Estudo Bíblico na 11ª Semana Comum ano A 2023

ESTUDO BÍBLICO NA 11ª SEMANA COMUM ANO A 2023

Comunidade Católica Paz e Bem

SEGUNDA-FEIRA

Mateus 5,38-42

ESCOLA DE VALORES (IV): NÃO DEVOLVER VIOLÊNCIA, MAS TRANSFORMAR O AGRESSOR.

 “Não ofereçais resistência ao malvado”

Continuamos no Sermão da Montanha. Através deste vamos vendo como a vida nova do Reino, proclamada nas bem-aventuranças, vai se tornando “sal” e “luz” no cotidiano da vida de um discípulo de Jesus. Como vimos na semana passada, o primeiro espaço da vida no qual entra o Reino de Deus e sua justiça (maior) é no âmbito das relações com os demais.

Jesus, por meio de duas situações, mostrou-nos como se dão as bem-aventuranças, isto é, como elas entram no nosso modo de agir: quando a iniciativa da relação depende de mim; e quando a iniciativa depende de outra pessoa. A primeira já foi visto antes. Agora veremos o outro lado da moeda: quando alguém tem boas intenções, porém, a outra pessoa, não.

  1. A situação

Para atenuar a prática da vingança, vigorava a lei de Talião, ou seja, na agressão, o modo de fazer justiça era devolver na mesma moeda. O Antigo Testamento já havia admitido isso: “Olho por olho, dente por dente” (Ex 21,24). Ou seja, se, na briga, um soco quebrasse um dente, a vítima tinha o direito de fazer o mesmo ao agressor (um só dente, não dois!). E depois os dois ficavam em paz. Em seu tempo, foi de grande avanço na história da civilização, já que seu objetivo era evitar o “fazer justiça com as próprias mãos”, pois, quando isso acontecia, as consequências eram terríveis: tomada de fúria cega, a pessoa acabava matando o agressor, às vezes por uma pequena transgressão.

  • O valor

Mas, quando veio Jesus, começa a anunciar, em suas pregações, que a vingança não tem lugar no Reino de Deus. Não é assim que se faz justiça. Tem que dar um novo passo à frente, pois a verdadeira justiça não está ai, mas na aparente derrota da vítima. Este novo valor que brota da justiça do Reino aponta para o fim da violência mediante dois caminhos: não prolonga a violência através da habitual desforra (passagem de hoje); e entra ai o trabalho pela conversão do agressor (passagem de amanhã).

Jesus cita cinco situações bem conhecidas no Evangelho, nas quais um discípulo se sente agredido em sua integridade física, moral e sociológica. Em cada caso, o valor que se exerce é sempre o mesmo:

  • Uma bofetada da face (5,39b): neste caso a vítima não devolve o golpe, mas, ao contrário, demonstra seu espírito indefeso, expondo a outra face (5,39c);
  • Um processo para reclamar uma dívida (5,40a): a vítima se mostra mais generosa que o agressor entregando mais que o reclamado (o manto era peça de grande valia para um pobre);
  • Uma retenção do exército romano (5,41a): Os soldados romanos podiam parar as caravanas e forçá-las a carregar pedras. Como havia abusos a lei previa que um romano não podia exigir mais que uma milha em tal esforço. A resposta é, por conta própria, fazer o dobro do pedido, assim fica claro que não é um escravo, mas um homem livre que serve generosamente ao outro (5,41b);
  • Uma pessoa pede ajuda (5,42a): Um mendigo pede esmola. Alguém que pede ajuda todos os dias, aos poucos não começa a cansar as pessoas? Entretanto, não podemos perder a paciência;
  • Um empréstimo (5,42b): Aqui o contexto é bem conhecido: as desapropriações por causa da violência romana (anos 60/70) levaram muitas famílias a perder seus bens. Então iam a outras cidades e buscavam auxílio junto aos irmãos cristãos.  Estes os acolhiam com generosidade e lhes faziam empréstimos para que pudessem reorganizar a vida. Mas a situação era tal que não havia como pagar e os mesmos voltavam a pedir mais. Então começavam a negar-lhes (6,12; 18,23-25).

Em todos estes casos vê-se como a vítima não devolve a ofensa, mas mostra-se sempre bondoso: enfrenta o problema com uma atitude diferente; anula a tensão do agressor; e desarma, de maneira inusitada, a agressão. Não se afronta o mal de maneira passiva, mas com uma atitude de violência a si mesmo que corresponde ao fazer o bem ao inimigo. A raiz de tudo isso veremos amanhã.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Que faço quando me sinto agredido? Como controlo a raiva? Como pede Jesus que façamos nestes tipos de situações? Qual é o princípio e o valor? Em que bem-aventurança se inspira?
  2. Para um discípulo do Senhor a solução dos problemas deve consistir unicamente em evitá-los ou esquivar-se, ou há algo mais?
  3. Que é que se tem que buscar em última instância na solução de um problema?

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TERÇA-FEIRA

Mateus 5,43-48

ESCOLA DE VALORES (V): UMA VIDA DE FILHOS QUE REFLETE O AMOR PERFEITO DO PAI

 “Vós, pois, sede perfeitos como é perfeito vosso Pai”

A justiça do Reino, a que gera vida e fraternidade, é a que dá pleno sentido à Lei e aos Profetas. Mas Jesus não veio dar-lhe cumprimento, exigindo observância mais rigorosa da Lei. De fato, a Lei não faz, senão assinalar o que o Pai quer que façamos, mas não tem força para fazer-nos realizar sua vontade.

A última lição que Jesus dá, nesta escola de valores que ensina a conviver no estilo do Reino de Deus, é precisamente isto: o que dá plenitude à Lei é a identificação com os comportamentos e atitudes do Pai celestial: uma vida de Filhos de Deus: sede perfeitos como é perfeito vosso Pai celestial (5,48).

Aqui já não se fala dum valor específico e, sim, da fonte de todos os valores: a perfeição do Pai. Mesmo que Deus Pai seja perfeito em tudo que possamos imaginar, aqui se está mencionando ao que mais o caracteriza com relação a nós: o amor (ver Lc 6,39, como aparece claramente o termo “misericórdia”).

As bem-aventuranças levam a viver segundo o Coração do Pai. As “boas obras”, que refletem a luz da vida nova dos discípulos, são aquelas que fazem notar uma vida de “filhos”, filhos que levam em si a marca da personalidade do Pai: “para que vendo… glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (5,16). 

Os bons filhos honram seu nome. Portanto, o critério último de ação não é a “Lei” escrita e, sim, o modo de ser do Pai, que se refletiu, nitidamente, na prática de misericórdia de Jesus de Nazaré.

1. A situação

Tenho um inimigo.No tempo de Jesus, quando se cita o antigo mandato de “odiar” e, também, de limitar as relações com o próximo, pensa-se no irmão israelita. Mas, agora, anos depois, já no tempo das comunidades, provavelmente, se está pensando nos inimigos da comunidade. Recordemos que, ao final das Bem aventuranças, se ressalta que as comunidades estavam sendo perseguidas (5,10-12).

É dentro deste horizonte que se descreve a última lição, onde o “ódio ao inimigo” (5,43) pode ser válido para quem conhece a “Lei” (Lv 19,18), mas, não mais para quem fez a experiência de Jesus ressuscitado. Não mais para quem já vive na esfera do Reino.

2. O Coração do Pai como modelo que inspira a vida do discípulo

O homem velho costuma pensar assim: “de um lado, os meus amigos e, do outro, os meus inimigos. Aos primeiros eu me dirijo, aos outros não”. Deus Pai não é assim: ele “faz brilhar seu sol sobre maus e bons, e chover sobre justos e injustos”. No coração de Deus, Pai de Jesus, cabe todos.

3. Aplicação: um amor sem limites e com capacidade de regenerar

A menção do “sol” e da “chuva” é uma referência às bênçãos que Deus providencia aos seus: com elas Deus mantém e faz prosperar o que criou.

Que Deus ilumine e conceda prosperidade a uma pessoa “” ou “injusta”, indica que – assim como acontece com o sol e a chuva – o amor do Pai não se limita aos que o amam, mas o oferece, gratuitamente, e sem distinções, mesmo a quem não o merece.

Assim age o discípulo de Jesus com quem o persegue e o causa dano, a ele e à comunidade. Por isso Jesus muda a frase “odiar o inimigo” por “amar o inimigo”. A maneira concreta de amá-lo é incluí-lo em sua própria vivência do Deus Pai, no Reino: “rogai pelos que vos perseguem” (5,44b). Então o Deus do Reino o transformará com suas bênçãos.

Realiza-se, assim, o segundo passo o modo de enfrentar uma inimizade: transformar o inimigo com o poder regenerador do Reino.

A atitude fundamental de um discípulo de Jesus é o amor, que só deseja o bem, faz o bem, e, assim, torna o outro bom. Como afirma São Paulo: “Não te deixes vencer pelo mal; antes, vence o mal com o bem” (Rm 12,21). Assim se corta o mal pela raiz. Enfim, uma maneira de ser diferente e fazer a diferença.

Enfim, uma maneira de ser diferente e especial. Uma pessoa que age assim, evidentemente, é diferente de outra que não “conhece” o que é viver sob a graça da filiação divina. Exemplos claros são: o publicano, que vive em seu pecado, e o gentio, que adora outros deuses (ver 5,46-47).

Eles amam (nada mais) aos que os amam e saúdam (não mais que) aos de seu estrito círculo de amizades.  Por outra parte, o discípulo é claramente diferente porque, o motivo fundamental que inspira seu agir, é o amor perfeito, primeiro e criador do Pai celestial.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Por que sinto antipatia ou aversão? Há alguém quem não abro o coração ou que decidi excluir dele?
  2. Meu coração é capaz de acolher a todos, como o de meu Pai celestial?
  3. Parece que o Senhor me pede demasiado? Isto me desanima? Que fundamento que me faz crer que amar é possível ainda que as circunstâncias sejam adversas?

QUARTA-FEIRA

Mateus 6,1-6.16-18

SABER-NOS AMADOS PELO PAI

“Teu Pai, que vê no segredo, te recompensará”

Na lição anterior do Sermão da Montanha vimos como Jesus educa os discípulos para que cortem o mal pela raiz. Agora Jesus aprofunda no que deveríamos considerar como o mais alto ponto deste Sermão: na raiz da vida está Deus Pai que “vê no segredo”.

A relação com Ele nos dará a força para vivermos positivamente todas as demais relações. Como aconteceu na seção anterior (Mt 5,21-48), que trata das relações com os demais, a justiça – ou justa relação – com Deus deve ser “superior”, “diferente” para todo aquele que vive no âmbito do Reino.

Já desde o início desta nova seção (Mt 5,1-18), que trata da relação com Deus, se sente a exigência: Cuidado de não praticar vossa justiça diante dos homens para serem vistos por eles; do contrário não tereis recompensa de vosso Pai celeste(6,1).

Que didática utiliza Jesus desta vez? Como na seção anterior, mais que propor normas, a proposta é fazer da vida um contínuo ato de discernimento das situações. Seguindo o fio condutor da pergunta em que se baseiam nossas relações com Deus?

Jesus faz uma revisão sobre as três obras de piedade que unem o coração do homem a Deus, típicas da cultura religiosa hebréia: (1) a esmola (6,1-4); (2) a oração (6,5-15); e (3) o jejum (6,16-18).

Em cada uma dessas obras de piedade faz, esquematicamente, a mesma contraposição que diferencia a prática dos fariseus e escribas da prática de um discípulo seu: não faças (isto ou aquilo)”, “tu, ao contrário (6, 3.6a.17). Todas as contraposições acabam sempre do mesmo modo: Teu Pai que vê em segredo, te recompensará (6, 4.6b.18). Esta observação analítica de diversas práticas religiosas que põem uma pessoa em comunhão com Deus expõe no fundo as perguntas: De onde parte a espiritualidade? Qual sua finalidade?

As comparações estabelecidas por Jesus fazem emergir atitudes corretas e incorretas; o discípulo deverá analisar a si mesmo e tomar decisões. A repetição do verbo “ver” (7x na passagem de hoje), concretamente o “ser visto”, a necessidade humana do reconhecimento – nos dá a pista para a abordagem do texto.

1. A esmola: para que me vejam?

O primeiro caso (vv.1-4) é o da pessoa que ajuda outros com o fim de obter boa fama. É a caridade com “publicidade” (“trombetear em público”, 6,2), para “ganhar pontos”. A motivação são os aplausos: ganhar privilégios ante as pessoas e adquirir poder. Se isso é o que busca, já recebeu o prêmio. Mas, para Jesus, o gesto deve ficar entre a pessoa e Deus. A recompensa nesse caso é a profundidade da relação com o Pai.

2. A oração: para que me vejam?

O segundo (vv.5-6) nos coloca ante a situação de quem faz da oração um instrumento de promoção pessoal. Para Jesus isto, assim como no caso anterior e no que vem, é uma hipocrisia, a oração perde sua finalidade que é a comunhão profunda com Deus, que nos faz entrar no âmbito de seu poder criador e transformante desde o mais profundo de nosso ser; precisamente ali onde não pode chegar os olhares dos outros.

A fim de indicar este espaço de intimidade, Jesus fala de “entrar no quarto” e “fechar a porta”, para enfatizar que a oração é, sobretudo, relação com o Pai, que está escondido, quer dizer, fora de nosso controle, nos “recompensará”, ampliando seu reinado em nossas vidas.

3. O jejum: para que me vejam?

Na piedade dos fariseus, o jejum reforçava a oração: tinha valor de penitência, mas, também, quando coletivo, era um modo de pedir a Deus o Messias. De outro lado, a privação de alimento é fonte de vida em vários aspectos; assim, quando uma pessoa jejua dá mais vida a seu organismo, dando-lhe oportunidade de repor-se.

Também é um gesto de solidariedade para com quem está passando fome, que se concretiza logo no partilhar o alimento que se deixou de comer, para que outros tenham vida.Agora, quando uma pessoa jejua, é difícil que não se note que está passando fome. Pior é quando isto se faz intencionalmente: através do corpo desfigurado anunciar ao mundo que está jejuando (6,16-18). Então algo tão sagrado se converte em um ato hipócrita.

Jesus insiste que o jejum deve ser em segredo, na intimidade com o Pai.Enfim, nos três casos anteriores se faz notar uma falha na vida espiritual, ainda que dentro dum esforço espiritual. Quando uma pessoa faz as coisas para “ser visto” e está buscando confirmação, aprovação, reconhecimento; portanto, não entendeu ou assumiu que Deus Pai tem estado ai amando-lhe, e que conta com sua confirmação, aprovação e reconhecimento, em poucas palavras, que o ama desde o mais profundo de seu ser.

O caminho correto da espiritualidade parte deste estar “cara a cara” ante o Pai, de quem recebemos vida e afeto. Então projetaremos este amor aos demais e não a avidez de um reconhecimento, que no fundo, indica uma profunda carência.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Que objetivo tem a esmola, a oração e o jejum? Que âmbitos de relação estão implicados em cada?
  2. Uma criança faz coisas para chamar a atenção dos adultos. De quem espera maior atenção? De onde parte a relação com Deus? Qual o fundamento e a primeira palavra?
  3. Que valores pretende promover este ensinamento? Que anti-valores quer corrigir?

QUINTA-FEIRA

Mateus 6,7-15

NOSSA CONVERSÃO: ORAR COMO FILHOS

“Devem orar desta maneira”

O Evangelho deste dia nos leva outra vez ao “discurso da montanha”, para aprender, na contemplação e na escuta do Mestre, a orar e a viver como filhos de Deus.

1.  Renovar a relação de amor com o Pai (6,7-8)

O Pai nosso é a oração de Jesus, o Filho amado, que por pura gratuidade nos participa o que Ele é, nos faz iguais, filhos n’Ele e como Ele, até o ponto que possamos dirigir-nos ao Pai com seu mesmo espírito: “Abá, Pai!” (Rm 8,15).

Ensinando o Pai Nosso, Jesus partilha com os discípulos a relação de amor que vive com o Pai; por isso, os discípulos “não multiplicam as palavras como os pagãos” (Mt 6,7), pois, têm colocado a sua confiança no Pai que os ama e conhece suas necessidades:não sejais como eles, porque antes que peçam, o Pai sabe o que necessitam(6,8).

2.  O Pai-Nosso (6,9-13)                   

Pai!”. Jesus não chamava a Deus “Pai”, mas “Abbá”, que é uma expressão de familiaridade própria do filho na relação com seu pai. Em português, poderíamos dizer “Papaizinho, paizinho lindo”. Isto nos leva a entender, que Jesus tratou sempre a Deus, com a confiança de uma criança a seu papai, e assim quer que façamos também.

A Palavra Nosso nos faz reconhecer que, é na paternidade de Deus onde se fundamenta nossa fraternidade, somos irmãos, filhos amados do Pai, todos viemos da mesma fonte! Nos sete pedidos do Pai-Nosso, Jesus nos ensina a pedir ao Pai o que Ele quer nos dar.

Os três primeiros pedidos

  • Santificado seja teu Nome: Que o Pai seja reconhecido como Deus por todos;
  • Venha teu Reino: Que ao reconhecer-nos como filhos de Deus, nós possamos viver a justiça, a igualdade e a solidariedade; o Reino do Pai é a fraternidade de seus filhos;
  • Faça-se a tua Vontade: que se realize seu projeto eterno sobre cada um de nós, reproduzindo em todos à imagem de seu Filho (Rm 8,28).

Com estas petições, Jesus ensina que a oração, é sair de si mesmo, e entrar em sintonia com o coração do Pai, para querer o que Ele quer de nós, porque sabemos que o Pai nos ama e nos quer felizes.

Os outros quatro pedidos:

Os quatro pedidos seguintes nos fazem olhar o Pai, como o doador de todo bem, que cuida e se compadece de seus filhos.

  • Dá-nos hoje o pão de cada dia

Confiados no Pai, Deus dá vida, pedimos o pão, as possibilidades de trabalho, de sustento, com as quais segue recriando nossa vida. Pedimos também o Pão do céu, Jesus Eucaristia, alimento que perdura e não nos deixará morrer jamais;

  • Perdoa-nos, como nós perdoamos aos que nos ofendem

Com esta súplica, Jesus quer ajudar a manter viva a consciência que, somos pecadores, mas n’Ele e por Ele, podemos esperar confiantes a misericórdia do Pai; a sã consciência de nosso pecado, nos situa na humildade e nos faz abertos, tolerantes e compreensivos uns aos outros, dispostos ao perdão e à misericórdia. Por isso, para Jesus é obvio que quando suplicamos o perdão do Pai, já nos temos perdoado entre nós.

  • Não nos deixeis cair em tentação”

Jesus nos situa na humildade de coração, que nos retira de nossa autossuficiência e nos faz depender confiadamente da misericórdia;

  • “e livra-nos do mal

E nos faz depender confiadamente, também, do poder do Pai, que em Jesus, já nos livrou do pecado e das forças do mal;

Estas petições estão marcadas por um profundo sentido de solidariedade e fraternidade, que agrada ao Pai e lhe permite ver e ouvir, em nós, a oração de Jesus, seu Filho amado. O Pai-nosso identifica nossos sentimentos com os de Jesus, nos faz partícipes de sua identidade, oramos n’ Ele, por Ele e como Ele.

Cultivemos a semente da Palavra no coração.

  1. Que partilha conosco Jesus ao ensinar-nos o Pai-Nosso?  
  2. Das petições, qual a que mais me identifico e por quê?
  3. Em que faço consistir, concretamente, minha relação com o Pai? Somente peço coisas ou também sei bendizer seu nome?

SEXTA-FEIRA

Mateus 6,19-23

O TESOURO ESCONDIDO ESTÁ DIANTE DOS MEUS OLHOS:

 “Que eu não me engane ajuntando tesouros em trevas”

O texto está no contexto do grande Sermão da Montanha, como já sabemos, e nos apresenta dois temas:

  • O verdadeiro tesouro (6, 19-21).

(v.19): “Não ajunteis para vós tesouros na terra…”.

            Trata-se de uma ordem de Deus, de um imperativo, tomado em sua forma negativa.

 (v.20): “… mas ajuntai para vós tesouros no céu…”.

            Aqui temos a mesma ordem de Deus apresentada em seu sentido positivo.

 (v.21): “pois onde está teu tesouro ai também está teu coração”.

            Aqui temos um princípio eterno, ou seja, uma verdade imutável.

Nos dois primeiros versículos, nos é transmitida a garantia de que existe um tesouro celeste, não sujeito à corrupção, mas, que são as boas obras, feitas de coração puro, que nos abrem os olhos para “ver”, tomar posse dele e fazer com que outros o conheçam. No contexto do Sermão da Montanha, onde se encontra o nosso texto de hoje, estas boas obras correspondem à prática das bem-aventuranças.

Proceder de outro modo seria, pois, viver nas mal aventuranças, ou seja, nas desventuras. O discípulo encontra, neste Sermão, a vontade do Pai, à qual estão reservadas as devidas bem-aventuranças ou bênçãos. Não é demais repetir: deixar-se guiar por outra direção, ou seja, por nossas próprias vontades é, pois, pura insensatez.

Seria seguir nas maldições que estão sutilmente unidas a toda cobiça, a todo apego humano aos tesouros terrenos – interiores e exteriores – em que somos envolvidos por meio da sedução do “príncipe deste mundo” e, que são fáceis de serem destruídos e roubados.

(2) O olho é a lâmpada do corpo (6,22-23):

(v.22): “A lâmpada do corpo é o olho. Portanto se teu olho…”.

             Aqui não se deve confundir lâmpada com luz. A lâmpada não é a luz, apenas a recebe e ilumina.

(v.23): “… mas se o teu olho estiver doente, todo teu corpo…”.

             Consideremos a lâmpada da sala de nossa casa, ela pode estar boa ou “queimada”.

Aqui não se trata de nosso olho de carne, que podemos até perdê-lo. Trata-se do olho interior. Assim, este dois versículos afirmam que todos nós temos um “olho interior”, além de nosso “olho de carne”.

Ora, se o nosso “olho de carne” recebe luz material para se vê tudo o que está ao nosso redor, o nosso olho interior recebe luz divina para vermos tudo o que o outro não pode ver, pois a nossa visão humana é limitada. Essa lâmpada interior, apesar de estar sempre dentro de nós e ter sido dada por Deus, ela pode ficar impedida de receber a luz de Deus, por causa do pecado.

E quando isso acontece, toda a nossa casa interior fica no escuro. Ninguém gosta de escuro. Sabe por quê? Porque somos filhos de Deus e “Deus é Luz e n’Ele não há nenhuma treva” (I Jo 1,5b). E é ai que se encontra o perigo. Exatamente porque o diabo sabe disso. E, quando isso acontece, depressa vem e nos oferece um “socorro infernal”, ou seja, uma falsa luz, que nos faz ver tudo de modo distorcido.

Uma luz perniciosa que é capaz de fazer com que mentiras se pareçam com a verdade e verdades se pareçam com a mentira. A verdadeira luz, que recebe a nossa lâmpada interior (nossa consciência), é o dom da Fé. Não uma fé que se deixa levar por qualquer vento de falsa doutrina. Até mesmo doutrinas declaradamente diabólicas como vemos tanto nos nossos dias. Não uma fé que só crer que Jesus é o Filho de Deus, contudo, não confia n’Ele e não entrega a sua vida a Ele!

Não esta fé. Mas a fé como dom de Deus, o tesouro divino. Esta foi confiada, por nosso Senhor Jesus à sua Igreja, por meio dos apóstolos, a fim de conservá-la pura, sem adulteração, para iluminar os filhos, de geração em geração, até o fim dos tempos. Por ela e por esta santa causa uma multidão de santos e de santas, a começar pelos apóstolos, já sofreram o martírio de sangue antes de nós e muitos estão dispostos a fazer o mesmo em todos os tempos, se isso lhes for pedido. Isso é o dom da fé verdadeira.

Esta fé como autêntico dom divino chega até nós através dos dois depósitos sagrados pertencentes à Igreja de Jesus Cristo: a Sagrada Escritura; e a Sagrada Tradição. E com a garantia de vitória sobre todo o mal e todas as perseguições: “Mas eu também te digo, que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja; e as portas do inferno jamais prevalecerão contra ela”(Mt 16,18).

Por isso é que São Paulo vai dizer: “sem a fé é impossível agradar a Deus” (Hb.11,6). Já dizia, também, São João Eudes: “o dom da fé é uma luz que nos faz ter uma participação antecipada da visão de Deus e, portanto, o primeiro fundamento da vida cristã”.

Mas, quando São Cura d’Ars conheceu um camponês analfabeto que todos os dias, ficava imóvel e calmo, por longo tempo, com os olhos fixos no altar da Eucaristia, perguntou-lhe, admirado, como era a sua oração. E muito mais admirado ficou ao ouvir dele esta resposta: “Eu olho para Ele e Ele olha para mim!” Este homem tinha, sem dúvida, o mais alto grau de “visão”, isto é, tinha nos olhos a visão encantadora de Deus.

Como também São Boaventura. Por causa de suas constantes lágrimas, veio a sofrer dos olhos, mas quando o médico disse que deveria parar de chorar para não perder a visão, disse que preferia per­der a visão dos olhos da carne a sufocar a ação do Espírito Santo, refreando as lá­grimas que limpam os olhos da alma e os tornam capazes de ver a Deus.

Ver Deus era o imenso desejo que ele expressava todos os dias ao rezar o Pai-nosso: “Venha a nós o vosso Reino… deixe-nos entrar no vosso reino, onde veremos, a vós mesmos, sem véu e sem sombras…”. Ele suspirava por essa felicidade e sempre repetia: “Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus”(Mt 5,8). E assim conseguiu “ver”, constantemente, o grande objeto de seu desejo.

Todos os caminhos do Evangelho passam todos pelo coração do homem. Por isso, os tesouros terrenos não podem dominar o coração humano. O homem precisa purificar o seu interior, onde nasce à verdadeira “visão”, que dá o sentido autêntico de sua existência.

Cultivemos a semente da palavra no profundo do coração

Tu, o que és? Rico ou pobre?

Muitos dizem: eu sou pobre, e dizem a verdade.

Vejo pobres que possuem alguma coisa; vejo alguns que são completamente indigentes.

Mas (a cruz em suas mãos), aqui está um, em cuja casa abunda

o ouro e a prata; ó se ele soubesse como é pobre!

Reconhecê-lo-ia, se olhasse o pobre que está perto dele.

Aliás, seja qual for tua opulência, tu que és rico, não passas

de um mendigo à porta de Deus.

Eis a hora da oração…

Fazes os pedidos; o pedido não é uma confissão da tua pobreza?

De fato, dizes: “O pão-nosso de cada dia nos dai hoje”.

Então, tu que pedes o pão quotidiano, és rico ou pobre?

E, contudo, Cristo não tem medo de nos dizer: “Dá-me o que eu te dei.”

De fato, que é que trouxeste ao vir a este mundo?

Tudo o que encontraste na criação, fui Eu que o criei.

Tu não trouxeste nada, não levarás nada.

Porque não me dás o que é meu?

Tu estás na abundância e o pobre na necessidade, mas remonta

ao início da vossa existência: ambos nasceram completamente nus.

Mesmo tu, nasceste nu.

Em seguida tu encontraste aqui em baixo grandes bens;

mas trouxeste por acaso alguma coisa contigo?

Peço, pois, o que dei, dá e Eu restituir-te-ei

(Santo Agostinho)

SÁBADO

Lucas 1,57-66.80

  1.  Nascimento e vida oculta de João Batista e de Jesus

(Nascimento e visita dos vizinhos;

     

circuncisão e vida oculta de João Batista)

NO MENINO UM SINAL DE ESPERANÇA:

converteu-se em lugar da experiência de Deus

Como será a glória do juiz, se a glória do arauto é tão grande?

Como será aquele que deve vir como “o Caminho” (Jo 14,6),

se o que prepara o caminho (Lc 3,6) já é assim?…

 (Santo Agostinho)

“Digo-vos que dentre os nascidos de mulher

não há ninguém maior do que João” (7,28).

Introdução

Ante o menino recém nascido, a expressão dos pais de família não deveria ser outra que a do Salmo 139,14: “Te dou graças por tantas maravilhas!”.

Se olharmos, atentamente, o texto de hoje, que narra as circunstancias do nascimento de João Batista, notaremos que na boca de todos os personagens há expressões de alegria e de louvor.

O nascimento de João nos convida a descobrir as atitudes com que deveríamos receber a vinda ao mundo das novas criaturas. É verdade que a vinda de João é, em primeiro lugar, um acontecimento próprio dele.

João, nos evangelhos acumula muitos títulos, o suficiente para merecer nossa atenção em um festejo de seu nascimento. O próprio Jesus teceu sobre ele elogios tais como: “ele era a lâmpada que ardia e iluminava” (Jo 5,35); “não surgiu entre os nascidos de mulher um maior que João” (Mt 11,11).

Porém, já desde seu nascimento o menino era rodeado de elogios. Estes elogios partiram:

  • da felicitação à mãe (se subtende o pai) pois “o Senhor lhe havia feito grande misericórdia” (Lc 1,58);
  • do cântico gozoso do pai; e dos comentários positivos da vizinhança.

Todos eles nos convidam a pôr-nos ante ao mistério do menino que nasce.

Por isso, vale a pena reler o evangelho de hoje, observando as relações familiares, particularmente do ponto de vista dos pais e, também, os outros adultos que rodeiam a família, para que vejamos as atitudes evangélicas com que se recebe um filho.

Sugerimos começar lendo o texto por conta própria anotando o que faz cada um dos personagens:

  • a mãe;
  • o pai;
  • os familiares;
  • os vizinhos;
  • e o grande protagonista: Deus.

Logo veremos como tudo converge para as “boas vindas” que se dá ao filho. Nas linhas que seguem vamos nos deter neste último enfoque.

Um filho desejado e esperado com amor

Para os pais de João, a vinda do menino foi uma surpresa total. Mesmo que o tenham desejado, ardentemente durante toda sua vida, o filho chegou no momento menos esperado: quando já eram anciãos: “Eu sou velho e minha mulher de idade avançada” disse Zacarias em Lucas 1,18.

Com razão, a primeira reação do pai foi não dar crédito às palavras do anjo, naquele dia, no Templo (1,20).

Ainda que fosse claro que o queria, o estupor vivido naquela cena da anunciação nos mostra que naquele dia Zacarias compreendeu que seu filho era desejado, em primeiro lugar, por Deus.

Porém, o maravilhoso é isto: ainda que inesperado, o menino que havia sido toda uma vida desejado, provêm de onde saem os desejos mais profundos: a oração.

O dom da vida de João foi acolhido num ambiente de oração:

  • O pai recebe a noticia em oração: “teu pedido foi escutado” (1,13);
  • Ao longo da gravidez, a mãe não fez outra coisa senão orar bendizendo a Deus pelo amor que lhe teve: “Isto é o que tem feito por mim o Senhor…” (1,25); e

A festa passa do coração da mãe à toda a família e vizinhos tão logo nasce o menino. Nesta festa familiar todos reconhecem no menino um sinal da presença de Deus(“enchem- se de temor”,1,5) e reconhecem que: “a mão do Senhor estava com ele” (1,66; 1,58). 

Na realidade, a festa já havia começado há três meses. Durante sua gravidez, tanto a mãe como o menino, ainda no ventre, tiveram a graça de viver uma forte experiência de Deus.

Novos sinais confirmaram a decisão de receber o menino: o encontro com Maria atraiu a efusão do Espírito sobre mãe e filho, em sua entranhável comunhão. Então o menino dançou de alegria e a mãe cantou as bênçãos da obra de Deus na maternidade e na fé da “Mãe de meu Senhor” (1,41-45).

Nesse momento, Maria – a primeira a festejar – havia ido ver o sinal que lhe havia dado o anjo (ver 1,36). Maria comprovou no nascimento de João que “nenhuma coisa é impossível para Deus” (1,37).

No caso da vida de Zacarias e Isabel, acontece como a Abraão e Sara, que também eram anciãos e com uma vida de casal triste, pela incapacidade de gerar.

Como conta o livro do Gênesis, a concepção, gestação e nascimento do filho, lhes abriu os olhos ante a grandeza de Deus, quando as circunstancias pareciam adversas: “Acaso existe algo de tão maravilhoso para Yahweh?” (Gn 18,14). 

O riso de Sara se repete em todas as mães e pais: não um riso irônico, de desconfiança pelas palavras “impossíveis” de Deus, mas porque, no filho, Deus entra na família para trazer uma imensa felicidade.

O filho é sinal da presença do Deus da vida. A paternidade-maternidade é uma profunda experiência de Deus. Uma mãe e um pai deveriam dizer de seus filhos: “Deus me tem dado uma grande alegria”.

Um filho que renova sua família

A noticia de uma gravidez sempre causa alguma surpresa. A vida do casal começa a mudar. Mas o que não se pode perder de vista, desde o começo, é que, seja esperado ou indesejado, todo filho é uma maravilha de Deus e é querido por Deus, se bem que dependa, também, da decisão livre de seus pais.

A vinda de João introduz mudanças na vida da anciã e do solitário casal. Para Isabel foi a plenitude de sua feminilidade: a fecundidade. Não seria mais tida como estéril, mas como uma mulher profundamente amada e considerada por Deus: “O Senhor lhe tinha feito grande misericórdia” (1,58).

A vida do sacerdote do Templo, Zacarias, chegou, também, à plenitude de sua vocação quando, invadido pelo Espírito Santo, começou a profetizar, contemplando, com grande alcance, o horizonte do evangelho que estava por vir (1,67).

Mas, isto foi provocado pelo nascimento de seu filho João: ”E a boca imediatamente se lhe abriu, a língua desatou-se e falava, bendizendo a Deus” (1,64). 

A verdadeira palavra vem do silêncio, como foi com Zacarias: a vinda inesperada do filho “desejado” o fez passar por todas as fases da comunicação profunda e autêntica: palavra-silêncio-palavra.

Enquanto o filho estava em gestação, também Zacarias acolhia e fazia crescer dentro de si, durante nove meses de mudez, a nova obra que Deus estava realizando nele, até que chegou, também, a ele, o parto de uma palavra amadurecida no coração, a saber: cumprimento (1,63); e profecia (1,67-79).

Zacarias aprende de novo a falar; suas palavras, daí em diante, serão as de Deus. Não é assim que deveria gestar-se uma fluida e transparente comunicação em cada comunidade, em cada família?

Todos estes detalhes de valorização do casal, de reconhecimento e plenitude da feminilidade, de realização pessoal do pai, de novos níveis de comunicação autêntica e profunda, são o resultado da acolhida amorosa do filho e expressão patente da obra da Palavra de Deus na família.

Um filho é grande luz para a família e fonte de esperança para a humanidade

O que ocorre a João é apenas prelúdio do que está para ocorrer com a vinda de Jesus. O mistério deste menino está iluminado e, de seu lado, também iluminará, pelo mistério do menino divino.

Por isso, no texto se destacam dois movimentos:

  • um dentro da casa (familiares e vizinhos); e
  • outro fora, na região, “em toda a montanha da Judéia” (1,65).

O movimento dentro da casa se dá em torno ao nome do menino, sempre motivo de discernimento e acordo em todo casal; trata-se de uma decisão que afetará, para sempre, a vida do menino.

Segundo os costumes orientais, o nome identifica a missão ou origem do recém-nascido. Do ponto de vista do evangelho, o nome identifica a toda nova ovelha do rebanho e constitui um projeto ao qual corresponde a vocação do que o leva (ver Jo 10,3). 

Pergunta-se a Zacarias o nome e este escreve na tabuinha: “João é seu nome” (1,63).

Vale a pena destacar:

  • Que a mãe e o pai estão em completo acordo a respeito. A mãe corrige os familiares: “Não; tem de chamar-se João” (1,60). Sinal de comunhão do casal;
    • Que este nome significa “Deus fez misericórdia”, o qual é a síntese da historia de seus pais, mas também o maravilhoso programa de vida de João: a grande dignidade que lhe concedeu Jesus;
    • Que o nome vem do mesmo Deus (1,13). No nome há uma missão: Deus tem um sonho para cada um dos seus, e para isso, concede os dons, talentos e graças para cumprir o melhor possível sua tarefa, por menor que seja, de colaborar com seu serviço, seu “grão de areia”, à humanidade.

Finalmente, em toda a região, onde o nascimento de João se torna evangelho, a pergunta sempre é a mesma: “Que será deste menino?

O menino se converteu em lugar da experiência de Deus, porque o povo não via somente um menino, mas que “a mão do Senhor estava com ele” (1,66). De fato, desde seu nascimento “o Profeta do Altíssimo” vai adiante do Senhor para preparar seus caminhos (1,76).

Se com ele é suscitada tanta admiração, como será quando nascer o salvador? O nascimento do menino aplaina os difíceis caminhos do conhecimento do salvador.

O povo contempla no recém-nascido uma missão e uma mensagem: “Que será deste menino?. Não haverá que fazer-se a mesma pergunta cada vez que nasce um menino e se toma a frágil e maravilhosa criatura nos braços?

Então teremos que saber olhar longe e comprometer-nos e fazer tudo o que esteja ao nosso alcance para que seu crescimento, amadurecimento, situação no mundo e realização plena sejam possíveis (ver 1,80)

Zacarias, diante de seu filho recém nascido e junto a sua mãe emocionada e tão amplamente felicitada, contempla horizontes novos de esperança, no gozo do Espírito Santo.

No menino se contempla um futuro repleto de promessas. Na vida de cada menino se deve descobrir um anúncio daquele menino que nos traz a vida plena.

Nenhuma outra palavra pode exaltar tanto um nascimento como esta:

“Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimido seu povo, suscitando-nos uma força de salvação… E a ti, menino, te chamarão Profeta do Altíssimo, porque irás adiante do Senhor a preparar seus caminhos, anunciando a seu povo a salvação, o perdão de seus pecados… Pela entranhável misericórdia de nosso Deus, nos visitará o sol que nasce do alto, para iluminar os que vivem na treva e na sombra da morte, para guiar nossos passos, pelo caminho da paz” (1,68-69.76-79)

O menino “surpresa” de Isabel e Zacarias, o menino “surpresa” de Sara e Abraão, e por que não, todos os meninos que vêm – esperados ou de improviso – a este mundo, são fonte de alegria e esperança. A grandeza de sua pequenez é um anuncio da passagem e da vinda de Deus entre nós.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Quais foram as circunstancias que rodearam o nascimento de João Batista? Que diziam seus parentes e conhecidos? Como reagiram seus pais?
  2. No diálogo com meu esposo/a recordo qual a nossa reação no momento do nascimento de cada um de nossos filhos. Como é nossa relação hoje com eles? A presença deles é um motivo contínuo para louvar e agradecer a Deus?
  3. Como estamos ajudando e acompanhando nossos filhos para que cresçam,amadureçam e se estejam corretamente no mundo como Deus quer de cada um?
  4. Como podemos como família ajudar a que nossos vizinhos sejam cada dia mais conscientes de sua responsabilidade de ser bons pais e educadores e ao mesmo tempo os filhos respondam com empenho a sua preocupação por eles?
  5. ‘A verdadeira palavra sempre vem do silêncio’. Assim ocorreu a Zacarias. Que espaços de silêncio e oração favorecemos em nossa família para o encontro com o Senhor?

De uma homilía de San Juan Crisóstomo:

Deixemos falar João Batista:

“Diz, João, Como, ainda encerrado na obscura morada do seio materno, podes ver e ouvir? Como contemplas as coisas divinas?…”

Ele responde:

“Vejo, pois o Sol que está no seio virginal me ilumina e faz ver. Meus ouvidos ouvem, pois estou nascendo para ser a voz daquele que é o Verbo por excelência. Pois considero o Filho único de Deus envolto em carne. Exulto porque vejo o Criador do universo apropriar-se da natureza humana… Sou o precursor de seu Advento e venho, de certo modo, ao encontro de vós, para testemunhar”.

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

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