ESTUDO BÍBLICO NA 5ª SEMANA COMUM ANO C 2022

ESTUDO BÍBLICO NA 5ª SEMANA DO TEMPO COMUM ANO C

Comunidade Católica Paz e Bem

SEGUNDA-FEIRA

Marcos 6,5356

A pastoral de Jesus com os enfermos.

 “Quantos tocavam seu manto ficavam salvos”

Depois do relato da multiplicação dos pães (Mc 6,35-44) e a penosa travessia do lago (6,45-52), Jesus chega à terra de Genesaré (6,53). A comunidade chega a um lugar diferente, ao qual haviam sido despachados sozinhos (6,45).

Um claro contraste

A chegada à costa mostra-nos, em seguida, um contraste com a cena anterior: no lago, os discípulos confundiram Jesus com um “fantasma” (6,49), enquanto que na margem o povo imediatamente “reconhece” a Jesus (6,54). Ao longo da passagem seguimos encontrando outros contrastes entre o que fazem os habitantes da região e as atitudes interiores dos discípulos.

Os discípulos haviam sugerido a Jesus que despedisse à multidão “para que fossem às aldeias e povoados a comprar comida” (6,36).  Aqui, ao contrário, Marcos nos disse que o povo do lugar “percorre toda a região” (6,55ª), não para cuidar de si mesma, mas para “trazer os enfermos em macas onde ouviam dizer que ele estava” (6,55b).

O poder da fé

Chama a atenção que “lhe pediam que tocasse sequer a orla de seu manto” (6,56). Para os enfermos isto parece ser suficiente para serem curados. Isto nos recorda a passagem da hemorroíssa (ver 5,25-34) que descreve desta maneira o poder da fé.

Comparando-se a atitude que os discípulos tiveram com as multidões, vemos que o povo tem um procedimento muito diferente com o enfermo. Ela se preocupa com o enfermo, se compromete, faz de sua situação um problema seu, vai mais além das fronteiras impostas pela lei da pureza e se arriscam a interceder por eles, assim como o fez Jairo por sua pequena enferma (ver 5,23). Este é o impulso que provém da liberdade de coração que Jesus anima quando disse: “tende fé” (5,36).

O risco de ocupar-se com os demais e interceder

O que toda esta gente de Genesaré faz não é normal. Atrevem-se a tocar gente impura. Por sua parte os impuros se atrevem a tocar em Jesus. Jesus por sua parte lhes dá vida, graças a todos aqueles que foram sensíveis com seus sofrimentos e os levaram até a presença do Mestre, em quem viram a solução de seus problemas.

Este contínuo contato com impuros, este querer ajudar a dar vida aos demais passando por cima das fronteiras legais, em seguida vai se tornar problemático. A atitude pastoral dos discípulos fica, assim, questionada. Porém, eles, todavia, estão em processo de aprendizagem.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita, doutora da Igreja

“Todos que lhe tocavam eram curados”

Quando Jesus estava neste mundo, o simples contato das suas vestes curava os doentes. 

Porquê duvidar, se temos fé que ele também realize milagres quando está tão intimamente unido a nós na comunhão eucarística?  Porque não nos dará ele o que lhe pedimos uma vez que está na sua própria casa? Sua Majestade não tem por hábito pagar mal a boa hospitalidade que lhe é dispensada.

Se estais desolados por não o verdes com os olhos do corpo, considerai que isso não vos convém…

Mas assim que Nosso Senhor quer que uma alma aproveite da sua presença, ele revela-se-lhe.

Ela não o verá, é verdade, com os olhos do corpo, mas ele manifestar-se-á a ela por meio de grandes sentimentos interiores ou por outros meios. Portanto, estai com ele de bom coração. Não perdeis uma ocasião tão favorável para tratar dos vossos interesses com o momento que se segue à comunhão.

Para cultivar a semente da Palavra na vida:

  1. Qual a diferença entre a atitude dos discípulos e a da gente de Genesaré?

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Qual é a recomendável?

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  • Que ações concretas delineiam neste texto uma pastoral dos enfermos?

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  • Que responsabilidade tem a família e a comunidade com relação a seus enfermos?

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Que deve fazer?

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TERÇA-FEIRA

Marcos 7,1-13

A verdadeira pureza é a do coração.

“Este povo me honra com os lábios, porém seu coração está longe de mim”

Não perdendo de vista que na página anterior de Marcos o tema era o alimento, não nos estranha que este volte a passar ao primeiro plano, ao começar este novo capítulo.

O assunto agora não é o serviço pastoral, mas a liberdade de coração do discípulo com relação a certa norma. Ali se expõe dois temas: que a obra de Jesus aponta ao coração e não ao epidérmico e que o serviço aos demais não pode deixar-se condicionar por falsas normas que o impedem.

Ante Jesus aparecem agora “fariseus e alguns escribas vindos de Jerusalém” (7,1). Tudo começa ao caráter de uma confrontação oficial. O assunto problemático se enuncia imediatamente: “alguns de seus discípulos (de Jesus) comiam com mãos impuras” (7,2).

Em seguida Marcos faz um breve parêntese para explicar como funcionam os costumes de purificação dos fariseus antes das refeições.

A questão de fundo é que todo alimento se tem à custa da vida de outros. Para alimentar-nos, tiramos a vida das plantas e animais. Este aspecto de morte, presente na vida, faz que os alimentos se tornem impuros. E, por isso, os ritos de purificação, de maneira que estes se façam puros ante Deus.

O problema é que parece que era praticamente impossível permanecer puro. Assim, a lei de pureza se tornou um problema social, dividindo o povo entre puros e impuros.

Este é o ponto exato que Jesus vai questionar. Ele desmascara a conduta hipócrita de seus acusadores: “Bem profetizou Isaías de vós, hipócritas” (7,6).

O mais grave é que este mesmo esquema de comportamento era trasladado a outras esferas da vida, como, por exemplo: a responsabilidade que os filhos têm de manter a seus pais quando chegam à velhice (ver 7,9-13).

O que muitos buscam é a prática externa da norma, vivendo-a com contínuos escrúpulos, sem preocupar-se que é o verdadeiramente fundamental, qual é o sentido da Lei.

Jesus assinala como as pequenas normas criadas pelos homens, supostamente para interpretar o querer de Deus, ao final terminam “anulando a Palavra de Deus” (7,13).

As normas que Jesus põe em questão são as chamadas “tradições dos antepassados” (7,5.13): um conjunto completo de normas para os detalhes mais simples da vida que ao final terminam perdendo de vista o que era fundamental. Como se a cinza tapasse o fogo.

O que importa, segundo Jesus, é a comunhão de coração com Deus. Por isso, citando a Isaías sublinha: “Seu coração está longe de mm” (7,6). A verdadeira pureza é a adesão à vontade de Deus, sem suavizações nem manobras para evadi-la.

É preciso discernir o que é mandato de Deus e o que é tradição dos homens. A segunda não quita à primeira, porém deve estar em coerência com ela.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

Santo [Padre] Pio de Pietrelcina (1887-1968), capuchinho

«Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim.»

A oração é um coração a coração com Deus. […]

A oração bem feita toca o coração de Deus, incitando-O a ouvir-nos.

Quando rezamos, que todo nosso ser se volte para Deus: nossos pensamentos, nosso coração.[…]

O Senhor deixar-Se-á vencer e virá em nosso auxílio. […]

Reza e espera. Não te agites; a agitação é inútil. Deus é misericórdia e há de escutar a tua oração.

A oração é a nossa melhor arma: é a chave que abre o coração de Deus.

Deves dirigirte a Jesus, menos com os lábios do que com o coração.

Para cultivar a semente da Palavra na vida:

  1. Qual é a ideia central do Evangelho de hoje?

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Busco a pureza de coração?

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  • De que maneira me esforço por viver unido/a a Deus?

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    As práticas rituais me levam a esquecer que o que Deus quer de mim é a ética?

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  • O conflito que aparece no texto segue se repetindo hoje? Como? Que fazer?

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QUARTA-FEIRA

Marcos 7,14-23

O que verdadeiramente nos contamina.

“O que sai do homem isso é o que verdadeiramente o contamina”

No Evangelho de hoje nos chama a atenção o fato de que Jesus, novamente, chame as pessoas para seguir ensinando-as, para seguir aclarando e dando o justo valor a essa série de observâncias que, com o correr dos tempos, haviam se esvaziado de seu verdadeiro conteúdo e haviam degenerado em simples práticas convencionais.

No Evangelho de ontem, Jesus havia recriminado os escribas e fariseus que, apegados a tradições externas; lavatório de mãos, de jarros, de bandejas e demais, haviam se esquecido, não só do verdadeiro culto a Deus: ”Deixando o preceito de Deus vos aferrais à tradição dos homens” (v.8), mas, também, da responsabilidade e solicitude para com os semelhantes (cf 7,11-12).

Aqui captamos em Jesus uma preocupação para que sua mensagem fique clara. “Ouvi-me todos e entendei” (v.14). Não só disse ‘ouvir’, mas também ‘entender’, para que não se fique só em claridade de idéias, mas em convicção que leva à ação.

Na passagem que nos apresenta a liturgia hoje, parece que Jesus dá um salto do exterior ao interior, quer dizer dar ênfase, não aos ritos externos, mas à verdadeira sede de todo o puro e impuro, quer dizer, o coração. A contaminação não pode vir de fora. Não é o externo, que nos contamina.

Aqui parece que Jesus se referira aos alimentos, dado que, para os judeus, não se devia consumir um tipo de alimento que para eles eram considerados impuros. Na realidade, este foi um ensino muito curto e logo Jesus se dirigiu novamente para casa. É, então, quando seus discípulos pedem uma maior explicação a Jesus que as dá, não sem antes fazer-lhes levar em conta a pouca capacidade deles para captar sua mensagem.

A explicação de Jesus é de uma claridade impressionante. Não é o que comemos e que vem de fora que nos contamina. É o que sai do coração contaminado pelo mal. É quase uma contaminação por contágio. Se meu coração está contaminado o que sai dali contaminará aos demais.

Jesus cita doze tipos de contaminações que podem aninhar-se no coração e que ele mesmo chama “intenções más”. A intenção então é o ponto focal e a origem da contaminação. Depois de enunciar as contaminações más, Jesus lhes dá outro nome ainda mais forte: as chamam perversidades.

É belo notar que, todas estas aclarações simples e profundas, Jesus as faz no seio do lar e com seus íntimos, quase como para insinuar-nos que é ali onde podemos não só aclarar, mas também corrigir essas atitudes que podem afetar aos demais.

Para cultivar a semente da Palavra na vida:

  1. Qual é a mensagem central que nos apresenta Jesus hoje?
  2. Em nosso lar ou em nossa comunidade quais são essas tradições ou costumes que hão perdido

significado e que podemos mudar?

  • Quando eu, pai ou mãe, corrijo meus filhos, em que me detenho mais: no externo que fizeram,

que quase sempre é o mais visível, ou na verdadeira intenção que é o mais profundo?

QUINTA-FEIRA

Marcos 7,24-30

SABER INSISTIR

“Também os cachorrinhos comem debaixo da mesa as migalhas das crianças”

Jesus havia se afastado de Cafarnaum para uma região distante, aproximadamente, uns 70 Km, com o fim de ter um momento de paz, como nos deixa entrever o texto “entrando na casa queria que ninguém soubesse” (v.24).

Mas, parece que, a Jesus, as coisas nem sempre saiam como queria, de maneira que não conseguiu passar despercebido. Em passagens anteriores nos foi dito que a fama de Jesus havia se estendido por toda a região e hoje o comprovamos.

Porém, quem é essa pessoa que se atreve a importunar Jesus? Nada menos que uma mulher, alguém socialmente não reconhecida. E neste caso, para o cúmulo dos males, uma gentil, uma pagã.

Mateus nos narra, em seu Evangelho, que os discípulos, diante desse ‘incômodo’ quadro não duvidaram em pedir a Jesus: “Despede-a, porque vem gritando atrás de nós”. (Mt 15,23). Precisamente, isto nos faz compreender melhor a condição da mulher.

Contudo, esta mulher leva dentro de si uma grande dor: sua filha está enferma e, mais concretamente, está possuída por um demônio. A resposta, um tanto dura, de Jesus, não deve ter sido nada alentadora para a mulher: «Espera que primeiro se saciem os filhos, pois não fica bem tirar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos» (v.27).

Mas ela insistiu. Não se sentiu ofendida, não se sentiu menosprezada, simplesmente algo lá dentro dela levava-a a crer que esse homem que tinha diante dela podia curar a sua filha, ainda que tivesse que ser com as sobras do que deixavam os filhos e isso o fez saber a Jesus.

Logo se vê que a resposta da mulher chamou, poderosamente, a atenção de Jesus, pois, sem rodeios, lhe assegurou que sua filha estava curada, que podia voltar tranquila, coisa que ela fez imediatamente. Quando chegou a casa comprovou que sua filha havia sido curada e repousava serenamente.

Esta mulher, sim, merece plenamente o nome de mãe. Arriscou tudo para encontrar aquele homem famoso que podia curar a sua filha.

Espontaneamente, me vem à mente a quantidade de crianças que enchem as notícias de rádio, televisão, imprensa, não porque os pais e a sociedade sejam solícitos e responsáveis em sua tarefa, mas exatamente pelo contrário. Com frequência descarregam sobre as crianças toda sua agressividade, maltratando-as duramente.

Aprofundemos com os nossos pais na fé

São Beda Venerável (cerca de 673-735), monge, doutor da Igreja

A fé da Cananeia

“Ó mulher, grande é a tua fé! Seja feito como desejas” (Mt 15,28).

Sim, a Cananeia tem uma fé muito grande. Sem conhecer os antigos profetas nem os recentes milagres do Senhor, nem seus mandamentos nem suas promessas, e mais, repelida por ele, persevera no seu pedido e não se cansa de insistir junto daquele que apenas a fama lhe tinha indicado ser o Salvador. Por isso, sua oração foi atendida de forma tão espantosa…

Quando um de entre nós tem a consciência manchada pelo egoísmo, pelo orgulho, pela vanglória, pelo desdém, pela cólera, pelo ciúme ou por qualquer outro vício, tem verdadeiramente, tal como esta mulher de Canaã, “uma filha cruelmente atormentada por um demônio”.

Que ele corra pois a pedir ao Senhor que o cure…

Que o faça com humilde submissão; que não se julgue digno de partilhar a sorte das ovelhas de Israel, isto é, das almas puras e que se considere indigno das recompensas do céu.

Que o desespero, contudo, não o leve a abrandar a insistência da sua oração, mas que o seu coração tenha uma confiança inquebrantável na imensa bondade do Senhor.

Porque aquele que pôde fazer do ladrão um proclamador da fé (Lc 24,39s), do perseguidor um apóstolo (At 9) e de simples pedras filhos de Abraão (Mt 3,9), esse mesmo é também capaz de transformar um cachorrinho em ovelha de Israel.

Para cultivar a semente da Palavra na vida:

  1. Que foi que Jesus louvou na atitude desta mulher?

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  • Perguntemo-nos, como pai ou mãe de família, em que consiste nossa acolhida e nossa preocupação com as nossas crianças?

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  • O que mais nos move quando repreendemos nossos filhos ou fazemos-lhes uma correção?

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SEXTA-FEIRA

Marcos 7,31-37:

Caminho para a comunicação.

“Digo-lhe: «Effatá», que quer dizer: «Abre-te!””

Estamos diante de uma cena de cura. Contemplamos Jesus no momento em que faz um homem sair de sua incapacidade de comunicar-se. O grande padre da Igreja, santo Ambrósio chama a este episódio e sua repetição no rito batismal, de “o mistério da abertura”.

Dividamos o relato em três partes. Há três tempos no interior deste relato breve que lemos.

  • Em primeiro lugar encontramos a descrição do mudo (vv.31-32);
  • Logo, os sinais e os gestos de abertura dos ouvidos e da língua deste homem (vv.33-34);
  • Finalmente, as consequências do milagre nos versículos seguintes (vv.35-37).

Este relato, ainda que breve, merece ser lido com suma atenção. Detenhamo-nos na descrição do surdo mudo (31-32). Marcos vê a necessidade de dar detalhes precisos sobre o sofrimento do surdo mudo. No v.32 faz duas afirmações concretas sobre a situação do surdo mudo.

  • Primeiro, o descreve como um surdo que, além disso, falava com dificuldade. Trata-se de uma pessoa que não ouve e que se expressa com uns sons confusos, guturais, que não se consegue captar o sentido.
  • Segundo, porém, ele especifica que alguns rogam a Jesus que imponha a mão sobre ele. Nota-se, também, que este homem não sabe sequer o que quer, posto que é necessário que outros o levem até onde está Jesus. O caso, em si, é bem desesperador.

Depois disto Jesus, apartando-se das pessoas a sós, com o surdo-mudo, meteu seus dedos nos ouvidos e com sua saliva lhe tocou a língua. Primeiro, notemos que Jesus não realiza de modo imediato o milagre. Quer, sobretudo, fazer entender, a este homem, que o ama muito, que seu caso lhe interessa, que pode e quer ocupar-se dele para restabelecer-lhe o bem estar. Por isto o separa da multidão.

Jesus, retirando-se do meio das pessoas, a sós com este enfermo que sofre de não comunicação, apartando-se de um espaço de rebuliço, indo a outro espaço de silêncio, que supera o silêncio absurdo ao qual foi submetido este homem por sua enfermidade, o leva a um novo silêncio, um silêncio que brota da comunhão íntima entre os dois.

Além do mais, o separa de uma multidão que busca a Jesus com expectativas ‘milagreiristas’. Que conhecem a Deus de maneira calculista e interessada, porém, que não têm deixado Deus falar do infinito amor que sente por cada um e do projeto de amor que propõe a cada homem no mundo. Esta tomada de distância da multidão leva o surdo mudo a abrir também os ouvidos ao novo que o revela através do interesse, da delicadeza que Jesus demonstra, amavelmente por ele.

E depois de levá-lo à parte vemos que faz três gestos simbólicos que indicam o que quer fazer por ele.

  • Introduz-lhe os dedos nas orelhas para voltar a abrir os canais da comunicação;
  • Unge-lhe a língua com saliva para transmitir-lhe sua mesma fluidez comunicativa na qual expressa toda a riqueza que leva dentro. Jesus lhe dá sua própria comunicação, sua capacidade de falar desde o fundo do mistério;
  • Jesus, ao mesmo tempo, que coloca os dedos nos ouvidos, suspira

A primeira vista, pode nos parecer estranha esta atitude de Jesus de colocar sua própria saliva sobre a língua enferma. Porém, o significado é profundo. De que outra maneira se poderia descrever a intensa identificação entre Jesus e o surdo mudo. O incrível modo que Jesus tem de entrar na vida de uma pessoa fechada em seu próprio mundo, em sua inércia, para retirá-la dali; não dum modo superficial, mas para fazer que se expresse de um modo claro como o fazia o próprio Jesus que se relacionava com Deus, com os pecadores, com os inimigos, com as crianças, com os grandes sem nenhuma dificuldade.

Por outra parte, como expressar amor a quem se encontra bloqueado, a quem tem se fechado em si mesmo, senão com gestos físicos concretos. Notemos a ordem dos gestos.

  • Jesus começa com a cura da escuta e, logo, como consequência, a cura da língua. Primeiro saber ouvir para depois poder falar.
  • E a estes dois gestos, Jesus agrega, todavia um terceiro. Levanta o olhar para o céu e solta um gemido que indica seu sofrimento e sua participação em uma situação tão dolorosa como a deste homem. Por isso, Jesus, ao mesmo tempo, que coloca os dedos nos ouvidos, suspira. A comunicação não é somente física, mas uma comunicação profunda, de coração, na qual Jesus capta o fundo do coração deste enfermo e lhe dá voz em sua própria oração. Este suspiro de Jesus indica a plenitude interior do Espírito Santo em Jesus.
  • Depois dos três gestos simbólicos, nos quais Jesus entra no mundo interior do surdo mudo, por meio do tato, da saliva, de seu olhar para o céu, segue-se a ordem forte de Jesus, sua palavra com autoridade que reconstrói a vida do homem. Sua palavra curadora ressoa com muita força: Effatá que quer dizer: abre-te.

Que belo este imperativo de Jesus. Effatá. Esta mesma ordem foi desde muito tempo pronunciado na liturgia do batismo no rito de iniciação cristã de adultos. E imediatamente depois do imperativo, o evangelista nos descreve o relato sem perder a finura.

O milagre se descreve em três passos: em primeiro lugar como uma abertura: se lhe abriram seus ouvidos. Em segundo descreve-se como uma soltura da língua, como um nó complicado que depois se desata, e em terceiro, como a capacidade de expressar-se corretamente.

Este homem alcança um excelente nível de expressividade. Diz o texto “e falava corretamente”. Abertura, soltura da língua e capacidade de expressão correta. Isto é o que acontece neste homem.

Terminemos com as consequências do milagre. O milagre se generaliza. A capacidade de expressão do surdo-mudo, de repente, se torna contagiosa. Todo mundo se torna comunicativo. Caem-se as barreiras da comunicação. As palavras se expandem e as pessoas ficam, tremendamente, maravilhadas.

A admiração e a alegria se difundem pelos vales e cidades da Galileia. Maravilhavam-se e diziam “Tudo o fez bem, faz ouvir aos surdos e falar aos mudos”.

Nesta pessoa fechada em seu próprio mundo é relançada, por Jesus, o vértice gozoso de uma comunicação autêntica.

Para cultivar a semente da Palavra na vida:

  1. Qual foi o processo que seguiu Jesus na cura deste surdo mudo?

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Que significado tem?

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  • Quais minhas dificuldades de comunicação?

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  • Como ajudo outros para que possam comunicar-se bem?

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Que podemos fazer em família para ajudar a outros a comunicar-se?

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SÁBADO

Marcos 8,1-10

Implicados na mesma missão.

“Bendigo o pão e o deu a seus discípulos para que o dessem ao povo”

O texto do Evangelho que nos apresenta hoje a liturgia é um belo exemplo de alguém que compartilha não só o pão, mas a missão e sabe implicar a outros nela.

Jesus nota que há se reunido muita gente desde vários dias e que não tem nada para comer. É uma situação que Jesus haveria podido resolver só sobradamente e sem dúvida não o faz. O implica as seus discípulos e o faz de uma maneira gradual e muito lógica.

Vemos quatro momentos neste, no qual Jesus implica a seus discípulos.

  1. Jesus compartilha sua preocupação com os discípulos; (vv.1-4)
  2. Jesus conta com os recursos que eles têm; (vv.5-6a)
  3. Jesus deixa o espaço adequado para que os discípulos atuem; (vv.6b-8)
  4. Jesus ensina a seus discípulos que as coisas devem ficar bem terminadas. (vv.9-10)

Vejamos por partes.

1. Jesus compartilha sua preocupação com os discípulos (vv.1-4)

Como já dissemos ao início, Jesus capta a situação e a necessidade da multidão. O texto que não só se dá conta, mas que sente compaixão. Então chama a seus discípulos e lhes comenta o que sente ante aquela situação. A multidão fazia três dias que estava ali e as provisões haviam se esgotado e o lugar no qual estavam era bastante distante de algum povo ou cidade.

Os discípulos viram em volta que o que Jesus lhes compartilha não era simplesmente um sentimento de dor e basta. Eles captaram o desejo que Jesus tinha de alimentá-los, esse desejo que, de uma ou outra forma, se convertia, para eles, em um desafio. Tão implicados se viram que manifestaram a incapacidade de alimentar a tanta gente naquele lugar tão despovoado.

2. Jesus conta com os recursos que eles têm(vv.5-6a)

À pergunta dos discípulos: “Porém, como se pode dar de comer em um lugar como este onde não vive ninguém? (v.4), Jesus responde com outra pergunta: “Quantos pães têm vocês?  (v.5).

É como dizer-lhes: Não olhem tanto para fora para ver o que chega. O alimento necessário está em suas mãos. Jesus não haveria tido necessidade desses sete pães para realizar o milagre e, sem dúvida, não quis prescindir deles. Era a partir dai, do que havia que ficaria saciada a multidão.

3. Jesus deixa o espaço adequado para que os discípulos atuem(vv.6b-8)

Uma vez que Jesus tem os sete pães em suas mãos e os bendiz, não é Ele mesmo quem se põe a reparti-os. Deixa que sejam os próprios discípulos que o façam.

Com eles compartilhou a preocupação, deles tirou os sete pães do milagre, agora esses pães multiplicados voltam às mãos deles para serem distribuídos. Assim nos diz o texto: “Tomando os sete pães e dando graças, os partiu e ia dando-os a seus discípulos para que os servissem, e eles os serviram à multidão” (v.6).

4. Jesus ensina a seus discípulos que as coisas devem ficar bem terminadas(vv.9-10)

O milagre havia sido muito grande e o pão parecia que sobrava em algumas mãos. O mais conveniente era evitar desperdício e começar a recolhê-lo. Sobraram sete cestos dos sete pães iniciais, uma bela coincidência, além do mais, porque o sete é sinal de plenitude.

Nos sete pães desproporcionais para saciar a multidão se encontrava todo o pão necessário e ainda sobrariam sete cestos. Ato seguido Jesus sobe à barca com seus discípulos e se afastam dali. Que formoso e claro processo sugere, hoje, Jesus, a quem está chamado a presidir uma família ou uma comunidade. Um caminho de implicação que necessariamente desemboca no sentido forte de pertença.

Aprofundemos com os nossos pais na fé:

Baudoin de Ford (?- c. 1190), monge cisterciense

«Tomando os sete pães e dando graças, partiu-os»

Jesus partiu o pão. Se não tivesse rompido o pão, como é que as migalhas chegariam até nós?

Mas ele partiu-o e distribuiu-o: «Distribuiu-o e deu-o aos pobres» (Sl 111,9 Vlg).

Partiu-o por amor, para quebrar a ira do Pai e a Sua.

Deus tinha-o dito: ter-nos-ia aniquilado, se o seu Único, «o seu eleito, não se tivesse posto diante dele, erguido sobre a brecha para afastar a sua cólera» (Sl 105, 23).

Ele colocou-se ante Deus e apaziguou-o; pela sua força indefectível, manteve-se de pé, não quebrado.

Mas Ele próprio, voluntariamente, partiu e distribuiu a Sua carne, rasgada pelo sofrimento.

Foi então que Ele «quebrou o poder do arco» (Sl 75,4), «quebrou a cabeça do dragão» (Sl 73,14), todos os nossos inimigos, com o Seu poder.

Então, partiu de algum modo as tábuas da primeira aliança, para que já não estejamos sob a Lei.

Então quebrou o jugo da nossa prisão.

Quebrou tudo o que nos quebrava, para reparar em nós tudo o que estava quebrado, e para «enviar livres os que estavam oprimidos» (Is 58,6).

Com efeito, nós estávamos «cativos da miséria e das correntes» (Sl 106,10).

Bom Jesus, ainda hoje, se bem que tenhas aniquilado a ira, partido o pão para nós, pobres pedintes, continuamos com fome… Parte, pois, cada dia esse pão para os que têm fome.

É que hoje e todos os dias recolhemos algumas migalhas, e cada dia precisamos de novo do nosso pão quotidiano. «Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia.» (Lc 11,3). Se Tu não o dás, quem o dará?

Na nossa privação e carência não há ninguém para nos partir o pão, para nos alimentar, ninguém para nos refazer, ninguém, senão Tu, ó nosso Deus.

Em todo o consolo que nos mandas, recolhemos as migalhas desse pão que nos partes e saboreamos «como é doce a tua misericórdia» (Sl 108,21 Vlg).

Para cultivar a semente da Palavra na vida:

  1. Como atua Jesus ante a necessidade da multidão?

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  • Como implico aos demais membros de minha família ou grupo em meus planos e projetos?

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Como me deixo implicar-nos dos demais?

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  • Em alguma oportunidade tenho realizado um processo similar?

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Quando?

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Autor: Padre Fidel Oñoro, CJM

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