Estudo Bíblico na 1ª Semana do Advento ano B 2023

ESTUDO BÍBLICO NA 1ª SEMANA DO ADVENTO ANO B 2023

Comunidade Paz e Bem

SEGUNDA-FEIRA

Isaias 2, 1-5 – Mateus 8, 5-11

UM POVO CONGREGADO QUE INAUGURA UM NOVO TEMPO

“Casa de Jacó, andando e avançando, caminhemos à luz de Yahveh”

Iniciamos o tempo do Advento com o propósito de dedicar um pouco mais de espaço à escuta da Palavra de Deus, como o canta o povo que sobe alegre a montanha do templo: “Vinde, subamos…para que Ele nos ensine seus caminhos e assim andemos em suas veredas” (Is 2,3).

A voz do profeta Isaías, pregador da esperança no século VIII a.C, ressoa para renovar as consciências e dar uma nova visão do projeto de Deus no mundo.

Suas profecias nos educarão durante o advento para viver o itinerário que vai da escuridão à luz, isto é, das trevas do medo, sofrimentos e angústias que causa o mal na humanidade, à revelação luminosa da obra poderosa que Deus realiza com a chegada do Messias.

Um rápido olhar ao meio em que vivemos, nos faz ver que um dos grandes anseios da humanidade é a paz. O mundo no qual vivemos é cheio de conflitos.

Sobre esta obscuridade da guerra, da divisão, da violência, da destruição de pessoas e do meio ambiente, a palavra profética de hoje lança toda sua luz de esperança: Vem povo de Jacó, caminhemos à luz do Senhor!” (v.5).

Vejamos alguns aspectos destacados desta profecia isaiânica:

1. Uma nova convocação da humanidade para pensar a história de outro ponto de vista (v.2-3a)

 A profecia isaiânica abre ante nós uma formosa paisagem: a de um monte firme que domina todo o panorama, onde, de repente, ser notam rios humanos que o escalam em procissão por todos os lados (v.2).

Os peregrinos não são unicamente israelitas (ver o v.5), mas a humanidade inteira “Confluirão a ele todas as nações e vinham povos numerosos” (vv.2c.3a).

O ponto de convergência de todo este movimento é Sião, coroado pelo Templo do Senhor. Desde esta altura geográfica e espiritual se vê o mundo com os olhos de Deus e não a partir dos interesses humanos egoístas.

2. O canto dos peregrinos: o desejo de aprender a Palavra de Deus (v.3)

Inicia então a canção, com a qual os peregrinos se animam uns aos outros no caminhar: “Venham, subamos…” (v.3). A frase expressa o propósito da viagem, ou melhor, o sentido da irresistível atração que este monte exerce sobre eles.

O caminho de subida está impulsionado pelo desejo de ser educado por Deus e de iniciar uma nova vida segundo seus critérios, escutando e vivendo sua Palavra. Isto é o que o profeta chama seguir seus caminhos”.

3. As divergências se tornam convergência no projeto comum do crescimento de todos em fraternidade (v.4)

Chegamos ao momento sublime em que se vê o efeito da subida para aprender a Palavra de Deus: os rios humanos se convertem então em um só povo que reconcilia suas divergências.

Há um duplo movimento: A atração para Deus, expressada na subida à montanha, se transforma logo em irradiação para o mundo; e as pessoas que descem a montanha passaram por uma mudança que projetam por onde quer que vão. Agora se sente povo em comunhão, que à diferença da antiga Babel (Gn 11,1-9), está unido:

  • pela experiência de Deus, vivida na obediência à sua palavra, e não pela soberba humana, que exclui a Deus do projeto de vida;
  • pela compreensão entre si e não pela fragmentação dos que obstinadamente defendem seus próprios projetos;
  • pela paz e não pelas alianças para a guerra; e
  • pelo crescimento de todos por igual e não pela competência que gera dominações.

No monte se tornam comunidade. Para eles, a história se converte, então, em um caminho para a plenitude de vida, que supera as contradições históricas do extermínio entre os adversários. É o caminho de uma comunidade que trabalha, conjuntamente, para produzir os recursos que necessita para o seu bem-estar.

Este povo, unido pela experiência da Palavra caminha, como em uma grande marcha da vida para uma nova ascensão que já não é geográfica, mas espiritual. Sob o juízo de Deus, fazem alianças entre si (v.4a), já que encontram motivos para entender-se e gerar projetos comunitários que promovem a vida e o desenvolvimento de todos (v.4bc). A justiça de Deus gera a paz.

O profeta descreve firme a nova realidade da comunidade, apontando duas grandes ações:

(1) “Espadas” se tornam “arados” e “lanças” “foices”.  Isto é, os instrumentos de extermínio, de morte, se transfornam em instrumentos de trabalho comunitário da terra que geram o alimento que sustenta a vida. Os arados são úteis para os trigais e as podadeiras para as vinhas, de onde vem pão e vinho, alimentos básicos para a vida e a comunhão familiar;

(2) “Não se levantarão contra… Não se exercitarão na guerra”.Isto é, concordam em não destruir-se mais entre si mesmos, nem de dar espaço aos campos de treinamento militar.

Este é o novo povo que já desde o Antigo Testamento, começou a cantar: Caminhemos à luz do Senhor” (v.5). Um povo que não caminha à luz dos interesses mesquinhos que estão na base de todas as confrontações, mas, à luz do projeto de Deus que é o crescimento comunitário baseado na irmandade.

E esta profecia se realiza em Jesus (Mateus 8,5-11).

A comunidade, que só é verdadeira quando se constrói sobre a base da Palavra e os projetos comuns de vida, é um dom que Deus quer fazer-nos hoje em Jesus, o Messias. Ao redor de Jesus e da sua Palavra é possível tal comunidade.

O Evangelho que lemos em Mt 8,5-11, nos apresenta a busca de Jesus por um centurião romano, primeiro passo firme de alguém que inicia a subir o monte da justiça e da paz. Trata-se de alguém que vem de longe em todos os sentidos, afeito ao jogo, à guerra e ao jugo imperial dos povos, aproveitando-se dos outros. O centurião é um peregrino que vem em busca da palavra de Jesus que cura. Diante de Jesus, inclusive, supera a divergência entre patrão e empregado. Com o passo da fé peregrinou até o centro de convergência que é o Reino dos Céus, que irrompeu na pessoa e no ministério de Jesus.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

PRIMEIRA REALIDADE MESSIÂNICA: um povo que se volta a escutar à Palavra para deixar-se congregar e guiar pelo projeto de Deus; um povo onde cabe todos os povos e reúnem-se todas as diversidades; aprende a linguagem comum da fraternidade e da solidariedade.

  1. Como é minha vida comunitária na família, no trabalho, na comunidade? Posso dizer que o ambiente no qual vivo meus relacionamentos é o de uma comunidade messiânica?
  2. O Advento prepara para a acolhida da “Palavra” que se “fez carne” em Jesus. Relendo o texto, que busco em Deus e em particular em Jesus? Que sucede se todos os buscam?
  3. Em nossa sociedade há gente que morre de fome, porém, ao mesmo tempo se investe grandes somas de dinheiro em armas. Que ensina a profecia de hoje a respeito?
  4. Que me corresponde ofertar para que orientemos este mundo globalizado e neoliberal a uma comunhão das economias e uma transformação do serviço social, das tecnologias, de modo que haja recursos para o crescimento de todos e ninguém morra de fome?

TERÇA-FEIRA

Isaias 11,1-10 – Lucas 10,21-24

Segunda realidade messiânica: o Messias que vem

“Sairá uma rama do tronco de Jessé e um rebento de suas raízes brotará”    

Imagine você o formoso espetáculo de uma vaca e uma onça que se tornam comadres ou do lobo e o cordeiro que, depois de longa inimizade, chegam a serem amigos?

A visão profética de Isaias que lemos hoje tem a ousadia de ver o mundo assim: os velhos inimigos, dos quais, alguma vez, pensamos que jamais chegariam a mudar de atitude, de repente, os vemos fazerem-se amigos, buscando uma sã e frutífera convivência. É o sonho da reconciliação, da paz definitiva, da humanidade querida por Deus.

Este sonho o realiza o Messias: Sairá uma rama do tronco de Jessé (v.1). Nele renasce – depois de longo tempo de aridez, pelo inverno ou talvez por uma tremenda seca – como uma árvore, uma nova humanidade. No Messias, Deus retoma, desde a raiz, seu projeto sobre o mundo. Sua vinda nos devolve a esperança do fim das guerras e inaugura um novo projeto de humanidade!

Como podemos contemplar sua vinda? Sigamos o fio da profecia de Isaias.

O v.9 nos dá uma pista que se liga muito bem com o convite que recebemos ontem para subir o Monte Sião: “Nada fará dano, ninguém fará mal em todo meu monte” (v.9). Do monte consagrado pela presença de Deus, em comunhão com Ele, se vê como faz surgir o mundo novo que, às vezes, não conseguimos vislumbrar.

Subindo junto com o profeta Isaías contemplamos, extasiados, este espetáculo:

  • sobre a terra semiárida da Palestina a paisagem vegetal, cósmica e humana se transforma: primeiro um tronco brota (v.1);
  • Logo sopram os ventos dos quatro pontos cardeais; estes já não passam direto sobre a árvore, mas pousam sobre o rebento comunicando-lhe sua vitalidade (v.2);
  • com esta força o rebento se levanta e faz justiça aos pobres da terra (vv.3-5);
  • Então, a justiça gera paz e reconciliação entre os irreconciliáveis da terra (vv.6-9); e
  • finalmente, o rebento (que é o Messias), e não só o monte Sião, se torna estandarte que responde a busca de todos os homens da terra (v.10).

Detenhamo-nos em cada um desses quadros:

  1. Do tronco de Jessé brota um rebento (v.1)

A promessa de Deus vivifica a cepa da história da salvação. As origens do Messias descendente de Davi são humildes, porém, tem que ver nele a obra de Deus. A velha árvore não morreu, a seiva, que é a fonte da vida, é perene, ainda quando não se note, ela sempre tem estado ai e Deus a faz tornar a manifestar-se.

  • Os quatro ventos da terra pousam sobre o rebento de Davi (v.2)

Os ventos simbolizam o Espírito de Deus que unge o Messias. Trata-se do Espírito que fez possível a criação (Gn 1,1-2) e que suscitou líderes para Israel (Nm 11).

Seu dom é quádruplo, número que se refere a uma realidade completa:

  • É o próprio Espírito do Senhor.
  • É Espírito de sabedoria e inteligência: este o dáo Messias capacidade de ver a realidade como Deus a vê, com olhar de justiça e verdade; é o primeiro que necessita um líder;
  • É Espírito de prudência e valentia. Trata-se do critério para o bom governo e do valor para empreender grandes ações, que implica sua alta responsabilidade, já que não é suficiente ver o que tem de fazer, mas, que é necessário, sobretudo, pôr-se em ação levando adiante os projetos;
  • É Espírito de conhecimento e temor do Senhor. O líder age com uma atitude de humildade profunda ante Deus, pois é o Senhor que, realmente, sabe e tudo pode.
  • Surge no meio do povo um líder íntegro e justo (vv.3-5)

Quando entra em ação, o Messias se põe do lado do desprotegido, daquele a quem lhes são negados seus direitos. Seu critério de juízo não são as tagarelices. Ele, com a força de sua palavra, porá em evidência o culpável e fará justiça, pondo em seu devido lugar os que tornam impossível a paz, os que sempre estão gerando divisão e discriminação, pois atuam segundo seus interesses. Uma vez que vence, reveste-se solenemente com as insígnias reais de justiça e verdade: “A Justiça será o cinto de seus rins e a Verdade será o cinturão de seus ombros”.

  • A não violência se converte em um estilo de vida dinâmico no qual se tecem relações construtivas entre os antigos e ancestrais inimigos (vv.6-9):

Este novo modo de vida que já não se prende a impulso natural, ou domínio sobre o outro, mas de uma força interna que leva a respeitar e amar, promovendo a vida, é simbolizado na reconciliação dos animais selvagens e domésticos:

  • Os animais predadores estão dispostos a mudar de dieta para não causar dano;e
  • No meio deles, o homem, cuja vida está sempre ameaçada pelos animais selvagens, aparece como criança débil e indefesa, ante quem as feras e, inclusive, a mais indomesticável de todas, a serpente, se tornam mansas e partilham confiantes seus espaços como num jogo infantil.

Sem mudar-se da montanha, ao fim, a profecia amplia, progressivamente, a visão, como quando se contempla a amplitude do oceano, para anunciar a reconciliação do mundo: entre os animais selvagens; entre, os não menos selvagens, os homens; e, finalmente, entre os homens e Deus: “Ninguém fará dano, ninguém fará mal… porque terra a estará cheia do conhecimento de Yahweh

  • No centro de tudo está glorioso o Messias, bandeira que buscam os povos (v.10)

A profecia não perde de vista a pessoa do Messias, a raiz de Jessé”. Ele aparece visível como uma “bandeira”. Em uma bela transposição de símbolos, a “raiz” aparece como “bandeira” militar, expressão do vigor e anúncio de sua vitória sobre o mal. Junto ao Messias, os povos não combatem entre si, mas se unem à única batalha que vale a pena levar unidos: a promoção da vida e a fraternidade.

Também, ao fim, a profecia nos faz ver como os pagãos que buscam a Deus no alto do monte Sião (ver a leitura de ontem), agora o buscam, de modo concreto, na “raiz de Jessé”, o sucessor de Davi. A “morada gloriosa do Messias é o ponto de encontro de todas as nações que buscam Deus e sua justiça. Nesta morada há paz e descanso, pois só n’Ele encontram repouso e realização e plenitude todos os projetos humanos.

E a profecia se realiza em Jesus (Lucas 10,21-24)

Jesus é o Messias que realiza esta profecia. Reconhecemos isso num detalhe do Evangelho: sobre Ele repousa o Espírito: com o dom do gozo (10,21); e do conhecimento de Deus (10,22) Os pequenos, em sua simplicidade, se abrem à Palavra que traz o “conhecimento” de “quem é o Pai” e “quem é o Filho”, a qual lhes chega pela boca dos pregadores. Na Boa Nova de Jesus se realiza o que Isaías anunciou mas não viu, o que os governantes da terra desejaram e desejarão gozar, porém, não conseguiram e jamais conseguirão.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

A SEGUNDA REALIDADE MESSIÂNICA: a pessoa do Messias. Nele tudo renasce desde a raiz e todas as realidades humanas se ordenam em função de seu projeto em um âmbito de irmandade proposto por Deus. O caminho da reconciliação que devolve ao mundo sua vitalidade para crescer juntos inicia com o “conhecimento do Senhor” que traz o Messias.

  1. Que me dizem os cinco passos da profecia de Isaías? Como se relacionam com o despertar, no mais profundo de mim, das esperanças muitas?
  2. Que retrato faz a profecia da realidade que estamos vivendo a nível nacional e internacional? Que relações estão rotas em minha vida?
  3. Interesso-me por restabelecer as relações difíceis neste Advento e Natal? Qual o ponto de partida que propõe a profecia? Nesta árvore do mundo que ramas têm murchado?
  4.  Qual a boa noticia que anuncia a promessa profética e de que maneira Jesus a realiza?

“A fidelidade cristã, nossa fidelidade, consiste simplesmente em proteger nossa pequenez, para que possa dialogar com o Senhor. Custodiar nossa pequenez. Para isto, a humildade, a mansidão, são importantes na vida do cristão, pois é uma proteção da pequenez, à qual o Senhor se agrada em mirar. E será sempre o diálogo entre nossa pequenez e a grandeza do Senhor” (Papa Francisco, homilía 21.01.14


QUARTA-FEIRA

Isaias 25,6-10a – Mateus 15,29-37

A terceira realidade messiânica: Os sinais do Messias

“Este é Yahweh em que esperávamos; regozijamos e alegramo-nos por sua salvação”

O monte Sião é o lugar das visões e dos amplos horizontes, onde se capta o que Deus faz e quer fazer por seu povo, para o qual converge todas as nações em busca do projeto de “comunidade” (profecia de antes de ontem) e no qual o Messias faz brotar uma nova vida na justiça e na fraternidade (profecia de ontem), se converte hoje no cenário de um grande banquete no qual:

  • Deus, apresentado como rei, reparte seus melhores dons (25,6-8);
  • A comunidade salva entoa um cântico de vitória ao Senhor (25,9-10ª).

A obra salvífica de Deus e a liturgia da comunidade se unem em uma nova e maravilhosa cena bíblica. O tema: os sinais dos novos tempos que traz o Messias.

Vejamos na leitura profética de hoje.

  1. O convite à festa (v.6)

Deus se apresenta com a grandeza de um rei, que em sua magnificência, durante a festa de sua entronizarão, faz gala de sua generosidade:

  • a lista dos convidados não tem limites: “todos os povos”; e
  • o menu é variado, abundante e da mais alta qualidade: os manjares são “frescos” e “suculentos”, os vinhos são “velhos” e “selecionados”.

A citação, como já dissemos, é no monte do Senhor, ali onde o povo se fez comunidade e onde, no conhecimento do Senhor, se começou a tecer a paz.

Agora está se dando um passo para diante: Deus convida a todos os homens a fazer da vida uma festa e para isso oferece seus dons em qualidade e abundancia. Deus responde às necessidades humanas e não de qualquer forma. Como o mostram os detalhes desta cena de banquete, todos ficarão satisfeitos.

  •  Os presentes da festa (vv.7-8)

É como antigamente: uma vez iniciada a festa, o anfitrião passa entre os convidados repartindo seus presentes. Assim também é Deus. As imagens da comida que não é racionada, junto com o fato que tem em abundância para todos, contrasta com o espetáculo habitual de uma humanidade que passa fome e os bens se repartem desigual.

Deus vem ao encontro das esperanças humanas e já muito mais longe do que em um primeiro momento se poderia aguardar. Ele não só oferece bens, mas seus dons estão relacionados consigo mesmo e estes eliminam as necessidades mais profundas do homem.

É tão profunda a ação de Deus que a profecia apresenta o efeito de seus dons com a repetição do verbo “aniquilará”. Será aniquilada: (1) “o véu que cobre a todos os povos”; e (2) a “morte definitiva”.

Os presentes de Deus têm valor incalculável e são:

  • O dom de sua própria presença e manifestação (v.7).

Com a imagem de um “véu” que se tira, se quer dizer que se descubra o “rosto” de Deus de maneira que possa ser conhecido. O gesto representa um convite à amizade baseada no conhecimento e ao gozo da contemplação. Nada pode ser maior que a relação, em permanente proximidade, com Deus, fonte de todo bem.

  • O dom da vida eterna (v.8).

Do “véu” de Deus se passa ao “véu” do homem. Este segundo “véu” representa o vestido de luto que cobre os que estão duelando. Pois bem, Deus o arranca porque ao conceder-lhe a vida plena por meio da comunhão com Ele, o homem já não tem motivos para chorar: Enxugará o Senhor Yahweh as lágrimas de todos os rostos”. E não se trata de consolos passageiros, porque a morte, a primitiva maldição (ver Gn 3), a maior contradição na história do homem, se aniquilará para sempre.

  • Os cânticos da festa (25,9-10ª)

Uma vez feita a refeição e recebidos os dons, a comunidade festiva irrompe, efusivamente, em canções alegres. Uns e outros se convidam a cantar.

Celebra-se a vitória de Deus sobre os inimigos num difícil combate, representados, simbolicamente, no povo de Moab (v.10b). Neste inimigo, real na historia de Israel, se simboliza tudo o que causa tristeza, dor e luto no povo. É sobre estas realidades que se proclama a vitória de Deus e de seu povo.

A letra da primeira canção tem como tema “a salvação” e diz em poucas palavras, que quem era a esperança há sido por fim a salvação de seu povo (25,9). A comunidade tem clara consciência do que é a salvação.

Uma nova imagem reponta ao final da letra da canção e dá um novo colorido: a mão de Yahweh (25,10ª). Trata-se da “mão” poderosa do Deus dos exércitos (“Yahweh Sebaot”) que combate contra mil na batalha.

Os fatores geradores da fome, da dor, da morte e da tristeza do povo são muitos, mas não são maiores que Deus. Curiosamente a ambivalência do símbolo mostra, ao mesmo tempo, que a mão que castiga o inimigo é também a mão terna, paterna e protetora de Deus que cuida com amor de seu povo.

Esta profecia se realiza em Jesus, o Messias (Mateus 15,29-37)

O relato da multiplicação dos pães e dos peixes, ocorre também em um monte (v.29). Jesus preside a festa da vida que muda o destino de uma humanidade que sofre (“coxos, aleijados, cegos, mudos e muitos outros, v.30), entre os quais estão os que passam fome (vv.32-37). A quantidade e a qualidade dos dons de Jesus são evidentes.

Frente a esta realidade humana, Jesus dá passos concretos: (1) cura e alivia a dor do povo; (2) alimenta “uma multidão muito grande” no deserto; e (3)faz recolher as sobras da ceia para que tenha sempre comida para todos, inclusive paraos que não estiveram na ceia.

Tanto na profecia como em sua realização em Cristo, prima o que Deus “faz” por nós. Jesus transforma a vida humana a fundo, curando as penas de cada um e formando comunidade, como um pastor que cuida e congrega seu rebanho.

Quando pomos a vida sob o cuidado de Jesus fazemos possível o dom maior de toda Bíblia, profetizado por Isaías (Is 25,8): “Consumirá à Morte definitivamente. Enxugará o Senhor Yahweh as lágrimas de todos os rostos, e tirará o opróbrio de seu povo de sobre toda a terra”. Deste modo a vinda do Senhor tem sabor de Páscoa.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

Primeiramente vimos a comunidade messiânica, em seguida se fez uma apresentação do messias e hoje nos colocamos frente aos sinais do messias. Em anúncio profético revive nossa esperança, resgata nossos ideais mais altos, nossos desejos mais profundos: uma vida sem dor e sem lágrimas, um mundo no qual ninguém passa fome nem falta o essencial, uma humanidade que permite celebrar a festa da vida. Esta esperança começa

a fazer-se concreta no compromisso: Sejamos como Ele, façamos amigos e partilhemos,

de maneira que não falte o pão em nenhuma mesa!

  1. Minha vida é uma continua festa? Tenho motivos para celebrar? Há lutos em minha vida?

Qual é meu canto de festa?

  • Que me que convida a viver o Senhor graças a sua vinda? Pareço-me com Senhor no compartir

com os demais?

  • Que acontece com as sobras das mesas abundantes?

“Nossa felicidade hoje parecia ser de pressentimento que Deus tem que mudar. É preciso dar a Deus, não o rosto do faraó, de um patrão que reprova os filhos da história, mas que é necessário reencontrar, o melhor ainda, redescobrir, a Deus como um Amor que está escondido dentro de nós, como um Amor frágil, um amor desarmado” (Maurice Zundel).


QUINTA-FEIRA

Isaias 26,1-6 – Mateus 7,21.24-27

Atitudes ante a vinda do Senhor (I): Construir nosso projeto com base no projeto de Deus

“Confiai sempre em Yahweh, porque em Yahweh tens uma Rocha eterna”

Os três primeiros dias desta semana nos conduziram neste itinerário: o povo messiânico, a pessoa e os sinais do Messias em meio a seu povo. Nestes três dias que vêm, as leituras nos levam a um novo itinerário que enfatiza as atitudes a tomar ante a vinda do Senhor.

A profecia de hoje nos introduz numa nova série de três lições de “Advento” e nos inculca as atitudes que devemos adotar ante a vinda do Senhor a nossas vidas. Todas elas estão relacionadas com a e nos exigem compromissos concretos.

Só assim poderemos fazer do “Advento” o exercício da espera ativa de um Deus salvador que vem a nossos encontro.O ensino de hoje é apresentado pelo profeta Isaías mediante a didática de um canto que há que se aprender. O interessante é a dinâmica interna que nos apresenta.

  1. Aprender a segunda canção

“Naquele dia se cantará este cântico na terra de Judá” (v.1ª)

Partamos desta realidade humana: o problema não é tanto o alcançar uma meta, mas conseguir que os ganhos não se desperdicem. Com este propósito o profeta Isaías, depois da canção da vitória que celebrava as primeiras emoções, ensina, agora, uma segunda canção ao povo.

Os assuntos de Deus, a espiritualidade, não são questões de emoções passageiras, mas de solidez de vida. A primeira canção celebrava a obra salvífica de Deus e expressava a felicidade porque as coisas saíram bem. De outro lado, a segunda canção trata de inculcar no povo o compromisso que lhe corresponde. É preciso aprendê-la de memória e praticá-la no exercício cotidiano da fé.

  • Da mão poderosa e misericordiosa de Deus aos pés do peregrino:

“Ele abateu a cidade inacessível… a pisam os pés de pobres e de débeis” (v.5-6).

A descrição da cidade (v.2) e o convite a abrir as portas (v.3), indica que se trata de uma canção de caminhantes que chegam a sua cidade.

O profeta se inspira na cena dos peregrinos, talvez antigos exilados, deslocados de suas terras e casas, despojados de seus bens básicos, que regressam contentes ao seu espaço vital.

A volta não foi fácil, para conseguir tiveram que enfrentar e superar adversidades. O primeiro coro alegre, entoado ontem, não deixa de ressoar e pauta a nova composição:

  • Virtualmente se traça uma espécie de eixo vertical que inicia na mão poderosa de Deus (25,10) e culmina na terra, nos pés desnudos, de humildes peregrinos, pobres mendigos que participam da vitória operada por Deus (26,6); e
  • Ao deslocamento horizontal do caminhante se justapõe o deslocamento vertical que expressa a ação de Deus (26,5).

A ação de Deus (“derrota”, “faz cair”, “abaixa”, “faz tocar) se conjuga com a ação do homem (“a pisam os pés de pobres”). Na medida que caminham, com seus passos firmes os humildes vão afirmando a vitória. Mas, contra o que ou a quem é a confrontação?

  • Dois projetos em conflito: a cidade do homem e a cidade de Deus

O canto está sendo entoado por um solista e é ele quem faz a descrição. O julgar expõe ante tudo o que capta no fundo espiritual do cenário. Para isso se vale da comparação entre duas cidades: a cidade santa (26,1-4); e a cidade rebelde (26,5-6).

O cantor inverte a ordem: primeiro exalta a vitória da cidade de Deus e logo conta o fracasso da cidade pérfida. A segunda cidade vem ao chão, enquanto que a primeira tem garantida sua firmeza.Em ambas as cidades se destaca a “muralha”. Na Antiguidade uma muralha dava identidade à cidade, não só externa, mas também internamente, ou seja, garantia a unidade e a defesa da mesma, a muralha é o símbolo do projeto de sociedade que ali se quer construir.

Por isso, com a repetida referência às muralhas, todo o canto aponta à exaltação da solidez do projeto de Deus acolhido pelos humildes, enquanto que em um segundo plano se nota a inconsistência do projeto dos orgulhosos que creem poder fazer tudo exclusivamente com seus próprios esforços.

  • Características da cidade de Deus: “Temos uma cidade forte” (v.1b-4)

A cidade santa não é qualquer aglomerado, mas uma construção unificada, idealizada por um único arquiteto que para sua proteção: “pôs muro e antemuro” (26,1b). O mais extraordinário é que, de repente, se vê uma transposição metafórica que faz do coral de pedra e baluartes de defesa militar, uma imagem do próprio Deus como salvador de seu povo.

Num dado momento, a construção, refúgio é o de menos e o que sobressai é a comunidade reunida por Deus, que se identifica com Ele e seu projeto. O canto segue: o rio humano de peregrinos chega então às portas do Templo, coração da cidade, e a procissão inicia seu rito de entrada. Nele o povo declara seus compromissos. Trata-se, sobretudo, de três atitudes a se viver no cotidiano (26,2b-3a):

  • Gente que guarda a fidelidade”: trata-se da constância no caminho do Senhor;
  • Gente de ânimo firme”: trata-se da “força de vontade”, para manter a fidelidade; e
  • Gente que conserva a paz: trata-se dos esforços por manter o sempre difícil equilíbrio nas relações.

Põe de relevo o esforço que realiza o homem. Porém não se trata de algo que provem somente das próprias forças, mas que está baseado na confiança em Deus.

  • A chave de tudo é a confiança em Deus: “Confiai em Yahweh…” (v.4)

A confiança em Deus, que é um modo de expressar a experiência da fé, o mais importante e é garantia das três características de um povo justo. Por isso se fala nestes termos: Porque em ti confio(v.3b). Não percamos de vista que este povo, humilde, porém reto, que redescobre seu projeto na historia à luz de sua fé, é o que logo exalta Maria em seu Magnificat (ver Lc 1,50-53).

A comunidade dos humildes não está só, seu alicerce é Deus mesmo, que é Rocha forte e irremovível, não muda de idéia, pois é sempre fiel. A firmeza do projeto de justiça e fraternidade vem da solidez de Deus. Não há maior nem mais seguro apoio. A atitude de base está clara: a esta cidade-comunidade, onde se realiza o sonho de Deus para seu povo, só se entra mediante a prática fiel de seus ensinos e a confiança total n’Ele. Só os que estão dispostos a ser justos podem atravessar o umbral de suas portas.

E esta profecia se realiza em Jesus (Mt 7,21.24-27)

A parábola que contrapõe a casa construída sobre a rocha com a construída sobre a areia (Mt 7,24-27), traslada para a pessoa de Jesus, o MESSIAS, a profecia isaiânica. Como ensina Jesus em Mt 7,21, não basta a oração vocal, é preciso o compromisso de viver segundo o querer de Deus (fidelidade). É no seguimento do Mestre, isto é, pela escuta e a prática de seus ensinamentos, que se forma a nova e definitiva comunidade, o povo justo que inaugura o mundo novo. Esta é a verdadeira Rocha que sempre se sustentará.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

A vinda do Senhor exige atitude da fé: acolher sua Palavra e fazê-la parte de nossos projetos, pois só n’Ele nossa vida tem sentido. A motivação mais profunda de nossos esforços deve ser permanecer fieis aos projetos de Deus, fundados na fé-confiança nele. Esta confiança se concretiza em compromissos.

  1. Qual é meu projeto de vida? Está identificado com o projeto que Deus tem para mim?
  2. Qual o grau de solidez de meu caminho com o Senhor? Sobre que se apóiam meus esforços na vida? Que busco com eles?
  3. Nestes dias em que a paisagem urbana brilha com enfeites de Natal, como relaciono esta realidade com a profecia sobre a cidade dos pobres de Deus?Que compromissos me pede o Senhor para eu poder contribuir na construção de seu projeto de cidade?

SEXTA-FEIRA – IMACULADA CONCEIÇÃO

Gn 3,9-15.20
Sl 97
Ef 1,3-6.11-12
Lc 1,26-38

A Imaculada Conceição da Virgem Maria – é este o mistério que neste dia celebramos. Hoje, a Virgem foi concebida no ventre de Ana, sua mãe.
Mas, que tem isso de mistério? É verdade que toda vida que brota é um mistério; é verdade que todo feto, desde o primeiro momento de sua existência, seja desejado ou indesejado, esperado ou vindo de surpresa, são ou defeituoso, é já uma vida humana e, portanto, um milagre de Deus, um sorriso de Deus, um presente de Deus, imagem de Deus – apesar dos monstros de hoje, dessa humanidade desalmada e sem Deus, desejarem tanto negar a dignidade da vida humana desde o seu primeiro momento…

Repitamos a pergunta: Se é assim, se cada concepção neste mundo é um mistério, o que tem de extraordinário a concepção daquela que será a Mãe do Cristo-Deus?
Eis o mistério, eis a novidade, eis o extraordinário: no momento mesmo em que Ana, idosa e estéril, concebeu a Virgem Santa, ela, por ser destinada a ser a Mãe do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, foi preservada da mancha do pecado original. Em outras palavras: a Virgem Maria, desde o primeiro momento de sua existência no ventre materno, foi preservada daquela marca negativa, daquela solidariedade no mal, daquela situação de fechamento e desarmonia, que mancha e fere a nossa natureza humana. Portanto, a ela, e só a ela, o Senhor pode exclamar, com as palavras do Cântico dos Cânticos: “Como és bela, Minha amada, como és bela! És toda bela, Minha amada, e não tens um só defeito!” (4,1.7).
Que o Senhor Deus exclame assim! Que a Mãe Igreja cante assim! Que a humanidade exulte assim!

A Igreja, desde muito cedo, foi compreendendo sempre mais este mistério da Imaculada Concepção de Nossa Senhora: ela, a Virgem, fora preservada do pecado graças aos méritos do Cristo, que com Sua Paixão, Morte e Ressurreição nos libertou do pecado.
Como diz São Paulo aos Romanos: “Todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus e são justificados gratuitamente por Sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus” (3,23s). Com efeito, sem Jesus nosso Senhor, sem a Cruz redentora que Deus já antevira eternamente, a Virgem seria tão pecadora quanto todo o resto da humanidade! Mas, a mesma Cruz de Cristo que nos arrancou da lama do pecado, sequer permitiu que a Mãe do Cordeiro Imaculado pela lama do pecado fosse tocada! Que grande providência de Deus! Que amorosa sabedoria! Nossa Senhora, mais que todos nós, pode e deve cantar as palavras do Profeta: “Com grande alegria rejubilo-me no Senhor, e minha alma exultará no meu Deus, pois me revestiu de justiça e salvação, como a noiva ornada de suas joias!” (Is 61,10). Nossa Senhora, de sorriso escancarado, pode erguer o olhar para o Senhor e exclamar: “Eu Vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes, e não deixastes rir de mim meus inimigos!” (Sl 29,2). Em Maria começou a manifestar-se a vitória de Cristo contra o Inimigo da nossa raça humana…

Se pensarmos bem, veremos que este mistério deita suas raízes na antiguidade, nos primórdios do sonho de Deus. A primeira leitura, do Livro do Gênesis, nos diz que, quando toda a humanidade foi marcada pelo pecado, pelo “não” a Deus – esse “não” no qual todos nós já nascemos e que tantas e tantas vezes vamos dizendo e aprofundando –, o Senhor prometeu uma inimizade entre Satanás e a Mulher, entre a descendência de Satanás e a da Mulher: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”. Eis, que mistério tão grande: uma queda, uma miséria, uma misericórdia, uma inimizade, uma promessa! E, desde então, toda a história da humanidade, todo o caminho de Israel, todo o Antigo Testamento, foram um correr para essa promessa, um esperar por esse cumprimento tão santo! Porque, desde o início, Deus tem um plano, e Seu plano é nos enviar o Salvador, de modo que tudo quanto o Pai bendito pensou e sonhou para nós, é pensando em Cristo e em função de Cristo que o fez. Escutemos o Apóstolo: “Em Cristo, Deus nos escolheu antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob o Seu olhar, no amor. Ele nos predestinou para sermos Seus filhos adotivos por intermédio de Jesus Cristo, conforme a decisão de Sua vontade!” Se Deus tudo pensou para nós em Cristo, se em Cristo nos predestinou, a Igreja crê firmemente que, desde o princípio, aquela Mulher anunciada no paraíso, fora predestinada para ser a Mãe do que esmaga a Serpente, fora marcada para ser a inimiga de Satanás, aquela que não tem nenhuma amizade com o pecado, nenhuma convivência com a descendência da Serpente! E tudo isso, por graça de Deus em Cristo!

Podemos, então, compreender o modo como Gabriel, no Evangelho, saúda Maria. Como a chama? Não diz o seu nome “Maria”, mas chama-a com um nome novo, aquele que somente Deus, que sonda os corações, poderia conhecer. Escutemos o Anjo, admiremos: “Alegra-te, ó Toda Agraciada! O Senhor é contigo!” Toda Agraciada, isto é, toda invadida, inundada pela graça, pelo favor de Deus! Na Virgem Maria não há lugar algum para a “des-graça” do pecado. Nela, em quem o Santo de Deus, o Cristo, o Santo Messias, deveria habitar, não pode, não pôde, não poderá nunca haver lugar para o pecado! Desde o primeiro momento de sua existência, a Virgem foi escolhida e predestinada para a Mãe do Salvador. Não esqueçamos a palavra da Escritura: “Em Cristo, Ele nos escolheu antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob o Seu olhar, no amor.” É este mistério que celebramos!

Se Cristo é o Dia, a Virgem é a Aurora;
se Ele é o Sol, ela é a Estrela d’Alva;
se Ele é o Fruto, ela é a Flor bendita!
Como é bela a Solenidade deste hoje: é aurora do santo Natal! Aquele que ilumina a noite de Belém e do mundo é prenunciado pela luminosidade da Virgem Imaculada!

Caríssimos, vivemos num mundo cada vez mais sem graça, um mundo literalmente “des-graçado”, isso, é fechado para a graça. Pois bem: nesta realidade sem graça, celebrar a Imaculada Conceição da Mãe de Deus é proclamar a vitória da graça sobre o pecado, é renovar nossa certeza na força que vem da Cruz e Ressurreição do Senhor, que dissipa as trevas e vence o mal.

Ó Maria Santíssima, Virgem imaculada desde a Conceição,
intercede por nós, intercede por toda a Igreja, intercede pela humanidade:
que lutemos contra o pecado, do qual tu foste preservada desde o primeiro momento de tua existência!
Que a força do Cristo Salvador, que não deixou o pecado te atingir, não deixe que o pecado nos vença!

Ó Alegria do mundo, Estrela d’Alva,
nenhuma outra como tu nos guia!
És o braço do Deus Forte que nos salva,
Virgem Maria!

És um Raio de luz lançado à treva,
para aquecer a terra fria!
Imensa Aurora, a Vida em vós se encerra,
Virgem Maria!

Só o trono de Deus é mais sublime,
que o teu trono, à luz do eterno Dia!
Ó Santa Mãe da Paz que nos redime,
Virgem Maria!

Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!


SÁBADO

Isaías 30,19-21.23-26 – Mateus 9,35-10,1.6-8

Atitudes ante a vinda do Senhor (III): BUSCAR O PERDÃO

“Será a luz da lua como a luz do sol… o dia que Yahweh sarar a ferida de seu povo”

Todas as profecias anteriores nos tem falado da transformação que Deus operou, está operando e seguirá realizando até sua plenitude na história humana. Hoje aparece na profecia de Isaías o que podemos considerar como a raiz de toda a força transformadora do mundo: o perdão.

O núcleo deste anúncio está nas palavras finais: Será a luz da lua como a luz do sol meridiano, e a luz do sol meridiano sete vezes maior, com luz de sete dias, dia em que Yahweh pensar a ferida de seu povo e curar a contusão de seu golpe(v.26).

O profeta Isaías compara o pecador perdoado com uma lua que irradia com a intensidade do sol e com um sol cuja luminosidade é sete vezes maior que o normal.

Assim é como emerge a partir de dentro, com novas energias, o homem curado desde o fundo de sua obscuridade, por meio da experiência do perdão de Deus. Que maravilha quando o descobrimos e o experimentamos! Vejamos o itinerário da profecia de hoje:

  1. O fim do tempo das lágrimas (vv.19-21)

Se alguém está em pecado fecham-se os horizontes para ele; com suas decisões equivocadas, cada um atrai seus próprios males. O perdão é à base de uma nova vida, como havia profetizado Isaías: Pela conversão e calma sereis libertados, no sossego e na segurança estará vossa força (v.15).

Porém o povo não levou a sério estas palavras, por isso o profeta recrimina: (30,15b). Com sua atitude, o povo lança a si as consequências de sua errada decisão, que a profecia descreve em termos de castigo e cujo dano não é distinto do que o homem provocou a si mesmo (vv.16b-17).

Deus não suporta ver o homem nessa situação: Sem dúvida aguardará Yahweh para fazer-nos graça e assim se levantará para mostrar compaixão(v.18).

A Deus dói o sofrimento de seu povo (ver Ex 3,7). Por isso, misericordiosamente, Deus se inclina, ante o homem para dar-lhe a mão.Assim o profeta volta a levantar sua voz para anunciar que o tempo do castigo vai acabar, que vem o tempo do perdão, onde o povo ressurge renovado.

No perdão há duas atitudes: a de Deus e a do homem:

  • Da parte de Deus Enfatiza-se sua prontidão.

É suficiente o clamor de seu povo que geme sob o peso de seu pecado: “Já não vão chorar mais, o Senhor se apiedará de ti ao ouvir teu clamor; apenas te ouça, te responderá”(v.19);

  • Da parte do homem Enfatiza-se a abertura e docilidade.

Para dar um giro à vida, deixando-se orientar pelo apelo de Deus, “Mestre” de vida: “Com teus próprios olhos verás teu Mestre e ouvirão teus ouvidos um chamado atrás de ti, que te dirá qual o caminho…” (vv.20b-21).

Uma imagem sugestiva aparece: Deus vai à frente e se coloca nas encruzilhadas indicando ao caminhante a rota que deve seguir (v.21b).

Chama a atenção o fato de que se tire proveito da experiência negativa, porque no meio do sofrimento se aprende a descobrir um sentido, isto é, se “escuta” e se “capta” como o Senhor está presente em nosso caminhar guiando nosso projeto de vida, revelando-se a si mesmo do fundo obscuro de nossa fé.

Contudo, o profeta não perde o realismo, porque apesar de se ter descoberto o rosto e os caminhos de Deus, todavia há sofrimentos que acompanham o homem. Por isso disse: Ainda que o Senhor vos dê a água racionada e o pão da angústia, já não se esconderá teu Mestre.

2. O começo de um novo tempo de benção (vv.23-26ª)

O homem se encontra agora em uma nova situação, sua base é a comunhão com Deus. Mas para o profeta não é suficiente dizer que se entrou em uma vida nova na qual se vive segundo Deus, também é importante anunciar que ela traz de novo e de bom ao homem.

Em síntese, na vivência do perdão-cura se renovam as bênçãos de Deus. O profeta o descreve com imagens fortes que evocam a potência da vida. Os vv.23-26 cuidadosamente observam a potência da vida desde sua menor expressão, que é numa semente que brota, até o homem, cume da pirâmide da criação, a desenvolver todas as suas potencialidades. 

A dinâmica da leitura, nesta parte, consiste em visualizar o processo:

  • Primeiro aparecem os campos. Sobre eles Deus faz chover e cada grão que se encontra na sementeira ávida para dar o melhor de si (30,23a). O grão se torna trigo e o trigo se torna pão de boa qualidade.
  • Logo vemos aparecer os animais sobre eles. As ovelhas (rebanho menor) estão pastando a erva que acaba de germinar; os bois e os asnos (rebanho maior) já estão recolhidos no estábulo comendo sua forragem (30,23b-24). Também aqui se destaca a quantidade e a boa qualidade do alimento.
  • Por fim aparece o que gera vida: a água e a luz. Sobre os campos cheios de animais escrutamos um pouco mais a paisagem e vemos o alto dos montes convertendo-se em estanques de água (“águas perenes”, v.25ª), garantindo-se assim a água por muito tempo.

E, ainda mais acima, no cosmos vemos a lua e o sol dilatando sua capacidade luminosa para que surja a vida e se mantenha por muito tempo (“a luz do sol sete vezes maior”, v.26ª). Mas não se trata de uma simples descrição da natureza, mas de toda a potência de vida que traz o tempo de perdão: a transformação do homem é a do mundo inteiro.

3. A raiz de tudo é o perdão (v.26b)

Encontramos uma imagem forte ao final: o tempo que caem as torres inimigas (v.25b); é curada a ferida de seu povo (v.26). O caminho de crescimento nos caminhos do Senhor é, ao mesmo tempo, um caminho onde se somam todas suas bênçãos. O perdão é uma cura que dá uma nova força de vida.

E esta profecia se realiza em Jesus (Mateus 9,35-10, 1.6-8)

O Evangelho nos anuncia Jesus como o Messias misericordioso que realiza esta obra de cura de seu povo “envergonhados e abatidos como ovelhas sem pastor” (v.36). Com a vinda de Jesus acaba o tempo das lágrimas e inicia o tempo da benção onde o povo é socorrido por bons líderes que reúnem as ovelhas perdidas da casa de Israel (v.6).Eles, em nome de Jesus e despojados de qualquer interesse próprio, proclamam a chegada do Reino e curam os sofrimentos do povo (vv.7-8). Em Jesus e seus mensageiros a misericórdia de Deus que atende ao clamor de seu povo é patente.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

Hoje estamos ante uma das expressões mais concretas da fé que falávamos ontem. Nestes dias pensemos, não só nos presentes dos amigos e familiares, no Natal, mas no que o Senhor nos quer dar e que melhor responde ao que necessita nosso coração, o qual nos fará dar presentes nascidos do coração às pessoas que nos rodeiam. O maior de todos é o perdão e para isso “vem” o Senhor. Do fundo de nosso ser serão liberadas novas forças de vida e bênçãos sobre os que nos rodeiam quando o Senhor “curar nossas feridas”.

  1. De que necessito ser curado? Qual a causa e as conseqüências de meu pecado?
  2. Na celebração da misericórdia, que me dá a Igreja, por meio de seus mensageiros?
  3. Por não se tratar só de receber, que posso fazer nestes dias pelos que mais sofrem fisica e espiritualmente, de modo que a minha vida seja uma imagem viva da proximidade misericordiosa de um Deus a quem dói

os sofrimentos de todas as pessoas, as que estão perto e as que estão longe?

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