A cura pelo toque (EFC)

Marcos 5,21-43

EM JESUS HÁ SALVAÇÃO E VIDA: UM CAMINHO DO TEMOR À FÉ

 “Não temais somente tem fé”

Depois de ter vivido o tempo do Natal, começamos o chamado “Tempo Comum”. Neste tempo seguimos, passo a passo, Jesus na sua cotidianidade, contemplando seu rosto, deixando que todos os aspectos de sua missão iniciada com seu batismo tenham impacto salvífico em nossa existência, impulsionando em nós um crescimento contínuo, dando valor e sentido a tudo que fazemos.

O Evangelho que nos acompanha desde o início é o de Marcos. A Igreja nos convida a ler seguindo seu itinerário próprio. Nas três semanas anteriores lemos os primeiros quatro capítulos deste Evangelho. Ontem iniciamos o capítulo 5, com o relato do exorcismo do endemoninhado de Gerasa, o qual terminou pondo de relevo como no milagre se manifestava a misericórdia de Deus: “Anuncia-lhes o que o Senhor fez contigo e que há tido compaixão de ti” (5,20).

Depois da história deste homem que passou de uma vida totalmente arruinada a uma nova e se torna testemunha de Jesus, nos encontramos hoje com dois relatos que, partindo da solicitude inicial de um pai de família atribulado por sua filha moribunda (5,21-24), põe de relevo como Jesus dá vida a duas mulheres (5,25-34 5;35-43). Os dois relatos se entrelaçam e deixam ver também um caminho de fé.

Notemos como ao longo do relato aparece um aglomerado de gente em torno a Jesus, como aos poucos vai alternando-se com pequenos grupos e ao fim de tudo fica sempre cara a cara com uma só pessoa:

  • As multidões (5,21.24.31);
  • Pequenos grupos: discípulos (5,31); alguns da casa do chefe sinagoga (5,35); Pedro, Tiago e João (5,37); as mulheres que choram o morto e zombam de Jesus (5,38.40a); os pais da menina (5,40);
  • Pessoas: Jairo que abre passagem em meio à multidão para pedir salvação e vida para sua filha (5,22); a mulher hemorroísa que se aproxima por trás entre a multidão e toca o manto de Jesus (5,27); a menina que Jesus toma pela mão e ressuscita (5,41).

Também vale notar que há um trajeto, um caminhar contínuo de Jesus, entre a beira do mar (5,21) e o leito de morte da menina (5,41). Ao longo do caminho vão se inserindo diálogos e os diversos momentos significativos. Detenhamo-nos brevemente no encontro de Jesus com as duas mulheres.

  1. Jesus e a hemorroísa

Uma mulher que não tem ninguém, (o contrário de 5,23) abre caminho na multidão e chega até Jesus. Seu sofrimento é extremo (ver 5,25-26): leva doze anos com uma hemorragia; recebera muito em mãos dos médicos que em vão tentaram curá-la; já gastara todo o dinheiro que tinha; não há resultados, senão agravamento de sua situação.

Esta mulher toca o manto de Jesus baseada em uma convicção: “Se conseguir tocar ainda que seja suas vestes, me salvarei” (5,28). Ela confia plenamente em Jesus. Ela então fica curada, sem mais traumatismos e de forma gratuita. Jesus, por sua parte, apesar da quantidade de toques que recebe da multidão, percebe que há um diferente, um que logra desprender de seu interior uma grande força. Quando Jesus perguntou quem o tocou, seus discípulos lhe respondem com uma ironia.

A mulher “atemorizada e trêmula se prostrou ante ele e lhe contou toda a verdade” (5,33; ver 5,22: o mesmo gesto de Jairo). Jesus então fala com ternura, lhe diz: “Filha”. A mulher que interrompe a viagem urgente de Jesus para salvar a vida de uma menina converte-se aqui na “Filha”. Enquanto ela se prostra atemorizada, Jesus a envia, declarando-a curada e felicitando-a por sua fé (5,34).

  • Jesus e a filha de Jairo:

Os portadores da notícia da morte vêm desanimar a fé de Jairo, que havia crido que Jesus evitaria a morte da filha (5,35a). Quando a tristeza invade o pai e considera que a viagem foi inútil (5,35b), Jesus então lhe pede um novo gesto de fé mais difícil que o primeiro: “Não temas, crê somente” (5,36).

Se Jesus “perdeu” tempo no caminho com a mulher hemorroísa, não o faz com aqueles que o distraem agora com o lamento das mulheres contratadas para chorar. Procede então em segredo e cria o ambiente, fica só com os pais da menina: não há exibicionismo. Um gesto e uma ordem de Jesus devolvem a vida à menina.

Tão profundo é este momento, que a tradição conservou as palavras de Jesus em aramaico: “Talitá kume” (5,41). Ao fim é a menina que empreende um caminho (5,42). Veja que tinha 12 anos, justo no momento, segundo a cultura hebreia, que uma menina se faz mulher.

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