o perdão de uma dívida, que era quase um milhão de vezes mais alta (dez mil talentos) em relação, àquela que seu companheiro lhe devia. Enquanto um devia cem denários, o cobrador por sua parte devia dez mil talentos. Cem denários contra dez mil talentos é uma desproporção enorme.

Não é preciso que o cônjuge que já esgotou a paciência com seu par tenha cometido algum delito monstruoso, pode ser inclusive que nunca tenha sido infiel a seu par, porém esta pessoa sabe muito bem quantas ingratidões, quantas más contestações e imprudências, quantos pecados pequenos ou grandes também ela cometeu.

Esta pessoa sabe que cada vez foi perdoada. Ou melhor, alguma vez pôde dizer no Templo: “Meu Senhor me acolhe, me assume como sou, não me lance nada na cara, me abraça com sua ternura”, e assim chorou por seus pecados e viveu a grata emoção de sentir o perdão. Haverá que por em prática a oração: “Perdoai-nos nossas dívidas como também nós perdoamos nossos devedores” (6,12).

Na parábola de hoje, este ensinamento é muito mais incisivo. O Senhor disse: “Não devias tu também ter misericórdia com teu companheiro do mesmo modo que eu tive misericórdia contigo?” (18,33). Pois esta mesma frase se pode pronunciar no matrimonio: “Não devias tu também ter misericórdia com teu par?”. Enfim… Perdoar é o mais específico do matrimonio como também de toda relação. Pode-se pedir a graça de perdoar porque o nosso misericordioso Deus já nos pôs no coração esta capacidade desmedida quando perdoou nossos pecados. Este é o verdadeiro “perdão de coração” de que fala a parábola na última linha.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Passei ou estou passando situação difícil com um membro de minha família ou comunidade?

Como poderia relê-la a partir da parábola de hoje?

2) Aconteceram experiências similares em minha vida comunitária?

3) Por que devo perdoar? De onde vem a “graça” para fazer?

SEXTA-FEIRA

Mateus 19,3-12

A VIRGINDADE CONSAGRADA.

“Nem todos entendem esta linguagem…”

Já dizemos e mostramos que o Reino dos céus é o descobrimento da outra cara da realidade.

É neste marco que Jesus fala de exigências que a primeira vista parecem impossíveis de viver.

Existe uma virgindade consagrada que é escolhida voluntariamente –e não porque se impôs à natureza- como expressão do definitivo do Reino dos Céus. Esta virgindade é o exercício concreto da fidelidade no amor a Deus, fonte e plenitude de toda relação autêntica.

Esta relação com Deus, escolhida como prioridade, tem o valor de um anúncio profético do definitivo (Is 56,4-5) porque, em última instância, a vocação de todo ser humano é a comunhão eterna com Deus Para entender melhor isto entremos no texto bíblico.

Os discípulos ficaram desconcertados ante a exigência de Jesus de que não se rompam os vínculos nas relações (v.10).

Porém Jesus não entra no julgo da reflexão que fazem os discípulos. Mas o fato de que surgiu a ideia de que ante a exigência de indissolubilidade do matrimonio o melhor seria não casar, lhe dá a ocasião para falar do celibato.

Jesus menciona casos que alguns homens não estão capacitados para o matrimonio (os eunucos) já que lhes falta à possibilidade de procriar, seja porque nasceram assim ou porque outros os castraram (isto acontecia na antiguidade). Também fala de pessoas que vivem como eunucos sem ser.

Com a imagem daqueles que escolheram por vontade própria tendo em vista o Reino dos Céus, Jesus nos remite ao caso de personagens concretos que optaram pelo celibato, como João Batista. Vale recordar que Jesus mesmo fez esta opção.

Em seu ensinamento exposto neste mesmo Evangelho, Jesus pede a todo o mundo que seus esforços e aspirações estejam sempre e prioritariamente orientados para o Reino e para o agir justo, querido por Ele (6,33). Todo o mais fica em um segundo plano e se insere neste marco.

Porém, dá-se o caso no qual orientar toda a vida para o Reino pode ser tão forte que inclusive os valores de segunda ordem podem integrar-se também naqueles maiores.

Assim acontece no celibato pelo Reino dos Céus: quem opta por ele não deixa de contrair matrimonio – que é um valor – pelo fato de que tenha medo do compromisso com outra pessoa; precisamente, o que se busca é dar a máxima prioridade à relação de comunhão profunda com Deus que o impulsiona para dar-se completamente e com um amor fiel a todos aqueles a quem Deus, por meio dele, quer servir.

Contudo, Jesus deixa claro que este caminho requer uma vocação especial (19,11).

Aprofundemos com os nossos pais na fé

São Pedro Crísólogo (c.406-450), Bispo de Ravena, Doutor da Igreja 

«É grande este mistério» (Ef 5,32)

Ante o Senhor, a mulher é inseparável do homem e vice-versa, diz o apóstolo Paulo (1 Cor 11,11).

Através do Evangelho, o homem e a mulher caminham em conjunto para o Reino.

Cristo chama conjuntamente, sem os separar, homem e mulher, que Deus une e a natureza junta, fazendo-os, por uma admirável conformidade, partilhar os mesmos gestos e mesmas funções.

Pelo laço do matrimónio, Deus faz que dois seres não sejam senão um, e que um só ser seja dois, de modo que assim descubra um outro de si, sem perder a sua personalidade, nem se confundir no casal.

Mas, por que nas imagens que nos dá do Seu Reino, Deus faz intervir deste modo o homem e a mulher?

Porque sugere Ele tanta grandeza através de exemplos que podem parecer fracos e despropositados?

Irmãos, um mistério precioso esconde-se debaixo desta pobreza.

Segundo a palavra de São Paulo, «É grande este mistério, pois que é o de Cristo e Sua Igreja» (Ef 5,32).

Isto evoca o maior projeto da humanidade.

O homem e a mulher puseram fim ao processo do mundo, um processo que se arrastava há séculos.

Adão, o primeiro homem, e Eva, a primeira mulher, são conduzidos da árvore do conhecimento do

bem e do mal para o fogo do fermento da Boa Nova.

Esses olhos que a árvore da tentação fechara à verdade, abrindo-os à ilusão do mal, a luz da Boa

Nova abre-os fechando-os.

Essas bocas tornadas doentes pelo fruto da árvore envenenada são salvas pelo sabor…

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Que valor e fundamento tem o celibato pelo Reino dos Céus?
  2. Que razões descubro de hoje para viver com maior seriedade a castidade em minhas relações?
  3. Considero que é possível viver hoje um caminho de fidelidade no amor? Que o faz possível?

SÁBADO

Mateus 19,13-15

DESDE A ÓTICA DAS CRIANÇAS

“Dos que são como estes é o Reino dos Céus”

Da vida de casal, ao mundo dos adultos, passamos à visão do Reino desde a ótica das crianças.  Surpreende a simples e profundidade do texto de hoje.

Mateus segue mostrando a centralidade do Reino na práxis de Jesus e, portanto na vida de seus discípulos.

Em torno à figura da criança hoje o Evangelho nos apresenta duas atitudes opostas:

  • Os discípulos “lhes impedem” (19,13).
  • Jesus os acolhia: “lhes impõe as mãos” (19,15).

Frente ao comportamento tosco de resistência dos discípulos que – claramente fora da nova ótica do Reino – seguem vendo as crianças como aqueles inquietos que com frequência estão impedindo ou sendo impertinentes (além do mais, a sociedade antiga os via como insignificantes e irrelevantes na vida social). Jesus lhes concede o gesto de benção que suplicam seus pais.

“Para que lhes impusesse as mãos e orasse… Depois de impor-lhes as mãos, se foi dali” (19,13.15).       A Jesus se pede que faça, e efetivamente o faz, um gesto de oração que encerra atitudes de receptividade, respeito, aceitação, proteção e comunhão com os pequenos.

Este comportamento do Mestre inaugura o compromisso que caracterizará a sua Igreja com os indefesos, os vulneráveis e todos aqueles que estão vivendo todas as etapas de seu desenvolvimento sob a proteção e apoio dos maiores.

O ensinamento de Jesus se desenrola nas duas frases que estão no coração do texto:

  • “Deixai que as crianças venham a mim, não as impeçais” (19,14ª). Jesus corrige o mau comportamento –discriminatório- de seus discípulos. Ao mesmo tempo lhes pede que se ocupem de aproximar as crianças a Ele. O Mestre veio incluir e superar toda exclusão.
  • “Dos que são como estes é o Reino dos Céus” (19,14b). Jesus lhes dá um bom argumento que explica o porquê de seu novo comportamento: a criança é modelo de quem está se preparado para acolher as bênçãos do Reino dos Céus.

As atitudes próprias da terna idade, em que se necessita todo tipo de ajuda, que não tem méritos dos quais orgulhar-se, que depende do outro, constituem o estado ideal de um discípulo, já que se dispõe da máxima abertura para acolher a novidade do Reino, que faz desenvolver a vida na direção do projeto para que foi criada, de maneira total e como um dom.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

Santa Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade

“Um Caminho Simples: Vir até Deus como uma criança”

Comecem o dia e acabem-no com a oração.

Vão até Deus como uma criancinha se volta para sua mãe.

Se palavras não vêm espontaneamente, digam por exemplo:

“Vem, Espírito Santo, guia-me, protege-me, ilumina minhas

ideias para que eu possa rezar.

Ou então, se se dirigem à Virgem Maria, digam: “Maria, Mãe

de Jesus, sê agora uma mãe para mim, ajuda-me a rezar”.

Quando rezem, agradeçam a Deus todos os seus dons:

Porque tudo lhe pertence, tudo é um dom que ele nos faz.

A alma é um dom de Deus.

Se és cristão, podes rezar a Oração do Senhor; se és católico,

além do Pai-Nosso, tuas orações são a Ave-Maria, o terço, o Credo.

Se tua família ou tu mesmo tens devoções particulares, reza segundo tuas próprias tradições.

Se tiverem verdadeiramente confiança no Senhor e no poder da oração, ultrapassarão as dúvidas, os temores e aquela impressão

de solidão que tantos sentem.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Em minha experiência cristã, que traços tenho de uma espiritualidade de pobreza,

pequenez e necessidade absoluta de Deus?

  • Há em mim atitudes de soberba, orgulho, autossuficiência?
  • Por que as crianças são sujeitos preferenciais da misericórdia de Deus?
  • Qual é a tarefa de toda família e de toda comunidade cristã?

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

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