Estudo Bíblico na 31ª Semana Comum ano B 2021

ESTUDO BÍBLICO NA 31ª SEMANA COMUM ANO B 2021

Comunidade Católica Paz e Bem

SEGUNDA-FEIRA
Lucas 14,12-14

AS LIÇÕES DA MESA (I)

 “Não convides teus amigos, mas aos pobres e estropiados”

Como já viemos notando ao longo de nossa leitura do Evangelho de Lucas, Jesus sabia fazer de toda circunstância uma ocasião para transmitir um ensinamento. Estando Jesus em uma ceia na casa de um dos líderes dos fariseus, consegue tirar deste mundo dos banquetes, quatro lições importantes para a vida de seus discípulos.

A primeira lição a encontramos em Lucas 14,1-6, ali, através da cura de um dos comensais, um enfermo de hidropisia, que Jesus tem, justamente, bem à sua frente, ensina que a salvação é inadiável, não importa que seja um sábado.

A segunda lição, que se encontra na passagem seguinte, em Lucas 14,7-11, a propósito do cumprimento das regras de etiqueta sobre os postos reservados para as pessoas de alta dignidade, Jesus se dirige aos convidados para ensiná-los que se deve evitar a autopromoção e buscar mais atuar desde a humildade, quer dizer, que sejam os outros os que te promovam.

O ensinamento tem que ver, naturalmente, com a relação com Deus: o verdadeiro lugar do homem é o que ocupa diante de Deus e não o que se pode ganhar esforçando-se em sua própria promoção.

Hoje nos deteremos na terceira lição (Lc 14,12-14) que também parte de um detalhe que não se pode esquecer nas comidas importantes: fazer a lista dos convidados. Jesus agora se dirige ao anfitrião da comida, que como já se disse, é um fariseu.

Jesus faz um paralelo entre duas maneiras de selecionar os convidados, para assinalar aí qual deve ser o comportamento distintivo de um seguidor seu. Observemos com atenção o texto:

  • A primeira coluna indica o que “não” se deve fazer (“quando deres uma comida ou uma ceia, não tomes a iniciativa de convidar a…”, v.12), a segunda indica o comportamento desejável (“quando deres um banquete, toma a iniciativa de convidar a…”, vv.13ss);
  • Na primeira situação a lista compreende: os amigos, os irmãos, os parentes e os vizinhos ricos.  São aqueles que, muito provavelmente, também te oferecerão um banquete. Na segunda lista, a que propõe Jesus, os convidados são todas as pessoas que não têm como corresponder com outro convite: pobres e estropiados, coxos e cegos;
  • Neste paralelo se destaca o fato da recompensa ou pagamento de favor. No primeiro caso, a recompensa é imediata (na terra), e no segundo, esta aguarda o tempo da ressurreição (v.14).

Ao enfatizar a novidade do comportamento de não trazer à mesa somente os que estão em condições de devolver o convite, Jesus lança uma nova maneira de entender as relações humanas. Segundo esta, as relações humanas, habitualmente fundamentadas na reciprocidade, na troca de favores, se baseiam, ao contrário, em um amor unilateral, assim como é o amor de Deus por cada homem: Deus nos ama, apesar de que não queiramos ou não estejamos em condições de responder à altura de seu amor.

Assim se entende por que convidar a um pobre. Porém Jesus colocou na lista também uma pequena lista de enfermos: “estropiados, coxos e cegos”. Quando alguém ler 2 Sm 5,8 nota que os cegos e os enfermos não eram hóspedes agradáveis para Davi. Em Qumrán (ver a “Regra da Comunidade”), os essênios excluíam, também, os enfermos, os coxos e os cegos. Como foi a reação do anfitrião quando Jesus disse quem era que devia convidar à sua mesa?

É necessário vencer o exclusivismo, derrubando os muros e círculos fechados nas relações humanas. O coração deve expandir-se, para dar espaço a todos, especialmente aos desfavorecidos, aos abandonados, aos que sofrem, e acolher-lhes com amor, fazendo deles parte de nossa própria vida. Para isso é preciso vencer a repugnância e os medos dos prejuízos, como o fez Jesus.

Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Quando foi a última vez que organizei uma festa ou convidei alguém para comer?

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Com que critério eu seleciono meus convidados?

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  • Por que a Igreja (e eu junto com ela) opta preferencial e profeticamente pelos pobres?

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  • Os fariseus baseavam sua espiritualidade na lógica da recompensa. Isto é correto?

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Que devemos ter na relação com Deus e com os demais?

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Que relação tem o ensinamento de Jesus neste dia com a lição da Cruz?

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TERÇA FEIRA (Fiéis defuntos)

2 Novembro 2021

A Igreja, acolhendo uma tradição monástica que vem do século XI, dedica o dia 2 de Novembro à memória dos fiéis defuntos. Depois de ter celebrado a glória e a felicidade dos Santos, no dia 1 de Novembro, a Igreja dedica o dia 2 à oração de sufrágio pelos “irmãos que adormeceram na esperança da ressurreição”. Assim fica perfeita a comunhão de todos os crentes em Cristo.

Evangelho: João 6, 37-40

O centro desta perícopa é a vontade de Deus, para a qual está totalmente voltada a missão de Jesus (v. 38). Essa vontade é um desígnio de vida e de salvação oferecido a todos os homens, pela mediação de Cristo, para que nenhum se perda (v. 39). O desígnio de Deus manifesta, pois, a sua ilimitada gratuidade e, ao mesmo tempo, a sua caridade atenta e cuidadosa por cada um de nós. Para acolhê-la, é preciso o livre consentimento da fé: que acredita no Filho tem, desde já, a vida eterna, porque adere Àquele que é a ressurreição e a vida, o único que pode levar-nos para além do intransponível limite da morte.
Meditatio

O silêncio é a melhor atitude perante a morte. Introduzindo-nos no diálogo da eternidade e revelando-nos a linguagem do amor, põe-nos em comunhão profunda com esse mistério imperscrutável. Há um laço muito forte entre os que deixaram de viver no espaço e no tempo e aqueles que ainda vivem neles. É verdade que o desaparecimento físico dos nossos entes queridos nos causa grande sofrimento, devido à intransponível distância que se estabelece entre eles e nós. Mas, pela fé e pela oração, podemos experimentar uma íntima comunhão com eles. Quando parece que nos deixam, é o momento em que se instalam mais solidamente na nossa vida, permanecem presentes, fazem parte da nossa interioridade. Encontramo-los na pátria que já levamos no coração, lá onde habita a Santíssima Trindade. Escreveu o Pe. Dehon: “Vivo muito com os meus mortos: os meus pais, amigos, antigos diretores, antigos alunos. Uma centena dos meus religiosos já partiu para junto do Bom Deus, entre eles, homens que muito trabalharam e rezaram… Saúdo-os todas as manhãs e todas as noites, com os meus padroeiros celestes” (NQT XLIV, 139).
Paulo encoraja-nos a vivermos positivamente o mistério da morte, confrontando-nos com ela todos os dias, aceitando-a como lei de natureza e de graça, para sermos progressivamente despojados do que deve perecer até nos vermos milagrosamente transformados no que devemos ser. Deste modo, a “morte quotidiana” revela-se um nascimento: o lento declínio e o pôr-do-sol tornam-se aurora luminosa. Todos os sofrimentos, canseiras e tribulações da vida fazem parte desta “morte quotidiana” que nos levará à vida imortal. Havemos de viver fixando os olhos na bem-aventurada esperança, confiando na fidelidade do Senhor, que nos prometeu a eternidade. Vivendo assim, quando chegar ao termo desta vida, não veremos descer as trevas da noite, mas veremos erguer-se a aurora da eternidade, onde teremos a alegria de nos sentir uma só coisa com o Senhor. Depois de muitas tribulações, seremos completamente seus, e essa pertença será plena bem-aventurança na visão do seu rosto.
Para o cristão, o sofrimento é um tempo de “disponibilidade pura”, de “pura oblação” e, ao mesmo tempo, uma forma eminente de apostolado, em união a Cristo vítima, na comunhão dos santos, para salvação do mundo. Vivendo assim, prepara-se, assim, para o supremo ato de oblação, para o último apostolado, o da morte: configurados “a Cristo na morte” (Fil 3, 10) (Cf. Cst n. 69).Se a morte de Cristo na Cruz é o ato de apostolado mais eficaz, que remiu o mundo, o mesmo se pode dizer da morte do cristão em união com a morte de Cristo. Não se quer com isto dizer que, sob o ponto de vista humano, a morte do cristão deva ser uma “morte bonita”, tal como não foi bonita, com certeza, a morte de Cristo aos olhos dos homens. Foi, pelo contrário, uma “liturgia esquálida”, de abandono e de desolação. O importante é que seja uma morte “para Cristo e em Cristo” (S. Inácio de Antioquia, SC 10, 132). Imolados com Ele, com Ele ressuscitaremos.
Se, na humildade do dia a dia, vivemos a nossa oblação-imolação com Cristo, oblato e imolado pela salvação do mundo, estamos preparados para o último apostolado da nossa vida: a oblação-imolação da nossa morte, o extremo sacrifício, consumado pelo fogo do Espírito, como aconteceu na morte de Cristo na cruz: “Por um Espírito eterno ofereceu a Si mesmo sem mancha, a Deus” (Heb 9, 14). A morte é, então, a nossa última oferta, o momento da suprema, pura oblação: “Se morrermos com Ele, com Ele viveremos” (2 Tm 2, 11).
Oratio

Senhor, quero hoje rezar-te por aqueles que desapareceram no mistério da morte. Dá o descanso àqueles que expiam, luz aos que esperam, paz aos que anseiam pelo teu infinito amor. Descansem em paz: na paz do porto seguro, na paz da meta alcançada, na tua paz, Senhor. Vivam no teu amor aqueles que amaste, aqueles que me amaram. Não esqueças o bem que me fizeram, o bem que fizeram a outros. Esquece tudo o mal que praticaram, risca-o do teu livro. Aos que passaram pela dor, àqueles que parecem ter sido imolados por um iníquo destino, revela, com o teu rosto, os segredos da tua justiça, os mistérios do teu amor. Concede-me aquela vida interior que permite comunicar com o mundo invisível em que se encontram os nossos defuntos: esse mundo fora do tempo e do espaço, esse mundo que não é lugar, mas estado, e mundo que não está longe de mim, mas à minha volta, esse mundo que não é de mortos, mas de vivos. Ámen.
Contemplatio

O amor ultrapassa o temor e a esperança. O amor não destrói o temor nem a esperança, mas retira-lhes o que o amor-próprio lhe pode misturar de visões mercenárias. O amor não conhece habitualmente outro temor senão o temor filiar, isto é, o medo de desagradar a um Pai bem-amado. Sendo filho do amor, este temor é de uma atenção e delicadeza totalmente diferentes do medo da justiça divina e dos seus castigos. Leva a evitar as mínimas faltas, as mais pequenas imperfeições voluntárias. Em vez de comprimir e de gelar o coração, alarga-o e aquece-o. Não causa nenhuma perturbação, nenhum alarme; e mesmo quando escapa alguma falta, reconduz docemente a alma ao seu Deus através de um arrependimento tranquilo e sincero. Procura acalmar-se e reparar abundantemente da mágoa que se lhe pôde causar. De resto, não se inquieta nem perde a confiança. O amor tira também à esperança o que ela tem de demasiado pessoal. Aquele que ama não sabe outra coisa senão contar com Deus, nem fazer boas obras principalmente com o objetivo de acumular méritos; e por este nobre desinteresse, merece incomparavelmente mais. Esquecendo tudo o que fez por Deus, não pensa noutra coisa senão em fazer ainda mais. Não se apoia sobre si mesmo; visa a recompensa celeste menos sob o título de recompensa do que como uma garantia de amar o seu Deus com todas as suas forças e de ser por Ele amado durante a eternidade. Sem excluir a esperança, que lhe é natural, considera a felicidade mais do lado do bom agrado do seu Deus e da sua glória que lhe pertence do que do lado do seu próprio interesse. E quando o amor está no seu ponto mais elevado de perfeição, estaria disposto a sacrificar a sua felicidade própria à vontade divina, se exigisse dele este sacrifício. Coloca a sua felicidade no cumprimento desta vontade. O coração dos Santos atingiu mesmo sobre a terra este grau de pureza. É a disposição dos bem-aventurados no céu. É preciso, portanto, que o amor seja purificado a este grau neste mundo, ou no outro pelas penas do purgatório. Há, portanto, que deliberar sobre esta escolha? E quando a via do amor não tivesse outra vantagem senão a de nos isentar do purgatório ou de lhe abreviar consideravelmente a duração, poderíeis hesitar em abraçá-la? (Leão Dehon, OSP 2, p. 16s.).

Actio

Repete frequentemente e vive a palavra:
«Dai-lhes, Senhor, o eterno descanso,
entres os esplendores da luz perpétua.
Fazei que descansem em paz.
Amem.


QUARTA-FEIRA

Lucas 14,25-33:

O discipulado tEM uM cUsto.

“O que não renuncia a todos seus bens não pode ser meu discípulo”

Nossa leitura do evangelho de Lucas, ao ritmo da liturgia da Igreja, nos vai levando cada vez mais fundo neste caminho de configuração com Jesus de Nazaré, a propósito de que “todo o que estiver bem formado, será como seu mestre” (6,40) e de que a “maturidade” do ouvinte da Palavra se constata em sua capacidade de “dar fruto com perseverança” (8,15).

O itinerário lucano nos leva hoje a dar um novo passo na formação do discípulo, mediante a assimilação de um conjunto de ensinos bem exigentes que encontramos entre 14,25 e 17,10 (compreende seis lições no total, porém por razões de ordem litúrgica só veremos cinco).

O fio condutor de todos estes ensinos é a conversão do discípulo que se dá segundo o modelo do coração misericordioso do Pai. O primeiro passo no discipulado é a resposta ao chamado. Neste vemos conexão com o texto de ontem. A lição: dar “sim” a Jesus implica estar de acordo com suas exigências.

Notemos no texto os dois ensinos fundamentais na boca de Jesus: (a) A vocação tem exigências concretas (Lc 14,25-27); (b) Se tais são as exigências, então há que adotar uma atitude que corresponda a elas (14,28-33).

Jesus nos disse que para “poder ser discípulos” seus as exigências são duas:

  • A primeira exigência nos apresenta que quando uma pessoa tem um encontro vivo com Jesus, os grandes amores da vida se retraça: o papai, a mamãe, a esposa, os filhos, os irmãos e as irmãs, a própria vida (v.26); logo se agrega que também a atitude vale para os bens (v.33).
  • A segunda exigência nos assinala que a nova maneira de amar se aprende em uma grande identificação com o crucificado (v.27).

Como entender isto?Devemos ter o cuidado de não mal interpretar as palavras do Senhor como se disesse para descuidar ou esquecer a família.

O que Jesus propõe é uma inversão no ponto de vista na abordagem das relações. Isto quer dizer, que não se trata de amar a Jesus com o amor com que se querem os grandes amores que estão em nosso coração (os inesquecíveis papai e mamãe, a esposa, os filhos, etc.).

É como quando, para educar uma criança no amor a Deus, lhe perguntamos primeiro quem é a pessoa que mais gosta no mundo, e ele responde naturalmente que é sua mãe e seu pai, para logo dizer que maior deve ser o amor a Deus.

Para o novo discípulo Jesus ensina o caminho inverso: amá-los com o amor de Jesus, que é um amor total, purificado, melhor dizendo: amá-los desde a cruz, onde a entrega não tem limites e salva ao ser amado.

Não é entregar-se a Jesus com a paixão com que se quer à pessoa mais amada deste planeta, mas entregar-se à pessoa amada com a paixão de Jesus.

Por isso é necessária uma tomada de distância: aquele que começa sério uma vida de discipulado redefine suas relações colocando no centro de tudo Jesus.

Logo, desde o Senhor, tece uma relação de maior entrega, fidelidade, responsabilidade com as pessoas que amamos. Em outras palavras, as relações se cristificam e, portanto se curam e se potencializam. Jesus não é um amor ao lado dos outros, é o centro de todos eles.

Este caminho não é fácil, de fato é uma verdadeira conversão (giro na vida). Por isso, no caminho do discipulado é preciso pensar, refletir, discernir antes de comprometer-se. Esta é a lição das duas parábolas do construtor da torre e do rei que vai à guerra (Lc 14,28-33).

Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Quanto às exigências para ser discípulo de Jesus: Que se deixa e que se toma?
  2. Como se relacionam estas duas?
  3. A comunidade de Lucas parece estar preocupada ante algumas deserções na comunidade: Como ilustram as duas parábolas. O que há que fazer?

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Quinta-feira

Lucas 15,1-10

Compartilhar a misericórdia e a alegria de Jesus

 “Haverá mais alegria por um só pecador que se converta”

Os fariseus e os rabinos não entendem por que Jesus se reúne com tanta frequência, em cenas festivas, com gente que tem conduta digna de reprovação.

Jesus responde com as três formosas parábolas da misericórdia que lemos em Lc 15:

  • Da ovelha perdida (vv. 4.7);
  • Da moeda perdida (vv. 8-10);
  • Do filho perdido (vv. 11-32).

As três parábolas têm um esquema similar: Algo ou alguém se perde; O proprietário ou o pai fazem gestos insólitos na recuperação do perdido; Convida aos demais a partilhar a alegria, a entrar na festa e a imitar o comportamento misericordioso.

Temos, então, uma profunda lição que explana a palavra de Jesus em 6,36: “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso”. A liturgia de hoje nos propõe que nos detenhamos nas duas primeiras parábolas, a da ovelha e a da moeda perdida.

Segundo a maneira de pensar dos animadores da experiência religiosa de Israel dessa época, o comportamento de Jesus não encaixa em seus esquemas, visto que é o pecador que tem que arrepender-se e voltar a Deus, não que Deus tenha que ir buscá-lo. Igualmente lhes soa estranho que Jesus faça festa aos que se convertem, em lugar de repreendê-los e submetê-los disciplinarmente.

O comportamento do pastor que busca a ovelha tem muito de insólito: deixa as noventa e nove ovelhas no deserto, quer dizer, que as deixa em situação de risco, com tal de resgatar uma só.

Ou seja, Ele aposta tudo pela recuperação da ovelha perdida. A lógica comum seria: “não importa que se perca uma, afinal, ficam noventa e nove”. Porém a lógica do pastor é outra: volta no caminho em busca da ovelha que, provavelmente por sua fraqueza, não foi capaz de caminhar ao ritmo das outras.

O comportamento da mulher não é menos estranho. As casas normalmente têm uma só sala, de maneira que quando vão todos dormir, toda a casa é dormitório.

Por que, por uma só moeda, levantar-se para acender a luz, levantar toda a família e sacudir todas os lençóis a essa hora? Por uma só moeda?

Se lhe ficam nove o normal seria dizer: “Que se perca uma só, ou espero até amanhã, afinal tenho a maior parte segura”.  Porém a lógica desta dona de casa é outra.

Pois assim é Jesus. Com essa lógica e com esse zelo vive seu ministério: trazer de novo para casa os irmãos que se perderam e necessitam de apoio e assistência. Jesus se joga todo por eles, porque para Ele cada pessoa tem um alto valor, muito mais se torna parte de toda esta humanidade caída.

São João Eudes resumia esta atitude de Jesus com a frase: “uma vida vale mais que mil mundos”. E no final das parábolas há uma grande festa: o pastor reúne seus companheiros pastores e a mulher reúne suas amigas e vizinhas (a essa hora da noite!) para celebrar.

Assim é a “alegria do céu”, que é a alegria de Deus que goza intensamente com a vida de seus filhos que, da mão de Jesus, dando um giro à sua vida vão redescobrindo o caminho que conduz à plenitude.

Também nisto um discípulo está chamado a ser como seu Mestre. Por isso Jesus e o Pai hoje dizem: “Alegrai-vos comigo”.

Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Há alguém de minha família/ comunidade que está precisando dessa busca que fala o Evangelho?
  2. Valorizo cada pessoa, uma por uma, como Deus faz?
  3. Alegro-me continuamente no Senhor, celebrando os pequenos passos que as pessoas que me rodeiam vão dando em seu caminhar?

SEXTA-FEIRA

Lucas 16,1-8:

O discípulo é um bom administrador

“Os filhos deste mundo são mais astutos com sua gente que os filhos da luz”

Um bom discípulo deve ser também um bom administrador, esta é a lição de hoje.

No perfil que no Evangelho se traça de um discípulo de Jesus, um traço importante de seu novo estilo de vida no seguimento de Jesus é sua capacidade de administrar os bens da terra.

Destes bens, em primeiro lugar tomou distância (Lc 5,11;12,15.33;14,33), porém agora, desde o desprendimento e o coração puro que o caracteriza (comentário de Lc 11,41), tem uma nova administração do dinheiro e dos bens da terra que passam por suas mãos.

Na parábola do “administrador astuto” (16,1-7), nos encontramos com a história de um “ecônomo” negligente (não desonesto, mas incompetente para fazer produzir os bens de seu patrão), que é removido do cargo por seu chefe.

Ante a eventualidade, ele reflete astutamente e se arranja para assegurar a vida quando ficar desempregado.

Enquanto fecha as contas, beneficia-se das amizades propondo a dois devedores respectivos descontos sobre suas dívidas (ou talvez sobre os lucros): ao primeiro desconta cinquenta por cento sobre a dívida do azeite e ao segundo vinte por cento sobre a dívida do grão de trigo.

No v.8, nos surpreende a reação de Jesus ante a parábola. Jesus felicita a este homem por seu comportamento: O Senhor elogiou ao administrador injusto porque havia agido astutamente.

Por que o felicita Jesus? Por que o põe de modelo?

  • Porque tirou proveito do breve período de tempo que lhe restava, em função de seu futuro. Foi previdente: não administrou para o presente, mas para o futuro.
  • Porque o ecônomo, ao final, supõe reagir e demonstrar que sabia administrar, já que encontrou saída para sua emergência. O administrador mudou de conduta ante o chamado iminente que deixaria sua vida na ruína.
  • Porque supôs discernir: Descartou duas opções razoáveis, porém que ele não poderia levar (ver ensino de Lc 14,28-32) e; Escolheu uma opção, com dupla gestão, relacionada com a solidariedade que gerava o perdão da dívida. Este gesto tinha sua lógica: era maior o prejuízo causado com a má administração dos bens de seu patrão que o registro de uma pequena perda (para o patrão ou ao melhor para ele mesmo) em dois negócios. O administrador astuto supõe ver um valor maior.

Em poucas palavras, Jesus o felicita porque é genioso, porque é recursivo. Note-se que, mesmo parecendo absurdo, o comportamento do ecônomo está direcionado por valores: o perdão, a ajuda ao pobre, à solidariedade.

Não é que o fim justifique os meios, mas que supõe gerenciar seu “quarto de hora” de maneira brilhante, pondo os recursos que lhe restavam a serviço de uma vida decente; e, todavia mais, como disse Jesus, levando o ensino mais longe, na aplicação da parábola: “para que o recebam nas eternas moradas” (16,9).

É preciso saber viver. Não está bem desperdiçar a prata (cf. Lc 15,13) nem o tempo (que tem um valor incalculável), não somos patrões autônomos, mas servidores e, portanto administradores inteligentes dos bens que estão ao nosso cargo. Não devemos retirá-lo do próximo, mas empregá-los em seu favor.

Eles devem levar-nos a gerar boas relações baseadas na solidariedade, relações que começam na terra, porém apontam para uma relação de comunhão mais profunda, a comunhão com Deus na eternidade.

Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Em que consiste a “astúcia” do administrador que foi felicitado por Jesus?
  2. Como é nossa relação com os bens que temos? Para que os empregamos?
  3. Que critérios devem determinar nossa relação com os bens?

Que significado tem Deus, o próximo e nosso futuro?

SÁBADO

Lucas 16,9-15:

POR O DINHEIRO A FAVOR DO PRÓXIMO

 “Nenhum criado pode servir a dois senhores… Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”

No Evangelho de hoje Jesus faz a aplicação da parábola do “administrador astuto” que lemos ontem (Lc 16,1-8; o que desde a lógica do patrão era um “administrador incompetente”).

Jesus tira as consequências práticas tanto para seus discípulos (“Eu vos digo”;16,9ª) como para os fariseus (“E lhes disse”;16,15ª).

Aos primeiros lhes dá três ensinamentos positivos e aos segundos faz uma denúncia profética. O núcleo do ensino é o como alcançar a comunhão com Deus (“as moradas eternas”, “o muito”, “o verdadeiro”, “o vosso”), e o da denúncia é o fato de “dar-se por justos”.

O ensinamento para os discípulos: “fazer amigos” (16,9-11)

Jesus diz: “Fazei-vos amigos com o dinheiro injusto (16,9ª).

O qualificativo “injusto” para o dinheiro não quer dizer que por si só o dinheiro seja mal, mas que, com ele, se cometem muitas injustiças; vale dizer que Jesus deixa entender que o dinheiro, em última instância, não é de alguém (“alheio” disse o v.12).

Ainda assim a frase soa estranha, mas a compreendemos melhor se olharmos a passagem seguinte na qual se conta que o rico não fez, em vida, amizade com o mendigo Lázaro e após não foi recebido no céu (16,19-31).

Jesus havia anunciado na segunda parte da frase: “para que quando chegue a faltar, vos recebam nas moradas eternas” (16,19b).

Desta maneira Jesus convida a fazer uso correto do dinheiro. Um discípulo de Jesus vai se distinguir pelo exercício da “Fidelidade” (16,10-12; note a repetição três vezes do termo) que nos faz dignos de receber o bem maior, que nos pertence e que permanece definitivamente, que é a comunhão com todos nossos irmãos na eternidade de Deus.

Ali onde já não há ambiguidades nem brechas, onde crescemos: não em nossas fortunas, mas em desenvolvimento de todas as potencialidades de nosso ser.

A advertência para os fariseus “amigos do dinheiro” (16,14-15)

Por sua parte os fariseus, que crêem terem ganhado o céu e assim se apresentam ao povo (“se dão por justos”), ridicularizam as palavras de Jesus. Porém a Palavra de Jesus os faz aparecerem nus ante Deus: “Deus conhece vossos corações”.

Ante Deus não podem acomodar-se pensando que já receberam o prêmio de Deus e prova disso é a “benção” da riqueza; não, eles devem partilhar (é o esforço de que fala o v.16 deste capítulo).

Além do mais, o apego ao dinheiro se converte em uma forma de idolatria que nega sua confissão de fé no único Senhor. É Deus que declara quem é justo e por qual caminho se alcança justiça (vv.17.29-31).

O maior valor é o serviço a Deus e seu projeto (16,13)

Ao longo de toda a passagem –por meio de alusões- se fala da relação com Deus, no v.13 é explícita e é o eixo de toda esta passagem: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”.

O coração deve pertencer a Deus, Ele deve ser o Senhor ao qual amamos e para o qual orientamos nossa vida. Só a partir de nossa entrega completa a Ele, é possível estabelecer uma relação com os bens terrenos “justos” e capazes de assegurar o futuro.

Quem reconhece a Deus como Senhor, O reconhece também como Senhor dos bens materiais e sabe que não é patrão absoluto deles, mas apenas um administrador e que esta administração deve exercer com fidelidade e confiabilidade.

Ao contrário, quem “serve” ao dinheiro, o faz seu deus, se apega a ele, espera dele a realização da vida, dai que não pode empregar livremente em função de outras pessoas, e ao final se leva uma tremenda frustração.

Entendemos melhor agora por que o ser “amigo do dinheiro” põe em risco o senhorio de Deus na própria vida.

Portanto não pode haver meios termos: só a atitude do verdadeiro discípulo, para que o dinheiro – com relação a si mesmo – é o mínimo, alheio, relativo, e – com relação aos demais – o põe ao serviço da geração de comunhão e não de brechas, é a atitude correta porque submete tudo ao senhorio e ao projeto de Deus.

Para cultivar a semente da Palavra no profundo do coração:

  1. Sinto-me apegado ao dinheiro? Que lugar ocupa o dinheiro dentro de minha escala de valores?  Que faço com ele?
  2. Que atitudes me pede o Evangelho de hoje com relação a meus bens? Que deve caracterizar minha relação com o dinheiro?
  3. Que é “o verdadeiro”, segundo Jesus? Que importância tem para mim Deus, o próximo e o futuro?

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

   www.dehonianos.org/

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