ESTUDO BÍBLICO NA 20ª SEMANA COMUM ANO C 2022

ESTUDO BÍBLICO NA 20ª SEMANA COMUM ANO C 2022

Comunidade Paz e Bem

SEGUNDA-FEIRA

Mateus 19,16-22

O REINO DESDE A ÓTICA DO JOVEM: A HORA DAS DECISÕES

Se queres ser perfeito…”

Depois de ler em Mateus 19 a novidade do Reino no mundo dos casais e no mundo das crianças, hoje nos encontramos no mundo de um jovem. Mateus é o único em detalhar que se trata de um jovem, deixando entender que se encontra na idade das decisões fundamentais que afetam o resto da vida.

A pergunta do jovem rico (v.16) não tem nada de superficial. Pelo contrário, ele faz a pergunta mais importante que pode fazer um ser humano: Que tenho que fazer para alcançar a plenitude da vida?  Quer dizer, o jovem indaga por um caminho de realização, que em termos da relação com Deus chamamos “salvação”, ou de outra forma –como aqui- “entrar na vida” (v.17b).

Jesus lhe responde inicialmente com duas respostas sutis:

  • “Por que me perguntas acerca do bom? Um só é o Bom” (v.17a) – Não se trata de “fazer algo bom”, mas de “encontrar ao que é bom”. A salvação não está em um “fazer” específico, mas em uma pessoa (se entende aqui que o “bom” é Deus);
  • “Se queres entrar na vida” (v.17b) – É verdade que devemos pensar na “vida eterna”, mas Jesus lhe faz entender que essa vida não está desconectada das opções que se tomem nesta “vida”.

Logo propõe dois caminhos para realizar o propósito traçado:

  • “Guardar os mandamentos” (v.17). O caminho da sintonia com a vontade de Deus manifestada nos mandamentos do Decálogo (Mateus agrega o “amarás a teu próximo como a ti mesmo”);
  • “Se queres ser perfeito… vem e segue-me” (v.21). O caminho do seguimento de sua própria pessoa, que é uma forma concreta de entrar em sintonia com a vontade de Deus e de fazê-lo, como bem relata Mateus, de maneira “perfeita”. O caminho do seguimento de Jesus se põe no mesmo nível de gravidade e exigência dos dois mandamentos.

Quando o jovem lhe assegura que já está no primeiro caminho e pergunta “Que mais me falta?” (19,20), Jesus o convida a empreender o segundo caminho. Este caminho tem como ponto de partida um giro fundamental na vida, com dois movimentos:

  • Um movimento de ida: “Anda”. Em seu “ir” se desprende de todas suas posses de modo irrevogável (“dar aos pobres” indica que nunca as vai recuperar, eles necessitam e gastam imediatamente);
  •  Um movimento de vinda: “Vem”. Já desprendido de tudo, abandona-se completamente em Jesus e põe seus passos em cada uma de suas pegadas no seguimento.

Toda a última parte está introduzida pela frase: “Se queres ser perfeito” (v.21). A proposta de “perfeição” consiste na vivencia do mistério pascal, trata-se de um “morrer” (movimento de ida) para “viver” com Ele (movimento de vinda). Este convite à perfeição nos remete ao capítulo cinco deste evangelho, o sermão da montanha: perfeito é Deus (5,48), cada um vive sua perfeição se encarna as bem-aventuranças e as traduz nas obras pelas quais brilha um filho de Deus Pai (5,16).

Todo discípulo de Jesus leva, em sua existência, a marca profunda deste giro pascal e compreende que só com Jesus, cume da historia da Lei e os Profetas (5,17-19), pode-se entrar na plenitude da vida. O discipulado é a realização deste caminho de salvação. Jesus disse ao jovem “se queres”. Ao final o jovem não quis e saiu triste. Esse é o risco da liberdade.

Aprofundemos com os nossos pais na fé:

São Gregório Magno (540-604 ), Papa e doutor da Igreja

«Terás um tesouro nos céus»

Que ninguém diga, ao ver algumas pessoas deixarem grandes bens: como eu quereria imitar aqueles que se desprendem assim do mundo, mas eu não tenho nada para deixar. Deixais muito, meus irmãos, quando renunciais aos desejos terrestres. Nossos bens exteriores, mesmo sendo pequenos, são suficientes aos olhos do Senhor. Ele olha o coração e não a fortuna.

Não pesa o valor do sacrifício, mas a intenção daquele que oferece… O Reino de Deus não tem preço e, no entanto, custa exatamente o que tu tens… A Pedro e a André custou o abandono duma barca e umas redes; à viúva, duas pequenas moedas; a outro, um copo de água fresca (Mt l0, 42). O Reino de Deus, como disse, custa o que tens. Vede, então, irmão, o que há de mais fácil a adquirir e de mais precioso a possuir? Mas talvez nem tenhas um copo de água fresca a oferecer ao pobre que dela necessita. Mesmo neste caso, a Palavra de Deus pacifica-nos … «Paz na terra aos homens de boa vontade» (Lc 2,14)… Ainda que exteriormente não tenha nada para te oferecer, ó meu Deus, em mim mesmo encontro o

que colocarei sobre o altar para teu louvor. Tu comprazes-te com as ofertas do coração.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Como imagino a realização plena de minha vida?
  2. Que relação há entre cumprir os mandamentos e obedecer Jesus que pede se deixe tudo e o siga?
  3. Que me prende para seguir Jesus com liberdade com uma entrega plena? Que passo dar hoje?

TERÇA-FEIRA

Mateus 19,23-30

O DOM DA SALVAÇÃO.

Então, quem poder se salvar?”

A frase “não entrar” (no Reino dos Céus… na Vida eterna) segue repetindo-se constantemente: enquanto as crianças foram postas como modelo de quem sabe dar esse passo, o jovem rico desejava dar o salto qualitativo.  Agora se aprofunda neste ponto.

Como aconteceu quando Jesus falou das exigências do matrimonio, desde a perspectiva do Reino, Os discípulos, de novo, ficam desconcertados com a severidade das exigências de Jesus: “Então, quem poderá se salvar?” (v.25). 

Esta interpelação deixa no ar a pergunta: Não estará pedindo demais? Que sentido tem tudo isto? Será possível vivê-lo? No diálogo que Jesus trava com seus discípulos, justo no momento em que vai passando o jovem rico, vai respondendo a todas estas questões:

  1. É difícil, mas é possível sabe decidir

Jesus mesmo admite que é “difícil”, mas nunca disse que seria impossível. Com o exemplo paradoxo e gracioso – que bom humor o de Jesus! – de um camelo que passa pelo buraco de uma agulha se insinua que enquanto uma pessoa estiver apegada a sua riqueza não poderá entrar no Reino dos Céus.

Portanto, terá que escolher. E esta decisão depende, exclusivamente, do interessado. Para uma pessoa apegada aos seus bens fica traçada a pergunta: Que é mais importante para ti?

  • A salvação é um dom de Deus

Para os homens isso é impossível, mas para Deus tudo é possível” (v.26b). Ante a impotência humana brilha a onipotência de Deus. Ninguém salva a si mesmo, a salvação é um dom da misericórdia de Deus. Se salva quem tem coração aberto para acolher a graça.

A renúncia pelo discipulado tem sentido

À reação de Pedro, pela qual se põe de manifesto que ele e seus companheiros deram este difícil passo, Jesus responde com o anuncio do novo horizonte de benção e plenitude que aguarda a todo discípulo que tem feito a opção.

Jesus descreve o futuro com duas imagens:

  • Seu papel futuro se verá na participação no dia final no juízo em qualidade de juiz: Vos sentareis, também vós, em doze tronos, para julgar às doze tribos de Israel(v.28);
  • Os que deixaram tudo recebem tudo e centuplicado, porém o mais importante dos dons é a “vida eterna”: “receberá cem por um e herdará a vida eterna” (v.29).

Não se deve perder de vista que o Reino inverte as situações. O discipulado se insere dentro deste giro fundamental que a obra de Deus realiza no mundo: não são os primeiros e os mais poderosos do mundo, mas os últimos e os que deixaram para trás seus bens, precisamente por causa de Jesus, os que levam a dianteira.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

São Gregório Magno (c. 540-604), papa e doutor da Igreja  

“Nós deixamos tudo e te seguimos?”

Ouvistes, meus irmãos, que Pedro e André abandonaram as redes para seguirem o Redentor, ao primeiro apelo da sua voz (Mt 4, 20)…

Talvez algum de vós diga baixinho: “Para obedecer ao apelo do Senhor, que é que aqueles dois pecadores abandonaram, eles que não tinham quase nada?”.

Mas, nesta matéria, temos de considerar as disposições do coração mais do que os bens que se possuem.

Deixa muito aquele que não retém nada para si; deixa muito aquele que abandona tudo, mesmo se não é muita coisa.

Quanto a nós, aquilo que possuímos, conservamo-lo com paixão, e, o que não temos, buscamo-lo com todo o nosso desejo.

Sim, Pedro e André deixaram muito, pois um e outro abandonaram mesmo o desejo de possuírem. Abandonaram muito porque, renunciando aos seus bens, renunciaram também às suas ambições.

Seguindo o Senhor, renunciaram a tudo o que teriam podido desejar se o não tivessem seguido.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Tenho chegado a pensar alguma vez que Jesus é exigente demais?
    1. Por que é necessário desapegar-se da riqueza para entrar no Reino dos Céus?
    1. Como tem se realizado a promessa de Jesus em meu caso particular?
    1. Vejo em minha comunidade de fé um dom do Senhor que corresponde à sua promessa

para quem deixa tudo e o segue?

  • Que faço para que minha comunidade seja antecipação do mundo futuro?

QUARTA-FEIRA

Mateus 20,1-16a

UMA ESPIRITUALIDADE DA GRATUIDADE E NÃO DA RECOMPENSA.

“Ou vai ser teu olho mau porque eu sou bom?”         

Não devemos perder de vista que no Evangelho de Mateus, todavia se está expondo amplamente a novidade do Reino, cujo sentido último é mostrar-nos a outra cara da realidade em que Deus está agindo e cuja lógica (seus projetos) subverte à nossa.

Com uma parábola nos explica a inversão de situações própria do Reino dos Céus: “os últimos serão primeiros e os primeiros últimos” (20,16;19,30). Jesus parte de uma realidade bem conhecida em sua época: o desemprego e o emprego. 

Por isso a parábola se passa em uma praça em que continuamente se encontram desempregados esperando uma oportunidade de trabalho.

De igual forma no cenário aparece um movimento que segue as diversas horas de uma jornada: o amanhecer, às nove da manhã, o meio dia, as três e às cinco da tarde, e finalmente o fim do dia ao entardecer.

Um patrão indo e vindo continuamente fazendo contratos. Os trabalhadores têm a expectativa de que seu pagamento será proporcional ao tempo trabalhado. Porém que surpresa, não é assim, todos recebem por igual e os interessados estão a ponto de fazer uma greve em protesto pela aparente “injustiça” de seu patrão.

A parábola afirma a soberania de Deus e sua graça que não está baseada no cálculo humano da ganância proporcional ao esforço. O coração de Deus não se mede com esta “regra” da recompensa.

Se bem que Jesus nos ensina que Deus sempre espera que nos esforcemos ao máximo, que não sejamos passivos, inativos ou indiferentes.

Querendo sempre nossa ativa colaboração, nos ensina também que somos chamados a uma justiça maior (5,20), que devemos viver em sintonia com o coração amoroso do Pai (5,45 e 7,21).  Com efeito, nosso agir justo e nosso compromisso total são necessários e podemos estar seguros do reconhecimento generoso da parte de Deus.

Porém, a relação com Deus não se fundamenta na contraprestação, mas na gratuidade, no deixar de lado qualquer segunda intenção de beneficio próprio. Somos convidados hoje a descobrir o coração bondoso de Deus e a superar uma espiritualidade rígida baseada na contraprestação com Deus: “comporto-me bem para que Deus me premie escutando tal qual pedido que lhe faça”.

Não devemos nunca dizer a Deus o que tem que fazer conosco, mas, respeitar sua liberdade e sua bondade, e, todavia mais, alegrar-nos com todo sinal de sua bondade que descubramos em nossos irmãos, superando assim qualquer sentimento de inveja.

Deus não é um patrão com quem fazemos contratos, mas um Pai de quem recebemos graça e bondade.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

São João Crisóstomo (c.345-407), bispo e doutor da Igreja 

«Ide vós, também, para a minha vinha»

É bem evidente que esta parábola se dirige, ao mesmo tempo, tanto aos que são virtuosos desde a sua tenra idade, como aos que se tornam tais na sua velhice: aos primeiros para os preservar do orgulho e impedir de censurarem

os da hora undécima; aos segundos para lhes ensinar que podem merecer o mesmo salário em pouco tempo.

O Salvador acabava de falar da renúncia às riquezas, do desprezo de todos

os bens, de virtudes que exigem grande ânimo e coragem.

Para tal, era preciso o fervor e a força de uma alma cheia de juventude;

o Senhor, portanto, reacende neles a chama da caridade, fortalece os seus sentimentos e mostra-lhes que mesmo os últimos a virem recebem o salário

de um dia inteiro…

Todas as parábolas de Jesus: as das virgens, da rede, dos espinhos, da árvore estéril, convidam-nos a por a nossa virtude nas nossas ações.

Fala pouco de dogmas, porque estes não exigem muito esforço.

Mas fala frequentemente da vida, ou antes, fala sempre, porque sendo a vida uma luta contínua, o esforço também é contínuo.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Como me sinto quando a outro dão mais do que creio que merece?
  2. Minha espiritualidade está baseada na doutrina do mérito ou na gratuidade do coração do Senhor,

que me dá todo seu amor?

  • Como integrar a experiência da graça com a exigência do compromisso cotidiano com o Senhor

nos irmãos e em todos os aspectos da vida?


QUINTA-FEIRA

Mateus 22,1-14

TAMBEM FAZER-SE DIGNO

“Muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos”

Depois de colocar um questionamento sobre a autoridade de Jesus (ver Mt 21,33-27), as autoridades de Israel são confrontadas por Jesus por meio de três parábolas: a dos dois filhos (21,28-32); a dos vinhateiros homicidas (21,33-46) e a do banquete nupcial (22,1-14). 

Hoje nos detemos na última parábola.  Não esqueçamos que se trata de uma confrontação com aqueles que foram destinatários da bondade e da salvação do Senhor, porém que ao final não estiveram à altura de tal dignidade.

Deus não nos obriga, não nos leva à força a aceitá-lo e a viver segundo seus caminhos, mas que apela a nossa livre decisão. A parábola do banquete nupcial na realidade são duas parábolas: a dos convidados que recusam o convite (22,1-10); e a do homem que entrou sem as vestes de boda (22,11-14).  Em ambos os casos se põe de relevo a grande bondade do rei para com seus chamados.

O convite é um sinal de seu amor. A recusa do convite é fechar-lhe as portas a uma vida de comunhão profunda com Deus. Os primeiros convidados se fizeram indignos porque deram prioridade às suas ocupações pessoais, não quiseram ser incomodados em seus projetos nos quais se moviam.  o oferecimento da comunhão com Deus foi liquidado como algo impertinente e que não tinha valor.

O rei convoca então novos comensais: a porta se abre a todos sem exceção. Porém, também neste caso pode destacar-se a indignidade. Um homem chega à sala do banquete sem as vestes da festa. Na linguagem simbólica bíblica, a veste indica o próprio estado de uma pessoa, como aparece ante Deus (ver, por exemplo: Ap 3,4.5.18).

Nesta parábola se quer dizer que a comunhão com Deus não se dá em qualquer estado, que é necessário estar preparado. E também para a comunidade de Mateus esta era uma realidade muito concreta: a ela chegava de tudo, bons e maus, todos eram acolhidos (ver Mt 18,1-10). Surgiam, então, conflitos, porque alguns pensavam que podiam chegar de qualquer forma e não se notava nestes um esforço de conversão.

O evangelho de Mateus nos ensina que escutando a Jesus e fazendo a vontade do Pai, adquirimos a veste nupcial, alcançamos a disposição global que é necessária para a comunhão com Deus. Pelo caminho do tomar a serio a Palavra se entra no processo de conversão.

A frase final, “muitos são os chamados porem poucos os escolhidos” (22,14), não quer dar-nos dados estatísticos sobre o número inicial dos corredores e o baixo número dos que chegam à meta. Trata-se de uma advertência para que não nos acomodemos, sentindo-nos seguros de tudo, para que não fracassemos ao final.

Devemos empregar todas as nossas forças para corresponder à altura ao chamado do Senhor.

Aprofundemos com os nossos pais na fé:

Santo Agostinho (354-430), bispo e doutor da Igreja 

“A veste de bodas”

Que significa a veste de bodas, ou traje nupcial?

O Apóstolo explica: «O objetivo desta recomendação é o amor que brota de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera» (1Tm 1,5).

É ele o traje nupcial.

Não se trata de um amor qualquer, pois com frequência vemos pessoas que se amam e têm má consciência.

Os que juntos se entregam ao roubo, bruxarias, que atraem o amor dos comediantes, dos cocheiros e gladiadores, que em geral amam-se entre si, mas não com o amor que nasce dum coração puro, duma boa consciência e duma fé sincera: ora, é nisto que consiste o traje nupcial.

Revesti-vos, pois, do traje nupcial, vós, que ainda não tendes.

Já entrastes na sala do banquete, ides aproximar-vos da mesa do Senhor, mas não tendes, ainda, em honra do esposo, o traje nupcial: procurais ainda os próprios interesses e não os de Jesus Cristo.

O traje nupcial veste-se para honrar a união nupcial, isto é, entre o Esposo e a Esposa.

Sabeis quem é o esposo: Jesus Cristo; sabeis quem é a Esposa: a Igreja.

Honrai a desposada; honrai também quem a toma por esposa. 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Por que Jesus confronta as autoridades de Israel?
  2. De que maneira esta parábola anuncia a abertura aos pagãos?
  3. Podemos viver nossa dignidade de cristãos sem assumir a exigência da conversão?
  4. Sei valorizar a convite que Deus me faz?
  5. Que me impede estar à altura?

SEXTA-FEIRA

Mateus 22,34-40

TUDO SE RESUME NO VERBO AMAR:

“Amarás…”

Um mandamento diz que é o que Deus quer de nós; e o primeiro de todos os mandamentos diz o que, fundamentalmente, Deus quer de nós. Este é o sentido da pergunta do fariseu que lemos hoje: “Qual é o mandamento maior da Lei?” (v.34). Quer dizer: “Em que devemos concentrar todas nossas forças de maneira que a vida tenha sentido e alcance a eternidade?”.

Com sua resposta Jesus, citando Dt 6,5, coloca em primeiro plano o amor: “Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo teu coração, com toda tua alma e com toda tua mente” (v.37). Portanto, a primeira tarefa é amar a Deus com todas as forças.

As faculdades que aqui se mencionam são:

  • O coração: a dimensão volitiva do homem, seu “querer”, suas “decisões”;
  • A alma: que na antropologia bíblica é a “força vital”;
  • A mente: a dimensão intelectiva, nossa capacidade de representar o mundo.

Com isso se quer dizer que devemos empregar todas as nossas forças, sem exceção, no amor de Deus.            A entrega a Ele e por Ele deve ser total. Por isso a cada dimensão se junta o termo “todo”. A seguir, Jesus diz: “O segundo é semelhante a este: “Amarás a teu próximo como a ti mesmo”“ (22,39).

O amor que temos por nós mesmos no parâmetro do amor que devemos ter por nossos irmãos. Este amor por nós mesmos não consiste em fortes sentimentos e emoções, mas, na serena aceitação de nós mesmos com tudo o que somos, o que temos, o que constitui nossa personalidade, nossas potencialidades e nossas limitações. 

Quando aceitamos a nós mesmos dizemos “sim” ao amor de Deus que nos criou, a esse amor que toma forma em nossa pessoa. O amor ao próximo deve ser da mesma natureza do amor por nós mesmos. Isto é, aceitamos ao próximo em sua singularidade, o reconhecemos em sua existência como um “outro” amado e criado por Deus. 

Nesta igualdade se reconhece, também, a singularidade do outro. Em virtude disso, o amor ao próximo é, também, um reconhecimento da vontade criadora de Deus; e a relação com ele (o próximo) um motivo de louvor a Deus.

Como conclui Jesus, deste mandamento “pende” toda a Sagrada Escritura (22,40). Quer dizer que este tipo de amor é o que Deus quer de nós: o amor total por Ele e o amor do próximo, desde a dinâmica interna do reconhecimento de seu valor. Assim é que nossa vida alcança seu verdadeiro sentido, um sentido definitivo e indestrutível.

Aprofundemos com os nossos pais na fé:

Santa Catarina de Sena (1347-1380), terceira dominicana, Doutora da Igreja, co-padroeira da Europa

Diálogos, cap. 4 “O que se humilhar será elevado”

[Disse Deus a Santa Catarina:]

Pedes-me para Me conheceres e Me amares, a Mim, a Verdade suprema.

Eis a via para quem quer chegar a conhecer-Me perfeitamente e a experimentar-Me, a Mim, a Verdade eterna: nunca abandones o conhecimento de ti mesma e, abaixada até ao vale da humildade, em ti mesma Me conhecerás.

E desse conhecimento retirarás tudo quanto te faz falta, tudo aquilo de que precisas.

Nenhuma virtude tem vida em si mesma, se a não tirar da caridade; ora, a humildade é a ama e a governanta da caridade.

No conhecimento de ti mesma te tornarás humilde, pois por ele verás que nada

és por ti mesma e que o teu ser vem de Mim, pois Eu amei-vos antes de que vós existísseis.

Foi por causa deste amor inefável que tive por vós que, querendo voltar a criar-vos pela graça, vos lavei e vos recriei no sangue derramado por Meu Filho único com tão grande fogo de amor.

Só este sangue, e apenas ele, dá a conhecer a verdade àquele que, por via desse conhecimento de si mesmo, dissipou a névoa do amor próprio.

É então que, nesse conhecimento de Mim Mesmo, a alma se abrasa de um amor inefável, e é devido a este amor que sofre uma dor contínua.

Não é uma dor que a aflija ou a seque (longe disso dado que, pelo contrário, a fecunda); mas, por ter conhecido a Minha verdade, os seus próprios pecados, a ingratidão e a cegueira do próximo causam-lhe uma dor intolerável.

Aflige-se porque Me ama pois, se não Me amasse, não se afligiria.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:     

  1. Quem foi capaz de amar a Deus e oferecer-se a Ele com essa entrega “total”?
  2. Desejo fazê-lo?
  3. Minha relação com Deus parte do mais profundo de meu ser, de minha força vital,

     ou a sinto como um peso, como uma obrigação, uma rotina?

  • Move-me para Ele a força do amor?
  • Qual é o parâmetro de minhas relações com os demais? Que devo fazer?

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

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