Ela é a Imaculada Conceição (EFC)
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Lucas 1,26-38
VIRGEM SANTA MARIA, A MAIS BELA E A MAIS PURA
“Disse Maria: ‘Eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo tua palavra’ ”
A solenidade de hoje nos enche de uma profunda emoção. Louvamos a Deus pelo dom reservado a Maria, de ser santa desde sua concepção, de não ser ferida pelo pecado e pelo mal.
Desde o dia em que o Papa Pio IX proclamou o dogma da “Imaculada Conceição”, em 1854, esta solenidade ficou inserida, em pleno tempo do Advento e com razão, visto que a Imaculada prepara o Advento do Senhor: ela, a “cheia de graça”, foi “santa e imaculada no amor”, pois estava destinada a ser a Mãe do Senhor.
Este mistério, que aponta nosso olhar para a raiz da vida de Maria, é a chave de leitura de toda sua vida e nos ajuda a entender a obra de Jesus, que veio a salvar-nos do pecado. Desta vitoria sobre o pecado ela foi a primeira beneficiada e, no espelho de sua santidade plenamente alcançada, descobrimos também a nossa.
Para entrar melhor no mistério, a liturgia nos propõe hoje como telão de fundo o texto que se conhece com o nome de “protoevangelho”, que diz: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre tua linhagem e a dela: ela te pisará a cabeça e tu lhe feriras seu calcanhar” (Gn 3,15).
Esta passagem se aplica a Maria Imaculada que vence a serpente, símbolo demoníaco do mal. Por si, o texto original nos expõe a tensão continua e o duelo que se consuma entre nós, as criaturas humanas descendentes da mulher, e o mal que se aninha na historia.
Relendo a passagem do Gênesis, notemos cinco pontos fundamentais que nos permitem compreender melhor a obra de Deus em Maria:
- Que o homem foi posto por Deus como o centro de sua obra criadora.
- Que a pesar disto o homem não quis dialogar com seu Criador, nem crer em sua palavra, rebelando-se contra seu plano de viver em íntima comunhão com Deus e com os demais.
- Que o homem quis um futuro distinto e fez mau uso da liberdade que Deus lhe deu.
- Que por esta razão a historia se converteu em “teatro de uma luta tremenda contra as potencias das trevas, luta que durará até o último dia” (retomando as palavras de João Paulo II).
- Dai que a vida no Senhor esteja caracterizada pelo combate, pelo conflito, pelo esforço para conseguir o bem e lograr a unidade interior em Deus.
Portanto, a vida de todo discípulo do Senhor se mede por sua capacidade de resistir ao mal, pela luta contra as tentações que tratam de demolir cada dia sua fé e sua esperança. Sem dúvida, o panorama não permanece obscuro. Nossa fé hoje proclama que com a vinda de Cristo à humanidade, através de Maria, este combate tomou um novo rumo e chegou ao seu fim com a vitória do Senhor. É neste cenário onde emerge, com maior esplendor, a figura de Maria. As outras duas leituras de hoje nos descrevem bem a grandeza de Maria:
- Exalta-se a benevolência de Deus Pai com a que será Mãe de seu Filho
(ver a segunda leitura: o hino de Efésios)
Desde sua concepção imaculada, Maria alcançou o vértice mais alto da filiação divina, da semelhança com Deus (Ef 1,5). Assim compreendemos porque nela, antes que em qualquer outra criatura, o Senhor foi glorificado. Porque Maria é “santa e imaculada no amor”(Ef 1,4), ela é mais potente que qualquer experiência do mal.
Maria é sinal da vitória de Deus sobre o mal, pois viveu livre da herança do pecado. Isto não a afasta de nós, mas, ao contrário, a sentimos ainda mais próxima: Maria nos ajuda na luta cotidiana contra o que se opõe ao Evangelho e à construção de um mundo que seja reflexo do Reino de Deus, porque para isso, assim como ela, também nós fomos chamados.
- Se exalta a resposta livre e amorosa de Maria à palavra do Anjo (ver Evangelho anunciação)
Maria é a “cheia de graça” (Lc 1,28), quer dizer, plena da santidade e da beleza de Deus, seja porque foi redimida de um modo sublime (como anotamos no ponto anterior), seja porque soube acolher esta graça: a fez crescer dentro dela, apoiando-se na Palavra do Senhor, declarando-se sua serva e convertendo-se assim em discípula perfeita de Jesus. Foi assim como Maria permitiu que a graça invadisse a historia do mundo e criasse aquela humanidade renovada da qual ela é o modelo perfeito.
Por tudo isto, o mistério que celebramos hoje nos dá força interior em nosso caminhar, muitas vezes incerto e obscuro, nos dá uma nova luz sobre o sentido da historia, nos dá um pouco de repouso nos momentos difíceis que nosso país e o mundo estão vivendo.
A presença viva de Maria na vida da Igreja nos ajuda a compreender também que, a pesar de todas as aparências contrarias, em meio do mundo brota uma fonte pura da qual se deriva toda uma torrente de graça que rejuvenesce o mundo.
Ao dizer “Faça-se em mim segundo tua palavra” (Lc 1,38), ela, a “cheia de graça”, entregou a Deus todo seu amor, toda sua fidelidade e obediência. Neste formoso dia pedimos à Imaculada que nossa fé, que madura no combate, seja uma prolongação desse, seu “Fiat”.