ESTUDO BÍBLICO NA 3ª SEMANA COMUM ANO 2020

ESTUDO BÍBLICO – COMUNIDADE PAZ E BEM

 3ª Semana do Tempo Comum

Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

SEGUNDA-FEIRA:

Marcos 3,22-30

A UNIDADE NO ESPÍRITO

“Se um reino está dividido contra si mesmo não pode subsistir”

 

De novo o evangelista São Marcos nos apresenta a figura dos escribas condenando a ação de Jesus. Já haviam tentado, de muitos modos, se autoconvencer e convencer aos demais que Jesus era um embusteiro, porém a força dos milagres e, sobretudo, a expulsão dos demônios, os havia deixado sem argumentos para rebatê-lo. Então, tentam por outro lado.

 

Não podem negar que os demônios se lhe submetem e que são por Ele expulsos, isto é evidente. Optam, então, por dizer que, se Ele o faz, é pelo poder do ‘príncipe dos demônios’. Ou seja, aceitam que Jesus tenha seus poderes, porém, afirmam que estes não vêm do alto. Parece que estavam, eles, comentando isto com a multidão a certa distância de Jesus.

 

Então, diz o texto, que Jesus os chamou junto a si. Que bela lição nos dá Jesus quando se trata de enfrentar a quem nos faz mal. Não é afastando-se cada vez mais que se esclarecem as coisas e se dar uma solução. Ao contrário, é propiciando o encontro com quem assim atua. E é isto que faz Jesus: encara a situação.

 

Jesus começa lançando-lhes uma pergunta muito simples e razoável. Como pode Satanás expulsar a Satanás? Deste ponto de vista é impensável, ainda que se trate das forças do mal. Como o próprio Jesus disse: “Todo reino dividido não pode subsistir” Onde há divisão se prevê o fim.

 

Jesus põe um exemplo muito prático do que pode acontecer a uma casa que está dividida contra si; evidentemente, vai à ruína. Quase podíamos fazer aqui uma pequena escola de pais, ou melhor, “de família”. Quantas vezes a unidade da família tem sido afetada por dificuldades, desentendimentos e faltas de alguns de seus membros.

 

São realidades muito normais dentro da dinâmica da convivência. Não é que não devam existir. Existem para que as superemos. Depois de cada dificuldade superada os vínculos se estreitam ainda mais.

Porém, depois de cada momento crítico de tensão não superado e que gera divisão, como nos diz o Evangelho, a casa vai à ruína, ou com palavras ainda mais duras: “chegou ao seu fim”.

 

Espontaneamente recordo o exemplo do pai que chamou seus filhos e a cada um pediu para partir um feixe de paus inteiros. Eles, um por um foram tentando e nenhum conseguiu. Depois o pai pediu a um deles que partisse o feixe cortando um de cada vez, e ao fazer assim, puderam parti-los todos.

 

Conclusão: unidos somos mais fortes e inquebrantáveis do que sozinhos. Um pouco é o que nos diz o texto com o exemplo que segue: O forte, a quem somente atando-o, poderão roubar seus bens, sempre e quando o faça um mais forte que ele.

 

Negar que Jesus expulse os demônios por obra de Deus é negar de cara a ação do Espírito Santo. E aqui Jesus se torna categórico: Tudo se pode perdoar ao homem pecador, menos a blasfêmia contra o Espírito Santo. Isto é o que faz quem nega sua ação.

 

Aprofundemos com os nossos pais na fé:

 

Santo Ambrósio (cerca 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja.

 

“O seu reino é indivisível e eterno”

“Todo reino dividido contra si próprio corre para a ruína”. Como diziam que ele expulsava os demônios por Belzebu, príncipe dos demônios, ele queria, com estas palavras, mostrar que seu reino é indivisível e eterno.

Ele também respondeu a Pilatos: “O Meu reino não é deste mundo” (Jo 18,36). Portanto, os que não põem

a sua esperança em Cristo, mas pensam que os demônios são expulsos pelo príncipe dos demônios, esses,

diz Jesus, não pertencem a um reino eterno… Assim que a fé é despedaçada, como pode subsistir o reino dividido?… Se o reino da Igreja deve subsistir eternamente, é porque sua fé é indivisível, o seu corpo único:

“Há um único Senhor, uma única fé, um único batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de

todos, atua por meio de todos e Se encontra em todos” (Ef 4,5-6).  Que loucura sacrílega! Como o Filho

de Deus tomou a nossa carne para esmagar os espíritos impuros e arrancar o espólio ao príncipe do mundo,

com ele também deu aos homens o poder de destruir o espírito do mal, partilhando os despojos – o que

é a marca do vencedor, alguns chamam em sua ajuda o poder do diabo. E, contudo, [como diz Lucas], é

“o dedo de Deus” (Cl 11,20) ou, como diz Mateus, “o Espírito de Deus” que expulsa os demônios. Por isso

compreendemos que o Reino de Deus é indivisível como um corpo é indivisível uma vez que Cristo está à

direita de Deus e que o Espírito parece ser comparável ao seu dedo.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Qual é a mensagem central que nos traz o Evangelho de hoje?
  • Em minha casa, em meu grupo, quais são as atitudes com as quais propicio a desunião e divisão?

Quais aquelas que ajudam à unidade?

  • De que modo estamos superando, em nossa família, os problemas que, diariamente, se apresentam?

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TERÇA-FEIRA:

Marcos 3,31-35

PERTENCER À FAMÍLIA DE JESUS

 “Quem são minha mãe e meus irmãos?

 

O Evangelho de hoje nos vai dar as chaves que nos identificarão como familiares-seguidores de Jesus.

 

O primeiro que chama a nossa atenção depois de uma leitura atenta, é a insistência e as vezes que, em um texto tão curto, aparecem as palavras “irmãos’ e “mãe”. São 5 vezes em 5 versículos. Quer dizer, em cada um dos 5 versículos aparece a expressão. “Minha mãe e meus irmãos”. Cada versículo nos aponta um episódio dentro do texto. Vejamos por partes:

 

“Chegam sua Mãe e seus irmãos”.  Já o versículo 21 deste mesmo capítulo nos havia feito notar a preocupação dos parentes de Jesus porque seu modo de agir, segundo eles, parecia de alguém que não estava em seus limites.

 

Ficaram fora. O texto não diz que não puderam entrar devido à multidão, talvez fosse mais prudente ficar fora e mandá-lo chamar. Quando fazem saber a Jesus que sua mãe e seus irmãos chegaram e o buscam, Ele, como resposta, lança uma pergunta: Quem são minha mãe e meus irmãos?

 

Muitos dos presentes devem ter estranhado bastante. Aparentemente era uma pergunta muito estranha. Era como não reconhecer a seus familiares. No texto não se descreve sua linguagem “não verbal”. Seguramente, com isso havia dado a entender que não se tratava de desconhecer a seus familiares, mas de dar-lhes um significado ainda maior.

 

Isto é o que faz a seguir, quando olha para os que estão sentados escutando-o. Seguramente, havia-se dado uma bela sintonia entre Jesus e eles, o qual o levou a afirmar que antes que os laços do sangue e da carne estavam eles, os que o escutavam, mais ainda, os que cumpriam sua vontade.

 

Com esta explicação Jesus não estava desconhecendo seus familiares, ao contrário, estava afirmando que eles não só eram sua mãe e seus irmãos pela carne e o sangue, mas porque cumpriam a vontade de Deus e que quem o fizesse assim também poderia ser seu familiar mais imediato.

 

A familiaridade com Jesus não só se dá, mas se constrói dia a dia com a escuta atenta e vital de sua Palavra, uma escuta capaz de fazer com que esta Palavra se converta em norma de nossa vida e princípio orientador de todas as nossas ações.

 

Aprofundemos com os nossos pais na fé:

 

Beato Guerric d’Igny (c.1080-1157), abade cisterciense.

 

«Esse é que é Meu irmão, Minha irmã e Minha mãe.»

 

O Evangelho mostra-nos o rosto mais belo de Cristo: a Sua vida e os ensinamentos que deu, por palavras e pelo próprio exemplo.

Conhecer a Cristo desta forma constitui, na vida presente, a piedade dos cristãos […].

Por isso Paulo, sabendo que «é o Espírito quem dá a vida; a carne não serve de nada»

(Jo 6,63), quer conhecer a Cristo, mas já não à maneira humana (2 Cor 5,16), a fim de consagrar-se por inteiro Àquele que é o Espírito que vivifica (1 Cor 15,45).

Ora, Maria parece partilhar este sentimento: ao desejar fazer penetrar em todos os corações o Bem-Amado nascido de seu seio, o Bem-Amado de seus desejos, ela descreve-O não segundo a carne, mas segundo o Espírito.

Também ela parece dizer, com Paulo: «Ainda que tenha conhecido a Cristo à maneira humana, agora já não O conheço assim.» (2 Cor 5,16).

Com efeito, também ela deseja gerar, em todos os seus filhos adotados, seu Filho único.

Por isso, apesar de eles terem sido gerados pela palavra da verdade (Tg 1,18), Maria continua, em cada dia, a concebê-los pelo desejo e a solicitude da sua ternura maternal, até que estes cheguem “à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao homem adulto, à medida completa da Unidade de Cristo”, (Ef 4,13), seu Filho, Aquele que ela concebeu e deu ao mundo […].

Ela faz-nos assim, pois, o elogio desse fruto de seu seio: «Sou a mãe do puro amor, do temor, do conhecimento e da digna esperança» (Sir 24,18).

É esse então o teu Filho, ó Virgem das virgens?

É esse o teu Bem-Amado, ó mais bela das mulheres? (Ct 5,9).

«Este é certamente meu Amado; Este é o meu Filho, ó mulheres de Jerusalém” (Ct 5,9).

O meu Bem-Amado é, em si mesmo, o puro amor, e n’Aquele que d’Ele nasceu, do meu Bem-Amado, está o amor puro, o temor, a digna esperança e o conhecimento».

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Por que é tão significativa neste contexto a expressão “Mãe e irmãos”?
  • Que processo eu tenho feito para converter-me em familiar imediato de Jesus?
  • Se como família ou comunidade quiséssemos catalogar como muito, pouco

ou nada nosso grau de pertença à família de Jesus, que qualificação apreciativa

daríamos? Por quê? Que devemos fazer?

 

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QUARTA-FEIRA (somente reflexão)

Marcos 4,1-20

“A Palavra de Deus é a semente”

Meditando mais uma vez com a Parábola do Semeador, ressalta aos nossos olhos o verbo imperativo que Jesus usou para chamar a atenção da multidão, “Escutai”, assim como também a afirmação que fez quando terminou de contar a Parábola: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!” 

Chegamos, então, à conclusão de que o entendimento à Palavra do Senhor depende muito do modo como nós a escutamos e de como concentramos a nossa atenção e o  nosso zelo, colocando ou não o nosso coração à disposição de Deus e em intimidade com Ele.  Jesus usa figuras simples da vida corriqueira do homem para explicar o reino dos céus. O semeador é Ele mesmo! O terreno é o nosso coração! A semente é a Sua Palavra! É o próprio Jesus quem, por meio de um ou de outro, sai espalhando a semente da Sua Palavra.  Há os que “escutam” a Palavra de modo muito superficial e, por isso, facilmente ela é arrancada da sua mente.  Por causa da falta de atenção e concentração, ela é esquecida

– “é a semente plantada à beira do caminho”. Outros há que “escutam” a Palavra com mais aplicação e ela encontra guarida no coração, porém, lhes faltam perseverança e determinação. Desse modo, por qualquer coisa e diante da primeira dificuldade, desistem e começam a desconfiar das promessas de Deus. Sucumbem diante dos desafios que a Palavra lhes propõe

– “é a semente que cai em terreno pedregoso”. Acontece também que existem aqueles que “ouvem” a palavra e a assimilam dando demonstração de que ela fecundará, no entanto, o trabalho, a família, os planos, os bens, o amor à riqueza intervêm e eles entram na rotina da vida consentindo que as preocupações os sufoquem e deixem de lado a mensagem da Palavra de Deus e os Seus ensinamentos – “é a semente que caiu no meio dos espinhos”. Há outros, no entanto, a quem a mesma Palavra foi lançada, porém, ao contrário dos demais, escutaram-na com decisão e com consciência de acolher os ensinamentos de Deus. Não opõem resistência, despojam-se dos seus conceitos e dão a devida importância ao que “escutam”, assim, colhem frutos de uma vida fecunda. – “é a parte que caiu em terra boa e deu fruto” como o próprio Jesus conta no Evangelho. Jesus também nos dá a chave do mistério do reino de Deus quando diz

Para os que estão fora, tudo acontece em parábolas”! 

 

A multidão que acompanhava Jesus fazia-o de longe, às margens, na praia, e, por isso, não compreendia o que Ele lhe falava. Os seus discípulos, porém, subiam com Ele na barca, estavam perto Dele, O escutavam e tinham a chance de apreender melhor porque Jesus lhes explicava. Quem está longe das coisas de Deus, longe da Igreja, vê, mas não enxerga, escuta, mas não compreende, por isso, não se converte e permanece na escuridão. Tanto na Igreja como em comunidade nós temos a oportunidade de escutar melhor para entender os ensinamentos de Jesus.

 

Assim sendo, nós temos a chance de sondar o terreno do nosso coração e perceber se a Palavra está ou não dando frutos na nossa vida ou se estamos apenas ouvindo falar, porém, sem escutar e pôr em prática. Esta avaliação, nós a fazemos nas horas em que enfrentamos a tribulação, nos momentos de preocupações, diante da ilusão das riquezas e outros empecilhos que nos desafiam. O nosso coração é um terreno fértil quando a Palavra se faz vida na nossa vida e, mesmo no meio das provocações nós damos testemunho da nossa fé. –  Como está o terreno do seu coração? – Você tem colocado zelo em escutar a Palavra do Senhor?  –  Aonde você tem buscado o entendimento das coisas de Deus? – Quando “escuta” a Palavra de Deus você tem o propósito de vivenciá-la?  – Você tem acolhido a semente da Palavra ou tem desistido Dela por qualquer motivo?

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QUINTA-FEIRA (somente reflexão)

Marcos 4,21-25

 Reflexão – “somos lâmpadas a serviço da Luz de Deus”

Por meio da Sua Palavra Jesus ilumina os nossos passos e orienta as nossas ações, pois Ele é o Verbo de Deus e a Luz do Mundo!  Nós somos como lâmpadas que refletem para o mundo o fulgor que Dele recebemos. Portanto, as nossas ações mostram ao mundo se, estamos ou não recebendo e refletindo esta luz ou se, pelo contrário a estamos camuflando, escondendo-a debaixo das nossas concepções humanas. Somos chamados a revelar com transparência tudo o que ouvimos e percebemos da Palavra de Jesus. As nossas ações devem ser como lâmpadas que refletem a mentalidade evangélica e não as nossas ideias humanas que encobrem a verdade e desvirtuam as sugestões de Deus. Por isso, não podemos nos esconder debaixo das nossas máscaras, personalidades, fingimentos. Precisamos ser fiéis e transparentes para revelar ao mundo a verdade de Cristo. No entanto, a primeira pessoa com quem devemos ser sinceros é conosco mesmos. Precisamos ser lâmpadas que apossadas da luz do Espírito Santo iluminam o nosso interior e nos ajudam descobrir e perceber toda a obra que o Senhor quer fazer em nós e por nosso intermédio. Por isso, mais uma vez Jesus nos ordena a que prestemos atenção ao que ouvimos a fim de que possamos ser fiéis a tudo quanto nos é manifesto e assim usar a medida certa nas coisas que fazemos. Quando nos auto conhecemos percebemos que as nossas ações revelam conscientemente o que  cultivamos dentro de nós mesmos (as). Por isso, é mais fácil distinguir o nosso potencial e a nossa limitação. Assim, portanto, podemos usar com os outros, a mesma medida que nos é adequada e, assim fazer justiça sendo coerentes com o que o Senhor nos dá. Quanto mais usarmos bem os dons que recebemos de Deus e com humildade admitirmos as nossas restrições, mais o Senhor nos abençoará e nos cumulará de graças. As nossas ações devem ser, portanto, produtos dos nossos pensamentos e também dos nossos sentimentos.  Se cultivarmos em nós bons pensamentos e regarmos os nossos bons sentimentos poderemos também realizar boas obras as quais serão como lâmpadas acesas que poderão ser vistas por todas as pessoas. – Você se considera uma lâmpada a serviço da Luz de Deus para o mundo? – Você é uma pessoa transparente e sincera? – As suas ações acompanham os seus sentimentos e pensamentos ou você consegue camuflá-las? – Você é muito rigoroso (a) com os erros das pessoas? – E com os seus?  – A  medida que você usa para as outras pessoas é a mesma que você usa para medir as suas ações?

 

 

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SEXTA-FEIRA

Marcos 4,26-34

CRECER DESDE DENTRO

 “O grão brota e cresce sem que ele saiba como”

 

O Evangelho de hoje nos apresenta duas belíssimas parábolas relacionadas com a vida que cresce a partir de dentro e, como disse uma delas, sem que, nem sequer, nos demos conta.

 

A primeira nos apresenta um semeador que lança a semente na terra. O tempo transcorre em seu ritmo e mesmo que o semeador descanse ou trabalhe (noite e dia) a semente brota e cresce sem que ele saiba como.

 

É essa confiada certeza que a semente em boas condições irá irromper e crescer, sem que, para isto, o homem seja necessário. A semente que cresce é o Reino, é essa Palavra da qual já nos havia falado Isaías, que não volta a Deus sem que tenha dado seu fruto. (55,10-11).

 

O texto nos recorda que toda Palavra semeada não dá fruto automaticamente, mas realiza um processo lento: “Primeiro erva, logo espiga, depois trigo abundante na espiga” (v.28).

 

Se não há processo não se pode garantir uma mudança. Só quando são dados uns passos concretos, como nos diz a parábola, só assim se poderá estar pronto para a ceifa, pois o fruto será abundante e de boa qualidade.

 

A segunda parábola também nos fala de semente e de crescimento. Desta vez o Senhor nos quer fazer notar a desproporção entre a diminuta semente e a grandiosidade da árvore que chegará a ser. Trata-se da força geradora da vida que possui a Palavra.

 

O resultado da semeadura de uma semente tão pequena é uma gigantesca árvore, na qual se faz ninho para as aves. Toda Palavra de Deus que germina em nós nos faz “habitáveis”, primeiro por Deus mesmo e logo por nossos semelhantes, assim como as aves do céu que fixam sua morada na árvore.

 

Na primeira parábola o resultado é uma colheita abundante, quer dizer, trigo, que serve para alimentar a muitos, para satisfazer uma necessidade básica.

 

Na segunda, a grande árvore oferece abrigo às aves, se faz casa, satisfaz outra necessidade básica. Duas grandes lições para todo seguidor de Jesus: fazer-se pão partilhado e casa de portas abertas para os demais.

 

Aprofundemos com os nossos pais na fé:

 

São Gregório de Nissa (cerca 335-395), monge e bispo.

 

“Primeiro a erva, depois a espiga, por fim o trigo enchendo a espiga” 

 

A vida presente é um caminho que leva ao limite da nossa esperança, tal como se vê sobre os rebentos o fruto que começa a sair da flor, e que, graças a ela, chega à existência de fruto, mesmo se a flor não é o fruto.

De igual modo, a seara que nasce das sementes não aparece imediatamente com a espiga, mas é a erva que desponta primeiro; em seguida, uma vez morta a erva, surge à haste de trigo e assim o fruto maduro no alto da espiga…

O nosso Criador não nos destinou à vida embrionária; o objetivo da natureza não é a vida dos recém-nascidos.

Ela também não visa às épocas sucessivas que ela renova com o tempo pelo processo de crescimento que muda sua forma, nem a desagregação do corpo que sobrevêm à morte.

Todos esses estados são etapas no caminho por onde avançamos.

O propósito e o fim da caminhada, através de todas estas etapas, é a semelhança com o Divino…; o fim esperado da vida é a beatitude.

Mas hoje, tudo o que diz respeito ao corpo – a morte, a velhice, a juventude, a infância e a formação do embrião – todos esses estados, como tantas ervas, hastes e espigas, formam um caminho, uma sucessão e um potencial permitindo a maturidade esperada.

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração.

 

 

  • Em que sentido Jesus compara o Reino dos Céus com a semente?
  • Que frutos tem produzido em mim a semente da Palavra de Deus que o Senhor semeia em mim?
  • Como família ou comunidade, que estamos fazendo e que podemos fazer para transformar-nos

em alimento e casa para os demais? (familiares, vizinhos, amigos, etc.)

 

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SÁBADO

Marcos 4,35-41

TRANSMITIR PAZ

 “O vento se acalmou e sobreveio uma grande bonança”

 

O texto do Evangelho que nos apresenta a liturgia de hoje é de uma beleza que fascina. Fez-se tarde e o sol se oculta no horizonte. Havia sido uma jornada dura e longa. Muitas curas, uma pregação intensa.

 

Jesus, então, disse a seus discípulos e aos que estavam com Ele: ”Passemos à outra margem” (v. 35), como quem diz, mudemos o ângulo de visão das coisas.

 

Antes de ir se despede da multidão que o havia escutado e sido objeto de muitas curas. Sobem à barca e começam a ação.

 

No mar da Galileia são muito frequentes os maus tempos e tempestades e essa tarde lhes esperava uma nada suave.

 

A barca era agitada fortemente pelo vento e as ondas a golpeavam por todos os lados. Imaginemos os apóstolos fazendo de tudo para manter o equilíbrio da barca. Subindo e descendo as velas, tirando a água, etc.

 

A jornada para Jesus havia sido extenuante e agora dormia apoiado em um cabeçal. Esta atitude de Jesus ante tão terrível tempestade desconcerta os discípulos que iam na barca.

 

Eles o despertam e sabendo, porque já haviam experimentado, o profundo amor que Jesus lhes tinha, dizem-lhe: “Mestre, não te importa que pereçamos?” (v.38).

 

Esta é uma frase muito bela, pois encerra em si toda a profunda experiência que os discípulos fizeram de Jesus, e o que eles mesmos sentem sobre o que são para Ele: muito queridos. É como dizer-lhe: “Mestre, tu que nos queres tanto, vais nos deixar morrer agora?”

 

Jesus dormia em paz e nessa mesma paz enfrentou a violência do mar e este se acalmou. A profunda admiração refletia-se na cara de cada um dos que estavam com Ele.

 

De um momento a outro, com uma só palavra dele, o mar embravecido serenou e “sobreveio uma grande bonança” (v.39).

 

Jesus, então, os olha profundamente e, com um sabor de tristeza, lhes pergunta: “Por que estais com tanto medo? Como não tens fé? (v.40). Como quem diz: “Se eu vou com vocês, por que temem? Por acaso, não se dão conta que basta que eu esteja (dormindo ou acordado), para que não lhes aconteça nada?”.

 

Desta vez não disse que eles se “admiraram”, mas que “temeram” e se perguntavam sobre aquele a quem não compreendiam ainda.

 

Aprofundemos com os nossos pais na fé

 

  1. Siluane (1886-1938), monge ortodoxo Sophrony

 

Porquê ter medo?”

 

No dia quatorze de setembro houve no Monte Athos um violento tremor de terra.

Produziu-se durante a noite, durante a vigília da festa da Exaltação da Santa Cruz.

Eu estava no coro, junto do Prior, e este último estava mesmo ao lado do sítio onde tinha o hábito de confessar.

Um tijolo soltou-se do teto e caiu naquele lugar, assim como muito estuque.

A princípio assustei-me um pouco mas rapidamente me acalmei e disse ao Prior: “Eis que o Senhor misericordioso quer que nos arrependamos”.

Olhamos para os outros monges, na igreja e no coro: poucos tiveram medo; cerca de seis homens saíram da igreja, os outros ficaram nos seus lugares e a vigília continuou de acordo com a ordem habitual e com tanta tranquilidade como se nada tivesse se passado.

E eu pensei: “Como é abundante nestes monges a graça do Espírito Santo!”.

Com efeito, enquanto ocorria um tremor de terra tão violento que todo o imenso edifício do mosteiro tremia, a cal caía, os lustres, as lâmpadas de azeite e os candelabros balançavam, os sinos começaram a tocar no campanário, e até o sino grande bateu com a violência do abalo, eles, ao contrário, permaneram tranquilos.

E eu pensei: “A alma que conheceu o Senhor não teme nada, exceto o pecado, e sobretudo o pecado do orgulho. Ela sabe que o Senhor nos ama e, se Ele nos ama, que temos nós a temer?”

 

Cultivemos a semente da Palavra no profundo do coração

 

  • Que Jesus reprova aos discípulos na barca?
  • Qual nossa atitude quando nos encontramos em situação difícil e parece que Deus não nos escuta?
  • Jesus ao acalmar a tempestade transmite ao mar sua paz. Como transmito paz a quem vive comigo?

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