ESTUDO BÍBLICO NA 12ª SEMANA COMUM ANO B 2021

ESTUDO BÍBLICO NA 12ª SEMANA COMUM ANO B 2021

Comunidade Católica Paz e Bem

SEGUNDA-FEIRA

Mateus 7,1-5:

O JUIZO FEITO SEM AMOR ANTE AS FALTAS DOS OUTROS

“Não julgueis para que não sejais julgados”

O ensinamento de Jesus no Sermão da Montanha tem nos levado a examinar os valores do Reino que inspiram o comportamento de um discípulo do Senhor em suas relações com os demais (Mt 5,21-48).

Visto que antes de tudo se trata de refletir com “boas obras” (5,16) o rosto amoroso do Pai celeste em uma vida de filhos, o ensinamento versou logo em como cultivar a relação com o Pai (6,1-18).

Da relação com os irmãos e com Deus, a aprendizagem da justiça do Reino, se passou à relação com os bens da terra (6,19-34). Desta forma já se tem abordado os pontos essenciais para uma vida de discipulado.

Sem dúvida, ficam ainda por examinar três critérios do comportamento cristão na vida cotidiana. Estes são:

(1) o juízo (7,1-4);

(2) o discernimento (7,6);  

(3) a oração (7,7-11).

Estes terminam com o anúncio de uma regra geral (7,12).

Examinemos o primeiro ponto: o juízo (7,1-4).

A relação com o próximo significa também relação com suas falhas. Nossa tendência –habitualmente- é insistir nas faltas dos demais e condenar com dureza. É fácil criticar o outro e chamar a atenção sobre suas debilidades. Jesus mostra quando equivocados estamos quando fazemos isto.

Quando se fala de outra pessoa eventualmente se percebe pouco amor, malícia e inclusive alegria porque à outra pessoa lhe foi mal. Com quanta presunção e soberba se julgam os erros dos outros, sejam pequenos ou grandes, reais ou suposições. Isto pode suceder tanto ao nível de nosso pensamento, como também em meio de conversas.

Jesus disse: “Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgueis sereis julgados (ou seja: Deus vos julgará)” (7,1-2). Aqui se recorda como nossos juízos sobre os outros não ficam sem efeito: com a condenação dos outros, condenamos a nós mesmos. Deus está atrás, na defesa do agredido com nossas conversas: “Deus os julgará”. O que façamos com os outros, fazemos com Deus; desta forma indicamos a maneira como queremos ser tratados por Ele.

Jesus disse: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia (5,7); “Perdoa-nos nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores” (6,12). Portanto, não podemos esperar a bondade, a compreensão, o perdão e a misericórdia de Deus, se rejeitamos nosso próximo com juízos sem amor, sem consideração, nem compreensão.

Não devemos fechar os olhos frente aos erros ou debilidades dos outros, o que se pede é que os valorizemos objetivamente, quer dizer, sem comprazer-nos nele, com liberdade interior, com misericórdia, sabendo que também nós necessitamos da compreensão do próximo e de Deus.

É verdade que os defeitos dos demais são muitos mais evidentes e fastidiosos que os nossos. Podemos ser muito sensíveis no que nos toca e bem mais frios com relação aos outros. Com a imagem da “viga e o cisco”, Jesus nos chama a atenção sobre o perigo de julgar os outros de forma temerária, ou seja, um juízo baseado em enganos e meias verdades.

Para um juízo segundo o coração de Deus se requer:

(a) Não deixar-se guiar pela impressão do momento;

(b) Não precipitar-se para criticar e corrigir;

(c) Olhar-nos primeiro;

(d) Descobrir nossas faltas sem diminuí-las, sem desculpas;

(e) Então, de modo ponderado, chamar a atenção ao outro e ajudar-lhe em seu crescimento pessoal;

(f) Esta correção fraterna não esquecerá o ensinamento de Mt 18,15-17;

(g) Fazer sentir ao outro que o que se disse é porque lhe quer muito.

O ensinamento sobre a objetividade nos juízos, inspirada na imagem da palha e a viga, nos faz cair em conta que não é correto diminuir nossas falhas e agigantar as dos outros, e bem empreender o serviço da correção fraterna pelo caminho justo. Nunca há que falar dos erros dos demais por simples diversão ou por desejo de armar escândalo. Recordemos: Ante tudo a misericórdia!

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Quem gosta que o julguem com dureza e admitiria que suas falhas proclamem-se aos quatro

ventos? Que tem que ver Deus com nosso comportamento ante os defeitos dos outros?

  • Que defeitos de meu ambiente sinto forte desejo que sejam corrigidos? Que coisas me põem particularmente nervoso?
  • Quais são minhas falhas pessoais das quais pouco me recordo e nem levo em conta?

TERÇA-FEIRA

Mateus 7,6.12-14

CRITÉRIOS DE DISCERNIMENTO (I): QUANDO A ELEIÇÃO LEVA A FORTES RENUNCIAS.

 “Que estreita a entrada e que apertado o caminho que leva à vida!”

Depois de apresentar-nos um principio de vida que regula a ação do discípulo (Mt 7,6), e de saltar os vv.7-11 e ler a síntese do v.12, a passagem da liturgia de hoje nos coloca frente à primeira parte da conclusão do Sermão da Montanha (Mt 7,13-14).

  1. Ensinamentos: (vv. 6.12)
  •  A prudência

O v.6 trata sobre a prudênciaque deve caracterizar um discípulo de Jesus. Visto que as comunidades eram perseguidas, era necessário ser cautelosos quanto ao que se dizia fora delas, porque tudo se convertia em motivo de ataque. Esse é o sentido do “não dar aos cães o que é santo, nem lanceis vossas perolas aos porcos,…” (7,6).

Para os judeus o “cão” e “porco” eram animais impuros e utilizavam estas cruéis expressões para referir-se às pessoas que não pertenciam ao povo de Deus. Para o mundo cristão, e em coerência com Mateus (5,8) parece designar uma pessoa não-convertida. 

Pois bem, há acontecimentos, mistérios, eventos, que são próprios da comunidade e que não são entendidos por uma pessoa de fora. Contar aos não-convertidos sucessos internos da comunidade pode significar expô-la ao desprestigio ou à insensatez de quem aproveita qualquer coisa para criticar.

Não esqueçamos que esse tipo de pessoas é capaz de praticar injustiças com o próximo quando estão em jogo seus interesses pessoais.

  •  A reciprocidade

O v.12 apresenta a chamada “regra de ouro”:Tudo quanto queirais que os homens vos façam, fazei também vós a eles; porque esta é a Lei e os Profetas”. Trata-se do principio da reciprocidade: que cada um busque o interesse do outro como se fosse seu próprio interesse.

Este princípio sintetiza todo o ensino do Sermão da Montanha sobre a Justiça do Reino: Jesus dá um espírito novo à antiga doutrina. O Antigo Testamento se faz realidade na Palavra e na práxis de Jesus e da comunidade de seus seguidores.

  • Criterios de discernimento: (vv.13-14)

O Sermão da Montanha não somente dá ensinamentos. Ao final também dá critérios de discernimento para que verifiquemos se temos entrado, realmente, em seu espírito e sua ação. A grande seção de Mt 7,13-27 se refere a estes critérios:

  • Quando a opção se faz “difícil” ou não (Mt 7,13-14);
  • Quando dão “frutos” ou não (Mt 7,15-20);
  • Quando as palavras são postas em “pratica” ou não (Mt 7,21-27).
  • O primeiro critério de discernimento: a eleição da via difícil

A liturgia nos convida a deter-nos no primeiro critério de discernimento: quando a opção supõe dolorosas renuncias (7,13-14).

Toda conclusão recorda o objetivo que se pretende. Recordemos o objetivo do ensinamento do Sermão da Montanha: “entrar no Reino” (5,3.10.20) e que o correto é entrar pela “porta  estreita” (7,13). Se queremos entrar na vida, não podemos deixar-nos levar pelos critérios de ação da massa, mas devemos seguir uma via fatigosa.

Em todo o Sermão da montanha Jesus descreve o caminho que conduz à vida, à vida eterna, que se alcança com a entrada no Reino de Deus. Mas, deixa claro que este caminho não é largo e cômodo, mas fatigante e estreito; é certo que o enfrentaremos com dificuldade. Jesus acrescenta que este caminho, a maior parte das pessoas, não o toma: “e poucos são os que o encontram” (7,14).

Mas, a eleição que se faz é decisiva. Estão em jogo: a vida ou a ruína eterna. Quem quer entrar na vida eterna terá que assumir as dolorosas renuncias que implica – sabendo que quando se elege algo também se deixa de lado algo – e, por outro lado, não deixar-se convencer pelo resto das pessoas.

Para um discípulo de Jesus o comportamento da massa não é critério de ação. Um discípulo sempre caminha na conta-mão.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Sei guardar “os segredos de casa”? Tendo a contar confidencias da vida de comunidade a pessoas externas? Qual seria as conseqüências?
  2. Ponho meus interesses acima dos demais?Oriento-me segundo a vontade do Pai como único critério válido de ação?
  3. Estou disposto a aplicar, de maneira coerente, este critério a meu projeto de vida?

QUARTA-FEIRA

Mateus 7,15-20

Critérios de discernimento (II): O AUTÊNTICO DAR FRUTOS 

Não só deixar-nos atrair “Toda árvore boa dá bons frutos”

pela “massa” (evangelho de ontem) pode desviar-nos do reto caminho, mas, também, a obra dos falsos profetas (evangelho de hoje).

Já Paulo havia descrito o comportamento dos falsos profetas no ambiente cristão: “Esses tais não servem a nosso Senhor Jesus Cristo, e sim a seu próprio ventre, e, por meio de suaves palavras e lisonjas, seduzem os corações dos humildes” (Rm 16,18).

E no discurso de Mileto havia dito aos presbíteros: “Sei que depois de minha partida, se introduzirão entre vós lobos cruéis que não perdoarão o rebanho; e também entre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para arrastar os discípulos atrás de si. Portanto vigiai” (At 20,29-30).

Desde as origens até hoje, não tem sido fácil, aos discípulos, se orientar em meio a todos os ensinos, opiniões, explicações da Escritura, interpretações do presente e do futuro que escutamos. Muitas palavras podem ser inteligentes e bem ditas, mas nem sempre verdadeiras.

Os falsos profetas pregam com a palavra, mas nunca com a coerência de vida; dai vem um critério de discernimento. Jesus não nos convida a discutir ou fiscalizar as palavras, mas, nos remete às obras.

Diz duas vezes: “Por seus frutos os conhecereis” (7,16.20). Isto não é novidade. João Batista já havia pregado: “Dai fruto digno de conversão” (3,8). E, inclusive, havia advertido: “Toda árvore que não dá bom fruto será cortada e lançada ao fogo” (3,10).

Jesus repete hoje esta última frase, mas em tempo presente: “Toda árvore que não dá bom fruto, é cortada e lançada ao fogo” (7,19).

O bom fruto (recordemos em 5,16: as “boas obras”) é o atuar segundo a justiça do Reino, que corresponde à vontade de Deus (ver textos anteriores). Este não pode ser substituído por nenhuma palavra e é o ponto de referência. Quando disto nos descuidamos, vem a ruína (7,19).

A comparação do falso profeta com um lobo disfarçado de ovelha (7,15), mostra até que ponto uma pessoa pode pregar sem estar convertido a ela.

A aparência é boa, mas por dentro segue o homem velho: o cobiçoso e ladrão que submete tudo o que aparece no caminho, a seus interesses pessoais; na verdade, continua sento uma pessoa “selvagem” que não conheceu a educação do Reino.

Por isso as obras seguirão sendo o ponto de referência no discernimento do falso profeta: não importa tudo o que diga, o que conta é o que, afinal, faça. E já sabemos qual é o atuar que se espera.

Todo o Sermão da Montanha ensina qual é o modo de ser justo. Com base neste critério se deve fazer uma avaliação dos frutos de cada árvore, e só a conformidade com o ensinamento de Jesus (os valores do Reino) indica se são corretos ou não.

A consideração das obras deve dissipar a névoa das palavras.

Aprofundemos com os nossos pais na fé:

Santa Teresa d’Ávila (1515-1582), carmelita descalça, doutora da Igreja Castelo interior, 5ª moradas

«Pelos frutos os reconhecereis»

Como é fácil reconhecer aqueles que têm deveras o amor do próximo e os que não o têm com esta perfeição!

Se entendêsseis o que nos importa esta virtude, não faríeis outro estudo.

Quando vejo algumas pessoas muito diligentes em entender a oração que têm e muito encapotadas quando estão nela (que parece não ousam bulir, nem menear o pensamento, para que não se lhes vá um pouquinho do gosto e devoção que tiveram), faz-me ver quão pouco entendem do caminho por onde se alcança a união.

E pensam que ali está todo o negócio. Mas não…; obras quer o Senhor.

E se vês uma pessoa enferma a quem podes dar algum alívio, não se te dê nada de perder essa devoção compadecendo-te dela; e se tem alguma dor, te doa a ti também; e, se for necessário, jejua,para que ela coma. Não tanto por ela, mas porque sabes que teu Senhor quer isso.

Esta é a verdadeira união com Sua vontade.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. A comunidade de fé, à qual pertenço, tem vivido conflitos doutrinais, divisões ou

desvios em matéria de fé e costumes, por parte de falsos líderes?

  • Qual o critério para discernir o falso profeta?
  • Como sei se estou vivendo a Justiça do Reino e entrando assim no Reino dos Céus?
  • Que “frutos” de vida nova estão esperando de mim e que ainda não são vistos?

QUINTA-FEIRA Estudo bíblico solenidade da Natividade de S. João Batista)

ESTUDO BÍBLICO DO DIA

SEXTA-FEIRA

Mateus 8,1-4

MISERICÓRDIA QUE SALVA (I): JESUS SALVA DA MARGINALIZAÇÃO

“Estendeu a mão, tocou-lhe e disse: Quero, fica limpo’”

Com a frase “Quando desceu do monte, foi seguindo-lhe uma grande multidão” (8,1) termina o grande Sermão da Montanha que temos lido. Devemos voltar outras vezes a esse conjunto de ensinos porque neles está plasmado o perfil do discípulo de Jesus.

Observando o início do texto de hoje, podemos notar o bom efeito que teve o discurso em seus ouvintes: o seguimento de muita gente. Isto dá passagem, em seguida, a uma nova seção caracterizada pelos milagres que exibem, continuamente, a potencia de Jesus para salvar.

Na seção de Mt 8,1-9,34 deparamo-nos com 10 milagres (ações de poder de Jesus). Alguns vêem na sequência uma espécie de “crescimento”, outros observam que se apresentam, progressivamente, os elementos da formação de uma comunidade (começa com pessoas que provem da marginalidade, por exemplo).

O certo é que todas as narrações que vêm, em seguida, destacam a ação misericordiosa de Jesus com os necessitados e como vai se formando, desde diversas procedências e situações, um povo abençoado pelas graças do Reino dos Céus.

Desta forma, Jesus revela Deus-Pai em seu infinito amor pelos homens e no seu poder que dá salvação, assim dá validade à sua mensagem sobre o Reino dos Céus.

Os milagres são:

(1) Um leproso (8,2-4)                                     

(2) O criado de um centurião romano (8,5-13)

(3) A sogra de Pedro (8,14-15)

(4) A tempestade acalmada (8,23-27)

(5) O exorcismo dos endemoninhados Gadarenos (8,28-34)

(6) Um paralítico (9,1-8)

(7) A hemorroiza (9,20-22)

(8) A ressurreição da filha de Jairo (9,18-19.23-26)

(9) Os dois cegos no caminho (9,27-31)

(10) O endemoninhado mudo (9,32)

No meio desta serie de milagres vão aparecendo alguns “momentos de repouso” onde relêem o narrado em função de uma maior compreensão da pessoa de Jesus e também do discipulado.

A primeira ação misericordiosa de Jesus se dirige a um leproso (8,2-4). Ele é o primeiro da serie de três excluídos (ver os dois relatos seguintes: o estrangeiro e a mulher): o que menos direitos têm. O leproso é exemplo típico da pessoa marginalizada pela lei da Pureza (que declara o puro e o impuro).

Segundo esta lei, um leproso não tinha acesso a Deus no Templo. Também não havia na cidade e não lhe eram concedidos nenhum de seus direitos. Era submetido à vergonha pública, já que para onde quer que fosse tinha que gritar para que todos corressem para longe dele. 

As mesmas leis de higiene da sociedade aplicavam à relação com Deus. Por isso, em nome de Deus, se podia excluir pessoas que já, por si, tinham suficiente sofrimento com o peso de sua doença e pobreza.

O leproso toma a iniciativa; vê em Jesus uma possibilidade de salvação. Rompe a norma e se aproxima de Jesus para pedir-lhe a cura. O faz com belos termos de um pobre do Reino:“Se queres” (8,2).

Também Jesus rompe a norma quando o toca: “Estendeu a mão, lhe tocou…” (8,3a). E acontece algo inédito: o puro toca o impuro e o purifica! Tudo ao contrário do que as pessoas pensavam.

Jesus torna possível a entrada no âmbito da bondosa paternidade de Deus, ao mesmo tempo, que anula os costumes que marginalizavam. Seu gesto é misericordioso porque se inclina até a situação da pessoa e a atrai até o Coração de Deus.

Sem dúvida, Jesus não está indo contra o Templo nem as instituições. Por isso envia o leproso a cumprir com a norma de Moisés para os casos de cura de leprosos (ver Lv 14,1-32). O importante é que “lhes sirva de testemunho” (8,4c).

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Que quer dizer-nos o evangelista ao colocar a serie de milagres depois do Sermão da Montanha?
  2. Que pretendem ensinar-nos estes milagres?
  3. Na realidade de que curou Jesus ao leproso?
  4. Como o fez? Por que, ao final, o enviou ao Templo?

SÁBADO

Mateus 8,5-17

MISERICÓRDIA QUE SALVA (II): UMA FÉ QUE SURPREENDE ATÉ O PROPRIO JESUS.

“Não encontrei em ninguém uma fé tão grande”

O segundo milagre de Jesus também se realiza com um marginalizado. O centurião romano, enquanto gentio, ou seja, pagão, era considerado, religiosamente, impuro, pelo fato de não pertencer ao povo de Israel. Dele Jesus dirá: “Não encontrei em ninguém uma fé tão grande” (8,10).

Os costumes da época ensinavam que os judeus não podiam conversar com os gentios, nem tocá-los, nem, muito menos, entrar em suas casas (recordemos a historia de Pedro e Cornélio: At 10,28).

Por isso, é surpreendente que Jesus, desde o primeiro instante, manifeste um vivo interesse por entrar na casa do romano: “Eu irei curá-lo” (8,7).

A intenção de Jesus aparece como a resposta pronta à noticia dos “terríveis sofrimentos” de um criado (ademais da mais baixa categoria social). Jesus lhe dá valor!

Porém, não acontece como Jesus planejou em um primeiro momento. O diálogo que mantém, Jesus e o centurião romano, ocupa a maior parte do relato. Só ao final se dirá muito brevemente: “E naquela hora curou o criado” (8,13b).

Na realidade o que se coloca em primeiro plano é a fé do centurião. Chama a atenção a maneira como o romano expressa, sempre mais clara e decididamente, sua própria fé, e como Jesus a valoriza.

Vejamos o processo:

  • O centurião se aproxima de Jesus, não lhe formula nenhum pedido, mas, de forma breve e precisa, limita-se a descrever a dolorosa situação de seu criado: “Senhor, meu criado …” (8,6). 

Desde o principio deixa Jesus tomar a decisão que considere conveniente (como fez com o leproso, imagem do “pobre” do Reino). Chama a atenção que o centurião se apresente ante Jesus quase como um pai preocupado com seu filho;

  • Qualquer um, no lugar do centurião, haveria ficado contente ante a noticia: “Eu irei a curar-lhe” (8,7), que implica um “vou entrar em tua casa”.

Ao contrário, o centurião vê as coisas de outro ponto de vista: expressa uma profunda e clara compreensão de sua posição e de seu poder.

Ao renunciar à visita que lhe oferece Jesus, está reconhecendo, não só com palavras, mas efetiva e realmente, que Jesus tem uma dignidade superior e um poder indiscutível: “Senhor, não sou digno de que entres em minha morada” (8,8a; ver as palavras de João Batista em 3,11);

  • Em seguida o centurião faz uma comparação em que reflete sua maneira militar de conceber a autoridade (8,9), o qual lhe serve de linguagem para expressar que reconhece em Jesus um poder superior capaz de atuar com plena eficácia: “basta que digas uma palavra e meu criado ficará curado” (8,8b).

Por sua parte, Jesus, que não teve nenhum escrúpulo para tocar no leproso (8,3), nem, tampouco, para decidir entrar na casa do pagão (8,7), se detém para apreciar com admiração a claridade objetiva e a sóbria solidez da fé do centurião.

O centurião não disse quem era Jesus, porém deu a entender de forma prática e real: Jesus tem poder para ajudar e curar, o pode salvar! Jesus toma posição ante a fé do centurião e a valoriza: Essa é a atitude que se necessita para entrar no Reino dos Céus!

O Reino aparece representado, aqui, na mesa (do final dos tempos) dos patriarcas (8,11). A novidade do Reino aparece na imagem gráfica de alguns que são admitidos e outros que são expulsos da mesa (ver o critério de admissão no Sermão da Montanha: 7,21-23).

O povo de Abraão se reconhece por sua “”. João Batista e Jesus já disseram: uma fé que dá frutos (3,10; 7,16.20). Pois bem, o centurião demonstrou a fé necessária para a salvação, o qual o faz digno do povo de Deus. Assim, o Reino de Deus não tem barreiras, a única exigência é a fé em Jesus e a aceitação de sua proposta de vida e fraternidade que já começou a expor-se no Sermão da Montanha.

Ao final, Jesus lhe responde dando-lhe uma ordem àquele que confiou absolutamente no poder de sua palavra para alcançar a salvação: “Que aconteça como tens crido” (8,13).

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Como aparece Jesus neste relato? De que maneira dá sinal de sua misericórdia?
  2. Qual é a característica da fé do centurião romano?
  3. A oração do centurião é talvez uma das orações mais repetidas na celebração da Eucaristia?
  4. Depois de ler este relato, Como o compreendo?

Que me faz sentir ante a presença de Jesus que vem a meu encontro na Sagrada Comunhão

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

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