ESTUDO BÍBLICO NA 10ª SEMANA DO TEMPO COMUM ANO B 2021

ESTUDO BÍBLICO NA 10ª SEMANA DO TEMPO COMUM ANO B 2021 Comunidade Católica Paz e Bem

SEGUNDA-FEIRA

Mateus 5,1-12

O PERFIL DE UMA VIDA PROFÉTICA: AS BEM-AVENTURANÇAS

 “Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus”

Em suas viagens missionárias, Jesus encontrou-se com a dura realidade de seu povo, as pessoas e as suas diversas formas de sofrimento, e levou-as a experimentar a Boa Nova do Reino (Mt 4,23-24).

A multidão curada não volta para casa logo, mas se deixa educar por Jesus na vida nova, que começou para eles. Isto é importante porque, como explica o evangelista, os que se viram curados por Jesus, agora começam um caminho de discipulado: “E seguiam-no multidões numerosas” (4,25; o termo “seguir” não é casual). 

Notemos a relação entre a cena de “cura” e o itinerário de formação que Jesus, agora, lhes oferece: a vida nova não só se recebe como uma graça (indicada na cura), mas, também, devemos “aprendê-la”; é preciso “dar corpo” à vida nova e dar estrutura à conversão; para isso é a instrução de Jesus.

Frente a esta multidão (“Vendo ele as multidões…”, 5,1a), Jesus dá dois passos iniciais:

  • Subiu à montanha” (5,1b)

Parece evocar a subida de Moisés ao Sinai para receber e proclamar a Lei de Deus (Êx 19,3), embora aclaremos: as bem-aventuranças não são leis e sim valores). O evangelho acabará também com Jesus dando sua última instrução do alto de um monte na Galiléia (28,16).

Mas no evangelho de Mateus o “subir à montanha” também está relacionado com a oração: Jesus subia muitas vezes à montanha para encontrar-se com seu Pai (ver Mt 14,23;17,1), por isso, “subir à montanha é o permanecer constante de Jesus no coração do Pai, de onde tira o maravilhoso dom das bem-aventuranças” (Clemencio Rojas).

  • Sentou-se” (5,1c):

Atitude própria de um Mestre que dá instruções ou ordens. Os dois termos mostram a autoridade com que Jesus vai falar e nos convidam a atender e acolher a revelação como discípulos (“aproximaram-se dele seus discípulos”, 5,1d).        

Os três planos que configuram o cenário da proclamação do primeiro grande sermão de Jesus (Jesus, os discípulos e a multidão), nos recordam a ocasião na qual Moisés sobe à montanha junto com os anciãos (Êx 24,1), enquanto que aos pés da montanha permanece o povo.

Então dá-se inicio ao ensino.

No texto grego lemos literalmente: “E havendo aberto sua boca, lhes ensinava dizendo (5,2). A expressão “abrir a boca”, que equivale a “tomar a palavra”, nos envia à frase que Jesus diz ao tentador no deserto: Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus (4,4). 

Da “palavra que sai da boca” de Jesus, “vive” o discípulo. Isto vale, não só para este sermão, mas para todos os ensinamentos de Jesus.  Este é o alimento que o povo necessita, só milagres não bastam, é preciso explorar a beleza e apropriar-se da riqueza da vida do Reino (4,24).

Na leitura das bem-aventuranças devemos distinguir as partes que contêm cada uma delas. Tomemos como modelo a primeira:

A declaração “Bem-aventurados”:

Nove vezes se repete a palavra “Bem-aventurados”, mas, as bemaventuranças, na realidade, são 8, já que a nona é uma ampliação do que foi dito na oitava. A expressão descreve o novo estado em que se encontra todo aquele que entrou no âmbito do Reino de Deus: o estado de plenitude interna que comumente chamamos “felicidade”. A bem-aventurança é o clima da vida do Reino, um Reino que já se experimenta: atenção com a expressão “deles é o Reino” (5,3.10).

Por isso, a repetição 9 vezes do mesmo termo parece querer ajudar a uma tomada de consciência: “Porque você segue a Jesus, já tem todos os motivos para ser feliz; Olhe o que Deus está fazendo em sua vida!”.  Que estaria vivendo a multidão naquele dia, quando Jesus colocou-lhes o espelho diante dos olhos e os convidou a reconhecer seu novo estado de vida!                

As atitudes ou situações que abrem as portas para a felicidade do Reino

As oito bem-aventuranças vão descrevendo, progressivamente, o rosto de um discípulo de Jesus, e – se prestarmos atenção – notaremos que se trata do proprio rosto de Jesus:

  • A pobreza em Espírito (5,3): abertura total a Deus, ao irmão. O rico em espírito é o autosuficiente e orgulhoso (Ap 3,17). O Reino se recebe quando se reconhece a radical necessidade d’Ele (no evangelho muitos exemplos)
  • A mansidão (5,4): exercício de total controle de si mesma em suas emoções e impulsos (Sl 37), que não pretende dominar nem controlar os outros; é a pessoa que sabe conviver.
  • As lágrimas (5,5): referem-se ao estado de uma pessoa em dor, por sua própria desgraça ou dos outros; geralmente se vive nas ruturas de relação (morte, pecado, etc.). De alguma maneira se refere à pobreza porque há um vazio que pede ser preenchido.
  • A fome e sede da justiça (5,6): “fome e sede” são duas necessidades vitais que não admitem demora para a solução. Esta busca compulsiva do essencial para viver se traslada ao terreno das relações: recompor as relações deterioradas, quer dizer, a “justiça”.
  • A misericórdia (5,7): no evangelho de Mateus o termo “misericórdia” está quase sempre associado ao “perdão”. Mas há um ponto de vista mais amplo: onde quer que alguém sofra ali há que reconstruir – mediante acolhida efetiva – o tecido social deteriorado.
  • A pureza de coração (5,8): não é uma inocência (que pareceria congênita em algumas pessoas), mas, estado de limpeza interior próprio de todo que foi purificado pelo sacrifício redentor de Jesus. Em um coração puro as motivações são distintas: não há cobiça, não se guarda rancor, se valoriza objetivamente, só se deseja o bem.
  • O trabalho pela paz (5,9): de novo nos encontramos no âmbito relacional, particularmente no ambiente conflitivo; em lugar de insistir no que pode desunir, pelo contrário se contribui sempre para o que pode manter e fazer crescer as relações.
  • A perseguição por causa da justiça (5,10-12): a identificação com Jesus e o compromisso profético com seu Reino (ver todo o anterior) tem seu preço: leva a compartilhar o destino doloroso do Mestre. A perseguição vem de diversas formas, mas a mais destacada é a difamação. Mas, apesar de toda a violência que cai sobre ele, o discípulo não responde com violência; é verdade que é uma vítima inocente, mas sua atitude é outra, a da resistência, da alegria: não há alegria maior para um discípulo que o saber que se parece, em tudo, com seu Mestre Jesus.

É Deus Pai quem causa a felicidade

É importante notarmos que tal felicidade provem, não do ponto de partida (a pobreza, as lágrimas, a mansidão, etc.), mas, sim, do ponto de chegada, quer dizer, da obra de Deus Pai (“deles é o Reino”, “possuirão a terra”, “serão consolados”, etc.).  Deus é a causa da alegria. Em outras palavras: se é feliz porque Deus está agindo em alguém, graças à Boa Nova proclamada e realizada por Jesus.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Sobre que fio condutor se tece o evangelho segundo Mateus? É importante que o leiamos?
  2. Considero-me “feliz”? De onde provém esta felicidade? Que caminhos me propõe Jesus?
  3. No núcleo da proclamação do Reino está o conhecimento do rosto bendito de Deus Pai. Que experiência de Deus Pai me convida a viver Jesus?

TERÇa–feira

Mateus 5,13-16

A EFICÁCIA DA IDENTIDADE:

 “Brilhe, assim, vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem…”

As bem-aventuranças descrevem o que acontece à vida interior do discípulo que acolheu o Reino dos Céus, proclamado por Jesus. Mas, o que acontece interiormente deve ver-se logo em sinais externos. Deste último trata a segunda parte da introdução do Sermão da Montanha: a vida nova do bem-aventurado tem que “ser vista” (Mt 5,13-16).

Jesus não afasta o olhar da multidão (ver 5,1). Suas palavras passa do insistente Bem aventurados” ao Vós sois”. A ênfase recai no que o discípulo está chamado a ser como expressão de sua identificação com Jesus.

O plural “sois” recorda-nos que não se trata de algo individual mas da vida das comunidades, as quais, apesar de sua pequenez (pobres, perseguidas), exercem uma grande influência benéfica no meio onde estão situadas.

A expressão (“Vós sois”) converte-se, ao final, num imperativo missionário: “Brilhe vossa luz” (5,16).

Deste modo é descrito um belo itinerário que, iniciando pela obra de Deus no coração do que acolhe o Reino na pobreza (5,1-12), culmina na “glorificação” a Deus Pai pelos que são testemunhas da transformação verificada em “obras boas” dos humildes discípulos de Jesus no mundo.

  1. A primeira identidade do bem-aventurado: ser “sal da terra” (5,13)

Quando se põe sal na sopa, este tem dupla virtude: estar em toda a sopa; e de forma escondida. Ninguém fala dele, a menos que faça falta ou esteja em excesso; o sal é, além disso, um bom conservante dos alimentos.

Mas, quando Jesus especifica “da terra”, remete-nos ao mundo da agricultura no oriente antigo, onde se colocava sal no adubo para dar mais vigor e mais fecundidade.

A idéia de fundo, então, é a vida: as comunidades cristãs estão chamadas a ser, nos contextos nos quais vivem sua fé, instrumento da vida do Pai – que é reconhecido como Pai de todos (v.16). Tudo o que se disse que o Pai fazia na proclamação das bem-aventuranças, agora se oferece a todos.

Visto que o sal era utilizado, no Antigo Testamento, como símbolo da Sabedoria e da Lei, talvez tenha que ver, aqui, com a missão dos pequenos do Reino (ver Mt 11,25), cuja missão é fertilizar o mundo com a prática de Jesus: sabedoria de Deus e plenitude da Lei.

A imagem do sal que “se desvirtua” (literalmente: “perde a força”), como símbolo do inútil, descreve a ação comum na Palestina antiga, de jogar o lixo na calçada para tapar os buracos, enquanto as pessoas que passam fazem às vezes de máquina de aterramento.

A imagem é forte, mas é antes de tudo um convite a que a comunidade cristã não permaneça inativa, deixando perder-se todo o potencial que tem; pois, senão, de acordo com a comparação, é como lixo.

2.  A segunda identidade do bem-aventurado: ser “luz do mundo” (5,14-15)

A luz foi feita para iluminar, por isso não admite ser escondida. Esta pode ser a situação de algumas comunidades. Com duas comparações, Jesus ilustra o absurdo de uma luz escondida: a cidade no alto do monte; e a lâmpada que deve ser posta sobre o candeeiro. Ao mesmo tempo, de cada uma destas imagens se desprende um aspecto positivo.

Não se pode ocultar uma cidade no alto de um monte”. A imagem fala por si só. O contexto parece ser o das guerras, tão frequentes no mundo antigo: em um contexto assim, não há possibilidade de camuflagem. Mas há uma idéia positiva. De fato, a comunidade cristã é assim: como cidade no alto do monte, é o ponto de referência em todo o ambiente circundante. Na antiguidade, quando ainda não havia sinalizações nas estradas, as pessoas se orientavam por referências (tal árvore, tal montanha ou tal cidade que se avistava de longe). Essa idéia parece estar aqui presente: o discípulo e sua comunidade são um ponto de referência, de inspiração, de orientação, como ideal de vida para todos os que os vêem.

Nem, tampouco, se acende uma lâmpada e se põe debaixo do alqueire. Outra imagem de significado evidente. Se recordarmos que as casas palestinas eram, basicamente, de um só e pequeno cômodo notaremos quão significativa é. Mas, a idéia positiva que contém, desta vez, se faz explícita: para que ilumine a todos os que estão na casa”. A imagem da “casa” é importante (ver a história da casa ao final do Sermão, em 7,24-27). A luz posta no lugar correto permite apreciar os espaços, evitar tropeços, mas, sobretudo, reconhecer o rosto do outro.  Além disso, a luz põe em evidência o oculto, o injusto, o incorreto. Assim é à força de vida, de uma comunidade de discípulos, em seu ambiente.

Por trás da intenção bíblica, estas duas imagens nos permitem ver que a comunidade dos “bem-aventurados”, o novo povo de Deus, não esgota sua finalidade em si mesma e, sim, que é uma fonte de esperança: esperança do mundo novo inaugurado por Jesus. Particularmente a imagem da luz havia sido utilizada por Isaias:

  • “Eu te constituí como aliança do povo, como luz das nações” (42,6);
  • “Também te estabeleci como luz das nações, a fim de que minha salvação chegue até as extremidades da terra” (49,6);
  • e, de modo especial: “Levanta-te, resplandece, porque tua luz é chegada!… As nações caminharão à tua luz, e os reis, no clarão do teu sol nascente (60,1-3).

3.  Da identidade irradia nova força apostólica: arrancar do mundo louvores ao Pai (5,16)

Para concluir, as imagens do “sal” e da “luz” se traduzem em seu equivalente concreto: “vossas boas obras”. A comunidade não se projeta no mundo por vaidade, mas porque essa é sua missão; a finalidade última é a “glória” do Pai. Afinal, o que se verá em todas as formas de atuação dos discípulos de Jesus – que é autêntico – não será um protagonismo pessoal (de indivíduos ou comunidades), mas o de Deus: se descobrirá que, por trás de tudo, é Deus que está em ação, amando, responsavelmente, como Pai que é. O rosto do Pai “que está nos céus”, e invisível a nós que estamos na terra. Descobre-se no rosto dos filhos que honram o nome que levam.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Considero que minha vida pessoal e a de minha comunidade estão apostolicamente: apagada, ativa ou mais ou menos? Quais são os sinais?
  2. Com que finalidade se projeta a Igreja no contexto social em que está?
  3. Segundo este ensinamento de Jesus, qual é a primeira e fundamental forma de evangelização?

De qual experiência de Deus e como vou comprometer-me com uma vida apostólica mais intensa?

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QUARTA-FEIRA

Mateus 5,17-19

APRENDER A FAZER, EM JESUS, A VONTADE DE DEUS.

“Não vim revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento

Quem faz a experiência das “bem-aventuranças” é um homem novo no Reino, perpassado pela pessoa de Jesus. N’Ele tem o coração. Começa a centrar-se todo em Jesus. Mas, a vivencia da radical novidade do Reino pode levar a pensar que a Lei e os Profetas ficam abolidos (Mt 5,17ª). Isto não é exatamente assim, pois, como disse Jesus: Não vim revogá-los, mas dar-lhe cumprimento (5,17b).

A frase “a Lei e os Profetas” é uma forma de designar, tecnicamente, a Bíblia Hebréia (para nós é grande parte do Antigo Testamento), isto é, abarca toda a primeira parte da revelação de Deus:

  • A “Lei”: é o critério de vida por excelência para o povo que fez Aliança com Yahweh;
  • Os “Profetas”: enquanto defensores da Aliança, foram intérpretes da Lei.

Quando Jesus disse que veio para “dar cumprimento” à “Lei e os Profetas”, está afirmando que, n’Ele, visível está, tudo o que a Lei e os Profetas tentaram dizer. O que Deus desejou revelar a seu povo tem seu ponto culminante na pessoa de Jesus. Por isso, digamos assim, entre o Antigo e o Novo Testamento não tem contradição, mas uma linha contínua, sempre ascendente.

É preciso, então, olhar em todas as palavras e atos de Jesus no evangelho, pois ai  “deu cumprimento” ao querer de Deus. Já a primeira ação de Jesus em Mateus, foi programática a este respeito quando, a beira do Jordão, disse a João: “pois assim nos convém cumprir toda justiça (3,15).

As palavras e os atos de Jesus aprofunda no modo como se dá “cumprimento” à “Lei e os Profetas”:

  • Da parte de Deus, mantém firme sua Palavra e nos oferece um caminho para que esta se realize plenamente (“que tudo seja realizado”: 5,18);
  • Da parte do homem, a Palavra de Deus alcança seu cumprimento nele, na medida em que a leve à prática e sejam ensinadas (“observar e ensinar”: 5,19).

Deus é o primeiro a por em prática a Lei, em seu Filho Jesus. A “justiça” primeira é a de Deus. E esta justiça – segundo o evangelho de Mateus – se chama Jesus. Por isso não se falará, explicitamente, do “ensinamento de Jesus” (só até 7,24), mas do “cumprimento da Lei”, simplesmente porque esta ordem de idéias é a mesma.

Deus: A Palavra se faz realidade

A lei quer que “aconteça” tudo. E esse tudo Jesus realiza em sua própria vida. Deste modo, oferece a quem quer que lhe siga, a possibilidade de aprender, n’Ele, a fazer a vontade de Deus. O evangelho, aos poucos, irá desvelando de que modo o “cumprimento” está na vida mesma de Jesus.

A síntese do que quer a ‘Lei e os Profetas’, finalmente, será o amor misericordioso. Desta forma, a “Lei” segue sendo inquebrantável, porém, por outra parte, não se expressa plenamente, mas isso só vai acontecer na interpretação que lhe dá Jesus.

Portanto, porque Jesus deu sua máxima expressão a todo o valor que tem “A Lei e os Profetas”, todos temos a possibilidade de viver a Palavra de Deus em seu seguimento e, assim, esta manterá sua vigência até o fim do mundo (“céu e terra passarão antes de que passe…”).

O discípulo: A Palavra se faz vida

Deus cumpre sua Palavra, porém, os discípulos também têm que cumpri-la, isto é, passar da teoria à prática. Todos os mandamentos, inclusive os menores, são obrigatórios, já que o homem só se faz “justo” na vivencia do querer de Deus.

Mas o discípulo não andará ansioso por detalhes, porque vive a Lei desde uma vida inspirada na nova “justiça” que ensina Jesus, uma “justiça” que provem do estar imerso na experiência do “Reino” (ver as bem-aventuranças). Para enfatizar isto, Jesus apresenta a mesma idéia, tanto em negativo como em positivo: “O que pratique …” – “o que observe”;  “Será o menor no Reino…”-“será grande…”.

Jesus havia de “por em prática”, porém, também “ensinar”. Jesus aplica a mesma lógica do compromisso com a Palavra ao compromisso com a correta educação, que consiste no aprendizado do evangelho, que é cumprimento perfeito “da Lei e os profetas”.

O discípulo que põe em prática a Palavra, já é, por si, um bom mestre, e com a mais eficaz das didáticas: o testemunho.  Mas, não pode esquecer que diante dele vai Jesus. Ao dizer que veio “dar cumprimento”, que belo! Ele mesmo faz o que ensina! Estar na escola de Jesus é aprender sua vida.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Um cristão pode permitir que desvalorizem o Antigo Testamento? Que argumentos tem?
  2. Em contrapartida, que aconteceria se lêssemos o Antigo Testamento sem chegar ao Novo? Que tipo de espiritualidade viveríamos? Que é dar “cumprimento” à “Lei e os Profetas”?
  3. A “lectio divina” tem como finalidade ajudar-me a passar da teoria do texto à prática da Palavra de Deus em nossa vida. Como a estou fazendo? A estou ensinando a outras pessoas?

QUINTA-FEIRA

Mateus 5,20-26

ESCOLA DE VALORES (I): A RECONCILIAÇÃO RÁPIDA E PRIORITÁRIA

“Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão”

Hoje começamos a escalar altos níveis na aprendizagem do Sermão da Montanha. Com o texto bíblico na mão exploremos o ensinamento de Jesus. O que vimos ontem é importante.

Mas o ensinamento não ficaria completamente claro sem o que vem: Como é que Jesus leva a “cumprimento” a Lei de Deus, cujo espírito era tão defendido pelos Profetas? Jesus responde de dois modos: (1) com uma frase que anuncia o novo programa de vida segundo o Reino (o que faz entrar no Reino); (2) com casos concretos que, como veremos, correspondem a uma “escola de valores”.

1.  O novo programa

Se vossa justiça não ultrapassar a dos escribas e fariseus não entrareis no Reino dos Céus”.               O enunciado o lemos em Mt 5,20: O comportamento superior (ou “justiça” ou “agir justo”), ao qual alude Jesus, é tal enquanto supera a preocupação pelo “quantitativo” ou “pontual” – característico dos estudiosos da lei e judeus piedosos – e aponta, principalmente, para o “qualitativo” que se move na dimensão nova e profunda do Reino de Deus, quer dizer, a partir da obra de Deus Pai em nós.

O simples conhecimento das normas é insuficiente. Se levarmos em conta o ensinamento das bem-aventuranças, compreenderemos que a “nova justiça” parte da espiritualidade das bem-aventuranças, na qual se anunciava a boa noticia, da obra de Deus Pai, no discípulo de Jesus.

Trata-se de uma justiça que parte de um coração novo: a renovação interior resplandecerá e se tornará visível em todos os comportamentos do discípulo (“brilhe do mesmo modo a vossa luz diante dos homens”: 5,16). Então estará “cumprindo” a totalidade da Lei.

2.  A didática: uma escola de valores

Como Jesus educa nesta “nova justiça”? Como se vê, em seguida, faz “escola de valores”. Vai propor seis valores fundamentais que orientam o comportamento do discípulo nas relações com os demais. Tem sentido que Jesus tome como ponto de partida as relações com os demais, porque nelas é onde se verifica se, de verdade, somos homens novos ou não. Se andarmos isolados, para evitar problemas, nunca saberemos se levamos, ou não, a novidade do Reino por dentro.

Jesus educa seus discípulos confrontando-os com histórias reais de vida. Para isso: (a) põe uma situação problemática tomada do dia-a-dia; (b) propõe o valor que pode iluminar o comportamento do discípulo nesses tipos de situações; e (c) mostra como se leva à prática. O discípulo logo o aplicará a muitas outras situações. 

O valor proposto, em cada uma das situações, mostra como a vivência da Lei (“Ouvistes que foi dito  dos antigos…”), a partir da prática das bem-aventuranças (“Eu porém vos digo…”), abre novos horizontes de vida que humanizam e santificam o mundo. Assim, os discípulos se fazem “sal” e “luz” em seus respectivos contextos familiares, sociais e eclesiais.

A “escola de valores” tem o seguinte plano: tendo em vista que é nas relações com os demais onde se verifica que uma pessoa vive a novidade do Reino… apresenta tipos de situações (a) três nas quais a solução do problema depende da pessoa (5,21-37); (b) dois nas quais o conflito não provém da pessoa (5,38-48). Este tipo de reflexão, que conduz Jesus, é importante, porque, para que haja uma disputa necessita-se de duas partes: o que ofende e o ofendido.

Acontece, às vezes, que o ofendido quer tomar a iniciativa para restabelecer a justiça, mas o outro não está interessado. Que fazer? Por isso a dupla abordagem: (a) que fazer quando as soluções dependem de cada um de nós; (b) que fazer quando não dependem de nós.

3.  Começa a “escola de valores”

Que valores movem o discípulo quando as soluções dos conflitos dependem dele.

Jesus apresenta três âmbitos de relações conflitivas: (a) o amigo que se torna inimigo por uma dívida que não pagou (5,21-26); (b) a infidelidade matrimonial (5,26-32); e (c) a transparência (verdade) na comunicação verbal (5,33-37). Hoje o evangelho trata do primeiro caso: o do amigo que se tornou inimigo por uma dívida não paga (5,21-26). Um discípulo de Jesus tem em alta estima a “fraternidade”, mas pode acontecer que amigos ou irmãos terminem como inimigos. Vejamos:

  • A situação de fundo, a dívida, aparece dramaticamente levada até ao extremo: o credor está a ponto de aplicar o rigor da lei a seu devedor (a cadeia e o trabalho forçado de sua mulher e seus filhos para cobrir a dívida). Os dois em conflito já vão a caminho do tribunal (ver 5,25-26);
  • O valor proposto é o da reconciliação. A proposta aparece duas vezes: “Vai primeiro reconciliar-te com teu irmão” (5,24b) e “Assume logo uma atitude reconciliadora com teu adversário” (5,25ª). Trata-se de uma “prioridade” que não admite retardamento: “primeiro”, “sem demora”. Todas as energias pessoais devem canalizar-se para atingir este nobre fim;
  • A aplicação do valor se vê, claramente, no caso de duas pessoas que se irritam: boa ilustração do que acontece quando alguém não paga a alguém o que generosamente lhe foi emprestado.

A reconciliação deve ser:

  • Rápida: A pessoa sabe como iniciam os casos (uma simples “cólera”, 5,22ª), mas não sabe como podem terminar (em assassinato). Quanto mais tempo passar, maior a gravidade da própria responsabilidade diante da situação. (ver as três instâncias da justiça no v.22). Por isso é preciso parar o quanto antes.
  • Primeiro que tudo: O mais sagrado para um judeu é a oferenda no Templo, para o qual, geralmente, faz uma longa viagem, deixando para trás todos os demais compromissos, por vários dias. Recuperar a paz com um irmão neste contexto achava, então, seu real valor. Exemplo nos vv.23-34 .

Conforme a rapidez e a prioridade sobre qualquer outra atividade no exercício da “reconciliação” com o irmão, nós sabemos o que está no cume de nossa hierarquia de valores.

Jesus partiu de uma situação que se vê todos os dias. Por certo, quem não terá se irritado alguma vez? Se tomássemos ao pé da letra este evangelho: haveria suficientes tribunais no mundo para toda a gente que se irrita? Haveria colapso do sistema judiciário.

Mas, aqui há uma grande verdade: a santidade (a “justiça superior”), a que nos conduz o Deus do Reino, deve levar-nos ao saber gerenciar os problemas que todos os dias – que 70×7 vezes- surgem nas relações. Há pequenas situações na vida que vão além do âmbito legal, que escapam à possibilidade de julgamento, mas é preciso ter muito cuidado para colocar ali o “sal” e a “luz” do Reino.

Portanto, o problema não é que haja problemas, o verdadeiro problema é que não queiramos solucioná-los.        O valor da reconciliação rápida e prioritária deve acompanhar-nos todos os dias e o dia todo! Que não se deteriorem as relações com “teu irmão”! E se já se deterioraram: Que faria uma pessoa que vive a bem-aventurança: “bem-aventurados os que promovem a paz” (5,9)?

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Tenho algum inimigo?
  2. O estar em paz com um irmão é para mim uma urgência?
  3. Sinto “fome e sede da justiça”, ou seja, de restabelecer rapidamente as relações deterioradas? Como vou exercitar pessoalmente e educar a outros na escola de valores que Jesus propõe, no âmbito de minha família, de minha comunidade, de meu bairro?

SEXTA-FEIRA

Jo 19,31-37 – SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

A Igreja celebra a Festa do Sagrado Coração de Jesus na sexta-feira da semana seguinte à Festa de Corpus Christi. O coração é mostrado na Escritura como símbolo do amor de Deus. No Calvário o soldado abriu o lado de Cristo com a lança (cf. João 19,34). Diz a Liturgia que “aberto o seu Coração divino, foi derramado sobre nós torrentes de graças e de misericórdia”. Jesus é a Encarnação viva do Amor de Deus, e seu Coração é o símbolo desse Amor. Por isso, encerrando uma conjunto de grandes Festas (Páscoa, Ascensão, Pentecostes, Santíssima Trindade, Corpus Christi), a liturgia nos leva a contemplar o Coração de Jesus. [Consagre-se ao Coração de Jesus]

Este sagrado Coração é a imagem do amor de Jesus por cada um de nós. É a expressão daquilo que São Paulo disse: ”Eu vivi na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim (Gálatas 2,20). É o convite a que cada um de nós retribua a Jesus este amor, vivendo segundo a Sua vontade e trabalhando com a Igreja pela salvação das almas.

Muitos Santos veneraram o Coração de Jesus. Santo Agostinho disse: “Vosso Coração, Jesus, foi ferido, para que na ferida visível contemplássemos a ferida invisível de vosso grande amor”. São João Eudes, grande propagador desta devoção no século XVII, escreveu o primeiro ofício litúrgico em honra do Coração de Jesus, cuja festa se celebrou pela primeira vez na França, em 20 de outubro de 1672.

Jesus revelou o desejo da Festa ao seu Sagrado Coração à religiosa Santa Margarida Maria Alacoque, na França, mostrando-lhe o “Coração que tanto amou os homens e é por parte de muitos desprezado”. S. Margarida teve como diretor espiritual o padre jesuíta S. Cláudio de la Colombière, canonizado por João Paulo II, e que se incumbiu de progagar a grande Festa.

O Papa Pio XII afirmou que tudo o que S. Margarida declarou “estava de acordo com a nossa fé católica”. Este foi um grande sinal a mais da misericórdia e da graça para as necessidades da Igreja, especialmente num tempo em que grassava a heresia do jansenismo (do bispo francês Jansen) que ensinava uma religião triste e ameaçadora.
O Papa Clemente XIII aprovou a Missa em honra do Coração de Jesus e Pio X, dia 23 de agosto de 1856, estendeu a Festa para toda a Igreja a ser celebrada na sexta-feira da semana subseqüente à festa de Corpus Christi. O papa Leão XIII consagrou o mundo ao Sagrado Coração de Jesus. Paulo VI disse certa vez que ela é garantia de crescimento na vida cristã e garantia da salvação eterna.
Entre as Promessas que Jesus fez à Santa Margarida está a das Nove Primeiras Sextas Feiras do mês: aos fiéis que fizerem a Comunhão em nove primeiras sextas-feiras de cada mês, seguidas e sem interrupção, prometeu o Coração de Jesus a graça da perseverança final, o que significa que a pessoa nunca deixará a fé católica e buscará a sua santificação. São as chamadas Comunhões reparadoras a Jesus pela ofensa que tantas vezes seu Sagrado Coração é tão ofendido pelos homens.

Pio XII disse: “Nada proíbe que adoremos o Coração Sacratíssimo de Jesus Cristo, enquanto é participante e símbolo natural e sumamente expressivo daquele amor inexaurível em que, ainda hoje, o Divino Redentor arde para com os homens”.

Essas são as Promessas que Jesus fez:

“No extremo da misericórdia do meu Coração onipotente, concederei a todos aqueles que comungarem nas primeiras sextas feiras de cada mês, durante nove meses consecutivos a graça do arrependimento final. Eles não morrerão sem a minha graça e sem receber os SS. sacramentos. O meu coração naquela hora extrema ser-lhe-á seguro abrigo”.

As outras promessas do Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque:

1 – Conceder-lhe-ei todas as graças necessárias ao seu estado.
2 – Porei a paz em suas famílias.
3 – Consolá-los-ei nas suas aflições.
4 – Serei seu refúgio na vida e especialmente na hora da morte.
5 – Derramarei copiosas bênçãos sobre suas empresas.
6 – Os pecadores encontrarão no meu Coração a fonte, oceano infinito de misericórdia.
7 – Os tíbios se tornarão fervorosos.
8 – Os fervorosos alcançarão rapidamente grande perfeição.
9 – Abençoarei os lugares onde estiver exposta e venerada a imagem do meu Coração.
10 – Darei aos sacerdotes a força de comover os corações mais endurecidos.
11 – O nome daqueles que propagarem esta devoção ficará escrito no meu Coração e de lá nunca será apagado.

SÁBADO

Lucas 2,41-51

IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA:

Entre nós, Jesus e Maria: um só coração”

Neste sábado celebramos o Imaculado Coração de Maria. A natureza humana em sua originalidade natural foi criada à “imagem semelhança” de Deus, porém, com o pecado, essa identidade ficou manchada, mas não destruída; foi preciso que o Filho de Deus, segunda pessoa da Trindade Santa, livremente a assumisse na Encarnação para que voltássemos a uma nova originalidade, preparada pelo Altíssimo conforme a Eternidade do Seu Querer.

O que Adão e Eva não conseguiram realizar

O que Adão e Eva não conseguiram realizar, por meio dos dons recebidos, livre arbítrio, inocência, santidade, visão espiritual, obediência, etc.; Deus o fez por meio de Seu Filho Jesus, Novo Adão, não nascido do barro, mas do Espírito Santo, no seio da Nova Eva, Maria; não tirada do homem, mas perfeitamente redimida por seu próprio Filho, para ser mãe da Nova Criação.


Falar dessa íntima-união da Imaculada com a Santíssima Trindade na Nova Criação é o mesmo que falar da união perfeita das duas naturezas, Divino-humana, sem perca alguma por parte da primeira e com elevação da segunda à Plenitude da Perfeição, conforme o propósito do Criador. Pois, a primeira divinizou a segunda, por isso agora, já não somos apenas seres humanos, mas seres humanos perfeitamente divinizados pela Encarnação, Morte e Ressurreição do Verbo de Deus que nos livrou definitivamente do pecado e da morte.


Maria é toda de Deus e toda Vontade de Deus para nós

Pela transparência de seu ser Imaculado, Maria é, de fato, toda de Deus e toda Vontade de Deus para nós; pois, o principal atributo dos filhos redimidos é a cooperação na obra redentora até que venha a consumação de todas as coisas onde seremos um só em Deus que é bendito para sempre. Ninguém conheceu Jesus tão bem quanto sua Mãe, a Virgem Maria; ninguém foi mais íntima, ninguém mais amiga e conselheira e que teve mais acesso ao Filho de Deus que sua Mãe Santíssima; muito mais agora que vive na Sua intimidade por toda a eternidade.

No Evangelho de hoje vamos ao final aonde nos encontramos com um retrato lucano de Maria: “Sua mãe, porém conservava a lembrança de todos esses fatos em seu coração” (2,51). A atitude de Maria ante a primeira palavra desconcertante de seu Filho, por ocasião de seu reencontro no Templo, após tê-lo perdido por três dias, é de reflexão paciente. Esta atitude acompanhou-a desde o momento da encarnação (1,29), do nascimento (1,19), até a entrada de Jesus na vida adulta e no ministério. Assim os anos ocultos da vida de Jesus ficaram somente escritos no coração de Maria.

Contemplando esta sua atitude, poderíamos dizer: Jesus crescia e sua Mãe também. O coração de Maria permanece então como o modelo do qual nós devemos ser como ouvintes do Evangelho. Maria nos ensina a viver um caminho de crescimento espiritual por meio da confrontação permanente entre os sucessos da vida e da Palavra, aguardando com paciência nos momentos de ignorância e deixando que Deus conduza as coisas segundo sua pedagogia.

Cultivemos semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Que novo tipo de relação começa Maria com Jesus a partir de então?
  • Como se projeta em nossa experiência familiar?
  • Que pistas nos dá este texto para fazer nosso projeto de vida familiar?

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

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