ENQUANTO FAÇO O CAFÉ: “O Reino de Deus está entre vós”

Lucas 17,20-25

A vinda do Reino de Deus (I):

“O Reino de Deus está dentro de vocês”

O relato da cura dos dez leprosos é o prelúdio do ensinamento que Jesus agora vai pronunciar sobre a irrupção definitiva do Reino de Deus (tecnicamente se diz “Discurso escatológico”, ou para esta passagem em particular “pequeno Apocalipse lucano”).

A conexão é natural, porque falar de “salvação” é falar, desde a obra de Deus no desenlace da historia e esta tem seus tempos e seus modos. A revelação destes tempos e modos é importante para saber que fazer quando acontecer.

Frente a esta realidade do tempo final da obra de Deus no mundo e da historia da humanidade (a vinda do Reino), surge a inquietude que brutamente traça os fariseus a Jesus: “Quando vai chegar o Reino de Deus” (v.20a). Jesus responde mediante um ensinamento dirigido primeiro aos fariseus (vv.20b-21) e logo, a parte mais extensa, aos discípulos (vv.22-37).

O conteúdo deste discurso de Jesus se divide em duas partes:

(1) O “quando” da vinda do Reino (vv.20-25); e

(2) O que fazer e o que não fazer para receber dignamente o tempo final (vv.26-37).

  1. O “quando” da vinda do Reino (vv.20b-25)

Na mente dos fariseus muito provavelmente estava vigente da idéia uma vinda do Reino, na pessoa do Messias, mediante um fato contundente, onde não haveria a mínima ambigüidade, como se fora um objeto completamente definido sobre o qual se poderia dizer: “Olhem ai, não há dúvida!”. Por isso a resposta de Jesus é desconcertante. A vinda do Reino supõe uma oscilação nestes termos: “Já, porém, todavia não” (a frase não é de Jesus, porém é o sentido).

Sobre o “Já” (vv.20b-21). Como se afirma desde o discurso de abertura e exposição do programa missionário de Jesus (Lc 4,16-21) a salvação começou no “hoje” da obra de Jesus: “Esta Escritura que acabais de ouvir, se cumpriu hoje” (v.21). Portanto a vinda do Reino se pode reconhecer “já”, está já presente no ministério de Jesus.  Ao não reconhecer o ministério de Jesus como tempo e lugar da revelação divina, os fariseus hão se fechado a possibilidade a uma revelação. Uma revelação necessita ser escutada, interpretada e acolhida. Por isso os fariseus, diante de Jesus, estão espiritualmente cegos.

Por isso, nos mesmos termos de Jesus, “O Reino de Deus vem sem deixar-se sentir”, não poderão dizer “ei-lo aqui, ei-lo“já está entre vós”, ou seja, está ao alcance, basta abrir os olhos da fé, descobri-lo.

Sobre o “Todavia não” (vv.22-25). Efetivamente, o Reino de Deus já está presente para todo aquele que seja capaz de captá-lo na fé, porém não há que esquecer -como o ensinam as parábolas da semente- que ele tem uma dinâmica interna, uma progressão, que aponta a sua consumação no futuro. O que se pode ver no presente do ministério de Jesus é humilde em comparação com a grandeza que se verá ao final, na segunda vinda do Senhor. Atualmente vivemos em meio desses dois tempos.

Nesta expectativa não faltam os afanes. Como ensina o v.22, nos tempos de obscuridade, próprios das perseguições, se desejara ver ao menos um pouco de luz, algum sinal, porém não se verá. De fato, as primitivas comunidades sofreram muito com isto. Elas imaginavam um regresso quase imediato do Senhor Jesus, porém passava o tempo e isto não se realizava. A demora do fim da historia, dá ocasião para que surja todo tipo de conclusão e falsas profecias. Inclusive, apareceram muitos candidatos a “messias”. Porém como disse Jesus: “Não vás, nem corrais atrás” (v.23).

Jesus mesmo dá uma chave, que é a que deve ter-se em conta: “como relâmpago fulgurante… assim será o Filho do homem em seu dia” (v.24). A frase não há que tomar ao pé da letra, é uma imagem.  Não é que sua aparição seja súbita como a velocidade de um raio, mas que como este será suficientemente luminosa e visível. Não haverá que estar se desgastando, então, com supostas revelações ocultas que podem perceber só uns privilegiados e iniciados.

Jesus, no evangelho de Lucas, ensina insistentemente qual o caminho para chegar à gloria é a Cruz (por exemplo: 24,26). A rejeição de Jesus e dos evangelizadores no tempo da Igreja, da qual fala o v.25, mostra em que medida vai se aproximando o fim.

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