Estudo Bíblico na 30ª Semana Comum ano A 2023
ESTUDO BÍBLICO NA 30ª SEMANA COMUM ANO A 2023
Comunidade Paz e Bem
SEGUNDA-FEIRA
Lucas 13,10-17
A MISERICORDIA DE JESUS COM AS PESSOAS COM DEFEITOS FÍSICOS PERMANENTES
“Havia uma mulher à qual um espírito a mantinha enferma há dezoito anos”
Lucas, o evangelista da misericórdia, segue nos conduzindo pela mão e nos coloca hoje ante a esplendida página da “cura da mulher encurvada”. Que é próprio desta página do evangelho de Lucas?
Há pessoas que estão fortemente em desvantagem, pessoas às quais se dá pouca atenção e que são abandonadas cruelmente a seu destino. Enquanto ensina na sinagoga, em um sábado, Jesus é o único que se fixa naquela senhora à qual todos já estavam habituados a ver com sua deficiência física e é o único que expressa seu interesse por seu bem-estar.
O relato, depois de uma introdução (v.10-11), expõe o milagre (v.12-13) e logo as reações (v.14-17).
Vamos a deter-nos hoje nas primeiras duas partes.
A deficiência da senhora: (v.11). “Havia uma mulher à qual um espírito a tinha enferma… ”
O que a maior parte das pessoas considera normal e que dificilmente chega a agradecer, foi negado a esta mulher: o caminhar erguida. Onde quer que vá, ela leva consigo seu sofrimento. Não pode libertar-se, deve resignar-se. Com estas características, esta mulher representa a multidão de pessoas que tem algum defeito físico permanente.
A uma pessoa com um defeito físico são negadas muitas vantagens que gozam os bons. Experimentam discriminação de diverso tipo: nem sempre podem casar-se, não são acolhidas como membros com pleno direito na comunidade, são vistas como diminuídas.
E a este dano social se agrega o peso psicológico; elas se perguntam: Por que aconteceu comigo? Por que tenho que carregar este mal por toda a vida? E mais, enquanto os demais dão graças a Deus por estar bem, por não ter defeitos físicos, que pode dizer a Deus esta pessoa ao lado de outros na Igreja?
A misericórdia de Jesus: vv.12-13ª “Vendo-a, Jesus a chamou e lhe disse…”
Seguindo o fio do texto vejamos o comportamento de Jesus: 1) Jesus a “vê” (v.12a); 2) Jesus “atua” espontaneamente, não se faz rogar, entra em contacto chamando-a (v.12b); e 3) Jesus a “liberta” (v.12c) de sua enfermidade. O faz com a Palavra e com a imposição das mãos.
Jesus age não somente com a palavra (“estava ensinando na sinagoga”, v.10), mas também com a ação. E suas ações são libertadoras, não somente naquelas grandes situações, na qual todos estão de acordo que as coisas não andam bem, mas, também, nos pequenos detalhes, dos quais a maioria não se previne, mas unicamente quem o sofre.
À mulher encurvada, que levava 18 anos nessa posição mais baixa que os demais, que devia olhar sempre de baixo para cima e de relance, a ela Jesus cura inserindo-a completamente na vida normal.
O louvor festivo da mulher: v.13b “E no mesmo instante se endireitou, e glorificava a Deus”
Erguida, a senhora começa a louvar a Deus. Com uma festiva ação de graças e glorificação, ela proclama que nela agiu a mão de Deus. Que maneira tão bela de acolher a cura! O sábado era um dia de louvor pelas ações libertadoras de Deus com seu povo, e para isto se reuniam na sinagoga.
A mulher curada agora pode participar completamente no culto sinagogal e com motivos próprios: foi libertada de sua escravidão (“um espírito a tinha submetido”, v.11).Há uma frase de santo Agostinho que diz que uma pessoa “reta” é somente aquela que dirige o olhar para Deus e se orienta segundo sua vontade.
Quem se orienta para o próprio egoísmo, está fechado sobre si mesmo e é uma pessoa encurvada. Provavelmente esta mulher já devia ser “reta” na presença de Deus, porém, por meio da ajuda que recebeu de Jesus, agora o será mais (sugiro conectar com a parábola sobre a mulher nos vv.20-21).
Enfim, estamos diante de um relato que merece ser lido muitas vezes. Jesus fez com prontidão e benevolência o que nenhum outro poderia ter feito por uma mulher duplamente discriminada. Claro que podemos continuar as atitudes e ação de Jesus, “endireitar” os que estão curvados e tira-los de seu sofrimento, se permitimos que eles encontrem em nós uma benevolência sincera e cordial como a de Jesus e se lhes abrimos todos os espaços para inseri-los do melhor modo possível na vida comum.
Para cultivar a semente da Palavra de Deus na vida:
- Que passos dá Jesus na cura da mulher encurvada?
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- Como aparece o problema do “mal” neste relato?
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- Que nos sugere esta passagem para nosso exercício cotidiano da misericórdia?
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TERÇA-FEIRA
Lucas 13,18-21
AS FALSAS CONCEPÇÕES DO REINO DE DEUS “A que é semelhante o Reino de Deus?”
O evangelho de ontem terminou com esta frase: “E quando (Jesus) dizia estas coisas, seus adversários ficavam confundidos” (13,17). Por que ficavam confundidos? Porque o que Jesus diz e faz não encaixa em sua idéia de Reino de Deus.
No mundo de Israel, no tempo de Jesus, um dos obstáculos para a conversão é a falsa concepção do Reino de Deus. Quem não queria crer em Jesus se escandalizava de sua mensagem e de suas obras – segundo eles – pouco grandiosas.
Eles esperam um Rei messiânico que viesse com todo o aparato de uma potencia política, com um sistema e um programa de governo similar ao dos que já se conhecem. Para revelar seu modo de entender o Reino e, assim, seu messianismo, Jesus conta duas parábolas: a do grão de mostarda (13,18-19); e a do fermento (13,20-21).
A primeira mostra a maneira de atuar de um varão (um agricultor) e a segunda a de uma mulher (uma dona de casa); poderia pensar que se está tratando de apresentar dois pontos de vista sobre o Reino de Deus: o do varão e o da mulher. 2
Ambas apontam para um mesmo significado: a um começo que parece bastante modesto se lhe contrapõe uma conclusão grandiosa. O Reino de Deus segue a dinâmica deste contraste (similar a da parábola do semeador: 8,4-11).
A simbologia da parábola também nos permite ver um duplo movimento: há um crescimento externo (como o da semente de mostarda) e há um crescimento interno (como o do fermento). O Reino de Deus se move nestas duas direções que caracterizam a evangelização da Igreja. Com este ensinamento Jesus quer dissipar os equívocos de seus adversários que criticam sua maneira de agir porque não corresponde á idéia que tem de Reino de Deus.
Em conclusão: aos começos humildes do anuncio de Jesus lhe segue o Reino de Deus, o qual age no escondido, porém cresce de maneira incontrolável, até seu cumprimento definitivo no tempo final.
Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração
A reflexão de hoje foi breve como o grão de mostarda, mas esperamos tenha efeito como o fermento. 1) Que idéia de Reino de Deus tem em mente os adversários de Jesus?
2) É interessante notar que as duas parábolas apresentam a um homem e a uma mulher, mas também que pertencem no mundo da agricultura e do lar: Por que os humildes aparecem representando seu compromisso com o Reino? Por que os mais entendidos, os adversários, não conseguem entender?
3) Que idéia de Reino tenho? Que implica o ensinamento de Jesus para minha compreensão da vida da Igreja e da missão no mundo de hoje?
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QUARTA-FEIRA
Lucas 13,22-30
O QUE SE EXIGE PARA ENTRAR NO REINO
“Senhor, são poucos os que se salvam?”
Jesus segue a viaje de subida para Jerusalém sem por isso deter a missão: “Atravessava cidades e povos ensinando, enquanto caminhava para Jerusalém” (13,22). Parte de sua missão não é somente pregar, mas, também, escutar e responder perguntas das pessoas, como efetivamente acontece na passagem de hoje.
Aparece a pergunta de uma pessoa, anônima que, com sua pergunta, deixa ver que:
- Conhece o texto do quarto livro de Esdras 8,1-3 (escrito na segunda metade do século primeiro depois de Cristo) que disse: “Somente poucas pessoas serão salvas”,
- Conhece o pensamento dos escribas: “Israel inteiro terá parte no mundo futuro”, somente alguns pecadores particularmente culpáveis serão excluídos (pensamento recolhido tardamente na Mishná, Sanhedrín 10,1).
A contradição das duas correntes de pensamentos parece estar atrás da pergunta traçada agora: “Senhor, são poucos os que se salvam?” (13,23).
À pergunta Jesus responde com uma exortação.
A uma colocação de tipo quantitativo (o “poucos” implica quantidade) Jesus responde com outro de tipo qualitativo (“quem” o logram): “Lutai por entrar pela porta estreita…” (13,24). Da resposta de Jesus aprendemos que é urgente fazer tudo o que possamos para ser admitidos no Reino, antes que seja tarde demais; e a conversão verdadeira é a condição indispensável para que sejamos admitidos, nada poderá substituir esta condição.
No evangelho de Lucas a “porta estreita” não é a entrada a um caminho (como en Mt 7,13-14) mas um acesso direto ao lugar de salvação. Ali se entra com “agonia” (como diz literalmente em grego Lc 13,24), quer dizer, com um esforço moral.
Logo, com uma parábola, Jesus indica o que vai a acontecer quando termine o tempo final, no qual já não haverá “porta estreita”, mas “porta fechada” (13,25-29). Fora do lugar da salvação ficam todos aqueles que conheceram a missão de Jesus, porém não aceitaram seus ensinamentos. Estes lhe fazem um protesto ao dono da casa para que lhes abra, porém a resposta repetida duas vezes é “Não sei de onde sois” (ou “não sei de que parte estão”).
Não importa que tenham sido missionários o que tenham realizado curas, estes ficarão fora porque ao não tomar em serio a Palavra de Jesus, tampouco puseram em prática a vontade de Deus que era a de conformar sua vida com a de Jesus. Mas, pelo contrário, se converteram em “agentes de injustiça” (=obreiros de iniquidade).
Os que caminharam como discípulos e evangelizadores, porém não classificaram para meta, se vêem ainda mais humilhados quando são testemunhos do que sucede dentro (13,28-29). Na comunhão definitiva com Deus (“mesa do Reino”) se encontram todos seus predecessores israelitas e também os pagãos (os que vêem dos quatro pontos cardiais), enquanto que eles, os que tiveram a melhor chance com Jesus, ficam fora.
A moral da parábola ressoa também como um último chamado: “Há últimos que serão primeiros, e há primeiros que serão últimos” (13,30).
Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração
- Segue-se repetindo com outros termos a pergunta inicial do evangelho de hoje?
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Que movimentos promovem a ideia de que só há unos poucos eleitos para a salvação?
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- Que implicam as imagens simbólicas da “porta estreita” e a “porta aberta”?
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- Que se exige de maneira especial às pessoas que se comprometeram com Jesus?
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Coroa-se a meta pelo simples fato de haver trabalhado por Jesus? Que mais se requer?
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Quinta-feira
JOÃO 14,1-6 FIÉIS DEFUNTOS
A comemoração de Todos os Fiéis Defuntos coloca toda a Igreja diante do mistério da morte. É um dia dominado pela saudade afetuosa das pessoas falecidas que nós amávamos quando vivas. No dia 02 de novembro a Igreja convida-nos, com maior insistência, a rezar e a oferecer sufrágios pelos fiéis defuntos do Purgatório. Com esses nossos irmãos, que “ também, participaram da fragilidade própria de todo o ser humano, sentimos o dever- que é ao mesmo tempo uma necessidade do coração – de oferecer-lhes a ajuda afetuosa da nossa oração, a fim de que qualquer eventual resíduo de debilidade humana, que ainda possa adiar o seu encontro feliz com Deus, seja definitivamente apagado” ( S. João Paulo II, no Cemitério em Madri, 02/11/1982).
Nós cristãos, devemos crer que nossos mortos vivem num sentido bem verdadeiro e pleno: vivem “em Deus”.
“As almas dos justos estão na mão de Deus , diz a Escritura, nenhum tormento os tocará” ( Sb 3,1). A coisa mais útil que podemos fazer enquanto meditamos a Palavra de Deus não é, portanto, falar dos mortos, mas falar da morte. A morte, ao invés, nos toca de perto a todos. Diante dela somos radicalmente iguais, todos indefesos, como crianças que na escuridão da noite, sozinhas na grande cama dos pais, medrosas se apertam entre si.
O que perpassa todos os textos bíblicos da comemoração dos Fiéis Defuntos é a esperança da vida que nasce da morte, a partir do mistério pascal de Cristo Jesus. Em Cristo Jesus abre-se uma nova perspectiva, onde a morte já não é mais o fim fatídico e desesperador, mas a passagem para uma realidade nova de plenitude de vida em Deus.
A fé no Cristo resuscitado transforma a vida do cristão. A morte já não é mais o fim de todas as coisas. Ela é, antes, uma porta, uma passagem para uma realidade nova. O Cristo vivo garante a vida para sempre ( cf. Jó 19,1.23-27; Rm 5, 5-11; Jo 6, 37-40). A morte será eliminada definitivamente em Cristo Jesus ( cf. Is 25, 6-9; Rm 8, 14-23; Mt 25, 31-46). A Igreja vive a esperança da glória em Cristo Jesus ( cf. Sb 3, 1-9; Ap 21, 1-7; Mt 5, 1-12).
Ao perpassar os textos bíblicos vemos que a morte do Cristo transforma-se num despertar para a vida eterna feliz em Deus.
Para quem acreditou em Deus e O serviu, a morte não é um salto no vazio, mas para os braços de Deus: é o encontro pessoal com Ele, para habitar com Ele no amor e na alegria da sua amizade. O cristão autêntico não teme, por isso, a morte; pelo contrário: considerando que, enquanto vivemos na terra “vivemos longe do Senhor” , repete São Paulo: “ desejamos sair deste corpo para habitar com o Senhor” (2Cor 5, 6.8). Não se trata de exaltar a morte, mas considerá-la como realmente é no projeto de Deus: o nascimento para a vida eterna.
Esta visão serena e otimista da morte fundamenta-se na fé em Cristo e na nossa pertença a Ele.
Todos os homens foram entregues a Cristo e Ele os redimiu com o preço do Seu sangue. Se aceitarem pertencer-Lhe e viverem na fé e na prática das boas obras, em conformidade com o Evangelho, podem ter a certeza de serem contados entre os “Seus” e, como tais, ninguém os poderá arrancar da Sua mão, nem sequer a morte. “Quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” ( Rm 14,8). Somos do Senhor porque nos redimiu e incorporou em Si, porque vivemos n’Ele e para Ele pela graça e pelo amor; se somos Seus na vida, continuaremos a sê-lo na morte. “ Ele transformará o nosso corpo mortal à imagem de seu corpo glorioso” ( Cânon III).
Sem a ressurreição, a mesma fé seria vã ( 1Cor 15,14) e nós não poderíamos fazer outra coisa, diante da morte, do que “ afligir-se como os outros que não tem esperança” ( 1Ts 4,3). Na leitura bíblica ( Jó 19,25-27), ouvimos a voz de Jó que dizia: “ Eu sei que o meu redentor está vivo e que, por último, se levantará sobre o pó; e depois que tiverem destruído esta minha pele, na minha carne verei a Deus. Aquele que eu vir será para mim, aquele que os meus olhos contemplarem não será um estranho”. Depois de Cristo algo mudou para melhor: nós dizemos: Com minha carne- e não sem ela- verei o meu Deus.
Desde sempre a Igreja rezou pelos mortos ( Cf.2 Mac 12, 43-44).
Mons. José Maria Pereira
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SEXTA-FEIRA
Lucas 14,1-6
Misericórdia: estar nas mãos do criador e senhor da vida
Segunda-feira passada lemos a cura de uma mulher, hoje a de um homem. O “mal” que sofria a mulher era um deficiência física permanente, o “mal” que sofre o homem desta passagem é uma das mais terríveis enfermidades conhecidas no mundo antigo: a “hidropsia”. As duas curas foram no sábado e em meio da espreita dos adversários de Jesus. Porém, ambos são curados e, no passar libertador de Jesus por suas vidas, aprendemos novas lições sobre a misericórdia.
- A enfermidade: (v.2) Havia ali, diante dele, um homem hidrópico”
Para um judeu a hidropesia é um duplo mal pior que a lepra. É uma inchação do ventre compromete gradualmente todos os órgãos internos até chegar ao coração e levar à morte repentina. É muito dolorosa, causa desespero e, sobretudo, num mundo em que a medicina ainda não conseguia descobrir as causas nem oferecer os remédios, submetia o enfermo a uma continua angustia na espera da morte.
Ademais, do ponto de vista religioso, esta enfermidade era vista como conseqüência de uma maldição. Era o pior castigo que se podia desejar a um inimigo: “Se vestiu de maldição como de um manto: que penetre em seu seio como água!” (Sl 109,18ª). É também a enfermidade que se atribui às pecadoras adúlteras, conseqüência de seu pecado (Nm 5,21-22; Pv 5,15-23). O hidrópico, então, era uma pessoa repudiada e amaldiçoada socialmente. Existiam alguns meios para atenuar a dor do enfermo, porém estes estavam proibidos em dia de sábado. Como seria o sábado para estes enfermos!
- A cura: (v.3-4) “Então lhe tomou, lhe curou e lhe despediu“.
A obra de Jesus frente ao enfermo se realiza à sombra da suspeita: “estavam observando-o”. Entende-se que era para ver se quebrava as normas sagradas do sábado, se sua misericórdia ia além da Lei de Deus. O sábado hebreu celebra o “descanso de Deus” (Gn 2,2) e medita, amplamente, sobre a plenitude que Deus concedeu a sua criação.
Tudo o que se faz em sábado deve ser à imagem de Deus. Sobre este pressuposto Jesus confronta seus adversários: “É lícito (segundo o querer de Deus) curar no sábado ou não?” (v.3). O silêncio do auditório manifesta que não querem comprometer-se com uma resposta que pode vir contra (v.4ª). Jesus realiza três ações:
(a) o “tomou, que indica que estendeu a mão para ajudá-lo;
(b) o “curou”, obra criadoramente nele; e
(c) o “despediu”, que na realidade é “desatar” (dar a liberdade).
O homem fica libertado por Jesus em todos os sentidos; o “desatar” evoca a ação pascal de Deus com seu povo, libertação que é, precisamente, o centro da celebração do sábado, plenitude da criação. Jesus trata, ao final, este homem, não como inválido, mas como homem capaz, autônomo e criativo, capaz de conduzir sua vida em sintonia com Deus e assumir uma responsabilidade missionária frente aos demais.
3. O sentido: (v.5-6) “Se algum de vós tem um filho ou um boi que cai num poço, não o tira logo, mesmo em dia de sábado?”
Jesus mesmo responde a pergunta. Seu raciocínio é tão lógico que seus adversários “não puderam replicar ”(v.6). Jesus evoca duas imagens fortes de auxilio que não trás esperança: a de um pai desesperado; e a do dono que corre por o boi que ara seu terreno.
Em ambos os casos Jesus se refere à situação dramática do “cair em um poço”. Nas palavras de Jesus fica claro que se não corre para um animal que lhe dá o sustento, e assim salva o bem-estar econômico da família, quanto mais o fará por um filho. O pai não só dá a vida ao filho, mas que o protege e lhe ajuda a desenvolvê-la. Da mesmo modo é Deus, que não só criou o homem, mas que vela por sua vida.
A misericórdia de Jesus é a prontidão de Deus que não suporta o sofrimento de seus filhos e que vem a estender-lhe a mão para “tirá-lo” (êxodo) de sua situação. Porém, a misericórdia de Jesus deve ser compartilhada por aqueles que o rodeiam.
O Deus da criação e da páscoa pede uma comunidade que saiba viver, a fundo, o “sábado” criador e pascal. Nas mãos daquela comunidade reunida em um banquete festivo havia uma grande tarefa. O silencio dos fariseus foi bem significativo.
Para cultivar a semente da Palavra na vida:
- Em que consiste a misericórdia e qual é o seu fundo bíblico, segundo esta passagem?
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- Que relação havia entre a cena festiva no sábado e o compromisso dos comensais com o sofredor?
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- Qual o real sentido da celebração do sábado no mundo hebreu?
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Qual o real sentido da celebração dominical no mundo cristão?
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Que se recebe de Deus e que se oferece aos demais em nome do Deus criador e libertador?
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DOMINGO DIA DE TODOS OS SANTOS
Mateus 5,1-12a
PARTILHAR A SANTIDADE DE DEUS
“Bem-aventurados os de coração puro porque verão a Deus”
Começamos este mês de novembro com o olhar posto na meta. O livro do Apocalipse nos abre o horizonte e apresenta um belíssimo panorama: a imensa multidão dos santos que gozam vitoriosos no louvor do céu (ver Ap 7,9). Dentro deste formoso quadro contemplamos surpresos a fascinante santidade da Igreja, que por meio do seguimento de Jesus, já tem coroado a meta.
Nessa multidão descobrimos santos com todos os rostos: mães e pais de família; jovens, crianças, adultos e anciãos; sacerdotes, bispos e religiosas. Muitos deles bem conhecidos por seu brilhante testemunho de entrega ao Senhor de múltiplas formas, especialmente na oração e na caridade; por isso agora seu bom exemplo nos anima para seguir o mesmo caminho.
Mas a maioria deles, viveu ocultamente a radicalidade de sua fé, vencendo o mal com a força de bem, com gestos simples e cotidianos de amor, aceitando as provas da vida com o olhar fixo em Jesus. Santo Agostinho teve a ousadia de falar de outros santos, que são os “ocultos”, os “latentes”, ou melhor, os “santos escondidos”, aqueles que viveram além dos limites históricos e geográficos da Igreja. Todos eles oram por nós, participam em nossos sofrimentos, partilham nossas alegrias e nos esperam no céu.
E, hoje, não só olhamos os rostos desta multidão imensa, mas, também, nos deixamos guiar pelas leituras bíblicas do dia, descobrimos o segredo que habitou seus corações. A primeira carta de João nos ensina que o segredo da santidade não está no esforço humano, mas na iniciativa gratuita de amor com que Deus nos chama a ser seus Filhos. Em outras palavras, Deus nos quer tanto, que deseja que sejamos como Ele: “Olhai com que amor nos amou o Pai para nos chamar de Filhos de Deus, e, de fato, nós o somos!” (1 Jo 3,1).
Deus entra em nossa história imprimido em nosso ser a sua mesma santidade e fazendo, assim, de nossa vida uma benção para o mundo. Neste ponto se concentra o evangelho das bem-aventuranças (Mt 5,1-12), o qual nos coloca diante do rosto do santo que Deus quer que sejamos: seu Filho Jesus Cristo. A santidade é um dom, mas também és uma conquista de nossa parte. Se, de nossa parte, vivemos as oito bem-aventuranças, seremos filhos no Filho, ou seja, santos no Santo por excelência:
- Não seremos soberbos nem orgulhosos, mas reconheceremos, sem lamentação, nossa vulnerabilidade (“Bem-Aventurados os pobres de espírito”; 5,3).
- Não tentaremos nos impor aos outros, mas respeitaremos e reconheceremos cada homem como nosso irmão, com o mesmo valor nosso, e o amaremos como a nós mesmos (“Bem-Aventurados os mansos”; 5,4).
- Não dispersaremos no atual “vale de lágrimas”, mas encontraremos sentido no sofrimento, seguindo àquele que por este caminho chegou à ressurreição (“Bem-Aventurados os que choram”; 5,5).
- Não estaremos preocupados ansiosamente por nossa vida, mas, com uma grande confiança na paternidade de Deus, orientaremos nossa fome e toda nossa sede em realizar a vontade de Deus (“Bem-Aventurados os que tem fome e sede de justiça”; 5,6).
- Não exigiremos o pagamento de nossos devedores irresponsáveis, mas, baseados naquele que nos perdoou sem medida, exercitaremos a misericórdia e o perdão em todos os sentidos com aqueles que “nos devem” (“Bem-Aventurados os misericordiosos”; 5,7).
- Não olharemos para os outros com preconceitos, mas com um coração livre dos males e pecados que rotulamos, purificados pelo sangue do que deu sua vida por nós na Cruz (“Bem-Aventurados os limpos de coração”; 5,8).
- Não faremos nada que produza desunião, mas, ao invés, nos comprometeremos com a paz e a vida, de maneira que contribuamos para a construção de uma comunidade que seja a imagem do Deus Trindade (“Bem-Aventurados os pacificadores”; 5,9).
- Não nos acovardaremos ante a perseguição e a rejeição, mas permaneceremos fiéis à nossa opção por Jesus e seu caminho (“Bem-Aventurados os perseguidos por causa da justiça”; 5,10).
Viver a santidade neste mundo é também uma missão. Por isso notamos como as bem-aventuranças são atitudes que curam a humanidade e isso tem um valor ainda maior nestes momentos tão difíceis que vivemos na história. É assim que as bem-aventuranças…
- Mostram-nos que com a pobreza, a mansidão e a misericórdia, poderemos reverter os conflitos, reduzir a violência, curar as feridas que ela deixa, transformar o ódio em amor e em serviço.
- ensinam-nos que, se temos um coração puro, então poderemos fazer resplandecer a luz da esperança na noite escura do mundo.
- Impulsionam-nos a participar ativamente na transformação da nossa dramática realidade sendo construtores da paz com palavras e atos de bondade.
Então, a cruz será superada na ressurreição, sobre as lágrimas virá a consolação, a fome e a sede serão saciadas. O caminho desta transformação seguirá sendo sempre a cruz vivida no hoje da perseguição, da incompreensão e rejeição. Não nos esqueçamos: os santos sempre, assim como Jesus, foram profetas para seu contexto e, por isso também compreenderam, amaram e viveram a cruz.
Este é o desafio com o qual iniciamos os “ouvintes da Palavra” neste mês de novembro deste ano. Não aspiramos o pouco. Temos uma meta clara. Para ela, esperamos e lutamos profeticamente. A santidade é o “mais alto grau da vida cristã ordinária” (NMI, 31).
Cultivemos a semente da Palavra na profundidade do nosso coração.
- O que é ser “santo”? É possível ser santo hoje?
- Como a santidade é alcançada? Qual é o caminho traçado pelas bem-aventuranças?
- Eu estou disposto a fazer da busca da santidade a prioridade em minha vida? Que medidas concretas vou tomar para alcançá-la?
Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM