ENQUANTO FAÇO O CAFÉ: A Identidade de Jesus
Podcast: Play in new window | Download
Subscribe: Google Podcasts | RSS
Mateus 16,13-23
A CONFISSÃO PÚBLICA DA IDENTIDADE DO MESTRE:
“Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”
Seguindo o ritmo do Evangelho de Mateus nos colocamos, hoje, diante da experiência de fé mais alta e mais clara, depois do quadro negativo dos compatriotas de Nazaré; das interpretações erradas do rei Herodes; da fé em progresso do próprio Pedro; e do grito de ajuda, visto como autêntica expressão de fé da mulher Cananéia
Hoje nos colocamos ante a confissão de fé de Pedro. O contexto imediatamente anterior é importante. Esta quinta cena se apresenta em contraste com dois relatos prévios, nos quais os fariseus e saduceus:
- São repreendidos por Jesus por pedir um sinal para crer (Mt 16,1-4) e, de fato, Ele não lhes dá um sinal diferente do de sua missão (explorar os sinais dos tempos);
- São postos como exemplo da atitude e da doutrina que não devem seguir (Mt 16,5-12).
O Evangelista também está supondo que conhecemos todo o itinerário de Jesus, que vem sendo narrado e que entendemos que este é o ponto de chegada da sua atividade anterior. Curiosamente Jesus nunca pediu a seus discípulos que lhe dessem uma opinião sobre seus discursos ou sobre as obras de poder que realizava, mas apenas sobre sua própria pessoa.
Para Jesus isso é importante: o que estão compreendendo acerca de sua identidade? É desta maneira que os quer conduzir até um conhecimento claro e profundo, do qual brota uma confissão de fé sem equívocos. Portanto, no centro do Evangelho não está tanto seu anúncio, mas a própria pessoa de Jesus. Quando Jesus pergunta o que dizem as pessoas sobre Ele, o respondem: “Uns que é João Batista; outros, que é Elias, outros, que é Jeremias ou um dos profetas” (16,14).
As pessoas têm Jesus em uma alta conta, mas não passando de uma figura profética semelhante à dos grandes profetas. Nesse caso, seria um dos muitos que já vieram antes, e de outros que virão depois. Com esta classificação se deixa claro que já há uma grande valorização de Jesus, mas que há o perigo de não ir além das rotulações já conhecidas; portanto, a opinião pública não atingiu ainda o que realmente importa: a descoberta da relação inédita, única e particular, que Jesus tem com Deus.
Quando Jesus pede aos discípulos sua própria opinião, Simão Pedro responde: “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo” (16,16). O Apóstolo reconhece o duplo relacionamento que caracteriza, de modo inequívoco, a Jesus:
- Para o povo é o “Cristo” (Messias): o único, o último e definitivo rei e pastor do povo de Israel, enviado por Deus para dar a este povo e a toda a humanidade a plenitude da vida (como já se viu na multiplicação dos pães e em outros milagres);
- Para Deus é seu “Filho”: vive em um relacionamento único e singular com Deus, caracterizado pelo conhecimento mútuo, pela igualdade e a comunhão de amor entre o Pai e Ele (consulte 11,27).
Aqui não se trata de um Deus abstrato nem genérico, trata-se do Deus vivo, o único verdadeiro e real, que é a vida em si mesmo, que criou tudo o que é vida e com seu imenso poder vence a morte. Jesus é rei-pastor, o que, enquanto Filho do Senhor da Vida, compromete-se com a vida do seu povo. É o Messias que está profundamente ligado ao próprio poder vital do Deus vivente. O dom da vida será comunicado através da doação de sua própria no caminho da Cruz, conforme o texto de hoje (16,21).
A reação negativa de Pedro o leva a merecer a repreensão e ser chamada “Satanás”, porque pensa a nível humano e não aceita o caminho de sofrimento de Jesus (16, 22-23). Quanta ironia! Ao modelo de discípulo Jesus diz, na frente de toda a comunidade: “Tu és escândalo”! (16,23). O cume do caminho de fé não é a confissão de boca, mas a confissão com a vida. No caminho da Cruz vai tomar corpo este tipo de confissão de fé que precisava, em primeiro lugar, passar pelos lábios.
Terá então que começar a andar nesta segunda etapa, com uma abertura de coração de mente total ante o projeto de Deus: a plenitude de vida que brota do mistério da dor vivido em comunhão íntima com o crucificado, onde faz sentido toda a vida, todo projeto, toda realização.