ADVENTO 2ª SEMANA (Estudos Bíblicos)

ESTUDO BÍBLICO NA SEGUNDA SEMANA DO ADVENTO ANO B 2023

Comunidade Paz e Bem

SEGUNDA-FEIRA

Isaías 35,1-10 – Lucas 5,17-26

PROFECIA DO ADVENTO:

“Alegrar-se-á o deserto”

A profecia que escutamos hoje também poderia ser chamada “o Hino à Alegria”, entoado por Isaías.

É um hino para cantar como em uma marcha que atravessa os lugares de tristeza e de desolação, uma marcha que vai transformando tudo ao passar, uma marcha, na qual participam os homens redimidos pelo Senhor e que cantam emocionados por seu regresso para casa. “Abre-se passagem à perpetua alegria, o gozo transbordante os inunda, e ficam para trás o pesar e a tristeza” (35,10).

Nos lugares onde, habitualmente, reina a melancolia, realiza-se uma profunda transformação: “Alegrar-se-á o deserto, terra estéril, a estepe se encherá de flores e de júbilo. Florescerá, como florescem os narcisos, transbordarão de gozo e de alegria”. (35,1-2a).

Símbolo dessa alegria é o jardim cheio de flores, inundado de colorido e sabor dos aromas. A fertilidade das terras libanesas, a postura feminina do monte Carmelo e a prodigalidade das árvores frutíferas do Saron, se transportam para as terras antigamente assoladas pela seca e a aridez. Desta forma, nosso hino de alegria canta, em primeiro lugar, a beleza de Deus, de sua gloria é reflexo toda esta vegetação. “Pois ali se fará ver a glória do Senhor, a beleza de nosso Deus” (35,2b). A alegria brota da contemplação da beleza de Deus.

E o hino continua, redescobrindo uma beleza que não é menor; toda esta paisagem que está ante os olhos visionários do profeta é imagem da profunda transformação que acontece com quem faz a experiência de Deus.

Assim como a beleza dos antigos jardins se muda para o deserto, assim também a beleza de Deus se entranha sobre as deficiências e limitações humanas. A vinda de Deus ao homem lhe arranca sua debilidade e lhe faz expressar uma nova força que o tira de suas prostrações, de suas mutilações, de suas depressões: “Fortaleçam ao que vai com os braços caídos, robusteçam ao que tem encolhidas as pernas” (31,3).

Quando alguém tem problemas às vezes tende a acovardar-se, a diminuir-se ou retrair-se. Pois bem, o profeta fala diretamente ao homem e lhe dá alento anunciando-lhe a vinda em pessoa do Deus salvador: “Digam aos covardes: Coragem! Não tenham medo!: já chega seu Deus” (35,4).

Então o mundo fica cheio de um novo jardim vital, de uma nova beleza: a que irradiam os homens salvos pelo Senhor. A partir deles, uma corrente de alegria começa a atravessar e a vivificar o mundo: os mudos não só falam, mas cantam as canções, os surdos, não só ouvem, mas, agora, têm “ouvido de músico” e se divertem com elas e os paralíticos, não só caminham, mas bailam as canções (35,5-7a).

Esta festa da humanidade nova, que floresce no encontro com o Senhor, segue estendendo-se por todos os desertos do mundo, fazendo de tudo o que está seco um manancial de vida (35,6b-7). Finalmente, o hino da alegria, se canta em uníssono, como em um só coro de peregrinos que regressam a casa, deixando para trás suas antigas penas. A procissão se organiza de modo que a rota é como uma grande rodovia que o profeta chama “Via Sacra”, e quem abre o caminho é o proprio Deus (35,8-10).

Esta profecia se realiza na pessoa de Jesus (Lucas 5,17-26)

E Deus vem, em pessoa, na pessoa de JESUS, para salvar seu povo (Lc 5,17-26). Ele restaura a beleza perdida do homem, seja por suas deficiências físicas, seja por seu pecado. O paralítico do evangelho de hoje, se converte em outro cantante do hino da alegria. E não canta só, o acompanha o coro dos que glorificam a Deus. (vv.25.26). Se o hino de Isaías ressoava, poderosamente, muito acima ressoará o coro dos que com os seguidores de Jesus cantam: “Hoje temos visto coisas incríveis” (v.26).

Jesus torna Deus visível

Assim, a expressão comovida e comovedora da multidão, no evangelho de hoje, faz eco maravilhoso do anunciado pelo profeta. A saúde do paralítico gera este grito de admiração. O paralitico curado é “gloria” de Deus, e a palavra e o coração de Cristo são a fonte reveladora dessa gloria. O profeta dizia: Deus em pessoa vem salvar-nos, e isso experimenta o paralítico. Cristo, pois, é o Deus que vem e, assim, de fato, o chama o Apocalipse. Enquanto a besta que ali se descreve é a que “era e já não é” (Ap 17,8.11), Cristo é “o que era, que é e que há de vir” (Ap 1,4.8:4,8).

Cristo é “o que era, que é e que há de vir”. Não se deve ler essa expressão como uma fórmula abstrata ou com rodeios poéticos. É uma descrição, não tanto do “ser”, mas do “fazer” revelador de Cristo. Não é uma alusão, simplesmente, à sua eternidade, mas um louvor de seu atuar que nos revela a gloria de Deus, como aconteceu com o paralítico.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Que pessoas conheço que estão tristes ou deprimidas às quais lhes poderia levar estas palavras de alento da profecia de hoje?
  2. Como está a força de meu canto, que me inspira, que transforma no caminho? Sou um contemplativo da beleza de Deus no mundo?
  3. Sou consciente da importância da “presença” e “ausência” de Deus no mundo? Qual é o sinal que traduz essa realidade histórica e escatológica ao mesmo tempo?

TERÇA-FEIRA

Lucas 1,39-47 (Nossa Senhora de Guadalupe)

Maria é sinal do rosto maternal e misericordioso de Deus

“Olhem, a virgem está grávida e dará a luz um filho e lhe porá por nome Emanuel, que significa Deus-conosco”

Uma manhã cedo do ano de 1531, na colina do Tepeyac (México), Maria apareceu a Juan Diego, hoje primeiro santo indígena na historia da Igreja.

A ele se manifestou como a Mãe de Deus e a Mãe dos homens necessitados. Logo, ao mesmo tempo em que se derramavam rosas, sua formosa figura ficou impregnada no manto que hoje veneramos como Nossa Senhora de Guadalupe. 

Recordemos o diálogo da Virgem Maria com Juan Diego na primeira aparição:

“―Juanito, o menor de meus filhos, a onde vais?

―Senhora e criança minha, tenho que chegar a tua casa, a seguir as coisas divinas que nos dão e ensinam nossos sacerdotes, delegados de Nosso Senhor.

―Sabe e tem entendido, tu e menor de meus filhos, que eu a Sempre Virgem Santa Maria, Mãe do verdadeiro Deus por quem se vive; do Criador em cujas mãos tudo estás, Senhor do Céu e da terra. Desejo vivamente que se levante aqui um templo para mostrar e dar nele todo meu amor, compaixão, auxilio e defesa, pois eu sou vossa piedosa Mãe, a ti, a todos vós juntos, os moradores desta terra e aos demais que me amam, me invocam e confiam em mim. Ali ouvirei seus lamentos e remediarei todas suas misérias, penas e dores. Tu és meu embaixador, muito digno de confiança”.

Assim, Maria se constituiu em sinal que nos fala, continuamente, da obra de Deus nos povos e culturas que habitam o continente americano. Deixando-nos guiar pela Palavra de Deus – particularmente a profecia de Isaías – permitamos que se abra ante nós o mistério.

No evangelho que proclamamos hoje, a maternidade de Maria é felicitada por Isabel: “Bendita tu entre as mulheres e bendito o fruto de teu seio”(Lc 1,42).O ventre de Maria é reconhecido, por estas palavras inspiradas, como a arca da aliança perfeita na qual o Senhor se faz presente de modo plena e definitivo.

3. Hoje Maria segue sendo o “grande sinal” da fidelidade e ternura de Deus em nosso continente e no mundo

Ao celebrar neste dia, a Maria, como a Mãe e evangelizadora da América, temos presente que neste meio milênio de historia cristã de nosso continente, o Evangelho foi pregado apresentando-a como o modelo perfeito do qual a Palavra nos convida a viver. 

Como disse o Papa João Paulo II: “Desde as origens ―em sua invocação de Guadalupe― Maria constituiu o grande sinal, do rosto maternal e misericordioso, da proximidade do Pai e de Cristo, com quem ela nos convida a entrar em comunhão” (Igreja en América, 11).

Ao contemplá-la, a Santa Maria da esperança, ressoarão, em nós, palavras de confiança, que nos convidam a não perder o ritmo da espera: “Não temas, nem desmaye teu coração”.

Que o rosto mestiço da Virgem Maria, a Virgem do Tepeyac, Santa Maria de Guadalupe, Mãe das Américas, que dá rosto ao evangelho com a cor de tantas raças, nos inspire todos os dias na impregnação e o arraigo do evangelho, para que renasça entre nós a cultura da paz e da vida.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Como anda minha fé e esperança, especialmente quando se apresentam as dificuldades da vida?

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  • Qual o sinal de Deus para os cristãos deste continente?

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Que ensina este sinal?

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  • Que relação tem com a cultura da vida que esperamos neste longo advento de nosso continente?

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Que evoca em mim o rosto terno, amoroso e preocupado por mim, da Mãe de meu Senhor?

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Uma oração para este dia:

Mãe de misericórdia, Mãe do sacrifício escondido e silencioso, a Ti, que sais ao encontro de nós, os pecadores,te consagramos neste dia todo nosso ser e todo nosso amor.Consagramos-te também nossa vida, nossos trabalhos,nossas alegrias, nossas enfermidades e nossas dores.Dai paz, justiça e a prosperidade a nossos povos;já que tudo o que temos e somos, o pomos sob teu cuidado, Senhora e nossa Mãe. Queremos ser, totalmente, teus e percorrer contigoo caminho de uma plena fidelidade a Jesus Cristo em sua Igreja:não nos soltes de tua mão amorosa” (João Paulo II)

QUARTA-FEIRA

Isaías 40,25-31 – Mateus 11,28-30

É A HORA DA FORTALEZA

“Deus, desde sempre, é Yahveh, criador dos confins da terra, que não se cansa

nem se fadiga e cuja inteligência é inescrutável”

Queremos viver intensamente, porém, no caminho começam a aparecer situações que nublam nossos horizontes. Então andamos com os braços caídos, sem entusiasmo para as iniciativas, com sentimentos negativos com relação ao futuro nosso e da sociedade.

Um dos inimigos da esperança é o cansaço:

  • cansar-se de esperar promessas que não se cumprem,
  • cansar-se de lutar na vida sem ver resultados,
  • cansar-se de Deus e de suas exigências,
  • cansar-se dos irmãos na fé e de carregar-se com seus cansaços,
  • cansar-se, inclusive de si mesmo. 

É, precisamente, frente a esta realidade que as crises humanas, ou espirituais, tocam fundo em nós. Diante de tanto cansaço e desilusão, o Advento renova nossa esperança. Hoje Isaias nos confronta e diz: os que confiam no Senhor renovam as suas forças e voam como águias, correm incansáveis e avançam sem fatigar-se (40,31).

Como é que se pode chegar a esta conclusão? O profeta Isaias nos propõe para isso um caminho espiritual que tem passos bem definidos.

1. Deus é poderoso

Partindo de uma pergunta, inicialmente, implícita “Que se passa com Deus, que não se faz sentir?”, o profeta inicia com uma vigorosa apresentação do Deus que não tem rival nem comparação. Para isso coloca o homem frente ao espetáculo de uma noite estrelada e o pergunta, como se estivesse na escola: “Quem criou tudo aquilo?” (40,26). 

O povo se dá um pouco de tempo para ver e entender. Então nota como o universo tem animação, uma animação que ajuda a entender a obra de Deus na terra. Trata-se de um movimento parecido ao que Deus realizava com o seu povo quando o tirava do Egito, como se fosse um exército ou ao que um pastor realiza quando chama as ovelhas por seu nome. A conclusão é que tudo isto sucede “graças a seu esforço e ao vigor de sua energia”.

2. Minha vida está sob o olhar de Deus

Com uma grande ênfase o profeta nos recorda, então, que Deus conhece bem cada homem e não se esquece de nenhum, que Deus não abandonou sua responsabilidade sobre a terra.

Quando o homem compreende o amor de Deus em sua vida, então, já não poderá mais seguir queixando-se que Deus se esqueceu dele, dizendo: “O Senhor não se dá conta do que se passa comigo”; literalmente: “Oculto está meu caminho a Yahveh e a Deus não interessa meu direito” (v.27).

Não se pode duvidar que Deus seja capaz de intervir na história humana para salvá-la: É tanta sua força e tal seu poder!― como diz o v.26. Portanto, não se pode nunca concluir que Deus tenha se cansado de alguém. Como se houvesse se fatigado de tanto insistir para salvar. 

Mas há motivos para pensar o contrário. Vejamos esta preciosa percepção do ser de Deus que aparece no coração de nossa profecia (v.28):

  • Ele é Deus eterno, ele tem, em suas mãos, o tempo e tem seus tempo;
  • Ele não se fadiga nem se cansa”, é um operário incansável;
  • Ele é inteligente”, (na máxima potencia), quer dizer, sabe o que está fazendo, se, se

                               demora, não há que preocupar-se, mas confiar nele.

3. O poder e o amor de Deus renovam, continuamente, minhas forças

E, ao final, aparece o mais belo, Deus partilha sua fortaleza com o homem: Ao cansado dá vigor e, ao que não tem forças, a energia o acrescenta(v.29).

Deus restabelece as forças do que está cansado e cura sua fragilidade. E ainda há mais: Deus dá forças ao homem para que não se canse. Supõe-se que os jovens se fadigam menos, visto que estão na etapa da plenitude da fortaleza física (40,30). Sem dúvida, isto não é nada, em comparação com a força interior que Deus dá a quem se abandona nele: aos que esperam em Yahveh, Ele lhe renovará o vigor (v.31).

Quem apóia sua vida em Deus nota, como emerge de dentro dele, uma continua e vigorosa juventude. Isto explica, a profecia, com o símbolo da águia. Na Bíblia, a águia é símbolo de potencia e longevidade; assim como aparece, por exemplo, em Dt 32,11 e em Sl 103,5b. A tradição hebréia põe muita atenção na águia real de Palestina, a qual, quando chega seu tempo, renova a formosura de sua plumagem. Por isso, é imagem da renovação da vida e da longa vida, como uma nova juventude. A águia, quanto mais velha, mais bela.

Com o passar dos anos nossa existência biológica vai desmoronando, porém, ao mesmo tempo, gana, em Deus, um valor extraordinário.  Desta maneira, conscientes de nossos limites, porem, também da proximidade de Deus, quando olhamos para o futuro, vemos que brilha uma luminosa esperança.

Esta profecia se realiza em Jesus (Mateus 11,28-30)

Isaias disse que isto vive os que confiam no Senhor (v.31). No evangelho que hoje a Igreja serve na liturgia da Palavra, escutamos Jesus, que nos diz Venham a mim, para que apoiemos tudo na humildade e a mansidão de seu coração.  Nele se realiza a profecia.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Que me inquieta interiormente? Que fadigas não me deixam avançar?  Onde tenho encontrado novas forças para retomar o caminho? Onde estão meus apoios?
  2. Tenho me sentido abandonado por Deus? Que imagem tenho dele? Que características tem Deus nesta profecia?
  3. Que me diz a frase: “Tudo acontece segundo o projeto de Deus, por isso, é preciso confiar nele? Que espero da vinda do Senhor?

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QUINTA-FEIRA

Isaías 41,13-20 – Mateus 11,11-15

É A HORA DA CONFIANÇA

“Não temas, verme de Jacó, gente de Israel: eu te ajudo, teu redentor é o Santo de Israel”

Muitas vezes na vida, sentimos uma grande impotência, sentimo-nos pequeninos como um “verme” frente aos demais, com a sensação de que não vamos poder sair fora, porque os problemas e desafios nos superam.

Ante esta realidade nos coloca, hoje, Isaias. Ele nos mostra, a cada um e à comunidade, como daremos passos de superação, se nos deixamos agarrar e levantar pela mão criadora de Deus.

Ao ler a profecia messiânica de hoje, notemos que Deus nos fala, direta e insistentemente, na primeira pessoa, como si estivesse tratando de inculcar-nos a certeza de sua proximidade, de sua ternura, através das formas concretas como Ele se ocupa de nós: Eu… te agarrei… te ajudo… te converto em trilho novo… os responderei… não os desampararei… abrirei… converterei… porei”.Desde o inicio até o final, o Senhor se apresenta como o autor da salvação: Eu, Yahveh, teu Deus”.

A profecia tem duas partes: (a) vv.13-16: vê-se como Deus vai tirando alguém de seus medos, e a conduz do “temor” à “alegria”; (b) vv.17-20: vê-se, de novo, Deus em ação, tornando desertos em bosques paradisíacos; neste teatro da ação criadora de Deus no pobre e no sedento, compreendem como a salvação lhe é oferecida.

Em ambas, se parte da tomada de consciência de uma necessidade profunda e se termina com o reconhecimento da salvação de Deus. Na leitura do texto deixemo-nos guiar pela força das imagens:

1. Superar os medos: “Não temas, eu te ajudo

  1. a imagem da “mão”

A primeira vez que Deus diz Não temas, eu te ajudo”, aparece, também, a imagem de uma mão que agarra: tomei-te pela mão direita”. Tocar uma mão quente e poderosa transmite a ternura que infunde confiança. Deste modo se aproxima Deus, do homem atribulado, enquanto disse ao seu ouvido: não tenhas medo”. A expressão é maravilhosa, porque, o que estende a mão é o próprio Deus, dai que, Ele mesmo, se apresente: sou eu quem te digo (13c).

Mas, o contraste entre os dois é grande: por um lado está a fragilidade do homem, representada no vermezinho e na lagartinha e, por outra, está o poder de Deus o redentor”, “o Santo”. Os nomes “Jacó” e “Israel” indicam o povo de Deus inteiro, mas, este aparece, aqui, em sua qualidade de povo que não é nada sem seu Deus. Que grande ternura manifesta, Deus, nesta passagem bíblica!

  • a vitoria sobre as “montanhas”

Uma vez que foi tomado pela mão, o povo é, pouco a pouco, levantado por Deus, e o vermezinho que andava atribulado supera a grandeza das montanhas. O vermezinho, que vivia arrastado, agora é suporte, que arrasta, com seu juízo, as montanhas, como se fossem palha de trigo (ver v.15), para logo separar o trigo da palha (ver v.16).

Os montes e os colinas representam tudo aquilo que é adverso dentro da historia humana, são imagem do orgulho humano, que se levanta contra Deus e dos obstáculos que são postos ao povo em seu caminhar libertador e triunfante, no deserto, sobre as forças obscuras que o oprimiam (ver Is 40,4). Dessa maneira os obstáculos são superados.

  • Brota a alegria e o louvor

A seguir vem a celebração. O povo canta e aclama a Deus porque tudo foi obra de sua proximidade. O Deus tremendo e exigente (“Santo”) é, agora, o motivo de uma alegria extraordinária. O poderio e a ternura de Deus encontram sua síntese no louvor do povo em festa.

  • Saciar a sede:

Humildes e pobres buscam água… os responderei… não os desampararei

Vendo ao povo humilde que caminha no deserto árido e ressequido, cheio de medos e, vencendo os obstáculos, na experiência da tremenda presença de Deus, a profecia diz, agora, os humildes e os pobres” (v.17).

A dificuldade, agora, está relacionada com a morte que o ameaça com a falta de água no deserto (v.17b). O “vermezinho” que se sentia ameaçado pelas montanhas aparece, agora, como o pobre que luta pela sobrevivência. A situação é dramática: A língua se lhe secou de sede(v.17c). Deus responde, agora, com sua palavra criadora (v.17d).

Ante a vista do humilde que suplica, o mercenário se transforma. As mudanças que se realizam são incríveis. Mediante a obra do Senhor (“abrirei”, “converterei”, “porei”), a aridez do monte ameaçador e do inóspito deserto, se transforma em espaço de vida.

O cenário nos recorda o paraíso banhado por quatro fontes (v.18). Vemos ali uma lista de sete árvores seletas que oferece o melhor de si mesmas para a vida (v.19). A exuberância da vegetação, unida à abundancia de água que mana pelos montes e vales, tudo em grande quantidade e qualidade, remetem aos ideais da plenitude humana, os quais, não são possíveis, se não é pela “mão” criadora de Deus.

Então, o homem responde com sua fé que reconhece e agradece a ação criadora de Deus (v.20). Vendo a obra se reconhece seu criador. 

Os quatro verbos descrevem o dinamismo desta fé:

  • o“ver” a obra de Deus;
  • o conhecer” que se deriva da constatação dos fatos;
  • o refletir” que implica, finalmente;
  • o “aprender” que a salvação de Deus é a maior criação dele. Esta profunda tomada de consciência permite descobrir, valorizar e acolher o “novo” de Deus em todos os momentos da vida.

Esta profecia se realiza em Jesus (Mateus 11,11-15)

Isaías disse “Não temas, verme de Jacó, gente de Israel: eu te ajudo, teu redentor é o Santo de Israel” (v.31). No evangelho que hoje a Igreja serve na liturgia da Palavra, escutamos a Jesus que nos dize “o menor no reino dos céus é maior que ele”. Anuncia-se, aqui, o mistério do novo nascimento, o qual só se faz possível pela graça de Jesus Cristo, e que é impossível somente pelo arrependimento e a consciência da indigência humana. É nele que se realiza a profecia.

A grandeza do Batista

Chama a atenção que Jesus elogie a alguém. Não é algo frequente nos Evangelhos. E não é pouco o que disse: “ninguém maior…”.Mas, a tradução incluída nesta página diz: “não surgiu entre os homens ninguém maior que João o Batista”, mas está mais próximo ao texto original este outro: “entre os nascidos de mulher não se tem levantado ninguém maior que João Batista”.

De fato, a expressão “nascidos de mulher” equivale, materialmente falando, “aos homens, os seres humanos”, porém, tem, também, uma conotação que não devemos perder: “o que pode dar uma mulher a este mundo; o que a carne e o sangue podem dar a esta terra; o que pode lograr o ser humano desde suas próprias forças”.

E o sentido do texto seria: “o máximo que se pode esperar do ser humano, por suas próprias forças, é a imensa honestidade e a carga de verdade que brilha em João Batista”. Isso explica o que segue: “sem dúvida, o menor no Reino é maior que ele”. João é o grande “nascido de mulher, nascido da carne e do sangue”; ao contrário, o que nasce para o Reino, não nasce da carne e do sangue (cf. Jo 1,13).

O Reino de Deus sofre violência

De fato, a própria vida do Batista foi isso: um ato de ruptura, como violento protesto contra toda a mentira do povo e seus dirigentes. Se alguém olha a João e pretende entrar ao Reino de Deus baseando-se só nas palavras e o exemplo de João só pode tirar uma conclusão: “tenho que romper com tudo para ser fiel a Deus”. Esta forma de “violência” é a única possibilidade que fica aberta se olhamos a santidade sem medida deste asceta gigantesco, o Batista, que, sem duvida, teve discípulos.

Esta entrada “violenta” era a única que havia “até agora”. De fato, com a chegada de Cristo há uma nova lógica, uma nova possibilidade de ingresso e posse do Reino, através da fé, da graça, da efusão do Espírito Santo e das obras novas que dai nascem. Bendito seja Deus!

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

Há imagens fortes e belas na profecia de hoje que poderiam ajudar-nos no exercício de oração. Por exemplo, a mão que agarra outra mão, que transmite calor e infunde confiança no poder de Deus, nos situa desde já, ante a experiência que João canta na natividade: “os que contemplaram e tocaram nossas mãos acerca da Palavra de Vida” (1 Jo 1,1).

  1. Que imagens desta profecia são significativas para mim?
  2. Frente aos obstáculos da vida, como a experiência de Deus descrita pelo profeta Isaías pode me ajudar para dar passos de superação? De que tenho sede?
  3. Quais são minhas necessidades fundamentais? Como responde Deus a elas?
  4. Hoje a liturgia da Igreja quer também convidar-nos a contemplar a figura de João Batista, precursor do Messias. Que frase desta profecia está relacionada com sua missão.

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SEXTA-FEIRA

Isaías 48,17-19 – Mateus 11,16-19

PROFECÍA DO ADVENTO

 “Eu sou o Senhor teu Deus, eu te ensino o que há de ser-te útil”

Por que será que nos custa tanto manter as relações?

Por que os grupos sociais e, algumas vezes, também, os eclesiais, se dividem com tanta facilidade?

Por que é tão complicado fazer comunidade?

A profecia de hoje indaga sobre estas perguntas e, para isso, se vai à fonte da vida comunitária na Bíblia: o caminhar pelo deserto. O deserto foi a grande escola de Israel. As etapas do longo caminhar foram as lições. O Mestre foi o próprio Deus.

Como bem sintetiza o livro do Deuteronômio, foi uma educação profunda: “Recorda-te de todo o caminho que Yahweh, teu Deus, te fez andar, durante estes quarenta anos, no deserto, para humilhar-te, provar-te e conhecer o que havia em teu coração: se irias, ou não, guardar os seus mandamentos… Dar-te conta, pois, de que Yahweh, teu Deus, te corrigia (=educava) como um pai corrige a seu filho” (8,2.5).

A capacidade, ou não, de viver na terra, para realizar, ali, o projeto de povo que Deus lhes propunha, dependia desta aprendizagem. Quer dizer, que não se pode fazer comunidade, não se pode ter uma autêntica sociedade, se não se faz o caminho educativo. Se não, cedo ou tarde, a mesquinhez, que habita o coração, sairá, e o sonho de um mundo justo e fraterno virá abaixo, de um momento a outro.

O profeta nos apresenta o rosto do Deus pedagogo e o faz falar assim: “Eu te ensino o que há de ser-te útil, te guio pelo caminho que tens que seguir” (48,17). Nesta frase, o caminhar pelo deserto, com todos os seus acontecimentos implicados, é a matéria do ensinamento.

Nós, os leitores desta profecia de hoje, compreendemos que nossa vida inteira é este caminhar pelo deserto e que, do dia a dia, temos que tirar suas lições. A Torá (Lei do Senhor), antes que um acúmulo de prescrições é este caminho histórico guiado pelo Senhor e sustentado pela fé, constante, nele.

Igualmente, este caminho da vida, não pode ser compreendido, senão à luz das Palavras que o Senhor nos prescreve em sua Lei. Quando a vida se une a Deus e se deixa guiar por Ele, as bênçãos se vêm vir.

A profecia assinala três: (1) a paz e a justiça; (2) a descendência; (3) a permanência na presença do Senhor. Às vezes há quem pensa que viver segundo a Palavra não serve para nada, porém ai está uma primeira lista de bênçãos.

Como se estivéssemos orando o Salmo 81,14, “Ah, se meu povo me escutasse, se Israel caminhasse em meus caminhos”, a profecia faz um clamoroso chamado para que ponhamos nossos passos nos caminhos de Deus fazendo de suas opções as nossas. Vale destacar a maneira como o faz: dando, ao filho rebelde, a beleza e o gozo de um novo abraço.

O mesmo tom profético o notamos nas palavras de Jesus (Mateus 11,16-19)

Notemos as palavras de Jesus que compara o auditório rebelde com as crianças malcriados e egoístas que gritam, uns a outros, em suas rodas recreativas nos bairros. Um grupo diz ao outro que dancem, porém, estes não dançam, então pedem que chore, porém, tampouco, estes o fazem (Mt 11,16-19).

Este é o drama que vive Jesus, o Mestre, na educação de seu povo. É verdade que não é fácil aderir ao evangelho e que sempre haverá desculpas para adiar a conversão. Causalmente as pessoas mais difíceis para pregar-lhes, nos que habitualmente há mais resistências, somos nós, os que já estamos (ou deveríamos estar) no caminho.

Se bem que é certo que não podemos sedimentar nossa vida espiritual em nada diferente da Palavra (a Escritura lida desde a vida e a vida relida desde a Palavra), também é certo que a Palavra não é verdadeiramente lida se não a levamos à prática. Não é fácil a conversão, contudo, o Senhor, que sabe de pedagogia, segue chamando.

Um problema de sintonia

Deus se queixa de seu povo. Não há sintonia. Chamou a penitencia por meio de João, e a resposta foi de rejeição; chamou a amizade por meio de Cristo, e de novo a rejeição.

A dureza do homem desconcerta ao próprio homem, se reflete um pouco sobre ela. Comove-nos a palavra de Isaías. Eis aqui um Deus que quase tem que dar explicações a seu povo. “Instruo-te por teu bem”, diz o Senhor, por si alguém não havia entendido.

O problema de novo é de sintonia: o bem que Deus quer não é bem que o povo quer. Ou talvez estes bens coincidam, no fundo, mas a obediência às regras, caminho para o bem, não encontra espaço no coração endurecido do povo.

Não podemos ficar contemplando o espetáculo da desobediência passada. É preciso que hoje creiamos na palavra do profeta: o que Deus nos ordena, é por nosso bem.

A grande mentira do demônio é: “Deus não te ama, não se ocupa de ti”; a grande verdade revelada por Cristo é: “Deus te quer; és importante para Ele”. E desse amor e importância que tens ante Ele, te ordena seus mandamentos.

O amigo de seus inimigos

A crítica contra Jesus, dita por ele mesmo no evangelho de hoje, é no fundo um elogio em sua parte final: “ai têm a um amigo de pecadores”. Frase que nasceu do desprezo e da inveja, e que sem dúvida descreve bem o mistério e o ministério de Jesus: é o amigo dos pecadores, o amigo de seus inimigos.

A lei de Moisés proibia juntar-se com o enfermo de lepra por temor ao contágio. Com uma lógica semelhante querem que se proíba o contato com os pecadores, por medo de contagiar-se. Não descobriram que Jesus não ficará sujo, mas que os limpará. Jesus é o lugar do “bem forte”, o bem que não se suja em contato com o mal, mas que o vence e o limpa. Ele é a luz que vence às trevas.

Se Jesus fosse inimigo de seus inimigos, poderia talvez ganhá-los, mas ao preço de dar uma vitória à inimizade e um novo impulso ao ódio. O amigo dos inimigos é o que perde, a primeira vista, mas ganha a batalha, porque vence não a um humano fraco, mas a um pecado forte. É verdade que não é fácil aderir ao evangelho e que sempre haverá desculpas para adiar a conversão. Causalmente as pessoas mais difíceis para pregar-lhes, nos quais habitualmente há mais resistências, somos nós, os que já estamos (ou deveríamos estar) no caminho.

Se bem que é certo que não podemos alicerçar nossa vida espiritual em nada distinto da Palavra (a Escritura lida desde a vida e a vida relida desde a Palavra), também é certo que a Palavra não é verdadeiramente lida se não a levamos á prática. Não é fácil a conversão, contudo, o Senhor, que de pedagogia sabe, segue chamando.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Para que levou Deus povo ao deserto? Como sai o povo do deserto?
  2. Que acontece quando orientamos nossos projetos de vida segundo o caminho do Senhor?
  3. De que maneira tiro proveito, para meu crescimento no Senhor, de minhas vivências cotidianas?

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SÁBADO:  NOSSA SENHORA DE GUADALUPE

Lucas 1,39-47:

Maria é sinal do rosto maternal e misericordioso de Deus

“Olhem, a virgem está grávida e dará a luz um filho e lhe porá por nome Emanuel, que significa Deus-conosco”

Uma manhã cedo do ano de 1531, na colina do Tepeyac (México), Maria apareceu a Juan Diego, hoje primeiro santo indígena na historia da Igreja. A ele se manifestou como a Mãe de Deus e a Mãe dos homens necessitados. Logo, ao mesmo tempo em que se derramavam rosas, sua formosa figura ficou impregnada no manto que hoje veneramos como Nossa Senhora de Guadalupe. 

Recordemos o diálogo da Virgem Maria com Juan Diego na primeira aparição:

“―Juanito, o menor de meus filhos, a onde vais?

―Senhora e criança minha, tenho que chegar a tua casa, a seguir as coisas divinas que nos dão e ensinam nossos sacerdotes, delegados de Nosso Senhor.

―Sabe e tem entendido, tu e menor de meus filhos, que eu a Sempre Virgem Santa Maria, Mãe do verdadeiro Deus por quem se vive; do Criador em cujas mãos tudo estás, Senhor do Céu e da terra. Desejo vivamente que se levante aqui um templo para mostrar e dar nele todo meu amor, compaixão, auxilio e defesa, pois eu sou vossa piedosa Mãe, a ti, a todos vós juntos, os moradores desta terra e aos demais que me amam, me invocam e confiam em mim. Ali ouvirei seus lamentos e remediarei todas suas misérias, penas e dores. Tu és meu embaixador, muito digno de confiança”.

Assim, Maria se constituiu em sinal que nos fala, continuamente, da obra de Deus nos povos e culturas que habitam o continente americano. Deixando-nos guiar pela Palavra de Deus – particularmente a profecia de Isaías – permitamos que se abra ante nós o mistério.

No evangelho que proclamamos hoje, a maternidade de Maria é felicitada por Isabel: “Bendita tu entre as mulheres e bendito o fruto de teu seio”(Lc 1,42).O ventre de Maria é reconhecido, por estas palavras inspiradas, como a arca da aliança perfeita na qual o Senhor se faz presente de modo plena e definitivo.

3. Hoje Maria segue sendo o “grande sinal” da fidelidade e ternura de Deus em nosso continente e no mundo

Ao celebrar neste dia, a Maria, como a Mãe e evangelizadora da América, temos presente que neste meio milênio de historia cristã de nosso continente, o Evangelho foi pregado apresentando-a como o modelo perfeito do qual a Palavra nos convida a viver.  Como disse o Papa João Paulo II: “Desde as origens ―em sua invocação de Guadalupe― Maria constituiu o grande sinal, do rosto maternal e misericordioso, da proximidade do Pai e de Cristo, com quem ela nos convida a entrar em comunhão” (Igreja en América, 11).

Ao contemplá-la, a Santa Maria da esperança, ressoarão, em nós, palavras de confiança, que nos convidam a não perder o ritmo da espera: “Não temas, nem desmaye teu coração”. Que o rosto mestiço da Virgem Maria, a Virgem do Tepeyac, Santa Maria de Guadalupe, Mãe das Américas, que dá rosto ao evangelho com a cor de tantas raças, nos inspire todos os dias na impregnação e o arraigo do evangelho, para que renasça entre nós a cultura da paz e da vida.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

  • Como anda minha fé e esperança, especialmente quando se apresentam as dificuldades da vida?
  • Qual o sinal de Deus para os cristãos deste continente? Que ensina este sinal? Que relação tem com a cultura da vida que esperamos neste longo advento de nosso continente?
  • Que evoca em mim o rosto terno, amoroso e preocupado por mim, da Mãe de meu Senhor?

Eclo 48,1-4.9-11 – Mateus 17,10-13

O FOGOSO PROFETA.

“Um profeta como fogo, cujas palavras eram forno ardente”

A liturgia da Igreja nos convida hoje a descobrir o perfil do profeta Elias. À diferença dos dias anteriores, hoje não lemos uma profecia, mas contemplamos a personalidade do profeta.

À luz do profeta Elias, compreenderemos melhor o último dos profetas que prepara o caminho do Messias: João Batista. O profeta Elias não escreveu nenhum livro, porém as historias que a Escritura tem conservado acerca dele (1 Rs 17 a 22 e 2 Rs 1-2), nos interpelam fortemente.

O texto do livro do Eclesiástico que tomamos como referencia, tem quatro partes que descrevem a personalidade profética de Elias:

  • sua personalidade de “fogo” (48,1),
  • alguns detalhes de sua vida (48,2-4.9),
  • o efeito de sua profecia para o futuro de Israel (48,10),
  • sua projeção como figura de esperança relacionada com a chegada do Messias (48,11). 
  1. Uma síntese da personalidade do profeta:

Um profeta como fogo cujas palavras eram forno ardente” (48,1). Elias tinha uma personalidade forte, um temperamento ardente. Falava duro, suas palavras golpeavam com força, tinha a capacidade de fazer estremecer.

  • Alguns detalhes de sua vida.

O livro do Eclesiástico nos recorda estes três:

  • Aos pecadores os fez passar fome” e “Por ordem de Deus fechou o céu para que não chovesse”. O profeta fez sua estreia com o anuncio de uma seca, e o fez com a intenção de pressionar para que se fizesse justiça (1ª Re 17,1);
  • “Dizimou-os com a chama de seu zelo” e “três vezes fez cair fogo”. Na contenda com os 400 sacerdotes de Baal no Carmelo, Deus se manifestou de sua parte enviando fogo para consumir o holocausto (1ª Re 18,38), logo o profeta os executou (1ª Re 18,20-40). Mais tarde, em duas ocasiões, fez cair fogo sobre os enviados do rei que tentam capturá-lo (2ª Re 1,10.12);
  • “Um torbellino te arrebatou à altura, em um carro tirado por cavalos de fogo”. Esta é talvez a gloria na qual ninguém o pode superar. Não se sabe de sua morte, teve o privilegio de ser arrebatado por Deus nas alturas
  • O efeito de sua profecia para o futuro de Israel

Mencionam-se três efeitos de sua missão dentro da vida do povo. Segundo o texto do Eclesiástico, Deus o destinou “para” (48,10):

  • “Para que o apazigues o dia de sua ira”: intervem favoravelmente no Dia de Iahweh.
  • “Para reconciliar os pais com os filhos”:toca os corações para a conversão no núcleo familiar.
  • “Para restaurar as tribos de Israel”: contribui na recomposição da unidade perdida de Israel.

Este versículo merece algumas anotações:

Como pode notar-se, chamando ao culto do verdadeiro Deus, o profeta Elias promove um movimento de purificação da idolatria, porém também dos afetos. A palavra profética remove os alicerces das relações que se petrificam, especialmente na relação mais estreita de todas: o mundo da família.

A conversão é um restabelecimento de nossas relações, quando estas partem do principio do egoísmo, negam a comunhão e fazem dano tanto aos demais como a si mesmo.

A reconciliação dos pais com os filhos é um sinal claro de conversão porque nela, a mais estreita das relações, se nota mais as paixões e a possessividade, os ciúmes e o monopólio do outro; há, portanto, mais espaço para a agressividade. 

A conversão é, em outras palavras, um caminho de purificação do amor pelos caminhos da Palavra e com o fogo que vem do coração de Deus.

O que se busca é despertar o espírito de serviço, a disponibilidade gratuita frente ao outro. Não há maior alegria que ver os outros contentes, ver que as iniciativas funcionam bem, que o entorno de nossas relações está em ordenada e em uma clara dinâmica que permite a todos crescer juntos na direção do projeto criador de Deus.

  • Sua projeção como figura de esperança relacionada com a chegada do Messias 

O povo espera o regresso de Elias, sinal da chegada do Messias. Por isso Elias se converte em figura messiânica: “Feliz o que te veja antes de morrer e mais feliz tu que vives!” (48,11). O sonho de todo israelita é ver a chegada do Messias, contemplando primeiro a de Elias, o profeta sempre “vivo”.

Mateus 17,10-13 (Elias e João Batista)

O texto de Eclesiástico de hoje não se capta completamente sem a leitura do Evangelho, onde se estabelece uma conexão entre os dois profetas: Elias e João Batista.

Na cena da transfiguração Elias aparece em primeiro plano conversando com Jesus. Logo, descendo da montanha, Jesus e seus discípulos mantêm um diálogo sobre o regresso de Elias. O regresso do profeta “arrebatado para as alturas” é sinal da chegada do Messias.

No fundo está o texto de Eclesiástico que acabamos de ler e também a pregação profética de Malaquias sobre o final dos tempos: Eis que eu vos envio o profeta Elias antes que chegue o Dia de Iahweh, grande e terrível(3,23). 

Jesus confirma o regresso de Elias: “Há de vir restaurar tudo” (Mt 17,11). Porém em seguida faz uma precisão: “Elias já veio, porém não lhe reconheceram(v.12).Em seguida o evangelista Mateus comenta: “Os discípulos compreenderam que se referia a João Batista” (v.13).

A vinda de Jesus está estreitamente conectada com a missão de João Batista. O batista preparou o caminho a Jesus mediante um chamado à conversão que passa pela reconciliação da família, como leremos dentro de pouco: “Irá diante dele com o espírito e o poder de Elias, para fazer voltar o coração dos pais aos filhos, e aos rebeldes à prudência dos justos” (Lc 1,17).

E não só a relação familiar, mas também a de toda a sociedade, cujo pilar deve ser a prática da justiça (ver Lc 3,10-14).  Este é o advento do Messias preparado por João, a quem melhor compreendemos à luz do profeta Elias.

A Bíblia associa mais de uma vez a Elias com o fogo (1 Re 18,25; 2 Re 1,10.12; Sir 48,1). Sua palavra purifica, traz ardor de fé e provoca incêndios que propagam o zelo pela causa de Deus. Talvez tal é a essência de este profeta: o zelo, quer dizer, o amor que reclama seus direitos.

Este mesmo ardor brilha em João Batista.Como Elias, também João foi perseguido por quem tinham o poder. Sua palavra não pôde ser detida por ameaças, e ainda morto é eloquente em sua coerência, seu vigor, seu amor inquebrantável.

É possível que a nós um amor assim nos pareça exagerado. Preferimos talvez uma fé sem fanatismos, sem excessos, sem muito compromisso. O problema de uma religião assim é que facilmente se torna cúmplice dos interesses dos poderosos deste mundo.

Uma fé acostumada a não sofrer é uma fé acostumada a negociar, a evitar problemas, a vender-se pelo preço espúrio de uma aparente calma. Por isso, de tanto em tanto necessitamos profetas de fogo.

Profeta dos direitos de Deus

O que fala em nome de Deus e de seus direitos se expõe a duas coisas, e ambas as sofreu o Batista. Em primeiro lugar, “não o reconheceram”; em segundo, “fizeram com ele o que quiseram”.

Reconhecer os enviados de Deus é admitir suas credenciais, que não são outras, senão sua fidelidade ao Deus que lhes envia. Por isso disse Cristo: “Jesus disse: O que crê em mim, não crê em mim, mas naquele que me enviou. E o que me vê, vê ao que me enviou”.

É um pequeno problema epistemológico o que aqui assoma: como saber que alguém é enviado por outro sem conhecer a esse outro? É necessário, dirá são João, receber o testemunho, e isto é o que realizam as obras de Cristo e dos que são de Cristo; tais obras são sinais capazes de despertar nossa consciência e dirigi-la ao conhecimento do Pai e de seu enviado.

Mas os que não olham as obras nem se interessam pela fidelidade não podem reconhecer os enviados de Deus e por isso só lhes interessa demonstrar que tem mais poder que os profetas.

Maltratando ao profeta, ou inclusive matando-o, pretendem demonstrar que não têm poder algum. Mas seu iníquo agir o único que prova é que Deus prefere instrumentos frágeis, pois não quer revelar-se na ostentação, mas na simplicidade.

Cristo em sua paixão

Nosso Senhor anuncia seu próprio destino, que seguirá a regra comum aos enviados. Tampouco a Cristo se reconhecerá como enviado, e também a Ele lhe tratarão a sua repulsa.

Estremece pensar que a paixão do Senhor é o ponto alto da larga serie dos que foram desconhecidos e torturados. Seu sangue recolhe o sangue de tantos outros.

A Eucaristia, pois, é a catequese suprema da constância na missão. Cristo, o Missionário por excelência, revela em seu Corpo “entregue” e em seu Sangue “derramado” o preço da fidelidade ao Deus que é digno de toda honra e de todo amor.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Qual é a idéia central das quatro partes do texto do livro do Eclesiástico que lemos hoje?

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  • Que significado tem na Bíblia as figura proféticas de Elias e João Batista?

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Como se conectam?

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  • Há necessidade de reconciliação em minha família e em minha comunidade?

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