ESTUDO BÍBLICO NA 29ª SEMANA COMUM ANO A 2020
ESTUDO BÍBLICO NA 29ª SEMANA COMUM ANO A 2020
COMUNIDADE CATÓLICA PAZ E BEM
SEGUNDA-FEIRA
Lucas 12,13-21
DISCIPULADO (II): APOIAR A VIDA EM DEUS
“Guardai-vos de toda cobiça”
Vejamos hoje a segunda lição de Jesus a seus discípulos, que – ao havê-lo “acolhido” e ao “estar” ao lado dele – estão sendo formados em seu novo estilo de vida. Esta lição está apresentada na parábola “do rico insensato” ou “do mal planejador” (12,13-21).
Uma pessoa na rua aborda Jesus para pedir-lhe que se faça de mediador em um conflito familiar. Trata-se de um irmão menor que está fazendo reclamação do legítimo direito da herança a seu irmão maior, que parece havê-la retirado dele (12,13).
Jesus se nega a intervir no litígio (12,14). Com suas palavras dá entender que não lhe foi dado um poder judicial para dirimir o assunto, porém, por cima, tem outro argumento que já havia aparecido no debate com os fariseus: “Guardai-vos de toda cobiça” (12,15;11,39).
A cobiça, o egoísmo, é um indicador de “homem velho”. Sobre esta base Jesus expõe sua lição. O dito de 12,15 se explica mediante a parábola (12,16-20), a qual termina com uma lição que ajuda à aplicação (12,21).
A cobiça se expressa como um desejo, às vezes compulsivo, de se encher de coisas, viver na “abundância” (12,15b). Aqui entra o tema da “vida”: Que “assegura” a vida? Quer dizer, que é que lhe dá conteúdo, alegria, plenitude? Que a mantém aqui e a garante até ao final da morte biológica?
O rico insensato da parábola é um homem que deseja ardentemente “viver”, porém que na realidade caminha na direção contraria aos seus propósitos: vai para a ruína.
O rico crê estar fazendo um exercício inteligente quando reflete sobre o que fará para conservar sua colheita e ter a vida assegurada para o futuro:
(a) demolirá,
(b) construirá,
(c) reunirá ali tudo o que é seu, e
(d) dar-se-á uma boa vida, com a segurança de que conta com boas reservas.
Trata-se de todo um exercício de planejamento de uma empresa sustentável. Mas, o que creu ser inteligente no manejo de seus recursos terminou fazendo uma estupidez. Daqui se desprendem as seguintes lições:
- O uso egoísta das propriedades e das riquezas não é conforme a vontade de Deus. Os bens não são para um só, mas para partilhá-los. Deve-se vencer a “cobiça”.
- Não tem sentido apoiar o sentido da vida nos bens materiais, eles não “asseguram” a vida, só Deus é o único que a pode dar e conservar. Por muito bom que seja algo que tenhamos nunca nos dará verdadeira vida (senão insatisfações e mil preocupações).
- A vida terrena tem um limite e mais, o fim dela ninguém pode prever com exatidão, não sabemos quando o Senhor a nos pedirá (Sb 15,8). Dai que o planejamento mais inteligente que podemos fazer é a de nosso futuro na eternidade de Deus.
O bom discípulo é o que “se enriquece para Deus”(v.21), tendo como necessários, mas relativos, com relação ao destino final de vida, todos os seus bens. Portanto, é o que se faz rico, não no entesourar, mas no “dar”, que faz seu coração idêntico ao de Deus com o qual viverá em comunhão eterna.
Aprofundemos com os nossos pais na fé
Santa Madre Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
“Um caminho fácil: Que devo fazer?”
Todos nós desejamos ser felizes e ter paz. Fomos criados para isso e só podemos encontrar felicidade e paz amando a Deus; o amor traz a alegria e felicidade. Muitas pessoas pensam, sobretudo no Ocidente, que viver fazendo o que lhes apetece os torna felizes. Penso que é mais difícil ser feliz na riqueza, pois as preocupações pelo dinheiro dissimulam Deus. Contudo, se Deus vos confiou riquezas, fazei-as servir as suas obras: ajudai
os outros, ajudai os pobres, criai empregos, dai trabalho aos outros. Não desperdiceis em vão vossa fortuna; ter uma casa, honras, liberdade, saúde, tudo isso nos é confiado por Deus para pormos ao serviço dos que são menos afortunados que nós. Jesus diz: “O que fizerdes ao mais pequenino de meus irmãos é a mim que fazeis” (Mt 25,40). Portanto, a única coisa que pode entristecer-me é ofender Nosso Senhor por egoísmo ou falta de caridade com os outros, ou fazer mal a alguém. Ferindo os pobres, ferindo uns aos outros, ferimos a Deus.
É a Deus que compete dar e tirar (Jó 1,21); partilhai. pois o que recebestes, incluindo vossa própria vida.
Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração
- Que significado tem para mim, meus bens, sejam muitos ou poucos? Que lugar ocupam, estes, dentro de minha escala de valores?
- Onde está a “segurança” de minha vida?
- Que quer dizer a frase: “O bom discípulo é o que se enriquece em ordem a Deus”?
TERÇA-FEIRA
Lucas 12,35-38:
DISCIPULADO (III): A VIGILÂNCIA DE TODOS OS DISCÍPULOS NA ESPERA DO SENHOR
Que o Senhor “o encontre fazendo o que deve”
O Evangelho de hoje está conectado com o de ontem, porque se o discípulo aprendeu a liberdade de coração com relação aos bens materiais e “entesourar para o céu”, é porque entendeu que o valor maior está no futuro definitivo.
Como viver esta tensão para o futuro? O bom discípulo tem o olhar na meta. Ele, com o coração em Deus (Lc 12,22-32) e no exercício da caridade (Lc 12,33-34), caminha para a plenitude com “as cinturas cingidas” e com “lâmpadas acesas” (12,35) no presente.
Com relação à segunda vinda do Senhor, na primitiva Igreja (e ainda hoje) houve um clima de grande dúvida e indecisão. Razão pelo qual houve espaço para muitas fantasias sobre este regresso que viam como algo quase imediato e, sobretudo, muito descuido nas exigências de vida, ante a evidência sempre crescente de que não aconteceria. Que ensinou Jesus a respeito?
A parábola “dos servidores vigilantes”, que estamos lendo hoje, apresenta o discípulo como um “servidor” que sabe esperar a chegada de seu patrão. Apresenta-se em dois momentos:
- Descreve-se o comportamento dos servos enquanto esperam o amo (vv.35-36);
- Descreve-se o comportamento do patrão com relação aos servos que encontra vigiando: Ele mesmo se fará servidor de cada um deles (vv.37-38).
Dos servidores para com seu Senhor
De acordo com a primeira parte (vv.35-36), a espera do Senhor se faz com:
“Cintura cingida”. Usualmente, em casa se andava com a túnica solta, sem correia; é o equivalente a estar de pijama ou de roupa cômoda quando se chega em casa depois de uma longa jornada. Ao contrário, “estar com o cinto” era próprio de quem estava pronto para o trabalho ou para uma viagem (Ex v.11; recordemos, também, que Jesus se “cinge” para servir na última ceia).
“Lâmpadas acesas”. Quando a família ia dormir estas eram apagadas. Por isso lâmpada acesa é sinal de atividade na casa. Para Mt 5,16 as lâmpadas são as “boas obras” e sua irradiação evangelizadora.
Com estas duas imagens, Jesus ensina que o discípulo que sabe viver a “espera” é o que sabe “vigiar”. A vigilância é o contrário do ir dormir ou entrar em situação de repouso. Assim, o Evangelho não dá sossego, não permite descuido, não dá espaço para a moleza, não tem repouso, não tem jubilação.
“Vigiar” é estar sempre pronto para a ação, sempre em forma para poder viver os requerimentos próprios do Evangelho (“cintura cingida”) e para irradiá-los aos demais irmãos (“lâmpadas acesas”).
Do Senhor para com seus servidores
A segunda parte da parábola (vv.37-38), o prêmio àqueles que “encontre espertos” (v.37) e “fazendo o que devem” (v.38) se dá o maior qualificativo que dá o Evangelho: “Bem-aventurados!”. Isto quer dizer que, em sua atitude de espera, de abertura ao futuro de Deus, todo homem vive sua verdadeira felicidade.
E este qualificativo que enobrece o presente está seguido por um dom ainda maior no futuro: Jesus será para ele como um servo, ou seja, nos oferece todos os dons de seu serviço ao longo de seu ministério, particularmente os de sua cruz redentora e sua vida nova na ressurreição. A referência aos momentos da noite (segunda e terceira vigília) nos recorda a importância da perseverança. É fácil chegar a cansar-se neste caminhar, por isso: felizes o que o Senhor “encontre fazendo o que deve”.
Aprofundemos com os nossos pais na fé
Santo Efrém (cerca de 306-373), diácono na Síria, doutor da Igreja
«O Filho do Homem virá na hora em que não o esperareis»
Para impedir qualquer questão indiscreta acerca do momento da sua segunda vinda, Jesus disse: “Essa hora, ninguém a conhece, nem mesmo o Filho” (Mt 24,36) e, noutro momento, “Não vos pertence conhecer os dias e os tempos” (At 1,7). Escondeu-nos isso para que vigiemos e cada um possa pensar que tal vinda se produzirá durante sua vida. Se o tempo da sua vinda tivesse sido revelado, tudo seria em vão: as nações e os séculos em que se produzisse não o desejariam. Ele bem disse que viria, mas não precisou o momento; desse modo, todas as gerações e todos os séculos têm sede dele. É certo que fez conhecer os sinais da segunda vinda; mas não revelou seu termo. Na mudança constante em que vivemos alguns desses sinais já tiveram lugar, outros já passaram, outros duram sempre. De fato, sua última vinda será semelhante à primeira; os justos e os profetas desejavam-na; pensavam que teria lugar no tempo deles. Também hoje, cada um dos fiéis de Cristo deseja acolhê-lo no seu próprio tempo, tanto mais que Jesus não disse claramente o dia em que viria. Assim, ninguém poderá imaginar que Cristo seja submetido a uma lei do tempo, à uma hora qualquer, Ele que domina os números e o tempo.
Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração
- Que significam os símbolos do cinto e das lâmpadas?
- De que maneira me pede o Senhor que o espere?
- Que me oferece o Senhor com sua vinda?
QUARTA-FEIRA
Lucas 12,39-48
DISCIPULADO (IV): A VIGILÂNCIA DO LÍDER DA COMUNIDADE
“O administrador fiel e prudente”
Continuamos na mesma linha de ontem, porém – como sempre – dando um passo adiante. A atitude da “vigilância”, tal como a vimos, se pede a todo discípulo do Senhor, quem quer ele seja. Ao contrário, hoje a atenção se centra, de maneira particular, na própria vigilância dos líderes das comunidades.
Também o texto de hoje tem duas parábolas, sempre em torno do tema da vigilância: A primeira é a “do amo da casa” (vv.39-40); A segunda é a “do administrador fiel e prudente” (vv.41-48). Em conclusão da primeira parábola, a mais breve, ressoa o imperativo: “Estai preparados!” (v.40).
Jesus traz à pauta algo que constatamos perfeitamente hoje: a preocupação pela segurança. Vemos incremento na vigilância privada, sofisticação das fechaduras das portas e dos alarmes para as casas e carros, ansia por ter um seguro para tudo quanto nós temos, etc. Quem não quer proteger seus pertences?
O estranho é que não sabemos nos preparar para o momento em que outro ladrão, irremediavelmente, chegar: a morte. A vinda do Senhor tem esta grande característica: é imprevisível. Sem dúvida, Jesus disse: “Estai preparados!” (12,40). Não nos disse que nos ponhamos a calcular a hora, isso de nada serve. O que nos pede é que estejamos trabalhando e que façamos o melhor possível.
Desta forma a vigilância se converte em uma ética da responsabilidade de nossas realidades cotidianas. É preciso evitar um pieguismo que nos leve a esquecer-nos de nossas obrigações.
Se olharmos o Evangelho, no v.41, veremos que a Pedro não ficou claro se a parábola se aplicava somente aos discípulos ou aos líderes da comunidade. Por isso vem à segunda parábola (12,41-48) que toma a mesma exigência do “Estai preparados!” no assumir as responsabilidades típicas de um animador da comunidade, a quem Jesus chama “o administrador fiel e prudente” (12,42).
Como vimos na parábola de ontem, também esta se desenvolve em duas partes:
- Caracteres do administrador “fiel e prudente”: sabe que os bens não são seus, não é mesquinho nem rígido, sabe fazer que alcance a todos a comida (v.42). Este receberá a “bem-aventurança” de seu Senhor (v.43) e se lhe concederão funções de maior responsabilidade na comunidade (v.44).
- Caracteres do administrador “infiel”: descuida-se na vigilância, dar a si boa vida, aproveita-se das circunstâncias; logo não sabe dirigir a comunidade, se põe agressivo e se esquece dos demais. Primeiro se esquece de si mesmo e logo dos demais (v.45). O castigo é, todavia maior (46-48).
A parábola conclui com a moral: “A quem se lhe deu muito se lhe reclamará muito; e a quem se confiou muito, se lhe pedirá mais” (12,48b). Se os dons que o Senhor nos dá vão crescendo junto conosco, quanto mais teremos que crescer em nosso sentido dá gratidão da responsabilidade!
Aprofundemos com os nossos pais na fé
São Fulgêncio (476-532), bispo.
“Servos de Cristo e administradores dos mistérios de Deus” (1Co 4,1)
Para definir o papel dos servos que pôs à cabeça de seu povo, Jesus diz esta palavra que o Evangelho nos transmite: “Qual é o administrador prudente e fiel que o senhor estabelecerá sobre seu povo para lhe dar a seu tempo a ração de trigo?
Feliz o servo que o Senhor achar assim procedendo ao voltar”. Se perguntarmos que medida de trigo
é esta, São Paulo indica: “a medida de fé que Deus vos repartiu” (Rm 12,3).
Aquilo a que Cristo chama medida de trigo, Paulo chama medida de fé para nos ensinar que não há outra medida de trigo espiritual senão o mistério da fé cristã.
Essa medida de trigo nós damos a vós em nome do Senhor toda vez que, iluminados pelo dom espiritual da graça, vos falamos segundo a regra da verdadeira fé.
Essa medida a recebei vós dos administradores do Senhor todo dia em que ouvis da boca dos servos
de Deus a palavra da verdade.
Que seja nosso alimento essa medida de trigo que Deus nos faz partilhar.
Colhamos nela o sustento para o modo como nos conduzimos para obter a recompensa da vida eterna.
Acreditemos naquele que se dá a si mesmo a cada um de nós para não desfalecermos no caminho (Mt 15,32), que se reserva como nossa recompensa para que encontremos a alegria na pátria eterna.
Acreditemos e esperemos nele; amemo-lo acima de tudo e em tudo.
Porque Cristo é o nosso alimento e será a nossa recompensa.
Cristo é o sustento e o reconforto dos viajantes que caminham; é a satisfação e exaltação dos bem-aventurados que chegam ao seu repouso.
Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração
- Que deve caracterizar a um “líder” de comunidade?
- Qual é o ensinamento de cada uma das parábolas de hoje?
- Que diz a um discípulo do Senhor o “Estai preparados!”?
Como se faz a preparação?
QUINTA-FEIRA
Lucas 12,49-53
DISCIPULADO (V): O DESTINO DO DISCÍPULO ESTÁ ASSOCIADO AO DO MESTRE
“Sereis odiados por causa de meu nome”
Chegamos ao final de um dos cursos internos de discipulado que o evangelista Lucas quis inserir catequeticamente na seção da subida de Jesus a Jerusalém.
Os discípulos estão sendo ensinados a como superar “a cobiça” que suscita comportamentos hipócritas, os quais Jesus chamou de “fermento dos fariseus” (12,1). Falta, todavia a última lição, que não pode ser outra que a da Paixão de Jesus e suas consequências (49-53).
Jesus fala a seus discípulos de sua própria vocação. Porém, sua experiência pessoal se projeta, imediatamente, sobre seus seguidores, porque o destino do discípulo está, profundamente, unido ao do Mestre (já o havia dito abertamente em Lc 6,40). E mais: o sentido da vida de Jesus determina o sentido da vida de seus discípulos. Poderá haver algo maior que isto?
Para começar, Jesus diz como percebe sua missão e seu destino a partir de duas imagens contrapostas:
- O “Fogo” (v.49): o resultado da vinda de Jesus ao mundo.
Jesus compara sua vinda a terra como um fogo que se expande a toda velocidade por um campo semiárido. Provavelmente está se referindo a um fogo purificador da humanidade e que é símbolo do juízo de Deus, como aquele fogo que o profeta Elias fez cair sobre o monte Carmelo que devia levar o povo a escolher entre Baal e Yahweh (1 Rs 18,21).
Por isso este fogo divide: “Pensais que vim para trazer paz a terra? Não, os asseguro, mas divisão” (12,51; para esta “divisão” de juízo ver Is 66,15-16; Ez 39,6; Ml 3,19). Jesus o expressa como um “zelo ardente”, que nos recorda o Salmo 68,9: “o zelo de tua casa me devora”.
- A “Água” (v.50): os efeitos sobre a mesma pessoa de Jesus.
Sua missão tem consequências sobre sua própria pessoa. Jesus será submergido nas águas profundas -um batismo – de morte (como dizem os Salmos 69,2-3.14-15; 88,8.18).
Desta forma, se refere à sua paixão. Quando Ele disse “E angustiado estou até que se cumpra!”, não está dizendo que quer morrer rápido, mas que seu maior desejo é realizar o que o Pai designou.
As duas imagens concluem no anúncio que Jesus faz sobre a vida dos discípulos: no v.50, “Pensais que vim para dar paz a terra? Não, vos asseguro, mas divisão”, o discípulo, que é um mensageiro da paz (já lemos nas instruções da missão, em 10,5-6), sabe que sua situação pessoal será muito mais de conflito.
O conflito de incompreensão entre aqueles que já vivem a vida nova e os que ainda não deram o passo da conversão (12,52-53; ver Mq 7,6). Como seu Mestre, eles são “sinal de contradição” (2,34).
O que aqui se anuncia será ainda mais claro em 21,17: “Sereis odiados por causa de meu nome”. O Evangelho nunca oculta que este seja o destino do discípulo: sua vida amadurecerá e chegará à plenitude pelo mesmo caminho de seu Senhor, sempre à sombra da Cruz.
Aprofundemos com os nossos pais na fé
Dionísio o Cartuxo (1402-1471), monge.
“Pensais que vim trazer a paz ao mundo?”
É como se Cristo dissesse: “Não penseis que vim dar aos homens a paz segundo a carne e segundo este mundo, uma paz sem regras, que lhes permitisse viver em harmonia no mal, e lhes garantisse a prosperidade neste mundo.
Não, digo-vos, não vim trazer uma paz deste gênero, mas a divisão, uma boa
e salutar separação entre os espíritos e mesmo entre os corpos.
Assim, porque amam a Deus e procuram a paz interior, aqueles que acreditam em Mim estarão naturalmente em desacordo com os maus; separar-se-ão daqueles que tentam desviá-los do progresso espiritual e da pureza do amor divino, ou que se esforçam por lhes criar dificuldades.»
Assim, pois, a paz espiritual, a paz interior, a paz boa é a tranquilidade da alma em Deus, e a boa harmonia segundo a justiça.
Foi esta paz que Cristo veio trazer. […]
A paz interior, que tem origem no amor, consiste numa alegria inalterável da alma que se encontra em Deus.
Chamamos-lhe paz do coração.
É ela o começo e um certo antegosto da paz dos santos que se encontram na pátria, da paz da eternidade.
Cultivemos a semente da Palavra no coração:
- Que simbolizam o “fogo” e a “água” nesta passagem?
- Por que a missão de Jesus causa “divisão”?
- Que nos ensina Jesus sobre a missão? Como entra o tema da Cruz? Que deve distinguir a missionário?
SEXTA-FEIRA
Lucas 12,54-59
O DISCERNIMENTO: DISCERNIR OS SINAIS DOS TEMPOS.
“A decisão tomada a tempo”
Com as palavras “também dizia a multidão” (v.54), o relato de Lucas que temos acompanhado nos indica que começa uma nova etapa na formação que Jesus oferece no caminho para Jerusalém.
Nela Jesus faz novos chamados à conversão. Em consonância com o convite que Jesus vem fazendo, para que sua Palavra seja “escutada” e, a partir dela, se inicie um caminho de conversão e compromisso no seguimento (11,27-28: “Felizes os que ouvem a Palavra de Deus e a guardam”).
Jesus insiste hoje sobre este tema a partir de duas realidades bem conhecidas pelos ouvintes:
- A experiência cotidiana do prognóstico do tempo: análise dos sinais dos tempos (vv.54-57);
- A necessidade de por em ordem a carteira, antes que venha um problema financeiro grave sobre a casa: o caso do devedor (vv.58-59).
Em ambos os casos, a análise da situação, conduz a uma tomada de decisões. O segundo caso, de maneira especial, sublinha a urgência desta tomada de decisões.
Primeira situação: análise dos sinais dos tempos (vv.54-57).
Por experiência sabemos que na Palestina as chuvas habitualmente vêm da região sudoeste, sem dúvida, nem sempre, é claro, se um contratempo vem do oriente ou sudeste. As mudanças climáticas e as chuvas nos levam a tomar decisões em nossa agenda ou nos acessórios que levaremos.
Jesus disse que se sabemos interpretar os sinais meteorológicos, como não sabemos interpretar os sinais do Reino que estão presentes em seus ensinamentos e em suas obras!
A comparação com o “prognóstico do tempo” (como o que vemos todos os dias pela TV) sublinha que a ponderação dos sinais, o que se “vê”, conduz a interpretações, se “diz” algo, e deste se veem as consequências, “e assim acontece”.
A “hipocrisia”, com que Jesus qualifica os fariseus e escribas que se negam a dar o passo da conversão, Jesus a aplica à multidão que não exercita sua faculdade de discernimento por uma certa rigidez interna: como é que uma pessoa que sabe ver todos os dias os sinais dos tempos, não é capaz de ver os sinais da ação de Deus no ministério de Jesus? Jesus disse: “Como é que não julgais por vós mesmos o que é justo?” (12,57).
Segunda situação: o caso do devedor (vv.58-59)
Jesus evoca, em parábola, a situação de um homem que tem uma dívida e a qual vão aplicar a lei para que faça o pagamento respectivo. Este homem tem duas opções: fazer uma conciliação, uma negociação, com seu adversário, ou vai assumir as consequências, isto é, vai ao cárcere.
Com este exemplo, Jesus nos sublinha que é importante que regulemos nossos próprios assuntos antes que seja demasiado tarde e já não possamos voltar atrás, porque o momento crucial se aproxima.
Embora a ênfase desta parábola esteja na “decisão tomada a tempo”, também se realça que perto a tal decisão está o discernimento, a ponderação da situação em suas diversas facetas e decidindo com inteligência e bom sentido.
Quando a vida vai caminhando para a ruína, é preciso deter-se para refletir e optar por uma nova rota a tempo, sem demoras.
Frente à pessoa de Jesus e sua mensagem, cada um de nós está sendo convidado continuamente a observar, escutar, analisar seus sinais e tomar a sabia decisão de escolher a Ele, orientando a vida pela rota que os sinais discretos de sua presença nos assinalam.
Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração
- Todo cristão deve estar em contínuo exercício de discernimento: Discernir o que? Como fazer?
- Nestes tempos que vivemos que sinais há de que o Reino de Deus está crescendo? Que sinais há de anti-reino? Que ensina a parábola do “devedor”?
- Como aplicar a quem lê todos os dias o Evangelho e não toma decisões concretas sobre sua vida?
SÁBADO
Lucas 13,1-9:
NÃo adiar a conversÃO.
“Se não vos converterdes, todos perecereis do mesmo modo”
A passagem de hoje nos convida a não adiar a conversão. O convite do Senhor já foi lançado, não o podemos por em saco furado.
Com três exortações, Jesus nos faz o chamado:
- Em Lc 13,1-3: A partir do caso do massacre protagonizado por Pilatos, Jesus dá o ensinamento: “Se não vos converterdes, todos perecereis do mesmo modo” (12,3).
- Em 13,4-5: A partir do caso da tragédia da torre de Siloé, Jesus disse: “Se não vos converterdes, todos perecereis do mesmo modo” (v.5).
- Em 13,6-9: Com a parábola da figueira que não produz frutos, Jesus reforça a mesma mensagem anterior e coloca um limite à paciência com aquele que é resistente à conversão.
Ontem vimos como Jesus nos educa na leitura dos “sinais dos tempos” e hoje vemos como Ele mesmo o realiza. Toma dois acontecimentos do primeiro plano das notícias do país, descobre nelas a voz de Deus que adverte a cada um sobre a insegurança de seu próprio destino e com o método da reflexão parabólica, anuncia a misericórdia (e longanimidade) do coração de Deus, mas também sua justiça.
É como se nos dissesse: “O fato que esta aqui é uma oportunidade que Deus te está dando. Ele tem tido paciência. Porém não abuse da misericórdia de Deus. Chegará um tempo em que já não poderá fazer nada”.
O massacre realizado por Pilatos (vv.1-3)
Ainda a história não o confirma com absoluta certeza (porém há alguns dados), Pilatos reprimiu a um grupo de terroristas zelotas judeus com um ato de público escarnecimento. O procurador romano tinha seus métodos para desfazer-se de pessoas suspeitas de atentar contra sua autoridade.
Porém Jesus não está, neste caso, fazendo uma reflexão sobre se no acontecimento houve alguma injustiça, senão sobre o fato de que, visto que ninguém pode dizer que é uma pessoa completamente “justa”, todos necessitam arrepender-se.
O acidente do edifício de Siloé (13,4-5)
A morte pode chegar pela mão de outras pessoas –como no caso de Pilatos- porém também por um acidente. Este é o caso de uma tragédia dolorosa que os da época não podiam esquecer (o lugar pode ser identificado com o vale de Cedron, na cidade de Davi).
Tampouco aqui Jesus está refletindo sobre “onde está Deus nas calamidades da natureza”, senão no fato de que as calamidades individuais não indicam responsabilidades individuais, estas são mais “sinais”, isto é, avisos do juízo divino que ameaça a uma humanidade pecadora.
Há que corrigir a ideia simplista segundo a qual as enfermidades e as calamidades ocorrem como um castigo de Deus por um pecado concreto; há que ver o assunto ao contrário: na realidade é o pecado em geral o responsável do mal que há no mundo.
A parábola da figueira (13,6-9)
Jesus nos disse: “Se vocês não se arrependem, serão derrubados e perecerão, como a figueira estéril”. Dentro de uma plantação, toda árvore que não serve, que simplesmente ocupa espaço, é abatida.
Jesus interpela a todos os que estão sempre deixando “para amanhã” as decisões importantes da vida, particularmente a conversão, o deixar definitivamente um mau hábito, o corrigir uma conduta daninha.
O atraso da conversão nos coloca em uma situação perigosa. O Senhor dá um tempo de espera, e não o faz de braços cruzados, Ele faz tudo o que pode para que por fim a figueira comece a frutificar.
Porém ao final, “se não dá fruto, se corta” (13,9). Vejamos a pregação de João Batista: “Dai, pois, frutos dignos de conversão… já está o machado à raiz da árvore; e toda árvore que não dê bom fruto será cortado e lançado ao fogo” (3,8-9).
Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração
- Por que muita gente vê alguns acidentes como “castigo de Deus”? Deus é o responsável?
- Por que o proprietário da figueira estéril é tão paciente?
- A paciência de Deus não tira a urgência: Qual é finalmente a mensagem do Evangelho de hoje?
Como levá-la ao campo da evangelização?
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Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM