Estudo Bíblico na 22ª Semana Comum ano A 2023

ESTUDO BÍBLICO NA 22ª SEMANA COMUM ANO A 2023

Comunidade Católica Paz e Bem

SEGUNDA-FEIRA

Lucas 4,16-30

Em Nazaré: O PROGRAMA MISSIONÁRIO DE JESUS

“O Espírito do Senhor está sobre mim”

Começamos, a partir de hoje, a leitura, quase continua, do evangelho segundo São Lucas. O primeiro texto que abordamos é o do discurso programático em Nazaré.

Jesus realiza sua primeira pregação:

  • Em Nazaré: É a cidade “onde havia sido criado” (4,16). Jesus é uma figura familiar para seu auditório: o viram crescer, educou-se em suas bancas, é membro dessa mesma comunidade, à qual tem frequentado todos os sábados. O que inicialmente parece ser uma vantagem, acaba sendo, ao final, uma barreira de separação entre Jesus e seu povo mais próximo.
  • Na liturgia da sinagoga: Extensa, composta de orações e leituras. O centro era a leitura de algumas passagens da Lei (primeiros 5 livros da Bíblia) e logo um dos profetas; após a leitura o comentário edificante para a assembléia. Jesus faz e comenta a leitura da passagem tomada de um dos profetas.

Que lê Jesus?

O texto lido por Jesus se encontra em Is 61,1-2 e 58,6. Nele se distinguem duas partes: (1) a auto apresentação do evangelizador; e (2) o conteúdo do anúncio.

(1) A auto apresentação do evangelizador: é o Messias (ungido) pelo Senhor (Yahweh)

O Espírito do Senhor está sobre mim…” (4,18ª)

A autoridade para realizar a missão vem da unção no Espírito. O texto de Isaías pensa na unção de um profeta (como em 1 Rs 19,16); de fato, segundo o pensamento dos rabinos da época de Jesus “um profeta fala pelo Espírito Santo”.

Jesus, então, é Profeta (7,16.39; 9,8.19 e, sobretudo 24,19). Mas o evangelista Lucas destaca que Jesus veio, não só como profeta, mas como Filho de Deus. Em momentos importantes Lucas vai recordar que o Messias é o Filho de Deus (ver como se colocam lado a lado em 4,41). Juntando todos estes detalhes Lucas segue clarificando quem é Jesus.

(2) O conteúdo do anúncio

“Para anunciar a boa nova aos pobres, para proclamar a liberdade aos cativos e recuperação da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e proclamar um ano de graça do Senhor” (4,18b-19)

Apresenta-se em quatro frases paralelas:

  • Anunciar a boa nova aos pobres;
  • proclamar a liberdade aos cativos e recuperação da vista aos cegos;
  • pôr em liberdade os oprimidos; e
  • proclamar um ano de graça do Senhor.

Que há por trás destas palavras?

  • Trata-se de quatro modos de expressar a missão de Jesus em termos de uma ação libertadora para qualquer que seja o peso e opressão das pessoas. A mensagem de Jesus é a libertação total: das pessoas, da sociedade e do ambiente em que vivem. Assim nos ensina de maneira concreta que nesta difícil historia Deus está ao lado de todos os que sofrem e responde a sua esperança.
  • Trata-se de um novo tempo: o tempo messiânico. É o tempo do jubileu. O pano de fundo é o ano jubilar no Antigo Testamento (ver a instituição do ano sabático em Ex 23,12; Dt 15; Lv 25 e os antigos decretos de anistia pascal em Jr 34 e Ne 5) que tinha como ideal a restauração das relações do povo segundo o coração de Deus: nem opressor nem oprimido (havia que libertar os escravos), nem latifundiário, nem sem terra (redistribuição das terras), nem agiota nem devedor (perdão das dividas acumuladas). Por que tudo isto? Porque Deus é o único Senhor, nenhum homem tem o direito de exercer qualquer tipo de domínio sobre seu irmão. A chegada deste ano havia sido em outras épocas a esperança dos pobres e oprimidos. Aquele dia na sinagoga de Nazaré Jesus expôs o tema para anunciar assim a vinda do “Reino”;
  • Trata-se, do começo ao fim da instauração da soberania de Deus (Reino de Deus; ver 4,43). A presença imediata da ação salvífica de Deus que vem anunciando desde o começo do Evangelho é a chegada do Reino de Deus e com esta citação profética Jesus ilustra que a instauração do reinado de Deus na terra tem como conseqüência a libertação da humanidade;
  • Trata-se de um anuncio (notar: anunciar… proclamar… anunciar) que revive a esperança e convida a abrir-se à ação de Deus, porém aponta ao fato salvífico fundamental: “pôr em liberdade os oprimidos”, que abarca todas as formas de como se realiza a salvação no Evangelho, e que tem como ponto alto o maior dom de Deus: o perdão dos pecados. No Evangelho “libertar” e “perdoar” andam juntos (ver “curar” = “perdoar” em 5,24.31; libertar de uma “divida” = “perdoar” em 7,42.48).

A homilia de Jesus

Após proclamar o texto de Isaías, Jesus pronuncia sua brevíssima homilia: “Esta Palavra, que acabais de ouvir, se cumpriu hoje” (4,22). É como se tivesse dito: “Isto já não é mais uma promessa profética, se cumpriu com minha ação”.

A Boa noticia do Reino na boca de Jesus então é esta:

O anuncio da boa noticia aos pobres… Se cumpriu hoje!;

A proclamação da libertação aos cativos e a recuperação da vista aos cegos – Se cumpriu hoje!

A libertação dos oprimidos – Se cumpriu hoje!

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Por que Jesus se apresenta como o “ungido pelo Espírito Santo”? Que diz isto à vida de um “cristão” (que a principio significa também “ungido”)?
  2. Que prega Jesus na Sinagoga? Que temos que pregar hoje?
  3. Em que consiste a evangelização? Sinto-me chamado a evangelizar?

TERÇA-FEIRA

Lucas 4,31-37

EM CAFARNAUM: A REVELAÇÃO DO PODER DA MISERICÓRDIA DE JESUS

Sua palavra tinha autoridade

A Palavra do Senhor é “luz para nosso caminhar”, ensina o Salmo 119,105.

Abre-nos horizontes, permite-nos saborear a presença viva de Deus, ajuda-nos a tomar consciência do grande valor de nossa própria vida, forma em nós o rosto vivo de Jesus.

Além do mais, a sensibilidade à Palavra nos educa para a docilidade ao Espírito. 

A escuta responsável da Palavra de Deus põe a ponto nossa capacidade e prontidão para acolher a consolação do Espírito com liberdade de coração.

O objetivo último de todo este exercício contínuo de escuta da Palavra do Mestre é o gozo, do qual muito bem assinalava São João Eudes: “Que faça de nosso ser um Evangelho vivo, escrito por dentro e por fora, no qual a vida de Jesus esteja perfeitamente impressa em nós” (OC III).

A missão de Jesus em Cafarnaum

Continuando com nossa leitura de Lucas, hoje passamos, com Jesus, de Nazaré a Cafarnaum. Em Nazaré vimos o discurso inaugural, agora, em Cafarnaum, vemos suas primeiras obras de poder. O ministério de Jesus em Cafarnaum começa como em Nazaré: ensinando na sinagoga.

Ali seu ensino causa assombro porque “sua Palavra tinha autoridade” (4,32). O poder da Palavra está ligado ao que foi dito em 4,18: “O Espírito do Senhor está sobre mim”;  ao inspirar a pregação de Jesus, o Espírito Santo lhe dá efeito de salvação.

As cenas que seguem mostram exemplos concretos: O exorcismo de um homem na sinagoga (4,33-37); A cura da sogra de Pedro (4,38-39); E muitas outras curas que se realizam no mesmo dia ao entardecer (4,40-41). Detenhamo-nos em alguns pontos destacados da passagem (também o resto do capítulo):

(1) Jesus liberta vencendo o demônio

Este disse “viestes destruir-nos” (4,34). A cena parece representar um combate entre Jesus e o demônio. Jesus exerce seu poder, sobretudo no homem para libertá-lo.

Nas três cenas em que Jesus exerce seu poder podemos notar que se apresenta a derrota do adversário de Jesus. Em 4,34 e 4,41 os demônios gritam e se espantam porque sabem quem é Jesus.

Em 4,38, Lucas descreve a situação da sogra de Pedro com uma informação importante: estava oprimida por uma grande febre. Isto recorda a história de outra mulher em quem a enfermidade é qualificada como uma “opressão de Satanás” (13,16) e, a cura,  como uma “libertação” (14,12).

(2) Jesus liberta, vencendo a enfermidade

Os enfermos e endemoninhados indicam o homem que sofre. A atitude de Jesus com eles permitem captar uma particularidade que será tema importante no Evangelho: a misericórdia.

Notemos os pequenos detalhes que são próprios de Lucas. Estes às vezes passam despercebidos, porém, refletem muito do que é o coração de Jesus:

  • A delicadeza: não maltratar (4,35);
  • O inclinar-se até a pessoa (4,39);
  • O contato: “impunha-lhes as mãos” (4,40);
  • O respeito pelo individuo “um por um” (4,40).

Cada uma destas atitudes se repete frequentemente no Evangelho e está como modelo nas grandes parábolas:

  • a do bom samaritano (10,29-37);
  • as da misericórdia (todo capitulo 15);
  • a do “rico epulão” (16,19-30). 

Os discípulos de Jesus serão educados de modo especial neste comportamento: “Eu estou no meio de vós como o que serve” (22,27).

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. De onde provem o poder da Palavra de Jesus?
  2. Como entender hoje a luta e a vitória contra o demônio?
  3. Quais as características da misericórdia de Jesus? Eu as estou vivendo? Em que deveria me trabalhar mais?

QUARTA-FEIRA

Lucas 4,38-44:

JESUS: UM GRANDE MISSIONÁRIO.

 “Tenho que anunciar o Reino de Deus”

Neste mês de setembro, mês da Bíblia, nos acompanha prioritariamente o evangelista Lucas.

Como acontece todos os anos com as leituras dos dias de semana até a última semana do mês de novembro. Sua maneira particular de introduzir-nos no mistério de Jesus e de mostrar-nos como se forma um discípulo pelas rotas do seguimento, merece toda nossa atenção e apreço.

Não percamos de vista o texto de Lucas no relato modelo “dos peregrinos de Emaús” (Lc 24,13-35).

Ali encontramos muitos elementos que nos colocam numa melhor visão para entender a totalidade do Evangelho, enquanto revelação do mistério da pessoa de Jesus e seu agir, e sua projeção missionária enquanto “base sólida” da mensagem que pregamos (Lc 1,4).

Agora, desde a última página do Evangelho (Lc 24) retrocedamos até o começo do ministério de Jesus, para seguir o itinerário catequético completo, descobrindo, passo a passo, tudo o que o caminho de Jesus implica

Voltemos então a Galileia, porque “tudo começou na Galileia” (At 10,37).

O programa missionário de Jesus

Tenhamos presente que a apresentação do programa da missão de Jesus, objetivo das passagens que se encontram em Lc 4,16-44, segue o esquema didático:

  • do ensino com “Palavras” (em Nazaré, 4,16-30); e
  • do ensino com “obras” (em Cafarnaum, 4,31-43).

Toda esta apresentação termina com uma síntese da missão: “pregando” (incluindo as ações), no país inteiro (ver 4,44).

O texto que lemos hoje nos situa concretamente em Cafarnaum

Em Cafarnaum se mostra que é verdadeiro o cumprimento da profecia anunciada em Nazaré: O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para… dar a liberdade aos oprimidos(4,18).

Em Cafarnaum, Jesus não somente se revela por meio de ações de poder (exorcismos e curas), mas que, diferente do acontecido em Nazaré, Jesus é acolhido pelo povo: “Ficaram assombrados de seu ensino, porque sua palavra tinha autoridade” (4,32; traduzimos literalmente).

A missão de Jesus e seus discípulos conhecerá momentos difíceis como o de Nazaré, mas o êxito será maior como descreve a missão de Cafarnaum. Chama a atenção que no começo e no final desta missão Jesus expulsa demônios.

Esta ação é o sinal que confirma que Jesus, enquanto “libertador” do mal, faz presente o “Reino de Deus” prometido pelos profetas (4,43). Como dirá mais adiante: Se pelo dedo de Deus expulso os demônios, é que tem chegado a vós o Reino de Deus (11,20).

Uma jornada missionária cheia de êxitos

Na jornada de Cafarnaum, Lucas nos ensina a contemplar o Mestre em ação, quase passo a passo, ao longo de uma jornada completa. Cada ação, cada movimento de Jesus é uma escola para o discípulo, porque, como se dirá adiante: Todo o discípulo perfeito deverá ser como seu mestre (6,40b).

Como tem feito também o Evangelho de Marcos, Lucas nos apresenta, a seu modo, a “agenda” de Jesus, quer dizer, um dia modelo do Mestre. Isto reflete muito bem o esquema da passagem:

  • Pela manhã está junto com a comunidade de Israel na Sinagoga (4,31-37);
    • Logo passa ao ambiente de intimidade próprio de uma casa de família (4,38-39);
    • Ao final da tarde volta à vida pública, onde se encontra com um grande número de pessoas, todos quantos tinham enfermos de diversas doenças traziam-nos…”, onde enfrenta e cura as diversas formas de sofrimento humano (4,40-41);
    • Na manhã seguinte se afasta de todo o mundo complexo das relações com o povo, para estar sozinho (subtende-se que em oração) (4,42);
    • Finalmente, relança a missão, uma missão que abarca todo o país (4,43-44).

O motivo central de toda esta atividade missionária de Jesus, que passa pelos lugares e momentos chaves mencionados, se resume nestas palavras: “Tenho que anunciar a Boa Nova do Reino de Deus, porque para isto fui enviado (4,43b).

Em uma só frase: “Tenho que evangelizar!”.

Percorrendo os diversos momentos da jornada evangelizadora de Jesus, podemos ir captando como a entrada nos diversos âmbitos da vida do povo, vai gerando claras e profundas transformações:

  • Na sinagoga: destrói o poder do demônio. “Que Palavra é esta! Manda com autoridade e poder aos  espíritos imundos e saem” (4,36);
    • Na casa de Simão: recupera a pessoa inteira, restituindo-lhe a saúde e colocando-a a serviço dos demais. “Levantando-se, ela se pôs a servir-lhes” (4,39);
    • Na cidade inteira: gesto de imposição de mãos, um a um, todos os enfermos para curá-los. E “Também saem demônios gritando e dizendo: ‘Tu és o Filho de Deus’” 4,41;

Na manhã seguinte, vemos como combina os afãs da missão com a solidão da oração. “Ao amanhecer, saiu e foi a um lugar solitário” (4,42).

A passagem nos descreve o êxito da missão, não só nas ações, que já falam por si, mas, também, em dois momentos específicos em que a multidão reage:

  • O povo conta o acontecido: sua fama se estendeu por todos os lugares da região” (4,37);
    • O povo quer que fique sempre com eles: “o povo o procurava e, chegando até Ele, tratavam… (4,42).

Como emerge o rosto de Jesus evangelizador

  • Jesus é um missionário obediente ao Pai

Realiza a obra da evangelização como um ato de obediência ao Plano de Deus.

Jesus se submete a um “dever” divino (“Tenho que…”, 4,43), toda sua obra se realiza segundo um plano preciso de salvação do Pai. Isto é importante porque, em sua busca da humanização de todos os que sofrem ou estão em desvantagem social, Jesus nunca perde de vista que se trata da obra de Deus e que o Pai é a fonte última de toda sua ação.

Com razão os demônios já gritavam certo: “Tu és o Filho de Deus” (4,41b). Só que não é a eles que corresponde dar o testemunho, por isso os cala e mostra-lhes que têm que ceder totalmente frente a Ele.

  • Jesus é um missionário com uma grande liberdade de coração

Assim como mostrou que tinha um coração livre na hora em que lhe fizeram ameaças e pressões na sinagoga de Nazaré (4,30), mostra também que tem um coração livre ante àquele povo que compreende sua missão e o acolhe; e o faz não se apegando a eles quando “tratavam de reter-lhe” (4,42), dizendo “também a outras cidades tenho que anunciar o evangelho” (4,43ª).

  • Jesus é um missionário incansável, zeloso de sua missão

Como missionário itinerante que é, anda continuamente em busca da ovelha perdida onde quer que esta se encontre e por isso sempre está em movimento.

De maneira programática, nesta passagem se lhe vê percorrendo o país inteiro (4,44; para Lucas “Judéia” não indica só a região que conhecemos com este nome, mas todo o país). Jesus sabe que deve chegar a todos os recantos da geografia humana, por isso, não se instala!

  • Jesus é um missionário da misericórdia

Porém, a passagem não se ocupa somente em mostrar-nos os espaços e as ações externas de Jesus. Também, no texto de hoje, podemos ver traços distintivos do coração misericordioso de Jesus.

Este é um aspecto que o evangelista Lucas ama destacar:

  • Ante o homem submetido pelo demônio, faz o exorcismo com contundência, porém também com sumo cuidado, de maneira que o demônio “saiu dele sem fazer-lhe nenhum dano” (4,35).
    • Ante a mulher enferma (a sogra de Simão), Jesus “se inclinou sobre ela” (4,39). Que gesto tão formoso de aproximação ante quem está prostrado!
    • Ante a afluência de público (a massa), Jesus não perde de vista o indivíduo, mas que se aproxima à realidade de cada um: “Cada um deles… os curava” (4,40).
    • Ante todo o quadro de sofrimento que lhe põem Jesus não sente repugnância, não sente aversão, não toma distância, mas ao contrário, toma contato físico, em uma imensa proximidade à realidade humana: “Ele impunha as mãos sobre cada um deles” (4,40).

Este é o modo como Jesus passou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos pelo diabo, porque Deus estava com Ele(At 10,38).

Repassemos agora esta passagem, olhando-nos no espelho de Jesus. O discípulo é chamado a “ser como seu mestre” (6,40b) a viver fundo a missão e trabalhar por sua eficácia. Mas, para conseguir terá que entrar no caminho formativo que inicia amanhã.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Estamos começando o mês dedicado à Bíblia. Que compromisso concreto, faremos para pôr-nos mais em contato com a Palavra de Deus e deixar que esta penetre nossas vidas?
  2. Como nos descreve Lucas uma Jornada de Jesus? Em que se parece às minhas jornadas?
  3. Como seguidor que sou de Cristo, sinto a necessidade de anunciar Jesus com palavras e atos? Como tenho feito até agora? Como farei? A entrada de Jesus nos diversos âmbitos da vida do povo gerou profundas transformações. Que transformações gerou a presença de Jesus em minha família, grupo ou comunidade?

QUINTA-FEIRA

Lucas 5,1-11

COMEÇOU A BEIRA DO LAGO

“Duc in Altum!”

Começou na Galileia”, pregava Pedro em At 10,37. O Evangelho não só tem um ponto de partida no Batismo de Jesus (Lc 3,21-22) ou no discurso na sinagoga de Nazaré (Lc 4,16-22), mas, de modo especial, no chamado dos primeiros discípulos no lago de Genesaré (ou Galileia).

Pode-se dizer, então, que a coisa começou a beira do lago.

Estes e os que virão adiante, são os que se converterão nas “Testemunhas” (24,48; At 1,22; 10,41-42: “testemunhos escolhidos de antemão”) que continuarão sua missão pregando o Evangelho da libertação e do Reino: “a conversão para o perdão de todos os pecados a todas as nações” (24, 47).  

Temos então um relato modelo de vocação do testemunho.

O relato tem três partes:

  • A pregação de Jesus a beira do lago, desde a barca de Pedro (5,1-3);
    • a pesca milagrosa pelo poder da palavra de Jesus (5,4-7); e
    • o chamado de Simão Pedro e seus três companheiros, e o começo do seguimento (5,8-11).

O movimento de ida e volta ao interior e à beira do lago é significativo porque gira em torno a duas palavras de poder de Jesus que se colocam ao mesmo nível: “Lançai vossas redes para a pesca” (5,4) e “Não tenhais medo! Doravante serás pescador de homens” (5,10).

A dinâmica do relato impulsiona para a terceira cena: o chamado a beira do lago – com um gesto de perdão – e o começo do seguimento de Jesus deixando para trás as barcas.

Notemos como neste relato vão se descrevendo 5 elementos chaves do discipulado segundo São Lucas:

  1. Uma pessoa se faz discípula de Jesus depois de ter escutado as palavras, observado as obras poderosas de Jesus.

Diferente do relato paralelo em Marcos, onde a vocação se dá quase de modo súbito, constituindo-se na aventura de seguir alguém a quem ainda não se conhece, o Evangelho de Lucas supõe que o discípulo já tem um conhecimento prévio do Mestre antes de começar a segui-lo. 

Também por este aspecto é importante à passagem que lemos ontem: Jesus já havia estado na casa de Simão e este tinha sido testemunha de seu poder sobre o mal quando curou a sua sogra (4,38-39).

Portanto, Simão Pedro já o conhecia. Inclusive, na primeira parte do relato de hoje, vemos como Jesus já tinha contado com Simão ao tomar emprestada sua barca para convertê-la no púlpito de onde prega “à multidão que se juntava em torno dele para ouvir a Palavra de Deus” (5,1b). Ali, também ele teve a oportunidade de escutar o Mestre. Portanto Simão já sabia de Jesus.

Mas, logo vemos como dá um passo adiante: Simão é beneficiado diretamente por Jesus em uma pesca milagrosa após uma longa noite de fatiga infrutuosa: Mestre, temos estado lutando toda a noite e não pescamos nada; porém, em tua Palavra, lançarei as redes (5,5).

Neste novo encontro com Jesus, Simão Pedro já não só “sabe”, mas “faz uma experiência” do poder da Palavra do Mestre. Neste contexto, Pedro chama, pela primeira vez, Jesus de “Mestre” (5,5; 8,24.45; 9,33.49; 17,13).

2. Jesus chama pecadores e marginalizados

Depois da pesca milagrosa, Simão Pedro cai aos pés de Jesus por reconhecer que é um pecador: “Afasta-te de mim, Senhor, que sou um homem pecador” (5,8). Jesus, por sua parte, lhe disse: “Não tenhais medo!” (5,10b). Este “não temas” equivale no contexto a uma declaração de perdão.

Frente à grandeza de Jesus, o discípulo reconhece sua indignidade. Esta consciência do pecado é o ponto de partida correto de um caminho em que se insistirá que “o que se humilha será exaltado” (14,11;18,14; ver o Magníficat).

O reconhecimento do pecado não é impedimento, mas, bem mais que um ponto de partida, é quase um pré-requisito para quem começa a seguir a Jesus. E isto por quê? Porque a vocação situa a história inteira da pessoa dentro do plano salvífico de Deus (5,30).

Acolhe-se o poder salvífico do perdão de Jesus em primeira pessoa, para anunciar, depois, como testemunho, como boa nova, ao mundo inteiro: Jesus veio salvar todas as pessoas subjugadas pelo mal. Jesus Cristo é Senhor do perdão e Simão Pedro, juntamente com os seus companheiros se fazem discípulos do Senhor da misericórdia.

3. O chamado ao discipulado inclui uma responsabilidade missionária

Jesus disse: “Desde agora serás pescador de homens” (5,10). Esta frase tem uma particularidade em sua forma grega que soa assim: “a partir de agora colherás”, quer dizer, se acentua o fato de recolher peixes vivos, o qual equivale a um gesto de salvação.

Portanto, a formação que Jesus oferece ao discípulo quer capacitá-lo para que seja capaz de salvar outras pessoas. Nas passagens seguintes a este relato vocacional este tema se desenvolve em diversas cenas de salvação, até chegar a dizer que o que corresponde ao querer de Deus “salvar uma vida”, é a forma mais elevada de “fazer o bem” (ver 6,9).

Este será o serviço concreto do discípulo. Os discípulos seguem o Senhor no serviço (22,24-27).

4. O discipulado tem a forma de uma viagem junto com Jesus

Neste texto, Lucas acaba fazendo esta anotação: “Levaram a terra as barcas e, deixando-as todos, lhe seguiram” (5,11). 

O último verbo é “seguir” (Jesus)

O coração do discipulado é o “seguimento” de Jesus, que não é outra coisa que uma adesão completa mediante a qual se compartilha totalmente a vida do Mestre:

  • sua geografia física e espiritual, seus espaços e seus tempos;
  • seus êxitos e seus fracassos,
  • seus ensinamentos,
  • suas obras de poder,
  • suas palavras e seus silêncios,
  • sobretudo, sua visão de Deus e do mundo, raiz da missão.

O discípulo o acompanhará em tudo perseverando até o fim. No seguimento de Jesus a história pessoal do discípulo entra numa nova dinâmica de vida e com o Mestre vai elaborando um novo projeto de vida. Os discípulos seguem ao Senhor dos caminhos.

5. Aquele a quem Jesus chama deve adotar uma atitude de desapego de seus próprios bens

Para que a adesão de coração ao Mestre seja possível também se requer deixar para trás, tudo o que impede a disponibilidade para caminhar junto com Ele.

Por isso o “seguir” tem como pressuposto o “deixar tudo” (ver 5,11a). Símbolo disto é o gesto de levar “a terra, as barcas” (5,11a), que em nossa passagem descreve o momento no qual os discípulos as tiram completamente da água e as deixam inutilizadas em terra. Com isto se anuncia um novo começo.

Assim como seu Mestre, o discípulo deve ser uma pessoa livre que não se deixa atar por nada nem por ninguém. A renúncia aos bens é a premissa da construção de uma nova hierarquia de valores e de uma nova visão da vida que parte da visão de Jesus.

Por outro lado, sem esta abertura total ao Mestre, deixando para trás as próprias seguranças, não é possível a formação, porque “o vinho novo deve lançar-se em vasos novos” (5,38).

O gesto de desapego, valente e com prontidão, dos primeiros discípulos deixa ver que a renúncia de tudo que prende ao passado, por causa de Jesus, tem valor positivo: indica atitude de abertura total e abandono, de confiança absoluta em Jesus.

É um gesto de amor.  Mas também é como firmar uma folha em branco, para que conduza suas vidas pelos caminhos que, como bom Mestre que é, considere pertinentes. Ao “Mestre” (5,5) deve deixá-lo ser “Senhor” (5,8). Discípulo, então, é quem se deixa conduzir docilmente e com o coração livre, pelo Senhor de suas vidas. Com Jesus se reaprende a vida.

Esta página de hoje, e que está na base dos relatos que leremos na continuação, vai além da simples anedota vocacional. Ela deixa claro que todos nós, discípulos de Jesus, devemos voltar, uma vez e outra, a este importante primeiro momento.

Só assim se renovarão nossas vidas e se fará mais intensa a força da missão que nos é confiada, numa robusta espiritualidade da escuta do Mestre que nos chama, constantemente, com sua Palavra viva.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Quais os cinco elementos chaves do discipulado que nos descreve o Evangelho de Lucas?
  2. Por que a consciência do próprio pecado e o pedir perdão são condições para seguir a Jesus?

Sou consciente de meu ser pecador/a? De que forma peço a Deus o perdão de meus pecados?

  • Quais as coisas que possuo pequenas ou grandes, das quais não me desprenderia facilmente?

Que me pede Jesus no Evangelho de hoje a respeito?


SEXTA-FEIRA

Mateus 1,1-16.18-23 Natividade de Nossa Senhora

QUEM É ESTA QUE SE DEIXA VER NA AURORA DA SALVAÇÃO?

“Vede à Virgem…”                  

Hoje celebramos a festa do nascimento de Maria. E, como costumamos dizer, quando a mãe está de festa, os filhos também estão.

  1. O nascimento de Maria

A Palavra não nos diz nada sobre este grande acontecimento que passou por alto nos tempos históricos de Maria, mas que marcaria para sempre este dia. Como dizemos na liturgia, na frase que sintetiza a rica espiritualidade deste dia: “Nasce Maria, da qual nascerá o Filho de Deus, que nos trará a salvação”.A festa de hoje é antiga. Originou-se no oriente, no início como uma festa da dedicação da Igreja de Santa Ana em Jerusalém. Logo se tornou celebração na liturgia romana no séc.VII com o papa Sérgio I.

Mas são os Evangelhos apócrifos, em especial o “Proto Evangelho de São Tiago” que, desde o século III, tentaram dar todo um colorido ao acontecimento. Segundo o texto citado, quando a menina Maria nasce santa Ana a amamenta com amor e, feliz, eleva o olhar ao céu para cantar louvores a Deus.Assim lemos: “E os meses de Ana se cumpriram, e, ao nono, deu a luz. E perguntou à parteira: Que tenho parido? A parteira respondeu: Uma menina. E Ana repôs: Minha alma exulta neste dia. E acostou à menina em sua cama. E, transcorridos os dias legais, Ana se lavou, deu o peito à menina, e a chamou Maria”(Proto Evangelho de São Tiago 5,2).

Este livro nos diz que santa Ana escolheu para sua filha um nome bíblico, o da irmã de Moisés: “Maria” (ou “Miriam”). Quando olhamos o Novo Testamento, vemos que este nome foi dado também a outras seis mulheres na primitiva comunidade cristã. “Maria”, provavelmente, significa “excelsa, elevada, augusta”; trata-se de um nome nobre, mas ao mesmo tempo comum próprio de uma mulher simples.

Por certo, tentando buscar, sem muito êxito, uma etimologia para este nome, são Jerônimo fez um jogo de palavras em hebraico que o levou a formar a expressão poética “Stella Maris”, que significa “gota daquele mar”, daquele mar infinito que é Deus. Definição belíssima que, por erro de um copista, se torna o célebre título latino “Stella Maris” (Estrela do mar) que se canta no hino “Ave Maris Stella”.

  • Maria na aurora da salvação

Como poderíamos celebrar o nascimento de Maria?  O melhor que podemos fazer é aproximar-nos, uma vez mais, com respeito e amor, do mistério de Maria. E para isso o aconselhável é fazer a “lectio divina” das passagens bíblicas relacionados com ela.

O texto que nos propõe a liturgia de hoje (a concepção virginal de Maria), está precedido no Evangelho de Mateus, pela lista longa da genealogia, a lista dos antepassados de Jesus, que fixa suas raízes na história do povo hebreu, remontando-se até Abraão e David e floresce precisamente com José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus… (1,17).

Na sequência dos nomes célebres e modestos vai se delineando um ‘fio de ouro’ que rompe os séculos e chega até Maria. É a grande espera do encontro perfeito entre Deus e o homem, conforme promessa feita a Abraão e que toma impulso na dinastia de Davi, passa através dos séculos dolorosos e gloriosos da história de Israel e culmina com o nascimento da mãe do Senhor no umbral da vinda do salvador. É assim que, ao chegar à plenitude dos tempos, em cujo vértice Jesus leva a cumprimento a história de Deus com seu povo, o lugar de Maria na história da salvação fica definitivamente num lugar destacado.

A partir da leitura podemos ver como emerge, na contraluz do mistério da salvação, o rosto de Maria:

  1. Deus, em seu amoroso desígnio, quis destiná-la (ver Rm 8,29-30; primeira leitura de hoje) para ser a virgem mãe do Messias através do qual Ele realiza a libertação de Israel e de toda a humanidade da escravidão do pecado, atraindo-os para a comunhão com Ele de maneira definitiva (Mt 1,21);
  2. Jesus, enviado a reconciliar todos os homens completamente com Deus, provém completamente de Deus. Sobre o alicerce de uma longa série de gerações humanas e em ruptura com elas, o evangelista Mateus sublinha que Jesus não foi gerado por um pai humano. Ele começou sua vida em Maria por obra do Espírito Santo: “O gerado nela é do Espírito Santo” (1,20);
  3. Mateus não nos disse como Maria supõe que lhe pedia este serviço – o sabemos pelo evangelista Lucas-, porém através da revelação a José, vemos como Deus a elegeu, chamou-a e por meio de sua ação criadora a fez chegar a ser a mãe do Filho Santo de Deus. Sua missão dentro da história da salvação é ser para Israel e para a humanidade a mãe do Salvador, do “Emanuel” (1,23);
  4. Em consequência, ao deixar operar nela a potência criadora de Deus que gera o Messias, Maria é a primeira a quem a obra salvífica de Deus abraça nos novos tempos messiânicos: Deus a abraça com todo seu ser. É assim como sua vida se descobre preciosa ante os olhos de Deus e do mundo.

A nós corresponde agora refletir em oração sobre estes fatos e suas repercussões em Maria. A quem hoje nós celebramos como a filha amada do Pai, se converterá também pela graça de Deus na Mãe do Filho amado, Jesus, por obra do Espírito Santo de Deus.

  • As lisonjas para a recém-nascida

Quando uma criança nasce, os familiares se acercam a ela e exaltam sua beleza. Também, nós, hoje, nos admiramos da pequena Maria, em quem brilha uma beleza sem par. Evoquemos as palavras do Papa Paulo VI em 1977, em sua última celebração da natividade de Maria, contemplava a beleza de Maria: “A festa do nascimento de Maria é para nós como uma fonte de luz humano-divina sobre o caminho de nosso peregrinar no tempo, no cenário humano, como uma lâmpada na escuridão. Maria, como escrevia são Ambrósio, é o tipo de uma humanidade perfeita, recriada segundo o pensamento original de Deus, bela por uma beleza restituída. Ela resplandece no candor imaculado, digno da contemplação das almas inocentes ou desejosas de uma primogênita perfeição, admiração sem fim dos artistas, vitoriosa sobre qualquer pessimismo, consoladora dos que vivem na miséria, dos aflitos, dos sofredores. Além do mais, Maria nasce, permanece e resplandece imaculada, sem pecado original, fonte de beleza perpétua, da qual a humanidade havia perdido inclusive o conceito sem este excepcional e original privilégio da potência criadora de Deus”.

Deixando-nos inspirar pela santa Palavra, coloquemo-nos no lugar de Maria para celebrar sua vida: Cantarei ao Senhor pelo bem que me tem feito (Is 61,10). Em Maria o Senhor pôs a fonte da vida (Sl 36,10). Por isso a olhamos e dizemos: “Feliz és, ó santa Virgem Maria, digna de todo louvor: de ti saiu o Sol de Justiça, Cristo nosso Deus” (liturgia do dia). Deveríamos dar presentes a nossa Mãe, mas hoje é dela que esperamos presente. A mesma que nos presenteou o Filho de Deus nos presenteia também a benção da paz.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Onde e como teve origem a festa que celebramos hoje?
  2. Existem vários textos bíblicas relacionados a Maria. Não seria uma boa celebração desta festa, ler uma delas e deixar que seja Maria quem nos indique as atitudes que devemos mudar em nossa vida? Como faremos?

SÁBADO

Lucas 6,1-5

Um novo sábado: tempo de graça

“O filho do homem é Senhor do sábado”

A partir de Lc 5,30 iniciam as tensões entre Jesus e seus adversários: “Por que comeis e bebeis com os publicanos e pecadores? e “Os discípulos de João jejuam… mas os teus comem e bebem.

Na passagem de hoje vemos como o clima de tensão piora: “Por que fazeis o que não é lícito no sábado? (6,2). A novidade de Jesus e a vida nova dos discípulos seguem causando fortes reações.

Os fariseus consideram a coleta de espigas que os discípulos fazem no sábado (6,1) como trabalhar no campo, como uma colheita; e lhes recordam que isto está na lista das atividades proibidas. Portanto, recordam-lhes que estão infringindo a lei do repouso festivo: “não é lícito” (não é segundo a Lei).

Chama a atenção que aqui, como também em 5,30, os fariseus não se dirigem diretamente a Jesus, mas aos discípulos; contudo, se entende que os discípulos se comportam assim porque foram estimulados pelo Mestre. É assim como notamos que o discipulado gera uma relação tão estreita com o Mestre que esta se envolve em comunhão de vida: comunhão de atitudes e comportamentos.

O discípulo começa a parecer-se a seu Mestre. A recriminação que alguns dos fariseus lhes fazem, vai na direção de declará-los “pecadores”, porquanto se comportam de maneira oposta ao mandado por Deus. Agora, a resposta de Jesus (6,3-5) mostra que não é assim.

A princípio se remete ao comportamento de Davi, o qual é autoritário; logo dá um salto ao anúncio de sua própria autoridade. Vejamos três elementos importantes da resposta de Jesus:

  • O critério de discernimento está na Sagrada Escritura: “Não haveis lido…?(6,3).

O que esta busca é a sintonia do agir do homem com o querer de Deus. Jesus baseia seu comportamento na Escritura, e precisamente quando o acusam de não cumpri-la;

  • A Lei não está acima das necessidades humanas: “…Quando (Davi) sentiu fome (6,4).

A referência infere que a Lei está a serviço das necessidades humanas. Assim entendeu Davi quando fez uma exceção à regra, como narra o episódio de 1ª Sm 21,2-7. Nesta passagem se vê que Davi “comeu e deu aos que lhe acompanhavam” (6,4), quer dizer, Ele estava a serviço dos demais;

  • Jesus é o “Senhor”: “O Filho do homem é Senhor do sábado (6,5).

Em última instância o ponto de referência que importa não é Davi, mas Jesus: ele tem autoridade própria, é “Senhor do sábado”. Portanto, a identidade e o comportamento de Jesus são à base do estilo de vida de seus discípulos. Por isso devem reconhecê-lo como “Senhor” (ver que diz Pedro em 5,8).

Jesus, então, enquanto “Senhor”, tem poder para estabelecer o que está ou não permitido no dia de sábado: o dia que faz a memória da ação criadora de Deus no mundo e, de maneira especial, seu gesto libertador no êxodo, o qual levou seu povo ao repouso da terra. Em poucas palavras: como Deus se ocupa do homem.

De outro lado, em sua resposta, Jesus combate uma interpretação formalista do preceito do sábado da mentalidade farisaica. É assim como entra aqui o tema da liberdade frente à Lei. Os discípulos aprendem que o tema da liberdade está profundamente relacionado com o plano de Deus que Jesus veio cumprir.

Três pontos de referência são importantes: primeiro, a prioridade da vida; Segundo, a prioridade do projeto criador de Deus revelado na Escritura; e, Terceiro, a prioridade do senhorio de Jesus, modelo e inspiração de toda atitude e de todo comportamento do discípulo.

Relacionando com o texto programático de Lc 4,16-22, nesta passagem fica claro que o tempo da graça de Deus, é a boa nova de um agir de Deus atual e profundo que muda a situação de desgraça dos desfavorecidos: “libertação aos cativos… vista aos cegos… liberdade aos oprimidos”.

A liberdade dos discípulos para dispensar-se da Lei sabática mostra o contrário do que os fariseus pensam: os seguidores de Jesus entenderam que estão vivendo novos tempos que o Deus da vida e do amor tinha inaugurado em seu enviado.

Esta é a boa nova da salvação: Deus está preocupado por tuas necessidades! Caminhar junto com Jesus é viver profundamente o sentido do sábado todos os dias.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Dos três elementos importantes da resposta de Jesus aos fariseus qual me chama mais a atenção?
  2. A novidade de Jesus e a vida nova dos discípulos causam fortes reações.Que aspectos de minha

 vida vividos segundo Jesus causam reações nos demais? Se não encontro nenhuma, será que me

 falta levar mais a sério o ensinamento de Jesus?

  • A vida de compromisso cristão do meu grupo, família ou comunidade, lhes diz algo aos demais?

Que fazer para que nossa vida em Jesus gere mudanças no contexto onde nos encontramos?

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

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