Cuidando das coisas de Deus (EFC)

Lucas 19,11-28

VIVER O SENHORIO DE JESUS EM NOSSAS VIDAS

“Estava Ele próximo de Jerusalém e acreditavam eles, que o Reino de Deus apareceria

de um momento para o outro”

A chave para compreender a parábola a encontramos na primeira linha do texto: “Estava Ele próximo de Jerusalém e acreditavam, eles, que o Reino de Deus apareceria de um momento para o outro” (19,11). Quer dizer, que a parábola tem relação com a entrada messiânica de Jesus em Jerusalém: “Bendito o Rei que vem em nome do Senhor!” (19,38ª).

Uma das preocupações da comunidade lucana, como, em geral, foi também dos primeiros cristãos,  é a vinda próxima do Senhor Jesus, que entrou como Rei em Jerusalém (19,36-38), viveu sua morte como uma entrada à glória de seu Reino (23,42-43; 24,26) e, depois de sua ressurreição, voltará um dia como Rei e juiz (At 1,11).

A parábola nos situa precisamente neste plano do regresso de um rei, de maneira que descubramos com que atitudes nós devemos recebê-lo.

Por outra parte, a história do homem nobre (19,12), que regressa depois de receber a investidura real (v.15), e pede contas dos negócios que encarregou a seus servidores (vv.13.15-27), parece fazer eco a uma história real bem conhecida nos tempos de Jesus: o rei Arquelão, filho de Herodes o Grande, e único de seus herdeiros no poder, fez uma viagem a Roma no ano 4 aC para que ali o imperador o confirmasse como o herdeiro da dignidade real de seu pai.

Enquanto isso uma delegação judia fez uma viagem paralela para firmar, ante as autoridades imperiais, seu desacordo. Estes pediram ao imperador Augusto que o nomeasse unicamente rei da região da Judéia, com um título de menor categoria: etnarca.

Esta história de intriga política reflete-se nos vv.11-14. Jesus interpreta a oposição de seus adversários, por ocasião de sua chegada a Jerusalém, a partir desta história, fazendo-lhes os respectivos ajustes.

O mais importante destes é a má compreensão que seus seguidores têm de seu messianismo real; eles pensavam num acontecimento político, numa libertação nacional que ia realizar-se poucos dias: “Acreditavam, eles, que o Reino de Deus apareceria de um momento para o outro”  (v.11).

Uma compreensão inadequada da missão de Jesus pode chegar a converter-se em uma forma de rejeição de seu senhorio sobre nós. Pelo contrário, se compreendemos seu caminho da Cruz e as exigências de vida que daí se derivam, Jesus será, verdadeiramente, nosso Rei.

A parábola nos ensina a viver o senhorio de Jesus em nossas vidas comprometendo-nos com o desenvolvimento dos dons e capacidades que nos deu; desta forma o que é seu o tomamos também como nosso e o fazemos crescer.

Ao contrário do que acontece na versão de Mateus, notamos que os servos eram dez, que todos receberam exatamente o mesmo, porém, que cada um consegue fazer produzir seus talentos segundo suas possibilidades. O que não se admite é a preguiça, a passividade no assumir a obra do Senhor, por ser uma forma de rejeição de seu senhorio, que ao final nos coloca fora de seu Reino (v.27).

Aprofundemos com os nossos pais na fé

São Serafim de Sarov (1759-1833), monge russo

“Fazei render a mina durante a minha viagem”

É na aquisição do Espírito Santo que consiste o verdadeiro objetivo da nossa vida cristã; a oração, as vigílias, o jejum, a esmola e as outras ações virtuosas feitas em nome de Cristo não são mais do que meios para o adquirir… Sabeis o que é adquirir dinheiro? Com o Espírito Santo, é parecido. Para a gente comum, o objetivo da vida consiste na aquisição de dinheiro, no ganho. Além disso, os nobres desejam adquirir honras, sinais de distinção e outras recompensas concedidas por serviços prestados ao Estado. A aquisição do Espírito Santo é também um capital, mas um capital eterno, fonte de graças, semelhante aos capitais temporais e que se obtém pelos mesmos processos. Nosso Senhor Jesus Cristo, o homem-Deus, compara a nossa vida a um mercado e a nossa atividade na terra a um comércio. Ele recomenda a todos: “Façam render até que eu volte” e São Paulo escreve: “Tirai bom partido do tempo presente porque os nossos dias são incertos” (Ef 5,16). Por outras palavras: Despachai-vos para obterdes bens celestes negociando mercadorias terrestres. Essas mercadorias não são senão as ações virtuosas praticadas em nome de Cristo e que nos conferem a graça do Espírito Santo.

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: