Estudo Bíblico na 25ª Semana Comum ano B 2021

Lucas 8,16-18

“Olhai, pois, como ouvis”

No oitavo capítulo do Evangelho de Lucas, entre 8,4 e 8,21, nos encontramos com uma catequese sobre “a escuta da Palavra” pronunciada por Jesus. Temos:

  • a parábola do semeador (8,4-8);
  • a explicação de por quê fala em parábolas (8,9-10);
  • a explicação da parábola do semeador (8,11-15);
  • uma exortação sobre a maneira como deve receber a Palavra ; e,
  • o momento cume: a relação entre a “escuta” e “prática” da Palavra, onde aparece a Mãe de Jesus.

A penúltima linha da explicação da parábola do semeador deixou formada uma situação negativa relacionada com a escuta inadequada da Palavra de Deus: há ouvintes que escutam a Palavra de Deus, porém “não chegam a amadurecer” (8,14).

Este é um fato preocupante: quantas palavras de Deus nós escutamos cotidianamente, e que sinais de conversão damos, finalmente? O ideal é conservar “a Palavra com coração bom e reto” e dar “fruto com perseverança” (8,15).

Se olharmos para trás, nas passagens de Lucas já lidas, veremos que Jesus havia dado aos discípulos muitas instruções, com palavra ou com ações, porém surge a inquietação: estão aprendendo?

Por todo o anterior se compreende a frase principal da passagem de hoje, que convida a “escutar” bem: “Vede, pois, como ouvis” (8,18). Esta é a aplicação da parábola do semeador, onde se viu que todos “ouviam”, porém poucos chegavam “à maturidade”.

Repassemos as idéias centrais da exortação de Jesus:

  • A comparação da lâmpada, “Ninguém acende uma lâmpada e a cobre com uma vasilha… mas a põe sobre um candelabro, para que os que entrem vejam a luz” (8,16), nos leva a pensar imediatamente na pessoa de Jesus, que é a “luz que ilumina” todas as nações (Lc 2,32).

Jesus entra em nossas vidas de maneira discreta, como a semente na terra, porém em sua presença trás a força irresistível da luz, a qual não pode cobrir-se com uma vasilha, nem pode esconder-se debaixo de uma cama.

  • Aquele que é tocado interiormente por Jesus, pouco a pouco vai exteriorizando sua experiência de maneira que todos os captam: “para que os que entrem vejam a luz” (8,16b). E isto vale também para a experiência comunitária.

O ensinamento é este: não só se deve deixar-se queimar pelo Senhor (recordemos o relato dos discípulos de Emaús), mas nossa missão é ser candelabro que irradie a luz de Jesus ressuscitado por todas as partes, começando pelo próprio redor. Isto fará com que muita gente “entre” nos caminhos do Senhor, em sua Igreja, atraídos pela luz do testemunho apostólico.

  • A explicação que aparece no v.17, “nada há oculto que  não fique manifesto, e nada secreto que não venha a ser descoberto”,  nos faz ir mais a fundo: Jesus, ao passar pela sombra da Cruz, mais adiante se manifestará em sua ressurreição como o Messias glorioso e o Senhor.

Esta mesma dinâmica é válida para nosso processo espiritual pessoal: agora não o vemos todo claro, porém um dia se manifestará com toda clareza – na dinâmica da páscoa – toda a intensidade da iluminação que levamos dentro de nós.

  • Para chegar a este ponto, para que possamos manifestar toda a luz que levamos dentro de nós, para que vivamos este processo, é necessário que escutemos corretamente a Palavra: “Vede, pois, como ouvis” (8,18ª; já no v.8 Jesus havia dito que havia que “ter ouvidos para ouvir”).
  • Para quem caminha com Jesus é de vital importância à fidelidade na escuta, de maneira que possa viver segundo as exigências do ensinamento recebido. Há quem saiba escutar -“ao que tenha”- “se o dará” o dom contido na Palavra; porém, quem não souber escutar -“ao que não tenha” atitude de ouvinte- poderia perder a luz que se o havia dado com tanta generosidade (8,18b).

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Realizo com perseverança a Leitura Orante da Bíblia (=Lectio Divina)?
  2. Percebo hoje com maior clareza que dom me pode trazer a escuta permanente da Palavra por meio dos exercícios que me propõe todos os dias esta Pista?
  3. A luz que o Senhor me deu está irradiando positivamente e com alegria entre os que me rodeiam?

TERÇA-FEIRA

Mateus 9,9-13 – SÃO MATEUS

A VOCAÇÃO E O PERDÃO: “Não vim a chamar justos, mas a pecadores”

O Evangelho de hoje está estreitamente ligado com o de ontem. Três verbos importantes da cena da cura do paralítico (“perdoar”, “levantar”, “ir”) se convertem agora em verbos vocacionais que inserem um homem no caminho de seguimento de Jesus (“chamar a pecadores”, “levantar” e “seguir”).

Distingamos, inicialmente, duas cenas na passagem: (1) a vocação de Mateus (9,9); e (2) a cena com pecadores na casa de Mateus (9,11-13). Ambas as cenas se conectam como fato e explicação.

1. Primeira cena: a vocação de Mateus (9,9):

A cena da vocação de Mateus está construída com base em uma cadeia de verbos-ações importantes que nos permitem compreender o que é uma experiência vocacional. Jesus aparece, em primeiro lugar, em movimento: se “vai” da cidade, “” a Mateus, lhe “disse” (9,9ª). Nota-se o contraste com o outro personagem, Mateus, que está sentado.

Chama atenção, ainda, o modo como Jesus, missionário itinerante e restaurador do homem, envolve em seu caminho um cobrador de impostos, categoria dos piores “pecadores”. O poder da palavra de Jesus, “segue-me”, tem um efeito similar ao que teve o “levanta-te”, no caso do paralítico: “Ele se levantou e o seguiu”. Significativo é o gesto de Jesus indo à casa do homem pecador e necessitado d’Ele. É assim que Jesus forma sua comunidade (ver os três primeiros milagres em Mt 8).

2. Segunda cena: a cena com os pecadores na casa de Nazaré (9,10-13):

A primeira ação de Mateus é oferecer a Jesus a melhor acolhida: oferta-lhe sua casa e sua mesa, quer dizer, o faz entrar em sua intimidade e no mundo que lhe é próprio. Um belo gesto de amizade. Os detalhes da cena e das palavras de Jesus nela, nos revelam o sentido da vocação:

  • A comunhão na mesa mostra que a nova relação com Jesus faz da vida uma festa (ceia é festiva);
  • As relações se ampliam a todos os discípulos de Jesus, com quem agora se forma comunidade. O banquete abre as portas do Reino, a todos os “pecadores”, impuros e excluídos. O que importa para Jesus não é o passado, mas a adesão ao Reino;
  • A comunidade de discípulos é vista como de pessoas que precisam de médico (9,12). A escola de Jesus é uma comunidade de pessoas que reconhecem suas fragilidades, porém que, também estão em caminho de superação, de crescimento, de fortalecimento interior, graças à pessoa de Jesus;
  • Jesus não chamou aos discípulos pela limpeza de sua folha de vida, mas pelo contrário: “não vim chamar a justos, mas a pecadores” (9,13);
  • Portanto, em toda experiência vocacional há um itinerário forte de perdão. De fato, o chamado que se recebe por parte de Jesus é uma expressão da misericórdia que Deus tem tido conosco. A misericórdia em Mateus se expressa no perdão. Seguir Jesus é entrar em um processo de cura.

Nossa vocação é isto que aconteceu a Mateus. Jesus nos desinstala de uma vida, na qual há estrutura de pecado e nos põe em movimento ascendente, de crescimento, dá sua mão, graças às pistas do Evangelho. Este caminho está constituído pela comunhão estreita com Ele e pelo crescimento pessoal e comunitário que vamos tendo processualmente a seu lado. Todo chamado implica que nos ponhamos em caminho de conversão e aprendamos a vida nova de Jesus.

Na controvérsia entre Jesus e os fariseus, pelo tipo de pessoas para sua comunidade, Jesus evoca a profecia: “Quero Misericórdia, não sacrifício” (Os 6,6). Seu comportamento, chocante para os fariseus, está inspirado na Palavra e, sobretudo na palavra profética, que ensina o verdadeiramente essencial na relação com Deus.

O fato que Jesus invoque a “misericórdia” revela um traço característico de Deus que se opõe ao conceito de Deus que têm os fariseus. A misericórdia é o amor de Deus em ação, que não exclui, mas que busca e acolhe a todos os excluídos e os reintegra na comunidade.

Esta “misericórdia” que acolhe e estende a mão para o crescimento, ao contrário das práticas legalistas e as discriminações dos fariseus, é o novo distintivo da comunidade de Jesus. O caso de Mateus e seus amigos pecadores é patente.

E, assim como no “poder do filho do homem para perdoar pecados” está à base de todo itinerário de seguimento, a comunidade cristã se constitui em espaço revelador do rosto misericordioso de Deus.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

  • Quais os verbos que aqui nos fazem compreender o que é uma experiência vocacional?
  • A relação que se dá entre Jesus e Mateus, a partir do chamado, amplia o círculo de relações de Mateus.        A quais pessoas tenho aberto minha casa e ofertado acolhida, como fruto de minha relação mais estreita com Jesus? Se minhas relações são as mesmas é bom que me questione. O chamado de Jesus nos põe em um caminho de conversão?
  • De que modo reconhecemos e estimulamos o caminho de conversão que fazem as pessoas que convivem conosco?

QUARTA-FEIRA

Lucas 9,1-6

JUNTOS PARA A MISSAO:

“Envio-lhes a proclamar o Reino e a curar”

Retomemos o Evangelho segundo Lucas. Depois do encontro com sua mãe, Jesus prosseguiu com sua missão. O Evangelho passa então do discurso às obras. Os discípulos seguem contemplando as ações salvíficas de Jesus e aprendendo que suas obras são também “Palavras que se deve aprender”. Jesus…

  • Acalma a tempestade (Lc 8,22-24);
  • Cura o endemoninhado de Gerasa (8,25-39);
  • Cura a hemorroísa (8,43-48);
  • Ressuscita a filha de Jairo (8,40-42ª-49-56).

Em toda esta revelação progressiva, através de 4 milagres escolhidos por Jesus (6,12-16) puderam apreciar quem eram os destinatários da Boa Nova do Reino, conteúdos e finalidade da missão do Mestre. E agora cabe a tarefa aos apóstolos, porque para isso foram chamados. Para Lucas a missão dos discípulos é uma extensão da missão de Jesus. Vejamos, seguindo a ordem do relato de envio:

  • Uma fórmula de envio (9,1-2);
  • Uma lista de instrução sobre como devem agir, durante o tempo da missão (9,3-5);
  • Uma brevíssima descrição do que os doze, efetivamente, fizeram (9,6).

A fórmula de envio (9,1-2): Esta primeira parte concentra as palavras mais densas de Jesus com relação à missão:

  • Os doze são convocados solenemente por Jesus; é como se os voltasse a chamar.
  • Jesus lhes dá investidura para que exerçam a missão com autoridade. O texto grego nos deixa entender que lhes comunica a mesma força que o tem acompanhado no combate contra o demônio e o mesmo poder com que tem realizado curas.
  • A missão aponta para a vitória sobre o mal (demônios) e restauração do homem (cura enfermidades);
  • A obra dos apóstolos vai além dos exorcismos e dos milagres em si mesmos, suas ações são sinais do que se proclama de viva voz: “anunciar o Reino de Deus”.

As instruções sobre o comportamento durante a missão (9,3-5): Jesus dota-os de força e potência. Os apóstolos por sua vez devem renunciar suas seguranças habituais. Por isso Jesus os instrui para que “não tomem nada para o caminho”. Os apóstolos:

  • Viajam como pessoas que tem pressa, que devem cobrir grande distância em um tempo reduzido;
  • Confiam plenamente na providência de Deus; deixam tudo para receber tudo de Deus. Sua renúncia é sinal de sua fé em Deus Pai, origem da missão que suprirá suas necessidades;
  • Estão sempre e completamente disponíveis para o trabalho evangélico. Igualmente devem saber viver a acolhida e a rejeição (recordemos o capítulo de 4);
  • Sabem receber o que lhes oferecem na missão e não tentam buscar melhor alojamento (9,4);
  • Sabem viver o fracasso na tarefa apostólica com a ação simbólica de sacudir o pó dos pés, eximindo-se assim de toda responsabilidade na condenação de quem rejeita voluntariamente a Jesus e como testemunho de acusação para o dia do juízo (9,5).

Breve descrição da missão (9,6): Lucas nos informa que os doze fizeram ao pé da letra aquilo a que foram enviados: “Saindo, pois, percorriam os povoados, anunciando a Boa Nova e curando por toda parte”. É assim como testemunham a mensagem, com as mesmas obras de Jesus (ver 4,31-41).

Aprofundemos com os nossos pais na fé

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de Africa) e doutor da Igreja.

Maria, Mãe de Cristo, mãe da Igreja.

Aquele que é o fruto de uma única Virgem Santa é a glória e a honra de todas as outras santas virgens; porque elas próprias são, como Maria, as mães de Cristo se fizerem a vontade de seu Pai.

A glória e a felicidade da Maria por ser a mãe de Jesus desabrocham, sobretudo nas palavras do Senhor: “Todo o que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt 12,50).

Ele indica assim o parentesco espiritual que o liga ao povo que resgatou.

Seus irmãos e irmãs são os homens santos e as mulheres santas que tomam parte com Ele na herança celeste.

A sua mãe é toda a Igreja porque é ela quem, pela graça de Deus, gera os membros de Cristo, isto é, aqueles que lhe são fiéis.

A sua mãe é também toda a alma santa que faz a vontade do Pai e cuja caridade fecunda se manifesta naqueles que gera para Ele, até que Ele neles seja formado (Gl 4,19)

Maria é certamente a mãe dos membros do Corpo de Cristo, isto é, de nós próprios, porque, pela sua caridade, ela cooperou para gerar na Igreja os fiéis que são os membros desse divino chefe de quem é verdadeiramente mãe segundo a carne.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Como Jesus preparou os apóstolos para a missão?
  2. Quais são as “normas” de um missionário?
  3. Que espiritualidade da missão se desprende da passagem de hoje?

QUINTA-FEIRA

Lucas 9,7-9

EM BUSCA DA IDENTIDADE DE JESUS

“Herodes queria ver Jesus”

A missão realizada pelos discípulos suscita interesse nos destinatários por conhecer a fundo a identidade de Jesus. A missão apostólica parece ser tão efetiva que até Herodes acaba interessado em conhecer Jesus.

Esse breve relato nos apresenta um processo que vai do “ouvir” ao “ver”.

  • Herodes “ouviu” o anúncio dos atos de Jesus anunciado pelos discípulos (9,7);
  • Herodes buscava “ver” Jesus perguntando-se: “Quem é este de quem ouço tais coisas?” (9,9).

Com os verbos se descreve dois passos do processo que conduz à fé. Sem dúvida, se faz notar que o interesse de Herodes por Jesus responde mais que tudo a um impulso de curiosidade.

Contudo, sua pergunta “Quem é este?” é o prelúdio do interrogatório que Jesus está a ponto de fazer a seus discípulos e que levará Pedro a fazer sua confissão de fé (ver 9,18-20).

Se observarmos o contexto anterior e posterior, veremos que:

  • A pergunta que Herodes faz é provocada pela narração de tudo o que Jesus realizou até esse momento e do qual o Evangelho nos dá testemunho. Portanto, Lucas nos ensina que o caminho da confissão de fé só é possível a partir da audição e do discernimento das obras de Jesus; só assim se conseguirá captar a fundo sua identidade;
  • Por outra parte, a pergunta que Herodes expõe é um convite para contemplar a cena que segue: a multiplicação dos pães e dos peixes. Nesse relato se revelará com maior clareza a identidade messiânica do Mestre (9,10-17).

Quando o rei Herodes tenta refletir, tentando enquadrar a identidade da pessoa de Jesus, vemos que expõe três hipóteses. Se bem que estas são falsas, mas de alguma maneira trazem uma primeira rota de aproximação ao mistério cristológico:

  • Jesus NÃO É João Batista

Nos Evangelhos da infância (c 1-2) e na exposição da missão do precursor e do Messias (3-4), Lucas estabeleceu um paralelismo que permitiu delinear com nitidez o próprio de cada um destes personagens e, ao mesmo tempo, mostrou como as respectivas personalidades e missões se reenviavam uma à outra. Herodes parecia ignorar dois detalhes:

  • Que quando Jesus começou sua missão João Batista, ainda estava vivo, dai que Jesus não pode ser o mesmo João Batista ressuscitado.
  • Que Jesus não é o único em fazer obras de poder, já que na anunciação do nascimento de João Batista se havia predito que ele caminharia diante de Deus “com o espírito e o poder de Elias” (Lc. 1,17). Sem dúvida as obras de Jesus não têm comparação, por extraordinárias que sejam com relação à obra de João.
  • Jesus NÃO É o profeta Elias NEM um dos antigos profetas

Na teologia popular da época se acreditava que o profeta Elias, que havia sido arrebatado deste mundo ao céu (2 Rs 2,11), devia voltar antes do Dia Final (Ml 3,23). Esta é a base da hipótese citada, segundo a qual “Elias havia aparecido” (9,8ª).

Por outra parte, as pessoas também recordavam que Moisés havia predito que no futuro viria um profeta como ele (Dt 18,15.18), o qual seria o Messias. Por isso a outra hipótese segundo a qual Jesus seria “um dos antigos profetas” que havia “ressuscitado” (9,8b). Porém há que ter em conta que o Messias não seria “um dos antigos profetas”, mas “O” profeta por excelência.

Estas duas hipóteses mencionadas, se bem não conseguem descrever a identidade de Jesus, de todas as formas nos colocam na direção correta. Como se verá no relato da transfiguração (mais adiante neste mesmo capítulo), tanto Elias como Moisés rodearam Jesus e iluminaram com seus respectivos ministérios proféticos – especialmente seus caminhos de sofrimento por causa da missão -, a compreender biblicamente o mistério do Senhor.

E então, “Quem é este?” (9,9). O tetrarca Herodes não consegue chegar a uma conclusão e decide verificar por si mesmo, por isso “buscava ver” pessoalmente Jesus.

No momento da paixão de Jesus se concederá, porém – haja desconcerto!- a atitude que tomará será completamente oposta à da fé: o escárnio e o desprezo (23,8-12). Nesse momento se diz que “esperava presenciar algum sinal” (23,8), porém Jesus não o satisfaz; e isto porque se, se quer compreender o Mestre, o único que resta é a contemplação da Cruz.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. O que ver para poder compreender a identidade de Jesus?
  2. Que fez falta em Herodes para poder chegar à fé?
  3. Que dados bíblicos me ajudam em meu caminho de conhecimento de Jesus?

SEXTA-FEIRA

Lucas 9,18-22

A CONFISSÃO DE FÉ:

 “E, vós, quem dizeis que eu sou?”

O capítulo 9 de Lucas gira em torno à questão da identidade de Jesus, e o texto de 9,18-22, em particular, propõe uma luz clara a respeito.

Os relatos da reação de Herodes frente à identidade de Jesus e da multiplicação dos pães nos abrem as portas para um momento grandioso no Evangelho: a confissão de fé de Pedro e o primeiro anúncio da paixão por parte de Jesus.

O relato tem três partes:

(1) O contexto adequado no qual se expõe a pergunta pela identidade de Jesus: a oração (9,18);

(2) O interrogatório de Jesus aos discípulos (9,18b-20);

  • Uma instrução, severa e difícil, por parte de Jesus acerca de sua identidade (9,21-22).

Lucas não diz em que lugar se realizou a confissão de fé, mas se preocupa por dizer-nos que o ambiente no qual se realizou foi o da oração.

Já vimos antes, que São Lucas nos apresenta Jesus nos momentos mais importantes de seu ministério e isto significa que, os acontecimentos estão inseridos dentro do querer do Pai, que é o que, em última instância, conduz a história.

Descobrir a identidade de Jesus não é de nenhuma maneira algo secundário, é fundamental para o processo que vem conduzindo o Evangelho e que culminará no relato dos peregrinos de Emaús, quando os discípulos captaram a fundo o sentido das palavras, as obras e a morte do Senhor (ver 24,26-27).

Tenhamos presente este fato na hora de ler o interrogatório de Jesus. Ele retoma o caminho percorrido para ver o que entenderam acerca d’Ele.

Jesus o faz, não em meio ao barulho de pessoas, mas longe, em momento de retiro e de silêncio. Um espaço assim nos convida a pensar e a fazer síntese do que estamos vivendo.

O interrogatório tem duas perguntas: que diz o povo (9,18b-19); e que dizem os discípulos acerca da identidade de Jesus (9,20).

Os discípulos têm vivido junto ao povo a maior parte dos acontecimentos narrado no Evangelho: as curas, os exorcismos, os ensinos. Portanto, podem eles fazer uma ideia do Mestre, da forma como pensam as pessoas.

A opinião popular, segundo a qual Jesus poderia ser João Batista ou um dos profetas ressuscitados, já se havia apresentado (ver relato de ontem). O próprio Herodes havia descartado a primeira possibilidade. Só ficava a segunda, a do “profeta” escatológico; porém havia que especificá-la.

A pergunta dirigida aos discípulos, os que têm estado com o Mestre desde o princípio do ministério e que não tem faltado a nenhum ato importante da revelação de Jesus, convida a dar o passo que o povo não tem dado: reconhecer a absoluta singularidade de sua pessoa.

Pedro diz que Jesus é “o Cristo de Deus” (9,20). Pedro capta a novidade de Jesus, uma novidade que está em sintonia com a longa espera do povo de Israel: o Cristo (o Messias).

Esta confissão está em sintonia com o anúncio celestial que se escutou na noite da natividade: “Nasceu-vos hoje, na cidade de Davi, um salvador, que é o Cristo Senhor” (1,11). O “Cristo” chegou e não há que esperar mais, n’Ele está todo. Deus está agindo no meio de nós.

Porém a Pedro, lhe falta outra novidade a compreender: que o destino de glória do Messias chega pela via de seu sofrimento, que é por meio da obscuridade da Cruz que se vislumbrará a extraordinária grandeza, a glória e o poderio de seu Mestre (ver 9,21-22).

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. Que faço para compreender, mais a fundo, a riqueza do mistério de Jesus? Em que me baseio?
  2. Que opinião de Jesus tem minha família e amigos? Em que se diferencia minha opinião da deles?
  3. Para mim que significa Jesus é um “Cristo”? Que implica esta confissão de fé?

SÁBADO

Lucas 9,43b-45

UMA PAUSA DE REFLEXÃO SOBRE O MISTERIO DA CRUZ

“Não o compreendiam e temiam perguntar-lhe”

Pedro, em nome da comunidade, confessou a fé. Esta confissão implica agora num caminho de purificação de suas expectativas humanas acerca de Jesus.

Isto é frequente: na vida espiritual e em nossos processos de formação vamos vendo cada vez mais claramente quem é Jesus, porém, nossa vida nem sempre consegue transformar-se à altura da formação intelectual e da intuição espiritual.

O amadurecimento é um caminho difícil, necessita de um caminho de purificação!

O estado de imaturidade na vida de um discípulo aparece personificado no evangelho de Lucas em um relato dramático segundo o qual, os mesmos que haviam sido investidos com o poder de Jesus, não conseguem expulsar um demônio (ver 9,37-43).

E isto por que? Porque, quando uma pessoa não caminha plenamente identificada com Jesus, – não importa que se saiba o catecismo ou a Bíblia de memória ou tenha muita formação em teologia – torna – se ela ineficaz, não transparece a força do Senhor, tal como sucede no relato mencionado.

As pessoas e as comunidades que não caminham em plena sintonia com Jesus perdem todo o seu vigor no mundo.

O evangelho de Lucas reflete bem sobre este problema.  O evangelista ressalta que os discípulos: Não entendiam: “Porém eles não entendiam o que Jesus lhes dizia”. E o mais grave: “Temiam perguntar-lhe sobre este assunto”.

Qual era o assunto que não entendiam?  Resposta: A Cruz!

  • A Cruz é o sinal da autenticidade da vida cristã. Fora da Cruz não há discipulado.
  • A Cruz é, ao mesmo tempo, lugar de “revelação” da identidade de Jesus e acontecimento de “salvação”.
  • Na Cruz não só são perdoados nossos pecados mas, também, questionados nossos esquemas racionais sobre Deus.

A desconfiança dos discípulos ante ao anuncio da Cruz, mostram que eles ainda estão apegados a suas expectativas pessoais. Os discípulos não parecem interessados em escutar o anúncio da paixão porque compreendem que o destino de sofrimento do Mestre também os afetará a eles.

Quando Jesus anuncia sua paixão, também anuncia a paixão do discípulo. O problema está em como chegar a entender como é que pode haver salvação no caminho da dor.

Jesus, pela segunda vez, anuncia sua paixão. Como se pode ver, esta passagem não fala de ressurreição. Ele introduz seu anuncio com esta exortação: “Quanto a vós, abri bem os ouvidos a estas palavras” (9,44ª). A terminologia nos remete ao capítulo 8, onde vimos a parábola do semeador e suas consequencias.

A compreensão do misterio da Cruz implica seguir o processo da semente. Nem tudo é incapacidade pessoal, também se tem que respeitar os processos, os tempos de Deus, que darão os frutos esperados quando chegue o momento.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

Santo Tomás de Aquino (1225-1274), teólogo dominicano, doutor da Igreja 

O nosso título de glória: o Filho do Homem entregue nas mãos dos homens

“Quanto a mim, diz São Paulo, em nada me glorifico senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo” (Gl 6,14).

Vê, nota S. Agostinho, aonde o sábio deste mundo julgou encontrar a vergonha, o Paulo encontra um tesouro;

o que a qualquer outro apareceu como uma loucura, para ele é sabedoria (1 Co 1,17ss) e título de glória.

Com efeito, cada um encontra glória naquilo que, a seus olhos, o engrandece.

Se se julga um grande homem porque é rico, glorifica-se nos seus bens.

Quem só vê a sua grandeza em Cristo é só em Jesus que encontra a sua glória; era assim o apóstolo Paulo:

“Se vivo, não sou eu que vivo, mas Cristo que vive em mim”, dizia ele (Gl 2,20).

Por isso, apenas se glorifica em Cristo e, acima de tudo, na cruz de Cristo.

Porque nela estão reunidos todos os motivos para se glorificar.

Há pessoas que consideram uma glória a amizade dos grandes e dos poderosos;

Paulo só precisa da cruz de Cristo, para nela descobrir o sinal mais evidente da amizade de Deus.

“A prova d e que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, enquanto éramos pecadores” (Rm 5,8).

Não, nada manifesta mais o amor de Deus por nós do que a morte de Cristo.

Exclama São Gregório: “Ó, testemunho inestimável de amor, para resgatar o escravo, tu entregaste o Filho”.

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

  1. A Cruz de Jesus suscita em mim alguma resistência interna, algum sentimento de repugnância?
  2. Por que os discípulos tinham medo de fazer perguntas sobre a Cruz?
  3. Temo sofrer alguma decepção com Jesus ou levo sua proposta muito a serio? Que vou a fazer para que minha vida esteja em sintonia total com Jesus?

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

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