O cisco e a trave (EFC)

Mateus 7,1-5

Somos muito rápidos em apontar os erros dos outros e para isso sempre usamos um lente de aumento:

Quando o outro não faz é preguiçoso.
Quando você não faz… Está muito ocupado.

Quando o outro fala é intrigante.
Quando você fala… É critica construtiva.

Quando o outro se decide a favor de um ponto, é “cabeça dura”.
Quando você o faz… Está sendo firme.

Quando o outro não cumprimenta, é mascarado.
Quando você passa sem cumprimentar… É apenas distração.

Quando o outro fala sobre si mesmo, é egoísta.
Quando você fala… É porque precisa desabafar.

Quando o outro se esforça para ser agradável, tem uma segunda intenção.
Quando você age assim… É gentil.

Quando o outro encara os dois lados do problema, está sendo fraco.
Quando você o faz… Está sendo compreensivo.

Quando o outro faz alguma coisa sem ordem, está se excedendo.
Quando você faz… É iniciativa.

Quando o outro progride, teve oportunidade.
Quando você progride… É fruto de muito trabalho.

Quando o outro luta por seus direitos, é teimoso.
Quando você o faz… É prova de carácter.

Quando faz um texto como estes e dá aos amigos, é porque gosta dos amigos.
Quando o outro faz… É um desocupado.

VAMOS AO EVANGELHO:

“Não julgueis para que não sejais julgados”

O ensinamento de Jesus no Sermão da Montanha tem nos levado a examinar os valores do Reino que inspiram o comportamento de um discípulo do Senhor em suas relações com os demais (Mt 5,21-48).

Visto que antes de tudo se trata de refletir com “boas obras” (5,16) o rosto amoroso do Pai celeste em uma vida de filhos, o ensinamento versou logo em como cultivar a relação com o Pai (6,1-18).

Da relação com os irmãos e com Deus, a aprendizagem da justiça do Reino, se passou à relação com os bens da terra (6,19-34). Desta forma já se tem abordado os pontos essenciais para uma vida de discipulado.

Sem dúvida, ficam ainda por examinar três critérios do comportamento cristão na vida cotidiana. Estes são:

(1) o juízo (7,1-4);

(2) o discernimento (7,6);  

(3) a oração (7,7-11).

Estes terminam com o anúncio de uma regra geral (7,12).

Examinemos o primeiro ponto: o juízo (7,1-4).

A relação com o próximo significa também relação com suas falhas. Nossa tendência –habitualmente- é insistir nas faltas dos demais e condenar com dureza. É fácil criticar o outro e chamar a atenção sobre suas debilidades. Jesus mostra quando equivocados estamos quando fazemos isto.

Quando se fala de outra pessoa eventualmente se percebe pouco amor, malícia e inclusive alegria porque à outra pessoa lhe foi mal. Com quanta presunção e soberba se julgam os erros dos outros, sejam pequenos ou grandes, reais ou suposições. Isto pode suceder tanto ao nível de nosso pensamento, como também em meio de conversas.

Jesus disse: “Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgueis sereis julgados (ou seja: Deus vos julgará)” (7,1-2). Aqui se recorda como nossos juízos sobre os outros não ficam sem efeito: com a condenação dos outros, condenamos a nós mesmos. Deus está atrás, na defesa do agredido com nossas conversas: “Deus os julgará”. O que façamos com os outros, fazemos com Deus; desta forma indicamos a maneira como queremos ser tratados por Ele.

Jesus disse: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia (5,7); “Perdoa-nos nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores” (6,12). Portanto, não podemos esperar a bondade, a compreensão, o perdão e a misericórdia de Deus, se rejeitamos nosso próximo com juízos sem amor, sem consideração, nem compreensão.

Não devemos fechar os olhos frente aos erros ou debilidades dos outros, o que se pede é que os valorizemos objetivamente, quer dizer, sem comprazer-nos nele, com liberdade interior, com misericórdia, sabendo que também nós necessitamos da compreensão do próximo e de Deus.

É verdade que os defeitos dos demais são muitos mais evidentes e fastidiosos que os nossos. Podemos ser muito sensíveis no que nos toca e bem mais frios com relação aos outros. Com a imagem da “viga e o cisco”, Jesus nos chama a atenção sobre o perigo de julgar os outros de forma temerária, ou seja, um juízo baseado em enganos e meias verdades.

Para um juízo segundo o coração de Deus se requer:

(a) Não deixar-se guiar pela impressão do momento;

(b) Não precipitar-se para criticar e corrigir;

(c) Olhar-nos primeiro;

(d) Descobrir nossas faltas sem diminuí-las, sem desculpas;

(e) Então, de modo ponderado, chamar a atenção ao outro e ajudar-lhe em seu crescimento pessoal;

(f) Esta correção fraterna não esquecerá o ensinamento de Mt 18,15-17;

(g) Fazer sentir ao outro que o que se disse é porque lhe quer muito.

O ensinamento sobre a objetividade nos juízos, inspirada na imagem da palha e a viga, nos faz cair em conta que não é correto diminuir nossas falhas e agigantar as dos outros, e bem empreender o serviço da correção fraterna pelo caminho justo. Nunca há que falar dos erros dos demais por simples diversão ou por desejo de armar escândalo. Recordemos: Ante tudo a misericórdia!

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