Palavra à Comunidade Paz e Bem
“Eis que faço novas todas as coisas” (Is 43,19)
Amados irmãos e irmãs em Cristo,
A Palavra que hoje ressoa em meu coração é esse anúncio consolador e exigente do profeta Isaías: “Eis que faço novas todas as coisas.”
O Senhor não fala de longe. Não fala sobre outros tempos. Ele fala hoje, agora, ao coração de cada um de nós.
E Sua voz é como o primeiro raio de sol que rasga a madrugada: ilumina, aquece, desperta.
1. Deus inaugura o tempo novo, mas espera nossa conversão
Deus cria o tempo novo com a mesma ternura e força com que criou o mundo no princípio.
Ele renova, recria, reconstrói — mas não o faz sem nós.
O Senhor nos oferece um tempo novo, sim, mas não para permanecermos antigos, presos a hábitos que nos afastam da graça.
A graça de Deus não é mágica: é caminho.
Como dizia Santo Agostinho ao descobrir a beleza divina:
“Tarde te amei, Beleza tão antiga e tão nova.”
O novo de Deus não é moda nem novidade passageira; é o eterno que nos visita e clama por um coração renovado.
Assim, o tempo novo nasce de Deus, mas desabrocha quando o nosso coração se abre.
2. Deus abre o caminho, mas somos nós que caminhamos
O profeta anuncia que Deus faz brotar rios no deserto.
Mas o rio não serve de nada se não tivermos coragem de deixar as margens antigas.
O Evangelho nos chama:
“Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15).
Não basta reconhecer que Deus fala; é preciso responder.
Não basta perceber que Ele oferece um caminho; é preciso dar o primeiro passo.
Há momentos da vida espiritual em que Deus, como um espelho, permite que vejamos quem somos e quem poderíamos ser.
Machado de Assis dizia que há espelhos que não mostram apenas a aparência, mas aquilo que trazemos por dentro.
Assim também é o olhar de Deus: Ele nos revela não para nos humilhar, mas para nos transformar.
3. Cristo é a Beleza que renova tudo
Dostoiévski afirmava que “a beleza salvará o mundo.”
Nós sabemos que essa Beleza é Cristo, que nos encontra na poeira do caminho e nos diz:
“Levanta-te. Vem atrás de Mim.”
Quando Cristo toca uma vida, nada permanece igual.
Ele é a Luz que desfaz o medo, a água que refresca o deserto, a voz que desperta o que dorme.
Ele é o novo tempo de Deus feito carne.
A Igreja — nossa Mãe — recorda pela voz do Papa Francisco que a vida cristã é um estado permanente de saída:
sair de si, das velhas seguranças, dos desertos interiores.
Assim se vive o novo tempo: caminhando com Cristo e vivendo aquilo que professamos.
4. O novo tempo é dom, mas também é missão
Não basta reconhecer que Deus faz novas todas as coisas.
É preciso permitir que Ele faça novas todas as coisas dentro de nós.
É preciso o “sim” de Maria: humilde e firme.
É preciso a coragem do paralítico que, ao ouvir “Levanta-te!”, realmente se levantou.
É preciso a transformação interior de São João da Cruz, que nos recorda:
“Ao entardecer da vida, seremos julgados pelo amor.”
O novo tempo é mais do que promessa: é compromisso.
É mais do que consolo: é convocação.
5. O povo de Deus deve despertar
Queridos irmãos, despertemos!
Não sejamos espectadores passivos da obra que Deus quer realizar.
A graça está diante de nós como um horizonte aberto, um campo pronto para florescer.
Mas só floresce quem planta, só colhe quem crê, só renasce quem se entrega.
O poeta Fernando Pessoa dizia que o ser humano carrega dentro de si o sonho de ser mais.
Que esse sonho, em nós, seja o de ser mais segundo Deus, mais segundo o Evangelho, mais segundo a caridade, mais segundo o Carisma da Obra.
Porque — e é o próprio Senhor quem nos garante —
o tempo novo já começou.
Ele está diante de nós.
Ele passa em nosso meio.
*Uma exortação proferida por nosso Assessor Eclesiástico, Padre Thiago Cavalcante, durante retiro do Conselho Geral e coordenação da Paz e Bem em Jacarecoara, Novembro 2025.

