Estudo Bíblico na 2ª Semana da Páscoa

ESTUDO BÍBLICO NA 2ª SEMANA DA PÁSCOA ANO 2022

COMUNIDADE PAZ E BEM

DOMINGO:

João 20,19-31

(Aparição aos discípulos) Estes dois episódios, próximos e relacionados a um mesmo tema, a fé, são eco fiel do que ocorreu no coração dos apóstolos após a mor­te de Jesus. No primeiro (vv.19-22), Jesus aparece aos onze, que, apesar do anúncio de Maria Madalena, estão ainda fechados no cenáculo por medo dos judeus. Jesus vence as barreiras: passa através da porta, ma­nifestando que sua condição é totalmente nova, ainda que não tenha desaparecido nada do sofrimento que padeceu na carne. A insistente referência ao seu lado traspassado é própria de João, para indicar o cumprimento das profecias em Jesus (Ez 47,1; Zc 12,10.14). A tradicional saudação de paz assume, também, em seus lábios, sentido novo: do desejo passa à pre­sença. A paz, dom messiâ­nico por excelência, que inclui todo bem, é, pois, uma pessoa: é o Senhor crucificado e ressuscitado em meio dos seus (“se apresentou»:vv.14.19b.26b). Ao vê-lo, ficam cheios de alegria e confirmados na fé. O Espírito que Jesus sopra sobre eles, principio de uma nova criação (Gn 2,7), confe­re-lhes uma missão que prolonga a sua no tempo e no espaço e lhes concede o poder divino de libertar do pecado. O segundo quadro (vv.24-29) personaliza em Tomé as duvidas e o ceticismo que atribuem os sinóticos, de modo genérico, a «alguns» dos doze, e que po­dem surgir em qualquer um. Tomé viu a agonia de seu Mestre e se nega a crer agora em uma realidade que não seja concreta, tangível, quanto ao sofrimento do que foi testemunho (v.25). Jesus condescende à obstina­da pretensão do discípulo (v.27), pois é preciso que o grupo dos apóstolos se mostre firme e forte na fé para poder anunciar a ressurreição ao mundo. Precisamente a Tomé atribui a confissão de fé mais elevada e completa: «Meu Senhor e meu Deus!» (v.28). Aplica ao Ressuscitado os nomes bíblicos de Deus, Yahweh e Elohím, e o possessivo «meu» indica sua plena adesão de amor, mais que de fé, a Jesus. A visão conduz Tomé à fé, mas o Senhor declara, de modo aberto, para todos os tempos: bem-aventurados os que creram pela palavra dos testemunhos, sem pretender ver. Estes experimentarão a graça de uma fé pura que, sem dúvida, é confirmada pelo coração e o faz exultar com uma alegria inefável e radiante (1 Pe 1,8). Os vv.30s constituem a primeira conclusão do evangelho de João: trata-se de um testemunho escrito que não pretende ser exaustivo, mas só suscitar a fé em que«Jesus é o Cristo, o Filho de Deus» (cf.Mc 1,1).

Cristo veio aos apóstolos escondidos em uma casa e entrou pela porta fechada. Porém Tomé, que não estava durante esta aparição, permaneceu incrédulo. Deseja ver, não aceita, nem lhe basta ouvir falar dela. Fecha os ouvidos e quer abrir o coração. Queima-lhe a impaciência. Tomé, homem de caráter exigente e desconfiado, põe adiante sua incredulidade, esperando gozar, assim, de uma visão. «Se ele me aparece – disse – eliminará minha incredulidade. Porei meu dedo nas cicatrizes dos cravos e abraçarei o Senhor a quem tanto amo. Re­provará também minha incredulidade, porém me cumulará com sua visão». O Senhor aparece de novo, aplaca o tormento e elimina a duvida de seu discípulo. Porém, mais que a duvida, satisfaz seu desejo. Entra com as portas fechadas. Esta incrível aparição confirma sua incrível ressurreição. Então Tomé lhe toca, desaparece sua desconfiança e, cumulado de uma fé sincera e de todo o amor que se deve ao próprio Deus, exclama: «Meu Senhor e meu Deus!». O Senhor lhe responde: «Porque me vistes, crestes. Bem-aventu­rados os que creem sem ter me visto. Tomé anuncia a ressurreição aos que não me verão. Arrasta toda gente para crer, não no que veem seus olhos, mas no que disse tua palavra». Estes são os novos recrutas do Senhor […]. Seguirão a Cristo sem tê-lo visto, o desejarão, crerão nele. Reconhecerão com os olhos da fé, não com os do corpo. Não porão seus dedos na ferida dos cravos, porém se unirão a sua cruz e abraçarão seus sofrimentos. Não verão o lado do Senhor, porém se unirão a seus membros através da graça (Basilio de Seleucia, Omelia sulla Pasqua).

PARA A LEITURA ESPIRITUAL Encontrar Deus! Vê, estou sem luz. Penso que poderia dizer frases belas e com elas entusiasmar-me, mas justamente pronunciadas muito depressa, de modo superficial. Acho-me numa situação onde o crer já não se me apresenta como um conhecer algo sobre Deus, como um «Credo», mas como a pedra de toque de minha fé. Se eu cresse de verdade, seguiria sendo ainda presa de insignificantes contrariedades com tanta frequência? Sentir-me-ia alarmado por projetos tão medianos? Não, então nada seria objeto de desprezo, mas tudo ficaria iluminado por este inimaginável e rico cumprimento de tudo. Em consequência, é minha fé a que tem que ser reanimada… Porém, onde se encontra sua debilidade? Creio, seguramente, que Jesus é Deus que veio entre nós e deu vida a minha vida. Creio, certamente, em Jesus, verdadeiro homem, que morreu crucificado e ressuscitou dentre os mortos: como Deus verdadeiro, «a morte já não tem poder sobre Ele». Sim, Jesus, creio que ressuscitastes. Tu, o Filho de Deus encarnado, «a fidelidade encarnada de Deus», ressuscitastes com teu corpo de homem. Creio que  venceste à morte, também a minha. Porém, creio de uma maneira vital nesta ressurreição da carne, de minha carne, como afirmo no Credo? Justamente como a viveu Jesus e como a leio nos quatro evangelhos? Não entrarei de verdade na ressurreição de Jesus mas que se digo um «sim» incondicional a minha ressurreição. Este «sim» ao meu destino pessoal é o que devo pronunciar antes que qualquer outra coisa, além de todas as falsas aparência dos sentidos, um «sim» a um «eu que continua em uma vida nova». É preciso que minha vontade se comprometa com este «sim» a minha sobrevivência gloriosa, para que seja algo diferente de um simples som vocal (J.Loew,Dios incontro alí’uomo).

SEGUNDA-FEIRA

Marcos 16,15-20

Marcos era filho de Maria de Jerusalém, em cuja casa Pedro se refugiou depois de ser libertado do cárcere (cf. At 12, 12). Era primo de Barnabé. Acompanhou o apóstolo Paulo na sua primeira viagem a Roma (cf. Col 4, 10) e esteve próximo dele durante a sua prisão em Roma (Fm 24). Depois, tornou-se discípulo de Pedro, de cuja pregação se fez intérprete no Evangelho que escreveu (cf. 1 Pe 5, 13). O seu evangelho é comumente reconhecido como o mais antigo, utilizado e completado por Mateus e por Lucas. Parece que também os grandes discursos da primeira parte do Atos dos Apóstolos são uma retomada e desenvolvimento do evangelho de Marcos, a partir de Mc 1, 15. É-lhe atribuída a fundação da Igreja de Alexandria.

Nesta conclusão do evangelho original de Marcos, encontramos o chamado discurso missionário: Jesus envia os seus discípulos a levar o evangelho a todas as criaturas (vv. 15ss.). O missionário do Pai, Jesus, precisa de outros missionários. Aquele que é a Boa Nova confia a Boa Nova aos seus apóstolos: “Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura.” (v. 15).
Depois do mandato missionário, Marcos alude, de modo muito breve, e discreto à ascensão de Jesus ao céu: “O Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus.” (v. 19). E conclui afirmando: “Eles, partindo, foram pregar por toda a parte” (v. 20). E assim mudou radicalmente a vida dos apóstolos e de muitas outras pessoas ao longo dos séculos.

A primeira leitura da festa de S. Marcos foi escolhida por causa da expressão “meu filho” usada por S. Pedro para se referir ao segundo evangelista, mas também pelas palavras: “Resisti-lhe, firmes na fé, sabendo que a vossa comunidade de irmãos, espalhada pelo mundo, suporta os mesmos padecimentos.” (v. 9). Marcos é, de modo especial, o evangelista da fé. Insiste em que deve ser vivida mesmo no meio da obscuridade. O evangelista tem um sentido muito vivo dessa experiência. Mais do que desenvolver os ensinamentos do Mestre, preocupa-se em acentuar a manifestação do Messias crucificado. Apresenta-nos Jesus rodeado de pessoas que, depois de um primeiro entusiasmo, O recusam. Os próprios Doze, escolhidos por Ele, não O compreendem: têm o coração endurecido, fechado à Sua mensagem, à Sua Pessoa. Mesmo Pedro, que reconhece Jesus como Messias, não quer aceitar o caminho que Ele escolheu percorrer, o caminho da cruz. O centro do evangelho de Marcos é o paradoxal testemunho de fé do centurião, que reconhece em Jesus, que morre na cruz, o Filho de Deus. Marcos compreende a realidade profunda do itinerário doloroso de Jesus e apresenta-o à luz da fé, definitivamente consolidada na ressurreição. O segundo evangelho ajuda-nos a viver na fé e a alimentá-la no sofrimento e a apoiá-la unicamente em Cristo, sem procurar provas humanas.
A reflexão de Marcos não é académica, mas existencial e vital. O Evangelho é Deus (cf. Mc 1, 14); contém e manifesta o projeto salvífico que o Pai quer realizar por meio do Filho em favor de toda a humanidade. É do coração de Deus que brota a “Boa Nova” capaz de encher de alegria todos os corações humanos que estejam disponíveis a acolher o dom da salvação. O “Evangelho é de Jesus Cristo” (cf. Mc 1, 1), quer dizer, é Jesus o Cristo, o Filho de Deus. Mas é também memorial de tudo quanto Jesus fez e disse. Numa palavra: para Marcos, o Evangelho é tudo, e tudo é Evangelho.

TERÇA-FEIRA

João 3,7b-15

DEIXAR-NOS ILUMINAR PELA PÁSCOA (II):

SOB O INFLUXO VIVIFICANTE DO CRUCIFICADO EXALTADO

“Quando for levantado o Filho do homem, que todo o que crer tenha por Ele vida eterna”

Continuando nossa leitura do diálogo de Jesus com Nicodemos, notamos como Jesus põe de relevo o caráter misterioso da realização do novo nascimento pela água e o Espírito Santo.  

Sua obra vai muito além de uma plena intelecção humana. A imagem do vento, também figura do Espírito (ruah), que é, em categorias humanas, “O vento sopra onde quer e ouves sua voz, porém não sabes de onde vem nem a onde vai” (v.8a). 

Esta plena liberdade, docilidade e abertura para o futuro é a grande característica do homem novo: “Assim é todo o que nasce do Espírito” (v.8b). A última expressão de Jesus nos convida a deixar-nos impactar, e não simplesmente admirar-nos pela obra de Deus.

A frase “Como não sabes como vem o espírito aos ossos no ventre da mulher em gestação, assim tão pouco sabes a obra de Deus que tudo faz” (cf. Ecl 11,5) revela qual é a atitude que nos corresponde: a gratidão a Deus por sua obra em nós e a humildade e abandono total nele para que a leve à plenitude. 

A nova pergunta de Nicodemos não obtém resposta. No começo ele havia reconhecido Jesus como Mestre vindo de Deus (v.2). Agora Jesus exige ser reconhecido verdadeiramente sua autoridade e que se aceite seu testemunho.

Não há nenhuma outra razão para manter suas afirmações, senão a qualidade de seu testemunho (v.11).  Ele desceu do céu: sabe, sim, porque é testemunha ocular (v12). Conhece as coisas de Deus. Portanto, é preciso que confiar em sua palavra. 

Do diálogo de Jesus com Nicodemos aprendemos que:

  • Para poder participar do Reino de Deus é necessário um começo completamente novo;
  • Não podemos dar a nós mesmos este inicio de uma nova vida, o qual só nos é dado no Batismo do poder criador de Deus;
  • Neste novo começo não somos passivos: este exige da nossa parte a fé no Filho de Deus. 

Porém, nem a fé é algo de ordem humana. Jesus mostra que a fé se fundamenta na prova de amor que Deus nos deu enviando seu Filho. 

O novo nascimento de Deus e a fé no Filho de Deus nos conduzem ao sentido e à plenitude de nosso ser, à verdadeira vida que não passa. Sem este nascimento e esta fé arruinamos nossa vida. 

Como evitar um fim absurdo, uma morte sem sentido e miserável? Como manter e assegurar nossa vida? Israel se fazia estas perguntas quando, no caminho do deserto, foi ameaçado por serpentes venenosas (Nm 21,4-9).

Então Deus veio em auxilio de seu povo. Encarregou Moisés de fazer uma serpente de bronze e a suspendesse no madeiro. Quem era mordido pela serpente e olhava a serpente seguia com vida.   

Assim se aclara o significado do Filho do homem exaltado sobre a Cruz: o crucificado é símbolo de salvação, fonte de vida (3,4-5). Devemos fixar o olhar d’Ele e tratar de ouvi-lo.

Devemos levantar nosso olhar para ele e reconhecê-lo como nosso salvador. Não há outro caminho para a vida, nem outra possibilidade de superar a morte se não n’Ele.  

Concluindo, a união com Jesus dá a vida. E esta união a obtemos crendo n’Ele, que é o Crucificado, abandonando-nos e confiando completamente n’Ele. Confiando no Crucificado, reconhecemos o amor sem medida de Deus e nos entramos na esfera de ação de sua potencia vivificante.

Para cultivar a semente da Palavra no coração:

  1. Por que se utiliza aqui a imagem do vento?

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  • Que tipo de Mestre é Jesus?

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De onde provem seu ensinamento?

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  • De onde se tira a imagem da serpente suspensa na haste?

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Que relação tem com a crucifixão de Jesus?

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QUARTA-FEIRA

João 3,16-21

DEIXAR-SE ILUMINAR PELA (III): ANTE LUMINOSA REVELAÇÃO DO AMOR DE DEUS NO CRUCIFICADO

“Tanto amou Deus o mundo que deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça,…”

O diálogo de Jesus com Nicodemos dá um giro importante: a contemplação do amor de Deus na Cruz do Filho. Afirma-se, claramente, que detrás do Crucificado está o mesmíssimo Deus, que este Deus o ofereceu e enviou por amor à humanidade inteira, preocupando-se por sua salvação.

A Cruz de Jesus é, desde um ponto de vista externo, um sinal de como Ele foi despojado de todo poder, de como Deus o havia abandonado, e de como a crueldade humana havia triunfado sobre suas reivindicações e sobre suas obras. Porém, na Páscoa fica claro que o Crucificado foi o enviado de Deus e n’Ele estabeleceu quais eram seus caminhos de salvação.

Então a Cruz permanece como símbolo do amor de Deus sem medida. Ela demonstra quão longe é capaz de ir Deus e quão longe é capaz de ir Jesus ao jogar-se pela humanidade.

No Crucificado Deus responde nossas interrogações: Será que Deus me ama? Meu destino interessa a Deus? Fomos criados, e logo abandonados à impassibilidade das leis da natureza e ao mesquinho jogo de poder humano? O Crucificado nos diz que Deus ama o mundo e quer sua salvação. Seu amor tem intensidade e medida tal, que se fosse possível, se deveria dizer: “Deus ama o mundo, a nós, mais que seu próprio Filho”.

Deus não abandonou o mundo. Antes, se compromete de tal forma que é capaz de desprender-se do mais querido e dar seu próprio Filho como dom. E mais ainda, o expõe aos perigos desta missão, que caia nas mãos dos maus feitores, que seja vítima da cegueira e crueldade destes, que seja crucificado.

Quanto nós valemos, aos olhos de Deus! O que Deus quer é que nossa vida não se arruíne e que alcancemos a plenitude de nossa vida. Para isto nos dá a seu Filho. Após a criação (Jo 1,2), a Lei (Jo 1,17), unida aos profetas e a tantas outras formas de sua solicitude por nós, o Filho é a última palavra, o dom mais valioso que Deus fez à humanidade. No Filho, Deus se ocupa pessoalmente de nós, nos abre o caminho da salvação e nos atrai à comunhão com Ele e à vida eterna.

Porém, Deus não busca nossa salvação sem contar conosco, nem tampouco contra nossa vontade. Requer que nos abramos a seu amor incrível e que creiamos em seu Filho crucificado.

Só se reconhecemos que o Crucificado é o único e predileto Filho de Deus, a potência deste amor de Deus pode invadir-nos e realizar, eficazmente, dentro de nós. Nossa vida, então, resplandece sob sua luz e seu calor. Nossa vida depende de nossa fé.

Como acolher a luz resplandecente deste amor, para encher-nos de sua força doadora de vida? A ele se opõe o estranho fenômeno segundo o qual os homens preferem mais as trevas à luz (cf. 3,19).

Há razões para fugir desta luz e para buscar a sombra das trevas, razões que residem no comportamento humano. Quem faz o mal evita, instintivamente, a luz. Quem faz o bem enfrenta a luz e não a evita, porque não tem nada que esconder.

Nosso agir concreto tem uma grande relação com nossa fé:

  • O “bem”: que fazemos segundo Deus (3,21), escutando-o, buscando sinceramente pôr em prática sua vontade;
  • O “mal” quando não agimos segundo estes critérios, quando não buscamos a Deus, mas que perseguimos em egoística autoafirmação nossos planos e nossos desejos, ainda contra a vontade de Deus (3,20).

Quem busca só a si mesmo, se fecha a Deus e corre o perigo de permanecer fechado ante a luminosa revelação de seu amor. Se não levamos a sério a vontade de Deus, como vamos crer em seu amor? 

Este amor o afasta de seu próprio egoísmo e lhe faria sentir ainda mais sua própria dependência de Deus. Quem busca sempre a comunhão de Deus através das obras, está aberto à luz de seu amor.

Portanto, Jesus, o Crucificado, não é um pensamento, ou uma teoria, uma hipótese, ou uma fantasia, mas uma autêntica realidade histórica. Tão real é o amor de Deus!

Para cultivar a semente da Palavra no coração:

  1. Faço idéia do amor de Deus sem medida? Para mim esse amor é decisivo?

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  • Dou-me conta de que na mensagem de Jesus tudo se fundamenta em Deus e na fé?

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  • Quem pode declarar-se sustentado pelo amor de Deus e por sua vontade de salvação?

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QUINTA-FEIRA

João 3,31-36

DEIXAR-NOS ILUMINAR PELA PÁSCOA (IV): O ESPÍRITO DADO SEM MEDIDA

 “O que crer no Filho tem vida eterna”

O texto de hoje fala da validade e autoridade que tem o ensinamento de Jesus a Nicodemos. Trata-se, pois, de um convite à obediência às Palavras de Jesus: Crer no Filho para que tenha vida eterna (3,36).

A validade e autoridade de Jesus para falar de Deus se fundamentam em três realidades:

  1. Vem do céu: O que vem do alto está acima de todos” (v.31).

Jesus procede da comunhão eterna no seio do Pai e veio ao mundo para “contar-nos” o que tem vivido nessa amorosa intimidade (1,18). Por esta razão é um testemunho direto do que ensina.

Ele não é como os demais mestres da terra que transmitem o que, por sua vez, receberam por meios escolares. Por vir do céu, Jesus “dá testemunho do que tem visto e ouvido” (v.32).

  • Deus o tem autenticado com a unção do Espírito Santo:

O que aceita seu testemunho certifica que Deus é veraz; porque aquele a quem Deus enviou fala as palavras de Deus, porque dá o Espírito sem medida” (v.33-34; 1,33)

  • Deus colocou em seu Filho esta responsabilidade: O Pai ama ao Filho e colocou tudo em sua mão” (3,35).

Por trás do amor do Pai ao Filho está, também, o amor à humanidade. Portanto, é preciso aceitar a mensagem-testemunho de Jesus. Não há desculpas para não fazê-lo.

O ensinamento de Jesus tem validade, uma validade que se constata por demais em sua eficácia: “O que aceita seu testemunho certifica que Deus é veraz” (3,33).

Jesus é a “verdade” encarnada de Deus (termo que em João traduz o hebreu “emet”, que descreve a fidelidade de Deus com seu povo).

A responsabilidade do homem é grande: aceitar Jesus é entrar, em seguida, nas relações com Deus que lhe levam à participação plena de sua vida. Não fazer isto é se autojulgar e se excluir da vida.

Aprofundemos com os nossos pais na fé:

Santo Ireneu de Lyon (c. 130-c. 208), bispo, teólogo e mártir

O Filho revela o Pai

Ninguém jamais viu a Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer” 

Desde o começo, é o Filho quem revela o Pai, porque Ele está junto do Pai desde o começo.

No tempo fixado, foi Ele quem deu a conhecer aos homens, para proveito destes, as visões proféticas, a diversidade das graças, os ministérios e a glorificação do Pai, tudo como uma melodia bem composta e harmoniosa.

Com efeito, onde há composição, há melodia; onde há melodia, há tempo fixado; onde há tempo fixado, há proveito. Foi por isso que, para proveito dos homens, o Verbo Se fez dispensador da graça do Pai, segundo os Seus desígnios.

Ele mostra Deus aos homens e apresenta o homem a Deus, preservando a invisibilidade do Pai, com receio de que os homens venham a desprezar a Deus e para que eles tenham sempre progressos a fazer, ao mesmo tempo que torna Deus visível aos homens de numerosas formas, com receio de que, totalmente privados de Deus, eles acabem por se esquecer da Sua existência.

Porque a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus.

Se a revelação de Deus pela criação já dá a vida a todos os seres que vivem na terra, quanto mais a manifestação do Pai pelo Verbo dá a vida aos que vêem a Deus!

Para cultivar a semente da Palavra no coração:

  1. Jesus é revelador. De que?

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  • Em que se baseia a autoridade de Jesus?

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  • A que faz referência à imensa generosidade de Jesus, que “dá o Espírito sem medida”?

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SEXTA-FEIRA

João 6,1-15

PÃO DE VIDA (I): O SINAL DO PÃO EM ABUNDANCIA.

“Encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães de cevada que sobraram”

Jesus ressuscitado nos comunica sua vida no Batismo, porém, também na Eucaristia. É por esta razão que agora começamos a ler o capítulo 6 de João.

O capítulo 6 do Evangelho de João tem um desenvolvimento linear que vale observar desde já:

  • Começa com o sinal da multiplicação dos pães e dos peixes (6,1-15);
  • Narra, a seguir, a travessia noturna do lago pelos discípulos em meio da tempestade (6,16-21);
  • Prolonga-se logo no discurso do “Pão da Vida” que clarifica o sentido do sinal (6,22-59);
  • E a este se responde com a decisão de “deixar” (6,66) ou de “seguir” a Jesus (6,68-69).

Entre o começo e o final deste capítulo, notamos um forte contraste. No começo o número dos seguidores de Jesus alcança seu número mais alto (5.000 homens; ver 6,10).

Depois do discurso do Pão Vivo descido do Céu, ficam somente doze como seguidores de Jesus (6,67). Com isto aprendemos que o critério que marca a ação de Jesus não é o proselitismo, mas, sobretudo e, em primeiro lugar, a missão que Deus Pai lhe confiou, sem fazer concessões às expectativas populares.

É assim como o relato da multiplicação dos pães, o relato introdutório da catequese sobre o “Pão Vivo descido do Céu” é uma catequese que pedirá, ao final, uma clara opção por Jesus. É, portanto, a porta de entrada de um itinerário de purificação-maduração da fé.

Para apropriar-nos melhor de seu rico conteúdo, vamos observar o desenvolvimento da ação no texto:

  • A introdução (vv.1-4) Aparecem os personagens: Jesus, sentado na montanha; os discípulos que o rodeiam; e uma grande multidão que se aproxima deles. Acrescenta-se, além do mais, que “estava próxima a Páscoa”. O fato de que a multiplicação dos pães se situa neste contexto festivo de vida e liberdade, assinala a rota pela qual temos que compreender o sinal que vai realizar-se: o dom pascal da vida de Jesus Cristo na Cruz.
  • O diálogo de Jesus com os discípulos (vv.5-9) À pergunta de Jesus sobre “onde” comprar pães para alimentar à multidão, dão duas respostas. Primeiro a de Filipe, que vê a intenção de Jesus como absurda. Logo a de André que, apesar de confessar a incapacidade, apresenta a Jesus um menino portador de cinco pães e dois peixes. Ao final das contas os pães são dados.
  • Jesus serve a mesa (vv.10-11) O pouco que se coloca nas mãos de Jesus se multiplica. Notemos três ações chaves de Jesus: (manda que o povo sente-se (Jesus organiza, pois a ideia de fundo é formar comunidade); ora ao Pai; e reparte os pães e os peixes, isto é, serve a mesa.
  • Jesus manda recolher as sobras (vv.12-13) O núcleo do relato está aqui. O povo ficou satisfeito. A “abundância” de pão é expressão da generosidade de Deus e da plenitude para a qual Ele quer conduzir a cada ser humano. Há pão para os presentes e também para os ausentes, há abundância, mas não há exclusão nem desperdício (“que nada se perca”).
  • As Reações da multidão e de Jesus (vv.14-15) O milagre supera todas as expectativas. Faz-se um primeiro reconhecimento do significado do acontecimento proclamando Jesus como “o profeta que devia vir ao mundo” (Dt 18,15-19), como Moisés (que dá pão-maná no deserto).

Porém, Jesus se dá conta que o querem fazer rei à força e foge. Jesus não se deixa impor nenhuma etiqueta que o prenda às pretensões populares, sacrificando o sentido de sua missão.

O povo não entendeu plenamente o sinal. O relato termina com a fuga de Jesus. No centro deste acontecimento o evangelista insiste em colocar a pessoa de Jesus.

Com a multiplicação de pães e peixes demonstra que tudo começa n’Ele e provém d’Ele, que tem capacidade para dar pão-vida a todos, e em abundância:

  • Tudo começa em Jesus

Ele atua por si mesmo, sem necessidade de que lhe dêem ordens, o realiza segundo o encargo que lhe deu seu Pai. Notemos como cada passo que se dá no relato está previsto e decidido por Jesus. Todo é uma expressão de sua missão.

  • Tudo provém de Jesus

Mesmo que os discípulos tivessem comprado pão, não seria suficiente para todos. Os cinco pães e os dois peixes do jovem, também não são suficientes. O pão abundante, em última instância, provém de Jesus.

  • Onde está Jesus, ai há abundância

A capacidade de ajudar, própria de Jesus, não está limitada a algumas pessoas ou a pequenos grupos. Não há limites para seu poder. Seu poder para dar vida o faz sem exclusões: há suficiente para todos.

Para cultivar a semente da Palavra no coração:

  1. Por que Jesus multiplica os pães e os peixes?

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Que quer ensinar com isso?

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  • Como vivemos hoje na comunidade, família, paróquia, pastoral, o desafio que Jesus pôs a Filipe?

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Também nós hoje podemos multiplicar pães?

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  • Como entender o gesto do “jovem” que oferece seus pães e peixes?

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Por que seu gesto é um sinal pascal?

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Que diz este gesto à sociedade neoliberal, competitiva e marginalizadora?

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Desde onde se constrói uma comunidade fraterna e solidária?

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SÁBADO

João 14,6-14

UM DESEJO IMEDIATISTA:

“O que me viu, viu ao Pai”


A celebração do apóstolo Felipe, nos leva a contemplar no Evangelho um dos momentos mais sublimes de sua vida: o diálogo com Jesus no qual pede ao Mestre que lhe mostre o rosto de Deus Pai.

  1. Uma súplica intensa: Ver o rosto do “Pai” 

“Mostra-nos o Pai e nos basta!”, disse o discípulo Felipe a Jesus, justo no discurso de adeus (14,8).  É como dizer: “já está bom de sinais, de mistérios, faze-nos logo a tua revelação”. Aquele Pai que Felipe deseja conhecer com todo seu ser, é o máximo da felicidade, da proteção, da ternura, do cumprimento. Isso tem, ele, captado na maneira como Jesus se refere a seu Pai: o chama Abbá, na oração, com um grande sentimento de intimidade e de ternura.

Porém, infelizmente, muitos filhos – adultos – oram “Mostra-nos o Pai”, porém tratando de passar por alto sobre qualquer mediação. São filhos que carregam fortes desilusões com seus pais e suas mães terrenas. Muitos, inclusive, arrastam grandes feridas de passado no seio da família: marcas dolorosas que geraram inconsistências e sérios problemas em suas vivencias afetivas já na idade adulta.

E, por isso, algumas pessoas, inclusive, têm dificuldades para recitar o “Pai Nosso”. O termo “Pai” lhes é amargo. A propósito, não esqueçamos que a figura do Pai na Bíblia, que é o gerador de vida por excelência, contém tanto o aspecto materno como paterno. 

 Segundo a Bíblia, Deus “Pai” não é uma projeção das paternidades terrenas. A paternidade de Deus é uma revelação que vem do alto e que purifica as más experiências terrenas.

Há uma tentação na vida espiritual: passar por alto sobre os sinais incertos e pouco decifráveis da carta que Deus Pai nos dirige através de nossos próprios pais; teríamos gostado mais que nos tivesse chegado uma mensagem completa, perfeita, revelação total da paternidade divina.

  • A resposta de Jesus:

Que responde Jesus frente a este ponto? Como responde frente ao desejo profundo e legítimo de seus discípulos de ver de cara a esse Pai de quem Jesus fala tanto e a quem ora com tanto amor? 

Jesus lhes responde com uma ponta de tristeza: “Tanto tempo que estou convosco e não me conheces Felipe? Quem me vê, vê o Pai. Como dizes tu: ‘Mostra-nos o Pai?” (14,9). É preciso deixar-se surpreender: ver Jesus significa ver o Pai. É claro no evangelho de João que não é tanto um ver físico, mas perceber o mistério da pessoa de ‘Jesus que nos mostra o Pai’.

Entretanto, Jesus lhe diz ainda mais. Situa bem o discípulo, para que não se perca em abstrações:     “O que crê em mim, fará também as obras que Eu faço, e fará maiores ainda, porque Eu vou ao Pai” (14,12).Jesus acabara de dizer: “Eu estou no Pai e o Pai está em mim” (14,11). E a prova eram as obras: “O Pai que permanece em mim é o que realiza as obras” (14,10b).

O mesmo esquema vale também para o discípulo: quem vê as obras dum discípulo de Jesus vê Jesus que mostra o Pai no dia a dia de qualquer um de nós. Tudo isto é possível graças a uma ausência: ao fato de que Jesus já esteja habitando junto do Pai, não é, senão, outro modo de sua presença. 

Uma presença que será captada aceitando seu mistério através dos sinais. Assim, nós cristãos, temos uma responsabilidade seria que é a de mostrar uns aos outros o rosto de Deus Pai através de nosso “fazer”, através das obras que realizamos todos os dias.

  • Palavras que dá uma nova visão à vida de família:

O desejo de ver o Pai, que manifestou Felipe, nós podemos realizá-lo através de nossos pais terrenos: é preciso saber reconhecê-lo através deles, não importa que tenha alguma ou outra sombra que ainda não tenhamos compreendido na historia de nossas relações familiares. 

É importante que deixemos que nossos pais seja sinal da paternidade de Deus, para qual há de vê-los por cima de nossas expectativas e deixando de lado nossos juízos. Antes de julgar dizendo, talvez, que não fomos suficiente amados como filhos, que não recebemos o que merecíamos, o que deve ser feito é uma aproximação aos pais, com um respeito infinito, e valorizar mais seus esforços.

Para entrar nesse âmbito, primeiro tem que renunciar à agressividade e as reclamações.  Então se verá que através deles tem se manifestado o Pai. É como se repetissem as palavras de Jesus: “Quem me vê, vê o Pai”.  Veremos os brilhos, não sempre evidentes, do rosto do Pai neles.

Cultivemos a semente da palavra no profundo do coração 

  1. Que provoca em mim a oração de Felipe: “Senhor, mostra-nos o Pai e nos basta”?

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  • A revisão das relações com Jesus –no âmbito da última ceia- que outras relações fundamentais de minha historia pessoal me pede também que examine?

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  • Como se é “Pai” e “Mãe” na escola de Jesus?

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Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

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