ESTUDO BÍBLICO NA 24ª SEMANA COMUM ANO 2019

24ª Semana do Tempo Comum

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

SEGUNDA-FEIRA

Lucas 7,1-10

A FORÇA SALVÍFICA DA PALAVRA

“Dize, porém, uma palavra para que o meu servo seja curado”

 

O Evangelho de Lucas, com alguma frequência, nos recorda a importância que tem a Palavra como instrumento de salvação. Já, desde o relato programático, em 4,21, Jesus havia dito: “Esta Escritura que acabais de ouvir, cumpriu-se hoje”; isto se constatou:

  • Na sinagoga de Cafarnaúm (“Que palavra esta!”; 4,36); e,
  • No meio de lago (“Em tua palavra lançarei as redes!”; 5,5).

 

A passagem de hoje nos permite comprovar a verdade desta afirmação e experimentar junto com o centurião romano o poder da Palavra de Jesus.

 

  1. A experiência da Palavra

 

O centurião romano faz a experiência da Palavra desta maneira:

  • O início do relato liga “todas estas palavras” (7,1) que Jesus acabara de dirigir à multidão no Sermão da Planície. Em seguida apresenta a situação do servo do centurião que “se encontrava mal e a ponto de morrer” (7,2). A primeira e a segunda linha se ligam: das palavras passamos às obras de Jesus, as obras verificam a verdade do ensinamento.
  • O centurião escuta acerca de Jesus (“Tendo ouvido falar de Jesus”, 7,3a). A palavra acerca de Jesus o faz ir ao encontro do Mestre. Então envia até Ele uns anciãos dos judeus para rogar-lhe que “venha” para “salvar” seu servo (7,3b). É assim que o centurião aparece pondo em prática o último ensinamento de Jesus ao final do Sermão: “Ele que ouça minhas palavras e as ponha em prática…” (6,47). O centurião, mesmo sem ser ainda, comporta-se como um discípulo modelo.

 

O centurião romano proclama o poder da Palavra de Jesus com a profunda humildade de quem está disposto a acolhê-la: “Dize, porém, uma palavra para que o meu servo seja curado” (7,7).

 

  1. A incidência: a misericórdia de Jesus na família

 

Esta catequese sobre o poder da Palavra de Jesus é a primeira de uma série de três relatos sobre a misericórdia.  Os dois primeiros têm que ver com a família:

  • O gesto de misericórdia de Jesus com um pai (conforme no v.2: o servo é como um filho seu);
  • O gesto de misericórdia de Jesus com uma mãe que necessita de consolação (a viúva de Naim; relato que leremos amanhã).

Curiosamente, nestes relatos o primeiro jovem aparece sem mãe e o segundo jovem aparece sem pai.  Jesus entra nestas famílias para trazer a boa notícia da salvação. Estes milagres que Jesus realiza serão relidos mais adiante como sinais de novos tempos (7,22).

 

  1. A bondade e a gratuidade com o inimigo

 

É importante notar no relato de hoje que Jesus está pondo em prática o que acaba de ensinar no Sermão da Montanha sobre fazer o bem aos adversários (ver 6,27.35). Mesmo que, talvez, seja de origem síria (assim parece), o centurião representa o povo romano, o qual exerce seu domínio político e econômico sobre Israel. Os líderes do povo de Cafarnaum sabem reconhecer seu lado bom, quando o apresentam a Jesus: “ele ama nosso povo e, ele mesmo, edificou-nos uma sinagoga” (7,5).

 

Sem dúvida, para Jesus a questão não é o fato de que este homem seja um adversário (se bem que é quase um prosélito judeu); nem, tampouco, que este haja acumulado méritos para “receber o milagre” (visto que Jesus dissera que se deve fazer o bem sem esperar nada em troca; 6,35). O que importa, para Jesus, é que há uma vida em perigo e que deve ser salva (recordemos o ensinamento de 6,9).

 

E Jesus não só vê a necessidade do servo moribundo, mas também a abertura da fé de seu chefe e pai. É curioso que enquanto os judeus louvam a boa obra do centurião (7,5), Jesus o felicita por sua fé: “Digo-vos que nem em Israel tenho encontrado uma fé tão grande” (7,9)

 

A fé do centurião se reconhece em dois detalhes:

  • Sua humildade: ele se declara indigno de receber Jesus sob seu teto, reconhecendo, desta forma, a superioridade de Jesus sobre ele, que também é uma pessoa de autoridade;
  • Seu reconhecimento do poder de Jesus, o qual considera absoluto e sem limites. Ele pode mandar com uma palavra à enfermidade e esta desaparecerá.

 

O centurião, como também nós tenderíamos a fazê-lo, reconhece que a pessoa de Jesus é muito grande, porém, também o é a sua Palavra.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • De que forma o centurião romano faz a experiência da Palavra?
  • Neste mês da Bíblia, como tenho feito a experiência da Palavra? Que mudou em mim?
  • Em minha família e comunidade qual tem sido a boa nova que Jesus nos trás? Como estamos respondendo?

 

TERÇA-FEIRA

Lucas 7,11-17

A PROCISSÃO DA MORTE E A PROCISSÃO DA VIDA

“Ao vê-la, o Senhor teve compaixão dela”

O relato da ressurreição do filho da viúva de Naim nos apresenta um dos encontros mais belos de Jesus com o mundo da dor e da morte. O efeito da narração se sente desde as duas primeiras linhas onde, na porta da cidade, o evangelista descreve o encontro de duas procissões:

  • A procissão da vida

Encabeçada por Jesus e seguida pelos discípulos e uma grande multidão (7,11).  Esta procissão festiva está a ponto de entrar na cidade com a boa nova da vida;

  • A procissão da morte

Encabeçada por um jovem morto, seguida por sua mãe e logo por outra multidão da cidade que se solidarizou com a mãe. Esta procissão triste esta saindo da cidade (7,12).

Vejamos o que acontece.

O ponto de partida

A procissão da vida começou em Cafarnaum, onde o criado de um centurião foi curado de sua febre mortal pelo poder da Palavra de Jesus. Por outro lado, a procissão da morte se inicia no coração da cidade de Naim; porém, na realidade, começa em um lugar existencial mais profundo: na vitória da morte, depois do sofrimento extremo, inexplicável e suscita perguntas profundas sobre a razão de viver:

O Evangelho não vacila ao colocar-nos frente à cruel realidade:A morte de uma pessoa jovem: uma história encerrada no momento de maior vitalidade; e a desolação total de uma mãe: que já era viúva e, agora, perde o único que lhe ficara na vida para seu apoio afetivo e, ainda, econômico.

O encontro com o Senhor da Vida

Porém, a perda do filho querido é transformada pela boa nova de Jesus, que o oferece, como dom, à sua mãe: “E o deu a sua mãe” (7,15). Os que acompanhavam à viúva no funeral não podiam dar-lhe nada mais que um sentido pêsame. Em troca, Jesus a devolve vivo, o seu filho. Lucas enfatiza: “Teve compaixão” (71,3a).

Vemos como o Senhor muda a procissão da morte em uma procissão da vida desde a força de sua misericórdia, a qual se torna ação:

  • À mãe, disse de imediato: “Não chores” (71,3b), o que nos recorda: “Bem-aventurados vos que chorais agora, porque rireis” (6,21b);
  • Ao jovem defunto, o levanta do féretro com a força ressuscitadora de sua Palavra: “Jovem, a ti te digo: Levanta-te!” (7,14).

Uma vez mais comprovamos o poder da palavra de Jesus e vemos qual é seu conteúdo. A diferença dos profetas do Antigo Testamento, os que pediam a Deus que devolvesse a vida aos mortos (ver a ação do profeta Eliseu em 1 Reis 4), Jesus pronuncia, Ele mesmo, o mandato dirigido ao morto. E sua palavra poderosa se realiza pontualmente (7,15a).

  1. Uma grande festa de louvor

E se pôs a falar” (7,15b).

O jovem não só é devolvido à vida, mas, também reintegrado ao mundo das relações, que é onde está a essência da vida. A capacidade comunicativa do jovem é o primeiro sinal de sua ressurreição. Porém, a comunicação alcança seu nível mais alto quando esta se torna oração.

E, uma vez mais, o Evangelho faz eco aos coros de louvor do povo que têm sido testemunhas da obra de Jesus com poder (como se tem visto em Lucas 2,20 e 5,26). Nas bênçãos festivas do povo, Jesus é reconhecido como o que proclama a Palavra de Deus como nenhum (5,1.3.5), quer dizer, como “um grande profeta” superior a Elias e a Eliseu: “Um grande profeta se levantou entre nós” (7,16ª).

E mais ainda, como presença viva de Deus no meio de seu povo: “Deus visitou a seu povo” (7,16). E este acontecimento se torna “Palavra” de evangelização (“E o que se dizia dele se propagou”; 7,17) que chega até nós, hoje.

É o Evangelho que nos convida para que nos abramos à mesma experiência da misericórdia de Jesus com o jovem, a mãe viúva e todos os sofredores de nossos dias, aos quais à vida foi negada, para que nos unamos, também, à procissão da vida que Jesus segue encabeçando, discretamente, pelos caminhos de nossa história.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  • Por que se fala, nesta passagem, de duas procissões? Quais são?
  • Jesus soube dar um consolo concreto e eficaz à mãe, ressuscitou ao filho. Também eu posso dar vida aos demais? Como o faria? Como o tenho feito?
  • Como posso ajudar a minha família e a minha comunidade a ser portadora de vida para os demais? Em que ocasiões nos limitamos a dar uma esmola? Que nos aconselha Jesus?

 

QUARTA-FEIRA

João 3,13-17

A MORTE DE JESUS É FONTE DE VIDA

“Assim tem que ser levantado o Filho do homem, para que todo o que crer tenha n’Ele vida eterna”

 

Na conversa com Nicodemos, Jesus convida a olhar para o alto, ali onde emana a fonte de vida que nos faz nascer de novo. A fonte de vida é a gloriosa Cruz de Jesus (passagem de hoje: Jo 3,13-17).

 

Por outro lado, o Evangelho de João assinala, de modo particular, que do peito traspassado do Senhor crucificado por amor, brota o Espírito como água purificadora e geradora de vida (19,34; ver 7,37-39). Do dom da vida de Jesus nasce a nova humanidade.

 

Estas duas passagens se juntam nesta festa, na qual contemplamos o lenho da Cruz, agora florescido pela Ressurreição.

 

As palavras de Jesus a Nicodemos, depois que este último pergunta, pela segunda vez, como se nasce de novo (3,9), vão se remontando, vertiginosamente, até as alturas insondáveis.

 

Jesus se volta, assinalando a exaltação da Cruz, até o caminhar do povo de Israel pelo deserto (3,14) e finalmente até as profundidades mesmas do amor de Deus (3,16), de onde tudo provém.

 

Os verbos do texto evangélico selecionado para nós, hoje, descrevem um duplo movimento que vai até os extremos.

 

São estes:

 

  • “Subir” – “Descer”: os referentes são o “céu” e a “terra”. Jesus vem das altas profundidades do

céu e para ele remonta com sua ressurreição;

 

  • “Dar” – “Crer”: Deus se dá a si mesmo de maneira radical em seu próprio Filho, o homem neste

dom também sai de si mesmo no radical impulso da fé;

 

  • Perecer” – “Salvar”: o futuro da vida se vê ameaçado com a morte, porém por meio da pessoa de

Jesus se dá a possibilidade de viver eternamente.

 

Todos estes movimentos passam pela Cruz, entrelaçando-se em um único movimento que o recolhe todo:

“E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim tem que ser levantado o Filho do homem, para que todo o que crer, tenha por Ele vida eterna” (3,14-15).

 

O mais profundo de Deus vem ao encontro do homem e a dor humana é assumida por Ele curando o veneno paralisante do absurdo. Na Cruz, Ele dá esta intimação salvadora ao homem: a Cruz reconcilia.

 

A contemplação da Cruz nos envolve nesta dinâmica de reconciliação. É preciso. Normalmente esquivamos o olhar e fugimos dela como se foge de uma serpente.  Do mesmo modo temos dificuldade em pôr o olhar em nossos sofrimentos, preferimos pensar em outra coisa, buscar atenuantes.

 

Hoje a enfermidade e a morte, esta última elevada à categoria de show pelos meios de comunicação, tendem a ser mascaradas e atenuadas em sua cruel realidade, para que não nos ponham em crise.

 

Porém, é preciso levantar o olhar e enfrentá-la. A Cruz de Jesus nos ensina a fazer isso. Não a olhamos para desesperar-nos, mas para ler nela a resposta ao enigma fundamental que assalta a mente humana: de dentro da Cruz provem a Ressurreição, emana a vida.

 

E se contemplamos o amor que há dentro da Cruz – a vida que há no absurdo da morte, a incrível entrega que há, ali, nessa mesquinha expressão do sofrimento humano – compreenderemos que, se “cremos” em Jesus, se acolhemos esse dom de amor (o mais profundo), todas as dores, associadas ao mistério da morte, são portas abertas à esperança.

 

Então, atrás de cada cruz que se encontra em nossos caminhos, descobriremos sinais de ressurreição.

 

Curiosamente na frase central do Evangelho de hoje se substitui o termo “olhar” (que seria o lógico em uma frase do tipo: “assim tem que ser levantado”) por “crer”, ficando: “para que todo o que crer, tenha por Ele vida eterna”.

Portanto se trata do contemplar “crendo”, quer dizer, assumindo. Dai que a mensagem que brota da Cruz é clara e exigente: é preciso ver em profundidade a vida.

 

Quem penetra profundamente na morte de Jesus, mistério de amor, e não só de dor, mistério de entrega, e não só de rejeição, verá também como em suas cruzes deixa-se ver o casulo de uma vida que florescerá um dia, quando estiver exaltada com Jesus na Ressurreição.

 

Eis o ponto de partida de uma espiritualidade da esperança em meio dos absurdos humanos da guerra e todas as formas de negação do outro e da vida.

 

Cultivemos a semente da palavra no profundo do coração

 

  • Percebo que na sociedade atual há “fugas” para evitar enfrentar o rosto dolorido do irmão?
  • Que me convida a contemplar a Cruz exaltada? Para onde se remontaria em última instância meu olhar?
  • Sei ler e orar os acontecimentos de minha vida desde a Cruz de Jesus? Como haveria que fazê-lo?

 

 

QUINTA-FEIRA

Lucas 2,33-35

UMA GLORIOSA MANIFESTAÇÂO QUE RESPONDE À LONGA ESPERA

“Meus olhos viram tua salvação”

 

Os relatos de infância de Jesus em Lucas não deixam de contagiar-nos sua graça.

Cada detalhe é significativo porque nos ajuda a compreender a Jesus que, pouco a pouco, vai se manifestando. Por exemplo, a primeira aparição em público de Jesus se realiza no Templo, assim se realiza a profecia de Malaquias: “Em seguida virá a seu Templo o Senhor a quem vós buscais” (3,1).

Podemos relacionar o relato de hoje com o de ontem. Se ontem víamos o passar de Jesus à idade adulta, hoje o vemos em um momento, ainda inicial, quando depende, completamente, de seus pais.

 

Maria, que trouxe Jesus ao mundo, o introduz, também, no mundo da fé israelita e em seu lugar mais significativo, que é o Templo. Simeão nos dá um novo horizonte para compreender melhor a Jesus e Maria.

Aqui neste relato, podemos distinguir três partes:

(1) Uma descrição das características de Simeão (2,25-28);

(2) Uma oração de louvor a Deus pela chegada do Messias (2,29-32);

(3) Uma profecia sobre o destino de Jesus, o qual envolve também o futuro de sua Mãe (2,33-35).

O Evangelho, hoje, nos apresenta esta terceira parte. Depois da oração de Simeão, o evangelista anota que os pais de Jesus participam com sua admiração.

Também seus olhos se abriram ante o mistério que se manifesta no menino Jesus. Então “Simeão os bendiz” e dirigindo-se a Maria anuncia, profeticamente, tanto o destino de Jesus como o dela.

Simeão vê e anuncia profeticamente o futuro de Jesus (v.34)

O cume da história da salvação é luz e glória, porém, agora, vem pela rota por meio da qual se chega, verdadeiramente, a ela, a rota que seguirá Jesus: a luz da glória passa pela sombra da dor, da rejeição do servidor de Deus. “Este está posto para queda e elevação de muitos em Israel” (v.34ª).

Em seu ministério, Jesus não será acolhido unanimemente: uns o acolherão, outros não. Ao longo do Evangelho será fácil perceber estes dois grupos.

Diante de Jesus se terá que fazer sempre uma opção e, qualquer que seja a decisão que se tome, sempre haverá uma consequência:

  • quem o aceite encontrará n’Ele a salvação (=elevação); e
  • quem o rejeite terá que ver-se, ao final, com Deus (=queda).

Por tudo isto Jesus é “sinal de contradição”. A trama do Evangelho se tece no conflito que acompanhará sua vida até o momento final na cruz.

Simeão vê e anuncia profeticamente o futuro de Maria unido ao de seu Filho (v.35)

E a ti mesma uma espada te atravessará a alma!” (v.35ª)

A Mãe do Messias seguirá unida a Ele, como sua discípula; como tal o acompanhará, com sua presença física e com seu coração, e compartilhará a dor da rejeição.

Esta união com Jesus em tudo e, sobretudo em seu destino, e que, ao final, conduz à glória (ver 24,26), será a exigência fundamental do discipulado.

Apresenta-se então Maria como a discípula perfeita que percorre o caminho completo de Jesus: ela soube acolhê-lo desde o primeiro momento, porém terá que aprender a percorrer seu caminho como servidora fiel até o final.

E, se seguimos lendo a obra de Lucas nos Atos dos Apóstolos, nós notaremos como, desde já, em Maria, Simeão está contemplando o futuro da Igreja missionária.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

  • Que ideal de família nos apresenta o Evangelho de hoje? Esses dias de natal não são um bom espaço para que a construamos? Que haveria que fazer?
  • Que diz Simeão em seu hino inspirado pelo Espírito? Estamos capacitados para dizer o mesmo?

A comunhão de destino de Jesus e Maria que lição nos dá para nosso caminho de discipulado?

 

 

 

 

 

 

 

 

SEXTA

Texto espanhol original:

“ Todavía estaba hablando a la muchedumbre… ” (12,46) cuando, de repente, llegaron los familiares de Jesús, “ su madre y sus hermanos ”, y se quedaron esperando fuera (12,16a).

Sugira uma tradução melhor

-FEIRA

Lucas 8,1-3

O HONROSO CORTEJO FEMININO DE JESUS

“Seguiam-lhe os doze e algumas mulheres”

 

Pelo visto, o caso da pecadora perdoada (7,36-50) não foi o único.

Lucas nos apresenta logo após o relato maravilhoso de ontem, um resumo do que Jesus realizou com muita frequência: como muitas das mulheres que experimentaram sua misericórdia na cura e no perdão, se tornaram suas discípulas.

A passagem começa refrescando-nos a memória, ao apresentar-nos Jesus evangelizador (Lc 8,1), que desde o começo diz “tenho que evangelizar” (4,43), e aqui notamos três características:

  • É itinerante

Ia…”. Jesus o Senhor dos caminhos, está sempre em ação;

  • Vai por cidades e aldeias

“… por cidades e povoados…”. Jesus se insere no tecido social do mundo urbano e também vai ao campo; não há um espaço que não seja importante para sua missão;

  • Evangeliza

“… proclamando e anunciando a Boa Nova do Reino de Deus”. Jesus prega sempre a ação poderosa de Deus que, neste tempo de graça se fez visível e alcançável em sua tremenda proximidade a todas as pessoas e a todas as situações humanas.

No compromisso ativo de Jesus, que temos visto bem exemplificado nas cenas do Evangelho de Lucas lido e contemplado nestes dias, Deus está realizando a salvação da humanidade.

Sua salvação que irrompe desde dentro mesmo do sofrimento humano, abraçado agora pelo coração misericordioso de Jesus, e que faz de cada homem uma expressão viva da plenitude para a qual foi criado.

Esta nova humanidade está já em germe no grupo dos homens e mulheres que acompanham permanentemente a Jesus em suas viagens missionárias. Sua presença constante ao lado dele é também uma forma de anúncio do que todos os destinatários da missão estão chamados a viver.

Chama à atenção a presença das mulheres nas viagens missionárias de Jesus. Para nós hoje é normal, ser a maioria nas Igrejas, porém não era assim no tempo de Jesus. Por isso a presença de mulheres no grupo de discípulos, membros ativos da escola de Jesus é um sinal da Boa Nova do Reino.

 

Entrando lentamente no texto, notemos que as mulheres:

  • Estavam com Jesus igual aos doze. Sua lealdade ao mestre persevera até o Calvário (23,49.55);
  • Algumas “haviam sido curadas de espíritos malignos”. O mesmo que se diz de todos 6,18; 7,21;
  • Uma delas, Maria Madalena, havia sido libertada de sete demônios. Alguns intérpretes consideram que se trate provavelmente de uma referência a diversas enfermidades mentais. O número sete que na Bíblia expressa plenitude parece indicar ter passado por uma situação repetida (11,26);
  • Outra delas, Joana, vinha do mundo palaciano de Herodes, adversário de Jesus (Lc 13,31-32);
  • Todas elas apoiavam a missão de Jesus pondo seus bens a serviço do Mestre. O verbo utilizado aqui é “diácono”, termo usado no Novo Testamento para descrever o serviço eclesial. Daí se deduz que se tratava de um serviço de não pouca importância.

A abertura de Jesus às mulheres, até o ponto de envolvê-las em sua missão criava uma situação de escândalo que chegava até o intolerável para a piedade rabínica e farisaica da época.

Mais inconcebível era a tremenda confiança que Jesus despertava em seus discípulos e discípulas ao gerar entre eles uma estreita convivência, sem que se chegasse a abusos ou escândalos no interior de sua comunidade.

A razão pela qual o mundo oriental costumava separar na escola e em todos os ambientes públicos varões e mulheres era precisamente o temor a que terminassem envolvidas afetiva e sexualmente. Porém, a escola de Jesus é diferente.

Jesus confia na maturidade de seus discípulos. Esta capacidade para conviver com um coração puro é também um sinal de novidade do Reino.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Qual foi a atitude de Jesus ante a presença das mulheres em suas viagens apostólicas?
  • Em que fazemos consistir a acolhida e valorização da mulher nos ambientes de trabalho, estudo, etc. No contexto eclesial, que protagonismo nós deixamos que elas exerçam?
  • Qual é o ensinamento que Jesus nos dá a respeito?

 

 

 

Texto espanhol original:

“ Todavía estaba hablando a la muchedumbre… ” (12,46) cuando, de repente, llegaron los familiares de Jesús, “ su madre y sus hermanos ”, y se quedaron esperando fuera (12,16a).

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BADO

Lucas 8,4-15

ESCOLA DE PAIS: SEMEAR NOS FILHOS SEM A ÂNSIA DO RESULTADO

“E crescendo deu fruto centuplicado”

Com a permissão de vocês hoje vamos mudar a linguagem. Convidamos-lhes para neste sábado nos permitirmos outro estilo de “Lectio divina”, aproximando a parábola do semeador à realidade da família, particularmente na responsabilidade na educação dos filhos. Não é verdade que nem sempre vemos germinar os valores que cremos haver semeado? Ao ler a parábola do semeador uma motivação deveria ficar em nosso coração de pais: semeemos no coração dos filhos sem a ânsia do resultado.

Enquanto discípulos (e pais; o mesmo para todos os que têm alguma responsabilidade sobre jovens) ponhamo-nos, por um momento, em torno de Jesus, que em seu caminho evangelizador por cidades e campos da Galiléia, conta a uma grande multidão a parábola. Muitos pais deveriam estar ali presentes. Ponhamo-nos no lugar de um deles, que ao escutar a parábola talvez reaja assim: “Meus filhos não escutam (ou escutam muito pouco) a Palavra de Deus. Que significa isso, Senhor?”.

Porém é claro, como no caso dos terrenos da parábola, nem todos os filhos são iguais:

  • Uma parte caiu ao longo do caminho” (8,5). Há ‘filhos-terreno’ “ao longo do caminho”, que não dão espaços para que a semente possa repousar e germinar. Na melhor das hipóteses, alguma vez os temos pressionado um pouco, ou, inclusive, até os empurramos para fazê-los ir à Igreja como e onde nós dizemos? Ou melhor, os temos saturado com nosso discurso repetitivo?

(2) “Outra parte caiu sobre pedra” (8,6). Há filhos-terreno “pedregoso”. São como aqueles bem dispostos, entusiastas, que temos visto sair cedo para participar em iniciativas da Igreja, ou do grupo do colégio, ou da universidade. Mas depois vemos que são inconstantes, que vão se cansando e buscam qualquer desculpa para abandonar seus compromissos e, aos poucos, vão levantando o muro da indiferença, voltando à mesma situação de antes. Alguma vez, talvez tenhamos julgado seu compromisso momentâneo, apontando contra seus entusiasmos passageiros, sabendo de antemão que nada ia mudar neles e que ao final iam sair com nada?

  • Outra parte caiu em meio de abrolhos” (8,7). Há filhos-terreno “espinhoso”, que põem os pés em muitos sapatos, estão ansiosos por viver a moda, ou um estilo de vida para estar igual aos amigos: as mesmas chegadas tarde, a mesma roupa, o mesmo modo de falar, o mesmo desejo desenfreado por divertir-se. Será que não foi por lhes mostrar uma religião triste, sem força interior, mais como um tranquilizante de consciência, uma tradição de família, que como uma maravilhosa experiência de vida que exalta o coração e, assim, os fizemos pensar que havia mais felicidade lá fora, no mundo?
  • “E outra caiu em terra boa” (8,8). Há filhos-terreno bom! E não nos cansamos de maravilhar-nos pela coerência, não importa que às vezes nos incomode a valentia de suas opções, que superam nossos frios compromissos. Talvez falemos deles com orgulho aos amigos, sem forçar histórias, ainda tendo que reconhecer, humildemente, nossas debilidades e admitir que há filhos melhores que os pais. Ou talvez nunca suspeitamos que a semente tivesse tanta força no coração dos filhos? O fruto do terreno bom é abundante, mais que o camponês daqueles tempos podia esperar. Esta é a surpreendente liberdade e fecundidade da semente!

Se ao lermos a parábola entendemos que assim como os terrenos, os filhos não são iguais, já entramos na sabedoria do semeador, que não trabalha com parâmetros únicos nem definitivos. E há mais para desentranhar dentro desta rica parábola. O semeador semeia, mas tem que deixar-se surpreender. Talvez, agora que nos fazíamos perguntas a partir da observação dos terrenos, nos dávamos conta que as coisas nem sempre são como pensamos e que temos que pôr mais cuidado no nosso modo de semear no coração dos filhos?

Aprendamos a lição do semeador. Ele não é ansioso, não força a semente nem castiga a terra. Não perde o controle, nem se preocupa. Semeia com largueza, até exagera, mas, logo, com cuidadosa e discreta observação, acompanha o crescimento com a paciência de quem sabe que deve respeitar os tempos. E mais, ao lançar suas sementes, o semeador não liga para a resposta do terreno; ele sempre o faz com liberdade de coração e com imensa alegria, não importa que os resultados não sejam os esperados. Sem entendermos isto, já foi lucro o estar ao lado do semeador. Talvez, de repente tenhamos que despojar-nos da ânsia por ver resultados imediatos em nossos filhos. Quem tem a graça de semear a Palavra de Deus no coração de seus filhos, sabe, com segurança, que esta Palavra não passa em vão e que não o corresponde fazê-la frutificar, como e quando queira.

 

Será então quando se fará outra bela descoberta a partir da experiência: que, na realidade, não há 4 tipos de terreno (4 tipos de filhos, dos quais os 3 primeiros são irrecuperáveis), mas 4 estações na vida: seu coração pode ser que seja árido, pedregoso ou espinhoso, mas a semente lançada responsavelmente, com o tempo, dará seu fruto, com liberdade. Não é por acaso que entre a parábola e sua explicação, Jesus fale “dos mistérios do Reino de Deus” (8,10). Como quem diz: Deus sabe como faz sua obra. Não nos cabe ver como Deus realiza o crescimento no coração de cada um, o que nos cabe é semear responsável, amorosa e generosamente.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Como podemos relacionar a parábola do semeador com os tipos de pessoas e, mais concretamente, de filhos que vivem conosco?
  • “Os filhos não são todos iguais” disto nós estamos plenamente convencidos. Que exige de nós esta constatação a respeito de nossa forma de educá-los? Que fazemos para que cada um deles valorize a formação que lhes damos?
  • Pensamos que eles “devem” caminhar conosco ou nos esforçamos por caminhar ao lado deles, quer dizer, meter-nos em seu mundo para que eles se metam no nosso? Sabemos ter com cada um de nossos filhos a paciência dos processos que às vezes são lentos, ou nos desesperamos porque não vemos resultados imediatos? E dentro destes processos, que lugar ocupa a presença de Jesus?

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