ESTUDO BÍBLICO NA 10ª SEMANA COMUM ANO B 2024

ESTUDO BÍBLICO NA 10ª SEMANA COMUM ANO B 2024

Comunidade Paz e Bem

SEGUNDA-FEIRA

Mateus 5,1-12

O PERFIL DE UMA VIDA PROFÉTICA: AS BEM-AVENTURANÇAS

 “Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus”

O Sermão da montanha responde à pergunta: Qual é o “fazer” distintivo de um discípulo do Reino?  Esta pergunta poderia especificar-se, mais ainda, assim: Que ocorre no coração do que se faz discípulo de Jesus? Em que consiste a novidade de sua vida? Quais os pontos distintivos?

Jesus responde com um ensino bem organizado e concreto, que desenha o “mapa” da vida cristã a partir de seus ângulos fundamentais. O eixo de tudo está na frase: Buscai primeiro o Reino de Deus e sua Justiça (6,33).

Convidamos-lhe a ler, desde todo, o Sermão da Montanha (Mt 5-7), para sentir a força dos ensinamentos e também a lógica que os une. Este é um desses discursos que fala ao coração de forma contundente, mas também, encantadora.

O perfil do discípulo está aí e dá vontade de encarná-lo. No geral soa como norma, mas, na verdade, se trata da essência mesma do coração de Jesus que se impregna no coração do discípulo.

Como veremos, com calma, adiante, o coração novo do discípulo se distingue pelo modo de estabelecer relações. Trata-se de aprender o modo de se relacionar típico do “Reino”, ou seja: com os irmãos (Mt 5,17-48), com Deus-Pai (Mt 6,1-18); nas quais medeia o justo uso dos bens da terra (Mt 6,19-34). 

A plenitude da Lei de Deus está nesta proposta de Jesus (5,17–7,12). Alguns avisos são acrescentados (7,1-11). Este ensinamento central sobre “a relação segundo o Reino” está emoldurado: pela bela introdução das “Bem-aventuranças”, a missão do bem-aventurados, (5,1-16); e pela longa conclusão sobre os elementos que avaliam e confirmam se alguém está ou não na esfera do Reino (7,13-27).

Após esta introdução, iniciemos, agora sim, a leitura do nosso texto:

Mt 5,1-12: As bem-aventuranças

Recriemos, brevemente, o cenário:

Em suas viagens missionárias, Jesus encontrou-se com a dura realidade de seu povo, as pessoas e as suas diversas formas de sofrimento, e levou-as a experimentar a Boa Nova do Reino (Mt 4,23-24).

A multidão curada não volta para casa imediatamente, mas se deixa educar por Jesus na vida nova, que para eles começou. Isto é importante porque, como explica o evangelista, os que se viram curados por Jesus, agora começam um caminho de discipulado: “E seguiam-no multidões numerosas” (4,25; o termo “seguir” não é casual). 

Notemos a relação entre a cena de “cura” e o itinerário de formação que Jesus, agora, lhes oferece: a vida nova não só se recebe como uma graça (indicada na cura), mas, também, devemos “aprendê-la”; é preciso “dar corpo” à vida nova e dar estrutura à conversão; para isso é a instrução de Jesus. Frente a esta multidão (“Vendo ele as multidões…”, 5,1a), Jesus dá dois passos iniciais:

Subiu à montanha” (5,1b)

Parece evocar a subida de Moisés ao Sinai para receber e proclamar a Lei de Deus (Êx 19,3), embora aclaremos: as bem-aventuranças não são leis e sim valores). O evangelho acabará também com Jesus dando sua última instrução do alto de um monte na Galiléia (28,16).

Mas no evangelho de Mateus o “subir à montanha” também está relacionado com a oração: Jesus subia muitas vezes à montanha para encontrar-se com seu Pai (ver Mt 14,23;17,1), por isso, “subir à montanha é o permanecer constante de Jesus no coração do Pai, de onde tira o maravilhoso dom das bem-aventuranças” (Clemencio Rojas).

Sentou-se” (5,1c)

Atitude própria de um Mestre que dá instruções ou ordens. Os dois termos mostram a autoridade com que Jesus vai falar e nos convidam a atender e acolher a revelação como discípulos (“aproximaram-se dele seus discípulos”, 5,1d).        

Os três planos que configuram o cenário da proclamação do primeiro grande sermão de Jesus (Jesus, os discípulos e a multidão), nos recordam a ocasião na qual Moisés sobe à montanha junto com os anciãos (Êx 24,1), enquanto que aos pés da montanha permanece o povo.

Então dá-se inicio ao ensino. No texto grego lemos literalmente: “E havendo aberto sua boca, lhes ensinava dizendo (5,2). A expressão “abrir a boca”, que equivale a “tomar a palavra”, nos envia à frase que Jesus diz ao tentador no deserto: Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus (4,4). 

Da “palavra que sai da boca” de Jesus, “vive” o discípulo. Isto vale, não só para este sermão, mas para todos os ensinamentos de Jesus.  Este é o alimento que o povo necessita, só milagres não bastam, é preciso explorar a beleza e apropriar-se da riqueza da vida do Reino (4,24).

A felicidade do Reino

Na leitura das bem-aventuranças devemos distinguir as partes que contêm cada uma delas. Tomemos como modelo a primeira:

A declaração “Bem-aventurados”

Nove vezes se repete a palavra “Bem-aventurados”, mas, as bem-aventuranças, na realidade, são 8, já que a nona é uma ampliação do que foi dito na oitava. A expressão descreve o novo estado em que se encontra todo aquele que entrou no âmbito do Reino de Deus: o estado de plenitude interna que comumente chamamos “felicidade”.

A bem-aventurança é o clima da vida do Reino, um Reino que já se experimenta: atenção com a expressão “deles é o Reino” (5,3.10). Por isso, a repetição 9 vezes do mesmo termo parece querer ajudar a uma tomada de consciência: “Porque você segue a Jesus, já tem todos os motivos para ser feliz; Olhe o que Deus está fazendo em sua vida!”. Que estaria vivendo a multidão naquele dia, quando Jesus colocou-lhes o espelho diante dos olhos e os convidou a reconhecer seu novo estado de vida!

As atitudes ou situações que abrem as portas para a felicidade do Reino

As oito bem-aventuranças vão descrevendo, progressivamente, o rosto de um discípulo de Jesus, e – se prestarmos atenção – notaremos que se trata do proprio rosto de Jesus:

A pobreza em Espírito (5,3): abertura total a Deus, aos irmãos. O “rico” em espírito é o auto suficiente e orgulhoso (ver Ap 3,17). O Reino se recebe quando se reconhece a radical necessidade d’Ele (o evangelho dá numerosos exemplos disso).

A mansidão (5,4): exercício de total controle de si mesma em suas emoções e impulsos (Sl 37), que não pretende dominar nem controlar os outros; é a pessoa que sabe conviver.

As lágrimas (5,5): referem-se ao estado de uma pessoa em dor, por sua própria desgraça ou dos outros; geralmente se vive nas ruturas de relação (morte, pecado, etc.). De alguma maneira se refere à pobreza porque há um vazio que pede ser preenchido.

A fome e sede da justiça (5,6): “fome e sede” são duas necessidades vitais que não admitem demora para a solução. Esta busca compulsiva do essencial para viver se traslada ao terreno das relações: recompor as relações deterioradas, quer dizer, a “justiça”.

A misericórdia (5,7): no evangelho de Mateus o termo “misericórdia” está quase sempre associado ao “perdão”. Mas há um ponto de vista mais amplo: onde quer que alguém sofra ali há que reconstruir – mediante acolhida efetiva – o tecido social deteriorado.

A pureza de coração (5,8): não é uma inocência (que pareceria congênita em algumas pessoas), mas, estado de limpeza interior próprio de todo o que foi purificado pelo sacrifício redentor de Jesus. Em um coração puro as motivações são distintas: não há cobiça, não se guarda rancor, se valoriza objetivamente, só se deseja o bem dos demais.

O trabalho pela paz (5,9): de novo nos encontramos no âmbito relacional, particularmente no ambiente conflitivo; em lugar de insistir no que pode desunir, pelo contrário se contribui sempre para o que pode manter e fazer crescer as relações.

A perseguição por causa da justiça (5,10-12): a identificação com Jesus e o compromisso profético com seu Reino (ver todo o anterior) tem seu preço: leva a compartilhar o destino doloroso do Mestre. A perseguição vem de diversas formas, mas a mais destacada é a difamação. Mas, apesar de toda a violência que cai sobre ele, o discípulo não responde com violência; é verdade que é uma vítima inocente, mas sua atitude é outra, a da resistência, da alegria: não há alegria maior para um discípulo que o saber que se parece, em tudo, com seu Mestre Jesus.

É Deus Pai quem causa a felicidade

É importante notarmos que tal felicidade provem, não do ponto de partida (a pobreza, as lágrimas, a mansidão, etc.), mas, sim, do ponto de chegada, quer dizer, da obra de Deus Pai (“deles é o Reino”, “possuirão a terra”, “serão consolados”, etc.).  Deus é a causa da alegria. Em outras palavras: se é feliz porque Deus está agindo em alguém, graças à Boa Nova proclamada e realizada por Jesus.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Sobre que fio condutor se tece o evangelho segundo Mateus?

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É importante que o leiamos?

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  • Considero-me “feliz”? De onde provém esta felicidade?

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Que caminhos me propõe Jesus?

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  • No núcleo da proclamação do Reino está o conhecimento do rosto bendito de Deus Pai. Que experiência de Deus Pai me convida a viver Jesus?

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TERÇa–feira – S. Barnabé, apóstolo

Mateus 10,7-13

MANUAL DOS BONS OPERÁRIOS DO EVANGELHO (II):

O MISSIONÁRIO SE DISTINGUE POR SEU ESTILO DE VIDA.

“De graças recebestes, de graças dai”

Ao dar as instruções aos discípulos para o exercício da missão, Jesus coloca em suas mãos um verdadeiro “manual” que devem ter sempre presente.

O evangelista São Mateus anota solenemente: A estes doze enviou Jesus, depois de dar estas instruções (v.5a). Visto que o autor da missão, em última instância, é Jesus, tudo se realiza segundo suas indicações. O manual da missão inicia descrevendo a tarefa que compete ao apóstolo de Jesus:

Seu marco geográfico-espiritual: asovelhas perdidas da casa de Israel(v.6)

O espaço é bem definido: não tomeis o caminho dos gentios nem entreis na cidade dos samaritanos(v.5b). Esta abertura só se dará após a morte e ressurreição de Jesus, no envio universal: Ide, pois, fazei discípulos a todas as gentes(28,19). Por hora, a missão, só em casa.

Seu conteúdo: a proclamação da chegada do Reino na pessoa de Jesus (10,7)

O anúncio da proximidade do Reino, com poucas palavras e muitos sinais transformadores, não é outro que o da vinda de Jesus que, com seu poder tocando o homem no fundo de sua miséria, faz presente a vontade misericordiosa de Deus que cura, perdoa e traz a paz.

O que o apóstolo tem a dizer é pouco, ao contrário das ações que são grandes. Ele deve converter cada dia de suas vidas em uma página viva do Evangelho: “Curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expulsai demônios” (10,8a). Os profundos conteúdos do Reino se refletem, então, no novo estilo de vida de quem os anuncia. Vejamos cinco traços distintivos deste novo estilo de vida:

O missionário se distingue por seu coração (v.8a)

Sua ternura ativa com os enfermos, os pobres, os leprosos, os endemoninhados. Todos os milagres enumerados por Jesus supõem uma apropriação do Evangelho, impregnando-se da compaixão de Jesus com os sofredores da terra.

O missionário se distingue por viver com o estritamente essencial (vv.9-10)

Ao compartilhar a pobreza de Jesus fica claro que o que conta, do início ao fim, não são os recursos materiais para a missão, mas a pessoa em primeiro lugar. O missionário é sóbrio em seu vestir, em sua alimentação e em seus recursos econômicos. Tudo isso como expressão da opção prioritária pelo Reino.

Contudo, “tem direito a seu alimento” (v.10b)

Necessitavam de comunidades que os acolhessem e mantivessem em sua missão itinerante. (Provavelmente, havia comunidades que não queriam colaborar na manutenção dos missionários e por isso se recorda este dever fraterno).

O missionário se distingue por suas relações interpessoais (v.11)

Sabe iniciar a missão no complexo mundo urbano (se informa, saúda, é cortês, é constante;). Além de começar é capaz também de fechar bem os processos (“até que saiais”; 10,11b).

O missionário se distingue por sua disponibilidade (v.12)

Faz bem a tarefa e sem nenhuma motivação que não seja o serviço generoso. Assim como o despojamento externo, o despojamento pessoal é o indicador mais evidente de uma vida que se dá em oblação de si mesma: a gratuidade do dom (10,8b). Este é o modo concreto de ir até a raiz do mal como Jesus fez. Por isso é muito significativo que não se peça nada em troca e se esteja disposto a tudo que se possa exigir.

O missionário se distingue pela capacidade de suportar a oposição e a rejeição (vv.13-14)

O fracasso não o deprime nem as reações agressivas dos destinatários lhe roubam a paz. A missão está exposta a inconvenientes, alguns leves e outros de maior envergadura. Ele agirá com maturidade, à altura das circunstâncias, ao estilo do Mestre.

A tarefa está orientada e os requisitos para realizá-la bem já foram expostos. Com estas orientações se formará o novo povo de Deus que faz a experiência profunda do Reino. A Palavra de Jesus tem vigor para formar no mundo de hoje excelentes missionários que a façam possível.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

Releiamos, agora, o texto, bem devagar, sublinhando os verbos em imperativo, distinguindo o que está em positivo e em negativo. E se contamos com tempo podemos, inclusive, comparar com o Evangelho do domingo passado. Logo confrontemos os ensinamentos com o estilo de vida que estamos levando e deixemos que a Palavra inspire em nós decisões concretas a favor de nosso crescimento pessoal.

  1. Cite alguns traços que devem distinguir o modo de viver de um verdadeiro missionário do Reino?

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     Como os vivo pessoalmente?

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     Como os vivemos no grupo ao qual pertenço?

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  • Em minha família, entre meus amigos ou conhecidos, sei de alguém que por diversas circunstâncias tem se afastado de Jesus?

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    Que tenho feito concretamente por essa pessoa. Tenho orado e dialogado com ela? Aconselhado o

    diálogo com alguém que a possa ajudar, ou sabendo do caso, me manifesto indiferente?

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    Que farei a respeito?

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  • A sociedade de consumo nos apresenta um estilo de vida muito distinto do que propõe Jesus a seus missionários. Que temos que fazer para viver mais de acordo com Jesus?

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Vida de S. Barnabé, filho da consolação

Despojamento

A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era comum… Nem havia entre eles nenhum necessitado, porque todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas, e traziam o preço do que tinham vendido e depositavam-no aos pés dos apóstolos. Repartia-se então a cada um deles conforme a sua necessidade. Assim José, a quem os apóstolos deram o apelido de Barnabé, que quer dizer “Filho da Consolação”, levita, natural de Chipre, possuía um campo. Vendeu-o e trouxe o valor dele e depositou aos pés dos apóstolos (Atos 4, 32-37).

Discípulo de Jesus

A Bíblia menciona, pela primeira vez, o nome de Barnabé entre aqueles que, depois da morte de Jesus em Jerusalém, se reúnem em torno dos Apóstolos. Trata-se de uma comunidade de fiéis, na qual vivem, fraternalmente, compartilhando seus bens. Porém, a tradição — transmitida por Eusébio de Cesareia, obtida de Clemente Alexandrino —, também o inclui entre os 72 discípulos enviados por Jesus em missão para anunciar o Reino de Deus. Logo, ele já pertencia ao grupo dos seguidores de Cristo. Sobre as suas origens sabemos, por meio da Sagrada Escritura, que era natural da ilha de Chipre, na Grécia, judeu e chamado José.

Chamado de Apóstolo

Barnabé encontra-se entre as pessoas mais influentes da primeira Comunidade cristã nascente, tanto que, embora não fizesse parte dos Doze, era chamado apóstolo. Barnabé, considerado um “homem virtuoso repleto de Espírito Santo e de fé”, foi enviado para Antioquia da Síria, de onde chegavam notícias de numerosas conversões. Uma vez constatado que muitos acreditavam nele, Barnabé se alegra e exorta todos a “perseverarem com um coração resoluto no Senhor”.

Acolheu Paulo

Foi o primeiro a acolher Paulo, após a sua conversão na estrada de Damasco, que chegara a Jerusalém para encontrar os Apóstolos. Enquanto muitos desconfiavam daquele Saulo, que perseguia os cristãos, Barnabé o acolheu e o inseriu na comunidade. Assim, pediu a ajuda de Paulo no seu serviço à nova comunidade de fiéis.

Companheiro de Paulo

Logo, mais uma vez, Barnabé intervém na vida de Paulo, encorajando-o na sua missão como Apóstolo dos gentios. Os dois permanecem em Antioquia, durante um ano, instruindo muitos. Precisamente ali, “pela primeira vez, os discípulos foram chamados cristãos”. Depois da pregação em Antioquia, Barnabé e Paulo partem para uma nova missão em Chipre. Com eles estava também João, chamado Marcos (o evangelista), primo de Barnabé. A etapa sucessiva era a Panfília, de onde João decide voltar para Jerusalém. Ao invés, Barnabé e Paulo prosseguem para a Pisídia, Licaônia, Listra e Derbe, mas, depois, voltam para Antioquia da Síria, detendo-se também em Perge e Atália.

A circuncisão

No entanto, as conversões dos pagãos, cada vez mais numerosas, começam a suscitar divergências sobre a necessidade ou não da circuncisão. Por isso, por volta do ano 49, Barnabé e Paulo voltaram a Jerusalém para resolver este problema com os Apóstolos. Logo depois, ambos se preparam para uma nova missão, mas Barnabé quis envolver novamente o jovem João, embora Paulo fosse contrário, por não confiar muito nele. Barnabé, porém, o vê como um discípulo para ser reabilitado. Não chegando a um acordo, seus destinos se separaram: Barnabé embarca para Chipre, com seu primo, e Paulo parte para a Ásia.

Bispo na Itália

O Novo Testamento não nos fornece mais informações sobre Barnabé, mas alguns documentos bizantinos falam de uma viagem que fez com Pedro, com destino a Roma, de onde prosseguiu para o norte da Itália. Em Milão, de modo particular, a sua pregação teria suscitado várias conversões, que deram origem à primeira comunidade cristã na cidade, que, por isso, o considerou seu primeiro Bispo.

Martírio em Salamina

Os Atos de Barnabé, obra do V século, narram a sua morte em Salamina, onde teria sido apedrejado por judeus sírios, no ano 61. A sepultura de Barnabé existe ainda hoje existe, Dizem que teria sido o próprio Barnabé a indicar, em sonho, a sua sepultura ao Bispo de Salamina, Anthemios, em fins do século V. Este, portanto, teria mandado trasladar os restos mortais do apóstolo Barnabé para a Basílica, que ele lhe quis dedicar.

A minha oração

“Santo Apóstolo, que vendo as ações do Senhor, aprendeu o espírito de consolação, ensinai-nos a consolar e dai a nós a consolação nos momentos mais difíceis da vida. Que essa prática seja para nós virtude e meio de santidade. Amém!”

São Barnabé , rogai por nós!


QUARTA-FEIRA

Mateus 5,17-19

APRENDER A FAZER, EM JESUS, A VONTADE DE DEUS.

“Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento

Quem faz a experiência das “bem-aventuranças” é um homem novo no Reino, perpassado pela pessoa de Jesus. N’Ele tem o coração. Começa a centrar-se todo em Jesus. Mas, a vivencia da radical novidade do Reino pode levar a pensar que a Lei e os Profetas ficam abolidos (Mt 5,17ª). Isto não é exatamente assim, pois, como disse Jesus: Não vim revogá-los, mas dar-lhe cumprimento (5,17b).

A frase “a Lei e os Profetas” é uma forma de designar, tecnicamente, a Bíblia Hebréia (para nós é grande parte do Antigo Testamento), isto é, abarca toda a primeira parte da revelação de Deus:

  • A “Lei”: é o critério de vida por excelência para o povo que fez Aliança com Yahweh;
  • Os “Profetas”: enquanto defensores da Aliança, foram intérpretes da Lei.

Quando Jesus disse que veio para “dar cumprimento” à “Lei e os Profetas”, está afirmando que, n’Ele, visível está, tudo o que a Lei e os Profetas tentaram dizer. O que Deus desejou revelar a seu povo tem seu ponto culminante na pessoa de Jesus. Por isso, digamos assim, entre o Antigo e o Novo Testamento não tem contradição, mas uma linha contínua, sempre ascendente.

É preciso, então, olhar em todas as palavras e atos de Jesus no evangelho, pois ai  “deu cumprimento” ao querer de Deus. Já a primeira ação de Jesus em Mateus, foi programática a este respeito quando, a beira do Jordão, disse a João: “pois assim nos convém cumprir toda justiça (3,15).

As palavras e os atos de Jesus aprofunda no modo como se dá “cumprimento” à “Lei e os Profetas”:

  • Da parte de Deus, mantém firme sua Palavra e nos oferece um caminho para que esta se realize plenamente (“que tudo seja realizado”: 5,18);
  • Da parte do homem, a Palavra de Deus alcança seu cumprimento nele, na medida em que a leve à prática e sejam ensinadas (“observar e ensinar”: 5,19).

Deus é o primeiro a por em prática a Lei, em seu Filho Jesus. A “justiça” primeira é a de Deus. E esta justiça – segundo o evangelho de Mateus – se chama Jesus. Por isso não se falará, explicitamente, do “ensinamento de Jesus” (só até 7,24), mas do “cumprimento da Lei”, simplesmente porque esta ordem de idéias é a mesma.

Deus: A Palavra se faz realidade

A lei quer que “aconteça” tudo. E esse tudo Jesus realiza em sua própria vida. Deste modo, oferece a quem quer que lhe siga, a possibilidade de aprender, n’Ele, a fazer a vontade de Deus. O evangelho, aos poucos, irá desvelando de que modo o “cumprimento” está na vida mesma de Jesus.

A síntese do que quer a ‘Lei e os Profetas’, finalmente, será o amor misericordioso. Desta forma, a “Lei” segue sendo inquebrantável, porém, por outra parte, não se expressa plenamente, mas isso só vai acontecer na interpretação que lhe dá Jesus.

Portanto, porque Jesus deu sua máxima expressão a todo o valor que tem “A Lei e os Profetas”, todos temos a possibilidade de viver a Palavra de Deus em seu seguimento e, assim, esta manterá sua vigência até o fim do mundo (“céu e terra passarão antes de que passe…”).

O discípulo: A Palavra se faz vida

Deus cumpre sua Palavra, porém, os discípulos também têm que cumpri-la, isto é, passar da teoria à prática. Todos os mandamentos, inclusive os menores, são obrigatórios, já que o homem só se faz “justo” na vivencia do querer de Deus.

Mas o discípulo não andará ansioso por detalhes, porque vive a Lei desde uma vida inspirada na nova “justiça” que ensina Jesus, uma “justiça” que provem do estar imerso na experiência do “Reino” (ver as bem-aventuranças). Para enfatizar isto, Jesus apresenta a mesma idéia, tanto em negativo como em positivo: O que pratique … – “o que observe”;  “Será o menor no Reino…”-“será grande…”.

Jesus havia de “por em prática”, porém, também “ensinar”. Jesus aplica a mesma lógica do compromisso com a Palavra ao compromisso com a correta educação, que consiste no aprendizado do evangelho, que é cumprimento perfeito “da Lei e os profetas”.

O discípulo que põe em prática a Palavra, já é, por si, um bom mestre, e com a mais eficaz das didáticas: o testemunho.  Mas, não pode esquecer que diante dele vai Jesus. Ao dizer que veio “dar cumprimento”, que belo! Ele mesmo faz o que ensina! Estar na escola de Jesus é aprender sua vida.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Um cristão pode permitir que desvalorizem o Antigo Testamento? Que argumentos tem?
  2. Em contrapartida, que aconteceria se lêssemos o Antigo Testamento sem chegar ao Novo? Que tipo de espiritualidade viveríamos? Que é dar “cumprimento” à “Lei e os Profetas”?
  3. A “lectio divina” tem como finalidade ajudar-me a passar da teoria do texto à prática da Palavra de Deus em nossa vida. Como a estou fazendo? A estou ensinando a outras pessoas?

QUINTA-FEIRA

Mateus 5,20-26

ESCOLA DE VALORES (I): A RECONCILIAÇÃO RÁPIDA E PRIORITÁRIA

“Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão”

Hoje começamos a escalar altos níveis na aprendizagem do Sermão da Montanha. Com o texto bíblico na mão exploremos o ensinamento de Jesus. O que vimos ontem é importante.

Mas o ensinamento não ficaria totalmente claro sem o que vem: Como Jesus leva a “cumprimento” a Lei de Deus, cujo espírito era tão defendido pelos Profetas? Jesus responde de dois modos:

(1) com uma frase que anuncia o novo programa da vida segundo o Reino (o que faz entrar no Reino); (2) com casos concretos que, como veremos, correspondem a uma “escola de valores”.

O novo programa

Se vossa justiça não ultrapassar a dos escribas e fariseus não entrareis no Reino dos Céus”.

O enunciado o lemos em Mt 5,20: O comportamento superior (ou “justiça” ou “agir justo”), ao qual alude Jesus, é tal enquanto supera a preocupação pelo “quantitativo” ou “pontual” – característico dos estudiosos da lei e judeus piedosos – e aponta, principalmente, para o “qualitativo” que se move na dimensão nova e profunda do Reino de Deus, quer dizer, a partir da obra de Deus Pai em nós.

O simples conhecimento das normas é insuficiente. Se levarmos em conta o ensinamento das bem-aventuranças, compreenderemos que a “nova justiça” parte da espiritualidade das bem-aventuranças, na qual se anunciava a boa noticia, da obra de Deus Pai, no discípulo de Jesus.

Trata-se de uma justiça que parte de um coração novo: a renovação interior resplandecerá e se tornará visível em todos os comportamentos do discípulo (“brilhe do mesmo modo a vossa luz diante dos homens”: 5,16). Então estará “cumprindo” a totalidade da Lei.

A didática: uma escola de valores

Como Jesus educa nesta “nova justiça”? Como se vê, em seguida, faz “escola de valores”. Vai propor seis valores fundamentais que orientam o comportamento do discípulo nas relações com os demais.

Tem sentido que Jesus tome como ponto de partida as relações com os demais, porque nelas é onde se verifica se, de verdade, somos homens novos ou não. Se andarmos isolados, para evitar problemas, nunca saberemos se levamos, ou não, a novidade do Reino por dentro.

Jesus educa seus discípulos confrontando-os com historias concretas de vida. Para isso: (a) põe uma situação problemática tomada do dia-a-dia; (b) propõe o valor que pode iluminar o comportamento do discípulo nesses tipos de situações; e (c) mostra como o valor se leva à prática. O discípulo logo o aplicará a muitas outras situações. 

O valor proposto, em cada uma das situações, mostra como a vivência da Lei (“Ouvistes que foi dito  dos antigos…”), a partir da prática das bem-aventuranças (“Eu porém vos digo…”), abre novos horizontes de vida que humanizam e santificam o mundo. Assim, os discípulos se fazem “sal” e “luz” em seus respectivos contextos familiares, sociais e eclesiais.

A “escola de valores” tem o seguinte plano: tendo em vista que é nas relações com os demais onde se verifica que uma pessoa vive a novidade do Reino… apresenta três tipos de situações nas quais a solução do problema depende da pessoa (5,21-37); apresenta dois tipos de situações nas quais o conflito não provém da pessoa (5,38-48).

Este tipo de reflexão, que conduz Jesus, é importante, porque, para que haja uma disputa necessita-se de duas partes: o que ofende e o ofendido. Acontece, às vezes, que o ofendido quer tomar a iniciativa para restabelecer a justiça, mas o outro não está interessado. Que fazer? Por isso a dupla abordagem: que fazer quando as soluções dependem de cada um de nós e quando não dependem de nós.

Começa a “escola de valores”

Que valores movem o discípulo quando as soluções dos conflitos dependem dele.

Jesus apresenta três âmbitos de relações conflitivas: (1) o amigo que se torna inimigo por uma dívida que não pagou (5,21-26); (2) a infidelidade matrimonial (5,26-32); e (3) a transparência (verdade) na comunicação verbal (5,33-37).

Hoje o evangelho trata do primeiro caso: o do amigo que se tornou inimigo por uma dívida não paga (5,21-26). Um discípulo de Jesus tem em alta estima a “fraternidade”, mas pode acontecer que amigos ou irmãos terminem como inimigos. Vejamos:

  • A situação de fundo, a dívida, aparece dramaticamente levada até ao extremo: o credor está a ponto de aplicar o rigor da lei a seu devedor (a cadeia e o trabalho forçado de sua mulher e seus filhos para cobrir a dívida). Os dois em conflito já vão a caminho do tribunal (ver 5,25-26);
  • O valor proposto é o da reconciliação. A proposta aparece duas vezes: “Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão” (5,24b) e “Assume logo uma atitude reconciliadora com teu adversário” (5,25ª). Trata-se de uma “prioridade” que não admite retardamento: “primeiro”, “sem demora”. Todas as energias pessoais devem canalizar-se para atingir este nobre fim;
  • A aplicação do valor se vê, claramente, no caso de duas pessoas que se irritam: boa ilustração do que acontece quando alguém não paga a alguém o que generosamente lhe foi emprestado.

A reconciliação deve ser:

  • Rápida: Exemplo no v.22. A pessoa sabe como começam os problemas (uma simples “cólera”, 5,22ª), mas não sabe como podem terminar (em assassinato). Quanto mais tempo passar, maior a gravidade da própria responsabilidade diante da situação. (ver as três instâncias da justiça no v.22). Por isso é preciso parar o quanto antes.
  • Primeiro que tudo: Exemplos nos vv.23-34. O mais sagrado para um judeu é a hora da oferenda no Templo, para o qual, geralmente, faz uma longa viagem, deixando para trás todos os demais compromissos, por vários dias. Pois bem: o recuperar a paz com um irmão é mais importante que aquilo que considerava, até então, seu maior valor.

Conforme a rapidez e a prioridade sobre qualquer outra atividade no exercício da “reconciliação” com o irmão, nós sabemos o que está no cume de nossa hierarquia de valores. Jesus partiu de uma situação que se vê todos os dias. Por certo, quem não terá se irritado alguma vez? Se tomássemos ao pé da letra este evangelho: haveria suficientes tribunais no mundo para toda a gente que se irrita? Haveria colapso do sistema judiciário.

Mas, aqui há uma grande verdade: a santidade (a “justiça superior”), a que nos conduz o Deus do Reino, deve levar-nos a saber gerenciar os problemas que todos os dias – que 70×7 vezes- surgem nas relações. Há pequenas situações na vida que vão além do âmbito legal, que escapam à possibilidade de julgamento, mas é preciso ter muito cuidado para colocar ali o “sal” e a “luz” do Reino. Portanto, o problema não é que haja problemas, o verdadeiro problema é que não queiramos solucioná-los.

O valor da reconciliação rápida e prioritária deve acompanhar-nos todos os dias e o dia todo! Que não se deteriorem as relações com “teu irmão”! E se já se deterioraram: Que faria uma pessoa que vive a bem-aventurança: “bem-aventurados os que promovem a paz” (5,9)?

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Tenho algum inimigo?

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  • O estar em paz com um irmão é para mim uma urgência?

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    Sinto “fome e sede da justiça”, ou seja, de restabelecer rapidamente as relações deterioradas?

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  • Como vou exercitar pessoalmente e educar a outros na escola de valores que Jesus propõe, no âmbito de minha família, de minha comunidade, de meu bairro?

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SEXTA-FEIRA                                        

Mateus 5,27-32

ESCOLA DE VALORES (II): UMA FIDELIDADE QUE REQUER SACRIFÍCIOS PELO SER AMADO

 “Arranca-o e lança-o longe de ti”

Jesus nos segue educando na “justiça” do Reino, refletindo na vida a luz que provém de um coração impregnado das bem-aventuranças.

O segundo âmbito relacional no qual facilmente podem surgir problemas é o da vida conjugal. As histórias de vida que Jesus narra parecem referir-se ao caso de um marido problemático: ou por sua debilidade ou por sua agressividade.

Jesus observa duas caras da moeda:

  • Quando o problema se dá por causa de outra mulher que entra em sua vida: o adultério (5,27-30).
  • Quando o problema é com a própria esposa: romper definitivamente com o matrimônio (5,31-32).

Em ambos casos o valor que se coloca em primeiro plano, e que deve inspirar o comportamento do discípulo para superar a crise, é a FIDELIDADE o amor prometido.  

Pela fidelidade à pessoa que se ama, tudo mais deve passar a segundo plano.  Recordemos que o ponto de vista que aquí se aborda é de quando a solução está em nossas mãos. Vejamos como se aplica.

1.  O adultério (5,27-30)

È interessante notar que um ambiente cultural que considerava a mulher como “perigosa” para o homem, porque supostamente incitaría a maus pensamentos, Jesus se pronuncia principalmente sobre a atitude deste: “Quem olha para uma mulher desejando-a…” (5,28ª).

Em outros termos: o problema não está na mulher e sim no olhar malicioso do homem, quer dizer, em seu coração (“Já cometeu adultério com ela em seu coração”, 5,28). O olhar do discípulo deve provir da “pureza do coração” (ver 5,8).

Posto que é um homem novo purificado em Jesus, seu modo de tratar os demais, e aqui  a mulher, deve ser reflexo da nova visão do Reino: a valorização, o respeito, o serviço. Já não pode vê-la como “objeto” que se pode cobiçar para satisfazer os próprios desejos senão como pessoa à qual amar, antes de tudo, com desinteresse. Isto vale para a esposa e para todas as mulheres que cruzem seu caminho.

No momento da crise o discípulo de Jesus, inspirado pela bem-aventurança, coloca diante de si o valor da fidelidade: seu coração está plenamente na mulher amada e por ela renuncia a qualquer outra possibilidade. Por um valor se fazem sacrifícios, como em caso do tesouro ou da pérola (ver 13,44-46).

Por isso o discípulo, prontamente, despreza o que pode converter-se depois em motivo de tormento pessoal e na vida conjugal. 

Esta é a ideia contida nas palavras escritas: Se, pois, teu olho direito te é ocasião de pecado, arranca-o e lança-o longe de ti… (5,29ª; igualmente a mão direita,5,30ª). É como se quisesse dizer: “Corta a tempo; é melhor sacrificar um momento de prazer que arruinar a vida inteira”. De novo a rapidez, como no caso anterior, caracteriza o discípulo. O discípulo se antecipa aos problemas eliminando o que possa causar prejuízo a suas opções. Um novo sistema de valor guia sua existência.

2.  O divórcio (5,31-32)

Com a própria esposa é possível que se apresente algum dia uma dificuldade. O novo caso que descreve Jesus é extremo: quando já não é possível manter a relação. De novo a iniciativa é do homem e não da mulher: se deixa entrever uma decisão unilateral, motivada –talvez- pelo desejo de desfazer a primeira relação e estabelecer outra que se acomode mais a seus interesses pessoais. A literatura rabínica dos tempos dos evangelhos nos transmite casos deste tipo.

Tanto aqui, como no caso anterior, Jesus passa a defender a vida e o direito da mulher. Se a mulher era “repudiada” não podia tornar a casar-se e se o fazia caía em adultério (ver 5,32). Isto é o que Jesus adverte: o marido que toma uma decisão deste tipo –para o qual lhe ajudavam os advogados-rabinos a buscar qualquer causa- arruina a vida de sua mulher.

Embora Jesus admita em um caso específico a possibilidade do fracasso matrimonial (diz: “exceto o caso de fornicação”, 5,32), o que importa antes de tudo é que o discípulo está chamado a levar de uma maneira diferente a vida de seu lar.

Visto que o que está por trás do ensinamento de Jesus é a “saturação” com a esposa, de modo que se busca qualquer pretexto para pô-la na rua, um esposo que é um discípulo de Jesus, deve lutar pela “permanência”, isto é, exercer o autocontrole nas situações de irritação (“Bem-aventurados os mansos…”, 5,4), resolver na paz os conflitos (“Bem-aventurados os que trabalham pela paz…”, 5,9) e não deixar-se levar por um projeto pessoal que alimenta secretamente (“Bem-aventurados os puros de coração…”, 5,8). Não deve declarar fracasso no primeiro conflito que se apresenta na vida de casados, isso é imaturidade.

A imagem de discípulo que aparece nestes ensinamentos de Jesus é o de uma pessoa madura, que não se precipita, que examina serenamente as situações, que se move por valores sólidos, que respeita a vida dos demais, e com mais razão a daqueles a quem ama.  Uma pessoa assim está refletindo em sua vida a prática do Mestre.

Não o esqueçamos: assim como fez Jesus, só o amor sustenta as opções. Este amor é preciso alimentá-lo todos os dias. (Aqui se falou do “marido”, mas é preciso ler este texto –já por conta própria- desde o ponto de vista da “esposa”)

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Tenho vivido alguma das situações que expõe hoje o evangelho?

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  • Que consideração pede Jesus que se tenha com a mulher?

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E como seria vice-versa?

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  • Que deve fazer um discípulo para viver o valor da fidelidade, para eternizar o amor que promete?

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SÁBADO

Mateus 5,33-37

ESCOLA DE VALORES (III): UMA VERACIDADE QUE GERA CONFIANZA E CREDIBILIDADE

 “Seja vosso falar ‘Sim, sim’; ‘Não, não’

Retomando o evangelho de ontem, não é fácil manter a palavra dada, particularmente a palavra que faz “promessas” dentro de uma relação: seja com Deus, seja na vida conjugal, seja no âmbito comunitário ou social. Por isso a seguinte escola de valores está relacionada com o delicado âmbito da comunicação verbal: a futilidade das palavras.

Ambientemo-nos um pouco.

Uma boa relação depende de uma boa comunicação, sobretudo nos níveis profundos. Dentro dela o engano seria um mau fundamento. Requer “veracidade”. Da veracidade depende a confiabilidade de uma pessoa e na confiança o amor se expressa todo.

Daí que a transparência de uma pessoa pode ser comparada a base de um castelo equilibrado sobre cartas de baralho, se esta chegar a faltar em qualquer momento tudo vem abaixo. O que foi dito anteriormente vale para todos os espaços de relação que nos movemos, particularmente aqueles nos quais temos adquirido compromissos. Vejamos agora como Jesus faz desta realidade um lugar específico para viver os valores do Reino.

1.  O problema: quando já não  acreditam em nós

No mundo hebraico, para que uma pessoa fosse “confiável” tinha que jurar estar dizendo a verdade. Por isso, pouco a pouco se foi generalizando o hábito de jurar praticamente por tudo. O mandamento do decálogo, o que proibia não era o juramento e sim “Tomar em vão o nome de Javé” (Ex 20,7), quer dizer, colocar a Deus como testemunha de uma mentira. O importante era colocar a Deus, o máximo que pode haver, como garantia da verdade.

Como descreve evangelho, para evitar pronunciar o nome do “inominável” se chegou a figuras jurídicas tais como jurar pelo céu, pela terra, por Jerusalém (Mt 5,34-35). O complexo mundo da normativa rabínica gastava tempo com essas coisas em regulamentá-las.

2.  O valor: dizer sempre a verdade

Considerando que um discípulo de Jesus é um homem novo, eis aqui um sinal que o diferencia. Diz Jesus: “Não jureis de modo algum” (5,34ª).  Não o faz simplesmente porque não tem necessidade. A palavra de um discípulo é sempre verdadeira, se mantém só, e isto por ser discípulo do Reino.

Isto quer dizer que o discípulo, porque é “puro de coração” (5,8), não tem duplas intenções, não tem nada que esconder e por isso não necessita mentir para proteger interesses ocultos. Portanto não tem necessidade de apoiar o que diz com juramentos de nenhum tipo: sua palavra sempre diz a verdade.

3.  Aplicação

A transparência é em primeiro lugar diante de Deus. O fato de que o homem não esteja em  condições –por conta própria- de mudar nem um só fio de cabelo (e é claro que não se está pensando no costume de tingir-se o cabelo), indica que sua vida inteira permanece ante Deus tal como é, sem maquilagens. Por isso não há necessidade de jurar nada a um Deus que nos conhece a fundo (ver 5,36).

Mas também tem a ver com tudo o que se diz aos demais. Quando Jesus diz: “seja vosso falar: ‘Sim, sim’, ‘Não, não’” (5,37), indica que quando uma pessoa diz que “sim” assim é e não se necessitam mais verificações; igualmente quando diz que “não”.

Assim, quando um discípulo de Jesus faz uma promessa, se pode esperar que ela será cumprida totalmente e, em principio, não haveria motivos para desconfiar. Uma característica importante do discípulo que vive este ensinamento é que ele se caracteriza pela “credibilidade”. Esta é a base da vida comunitária e social: ser pessoas “confiáveis”. Se não, não funciona.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

Santo [Padre] Pio de Pietrelcina (1887-1968), capuchinho

“Que o vosso sim seja sim” (Tg 5,12).

Não sabes o que a obediência é capaz de produzir: por um ‘sim’, só por um ‘sim’

-“Faça-se em mim segundo a tua palavra!” – Maria torna-se a mãe do Altíssimo.

Ao fazê-lo, ela declarava-se serva, mas mantinha intacta a sua virgindade que era tão querida a Deus e aos seus próprios olhos.

Por este ‘sim’ da Maria, o mundo obtém a salvação, a humanidade é resgatada.

Então, tentemos nós também fazer a vontade de Deus e sempre dizer ‘sim’ ao Senhor…

Que Maria faça florir na tua alma virtudes sempre novas e que ela vele por ti.

Ela é o mar que é preciso atravessar para chegar às margens esplendorosas da aurora eterna; fica, pois, sempre junto dela…

Apóia-te na cruz de Cristo, a exemplo de Maria.

Lá encontrarás grande conforto.

Maria ficou, de pé, junto de seu filho crucificado.

Nunca Jesus a amou tanto como naquele momento de indizível sofrimento.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Dizer a verdade é um valor para mim?

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Que realidade há por trás da mentira?

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  • A fala de um discípulo é diferente: flui de um coração puro. Que caminho há que fazer para ser assim? Que consequências tem?

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  • Considero-me uma pessoa “confiável”?

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Minha palavra é suficiente ou é preciso juramentos, testemunhas, etc., para que confiem em nós?

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Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

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