ESTUDO BÍBLICO NA 24ª SEMANA DO TEMPO COMUM ANO A 2020

ESTUDO BÍBLICO NA 24ª SEMANA COMUM ANO A 2020

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SEGUNDA-FEIRA – EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ

João 3,13-17

A MORTE DE JESUS É FONTE DE VIDA

“Assim tem que ser levantado o Filho do homem, para que todo o que crer tenha n’Ele vida eterna”

 

Na conversa com Nicodemos, Jesus convida a olhar para o alto, ali onde emana a fonte de vida que nos faz nascer de novo. A fonte de vida é a gloriosa Cruz de Jesus (passagem de hoje: Jo 3,13-17).

 

Por outro lado, o Evangelho de João assinala, de modo particular, que do peito traspassado do Senhor crucificado por amor, brota o Espírito como água purificadora e geradora de vida (19,34; ver 7,37-39). Do dom da vida de Jesus nasce a nova humanidade.

 

Estas duas passagens se juntam nesta festa, na qual contemplamos o lenho da Cruz, agora florescido pela Ressurreição.

 

As palavras de Jesus a Nicodemos, depois que este último pergunta, pela segunda vez, como se nasce de novo (3,9), vão se remontando, vertiginosamente, até as alturas insondáveis.

 

Jesus se volta, assinalando a exaltação da Cruz, até o caminhar do povo de Israel pelo deserto (3,14) e finalmente até as profundidades mesmas do amor de Deus (3,16), de onde tudo provém.

 

Os verbos do texto evangélico selecionado para nós, hoje, descrevem um duplo movimento que vai até os extremos.

 

São estes:

 

  • “Subir” – “Descer”: os referentes são o “céu” e a “terra”. Jesus vem das altas profundidades do

céu e para ele remonta com sua ressurreição;

 

  • “Dar” – “Crer”: Deus se dá a si mesmo de maneira radical em seu próprio Filho, o homem neste

dom também sai de si mesmo no radical impulso da fé;

 

  • Perecer” – “Salvar”: o futuro da vida se vê ameaçado com a morte, porém por meio da pessoa de

Jesus se dá a possibilidade de viver eternamente.

 

Todos estes movimentos passam pela Cruz, entrelaçando-se em um único movimento que o recolhe todo: “E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim tem que ser levantado o Filho do homem, para que todo o que crer, tenha por Ele vida eterna” (3,14-15).

 

O mais profundo de Deus vem ao encontro do homem e a dor humana é assumida por Ele curando o veneno paralisante do absurdo. Na Cruz, Ele dá esta intimação salvadora ao homem: a Cruz reconcilia.

 

A contemplação da Cruz nos envolve nesta dinâmica de reconciliação. É preciso. Normalmente esquivamos o olhar e fugimos dela como se foge de uma serpente.  Do mesmo modo temos dificuldade em pôr o olhar em nossos sofrimentos, preferimos pensar em outra coisa, buscar atenuantes.

 

Hoje a enfermidade e a morte, esta última elevada à categoria de show pelos meios de comunicação, tendem a ser mascaradas e atenuadas em sua cruel realidade, para que não nos ponham em crise.

 

Porém, é preciso levantar o olhar e enfrentá-la. A Cruz de Jesus nos ensina a fazer isso. Não a olhamos para desesperar-nos, mas para ler nela a resposta ao enigma fundamental que assalta a mente humana: de dentro da Cruz provem a Ressurreição, emana a vida.

 

E se contemplamos o amor que há dentro da Cruz – a vida que há no absurdo da morte, a incrível entrega que há, ali, nessa mesquinha expressão do sofrimento humano – compreenderemos que, se “cremos” em Jesus, se acolhemos esse dom de amor (o mais profundo), todas as dores, associadas ao mistério da morte, são portas abertas à esperança.

 

Então, atrás de cada cruz que se encontra em nossos caminhos, descobriremos sinais de ressurreição.

 

Curiosamente na frase central do Evangelho de hoje se substitui o termo “olhar” (que seria o lógico em uma frase do tipo: “assim tem que ser levantado”) por “crer”, ficando: “para que todo o que crer, tenha por Ele vida eterna”. Portanto se trata do contemplar “crendo”, quer dizer, assumindo.

 

Dai que a mensagem que brota da Cruz é clara e exigente: é preciso ver em profundidade a vida.

 

Quem penetra profundamente na morte de Jesus, mistério de amor, e não só de dor, mistério de entrega, e não só de rejeição, verá também como em suas cruzes deixa-se ver o casulo de uma vida que florescerá um dia, quando estiver exaltada com Jesus na Ressurreição.

 

Eis o ponto de partida de uma espiritualidade da esperança em meio dos absurdos humanos da guerra e todas as formas de negação do outro e da vida.

 

Cultivemos a semente da palavra no profundo do coração

 

1 Percebo que na sociedade atual há “fugas” para evitar enfrentar o rosto dolorido do irmão? 2 Que me convida a contemplar a Cruz exaltada? 3 Para onde se remontaria em última instancia meu olhar?

4 Sei ler e orar os acontecimentos de minha vida desde a Cruz de Jesus? Como haveria que fazê-lo?

TERÇA-FEIRA- DIA DA MÃE DOS AFLITOS

Leitura do Evangelho  (Jo 19,25-27)

 

Naquele tempo, 25Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. 26Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: Mulher, eis aí teu filho. 27Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa.

 

3) Reflexão   João 19,25-27

*  Hoje, festa de Nossa Senhora das Dores, o evangelho do dia traz a passagem em que Maria, a mãe de Jesus, e o discípulo amado se encontram no calvário diante da Cruz. A Mãe de Jesus aparece duas vezes no evangelho de João: no começo, nas bodas de Caná (Jo 2,1-5), e no fim, ao pé da Cruz (Jo 19,25-27). Estes pois episódios, exclusivos do evangelho de João, têm um valor simbólico muito profundo. O evangelho de João, comparado com os outros três evangelhos é como quem tira raio-X onde os outros três só tiram fotografia. O raio-X da fé ajuda a descobrir dimensões nos acontecimentos que os olhos comuns não chegam a perceber. O evangelho de João, além de descrever os fatos, revela a dimensão simbólica que neles existe. Assim, nos dois casos, em Caná e na Cruz, a Mãe de Jesus representa simbolicamente o Antigo Testamento que aguarda a chegada do Novo Testamento e, nos dois casos, ela contribui para que o Novo chegue. Maria aparece como o elo entre o que havia antes e o que virá depois. Em Caná, ela simboliza o AT, percebe os limites do Antigo e toma a iniciativa para que o Novo possa chegar. Ela vai falar ao Filho: “Eles não tem mais vinho!” (Jo 2,3). E no Calvário? Vejamos:

*  João 19, 25As mulheres e o Discípulo Amado junto à Cruz

Assim diz o Evangelho: “A mãe de Jesus, a irmã da mãe dele, Maria de Cléofas, e Maria Madalena estavam junto à cruz”. A “fotografia” mostra a mãe junto do filho, em pé. Mulher forte, que não se deixa abater. “Stabat Mater Dolorosa!” Ela é uma presença silenciosa que apóia o filho na sua entrega até à morte, e morte de cruz (Flp 2,8). Além disso, o “raio-X” da fé mostra como se realiza a passagem do AT para o NT. Como em Caná, a Mãe de Jesus representa o AT. O Discípulo Amado representa o NT, a comunidade que cresceu ao redor de Jesus. É o filho que nasceu do AT, a nova humanidade que se forma a partir da vivência do Evangelho do Reino. No fim do primeiro século, alguns cristãos achavam que o AT já não era necessário. De fato, no começo do segundo século, Márcion recusou todo o AT e ficou só com uma parte do NT. Por isso, muitos queriam saber qual a vontade de Jesus a este respeito.

*  João 19,26-28 O Testamento ou a Vontade de Jesus

As palavras de Jesus são significativas. Vendo sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: “Mulher, eis aí o seu filho.” Depois disse ao discípulo: “Eis aí a sua mãe.” Os Antigo e o Novo Testamento devem caminhar juntos. A pedido de Jesus, o discípulo amado, o filho, o NT, recebe a Mãe, o AT, em sua casa. É na casa do Discípulo Amado, na comunidade cristã, que se descobre o sentido pleno do AT. O Novo não se entende sem o Antigo, nem o Antigo é completo sem o Novo. Santo Agostinho dizia: “Novum in vetere latet, Vetus in Novo patet”. (O Novo está escondido no Antigo. O Antigo desabrocha no Novo). O Novo sem o Antigo seria um prédio sem fundamento. E o Antigo sem o Novo seria uma árvore frutífera que não chegou a dar fruto.

*  Maria no Novo Testamento

De Maria se fala pouco no NT, e ela mesma fala menos ainda. Maria é a Mãe do silêncio. A Bíblia conservou apenas sete palavras de Maria. Cada uma destas sete palavras é como uma janela que permite olhar para dentro da casa de Maria e descobrir como ela se relacionava com Deus. A chave para entender tudo isso é dada por Lucas nesta frase: “Felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática.” (Lc 11,27-28)

1ª Palavra: “Como pode ser isso se eu não conheço homem algum!” (Lc 1,34)

2ª Palavra: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1,38)

3ª Palavra: “Minha alma louva o Senhor, exulta meu espírito em Deus meu Salvador!” (Lc 1,46-55)

4ª Palavra: “Meu filho porque nos fez isso? Teu pai e eu, aflitos, te procurávamos” (Lc 2,48)

5º Palavra: “Eles não tem mais vinho!” (Jo 2,3)

6ª Palavra: “Fazei tudo o que ele vos disser!” (Jo 2,5)

7ª Palavra:  O silêncio ao pé da Cruz, mais eloqüente que mil palavras! (Jo 19,25-27)

 

 

4) Para um confronto pessoal

 

1) Maria ao pé da Cruz. Mulher forte, silenciosa. Como é minha devoção a Maria, a mãe de Jesus?

2) Na Pietà de Miguelangelo, Maria aparece bem jovem, mais jovem que o próprio filho crucificado, quando já devia ter no mínimo em torno de 50 anos. Perguntado porque tinha esculpido o rosto da Maria tão jovem, Miguelangelo respondeu: “As pessoas apaixonadas por Deus não envelhecem nunca”. Apaixonada por Deus! Existe paixão por Deus em mim?

 

5) Oração final

 

Quão grande é, Senhor, vossa bondade,

que reservastes para os que vos temem

e com que tratais aos que se refugiam em vós, aos olhos de todos. (Sl 30,20)

 

QUARTA-FEIRA

Lucas 7,31-35

PARÁBOLA DAS CRIANÇAS CAPRICHOSAS.

“Com quem, pois compararei aos homens desta geração?”

 

A parábola das “crianças caprichosas” avalia hoje nossa atitude frente ao evangelho de Jesus.

 

Jesus tem dado sinais claros de sua identidade através de seus milagres: sua misericórdia reverteu a enfermidade e a morte de dois jovens em uma chance de vida, aliviando assim também o sofrimento de suas respectivas famílias e pondo-as a caminhar em uma nova direção de esperança. Frente a estas evidencias já se podem tirar conclusões acerca de Jesus.

 

É neste contexto que o evangelho insere a pergunta de João Batista a Jesus: “És tu o que há de vir, ou devemos esperar outro?” (7,19). Porém a resposta não é unânime.

 

Assim como houve uma divisão de opiniões frente à missão de João Batista igualmente aconteceu com Jesus: (a) O povo e particularmente os pecadores creram e decidiram converter-se (7,29); e (b) Os mais religiosos, os fariseus e legistas, não creram e “frustraram o plano de Deus sobre eles” (7,30).

 

E frente a esta realidade entra Jesus com as palavras duras que estamos lendo hoje. Jesus apela à ironia e faz notar sua maneira engraçada de dirigir-se às pessoas quando quer fazê-las pensar. Em sua época, pelas noites, as crianças da vizinhança costumavam reunir-se para jogar, alguns de seus jogos se parecem a dinâmicas que fazemos hoje nos grupos. Um dos jogos consistia em dividir-se em dois grupos, de maneira que cada grupo tinha um momento para entoar uma canção que o outro grupo também devia seguir. Era um jogo divertido.

 

Evocando isto, Jesus diz àqueles que sempre tem encontrado um motivo para não comprometer-se, que são como crianças caprichosas que não entram no jogo.

  • “Temos tocado a flauta, e não haveis cantado” se convida ao outro coro a cantar primeiro uma canção de festa de bodas e não reagem. Trata-se de um convite à dança.
  • “Temos entoado lamentações, e não chorais” se convida outro coro a cantar um canto fúnebre, porém tão poucos reagem. Trata-se de um convite ao duelo.

 

Quando isso acontece, a reação normal é a pergunta: Bem, e, então, que vocês querem? Jesus faz seus ouvintes se darem conta que com sua intransigência, com sua incapacidade de dar o salto da fé, são mais infantis que essas crianças: não aceitam a austeridade de João, que “não comia pão nem bebia vinho” e foi apontado de “endemoninhado” (7,33), nem aceitam, tampouco, a liberdade, a abertura, o caráter festivo de Jesus, a quem chamam “comilão, beberrão amigo de publicanos e pecadores” (7,34).

 

Sem dúvida, fica claro que a atitude negativa da geração dos tempos de João e de Jesus não impede de nenhuma maneira, de que o plano de Deus (7,30) se cumpra, porque (como diz literalmente em grego): “à sabedoria há feito justiça a todos os seus filhos” (7,35). Quer dizer que há pessoas, assim sejam poucas, que com sua extraordinária atitude de fé lançam para adiante o novo plano de salvação de Deus para o mundo.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

1 Que me faz pensar a parábola das crianças caprichosas com relação à falta de compromisso de tanta gente? 2 Minha vida de fé tem sido um testemunho de como o plano de Deus no mundo segue adiante?

3 Há alguma atitude que o texto de hoje me convida a corrigir em mim?

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QUINTA-FEIRA

Lucas 7,36-50

A SILENCIOSA ELOQUÊNCIA DO AMOR

“Mostrar muito amor”

 

  1. Uma bela lição de misericórdia

 

A crítica a Jesus por ser “amigo de publicanos e pecadores” (7,35), dá passo a uma das historias de misericórdia mais belas dos evangelhos.

 

No relato da pecadora perdoada concluem os temas principais que hão aparecido nos relatos lucanos que temos lido depois do sermão da planície:

(1) A fé: “tua fé te salvou” (7,50);

(2) A misericórdia: “ficam perdoados” (7,47);

(3) O reconhecimento de Jesus como “profeta” (7,39).

 

Porém certamente o tema que sobressai é o da misericórdia.

 

Onde a vemos expressa nos seguintes comportamentos de Jesus:

(1) O perdão que oferece a uma pecadora publica;

(2) A defesa que faz dela frente à severidade do fariseu que censura;

(3) A acolhida de um gesto de amor que a ela realiza;

(4) A confiança que deposita ao enviá-la à vida nova no “vai em paz” com que termina o relato.

 

A chave de leitura do relato inteiro encontramos na frase: “A quem pouco se perdoa, pouco amor mostra” (7,47b; embora a primeira parte do versículo apresente a frase inversa).

 

Isto quer dizer que o gesto de amor da pecadora é a conseqüência do perdão recebido.

 

A mulher expressa o perdão recebido por Jesus -antes da cena na casa do fariseu- com uma grandeza quase inigualável sem pronunciar nem uma palavra em toda a cena, ela faz com Jesus gestos profundamente femininos e maternos, que o mesmo Senhor resumirá com a frase “muito amou”.

 

  1. Os sinais do amor

 

Notemos com atenção a muda eloqüência do amor da mulher que se descobriu profundamente amada por Jesus:

(1) Se põe por detrás de Jesus;

(2) Chora;

(3) Molha seus pés com as lágrimas;

(4) Seca seus pés com os cabelos;

(5) Beija seus pés; e

(6) O unge com perfume

 

Esta mulher, que tem acreditado em Jesus e acolhido o dom de seu perdão, começa uma vida nova que se expressa na capacidade de doação representada no perfume de altíssimo valor que investe em Jesus e no dom total de si mesma.

 

Esta mulher já não é a prostituta, não é o objeto sexual que, todavia acreditava o fariseu, mas uma mulher autêntica e digna que foi resgatada desde o melhor de si mesma, desde sua feminidade, desde sua humanidade convertida agora pela força do perdão na imagem mais bela do amor oblativo que os evangelhos nos apresentam depois da cruz de Jesus. O amor desperta para o amor.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

1Quais as atitudes que podemos ter frente a Jesus? Qual gostaria de ter? Qual tenho em realidade? 2 Estou convencido(a) do perdão e da misericórdia que Jesus me oferece? 3 Se é assim: Que lugar ocupa em minha vida o sacramento da reconciliação? Que posso fazer para aproximar-me com mais freqüência a Ele e receber a abundante graça que brota dali? 4 Sou uma pessoa de paz? De onde me vem essa paz? De que forma compartilho e transmito aos outros essa paz? Se não me considero uma pessoa de paz, que estou chamado(a) a fazer?

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SEXTA-FEIRA

Lucas 8,1-3

O HONROSO CORTEJO FEMININO DE JESUS

“Seguiam-lhe os doze e algumas mulheres”

 

Pelo visto, o caso da pecadora perdoada (7,36-50) não foi o único. Lucas nos apresenta logo após o relato maravilhoso que lemos ontem, um resumo do que Jesus realizou com muita frequência: como muitas das mulheres que experimentaram sua misericórdia na cura e no perdão, se converteram em suas discípulas e o seguiam junto com os doze.

 

A passagem começa refrescando-nos a memória, ao apresentar-nos Jesus evangelizador (Lc 8,1), que desde o começo diz “tenho que evangelizar” (4,43), e aqui notamos três características:

 

  • É itinerante: “Ia…”. Jesus o Senhor dos caminhos, está sempre em ação;

 

  • Vai por cidades e aldeias: “… por cidades e povos…”. Jesus se insere no tecido social do mundo urbano e também vai ao campo; não há um espaço que não seja importante para sua missão;

 

  • Evangeliza: “… proclamando e anunciando a Boa Nova do Reino de Deus”. Jesus prega sempre a ação poderosa de Deus que, neste tempo de graça se fez visível e alcançável em sua tremenda proximidade a todas as pessoas e a todas as situações humanas.

 

No compromisso ativo de Jesus, que temos visto bem exemplificado nas cenas do Evangelho de Lucas lido e contemplado nestes dias, Deus está realizando a salvação da humanidade. Sua salvação que irrompe desde dentro do sofrimento humano, abraçado agora pelo coração misericordioso de Jesus, e que faz de cada homem uma expressão viva da plenitude para a qual foi criado.

 

Esta nova humanidade está já em germe no grupo dos homens e mulheres que acompanham permanentemente a Jesus em suas viagens missionárias. Sua presença constante ao lado dele é também uma forma de anúncio do que todos os destinatários da missão estão chamados a viver.

 

Chama à atenção a presença das mulheres nas viagens missionárias de Jesus. Para nós hoje é normal, do começo ao fim são a maioria nas Igrejas, porém não era assim no tempo de Jesus. Por isso a presença de mulheres no grupo de discípulos, membros ativos da escola de Jesus é um sinal da Boa Nova do Reino.

 

Entrando lentamente no texto, notemos que as mulheres:

 

  • Estavam com Jesus igual aos doze. Sua lealdade ao mestre persevera até o Calvário (23, 49.55);

 

  • Algumas “haviam sido curadas de espíritos malignos”. O mesmo que se diz de todos 6,18; 7,21;

 

  • Uma delas, Maria Madalena, havia sido libertada de sete demônios. Alguns intérpretes consideram que se trate provavelmente de uma referência a diversas enfermidades mentais. O número sete que na Bíblia expressa plenitude parece indicar ter passado por uma situação repetida (11,26);

 

  • Outra delas, Joana, vinha do mundo palaciano de Herodes, adversário de Jesus (Lc 13,31-32);

 

  • Todas elas apoiavam a missão de Jesus pondo seus bens ao serviço do Mestre. O verbo utilizado aqui é “diácono”, termo técnico no Novo Testamento para descrever o serviço eclesial. Daí se deduz que se tratava de um serviço de não pouca importância.

 

A abertura de Jesus às mulheres, até o ponto de envolvê-las em sua missão criava uma situação de escândalo que chegava inclusive até o intolerável para a piedade rabínica e farisaica da época.

 

Porém mais inconcebível era a tremenda confiança que Jesus despertava em seus discípulos e discípulas ao gerar entre eles uma estreita convivência, sem que por isso se chegasse a abusos ou escândalos no interior de sua comunidade.

 

A razão pela qual o mundo oriental costumava separar na escola e em todos os ambientes públicos varões e mulheres era precisamente o temor a que terminassem envolvidas afetiva e sexualmente.

 

Porém, a escola de Jesus é diferente. Jesus confia na maturidade de seus discípulos.

 

Esta capacidade para conviver com um coração puro é também um sinal de novidade do Reino.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

1Qual foi a atitude de Jesus ante a presença das mulheres em suas viagens apostólicas? 2 Em que fazemos consistir a acolhida e valorização da mulher nos ambientes de trabalho, estudo, etc. No contexto eclesial, que protagonismo lhes deixamos exercer? 3 Qual é o ensinamento que Jesus nos dá a respeito?

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SÁBADO

Lucas 8,4-15

ESCOLA DE PAIS: SEMEAR NOS FILHOS SEM A ÂNSIA DO RESULTADO

“E crescendo deu fruto centuplicado”

 

Com a permissão de vocês hoje vamos mudar a linguagem. Convidamos-lhes para neste sábado nos permitirmos outro estilo de “Lectio divina”, aproximando a parábola do semeador à realidade da família, particularmente na responsabilidade na educação dos filhos. Não é verdade que nem sempre vemos germinar os valores que cremos haver semeado?

 

Ao ler a parábola do semeador uma motivação deveria ficar em nosso coração de pais: semeemos no coração dos filhos sem a ânsia do resultado.

 

Enquanto discípulos (e pais; o mesmo para todos os que têm alguma responsabilidade sobre os jovens) ponhamo-nos, por um momento, em torno de Jesus, que seu caminho evangelizador por cidades e campos da Galileia, conta a uma grande multidão a parábola. Muitos pais deveriam estar ali presentes.

 

Ponhamo-nos na pele de um deles, que ao escutar a parábola talvez reaja assim: “Meus filhos não escutam (ou escutam muito pouco) a Palavra de Deus. Que significa isso, Senhor?”. Porém é claro, como no caso dos terrenos da parábola, nem todos os filhos são iguais:

 

  • Uma parte caiu ao longo do caminho” (8,5)

 

Há ‘filhos-terreno’ “ao longo do caminho”, que não dão espaços para que a semente possa repousar e germinar.

 

Na melhor das hipóteses, alguma vez os temos pressionado um pouco, ou, inclusive, até os empurramos para fazê-los ir à Igreja como e onde nós dizemos? Ou melhor, os temos saturado com nosso discurso repetitivo?

(2)Outra parte caiu sobre pedra” (8,6)

 

Há filhos-terreno “pedregoso”, que são como aqueles semeados bem dispostos, entusiastas, aos quais temos visto sair cedo para participar em iniciativas extraordinárias da Igreja, ou do grupo do colégio, ou da Universidade. Porém, depois vemos que são inconstantes, que vão se cansando e buscam qualquer desculpa para abandonar seus compromissos e, aos poucos, vão levantando o muro da indiferença, voltando à mesma situação de antes.

 

Alguma vez, talvez tenhamos julgado o seu compromisso momentâneo, apontando o dedo contra seus entusiasmos passageiros, sabendo de antemão que nada ia mudar neles e que ao final iam sair com nada?

 

(3)Outra parte caiu em meio de abrolhos” (8,7)

 

Há filhos-terreno “espinhoso”, que quiseram pôr seus pés em muitos sapatos, que estão ansiosos por viver a moda para estar igual a seus amigos: as mesmas chegadas tarde, a mesma roupa, os mesmos ditos, o mesmo desejo desenfreado por divertir-se.

 

Será que não foi por que os mostramos uma religião triste, sem força interior, mais como um tranquilizante de consciência ou como uma tradição de família, que como uma maravilhosa experiência de vida que exalta o coração e, assim, os fizemos suspeitar que havia mais felicidade lá por afora, no mundo?

 

(4) “E outra caiu em terra boa” (8,8)

 

Há filhos terreno bom! E não nos cansamos de maravilhar-nos pela coerência, não importa que às vezes nos incomode a valentia de suas opções, que às vezes superam nossos frios compromissos.

 

Talvez tenhamos falado deles com orgulho aos amigos, sem forçar histórias, ainda tendo que reconhecer, humildemente, nossas debilidades e admitir que há filhos melhores que seus pais. Ou talvez nunca havíamos suspeitado que a semente tivesse tanta força no coração dos filhos?

 

E crescendo deu fruto centuplicado” (8,8). O fruto do terreno bom é abundante, muito mais do que o camponês daqueles tempos poderia esperar. Esta é a surpreendente liberdade e fecundidade da semente!

 

Se, ao lermos a parábola, entendemos que, assim como os terrenos, os filhos não são iguais, já entramos na sabedoria do semeador, que não trabalha com parâmetros únicos nem definitivos. Porém, ainda há mais para desentranhar dentro desta rica parábola.

 

O semeador semeia, porém tem que deixar-se surpreender. Talvez, agora que nos fazíamos perguntas a partir da observação dos terrenos, nos dávamos conta que as coisas nem sempre são como pensamos e que temos que pôr mais cuidados na nossa maneira de semear no coração dos filhos?

 

Aprendamos a lição do semeador. Ele não é ansioso, não força a semente nem castiga a terra. Não perde o controle, nem o notamos preocupado. Semeia com generosidade, inclusive exageradamente, porém, logo, com cuidadosa e discreta observação, acompanha o crescimento com a paciência de quem sabe que deve respeitar os tempos.

 

E mais, ao lançar suas sementes, o semeador não aparece condicionado pela resposta do terreno; ele sempre o faz com liberdade de coração e com imensa alegria, não importa que os resultados não sejam os esperados. Sem entendermos isto, já foi lucro o estar ao lado do semeador. Talvez, de repente tenhamos que despojar-nos da ânsia por ver resultados imediatos em nossos filhos. Quem tem a graça de semear a Palavra de Deus no coração de seus filhos, sabe, com segurança, que esta Palavra não passa em vão e que não o corresponde fazê-la frutificar, como e quando queira.

 

Será então quando se fará outro maravilhoso descobrimento a partir da experiência: que, na realidade, não há quatro tipos de terreno (quatro tipos de filhos, dos quais os três primeiros são irrecuperáveis), mas quatro estações na vida de cada filho: seu coração pode ser que seja árido, pedregoso ou espinhoso, porém a semente lançada responsavelmente, com o tempo, dará seu fruto, com liberdade.

 

Não é por acaso que entre a parábola (8,4-8) e sua explicação (8,11-15), Jesus fale “dos mistérios do Reino de Deus” (8,10). Como quem diz: Deus sabe como faz sua obra. Não nos corresponde pretender ver como Deus realiza o crescimento no coração de cada um, o que nos cabe é semear responsável, amorosa e generosamente.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

1 Como podemos relacionar a parábola do semeador com os tipos de pessoas e, mais concretamente, de filhos que vivem conosco? 2 “Os filhos não são todos iguais” disto estamos plenamente convencidos. Que exige de nós esta constatação a respeito de nossa forma de educá-los? Que fazemos para que cada um deles valorize a formação que lhes damos? 3 Pensamos que eles “devem” caminhar conosco ou nos esforçamos por caminhar ao lado deles, quer dizer, meter-nos em seu mundo para que eles se metam no nosso? 4 Sabemos ter com cada um de nossos filhos a paciência dos processos que às vezes são lentos, ou nos desesperamos porque não vemos resultados imediatos? E dentro destes processos, que lugar ocupa a presença de Jesus?

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