ENQUANTO FAÇO O CAFÉ: Observar o tempo e agir a tempo.

Lucas 12,54-59

O DISCERNIMENTO: DISCERNIR OS SINAIS DOS TEMPOS. “A decisão tomada a tempo”

Com as palavras “também dizia a multidão” (v.54), o relato de Lucas que temos acompanhado nos indica que começa uma nova etapa na formação que Jesus oferece no caminho para Jerusalém.

Nela Jesus faz novos chamados à conversão. Em consonância com o convite que Jesus vem fazendo, para que sua Palavra seja “escutada” e, a partir dela, se inicie um caminho de conversão e compromisso no seguimento (11,27-28: “Felizes os que ouvem a Palavra de Deus e a guardam”).

Jesus insiste hoje sobre este tema a partir de duas realidades bem conhecidas pelos ouvintes: (a) A experiência cotidiana do prognóstico do tempo: análise dos sinais dos tempos (vv.54-57); e (b) A necessidade de por em ordem a carteira, antes que venha um problema financeiro grave na casa: o caso do devedor (vv.58-59). Em ambos os casos, a análise da situação, conduz a uma tomada de decisões. O segundo caso, de maneira especial, sublinha a urgência desta tomada de decisões.

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Primeira situação: análise dos sinais dos tempos (vv.54-57).

Por experiência sabemos que na Palestina as chuvas habitualmente vêm da região sudoeste, sem dúvida, nem sempre, é claro, se um contratempo vem do oriente ou sudeste. As mudanças climáticas e as chuvas nos levam a tomar decisões em nossa agenda ou nos acessórios que levaremos.

Jesus disse que se sabemos interpretar os sinais meteorológicos, como não sabemos interpretar os sinais do Reino que estão presentes em seus ensinamentos e em suas obras! A comparação com o “prognóstico do tempo” (como o que vemos todos os dias pela TV) sublinha que a ponderação dos sinais, o que se “vê”, conduz a interpretações, se “diz” algo, e deste se vêem as consequências, “e assim acontece”.

A “hipocrisia”, com que Jesus qualifica os fariseus e escribas que se negam a dar o passo da conversão, Jesus a aplica à multidão que não exercita sua faculdade de discernimento por uma certa rigidez interna: como é que uma pessoa que sabe ver todos os dias os sinais dos tempos, não é capaz de ver os sinais da ação de Deus no ministério de Jesus? Jesus disse: “Como é que não julgais por vós mesmos o que é justo?” (12,57).

·Segunda situação: o caso do devedor (vv.58-59)

5 Jesus evoca, em parábola, a situação de um homem que tem uma dívida e a qual vão aplicar a lei para que faça o pagamento respectivo. Este homem tem duas opções: fazer uma conciliação, uma negociação, com seu adversário, ou vai assumir as consequências, isto é, vai ao cárcere.

Com este exemplo, Jesus nos sublinha que é importante que regulemos nossos próprios assuntos antes que seja demasiado tarde e já não possamos voltar atrás, porque o momento crucial se aproxima. Embora a ênfase desta parábola esteja na “decisão tomada a tempo”, também se realça que perto a tal decisão está o discernimento, a ponderação da situação em suas diversas facetas e decidindo com inteligência e bom sentido.

Quando a vida vai caminhando para a ruína, é preciso deter-se para refletir e optar por uma nova rota a tempo, sem demoras. Frente à pessoa de Jesus e sua mensagem, cada um de nós está sendo convidado continuamente a observar, escutar, analisar seus sinais e tomar a sabia decisão de escolher a Ele, orientando a vida pela rota que os sinais discretos de sua presença nos assinalam.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

Raniero Catalamessa, Pregador do Papa

“Nova e autêntica paz que Jesus traz aos homens”. “Jesus mesmo distingue os dois tipos de paz. Diz aos apóstolos: «Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não é à maneira do mundo que eu a dou. Não se perturbe, nem se atemorize o vosso coração» (Jo 14,27). Após ter destruído, com sua morte, a falsa paz e solidariedade do gênero humano no mal e no pecado inaugura a nova paz e unidade que é fruto do Espírito. Esta é a paz que oferece aos apóstolos na tarde da Páscoa, dizendo: «Paz a vós!». Jesus diz que esta «divisão» pode ocorrer também dentro da família: entre pai e filho, mãe e filha, irmão e irmã, nora e sogra. E, lamentavelmente, sabemos que isso, às vezes, é certo e doloroso. Quem descobriu o Senhor e quer segui-lo seriamente se encontra, com freqüência, na difícil situação de ter de escolher: ou contentar aos de casa e descuidar Deus e as práticas religiosas, ou seguir estas e estar em contraste com os seus, que jogam na cara cada minuto que dedica a Deus e às práticas de piedade. Mas o choque chega também mais profundamente, dentro da própria pessoa, e se configura luta entre a carne e o espírito, entre o clamor do egoísmo e dos sentidos e o da consciência. A divisão e o conflito começam dentro de nós. Paulo o explicou de forma maravilhosa: «A carne de fato tem desejos contrários ao Espírito e o Espírito tem desejos contrários à carne; estas coisas se opõem reciprocamente, de maneira que não fazeis o que gostaríeis». O homem está apegado à sua pequena paz e tranqüilidade, ainda que seja precária e ilusória, e esta imagem de Jesus que vem trazer o desconcerto poderia indispô-lo e levá-lo a considerar Cristo como um inimigo de sua quietude. É necessário tentar superar esta impressão perceber que também isso é amor por parte de Jesus, talvez o mais puro e genuíno.”

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